You are on page 1of 19
Teoria DA DotacAo RELATIVA pos FaTores Mio Hipdteses da Teoria de Heckscher-Ohlin > Fronteira de Possibilidades de Produgéo > Teorema de Heckscher-Ohlin » Teorema da Equalizagéo do Prego dos Fatores de Produgdo (ou Teorema de Heckscher-Ohlin-Samuelson} > Teorema de StolperSamvelson seriam superadas somente no século XX. Na verdade, da maneira como foram abordadas por David Ricardo, as vantagens comparativas eram conseqiiéncia do fato de que 0 tinico fator de produgao relevante — o trabalho —tinha niveis de produtividade diferentes nos distintos paises e, conseqiiente- mente, os bens tinham custos de producao diferentes. Ricardo nao apresentou nenhuma justificativa econdmica para esse fato. A teotia das vantagens comparativas apresentava algumas limitagdes que Somente no inicio do século XX surgiu uma explicacdo razodvel para as dife- rengas de custo de producao de uma mesma mercadoria produzida em diferentes paises —e para as razdes do comércio. A origem da teoria é um artigo publicado, em sueco, por Eli Filip Heckscher, em 1919, e que sé seria traduzido para o inglés em 1949, A divulgacao de suas idéias comegou realmente a ocorrer apés a tradu- do para o inglés da tese de doutorado de seu discipulo, Bertil Oblin, em 1933.! Como Ohlin havia sido fortemente influenciado por Heckscher, essa argumentagiio ficou conhecida como teoria de Heckscher-Ohilin. A teoria de Heckscher-Ohlin, apesar de controvertida, € considerada a mais importante e influente explicagio para o comércio, depois da teoria das vantagens comparativas de Ricardo. Eo Leoreses DA TEORIA DE HECKSCHER-OHLIN Em linhas gerais, a teoria de Heckscher-Ohlin afirma que cada pats se especia- liza e exporta o bem que requer utilizagao mais intensiva de seu fator de producao abundante. Esse enunciado nos coloca diante de conceitos novos, que precisam ser discutidos com algum cuidado. " OHLIN, B. International and Interregional Trade. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1933, 26 Pant Inicialmente, é necessdrio considerar que as fungdes de produgao agora con- tam com dois fatores: trabalho (L) e capital (K). P= (KL) Qa) X? = g(K, L) (2.2) M" = f(K,L) (2.3) sone X" = g(K, L) 2.4) Onde: M? = quantidade produzida do bem M no pais B; X? = quantidade produzida do bem X no pais B; M* = quantidade produzida do bem M no pais W; X* = quantidade produzida do bem X no pais W. Agora sabemos que os bens X e M sio produzidos nos dois pases por meio de dois fatores de produgao: capital e trabalho. Essas expressdes, todavia, nao sio muito conclusivas a respeito das proporgées de capital e trabalho que entram na produgao de cada bem. Para discutirmos melhor essa questo, vamos explicitar al- gumas hipoteses importantes da teoria de Heckscher-Ohlin. Hipétese 1: as tecnologias de produgio sao idénticas nos dois paises. De acordo com essa hipétese, a fungaio de produgdo de X em B é igual a fungao de produgio de X em W, e a fungao de produgio de M em B é igual a fungao de produgio de M em W. Isso nao quer dizer, entretanto, que a industria produtora de X em B, por exemplo, empregue capital e trabalho na mesma propor¢iio que 4 industria de X em W. Tecnologias idénticas implicam que 0 mesmo conjunto de técnicas ou processos de produgio esteja dispontvel para todos os produtores de um mesmo bem. Essa idéia pode ser ilustrada com o mapa de isoquantas da fungiio de produ- ¢do de X. Isoquanta, como sabemos, é 0 lugar geométrico de todas as combina- gGes dos fatores que produzem eficientemente uma mesma quantidade de um bem. No nosso exemplo, X produzido com trabalho e capital, representados. respectivamente, nos eixos horizontal e vertical da Figura (2.1). Os pontos s0- bre a isoquanta X = | indicam as diferentes combinagées de capital e trabalho que produzem uma unidade de X. As combinagées de trabalho e capital neces~ s4rias para produzir duas ¢ trés unidades de X estdo indicadas pelas isoquantas X = 2e X = 3, respectivamente. Fungo de producéo do bem X no pais B (cio (K) Tibolo 1) Duas unidades de X podem ser produzidas, por exemplo, com L, unidades de Le K, unidades de K, ou L,, unidades de trabalho e K,, unidades de capital, situa- ges representadas pelos pontos C e D sobre X = 2. Cada uma dessas combinagdes de capital e trabalho é um proceso ou técnica de produgio do bem X. O que distingue uma técnica de outra, na mesma fungao de produgao, € a proporgao em que os fatores so empregados. Em nosso exemplo, fica claro que: (2.5) A linha tracejada T, representa a técnica | e indica as varias quantidades de X que podem ser produzidas com capital ¢ trabalho empregados nessa mesma proporgao. A linha tracejada T, representa 0 mesmo para a técnica 2. Como a técnica | € mais inten- siva em capital, cada unidade de trabalho é combinada com uma quantidade maior de capital do que no caso da técnica 2, que, por sua vez, € mais intensiva em trabalho. As isoquantas, ou curvas de indiferenca, como pudemos notar, silo céncavas em relacao a origem. Essa forma indica que os fatores ndo sdo perfeitamente substitu(veis entre si. Observemos a Figura (2.2), que representa a isoquanta referente 4 uma unidade de X. No ponto C, sio empregadas L,. unidades de trabalho e K. unidades de capital. Suponhamos que a industria de X resolva substituir trabalho por capital, mudando seu processo de produgio para o ponto D. Em outras pala- vras, a quantidade K, K,,de capital substituiu LL,, unidades de trabalho na produ- gao de uma unidade de X. Se a indistria continuasse esse processo de substitui- (do, deslocando-se para 0 ponto E, notarfamos que LL, unidades de trabalho Seriam substituidas por K,,K, unidades de capital. Como: meaneniek KS KK, -entio: ope < 2.6 28 _pPante 1- Coméacio INTERN Essa relagdo é chamada de taxa marginal de substituigao de trabalho por capital e, neste caso, é crescente. > Figura 2.2 Toxo marginal de substituigao do trabalho pelo capital Cop (0 > Taba (0) Hipétese 2:a funcao de producdo de X ¢ intensiva em trabalho e a funcdo de produgio de M é intensiva em capi Se as fungdes de producio de dois be apresentam 0 mesmo conjunto de téc- nicas, ou seja, empregam capital e trabalho na mesma propor¢’o, temos duas fun- goes iguais. A Gnica maneira de diferencid- jas € determinar qual a intensidade com que os fatores de produgao sio utilizados. Vejamos um exemplo. Suponhamos que a produgdo de X seja realizada por uma firma e a de M, por outra. As isoquantas dessas firmas esto na Figura (2.3). Sabemos, da microeconomia, que uma firma escolhe o processo de produgio que maximiza a quantidade produzida, dado © montante de recursos de que dispde para contratar os servigos dos fatores de produ- ‘cdo, como no caso do trabalho, ou adquiri-los, como € 0 caso do capital, Naturalmente. 6 prego dos fatores de uma varidvel é determinante. O prego ou remuneracaio do traba- Iho € 0 salario, w, e 0 prego ou remuneraco do capital é a taxa de juros, r?, Os recursos que a firma compromete na aquisigo dos fatores de produgi0 constituem 0 custo de produgao. Como a firma pode adquirir diferentes combina- Ges de capital ¢ trabalho de tal forma que o custo se mantenha constante, podemos escrever a expressao: Ex Essa € uma linha de isocusto (IC na Figura (2.3). Se reescrevermos essa pressio como a equagio de uma linha reta, teremos: IC=w-L+rK 27 errs rK =IC—wL k= IC _ (1), as) siti r Ar 7 Acmpress tum pode alugaro capital —uma méquina, por exemplo —. neste cao, r sei oproo do logue arenes 29 eee age ‘ . ( ‘ = que nos mostra que a inclinagdo da linha de isocusto € (2). ou seja, a razdo entre 0 salario, w, € a taxa de juros, r. } Figura 2.3 _Intensidade no uso dos fatores de produgo Coit 0 0 wo C Tiboln Agora podemos saber qual é a combinagao de capital e de trabalho que cada firma deve escolher. Como no mercado tanto os salarios ¢ as taxas de juros quanto as linhas de isocusto so iguais para todas as firmas, aquelas que produ- zem X ou M escolhem as quantidades de trabalho € de capital que, dado um determinado custo, permitam produzir a maior quantidade possivel de cada bem. Isso acontece no ponto em que a linha de isocusto tangencia a isoquanta mais distante da origem. Na Figura (2.3), apenas como exemplo, supusemos que 0 custo de produzir uma unidade de X € igual ao de produzir uma unidade de M. Logo, a firma que produz X escolhe L, unidades de trabalho ¢ Ky unidades de capital, enquanto a produgio de M emprega L,, unidades de trabalho e K,, uni- dades de capital — pontos C ¢ D, respectivamente. A intensidade no uso dos fatores de uma fungao de produciio € determinada quando verificamos qual a combinagao de capital e trabalho adotada em cada uma das fungdes diante da mesma razdo entre as remuneragoes do trabalho e do capital. Da Figura (2.3), deduzimos que: ve ee hs, ou seja, que a produgdo de X emprega menos capital por unidade de trabalho que a producdo de M. Conseqiientemente, a produgio de M usa intensivamente capital, enquanto a produgio de X emprega trabalho intensivamente, 30 eave TOME Hipétese 3: no pats B o trabalho ¢ relativamente abundante; no pais W, o capital é relativamente abundante. A teoria de Heckscher-Ohlin nao se baseia apenas nas diferengas das propor. des entre as fungdes de produgao, como também das dotages relativas dos fato- res de produgio dos paises. H4 duas maneiras de se definir a abundancia relativa de fatores. A primeira maneira leva em conta sua disponibilidade fisica. Dizemos que no pafs B 0 trabalho é abundante relativamente a0 pais W se: (2.10) Onde: K* = quantidade de capital disponfvel no pafs B; L = quantidade de trabalho dispontvel no pais B; Ke = quantidade de capital disponivel no pats W; L* = quantidade de trabalho disponivel no pais W. Note-se que niio € a quantidade absoluta dos fatores disponivel em cada um dos paises que caracteriza a abundancia, e sim a relagio entre essas quantidades. Suponhamos que o pais B possua 1.200 unidades de trabalho e 600 unidades de capital, e o pafs W disponha de 1.800 unidades de trabalho ¢ 1.800 de capital. Ou seja: K’ = 600; Lb = 1.20 K” = 1.800; L” = 1,800. {A disponibilidade absoluta de fatores € maior em W, pois: Cin “” 800. > 600 e 7 | aan SEE i ->.1.200, mas, Ke. Ky _, 600 < 1.800 ng te 7 ero ey Se ou seja, em B, temos meia unidade de capital para cada unidade de trabalho, enquanto em W cada unidade de capital corresponde a uma unidade de trabalho. Logo, relati- vamente a B, o capital é abundante em W, e, em B, o fator abundante € o trabalho. pan OS te ee a. a Outra situagdo hipotética seria a seguinte: Ke _ Ke _, 600 _ 1800 . i (Es) ae 1200/5 3.600 ei noe Nesse caso, apesar de W possuir trés vezes mais capital e trabalho que B, os dois paises tm a mesma dotagao relativa de fatores, pois em ambos ha meia unidade de capital para cada unidade de trabalho. A segunda maneira de medir a abundancia relativa dos fatores € comparando 08 pregos relativos dos fatores de produgao dos dois pafses. Por precos relativos dos fatores entendemos a razio entre os pregos do trabalho e do capital, ou seja, entre suas remuneragées: menses =) preco do trabalho, w; prego do capital, r. A taxa de saldrio, w, e a taxa de juros, r, so determinadas pela oferta e demanda desses fatores. Como a producio dos bens demanda ambos os fatores de producio, ainda que em proporgoes diferentes, pode-se esperar, de modo geral, que a remu- neragio do fator escasso seja relativamente maior que a do fator abundante. Se o trabalho € relativamente mais abundante em B, ¢ 0 capital, em W, a expres- sio: —_— indica que a taxa de salério ¢ relativamente menor em B do que em W. Também nesse caso os niveis absolutos dos saldrios e dos juros nao importam, e sim suas razoes, Supondo que prevalecam as seguintes remuneragdes dos fatores em B e W: (2.14) notamos que, mesmo sendo o saldrio em B duas vezes maior do que em W, para cada unidade monetéria que os trabalhadores recebem em B, os capitalistas rece- 32 bem 3, enquanto em W os capitalistas recebem apenas duas unidades monetérias, Portanto, relativamente ao capital, o trabalho é mais barato por ser abundante em B. Parte |~ COmMERCIO INTERNACIONAL SLE OLA Elliman Hipétese 4: as preferéncias dos consumidores sio iguais nos dois paises. Nos modelos de comércio internacional as preferéncias dos consumidores so representadas pelas curvas de indiferenga nacionais.’ Curva de indiferenga é 0 lu- gar geométrico de todas as combinagdes dos bens que proporcionam a mesma satisfagao aos consumidores. Supondo que a economia produza apenas dois bens, X e M, a satisfagao ou utilidade do consumidor depende do consumo de X e M: U=fiX,M) (2.15) ‘vel ou indice de utilidade; uantidade consumida do bem X; M = quantidade consumida do bem M. Se os bens X e M sio substituiveis, o mesmo nivel de utilidade pode ser atingi- do com varias combinagées desses bens. Essa relaciio é expressa graficamente por uma curva de indiferenga, como a da Figura (2.4). P Figura 2.4 Curva de indiferengar " My} ————\D Me c v=1 0 wk x Admitamos, como exemplo, que a curva de indiferenga U indique um nivel de satisfagio igual a um.‘ Esse nivel de utilidade pode ser obtido tanto com 0 consumo de X, unidades de X e M.unidades de M quanto com X, de X e M, de M. Mas o que leva os consumidores a escolher 0 ponto C ou 0 ponto D sobre # curva de indiferenga? As curvas de indiferenga nacionais, ov sociais, como também so conhecidas, so obtidas pela agregagao das curves 6 Indiferenga individuais, + Lembre-se: ndo é possivel medir a satisfagdo ou utilidade, apenas ordenar as preferéncias dos consumidores. WhO Fatones 33 ona on Os consumidores escolhem as quantidades de cada bem que desejam consumir levando em conta os pregos relativos de X e de M. Se estivéssemos discutindo o caso de um consumidor individual, terfamos de considerar, além dos pregos dos bens, sua renda. No caso de um pais, entretanto, o que importa é a renda real (ou produto) da economia, que, em Ultima instancia, no nosso modelo simples, € medi- da pelas quantidades fisicas de X e M que a nagdo produz. J sabemos que a fronteira de possibilidades de producdo nos mostra as quantida- des maximas de bens que um pafs pode produzir a partir de sua dotagdo de fatores. Trataremos agora desse conceito, j4 discutido no ambito do modelo de Ricardo, adaptando-o as necessidades da teoria de Heckscher-Ohlin. "RONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PropucAo A fronteira de possibilidades de produgdo, usada para discutir a teoria das van- tagens comparativas, foi construida a partir de hipsteses bem restritivas. As que nos interessam lembrar agora so: o trabalho era o unico fator de produgao relevante e 0s coeficientes técnicos de produgdo eram constantes, Com base nessas hipéteses, obtivemos fronteiras de possibilidades de produgao com formatos de reta, que indi- cavam pregos relativos — ou custos de oportunidade — constantes. Agora, nossas fungées de produgdo tém dois fatores que podem ser combinados em proporcées diferentes, indicando que trabalho pode ser substitufdo por capital ¢ vice-versa, mas dentro de certos limites, pois nao se trata de fatores perfeitamente cambidveis. A producao de X, em relagdo & de M, emprega proporcionalmente mais trabalho que capital. Os fatores de produgdo nao sao distribuidos eqiiitativamente entre os paises: o trabalho é relativamente abundante em B e relativamente escasso em W. Em contrapartida, 0 capital é abundante em W e escasso em B. > Figura 2.5 Fronteiras de possibilidades de producdo dos paises B e W a n i Pris 8 Pris reece ce Hecisciten-Oniin As fronteiras de possibilidades de produgao, construfdas a partir desses pressu- postos, sao apresentadas na Figura (2.5). Como a funcao de produgao de X utiliza intensivamente trabalho, é de se esperar que o pais B produza relativamente mais X que M; se todos os fatores fossem alocados na produgio de X, B produziria X* unidades desse bem, e, se alocados na indiistria M, o resultado seria M? unidades, Aplicando o mesmo raciocinio para o pais W, o resultado seria X* unidades de X MW unidades de M. Observa-se que: (2.16) Note-se que essas fronteiras de possibilidades céncavas em relagdo & origem indicam que os pregos relativos ndo sdo constantes. Isso acontece porque os coefi- cientes técnicos variam A medida que muda a escala de produgdo, ou seja, para cada ponto da fronteira de possibilidades, temos capital ¢ trabalho empregados em pro- porgdes diferentes nas fungdes de producdio de X e de M. Como esses fatores sao substitutos imperfeitos, aumentos sucessivos na produgdo de X, por exemplo, le- vam ao abandono de quantidades crescentes de M, e vice-versa. Em resumo, os custos sociais, ou custos de oportunidade, sdo crescentes. Agora que j4 apresentamos e discutimos os pressupostos que sustentam a teoria da propor¢ao dos fatores, podemos apresentar o teorema de Heckscher-Ohlin, que explica a diferenca dos precos relativos das mercadorias entre as nagGes e 0 respec- tivo padréo de vantagens comparativas, com o auxilio da Figura (2.6). > Figura 2.6 _llustragdo grafica do teorema de Heckscher-Ohlin ee 35 Antes do estabelecimento do comércio, a demanda e a oferta de cada pafs, representadas pelas curvas de indiferenca nacionais e fronteiras de possibilidade de produgdo, respectivamente, determinam o prego relativo de equilibrio e as quanti- dades de cada bem que sero produzidas e consumidas. Como as preferéncias dos consumidores so iguais nos dois paises, as demandas de ambos sao representadas pelo mesmo mapa de indiferenga. O ponto E? representa 0 equilibrio de autarquia no pais B. A tangéncia da curva de indiferenga U = | e de sua fronteira de possibilidades de produgao nos indica que sero produzidas OX” unidades de X e OM? unidades de M ao prego relativo indicado pela declividade da tangente P*, Lembremos que o prego relati- vo ou custo de oportunidade nos indica qual é a quantidade de cada bem que os consumidores desejam consumir, 0 que, em equilibrio, é igual As quantidades produzidas. O prego relativo de equilibrio, portanto, como em qualquer mercado, 6 aquele que iguala as quantidades ofertadas e demandadas. Uma forma alterna- tiva de visualizar o prego relativo P> é dada pela razéo OM"/OX", que é a declividade da reta M'/X°, paralela, portanto, & tangente P®, Pelas mesmas razdes, no pais W 0 equilibrio se situa no ponto E*, ao prego relativo P", que equilibra as quantidades ofertadas e demandadas OX" de X e OM" de M. ‘A magnitude dos ganhos esperados com 0 comércio por esses pafses € determi- nada pela diferenga dos precos relativos em autarquia. scicaneerercnimercersDie- . nr: @.19 ‘A relagio acima mostra que o prego relativo de X em B é menor do que em W. Consegiientemente, como visto na Se¢io 1.3, B tem vantagens comparativas na produgio de X, e W, na de M. Portanto, existe uma razdo para que haja comércio. Com 0 comércio, o pats B aumenta a produgao de X, enquanto o pafs W faz 0 mesmo com M, que sao os bens nos quais tém vantagens comparativas. Essa especializagao aumenta a disponibilidade total dos bens, permitindo que os consu- midores dos dois paises atinjam o equilfbrio no ponto E, na curva de indiferenga U=2. Nesse ponto, os consumidores aumentaram seu bem-estar, pois U=2 esta mais afastada da origem que U=1. Os termos de troca (linha RT) nos informam | tanto as proporgdes em que X e M serdo trocados, quanto sinalizam para os pro- | dutores e consumidores dos dois pafses as quantidades que devem ser produzidas e consumidas, de forma que haja equilibrio entre oferta e demanda totais. Vamos analisar esses resultados mais detidamente. O pais B agora produz OX'* unidades de X e OM" unidades de M, enquanto W produz OX"* e OM"* de X e M, respectivamente, Os pontos E™* e E** sao pontos de equilfbrio na produgao, determinados pela tangéncia das fronteiras de possibilidades de produgdo com os termos (ou relagdes) de troca, RT. Note-se Pante 1- Comercio INTERN que os termos de troca substituem os pregos relativos observados antes do co- mércio e, portanto, orientarado as decisdes de producao e de consumo nos dois paises. Como as preferéncias sao as mesmas, os consumidores de B e W demanda- rao X e M na mesma proporgao: OX* de X e OM* de M. Para que o pafs B possa consumir OM* de M, precisa importar M**M* de M, pois s6 produz OM"*. Isso € possivel gragas A exportagdio de X*X"* unidades de X, excedentes da produgdo desse bem no pais B. O pais W consome OX* unidades de X, das quais OX** unidades sao produzidas internamente e X"*X* sfo importadas de B. Para importar essa quantidade de X, W exporta M*M“* unidades de M, que é a diferenca entre sua producao e seu consumo. Como em nosso exemplo ha apenas duas economias, as exportagdes de B sao iguais as importagdes de W, e vice-versa, Portanto: Exportagao de B = X#X* = X**X* = Importagiio de W Importagao de B = M"*M* = M*M'"* = Exportagdo de W E a relacio entre as quantidades exportadas e importadas de um pais é igual aos termos ou relagdes de troca. Assim, o pais W exporta M*M** e importa X**X* de X, enquanto 0 pais B importa M™*M* de W e exporta X*X?* de X. Temos que: M*Me* _ M**M* RT ~Xraye XAXHe (2.18) Os ganhos de comércio ficam demonstrados pela mudanga nos pontos de equili- brio. Em autarquia, os consumidores do pais B maximizavam a satisfagdo no ponto E®, na curva de indiferenca U = 1. O ponto E* indica 0 nivel maximo de satisfagio dos consumidores de W. Com 0 comércio, 0 equilfbrio passa para E, na curva de indiferenga U = 2, mais afastada da origem que U = 1, 0 que indica, conseqiiente- mente, maior nivel de bem-estar. Um resumo dos resultados do comércio aparece no Quadro (2.1). Quadro 2.1. Prrvlucio er mo, em autarquia @ com com Producto Consumo Eten x 4 x a Et Autarguia Comércio Autorquia Comércio Autorquia Comércio Autorquio Comércio ii Ox ox OM" OM" Ox" Ox* om? OmM* OX** OM" OM** OXY OxX* =~ OM" —oM* wy 7 EOREMA DA Equatizacéo DO PrEco DOS FaTores DE PropucAo (ou TEOREMA DE HecKSCHER-OHLIN-SAMUELSON) Na se¢do anterior apresentamos a explicagdo de Heckscher-Ohlin para a ori- gem das vantagens comparativas e o surgimento dos ganhos de comércio. Para que tenhamos uma idéia mais clara do poder explicativo dessa teoria, precisamos dis- cutir os efeitos do comércio no prego dos fatores de produgao e na distribuigao de renda. O principal fundamento dos trabalhos de Eli Heckscher e Bertil Ohlin é que as nagdes trocam mercadorias porque nado podem comerciar os fatores de produgio. Uma nago na qual o trabalho é relativamente escasso importa bens cuja fungdo de produco emprega esse fator intensivamente e exporta mercadorias que utilizam capital, seu fator abundante, em maior proporgao. O comércio de bens, portanto, é uma forma indireta de comerciar os fatores de produgao contidos nas mercadorias. Vimos que uma das conseqiiéncias da diferenga na dotago relativa de fatores entre os paises é que as remuneragGes relativas também diferem. Os precos relativos dos fatores escassos sao maiores do que os precos relativos dos fatores abundantes. Se fosse possivel haver completa mobilidade dos fatores entre os paises, certamente © trabalho migraria em busca de melhores salarios e o capital se deslocaria para onde seu retorno fosse maior. Esse processo eliminaria as diferengas nas dotag6es e, por conseqiiéncia, nas remunerac6es relativas dos fatores entre os paises. O teorema da equalizagdo dos precos dos fatores de producdo demonstra que 0 comércio de mercadorias tem 0 mesmo efeito sobre as taxas de saldrio e de retorno sobre 0 capital fisico que a mobilidade desses fatores. Na realidade, esse teorema, demonstrado pela primeira vez. por Paul Samuelson em 1948,5 € um corolério do teorema de Heckscher-Ohlin. Por essa razio, também € conhecido por teorema de Heckscher-Ohlin-Samuelson. Formalmente, 0 teorema pode ser assim enunciado: mantidas as hipsteses do teorema de Heckscher-Ohlin, 0 comércio de bens equaliza a remuneragao dos fatores de produgao. Para demonstrar esse teorema, precisamos nos lembrar de que, em autarquia, as indtistrias de cada pafs maximizam lucros quando escolhem a combinagao de capi- tal e trabalho correspondente ao ponto de tangéncia entre a linha de isocusto e a maior isoquanta possivel. Como a declividade da linha de isocusto é igual ao prego relativo dos fatores, w/r, a linha de isocusto do pais B tem declividade menor do que a do pais W, posto que o trabalho ¢ relativamente abundante em B e, proporcionalmente, mais barato que 0 capital: * SAMUELSON, Paul. Intemational trade and the equalization of factor prices. Economic Journal, v.58, jun. 1948. foe DCowenc eo NLEANACLS ere (2.19) EE: er a Lo ont v W, a conclusao é inversa. Como nesse pais 0 capital Do ponto de vista de W, a concl : é relativament ti le j € menor, em relacao ao saldrio tivamente abundante, a taxa de juros € men Gi cH (2.20) r do iguai: is paf S precos As fungGes de produgio de cada bem sao iguais nos eae a 2 a : i do dife 0 trabalho € mais barat , mes telativos dos fatores sao diferentes. Como al u oa produgao de M, intensiva em capital, nesse pais, emprega proporcionalment trabalho do que em W. : Temos entéio, em autarquia, associado a cada nivel de produgio de X e de M, © respectivo prego relativo dos fatores. Tomando a Figura (2.6), nota-se a antes do comércio, tinhamos as seguintes relagdes entre quantidades produzidas € precos dos fatores: Ono: : om" (2.21) wadXnsne OX que foram induzidas pelas relagdes de precos dos fatores: (2.22) Com 0 comércio, cada Pais se especializa, bem em que possui vantagem comparativa. As: (2.6), B aumenta a produgao de X de OX, para O OM¥. Como a produgao de X é intensiva em aumenta enquanto a de ca taxa de saldrio, w®, diminuir para r°*, Como o pafs W tem vantagem comparativa na desse bem aumenta de OM para OM™*. A produg nui, de OX" para OX"*, Por um Mecanismo e& acréscimo na demanda Por capital, fator inten; gio de M, eleva a taxa de juros r para r*" reduz para w’, ou seja, passa a produzir mais do sim, ainda nos referindo & Figura Xe diminui a de M de OM, para rabalho, a demanda Por esse fator pital diminui Proporcionalmente. Em decorréncia, a » tende a aumentar para w*, e a Temuneragao do capital, r°, Produgio de M, a producao 40 de X, naturalmente, dimi- quivalente ao ocorrido em B, 0 sivamente empregado na produ- » enquanto a taxa de salério w" se No pais B, temos: wh >wr ep cps No pais W, temos: w'er Portanto, a relagio ““ aumenta,e diminui, de tal forma que hé uma ten- déncia de se igualarem. Em suma, segundo o teorema de Heckscher-Oblin- Samuelson, como resultado do comércio, obtemos a seguinte igualdade: (2.23) -ER-SAMUELSON Por fim, apresentamos o teorema de Stolper-Samuelson, segundo 0 qual 0 co- mércio beneficia 0 fator de produgdo abundante em detrimento do fator escasso de cada pais." O imteresse agora é avaliar os efeitos do comércio na distribuigdo funcio- nal da renda, ou seja. em que medida a troca de mereadorias influencia a repartigao da renda entre © capital ¢ 0 trabalho, Os resultados sdo imediatos ¢ decorrem do teorema da equalizayao dos pregos dos fatores, Iniciaimente, devemos recordar que um dos pressupostos basicos das teorias do comércio que estudamos até agora é 0 pleno emprego. Isso significa que nio hé trabalho nem capital ociosos, seja em autarquia, seja com comércio. As diferencas nas dotagdes relativas de fatores provocam diferengas nas remuneragdes do trabalho € do capital. Os salarios, por exemplo. » relativamente mais baixos que 0 retorno do capital nos paises em que o trabalho é abundante. Conseqiientemente, nesse caso, uma unidade de capital recebe relativamente mais que uma unidade de trabalho. Logo. podemos dizer que a renda € concentrada em favor dos proprietérios do capi- tal. No pais em que 0 capital é relativamente abundante, e 0 trabalho escasso, ocorre © oposto. Em autarquia, portanto, a escassez relativa de fatores condiciona a distri- buig’o da renda. Com 0 comércio ¢ a conseqliente especializagdo, como vimos, 0 prego do fator abundante aumenta enquanto o do escasso diminui, em ambos os paises. Como as mestmas quantidades de trabalho e de capital continuam empregadas, a parcela dos saldrios na renda aumenta, € diminui a do juro, nos paises onde o trabalho € abundante, O mesmo proceso redistribui renda a favor do capital no pais em que 0 tabalho & escasso, © STOLPER, WOLFANG & SAMUELSON, Paul “Protection and real wages’ In: Review of Economic Studies, 1941, 40 Parte |- Com Esse € 0 mecanismo basico da demonstracao do teorema de Stolper-Samuelson, O pleno emprego, por um lado, e a equalizacdo do prego dos fatores, por outro, garantem que o fator de produgéo abundante se beneficie com 0 comércio. Tomemos dois paises, X e Y, que produzam dois bens, A e B, utilizando traba- Iho e capital, representados por L e K, respectivamente, a partir das seguintes fungdes de producao: A*= f(K,L) BY = 9(K,L) AY =f(K,L) BY = g(K, L) Os pregos relativos dos fatores de produgao nos dois paises sao: we _ Ot Fr 0,5 onde w* e w’ e re 1° so, respectivamente, as taxas de salarios e de juros em X e Y. Com esses pregos, os bens A e B sio produzidos segundo as seguintes proporgdes de fatores: isy: Ke = 2. Ki Pais ¥: Se = 3 at = Esse conjunto de relacGes nos revela alguns pontos importantes sobre a dotagio rela- tiva de fatores e a intensidade no uso de fatores de cada indistria. Em primeiro lugar: Como 0 prego relativo do trabalho € menor em X que em Y, podemos dizer que © trabalho é relativamente abundante em X, 0 mesmo acontecendo com 0 capital em Y. eer reece eet Em segundo lugar: Ky gE Deduzimos que o bem A emprega intensivamente trabalho enquanto a produ- do de B é intensiva em capital, em ambos os paises. Segundo o teorema de Heckscher-Ohlin, o pais X tem vantagens comparativas na produgao de A, e 0 pafs Y, na de B. Para comerciar, X aumenta a produgao de A, ¢ Y, a de B. Para produzir mais A, no pais X, a demanda por trabalho aumentaré, proporcional- mente, mais do que aquela por capital, pois a fungao de produgao de A é intensi- va em trabalho. Como conseqiiéncia, aumenta a taxa de salario e diminui a remu- neracdio do capital. No pais Y, ocorre 0 inverso, pois a especializacao em B eleva a taxa de juros e diminui os salirios. Ao final desse processo, os precos do trabalho € 3 do capital poderiam ser: “= “2 = 93. Esse resultado é uma ilustragio do teorema da equalizagao do prego dos fatores, ou do teorema de Heckscher-Ohlin- Samuelson, como também 6 conhecido. Em cada pafs, a proporgdo em que K e L so empregados em cada fungio de produgdo também se alterou em decorréncia da mudanga nos precos relativos dos fatores. Agora a produgio de A usara a mesma proporcao de capital e de trabalho nos dois paises, porque 0 comércio equalizou o prego relativo desses fatores. Um resultado possivel &: xe 7 Isso indica que a produgao de A continua intensiva em trabalho, mas o pais X utiliza proporcionalmente menos trabalho que antes, e Y, mais desse fator. Com a produgdo de B ocorreu o inverso: X emprega proporcionalmente mais capital, e Y, menos. Essa conclusao decorre das simples comparagGes abaixo: Kae ee Ess 2 K, ee i niv A i Nip = °° © Os economists Eli Heckscher e Bertil Ohlin construiram uma teoria que justifica a exis téncia de comércio a partir das diferencas nas dotacées relativas dos fatores de produ- G0. Essa teoria é baseada numa série de pressupostos. Os mais importantes sao: a. Consideram-se dois paises que produzem dois bens @ partir de dois fatores de producao. O teorema também & conhecido por modelo 2 x 2 x 2: dois paises, dois bens e dois fatores. b. A tecnologia de producdo é idéntica nos dois paises, o que significa que as funcdes de producdo de cada bem também sao idénticas em ambos. A funcdo de producdo de um dos bens é intensiva em trabalho e a fungGo de produgéo de outro bem é intensiva em capital, para uma mesma rela¢do de precos dos fatores. c. Os consumidores tm os mesmas preferéncias nos dois paises. Tendo como base esses pressuposios, pode'se apresentar a teoria da propor¢do dos fatores — ou teoria de Heckscher-Ohlin — a partir de trés teoremas: i) teorema de Heckscher-Ohlin: cada pais se especializa e exporta o bem em cuja produgGo emprega intensivamente seu fator abundante. i teorema de HeckscherOhlinSamuelson ou da equalizacée dos precos dos fatores: 0 comércio equaliza os pregos dos faiores de produsdo. | fi) feorema de StolperSamvelson: o comércio beneficia 0 fator de produgéo abur dante de cada pais, em detrimento do fator escasso. A BIREISEE Para Revisa 1. Qual é a explicagdo para as vantagens comparativas oferecida pela teoria de Heckscher-Ohlin? 2. Compare o argumento de Eli Heckscher e Bertil Ohlin para a existéncia de vantagens comparativas com o argumento de David Ricardo. 3. Quais sdo os pressupostos basicos da teoria de Heckscher-Ohlin? 4, Como podemos identificar 0 uso intensivo de um fator numa fungdo de produgo? 5. Qual é a diferenga entre dotagdo absoluta e dotagao relativa de fatores de pro- dugdo? Qual desses conceitos é relevante na teoria de Heckscher-Ohlin? 6. Qual é a relagiio entre os precos relativos e a dotacao relativa dos fatores de produgao? 7. Discuta o teorema de Heckscher-Ohlin. 8. Demonstre graficamente 0 surgimento dos ganhos do comércio, segundo 0 teorema de Heckscher-Ohlin. 9. Explique a relagio entre o teorema de Heckscher-Ohlin e 0 teorema da equalizacao dos pregos dos fatores de produgao. 10. Qual é a relagio entre comércio e distribuigao de renda, no ambito da teoria da dotagdo relativa dos fatores? 11. Brasil (BR) e Coréia (CO) produzem laranjas (L) e camisas (C) obedecendo a seguinte combinagao de capital e trabalho: ein onde K**, K®, K®® e K{° representa o capital, e L®*, L°, Lg e Lg°, 0 trabalho de Brasil e Coréia, alocados na produgio de laranjas e camisas. Os precos relativos dos fatores nos dois pafses sao: wit 04 . we 8 De acordo com a teoria da dotagao relativa dos fatores de produgao: a, identifique a intensidade no uso dos fatores de produgao e discuta a disponi- bilidade de fatores nos dois pafses; b. apresente o padrao de vantagens comparativas; c. demonstre graficamente os ganhos de comércio; d. analise 0 efeito do comércio sobre os pregos dos fatores e a distribuigéo de renda,

You might also like