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SEVERINO DOS RAMOS DE SOUSA : U we Capacitando 0 obreiro Pe RCr emt Oe eau ail D:: Cet Me OCMC oe LATO ' CTO Ee MOC (S/o e Cee came cn eee | eet Te MS ear Cm CeCe CSET Ee TUL CRU Ree Ce R econ Oe nT Peericenesnencn cs Cero CLERIC CUO LORETL CET "seus. conhecimentos, A.D.SANTOS EDITORA | Dene ee a ORO CM RCM SRN ae REV A ET oe Re MCL O Autor, Severino dos Ramos de Sousa, 6 Bacharel e Mestre em Teolgia, com Doutorado, ThD, PhD, em Teologia/ Filosofia. i MIN Todos os direitos reservados. Copyright © 1999. Revisio : H.D Silva Diagramagao: A.P.S. lustragdio & Capa: A.P-S, Impressio e acabamento: Ed. Betania. Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) SOUSA, Severino dos Ramos de, 1959- HOMILETICA, A Elogiiéncia da Pregagio / Severino dos Ramos de Souza, — Curitiba: A.D.SANTOS EDITORA, 1999. ISBN — 85-7459-002-9 1, Homilérica 2. Oratoria 3. Esbogos de Mensagens CDD- 250 1° Edigdo - 3.000 Exemplares - Fev/99. Edicao e Distribuigao: (2<\ i ™ > ™ AREmen ee Ra AL Dr Carlos de Carvalho, 117 Uj. 14 - Centro - Curitiba - PR - 80410-180 CGC 76.413.178/0001-26 - SEDE PROPRIA - Fone/Fax (041) 223.0801 / 223.6743 E-Mail: adsantos@per.com.br DEDICATORIA Ao Mestre dos Mestres (Mt. 11.29). A minha familia. Esposa: Joaquina A. Damasceno Sousa Filhos: Tiago, Davi e Felipe. Aos meus incentivadores, conselheiros e doutrinadores: Pr. Alvaro Alen Sanches: Presidente da Igreja Assembléia de Deus, Uberlandia - MG. Pr. Euripedes Angelo de Menezes: 1° Vice-residente da Igreja Assembléia de Deus, Uberlandia—~MG Pr. Vanderly Gomes Pereira: 2° Vice-Presidente da Igreja Assembléia de Deus, Uberlandia - MG. Pr. Acdcio Soares Martins - DF. Pr. Napoleado Falcao - GO. Pr. Elienai Cabral - DF. Pr. Jales Anténio de Oliveira - Uberlandia - MG. Pr. Jair Fernandes de Oliveira - Uberlandia - MG. Pr. Anténio de Carvalho - Uberlandia - MG. Pr. Manoel Pedro da Silva - DF. Rev. Valmir Pereira dos Santos - Uberlandia - MG. Rev. Argemiro Pacifico da Silva - Uberlandia - MG. E suas respectivas esposas. Meus Agradecimentos: A Fundagao Cultural e Assistencial Filadélfia - Uberlandia, MG. Diacono José Rivalino de Oliveira. Ao Conjunto Apocalipse - Uberlandia, MG. Ao Conjunto Orvalho de Hermon - Uberlandia, MG. Aos demais Pastores, Evangelistas, Presbiteros Didconos, companhei- ros de ministério, irmaos e amigos em geral, a minha gratidao. iii PREFACIO Este livro foi escrito com a intengio de colaborar com os alunos e professores de seminarios, faculdades teologicas e institutos biblicos, que se preocupam obrigatoriamente com essa matéria; com pastores que estejam ministrando cursos intensivos a membros de sua igreja; e com pregadores leigos. Devo afirmar, e fazé-lo enfaticamente, que o fator mais importante no preparo de sermoes é a Preparagéo do coragéo do proprio _pregador. Quantidade alguma de conhecimento, aprendizagem ou talento natural pode substituir 0 coragao fervoroso, humilde e consagrado, que anseia cada vez mais por Cristo. Somente a pessoa que anda com Deus e leva uma vida santa pode inspirar outros a crescerem na graga e no conhecimento de Cristo. Tal pessoa passara muito tempo em secreto com Jesus, tendo comunhao diaria, ininterrupta e prolongada com ele e sua palavra. O pregador também deve ser um homem de oragao que, sobre os joelhos, aprendeu a arte do combate Santo. Como Daniel, ele deve ter 0 habito de orar e encontrar 0 tempo, ou melhor, tirar o tempo para orar didria e regularmente em particular. Seus sermées nao serao, pois, produto de um mero esforgo intelectual, mas mensagens enviadas do céu em resposta 4 oragao. E.M. Bounds, poderoso homem de oragao, disse em verdade: "A oragdo coloca o sermao do pregador no coragao do pregador; A oragdo coloca 0 coracdo do pregador no sermao do pregador". Além disso, a pessoa que deseja pregar a mensagem do Livro deve, também, ser uma pessoa do Livro. Tem que estudar as Escrituras nao apenas a fim de tirar uma mensagem para sua congregagao, mas ha de viver no Livro. A palavra de Deus deve tornar -se sua comida e bebida. Enquanto viver é necessario passar muitas horas todas as semanas em estudo diligente da Biblia, deve saturar-se da palavra de Deus até que ela lhe domine o coragio e a alma, ao ponto de, com Jeremias, poder dizer: "isso me foi no coragao como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; Ja desfalego de sofrer, e na&o posso mais" (Jeremias 20.9). ; Que o Senhor nos conceda, nestes dias de necessidade sem precedentes, homens de Deus que amem a Jesus Cristo acima de tudo e preguem a sua palavra de tal forma que possam atrair e ganhar outros para ele. Severino dos Ramos de Sousa SUMARIO PRIMEIRA PARTE 1. A ORIGEM DA HOMILETICA 1. A origem da palavra .. 2. A origem da conversa . 3. A origem do discurso 1-ARETORICA .. 2.-A ORATORIA., 3.- A HOMILETICA. I. HOMILETICA E ELOQUENCIA 1.0 ASSUNTO.. Conhecer o assunto Ter convicgao . 2. AS PALAVRAS Propriedade Disposicao . Fluéncia Elegincia Emogio . A ESPIRITUALIDADE .. TI. HOMILETICA E COMUNICACAO 1. A mensagem 2. Veiculo... 3. Destaque 4, Intensidade da voz_.. Natural. Intensidade vocal adequada Técnica-ambiental. Acustica .. Técnico-eletrénico. Equipamentos de som . 5, Personalidade .. IV. HOM ILETICA E ESTILO. CLASSIFICAGAO DOS ESTILO: Y. HOMILETICA E TEOLOGIA ... VI. HOMILETICA E EVANGELIZACAO .. VIL. HOMILETICA, HERMENEUTICA E EXEGESE ... 1, A Hermenéutica é a ciéncia da interpret ago textual . 2. A Exegese é a arte de expor uma idéia .... vi EXEGESE ESTRUTURAL . ‘ EXE GRAMATICO-HISTORICA. EXEGESE TEOLOGICA VIL HOMILETICA, TEXTO E CONTEXTO ... 1X. HOMILETICA E TIPOS DE SERMOES 1. Doutrinas ou doutrinarios 2. Evangelizantes ... X. HOMILETICA E CULTURA SEGUNDA PARTE PREPARACAO DO SERMAO. XI. OS ELEMENTOS BASICOS DO SERMAO 1.0 motivo ..... 2. A maneira pessoal do orador 3. A coisa que vai falar... . A forma de falar . TESE .. ane 6. ARGUMENTACAO OU ASSUNTO 7. CONCLUSAO 8. APELO.... XII O PREPARO DO SERMAO 1.0 TEXTO.. 2. Coleta de texto: EXEMPLOS DE COMO USAR UM TEXTO 3.0 TEMA .... Tipos de temas Posigao do tema Pontes de temas .. 4, ATESE .. COMO FORMULAR A TESE AINTRODUGAO.... O ASSUNTO OU A ARGUMENTACAO EXEMPLOS DE ANALISE DE ASSUNTOS.. XIII A ESQUEMATIZACAO DO SERMAO COMO USAR O TEXTO..... COMO EXPOR 0 TITULO .. COMO FAZER A INTRODUCAO COMO EXPOR A TESE .. vii COMO EXPOR O ASSUNTO OU A ARGUMENTAGAO...... 139 COMO EXPOR A CONCLUSAO .. COMO FAZER O APELO....... 141 XIV. METODOS DE EXPOSICAO. 1143 145 145 - 148 . 148 XV. FORMAS DE EXPOSICAO . 1. A Leitura do Sermio 2. A memorizagao parcial do esquema 3. A Memorizagdo Total do Esquema. 151 151 . 152 154 XVI ORIGINALIDADE, PLAGIO E IMPROVISO 1, Originalidade 2. Plagio.... 3. Improviso 155 15S 1ST 158, XVI. A ILUSTRAGAO 1. Tipos de Hustragdes . 2. Vantagens da Ilustragao 3. Cuidados a observar..... XVIII. A PERSONALIDADE DO PREGADOR I. Perfeigdo Espiritual 2. Perfil Moral... 3. Perfil Intelectual ... 4. Perfil Psicolégico . 5. Perfil Fisico 6. Perfil Sonoro 7. Perfil Social 159 159 . 160 160 160 161 162 163 TERCECIRA PARTE MODELOS E {NDICE DE ASSUNTOS ... a 167 QUARTA PARTE ESBOCOS PARA SERMOES ..... REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .. 177 183 viii PRIMEIRA PARTE INTRODUGAO CAPITULO I A ORIGEM DA HOMILETICA Antes de falarmos sobre a origem da Homilética propriamente dita, vamos pensar um pouco (numa rapida incursio pela biologia, psicologia e sociologia), sobre a origem da palavra. 1. A origem da palavra A palavra é um veiculo de comunicagao. Ela pode ser expressa por sinais corporais (gestos), sonoros (fala), graficos (escrita), lum inosos (luzes) e outros. A palavra falada (sonora) é um fendmeno bio-psiquico-social. Bioldgico, porque ela sé é possivel a um ser dotado de um cérebro capaz de comandar um sofisticado sistema nervoso que atue sobre todo um sistema fonador, capaz de articular, detalhadamente, os mais complexos sons da voz. Psicoldgico, porque esse cérebro tem que produzir pensamentos concretos e abstratos e atuar sobre glandulas secretoras dos mais diversos horménios, que condicionam as emogées e os estados mentais. E socioldgico, porque esse cérebro tem que reconhecer o valor dos individuos de sua espécie e possuir um componente racional e emocional que o leve ao sacrificio de desenvolver 0 complicado sistema de comunicagao fundamentado na palavra. A palavra possui dois elementos basicos: 0 material (som), que recebe o nome especial de vocabulo’ ¢ o imaterial (idéia), que recebe 0 nome de termo. Inicialmente, a palavra representava apenas uma idéia nominativa, isto 6, era o nome de uma coisa, de uma ac4o ou de um sentimento. A rigor, 0 nome é uma forma de definigao, pois ele identifica e define o objeto, embora de modo parcial ¢ as vezes imperfeito. Depois a palavra passou a representar uma idéia elaborada, isto é, um pensamento completo. Do fonema, ela passou a oragado e a frase. Da fonética, foi para sintaxe. Sem divida, foi o convivio social que obrigou o homem a por nomes nas coisas, a organizar as suas idéias e a desenvolver 0 complicado mecanismo da comunicacao oral, baseado na palavra. (Gn 2.19, 20). Muito tempo depois de ter vocalizado a palavra, o homem inventou a escrita. A escrita comegou com os pictogramas (desenhos de coisas ou de figuras simbolicas), passou para os ideogramas (sinais representativos de idéias), pelos hierdglifos (desenhos representativos de sons vocais) ¢€ finalmente chegou 4s letras (sinais represent ativos de sons vocais). ' Com a invengao do alfabeto, a escrita passou a ser uma uma forma material da palavra. Homilética — A Eloqiiéncia da Pregacao 3 2. A origem da conversa O convivio social, que levou o homem a inventar a palavra e a frase, produziu também a conversa” ou conversagao, isto é, a troca de palavras. A conversa é um didlogo” entre duas ou mais pessoas. Os gregos davam a conversa o nome de homilia (de onde nos veio a palavra homilética) e os romanos a chamavam de sermonis (de onde nos veio sermao). Note que homilia e sermonis sao simples sindnimos que significam apenas conversa. 3. A origem do discurso O convivio social que produziu a palavra, a frase e a conversa, também produziu o discurso. Enquanto que a conversa ¢ um dialogo em que 0 interlocutor tem uma participacao direta e real, o discurso é um didlogo em que essa participagao é direta, mas de forma imaginaria. No discurso, a pessoa que fala, imagina que esta trocando idéias com Os seus ouvintes e espectadores. Ninguém sabe quando surgiu o discurso, mas podemos imaginar como ele apareceu. Foi quando alguém teve que alterar a intensidade de sua voz para se comunicar com um grupo de pessoas, pois o ?Do latim conversatio. formada de cum, com+versare, virar. Trocar idéia com outrem. 5Do grego dia, através+légos, palavra. Comunicagao através da palavra. discurso tem essas duas marcas de identidade: a pessoa fala a um grupo, a uma coletividade; e por causa disso, a pessoa tem que falar alto, isto é, tem que aumentar a intensidade ou tonalidade de sua voz. Assim, um pai que tivesse que aumentar o volume de sua voz para orientar ou dar ordens a seus filhos, teria feito um discurso. Um general, que tivesse que se dirigir a seus comandados para orientd-los sobre a batalha, estaria fazendo um discurso. Um rei, que precisasse gritar para se comunicar com seus suditos, também estaria fazendo um discurso. O discurso, pois, estaria onde alguém estivesse falando alto a um grupo de pessoas. A altura da voz, evidentemente, teria que ser proporcional a distancia entre o orador e o seu ultimo ouvinte. 1-A RETORICA Embora n&o possamos determinar quando nasceu o discurso,’ podemos dizer quando ele comecou a ser estudado como instrumento de comunicagao social e quando surgiram as primeiras regras para sua composi¢ao. Desse ponto de vista, podemos dizer que o discurso nasceu na Grécia. Os gregos, que inventaram a democracia,? foram os primeiros a estudar as técnicas do discurso. “Do latim discursos. Composto de dis, contra+cursare, correr. Tem a idéia de correr de um lado para outro, como a roca do tecelao. Por isso ao contetido de um discurso se da o nome de texto. (tecido). ‘Do grego démos, povotkratos, poder. Sistema politico cujo poder emana do povo. O nome primitivo desse sistema era Homilética— A Eloquéncia da Pregagao 5 Na democracia grega, os cidadaos se reuniam nas pragas para participarem diretamente nas discussdes e nas deliberagdes sobre os problemas urbanos comuns. Era a democracia direta. Logo se percebeu que os cidadaos fidantes, de facil verbo, se expressavam mais adequadamente, dominavam a situagdo, tornavam-se admirados pelas multiddes e galgavam os melhores postos na comunidade. Nao demorou para que todo o mundo desejasse conquistar os segredos dessa nova arte® e nem demorou para que surgissem mestres improvisados, que se espalharam por todo o pais. Assim, a democracia grega nao sé influenciava © comportamento politico de seu povo, mas passava a influir também na educagdo, deterninando-Ihe uma nova filosofia educacional. Voltada para a politica, a educagao adquiria uma nova finalidade: preparar os cidadaos para a vida publica, a fim de que tivessem maior participagao nos destinos da sociedade. Falar em publico, tornou-se a coqueluche grega. Era a coisa de que todos precisavam e que deviam aprender. Entdo surgiu a RETORICA. A palavra retérica ¢ grega e deriva de rétos, palavra falada. O rétor, entre os gregos, era 0 orador de uma assembléia. Entre nds, entretanto, a palavra rétor veio a ter o significado pomposo de “mestre de oratoria”. O primeiro homem a tragar as normas de demagogia. Veja item 9 do rodapé. RIENECKER, Fritz / ROGERS,- Cleon. Chave Lingiiistica do Novo Testamento Grego , Vida Nova, 1987, p. 639. ®Veja conceito sobre arte. um discurso foi Corax, um sofista,” da cidade de Siracusa, na Grécia, ha 500 anos antes de Cristo.® Cérax ensinava que o discurso deveria ter a seguinte disposigao: | Proémio —(introdugao), —_narragao, argumento, observagdes adicionais e peroragao (conclusao). Socrates se opds a retérica dos sofistas por causa do utilitarismo deles e de sua falta de ética, mas reconheceu que ela poderia se revestir de significado, na medida em que se subordinasse a Filosofia. Ele viu © perigo de uma retérica sem ética, de politicos € causidicos imorais, que poderiam usa-la para fins escusos. Ele tinha tanta razéo que a_palavra demagogo,” que significa “guia do povo” ou “lider popular”, logo passou a significar, pejorativamente, aquele que ilude, que engana 0 povo, que trapaceia com 0 povo. Em sua autodefesa perante os que o condenaram a morte, Sécrates aceitou o elogio de que era um “formidavel orador”, mas taxou de "Sabido. Pejorativo de sophés, sdbio. Mestre popular de filosofia que, por falta de profundidade e de ética , fazia do ensino um comércio. Suas idéias" iam do relativismo ao ceticismo. As palavras sofisma (raciocinio falso) € sofisticagao (afetagao) derivam de suas praticas. GINGRICH, F. Wilbur / DANKER, Frederick Léxico do Novo Testamento Grego Portugués, Vida Nova, 1984, p. 228. SA Grécia alcangou seu apogeu no século 5 A. C. Essa época foi chamada de "o prédo de Péricles", pois foi quando ele consolidou a democracia grega.GINGRICH,! F; Wilbur/ DANKER, Frederick. Léxico do Novo Testamento Grego -Portugués, Vida Nova, 1984, p. 228. Do grego démos, povo+ago, conduzir. Condutor ou guia do povo. S6 mais tarde essa palavra adquiriu 0 sentido pejorativo, que hoje conhecemos. 9 RIENECKER, Fritz/ ROGERS, Cleon. Chave lingtiistica do Novo Testamento Grego, Vida Nova, 1987, p. 639. Homilética — A Eloqiiéncia da Pregagao 7 “aleivosias” todas as acusagdes sofistas e de falsa a sua retorica. Na introdugao, ele disse: “Nao ireis ouvir um discurso como o deles, aprimorados em verbos e adjetivos e em estilo florido, mas um de expressdes expontaneas, nos termos em que me ocorrem, porque deposito confianga na justiga do que digo”. E, finalizou: “O mérito de um juiz esta em saber se 0 que o orador diz é a verdade”.'° Plant&o, que escreveu sobre a autodefesa de Socrates, também deu sua opiniio sobre a retérica sofista quando, por Fedro, lamenta 0 seu descaso pelos deuses”.'' E, Aristételes, que escreveu um tratado com o titulo “Retdorica”, segue 0 pensamento socratico, deixando claro que essa arte deve estar a servigo da verdade. : O maior orador grego foi Deméstenes. Dizem que ele tinha dificuldades de falar, que era gago, mas que a poder de muito esforgo e intenso treinamento venceu. A retorica grega estava dividida em politica, forense ¢ epiditica, (demonstrativa). Nada havia entre eles que se assemelhasse a uma retorica sacra, pois simplesmente esta ainda nao existia. "Defesa de Socrates, nos "Didlogos de Platao". GRNGRICH, F. Wilbur/ DANKER, Frederick. Léxico do Novo Testamento Grego /Portugués, Vida Nova, 1989, p. 228. "Um Banquete, nos "Didlogos de Platéo". GINGRICH, F. Wilbur/ DANKER, Frederick. Léxico do Novo Testamento Grego / Portugués, Vida Nova, 1989, p. 228. “Aaristoteles considerava Empédocles de Agrigento (490-430 A. C.) como o fundador da Retorica. GINGRICH, F. Wilbur / DANKER, Frederick. Léxico do Novo Testamento Grego / Portugués, Vida Nova, 1989, p. 228. 2. AORATORIA Os romanos, que sofreram grande influéncia cultural dos gregos, néo podiam deixar de se empolgar também com a Retorica, que logo a absorveram com o nome de Oratéria (de oris, boca). Cicero foi o maior orador romano. Ele se tornou célebre nao sé pelas causas que defendeu como advogado e politico, mas também pelas teorias que expds sobre a Oratéria. Como tedrico, entretanto, ninguém superou Quintilidéo. A melhor e mais completa obra de oratoria, da antigiiidade é a “Instituigao Oratoria” de sua autoria. Os romanos também nada sabiam a respeito da “retérica sacra” ou como eles a denominariam: “oratoria sacra”, pois esta ainda nao existia. 3. AHOMILETICA O cristianismo foi, na verdade, a primeira religiao universal que 0 mundo conheceu. Antes dele, as religides eram nacionais, tribais ou apenas familiares. O proprio judaismo, que foi o bergo do cristianismo, foi assim. Comegou como uma religiao familiar (de Adio a Abraao), tornou-se tribal (de Abraao a Moisés) e chegou a ser nacional (de Moisés a destruigao de Jerusalém, no ano 70 A. D.). Na antigiiidade, as religides faziam parte da vida das pessoas de maneira natural e integral (totalitaria). O individuo se identificava com o grupo pela raga, religiéo e politica. Nao havia, naquele Homilética— A Eloqléncia da Pregacao. 9 tempo (0 que é comum hoje), as divisdes entre vida social, civil, militar, politica, religiosa, etc. Tudo se confundia numa so identidade. Por isso, os atos politicos tinham carater religioso e vice-versa. os cultos eram rituais e a liturgia, essencialmente cénica. A educagao religiosa era doméstica (assistematica) e tradicional. Tudo era feito em familia e ninguém se preocupava em comunicar sua religido a pessoas de outras ragas. Os deuses eram nacionais, tribais ou familiares. A supremacia de um povo sobre outro, no caso de um conflito militar, era sempre interpretada como prova da superioridade de sua raga e de seus deuses. Por isso, nas religiées nado havia lugar para a pregacao. Os préprios gregos, que inventaram a Retorica, e os romanos que a aperfeigoaram com o nome de Oratéria, nada sabiam sobre sua aplicagao a religiao . Isto porque os antigos nado sentiam a necessidade de pregar a fé, de divulgar seus conceitos religiosos ou de fazer da religiao uma matéria de comunicagao social. Mesmo entre os hebreus, que tinham uma mensagem universal e que se reconheciam detentores das verdades reveladas por lavé, nao havia a preocupacéo de comunicar essas verdades a outros povos. Os profetas hebreus, que falaram, que pregaram ou que escreveram dirigiram-se sempre ao (ou) contra o seu proprio povo. Embora bem mais tarde surgisse, entre os judeus, uma scita proselitista (a seita dos fariseus), que chegou até a ser missionaria, coube ao cristianismo, por ser uma religido universal e 10 eminentemente missionaria, a tarefa de criar a Retorica Sacra ou a Oratoria Sacra que, no século XVII? chamou-se HOMILETICA. A palavra homilética, como ja vimos, vem de homilia, que significa conversa ou conversagao. Com o decorrer do tempo, essa palavra, como a latina sermonis, sofreram uma alteragdo semantica e vieram a significar discurso. No inicio do cristianismo, seguindo o exemplo da sinagoga, os cristaos se limitavam a ler as Escrituras no culto e a exortar 0 povo segundo as ligdes que podiam tirar do texto (At 13.14,15; 15.21). Jesus introduziu uma novidade: aplicou o texto a sua vida (Lc 4.16-22). Os sermées de Pedro, de Estévao e de Paulo consistiam em narrar os fatos biblicos e aplica-los a vida de Jesus, para provar que ele realmente era o Messias prometido. (At 2.14-42; 7.1-53; 13.16-48 etc). A Homilética nasceu quando os pregadores cristéos comegaram a estruturar suas mensagens, seguindo as técnicas da retérica grega e da oratoria romana. Somente conhecendo a historia podemos hoje admitir que a Homilética (que deveria ser a arte da conversagao) seja sindnimo de Retorica (ou Oratdria), aplicada a religiao. Se Retérica e Oratéria sio sinénimos usados para identificar o discurso profano, a Homilética identifica o discurso sacro, religioso, cristéo. Como 'SNesse tempo tomou-se moda dar nomes gregos as disciplinas teologicas. Na Alemanha, Stier propés o nome de Kerictica derivado de kéryx, arauto; e Sikel sugeriu Haliéutica, derivado de halilés, pescador, que nao se formaram. LLOYD, Jones / Marfin. Pregagdo ¢ Pregadores, Fiel, 1980, p. 239. Homilética— A Eloguiéncia da Pregagao "1 tal, ela se despontou no século IV, com os preg adores gregos Basilio ¢ Crisostomo (boca de ouro) e com os latinos Ambrosio e Agostinho. A partir da Reforma, quando a Biblia passou a ser o centro da pregagéo e quando os sermdes deixaram de ser apenas discursos éticos ou liturgicos para se transformarem em mensagens verdadeiramente evangélicas, a Homilética passou a ser a arte de pregar o Evangelho.'* Ela ajuda o pregador a descobrir as varias alternativas do uso de um texto, tornando mais facil a sua tarefa, enriquecendo os seus sermées ¢ tornando-os mais apreciados. A Homilética poe o contetido do sermao em ordem. E a arte de ordenar as idéias do pregador para que elas sejam entendidas pelos ouvintes. Tem-se perguntado se a Homilética é uma arte, uma técnica ou uma ciéncia. Nossa resposta € que depende do ponto de vista do observador. Como vimos, os nomes identificam e definem as coisas. Mas a definigéo nominal é puramente gramatical, pois ela visa apenas identificar os objetos. Por isso, a definigao nominal ¢ sempre unilateral ¢ imperfeita. Ora, nos classificamos as atividades humanas conforme a predominancia do uso de nossas capacidades. Assim, consideramos como ciéncia, a atividade que exige predominancia do intelecto ¢ quando a ago intelectual é disciplinada pelas leis do saber humano; como arte, a atividade que exige +4Vejas os conceitos de evangelho. 12 habilidade fisica como expressio da sensibilidade estética; e como técnica, a atividade que exige habilidade manual especifica para fazer algo. A técnica é o modo especifico de se fazer uma coisa. Os ingleses a denominam de “know how” (saber como fazer). Assim a Homilética (como a Retdrica ou Oratoria) é€ uma ciéncia, quando considerada sob 0 ponto de vista de seus fundamentos tedricos (historicos, psicologicos e sociais); € uma arte, quando considerada em seus aspectos estéticos (a beleza do contetido e da forma); e € uma técnica, quando considerada pelo modo especifico de sua execugao ou ensino. Quando se conceitua a Homilética como arte temos que reconhecer que essa conceituagio ¢ nominal e que, portanto, ela se refere apenas a um aspecto de sua existéncia, a saber: o aspecto de sua manifestacgéo, quando ela se mostra ao publico, quando ela é realizada ou concretizada na vida do pregador, no pulpito. O mesmo ocorre quando conceituamos a Retorica (ou a Oratoria) como arte. E, quando dizemos que a Homiletica é a arte de pregar o Evangelho ou que a Retérica (ou a Oratéria) € a arte de falar em ptblico, devemos deixar claro que “pregar o Evangelho” ou “falar em ptblico” nao constituem a finalidade dessa arte, senéo meios dela se expressar. A finalidade da Homilética, como da Retorica ou Oratéria é levar o ouvinte a concordar com o pregador ou orador. E convencer o ouvinte, é persuadi-lo. Veja o capitulo sobre a Homilética e a Elogiiéncia. Homilética— A Eloqiéncia da Pregagéo 13 A Homilética incorporou muitos termos gregos e latino. Além de boniffia e sermonis, que ja vimos, vieram enriquecer a nomenclatura homilética, os seguintes termos: Pregador, do latim prae (antes de) dicare (dizer); aquele que prediz o futuro. Esta palavra, por ter a significagéo exata de profeta (do grego pro, antes e phetes, do verbo phemi, dizer), deveria ser usada como tradugdo natural dela, mas ocorreu um fendmeno lingiiistico —_curioso, denominado de “invasaéo cultural”: os latinos transliteraram a palavra grega “propheta” e relegaram sua correspondente “praedicator” a outro significado. Por isso, pregador passou a significar apenas orador ou arauto. O mesmo ocorreu com a palavra pregacao, que deixou de ser a proclamagao de uma mensagem profética, uma predigao, para ser apenas um discurso. Assim, 0 pregador tornou-se um kéryx, arauto e a pregacdéo um kérygma, mensagem. Essa inverséo semantica € responsavel, também pelo erro atual de se considerarem os pregadores como profetas, de que trataremos no capitulo sobre a Homilética e a Teologia. Outra palavra que entrou na nomenclatura homilética foi evangelho, (como sinénimo de mensagem - kérygma - de Deus aos homens) e seus cognatos: evangelismo, que é¢ a teoria sobre o Evangelho ou o modo de ser seguidos do Evangelho (conceito estatico); evangelizagéo, que é a agdo de comunicar o Evangelho (conceito dinamico): e evangelista, que é a pessoa que fala ou que prega o Evangelho. O cristianismo nao se limitou a criar e a incorporar termos homiléticos. Ele revolucionou a arquitetura dos templos, quando levou para dentro deles os pulpitos. O pulpito, entre os romanos, era a plataforma do teatro onde os atores se apresentavam. A pregagéo exigiu que os pregadores fossem destacados e construiram-se estrados onde eles ficavam para pregar. Os catolicos levaram néo sé o pulpito, mas também o altar (estilizado) para dentro dos templos. S6 que o altar foi para o centro e o piulpito ficou 4 margem. A maior revolugdo, mesmo, se deu no protestantismo, quando 0 altar foi abolido e o pulpito ocupou o seu lugar (no centro). A centralizagéo do pulpito revelou que, para os protestantes, a pregagdo era 0 ponto mais alto do culto. Tal comportamento pode ser explicado como uma reagao a liturgia catolica, mas por ser extremada, é passivel de ponderadas criticas. A centralizagéo do pulpito e a exaltagaéo da pregacéo produziram o culto da cultura, da técnica e da pessoa do pregador, além de criar uma distancia fisica e psicologica entre o pregador e o seu auditério. Muitos pulpitos sao endeusados e se tornam verdadeiras “torres de marfim”. A verdade ¢ que toda a particularizagao conduz a erros e desvios. E, a preocupagaéo de exaltar a pregacaéo padece do mesmo vicio do sacerdotalismo, que concentra a comunhio religiosa num homem, fazendo depender dele todo o culto. Com isso, marginalizamos outras partes liturgicas como a oragao, a adoragao, o louvor, a dedicacdo dos bens e Homilética— A Eloquéncia da Pregacdo 15 sobretudo, a comunhao fraternal. A centralizagao do pulpito, também tem levado algumas igrejas a um conceito falso de evangelizagao por darem a idéia de que a pregagaéo é o unico método de evangelizagao existente. Tal conceito é responsavel pela frieza e apatia em muitas igrejas. Ninguém se preocupa em dar testemunho pessoal e individual de Cristo. Os crentes acham que os incrédulos s6 poderao ser salvos se conseguirem entrar num templo e ouvirem um pregador, no pulpito. E uma_ evangelizacao “pulpitocéntrica”. Por isso, 0 método prevalecente de evangelizacao, entre nds, é o do “VINDE” e nao o do “IDE” de Jesus. Preocupamo-nos mais com o “fazer convidadores” do que com o “fazer evangelistas!”. Homilética— A Eloqiéncia da Pregagéo. 17 CAPITULO II HOMILETICA E ELOQUENCIA A palavra’ eloqiiéncia vem do __ latim “eloquentia” e significa 0 ato ou o efeito de se falar bem. Na oratoria romana, era a parte que tratava da propriedade, disposigao e elegancia das palavras. Na verdade, a eloqiiéncia 6 mais do que apenas falar bem (com palavras certas, bem colocadas e elegantes). A elogiiéncia é@ a capacidade de convencer pelas palavras. As palavras esclarecem, orientam e movem as pessoas. O orador que consegue mover _as pessoas, _persuadindo-as_a_acatarem_as_suas _palavras,_ ¢ eloqiiente, pois a elogiiéncia é a capacidade de _persuadir pela palavra.__ Ha quatro maneiras de persuadirmos ou convencermos alguém a seguir a nossa orient agao: 1. Pela forga fisica (bragos e armas): GUERRA 2. Pela forga pessoal (exemplo): PSICOLOGIA 3. Pela forga social (costumes e leis): DIREITO 4. Pela forga verbal (falada ou escrita): RETORICA A elogiiéncia, pois, pode ser definida como o conjunto de qualidades de um orador, que leva seus ouvintes a acatarem as suas palavras. 18 E, para que um pregador seja clogiiente é preciso que ele saiba se comunicar. Ha uma relagaio muito intima entre a elogiiéncia e a comunicagao, como veremos no capitulo sobre a Homilética e a Comunicagao. Pela conceituagio acima, vé-se que a eloqiiéncia é 0 meio da Retérica nao sé alcangar a sua finalidade, mas também de se firmar como arte, pois se a finalidade da Retorica (Oratéria e Homilética) é a persuasdo, entao, € pela eloqiiéncia que ela atinge esse objetivo. E, se a arte é a capacidade de expressar 0 belo, é pela clogiiéncia que a Retérica mostra toda a sua beleza. A elogiiéncia € 0 aferidor, a pedra de toque da Retorica. Sem elogiiéncia néo ha Retorica, Oratéria ou Homilética. Sem elogiiéncia nao ha orador ou pregador. A eloqiiéncia distingiie um orador de um parlador ou tagarela. Vejamos, entao, quais os elementos de comunicagdéo pessoal, que tornam um pregador elogiiente: 1.0 ASSUNTO Conhecer o assunto O_pregador precisa saber o que esta_falando para poder convencer os outros, A demonstragao de que ele domina o assunto, inspira confianga nos ouvintes e lhes facilita a aceitagéo. Para_isso, 0 pregador, precisa_ser_estudioso, pesquisador e obseryador atilado, Homilética — A Eloquiéncia da Pregacao 19 Ter conviccéo Convicgio € a certeza de que se esta falando a yerdade absoluta. Pela convicgao, o pregador envo lve © seu intelecto e o seu cardter naquilo que esta falando. O pregador eloqiiente precisa revelar nado sé que esta dizendo as coisas certas e, para isso empenha a sua palavra, mas que esta sendo movido por motivos honestos. A convicgio ¢ mais do que apenas concordancia intelectual com a verdade. Ela diz respeito ao carater do pregador. O pregador elogiiente revela tranqiiilidade diante da desconfianga e do ceticismo de seus interlocutores. Vale dizer que o pregador precisa crer naquilo que prega. se ndo cré no que_diz, porque o diz? Se é imoral vender -se como bom um produto que o proprio vendedor duvida da sua_qualidade, como podemos oferecer Cristo como Salvador do mundo se ainda nado _o_experimentamos como tal? Qualquer persuaséo baseada na mentira é fraude. Um pregador sem fé, sem convicgéo, é um falsdrio, um vigarista, um demagogo. 20 2. AS PALAVRAS Vamos adotar a diviséo estabelecida pela oratéria romana, a saber: Propriedade A propriedade das palavras consiste no conhecimento exato de sua forma (morfologia oral e escrita), origem (etimologia), significado atual (semantica ou semiologia) e significado contextual (sintaxe). Para isso, 0 pregador tem que ser amigo da Gramatica e da Lexicografia. Deve ter uma boa Gramatica da Lingua Portuguesa, um bom Dicionario Etimolégico e um bom Dicionario Terminoldgico, atualizado nos verbetes e na _ ortografia. S06 conhecendo bem as palavras, 0 pregador pode evitar os barbarismos. Disposicao As palavras devem ser colocadas na ordem logica ou psicoldgica, segundo as regras gramaticais. A Sintaxe estabelece as regras para a colocac&o das palavras na oragao e a orag&o no discurso, visando a construgéo gramatical correta. O pregador deve aprender as regras gramaticais e ler bons autores para evitar solecismos. Homilética— A Eloqdéncia da Pregagao 2 Fluéncia Facilidade de pronincia. As palavras_devem_ ser livres, bem pronunciadas e bem c olocadas. Elegancia A elegancia no falar depende: 1) do conheci- mento da lingua (como acima exposto): 2) da criatividade (habilidade de construir as frases com inteligéncia e sensibilidade, valendo-se de tropos e figuras de linguagem) e 3) dicgao (capacidade de articular corretamente a voz). A boa dicgao depende: a) da pronincia correta da palavra; b) do timbre da voz; e c) da impostagao da voz. SA dicgéo determina a clareza e a beleza da pronuncia. O pregador que cuida da elegancia de suas palavras, néo comete cacéfatos nem usa giria. Além desses elementos, considerados pela oratoria romana, temos que reconhecer que naéo pode haver eloqiiéncia sem: Emocao Os psicdlogos dizem que 60% de nossas decises séo emocionais, isto é, que na maioria das vezes, nossas escolhas néo obedecem a uma determinagao racional. Talvez, por isso, as pessoas nao tenham tanto sucesso em suas decisdes, mas é *5As dificuldades fisicas da fala podem ser corrigidas pelas técnicas da Fonoaudiol ogia. 22 inegavel que apesar de irracionais, muitas decis6es emocionais tém levado muita gente ao sucesso. O pregador, que dispde de uma mensagem divina, com 0 objetivo unico de salvar 0 homem, dotando-o do melhor bem, nao pode deixar de valer-se da emogao. Ele precisa envolver os seus assistentes numa forte atmosfera de viva emogao para facilitar-lhes uma sabia decis&o ao lado de Cristo. O pregador nado pode transmitir apenas id¢ias abstratas, verdades tedricas ou conceituais. Suas mensagens devem comunicar vida e vida abundante. A emogao distingue o orador de um professor. O professor se preocupa apenas com o contetido de sua comunicagao, pois o mestre convence pela logica, pela verdade em si, que transmite a seus alunos. O orador tem que falar a inteligéncia, provocar a imaginagao e despertar os sentimentos. A pregacio nado pode ser fria, contida_ apenas de razao e arte. Ela tem que ser uma expressao real de vida, uma expressao real de experiéncias vividas pelo _ pregador. O pregador precisa _vibrar de emogdo_ao comunicar a sua mensagem. Muitos pregadores falham nessa parte. Nao manifestam alegria (esto sempre de cenho, tensos e mal humorados), nfo comunicam esperanca, (séo pessimistas e apocalipticos. Falam mais do pecado, de Satanas e do inferno, do que da salvacao, de Jesus e do céu), nao comunicam vida (sao apaticos, formais e frios), ndo expressam vitoria (sao derrotistas e sem entusiasmo). A retérica sem emogaéo ¢ como comida sem tempero. E como uma pilula de vitamina, que Homilética— A Eloqdéncia da Pregacao 23, engolimos por obrigagao, e nao como uma laranja que sorvemos com prazer. Po outro ado nao. devemos pensar que_a elogiiéncia_¢ apenas emogda. Por pensarem assim, muitos pregadores _confundem_eloqiiéncia__com gritarias e berros, com tiradas demagogicas, frases de efeito, pieguice e bla-bla__inconsegiiente, Esse emocionamento barato condiciona as pessoas e lhes tira a capacidade de reflexdo. O Evangelho é razaéo com emocao e nao sé razdo ou so emogao. Nao_devemos_confundir_também_elogiiéncia com_choramingas_e_lamentagGes,_que _provocam impacto emocional, arrancam lagrimas e arrastam as pessoas a decisées ilusdrias. A elogiiéncia legitima é incompativel com a demagogia. A ESPIRITUALIDADE Conquanto a Homilética se confunda com a Retorica ou Oratéria em suas técnicas, ha duas coisas que as distingiiem: o conteudo (Homilética ¢ a Retérica ou Oratdérias sacras) e 0 condicionamento pessoal (a Homilética exige uma experiéncia pessoal do pregador com Deus). Qs pregadores séio oradores privilegiados, pois além de todos os _requisitos_pessoais_exigidos pela Ret6rica ou Oratoria, eles contam com a assisténcia divina no exercicio de sua_missdo. Tal assisténcia é chamada de “ungao espiritual”. Quando Moisés recebeu as instrugdes de Deus sobre 0 tabernaculo e sobre o sacerdécio, recebeu também a formula de um perfume oleoso, que 24 santificaria todas as coisas onde ele fosse passado. '° A uncao era o sinal da acado de Deus na vida da pessoa. Em 0 Novo Testamento, a ungao € 0 sinal da presenga e do poder do Espirito Santo (At 2.1-21, 33, 37-40; 2Co 1.21; 1Jo 2.20, 27). Q__Evangelho _precisa__ser__pregado__com conhecimento, conviccao. propriedade_verbal, boa disposicéo, elegancia_e forte emocao, Ocorre, entretanto, que a resposta a uma pregacao evangélica nao se circunscreve a acao exclusiva da eloqiiéncia retorica. A Homilética nao pode ser entendida apenas como uma técnica de comunicagao verbal e social. Ela é 0 instrumento de uma comunicagao superior, transcendente, divina. O pregador do Evangelho é um instrumento da acgéo de Deus no mundo. Por isso, a Homilética depende fundamentalmente do Espirito Santo, pois “o Evangelho... ¢ 0 poder de Deus para a salvagao de todo aquele que cré (...)” (Rm 1.16). Por essa razio, nao podemos avaliar os resultados da Homilética (persuaséo dos ouvintes) apenas pelos dados da eloqiiéncia. Mais do que elogiiéncia, o pregador precisa da ungao santificadora, do dleo_santificador do Espirito Santo. Jesus disse que quando o Espirito viesse, habitaria nos crentes (seria derramado sobre eles, como 6leo) ¢ lhes ensinaria toda a verdade 1Jo 2.20, 25-27). Se a palavra entusiasmo significa “Deus '6Q fato desse dleo ser chamado de “6leo da ung’o” (ungao é © método de ser aplicado) tem desvirtuado os intérpretes da compreensao de sua finalidade que é a santificagdo. (Ex 30.22-31; 40.9-15). Homilética — A Eloqdéncia da Pregagao 25 dentro”, entéo sd o pregador ungido possui o verdadeiro entusiasmo, pois sé nele Deus habita (esta dentro), pelo Espirito Santo. Um ___pregador___pode__corresponder__as necessidades_gerais_de_seus_ouvintes, mas _so_0 Espirito Santo _pode aplicar cada palavra do pregador as necessidades intimas de cada um, O pregador pode convencer_o ouvinte, mas s6_o Espirito Santo_pode converté-lo. A conversio é algo que transcende o intelecto. Ela so se dé quando a mensagem penetra fundo na alma, na personalidade total. E ai sé Deus chega. A conversio muda o pensamento, muda a vontade, muda toda a vida. Ha pregadores que séo dotados de um alto poder de atragao pessoal (bonitos e bem vestidos), de excepcional inteligéncia e cultura. Seus ouvintes sao pessoas avidas de saber, que se deleitam com todos os seus recursos pessoais e que nao se cansam de ouvi- lo, mas... ndéo se convertem. A resposta é simples: a Homilética, sem o Espirito Santo ¢ apenas Retorica ou oratoria. E, para que o pregador seja usado pelo €spirito Santo, cle_precisa_de_uma_real_experiéncia_de converséo (quando o Espirito Santo passa a habitar em sua vida) ¢ da un¢do espiritual (quando o Espirito Santo passa a dominar a sua vida). Ninguém melhor expressou essa realidade na vida do pregador do que Paulo, em sua Primeira carta aos Corintios: “Cristo nado me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; nao em sabedoria de palavras, para ndo se tornar v4 a cruz de Cristo” (1.17); “Eu nao fui ter convosco... com sublimidade 26 de palavras ou de sabedoria, pois nada me propus a saber entre vs, senéo a Jesus Cristo, e este crucificado. A minha palavra e a minha pregacao nao consistiu em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstracao do Espirito e de poder, para que a vossa fé nado se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (2.1-5); “Qual dos homens entende as coisas do homem, sendo 0 espirito do homem que nele esta? Assim também as coisas de Deus, ninguém as compreende, sendo o Espirito de Deus. Ora, nds nao temos recebido o espirito do mundo mas sim o Espirito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus, as quais também falamos, nao com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espirito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais” (2.11-13); “O reino de Deus nao consiste em palavras mas em poder” (4.20). Mais do que qualquer outra coisa, o pregador precisa_ser_um_homem_de_oragao, com_nitida consciéncia de seu papel, ¢ cheio do Espirito Santo. n_seu_tla iléti ai ixar_de bu: es _de abrir a sua Biblia (SI 119.7), antes de té- pregado (SI 119.132,136). io Homilética— A Eloqiiéncia da Pregagao 27 CAPITULO II HOMILETICA E COMUNICACAO Estamos na era da comunicagao, celebrada pelo maior feito da humanidade: a ida do homem 4 lua. A gloria desse feito, entretanto néo, se deveu apenas ao fato do homem ter ido a lua, mas pelo fato de ter sido observado, pelos que ficaram na terra, em toda a sua caminhada lunar. Essa foi a gloria da comunicacao. A partir de entao, intensificaram-se os estudos sobre a comunicagao. A palavra comunicagao entrou para a ordem do dia e comecaram a surgir as escolas, os institutos e as faculdades de comunicagao. A palavra comunicagao, que apenas guardava o seu significado etimoldgico,.(ato ou efeito de se to rar comum ou como um), adquiriu o sentido técnico de unificagéo de idéias, sentimentos e propdsitos. A comunicagao é a arte de sensibilizar as pessoas levando-as a adotarem as mesmas idéias, os mesmos habitos e a pugnarem pelos mesmos propésitos. A Retorica, a Oratéria ou a Homilética sao instrumentos de comunicagao social, por isso, a critica que Socrates fazia a retorica sofista (falta de ética) é valida para a Ciéncia da Comunicagao de nossos dias. A comunicacgéo é uma ciéncia perigosa e altamente subversiva se nao se fundamentar em base moral. A 28 comunicagéo sem ética é a corroséo de todos os valores humanos. A Homilética tem muito a ver com a Comunicagaéo, por isso vamos fazer uma_ breve incursao pela Teoria da Comunicagao. A comunicagao é o resultado da interagao de trés elementos: 1. O Emissor; 2. A Mensagem; e 3. O Receptor. O emissor é aquele que envia a mensagem ao receptor. Quando um emissor envia uma mensagem e ela é recebida pelo receptor, dizemos, entéo, que houve comunicac¢ao. Para que a comunicagaio seja possivel, ¢ necessario que a mensagem possua elementos comuns, tanto ao emissor como ao receptor. O segredo da comunicagao, pois, esta na mensagem. A mensagem é uma idéia traduzida num codigo, comum ao emissor e ao receptor. Veja o grafico a seguir: Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 29 Mas além disso, 0 emissor tem que dispor de um veiculo (pessoa ou aparelho que transporte a mensagem) e de um método (caminho que ligue o emissor ao receptor). Veja o grafico abaixo: MENSAGEM Idéia Imagem mental. EMISSOR Sinal RECEPTOR Codigo convencional ou linguagem comum (palavras) Vale dizer que o emissor, para enviar uma mensagem tem que ter uma idéia e codifica-la (traduzi-la numa linguagem comum a emissor e receptor). Idéia imagem mental EMISSOR Codigo = Sinal RECEPTOR convencional Veiculo = Meio de transporte Método caminho de ligagao Ao emissor cabe a tarefa de criar a idéia, codifica-la, escolher 0 veiculo e o método adequados, para que a sua mensagem chegue ao receptor. A este, cabe receber a mensagem, decodifica-la ¢ respondé-la. Ha duas coisas que dificultam a recepgao de uma mensagem: 1) A inadequagao do cédigo; 2) A interferéncia no veiculo. A inadequagéo do cédigo se da: 1° pelo desnivel cultural: um engenheiro tem um repertério de palavras que lhe facilita a comunicagéo com pessoas de seu nivel, mas que dificulta a comunicacao com os operarios de sua obra. Por outro lado, os operarios possuem em repertorio de palavras (barbarismos, solecismos e girias) que dificulta a sua comunicagéo com 0 engenheiro; e 2° pela especificidade técnica: 0 mesmo engenheiro, apesar do desnivel cultural, possui repertério de palavras técnicas (giria profissional), que lhe facilita a comunica¢gdo com os operarios de sua obra, mas que é 30 totalmente inadequado para a comunicagéo com pessoas de fora. As interferéncias, que na linguagem dos comunicadores se chamam “ruidos”, ocorrem quando elementos estranhos interferem no veiculo da comunicagaéo e dificultam ou impedem a mensagem de ser captada pelo receptor. E importante salientarmos o fato de que o emissor é o autor da comunicagao. Ele cria a mensagem, adapta-a ao nivel do receptor, escolhe o veiculo e o método e controla a emissdo durante todo 0 processo para ver se o receptor a esta recebendo. Isso, na Homilética, tem um significado muito grande, como veremos no item seguinte sobre a Mensagem. Devemos notar que a comunicagao atua sempre sobre os sentidos do receptor , como demonstraremos no grafico abaixo: CODIGO VEICULO METODO SENTIDO DO E Fala Boca - voz Sonoro Ouvido (udio) R M Eserita Mao - letra Gréfico Olho (video) E I. Expressio cor- | Corpo - gesto Visual Otho (video) € S poral Olfativo Nariz E S_ Emanagio Gas - cheiro Gustativo Boca Pp O Gustagao. Boca - paladar Tactil Corpo T R Contato Corpo = tato oO R Esse grafico mostra que a mensagem (idéia codificada) se subordina ao veiculo'’ e ao método, *70s veiculos de comunicacéo de massa, como panfletos, out-door, jomais, revistas, radio e televisiio, sio chamados de midia (do inglés mass midia, meio de atingir as massas). Evite 0 erro de chamar 0 jornal falado (no radio e na televisao) de “imprensa falada”. Imprensa falada ainda nao existe Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 31 para que possa chegar aos sentidos do receptor. Por isso, os métodos de comunicagao recebem os nomes relacionados com os sentidos, que séo os érgdos decodificadores do receptor. Aplicando isso a Homilética, veremos que ela se utiliza dos veiculos “boca-voz” e “corpo-gesto”, que correspondem aos métodos “sonoro” e “visual”, pois a mensagem do pregador visa sensibilizar o receptor através de seus ouvidos e olhos, produzindo assim a comunicacao audiovisual. Isso vem mostrar que a Homilética ndo ¢ apenas uma arte de comunicagao verbal. Ela envolve a expresséo corporal, no sentido mais completo. O pregador tem que usar a palavra, o movimento do Corpo, as expressdes faciais e a mimica. Por isso, os auditorios e templos modernos sao construidos levando em conta n4o sé a acustica, mas também a visualizagiéo do pregador, para que os participantes nao sejam apenas “ouvintes” ou “espectadores” mas sobretudo assistentes. Um assistente nao se impressiona s6 com as palavras (idéias ¢ inflexdes vocais), mas com a mobilidade corporal (andar, agachar, elevar, contrair), com a expressao facial (seria, alegre, descontraida, duvidosa, preocupada, espantada, temerosa, encolerizada) e com a mimica (imagens formadas com as maos). O pregador capaz ¢ aquele que sabe usar todos os recursos da comunicagao_para_ sensibilizar seus S ‘isteates. Alguns desses recursos ‘podem § ser assim enumerados: 32 1. A mensagem A_mensagem deve ter_um contetido que desperte e alimente o interesse_do receptor. A sua codificagaéo deve ser adequada (proporcional ao nivel cultural ¢ 4 especificidade do auditério). O pregador deve estar atento, durante o processo da comunicagao, para verificar se esta havendo recepcdo. Qualquer sinal de desinteresse ou de desatengdo deve leva-lo a uma avaliagéo de seu comportamento para eliminar, em tempo, todas as interferéncias. A mensagem deve chegar ao receptor, por isso cabe ao pregador controlar a sua emissio e se certificar de que realmente ela esta chegando ao seu destinatario. 2. Veiculo Na Homilética, 0 veiculo da mensagem 6 0 pregador. Ele nao ¢ s6 0 emissor (criador e expedidor da mensagem), mas o seu proprio veiculo. E, como veiculo de sua propria mensagem o pregador deve se qualificar, cuidando dos seguintes elementos: 3. Destaque O _pregador deve ficar num lugar onde _possa ser_visto por todos os _assistentes. Além do estrado, plataforma, pédio ou pulpito, os templos modernos sao feitos em declive para facilitar a visibilidade ao pregador. Em auditérios onde a visibilidade ao pregador ndo é boa, isto é, onde o assistente nado pode ver, Homilética — A Eloquéncia da Pregaco 33 confortavelmente, todos os movimentos do pregador, este deve se conter em sua movimentacéo na plataforma. Se o assistente estiver fazendo muito esforgo para ver o pregador nas frestas de duas cabecas, facilmente podera perder o interesse de acompanha-lo em toda a entrega de sua mensagem, se o pregador se movimentar muito. A falta de visibilidade ao veiculo é um fator de interferéncia na entrega da mensagem. 4. Intensidade da voz O pregador precisa saber que a intensidade ou volume de sua voz deve ser proporcional a distancia que ele se posiciona diante de seus assistentes. A sua yoz deve chegar ao seu mais distante ouvinte. Como a maioria de nossos templos ¢ construida sem a minima consideracdo acustica, “o pregador deve ter sensibilidade para perceber quando deve elevar ou abaixar 0 volume de sua voz. E tao errado o pregador falar baixo a ponto de seus ouvintes distantes néo o ouvirem, como falar muito alto, num auditério pequeno ou de acustica sensivel. Ha ptegadores que sem necessidade, se desgastam fisicamente e se tornam irritantes, com seus berros. Para a ampliacdo da voz, o pregador dispée de recursos naturais técnicos, a saber: Natural- Intensidade vocal adequada Técnica-ambiental - Acustica Téenico-eletrénico- Equipamentos de som 34 A falta de actstica dos templos ou sua proximidade a ruas movimentadas ou a industrias barulhentas, nos obrigam ao uso dos indesejaveis recursos técnicos-eletrénicos (amplificadores, microfones e alto-falantes). E uma_ infelicidade quando o pregador tem que se ater a um microfone e escravizar seus assistentes a alto-falantes! “Contudo, temos que reconhecer que 0 radio e a televiséo séo as mais sensacionais midias oferecidas pela eletrénica de nossos dias. Infelizmente temos usado muito pouco e muito mal os _ recursos técnicos-eletrénicos representados pelo radio e pela televiséo. A verdade é que sao midias carissimas, que exigem recursos financeiros e estrutura administrativa que a maioria das igrejas evangélicas nao disp6e. Para suprir a omissao das igrejas, tém surgido organizagées para-eclesidsticas que montam estruturas e arrecadam fundos adequados a esse empreendimento e que passam a ser chamadas de “igrejas eletronicas”. A “Tgreja Eletrénica” ja chegou ao Brasil e, ao invés das igrejas tradicionais descobrirem estruturas e recursos financeiros para usarem tais midias, preferem discutir a validade do trabalho que se esta fazendo, e nio o espago que estao perdendo para aquelas organizagées. 5. Personalidade Sendo_o pregador_o proprio veiculo_de sua mensagem, ¢ importante que ele cuide »_sua énci odo como ele se Homilética— A Eloqiiéncia da Pregagdo 35 O pregador deve falar impessoalmente. No pulpito, ele representa uma Trindade Divina e uma coletividade humana (a Igreja). Embora ele seja o autor da mensagem, ao entrega-la é um veiculo da graga de Deus e do amor da Igreja. Tem que falar em nome de Deus e da Igreja. Por outro lado, o pregador se dirige sempre a uma coletividade de assistentes. Ha um tratamento cerimonioso, formal, que os pregadores antigos cram obrigados a usar (tratamento na 2" pessoa: tu e vds), mas que nao se exige na comunicacéo verbal moderna. No Brasil o plural que mais comunica é 0 da 3" pessoa (senhor, senhora, vocé e vocés). A comunicagaéo social verbal, hoje, & menos cerimoniosa, menos formal, por ser mais pratica e mais objetiva. O pregador que insistir em tratar 0 seu auditério na 2° pessoa, em certos lugares e ocasides, correra 0 risco de nao ser compreendido ou de se tornar pedante e antiquado. O seu egoismo (uso constante do “eu’”) e o seu pedantismo (uso dos verbos na 2° pessoa), podem constituir interferéncias no veiculo da pregacdo e comprometer a mensagem. Conclusio: Percebemos, entio, a intima relagéo que ha entre a elogiiéncia e a comunicagao. Assim como nao ha comunicagao se o receptor nao recebe e ndo responde a mensagem, também nao ha eloqiiéncia sem persuasdo. A atencAo dos assistentes, © seu interesse e sua anuéncia ao apelo do pregador sao provas de sua eloqiiéncia, ou em outras palavras, sao provas de que houve comunicacao. Homilética — A Eloqéncia da Pregagéo. 37 CAPITULO IV HOMILETICA E ESTILO A palavra estilo vem do grego stylos (através do latim stilus), que era o nome de uma haste, uma vareta (de madeira ou de ferro), ponteaguda usada na antigitidade para riscar ou escrever nas placas de cera ou de barro, que eram o material de escrita daquele tempo. Como cada haste produzia uma_ escrita caracteristica, stylos passou a ser a forma grafica tipica de cada escritor. Logo essa forma material de identidade literaria (hoje ela so é usada na Criminalistica), foi enriquecida com a idéia de que ela identificava também a cultura (nivel de conhecimento) e a personalidade (forma especifica de expressao) do escritor. Entaéo, 0 estilo passou a ser objeto e estudos da Gramatica. Da Gramiatica passou para a Literatura, mas nado demorou muito para que se percebesse que, se 0 estilo revelava nado sd a cultura (soma de conhecimentos), mas a personalidade do escritor (inteligéncia, memoria, sentimentos, _ intengdes, preferéncias, motivagdes, senso, estético e moral), entao cle transcendia 4 Gramatica e a Literatura, pois ele permeava a Retorica, a Etica, a Estética, a Psicologia, as artes, as técnicas e todas as formas de express6es humanas. Surgia, entdo, a Estilist ica. 38 A Estilistica é a ciéncia da expresséo humana e acritica dessa expressao. A Estilistica consumou a famosa sintese de Buffon: “Le style c’est l'homme” (0 estilo 6 o homem), pois cada homem, na verdade, é um estilo. Na Retorica (e por conseguinte na Oratéria e na Homilética) 0 estilo é a maneira peculiar do orador ou pregador se expressar em publico. CLASSIFICACAO DOS ESTILOS Um erro antigo, que se comete na classificagao dos estilos (no tempo de Cicero ja se fazia isso) é considerar como tal apenas as qualidades positivas de um autor, ignorando-se que, se 0 estilo é a expressao marcante da pessoa, esta pode ser boa ou mA, positiva ou negativa, certa ou errada. Nao podemos confundir estilo (certo ou errado) com estilo-padrao, estilo-modelo. E, a partir de um confronto, de uma analise critica, que iremos chegar a um estilo-modelo, ideal. Um estilo bom, certo, positivo, pode ser tao admirado que, por ser marcante, passa a ser imitado, tornando-se modelo. Gragas a isso, podemos dizer que o estilo pode ser aperfeigoado. O estilo pode ser natural quando a pessoa expressa aquilo que ela é, sem nenhuma elaboraciio; intuitive, quando a propria pessoa percebe seus erros € procura se modificar; e educado, quando a pessoa é orientada por terceiros em sua modificagao. Ai entram os modelos e as imitacées. Homilética — A Eloqdéncia da Pregacao. 39 O maior perigo da imitagdo (mimese) ¢ a perda da autenticidade. Quando a imitag4o se casa com a personalidade do individuo, néo ha nada a se condenar. Mas, quando ela se torna postiga, arti ficial, torna o pregador ridiculo, pois a imitagéo nao flui da personalidade, mas deixam evidentes a contrafagdo, o embuste, a mentira. O estilo flui de oito areas da vida do preg ador: 1. Sonora: O estilo determinado pelo timbre de sua voz, que pode ser: grave, médio, agudo, nasal, rouco etc. A qualidade da voz de uma pessoa € tao marcante que determina o seu estilo sonoro. 2. Gramatical: O estilo determinado pelo seu conhecimento das palavras e das regras da fala: Rustico (comete erros crassos e sem elegancia); educado (erros raros e com elegancia); primoroso (sem erros e com esmerada elegancia),; e gongorico (exagerado). 3. Literaria O estilo ligado mais aos géneros literarios, em que o pregador revela uma certa preferéncia: historia, biografia, poesia, profecia, doutrina (teologica ou moral) ou evangelizacao. 4. Psicolégica: O estilo determinado pelo seu modo pessoal e agir: critico, polémico, apologético, agressivo, satirico, jocoso, cdmico, irénico, pessimista, ufanista, faccioso, autoritario, democratico, liberal etc. 5. Profissional: O estilo determinado pela postura tipica de cada profissio exige de seu executante. A postura do advogado diferente da do politico e esta da do pregador. o fato da missaio do 40 pregador estar ligada a do pastor, diz-se de um “estilo pastoral” do pregador no pulpito. 6. Ideologia: O estilo determinado pela identidade doutrinal do pregador. Cada igreja ou grupo religioso tem a sua ou as suas doutrinas distintivas e os pregadores se identificam pela ma- neira peculiar de exporem essas doutrinas. 7. Littrgico: O estilo determinado pela postura litargica do pregador. Cada igreja ou grupo religioso tem a sua maneira peculiar de se conduzir liturgicamente. Uns sio excessivamente formais (liturgia rigida), outros sio flexiveis (liturgia maleavel) e outros sao informais (liturgia indefinida). A postura do pregador, no ptilpito, revela muito o estilo litargico de sua igreja. 8. Estrutura mental: O estilo determinado pela predominancia de nossa expressio mental. O nosso cérebro tem uma maneira peculiar de funcionamento. Os estimulos que o afetam tém que seguir um certo caminho para serem aproveitados, A isso damos o nome de légica. Pensamos com logica. Ocorre, entretanto, que nds nado pensamos apenas com o cérebro. Quando pensamos, envolvemos nossas emogoes, nossos sentimentos. E, quando o pregador se expressa mais pela sua razao (sem se preocupar muito com as suas emog6es), dizemos que o seu estilo irracional, ilogico. E, quando ele se expressa mais pelas suas emogdes (sem se preocupar muito com a ldgica), dizemos que o seu estilo € emocional ou intuitivo. Analise-se a si mesmo e descubra os tragos marcantes de sua pessoa como pregador. Analise o Homilética— A Eloqdéncia da Pregacao. 4 comportamento dos pregadores e descubra os seus estilos. Veja o que é€ certo e bonito e procure incorporar 4 sua vida. Aprimore o seu estilo, mas busque ser natural e auténtico. Homilética~— A Eloqiiéncia da Pregacao 43 CAPITULO V HOMILETICA E TEOLOGIA O Deus da Biblia é um Deus que se revela, que se comunica. Os profetas eram Orgaos receptores (oraculos ) das revelagdes de Deus. Eles ndéo so eram orgaos receptores de mensagens significativas, mas também, por vezes, seus comunicadores. Como receptores, eles eram alvos da revelacgéo e como comunicadores eles eram alvos da inspiragéo de Deus. Para comunicarem, sob inspiragao, as mensagens reveladas por Deus, os profetas falavam, pregavam ou escreviam. Por isso, os profetas as vezes, assumiam a postura de conselheiro, de mestre, de pregador ou de escritor. O profeta nado era necessariamente um pregador mas podia sé-lo circunstancialmente, por inspiragao divina. O que caracterizava 0 ministério do profeta era o fato dele receber revelagdo de Deus. A forma dele a comunicar ao povo (falando, pregando ou escrevendo) nao dependia da revelacéo, mas da inspiragdo que imediata ou posteriormente rec ebia. Essa explicagéo ¢é pertinente porque muitos acham que o profeta era obrigatoriamente um pregador; que os pregadores atuais séo verdadeiros profetas; e que os seminarios teoldgicos sao “casas de profetas”. Temos sérias restrigdes a essas afirmagées, a luz da distin¢do acima estabelecida. 44 A inspiragéo ou ungao espiritual, essencial a um pregador, capacita-o a comunicar as verdades de Deus dentro das necessidades dos ouvintes, mas isso nao lhe confere a fungao nem o titulo de profeta. A rigor, podemos afirmar que foram poucos os profetas pregadores na Biblia. A maioria, apenas falava. (2Pe 1.21). Jesus, 0 maior profeta da Biblia, se notabilizou como pregador. E, ao chamar os seus discipulos, prometeu fazer deles “pescadores de homens”, isto é, comunicadores. Ora, os pescadores conhecem duas midias ou dois métodos de pesca: 1) 0 anzol; e 2) a rede (He 1.15). O pescador de anzol, faz a pesca individual. O pescador de rede, faz a pesca coletiva. Para ter sucesso, ele tem que saber usar os dois métodos. Assim é com o pregador. Contudo ele tem que ser especialista na pesca com rede, pois a sua tarefa é a pregacao coletiva. Na Grande Comissio, dada por Jesus a seus discipulos, segundo o registro de Mateus 28.19-20 temos configurada a funcéo de mestre (fazei discipulos), mas segundo o registro de Marcos 16.15, a configuragdo é a de pregador (pregai o evangelho). Os apéstolos e evangelistas eram auténticos pregadores, pois eles eram os “ministros da palavra” colocados por Jesus na Igreja. Devemos destacar que nem todos os ministros da Igreja primitiva eram pregadores. Os pastores, por exemplo, também chamados presbiteros ou bispos, eram_ lideres administrativos que formavam um conselho de administragao. Entre eles, havia alguns que se dedicavam a pregagao e outros ao ensino (1Tm $.17). Homilética — A Elogiiéncia da Pregagéo 45 Os ministros,'* os que tinham responsabilidade exclusiva da palavra, eram os apdstolos e os evangelistas. Aqueles eram ministros universais da palavra. Estes, ministros locais ou reg ionais. Ora, Jesus nao poderia ter dado aos apdstolos, como individuos, uma missao universal (ir a todo o mundo), sem prover-lhes uma organizagao adequada. Dai a Igreja como agéncia de evangelizagao. A Igreja é a comunidade dos discipulos que Ihes propicia o cumprimento da Grande Comissdo. Na igreja e através dela, cada discipulo se habilita para cumprir a ordem de Jesus Cristo. Por isso, a missao dos discipulos passa a ser a missao da Igreja. E qual é a missao da Igreja? A palavra misséo vem do latim missio (do verbo mittere, enviar, mandar, autorizar, delegar, dar procuracao etc.) e significa tarefa, trabalho, agao, atribuigdo, ordem, mandato, procuragao etc. A palavra grega correspondente a missao é apostolé (composta de apo, que da idéia de origem, de procedéncia, vindo da parte de alguém e stole, do verbo sttelé, enviar). Apostolo significa, literalmente, enviado da parte de alguém para realizar uma tarefa. Ora, temos que admitir que a tarefa (0 que se faz) pressupde um objetivo (para qué se faz), por isso, quando falamos de missao, temos que distinguir a missdo-tarefa e a missao-finalidade. Inquestionavelmente, baseados em Mt 28.19-20; Mc 16.15; Le 24.47-49 e At 1.1-8, a missdo da igreja é evangelizar. Ora, evangelizar é ganhar almas! Sera que a missao unica da Igreja no mundo é 18 Em sentido semitico ¢ nao etimoldgico. 46 ganhar almas? Ganhar almas no seria apenas uma tarefa, dentre outras, voltada para uma finalidade de um objetivo maior? De fato, ha uma missao -objetivo maior para a Igreja de Jesus Cristo na terra: é a gloria de Deus. E a evangelizacao sé é uma missao digna da Igreja porque ela promove a gloria de Deus. Assim, cultuar a Deus ¢ uma missao da Igreja. Desenvolver a solidariedade entre os seus membros é uma missao da Igreja. Estudar ¢ praticar os ensinos da Biblia € uma missao da Igreja. Evangelizar e organizar novas igrejas é missao da Igreja. E, prestar servig¢os assistenciais, educativos e culturais a sociedade em geral, também, é missao da Igreja. Vemos, entéo, que ha uma missao teoldgica (a gloria de Deus), uma missdo liturgica (cultuar a Deus), uma missao social interna (a solidariedade dos crentes), uma missao biologica (o amadurecimento e a multiplicagao dos crentes e das igrejas), e uma missdo social externa ( a sociedade em geral). Assim, quando dizemos que a missio da Igreja € evangelizar nao estamos dizendo que é a Unica e nem que é a mais importante. Também nao estamos dizendo que evangelizar é apenas pregar o Evan gelho. A pregagio é¢ um método de Evangelizagio” e a Evangelizacao é um método de glorificacao de Deus. ™Por influéncia dos missionarios norte-americanos usa-se “evangelismo" em lugar de Evangelizagéo, sem nenhuma consideragao aos nossos diciondrios. Evangelismo é a doutrina, a teoria sobre o Evangelho (conceito estatico). Evangelizagao é a técnica, a pratica, a agdo de comunicar o Evangelho (conceito dinamico). Homilética— A Eloqiiéncia da Pregacao 47 A idéia muito difundida de que a missdo da Igreja é evangelizar e que evangelizar ¢ apenas pregar ou distribuir folhetos, talvez seja a causa de muita apatia e conformismo entre os crentes. oo As igrejas que imaginam que sua missao unica é evangelizar e se limitam a pregar, a distribuir folhetos, a radiofonizar ou televisionar seus cultos, ainda nao descobriram a sua verdadeira missao. Vejamos como podemos delinear a metodologia da salvagao: 1. Cristo é 0 método de Deus para salvar o mundo. 2. O homem é 0 método de Deus para levar Cristo ao Mundo. A Igreja é 0 método de Deus para levar o homem a levar Cristo ao mundo. 4. A evangelizagao € o método da Igreja para levar Cristo ao mundo. a 5. A pregagaéo é um método de evangelizagao para levar Cristo ao mundo. 7 Assim, a Homilética, que trata da pregagao, tem muito a ver com a Teologia, pois ela precisa saber para que existe e qual a sua fungao diante de Deus, de Cristo, do Espirito Santo, da Igreja e da salvagéo do mundo. Vé-se, entéo, que a Homilética nado entra no curriculo teolégico apenas como arte de falar em publico, como técnica de comunicagao verbal, como técnica de oratéria, como parte da necessidade humana de comunicagéo, mas como materia essencial, que esta na perspectiva da missao da Igreja no mundo; como parte de sua obra redentora, em Cristo. Quando Sdcrates reivindicou a subordinacao da Retorica 4 Filosofia, na verdade ele estava sugerindo uma subordinacao a Teologia, pois a sua concepcao “de verdade (pela qual estava pronto a morrer) nao era apenas légica ou ontoldgica, mas teoldgica. O seu filosofar nao era uma imposigao apenas da Etica ou da Metafisica, mas da Teologia. Eis as suas palavras: “Por determinagaéo divina, vinda nao s6 através do oraculo, mas também de sonhos e de todas as vias pelas quais 0 homem recebe ordem dos deuses”.”” A Homilética sé tem valor, como retérica cristé, quando subordinada a Teologia Cristé. Por isso, ela deixa de ser apenas um estudo de técnicas para se tornar numa arte objetiva, a servigo de uma filosofia de vida, de uma mensagem especifica, de uma Teologia. A Homilética nao se preocupa sé com a forma da comunicag¢éo, mas também com o seu conteudo. O pregador nado é aquele que sd sabe comunicar, mas que tem, em primeiro lugar, 0 que comunicar. Ele se preocupa nao so com a forma da comunicagéo, mas especialmente com a exatidéo e fidelidade em fazé-la. O pregador é um comunicador comprometido com a sua mensagem. Por isso, ele precisa ter ndo sd um sodlido conhecimento de Homilética, mas especialmente de Teologia e de cultura geral. E essa perspectiva teoldgica da pregagao que faz com que o pregador se sinta motivado a pregar. Ele sabe que foi chamado por Deus para essa missao. Sabe que Deus esta nele, pelo Espirito Santo, para 2°Defesa de Sdcrates em " Didlogos", de Platao. Homilética — A Eloqiéncia da Pregagao 49 usd-lo nessa tarefa. E sabe que sua tarefa é téo importante ¢ insubstituivel que ele jamais se furtara ao privilégio de executa-la. “Ai de mim se nao anunciar o Evangelho” (1Co 9.16-27). Homilética— A Eloqliéncia da Pregacao. 51 CAPITULO VI HOMILETICA E EVANGELIZACAO A palavra evangelho pode ser entendida sob quatro aspectos: 1) Etimologico. E uma composigao grega formada do eu, bem e angelia, mensagem; boa mensagem, boa noticia, boa nova; 2) Politico. Ea mensagem anunciada por um arauto especial do rei (2Sm_ 18.19-33, especialmente o verso 27). 3) Teoldgico. E uma mensagem de paz e salvacdo enviada por Deus, sobre o Rei Jesus, aos suditos do Rei dos Céus;*! e 4) Literério. E um livro de mem6rias sobre Jesus, que mostra ser ele 0 Cristo, 0 Rei. Neste sentido, ha quatro livros considerados como tais, em nossa Biblia. Tomando o terceiro sentido (0 teoldgico), podemos dizer que a evangelizacio é 0 ato ou efeito de comunicar o Evangelho.” E, como nao tem havido muita preciséo no uso da terminologia da evangelizagéo, vamos tentar uma pequena analise: A evangelizagao pode ser: 1. INDIVIDUAL, quando o evangelista fala particularmente ao individuo. 2INesse sentido, toda a Biblia se torna "evangelho Idem, p46 52 2. COLETIVA, quando o evangelista prega a um grupo de individuos, a uma coletividade. Neste caso, a Biblia o chama de pregador. A evangelizagao individual ou coletiva podem ser? a. PESSOAL, quando o evangelista esta presente (ao vivo) e fala ou prega a seu ou seus assistentes (Na rua, praca, condugdo, templo, auditorio, estadio, correspondéncia etc.). b. IMPESSOAL, quando o evangelista esta ausente e ¢ substituido por veiculo ou midias que o representem. (Filmes, diafilmes, diapositivos {slides}, fitas cassete, discos, jornais, revistas, livros, folhetos, circulares etc.) Por outro lado, a evangelizagao individual ou coletiva pode ser também: e) DIRETA, quando o evangelista se dirige pessoal e diretamente a seu ou seus assistentes. Exemplo: O evangelista que aborda uma pessoa na tua ou 0 pregador que prega na praca ou no pulpito. f) INDIRETA, quando o evangelista se dirige pessoalmente a seus assistentes ou ouvintes, mas através de veiculos de comunicagio instanténea, como 0 radio e a televisao. APLICACAO 1. O evangelista que aborda uma pessoa na rua, em casa, discos, fitas e livros. Diante dessa analise, deduz-se que a Homilética, sendo a arte de falar em publico, nada tem a ver com a Evangelizagao Individual, que cuida Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 53 do individuo e que exige técnicas e habilidades especiais. A Homilética esta diretamente ligada a Evangelizacéo Coletiva. Sua tarefa ¢ preparar pregadores para que evangelizem grupos de pessoas ¢ multidées. A Evangelizagao Coletiva, entretanto, néo se circunscreve apenas a pregacéo. Ela é mais abrangente e envolve mais do que pregadores. A Evangelizagéo Coletiva compreende recursos financeiros, técnicas, equipamentos e materiais adequados. Ela exige muita gente, organizagao, esforco concentrado e senso de equipe. Homilética —A Eloqdéncia da Pregacaio 55 CAPITULO VII HOMILETICA, HERMENEUTICA E EXEGESE A Hermenéutica e¢ a Exegese sido duas disciplinas fundamentais para a Homiletica. A primeira lhe oferece as técnicas de pesquisa. A segunda, as técnicas de exposicao. Isto porque: 1. A Hermenéutica é@ a ciéncia da interpretacao textual” Ela se divide em Hermenéutica Historica, que estuda as formas de interpretacdo, havidas no decorrer da historia e a Hermenéutica Normativa, que estabelece as regras da interpretacdo. Esta depende da Filologia, da Gramatica, da Psicologia, da Historia etc. Ha duas maneiras erradas de se conceituar a Hermenéutica uma ¢ considerd-la apenas como uma técnica, isto ¢, como um conjunto de regras de 3D0 grego exegese, exposi¢ao. Do verbo exagé, tirar para fora, conduzir, expor. CONCEIGAO, A. A. Introdugdo ao Estudo da Exegese Biblica, CPAD, 1990, p. 112.. RM-JECKER,- Fritz / ROGERS, Cleon. Chave Lingiiistica do Novo Testamento Grego, ‘Vida Nova, 1979, p. 639. 56 interpretagao textual; outra, é confundi-la com a Exegese. A Hermenéutica nao ¢ apenas uma técnica de interpretagdo baseada num conjunto de regras. Ela é uma ciéncia que tem fundamentagao racional, que tem sua maneira peculiar de agéo e que tem seus objetivos. Ela pode ser considerada como uma ciéncia especulativa, que busca o saber pelo saber, e que pée o seu produto a disposigéo de outras ciéncias ou artes. A finalidade da Hermenéutica é¢ dar a um texto a sua interpretagao correta. O resultado de uma operagao hermenéutica, a ligdo final, nao pode ser desvinculado de seu processo e de seus principios. A Homilética depende da Hermenéutica porque a pregagao cristé se fundamenta num documento textual: a Biblia Sagrada. A interpretagao correta dos textos sagrados, pois, é essencial a pregagdo. Se a Homilética é a arte de pregar o Evangelho, entao, é através da Hermenéutica que podemos saber 0 que € 0 Evangelho e se 0 que estamos pregando, realmente ¢ Evangelho, pela Homilética ficamos sabendo como prega-lo. Homilética sem Hermenéutica ¢ trombeta de sonido incerto (1Co 14:8). Homilética, também, depende muito da Exegese. Homilética— A Elogiiéncia da Pregagaéo. 57 2. A Exegese” ¢ a arte de expor uma idéia [Exegese do grego ek + egéomai, penso, interpreto, arranco para fora do texto.] Ea pratica da hermenéutica sagrada que busca a real interpretacdo dos textos que formam o Antigo e o Novo Testamento. Vale-se, pois, do conhecimento das linguas originais (hebraico, aramaico e grego), da confrontagéo dos diversos textos biblicos e das técnicas aplicadas na lingilistica e na filologia. EXEGESE ESTRUTURAL - [Disposigao interna de uma construcéo]. Doutrina que sustenta estar o significado do texto biblico além do processo de composic¢éo e das intengdes do autor. Neste método é levado em conta as estruturas e padrdes do pensamento humano. Noutras palavras: 0 cérebro é guiado por determinadas estruturas e padrdes, além dos quais naio podemos avangar. Todavia nao podemos nos esquecer deste alerta consolador de Paulo: “Temos a mente de Cristo“. E, se a temos, 0 Espirito Santo revela-nos 0 que a nossa mente ¢ incapaz de entender. EXEGESE GRAMATICO-HISTORICA - Principio de interpretagado biblica que leva em conta apenas a sintaxe e 0 contexto histérico no qual foi composta a Palavra de Deus. Tal método acaba por ?4Do grego exegese, exposigdo. Do verbo exagé, tirar para fora, conduzir, expor. 58 tirar da Biblia o seu significado espiritual. Nao se pode ignorar as verdades que se acham escondidas sob os simbolos e enigmas das porgdes escatoldgicas e apocalipticas do Livro Santo. Na interpretagéo da Biblia, nao podemos esquecer nenhum detalhe. Todos s4o importantes. EXEGESE TEOLOGICA - Principio de interpretagéo biblica que toma por parametro as doutrinas sistematizadas pelos doutores da Igreja. Neste caso, a Biblia é submetida a doutrina. Mas como esta nem sempre encontra-se isenta de interpretagdes parcimoniosas e tradigdes meramente humanas, corre-se o risco de se valorizar mais a forma que o contetido. O correto é submeter a dogmatica ao crivo da infalibilidade da Palavra de Deus. A Homilética recebe contetido, quando o pregador se esmera no uso da Hermenéutica e ganha na forma, quando ele se aplica a Exegese. Como podemos observar, a Hermenéutica e a Exegese tém sentidos opostos de agéo. Enquanto que a Hermenéutica é busca, pesquisa, interpretagao, a Exegese é doagao, é transmissao, ¢ comunicagado, é exposic¢éo. Um hermeneuta nao é necessariamente um exegeta. E, isso, pode ser demonstrado pela expressio proverbial: “O professor é um cranio, uma sumidade na matéria, mas nao sabe ensinar”. Por outro lado, um exegeta nao é necessariamente um hermeneuta. Ele pode se valer de pesquisas ou de interpretacio de outrem. Na literatura cientifica, na ficgao e no jornalismo, grandes exegetas se louvam nos trabalhos dos grandes hermeneutas (pesquisadores orig inais). Homilética — A Elogliéncia da Pregagao 59 Por isso, precisamos ter um pouco mais de cuidado quando vamos nos referir 4 exegese feita por alguém. Estamos nos referindo a sua forma expositiva ou ao contetido de sua exposigao? Se for, estamos nos referindo a um exegefa mais do que ao contetdo, precisamos saber quem é o hermeneuta. Nem sempre 0 exegeta é o hermeneuta, por isso, nem sempre ele é 0 responsavel pela interpret agao exposta. O uso da palavra exegese, so pode ser admitido em lugar de hermenéutica, quando esta implicita naquela, isto é, quando ele expde idéias que ele mesmo pesquisou; quando ele é o veiculador de sua propria interpretagao. Homilética— A Eloqéncia da Pregagao 61 CAPITULO VIII HOMILETICA, TEXTO E CONTEXTO A palavra texto vem do latim textus (do verbo texere, trangar, tecer) e significa aquilo que esta tecido, trangado, entrelagado, interligado. Na literatura, texto ¢ 0 conjunto de palavras escritas que, relacionadas entre si exprimem uma idéia, um pensamento. Em sentido amplo, texto ¢ tudo o que esta escrito. Em sentido restrito, texto ¢ apenas uma porgao escrita que se quer considerar. O texto pode ser apenas uma palavra, uma orag4o, uma frase ou um periodo curto ou longo. Assim, a parte tomada como texto faz com que tudo o mais (que esta escrito, antes ou depois), lhe seja contexto. O contexto pode ser antecedente ou conseqiiente, proximo ou remoto, conforme sua posigao e distancia do texto. O contexto pode ser também interno (ao redor do texto que se esta considerando) ou externo (fora dele). Neste ultimo caso 0 contexto pode ser histor ico, social, psicoldgico, cultural etc. Assim, se tomarmos a Biblia como texto, tudo o mais que a circunda (historia, literatura, lingiiistica, arqueologia, geografia etc.) é seu contexto. E neste sentido que dizemos que “ a Biblia € 0 livro-texto do 62 pregador “. E isso nao quer dizer que o pregador seja “homem de um livro so” ou que ele deva ignorar 0 universo contextual da Biblia. Mas a Biblia nao é apenas “um livro”. Ela é uma colegao de livros, uma biblioteca, contendo 66 livros. Tomados individualmente, cada livro passa a ser um texto, enquanto que os demais pass/ a lhe ser contexto. Por outro lado, cada livro esta dividido em capitulos (unidades de assunto) e versiculos (unidades gramaticais); e cada versiculo em oragées e palavras. Cada unidade textual que for tomada para uma consideragao particular, passa a ser texto, enquanto que as demais porgdes textuais (antecedentes, conseqiientes, proximas ou remotas) passam a ser contexto. Os autores de obras homiléticas tém se preocupado em classificar os sermées segundo a porgao textual que é considerada. Assim, chamam de “sermao textual”, o sermao cujos argumentos cst&o no proprio texto; de “Sermao expositivo” o serm&o que se propée a analisar um fato historico-textual; e de “sermao de tdpicos” 0 sermao que sé tem o tema tirado do texto e os argumentos. sao livres (da iniciativa do pregador) Vé-se que o “sermao de tépicos” 6 apenas uma variante do “textual”. Julgamos essa classificagéo ociosa (porque artificial) confusa e prejudicial. Quem prega, sabe que um texto pode ter a mais variada forma de utilizacio e que um sermao pode ter a mais diversa forma de disposigéo. Qualquer classificagao € restritiva e tira do pregador (ao menos enquanto estudante de Homilética— A Eloqdéncia da Pregacao 63 homilética) a oportunidade de conhecer as inimeras outras alternativas de composigao homilética. Dissemos “enquanto estudante” porque logo que a pessoa comega a pregar ela descobre o imenso leque de alternativas do uso textual e da disposi¢aéo do sermao. Toda a classificacdo aprendida é relegada ao esquecimento. Dizemos também que — essa classificacdo é confusa. Isto porque todos os sermédes biblicos s4o textuais, pois sao todos baseados em um texto; e séo todos sermées expositivos, porque cada sermao é uma exposig¢ao; e sdo todos de topicos, pois toda a argumentagdo de um sermao ¢ feita em topicos. Alguns chamam 0 sermao de topicos de tematico. O absurdo é maior porque todo sermao se baseia num tema. E por isso dizemos que tal classificagao ¢ prejudicial. Perde-se muito tempo para se aprender uma coisa que é artificial, restritiva, redundante e inutil, particular. E verdadeira perda de tempo que se tem nesse sentido. Veja o capitulo seguinte sobre Homilética ¢ Tipos de Sermées. Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 65 CAPITULO IX HOMILETICA__ E TIPOS DE SERMOES Os autores de homilética tém dedicado bastante atengdo 4 variedade de tipos de serm6es que um pregador pode produzir. Entéo surgem os sermdes evangelisticos, doutrinarios, exortativos, confor- tativos, avivalisticos, inspiracionais, devocionais, nupciais, natalicios, finebres, civicos, etc. A rigor so ha um tipo de sermao quanto ao seu contetido: o doutrinal, pois todos os sermées sé tém um propésito: enfocar uma doutrina. O que se observa, entretanto, é que, embora focalizando uma doutrina, 0 sermao pode ser dirigido a dois tipos de ouvintes (crentes e ndo crentes) e em circunstancias e situagdes diferentes. Assim, os sermées sao essencialmente: 1. Doutrinas ou doutrinarios Doutrinas ou doutrindrios, quando enfocam uma doutrina e sio dirigidos aos crentes, visando exclusivamente o ensino da Palavra de Deus a fim de que ela seja conhecida, aceita e obedecida. O sermao doutrinal visa sedimentar os conhecimentos e a fé dos crentes. 66 Quando, porém, ele assume o tom de exortacéo, de conforto, para aconselhar, advertir ou solidarizar, pode se tornar, entao, doutrinario-exortativo ou confortativo. E importante nao confundirmos sermao doutrinario com estudo doutrindrio. Eles se diferenciam pela postura (em pé ou sentado), pela forma expositiva (literaria ou didatica), pela linguagem (social ou técnica) e pelos recursos visuais (expressao corporal ou equipamentos). 2. Evangelizantes”> Evangelizantes quando enfocam uma doutrina e sao dirigidos aos nao crentes visando sua conversagaéo a Cristo. A doutrina fundamental dos sermées evangelizantes é a Soteriologia, quando se procura viabilizar o Plano de Salvacéo para os pecadores. Qualquer serméo se torna evangelizante quando resulta em pessoas convertidas a Cristo. Por isso, os sermdes doutrinais ou evangelizantes podem ser diretos ou indiretos quanto a apropriacéo pelo ouvinte. Um sermao doutrinal, feito exclusivamente para crentes, pode resultar em conversio, se houver um _ ouvinte ainda nao 25 Consagrou-se 0 uso do termo evangelistico, sem nenhuma consideraco 4 gramatica. Ha que se distingue evangelistico de evangelizante. O termo evangelistico apenas situa uma relagdo com 0 Evangelho. Evangelizante, entretanto, indica um propdsito, um objetivo, uma intengao deliberada. O sermao evangelizante se caracteriza no s6 pela sua relagdo com o Evangelho, mas pelo seu empenho em salvar os pecadores. Homilética — A Eloqiiéncia da Pregagao 67 convertido. E um sermao evangelizante, feito para os nao crentes, pode sedimentar as conviccdes dos crentes. Por isso, o pregador deve pensar também em crentes que estaéo ouvindo um sermao evangelizante. Assim os chamados sermdes _ nupciais, natalicios, finebres, civicos”® etc. podem ser tanto doutrinais como evangelizantes, dependendo somente da aplicagéo (sedimentar a fé ou levar a conversdo) dos destinatarios (crentes e nao crentes) e dos resultados. °*Parénese é 0 nome que se di a um sermao oficial, feito para uma ocasiao especial. Homilética — A Eloqliéncia da Pregagao 69 CAPITULO X HOMILETICA E CULTURA Cultura € um modo de ser de um povo. A ciéncia que se preocupa com a cultura chama-se Etnologia. Ha uma relacao muito grande entre a Homiletica e a Cultura. Nao devemos nos esquecer que: 1. O pregador é uma pessoa oriunda de um contexto cultural. Ele vem sempre de um meio de cultura. 2. A pregagaio é um elemento de cultura. O pregador é um divulgador de cultura. A pregacdo é um fator de cultura. Cada pessoa que ouve um sermao, enriquece culturalmente. 3. O objeto da pregagao é o individuo, inserido num meio cultural. O pregador nao pode se dirigir um povo ignorando-lhe a cultura. A cultura de um povo é fundamentada em principios de vida e em costumes. Os principios sao universais (aplicaveis a todos os individuos e a todas as culturas), mas os costumes sao particulares (proporcionais ao estagio cultural do povo). A falta de uma compreensao desse problema e a falta de uma definic4o sobre o contetido essencial da mensagem que o pregador tem que transmitir tém 70 produzido choques de cultura e anomalias na obra missionaria. Muitos missionarios confundem a mensagem que devem pregar (baseada em principios) com a sua cultura, levando aos seus destinatarios costumes de seu povo e ndo o Evangelho. E claro que os principios universais do Evangelho, quando aplicados na vida do individuo, vao mudar-lhe os conceitos e os seus padrdes culturais e vao afetar a cultura de seu povo, mas isso tem que ser conseqiiéncia natural, como algo que nasce de dentro e nao como imposigao exterior, epidérmica. O pregador tem que pregar o Evangelho, com seus valores culturais e ndéo impor costumes como express6es particulares de sua cultura. Nunca devemos nos esquecer que, em certo sentido, o pregador cristio é um divulgador dos valores culturais da cultura hebraica, mas nao necessariamente da cultura particular dos hebreus. A incapacidade de distinguir os principios dos costumes hebraicos tem levado muitos grupos religiosos a adotarem como doutrina simples costumes particu- lares dos judeus. Ninguém pode se considerar como pregador cristéo ignorando a cultura hebraica registrada nas Escrituras. Tanto que a cultura teolégica do pregador exige conhecimentos da lingua, da literatura, da historia, da geografia e de tantos outros setores da cultura hebraica. Tudo isso faz parte dos curriculos teologicos a que damos o nome de cultura técnica ou cultura teolégica. Homilética— A Eloqiiéncia da Pregagéo a Contudo, ao lado dessa cultura técnica, o pregador precisa de uma vasta e solida cultura geral. Quanto mais cultura ele tiver, mais facil e mais eficiente sera o seu ministério. O pregador precisa conhecer bem o homem e a cultura de seu tempo: suas idéias, seus costumes, seus problemas, seus recursos, sua personalidade e sua psicologia. Por isso, 0 pregador nado pode contentar-se em estudar apenas a sua Biblia..O pregador nao pode ser “homem de um livro sé”. Mas ha muita gente que se ufana disso. Quem afirma que o pregador deve estudar so a Biblia revela ignoraéncia ou preguiga mental. Podemos até duvidar do seu nivel intelectual e do conteudo de seus sermées. QO _pregador precisa estar em dia com o seu tempo, com a cultura de seu povo ou do povo a quem ele_vai_ministrar, Se ele esta no Brasil, precisa conhecer a psicologia do povo brasileiro, o grau de cultura desse povo, suas aspirag6es, suas frustragdes, o que faz, como o faz, 0 que pensa € 0 que pretende. Se ele dirigir a outro pais, tera que conhecer o mesmo a respeito do povo daquele pais. Precisara ndo so conhecer essa cultura, mas assimild-la e integrar-se nela. Para isso, o pregador tera que ler muito (ser leitor inveterado e insaciavel de informagées). Ler jornais, revistas, livros; ouvir radio, ver_televisdo. cinema, teatro; participar da comunidade em reunides sociais, culturais, cientificas, politicas etc. Ele precisa ver, ouvir e sentir 0 seu povo. Os que dizem que sé a Biblia basta, enfrentam duras interrogagdes: Como eles interpretam a sua 72 Biblia? Que autoridade tém ao se dirigirem a um povo que nao conhecem? Eles respondem: A Biblia nao precisa ser defendida, pois Deus a tem defendido através da historia. De fato, o Evangelho é 0 poder de Deus e como tal é invencivel. Nao precisamos, mesmo, defender o Evangelho, mas isso n&o quer dizer que estejamos dispensados de defender as teses sobre 0 Evangelho que oferecemos ao mundo como bases de Nossas pregacoes. O pregador que tem consciéncia da relacdo Homilética-Cultural revela ter plena consciéncia de seu papel na sociedade. Papel invulgar, indispensavel e insubstituivel, pois o pregador nao é sé um divulgador cultural, mas é também um mestre, um terapeuta e artifice de uma nova sociedade, de uma nova cultura. Homilética — A Elogiiéncia da Pregagéo 73 SEGUNDA PARTE PREPAROE _ EXPOSICAO DO SERMAO CAPITULO XI OS ELEMENTOS BASICOS DO SERMAO Todo discurso gira cm torno de quatro elementos principais: 1. O motivo O motivo que leva o orador a se por para falar (saudagéo a um visitante, a um aniversariante, inauguracéo de uma obra, analise de um fato social, politico ou religioso). A isso se da o nome de tema. 2. A maneira pessoal do orador A maneira pessoal do orador enfocar esse motivo se da o nome de tese. 74 3. A coisa que vai falar O contetido de sua fala; os seus argumentos; as suas idéias. A isso se da 0 nome de assunto. 4. A forma de falar A disposigéo das varias partes que constituem o discurso. Desde sua origem, com Corax na Grécia, os mestres de Oratéria tém-se preocupado mais, com esta Ultima parte do serm&o do que o porqué dessas partes e suas interrelagdes, tem sido a nota dominante dos mestres de Homilética. Mude-se, desta feita, o enfoque da matéria. A andlise que se fara das partes do sermao visa mais definir a raziéo de ser de cada uma e sua relacéo com as demais, do que apenas definir sua localizacdo no conjunto do sermao. Q sermao ¢ uma pega literaria que se compée, normalmente, de oito partes: 0 titulo, o texto, o tema, a_introdugdo, a tese, a argumentagado ou _assunto, a conclusao ¢ 0 apelo. E necessario conceituar cada uma dessas partes nao so para que o pregador tenha delas conhecimento , mas para que sabendo o seu verdadeiro significado, as use com preciso e nao caia nas armadilhas da confusao reinante. Tal conceituagao ¢ importante, também, para que o leitor acompanhe as colocagées que faremos no decorrer desta obra. Homilética — A Elogtiéncia da Pregacao. 75 1. TITULO A palavra titulo vem do grego titlos (através do latim fitulus. (Jo 19.19). Na_Homilética, titulo ¢ 0 nome do_sermao, posto_em destaque, para ele ser identificado como uma pega literaria completa. 2. TEXTO A palavra texto vem do latim textus, tecido (do verbo téxere, trangar, tecer) refere-se a tudo 0 que esta tecido. Na Literatura, texto é tudo o que esta escrito. E, na Homilética, texto oibl como base para um sermao. O Texto pode ser apenas uma palavra, uma oragao, uma frase ou um periodo (curto ou longo). 3. TEMA A palavra tema vem do grego théma (do verbo tithemi, ponho, coloco, guardo, deposito) e significa algo que esta dentro, guardado, depositadg. A palavra latina que a corresponde € assunto (assumptus, tomado, recebido, guardado, depositado). Embora sinénimas, se estabelece, para fins exclusivamente didaticos, uma pequena diferenca entre elas. Para nos, tema vai ser apenas 0 nome do assunto (sobre o qual se fala) ou a sintese do conjunto deles; enquanto que o assunto, propriamente dito, vai ser a argumentagéo (o que se fala) ou o bloco de 76 argumentos que o pregador pode reunir em favor de sua tese. Encarecemos a atencio do leitor para essa diferenca para poder nos acompanhar em nossa exposigao. 4, INTRODUGAO OU EXORDIO A introdugao € a parte inicial do sermao. Nela, o pregador inicia seu relacionamento com seu auditorio tendo em vista a apresentagdo de uma proposta para a discusséo de um tema. 5. TESE A palavra tese vem do grego thésis (do verbo thes6, que tem o mesmo significado de tithemi, explicado no item 3). Por um processo seméantico, tese passou a ser uma proposigao, isto ¢, uma declaragéo em forma de proposta para discussao ou analise de um tema. A tese, como uma declaragdo, pode ser afirmativa, negativa ou interrogativa. 6. ARGUMENTACAO OU ASSUNTO A argumentagao é 0 conjunto de fatos, de idéias, de provas ou de argumentos arrolados pelo pregador como resposta 4 proposta de discussao contida em sua tese. Na Homilética, essa parte é a mais importante do sermAo, pois é ela que lhe da conteudo. Nela estio, Homilética— A Eloqtiéncia da Pregagao 77 nao sO os argumentos, mas a razio de ser do proprio sermao, por isso vamos considera-la como 0 assunto propriamente dito. O assunto, pois (para nds) vai ser a parte do sermao restrita 4 argumentagao. 7. CONCLUSAO A conclusio ¢ o desfecho final do sermio. Nela o pregador deduz, de sua argumentagao, todas as verdades praticas, que podem ser aplicadas as necessidades dos ouvintes. Por isso a conclusdéo é um resumo do que se disse e uma aplicagdo pratica (em nivel teorico) das verdades enunciadas. 8. APELO O apelo é um convite do pregador para que seus ouvintes se manifestem publicamente sobre o serm4o que ouviram. Enquanto que a conclusdo é um convite 4 mente, a inteligéncia, para que a pessoa se decida subjetivamente, 0 apelo é um convite a personalidade integral da pessoa, para que se decida objetiva e publicamente. Homilética — A Elogiiéncia da Pregacao 79 CAPITULO XII O PREPARO DO SERMAO Ha _duas fases no_preparo de um sermao. A primeira, quando se pesquisa e se coleta o material a ser_usado. A segunda, quando se digpde ou se esquematiza esse material para a exposicao. Este capitulo trata da primeira fase. O proximo tratara da segunda. Nenhum pregador pode ter éxito em seu labor homilético se nao se preparar convenientemente para com ele. Cada sermao tem que ser 0 produto de um cuidadoso preparo. Além do preparo espiritual, que se exige de um mensageiro de Cristo, os seguintes elementos de seu sermdo deve merecer um preparo especial. 1.0 TEXTO O texto, como ja vimos, é tudo o que esta escrito, e na Homilética é a porcdo biblica tomada como base do sermao. a. Vantagens do texto Ha dois extremos, quanto ao uso do texto, que o pregador deve evitar: 0 desprezo pelo texto (sem base biblica) e 0 uso do texto como pretexto (sermao com aparente base biblica). 80 O uso inteligente do texto sagrado, no sermao, oferece as seguintes vantagens ao pregador: b. E fonte inesgotavel de temas, teses ¢ de assuntos. c. Seus temas sio os que mais atraem os ouvintes porque tratam especificamente de seu interesse mais profundo. d. Da seriedade a pregagao. e. Garante uma atengao natural dos ouvintes. f. Da autoridade ao pregador. g. Divulga o contetdo das Escrituras, levando 0 povo a conhecer a Palavra de Deus. h. Estimula o uso da Biblia no culto. i. Ensina 0 povo a interpretar a Palavra de Deus. j. Ensina 0 provo a viver conforme a vontade de Deus. k. Ensina 0 povo a valorizar a Palavra de Deus. 2. COLETA DE TEXTOS Se o texto é importante e fundamental para o sermaéo, entéo, o pregador precisa dispor, continuamente, de uma quantidade apreciavel de texto, que atendam a sua necessidade constante de pregar. Trés coisas o pregador deve fazer para conseguir textos abundantes para os seus se rmoes: a) LER CONSTANTEMENTE A BIBLIA. Ha trés maneiras de ler a Biblia: 1 Culturalmente, quando a lemos para saber o que ela contém; 2 Homilética— A Eloqdéncia da Pregagao 81 Devocionalmente, quando a lemos para saber o que ela contém particularmente para nos; 3 Homileticamente, quando a lemos para saber 0 que ela contém para os outros. Qualquer__pessoa__pode__ler _a___ Biblia culturalmente. Os crentes tém que 1é-la cultural, devocional e homileticamente. O pregador € obrigado a conhecer a Biblia para ter_autoridade intelectual para falar sobre ela. E obrigado a se ee da Palavra de Deus para ter autoridade mot iri obrigado a descobrit nela, a mensagem que Deus tem para os outros. E_um perigo muito grande o pregadoy (por causa de sua constante necessidade de pregar) restringir-se_4 leitura homilética de sua Biblia. Essa tentagao_tem levado muitos pregadores ao_fracasso. pois preocupando-se muito em pregar para os outros, esquecem-se_de ouvir o que Deus tem para eles. E. _quem alimenta outros, mas nao se alimenta, morre de inanigao. b) ANOTAR TUDO QUE TENHA INTERESSE HOMILETICO. Ao ler a sua Biblia, o pregador deve anotar as idéias, indicar ou mesmo transcrever o texto encontrado. As vezes, da leitura, o pregador tira apenas uma idéia. As vezes, 0 texto Ihe oferece um tema ou uma tese ou até os argumentos. Lido o que lhe sugerir 0 texto, anote. Anote também as ilustragées. 82 c) COLECIONAR ANOTACOES. Tenha uma pasta de cartolina com a seguinte inscrigdo: SERMOES EM PREPARO. Guarde suas anotagdes nessa pasta e sempre que tiver que pregar dé uma olhada nela. Ore antes de fazer a sua pesquisa. Ao passar por uma folha incompleta, poderas ter novas idéias e acrescenta -las. Nao fuja 4 inspiragdo do momento. Anote, acrescente, corrija, complete. Assim vocé ira tendo muitas opgdes para pregar e nunca se sentird vazio de mensagens. d) COMO TRABALHAR O TEXTO. As seguintes providéncias 0 pregador tem que tomar, para aproveitar um texto em seu sermao: e) Determine a extensdo do texto. Qual é a porgao definida que vai ser usada como base para o sermao? O texto pode ser uma palavra, uma oracao, uma frase ou um periodo curto ou longo. f) Interpreta-lo gramaticalmente. Descubra 0 sujeito (quem esta falando ou agindo), 9 predicado (o ue esta falando ou agindo), os complementos (0 que, onde, como, quando, que por qué, para qué, etc.) as figuras de linguagem e literarias. g) Consultar outras tradugées. Isto lhe dara seguranca sobre qual estara mais adequada ao seu tema ou a sua forma de exposi¢ao. Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 83 h) Consultar o texto original (hebraico ou grego). Isso lhe abrird mais a visio e Ihe dara maior seguranga quanto a tradugdo adotada. i) Consultar um bom dicionario da lingua, nao sO para entender texto, mas para expd-lo. Um dicionario atualizado nos verbetes, na ortografia e que tenha além do significado atual (semiologia também o seu sentido original (etimologia). j) Consultar um dicionario biblico, se o termo exigir conhecimentos particulares. k) Consultar uma enciclopédia, se o termo exigir conhecimentos historicos ou técnicos particulares. 1) Consultar um comentario biblico, se o termo exigir uma explicagdo teoldgica ou textual mais profunda. m) Interpreta-lo literalmente. Quem € 0 autor, quando Traducdo significa trazer de la para ca, versao significa virar daqui para la. Quem escreveu, para quem escreveu e com que propdsito? Que género adotou e qual o seu estilo? Se o todo (a pogao adotada) nao ¢ completo, busque 0 contexto interno (as demais partes do autor nos demais livros da Biblia). 84 Consulte os textos paralelos indicados nas referéncias de rodapé da Biblia, ou num versiculario.”” n) Interpretar culturalmente. As vezes o texto se torna mais claro e mais rico com uma busca ao contexto externo, isto é, a Histéria, a Geografia, a Arqueologia, a Filosofia, etc. 0) Destacar o tema. Qual é 0 nome geral que se pode dar a tudo o que contém o texto? Veja na frente como identificar os temas de um texto. p) Identificar ou elaborar uma tese. Se a tese nao estiver expressa no texto, o pregador tera que elabora-la. Veja mais na frente um estudo completo sobre a tese. q) Identificar ou elaborar os argumentos que respondam a tese. Veja a explicagéo sobre argumentacao. r) Destacar a conclusao. Qual ¢ 0 desfecho do fato narrado; o que resultou ou quais as conseqiiéncias? ?’Versiculario —Neologismo do autor para a colegio de versiculos, clasificados por verbetes, em ordem alfabética e na ordem em que se encontram na Biblia, conhecida como Concordancia {0 que nao ¢) ou Chave Biblica (metafora que nao diz 0 que 6). Homilética— A Eloquéncia da Pregacao 85 EXEMPLOS DE COMO USAR UM TEXTO Texto 1: Gn 12. 1-5. (Abra a sua Biblia. Leia o texto indicado e analise-o, segundo o roteiro do item anterior). Veja 0 que descobrimos. Tema: chamada de Abraéo. Tese: por que Javé chamou Abraao? (deduzida do texto). Assunto: 1. Para que saisse de sua terra e fosse para uma nova terra; 2. Para que se tornasse o pai de uma grande nagao; 3. Para que fosse abengoado e se tornasse uma beng4o. Conclusao: Abraio fez o que Iavé lhe ordenara. Note que Iavé (transliteragdo moderna da forma primitiva Yahweh, erradamente transliterada por Jeova e que as nossas Biblias traduzem por Senhor) é 0 nome pessoal do Deus dos hebreus. Note também que o tema e a tese foram deduzidos do texto, e que os argumentos que constituem o assunto do sermao, e a concluséo encontram-se no texto; e que todos estéo em consonancia com a tese. Texto 2: Ex. 20.1-17. (Leia-o em sua Biblia). Tema: Dez Mandamentos. Tese: Quais séo os dez mandamentos? Assunto: 1) Eu sou o Senhor teu Deus ... Nao teras outros deuses (...) 2) Nao faras para ti imagens ... ; 3) Nao tomaras 0 nome do Senhor em vio ... ; 4) Lembra-te do dia do sdbado ... ; 5) Honra teu pai ... ; 6) Nao matards; 7) Nao adulterards; 8) Nao furtards; 9) Nao diras falso testemunho; 10) Nao cobigaras. 86 Texto 3: Ex.: 20.1-3. Tema: Primeiro Mandamento. Tese: Em que consiste o primeiro mandamento? Assunto: 1) Na identidade pessoal de ‘Deus (Eu sou Iavé teu Deus); 2. Na identidade funcional de Deus (Eu te tirei da terra do Egito ); 3. Na exclusividade existencial de Deus (Nao terds outros deuses). Note que esse texto é uma extensdo menor do indicado no item 2. Texto 4: Mt 1.18-25. Tema: Concepgio de Jesus. Tese: Como foi Jesus concebido? Assunto: 1. Maria esta casada com José; 2. Antes de coabitarem, Maria se achou gravida; 3. José, para nao infamar Maria, tentou abandona-la; 4. José teve um sonho: a concepgao era do Espirito Santo e o menino seria 0 Salvador do mundo. Conclusao: José recebeu Maria gravida e nao teve relagdes sexuais com ela até que nascesse o menino, que recebeu o nome de JESUS. Note que esse texto fala mais da concepgio e da gestagao do que do nascimento. Texto 5: Mt 1.18-25. Tema: Jesus. Tese: Por que o filho de Maria recebeu o nome de Jesus? Assunto: Porque Jesus significa “Salvagao de Iavé”; 2. Porque a sua missdo seria “salvar 0 seu povo dos seus pecados”; 3. Porque essa misséo concretiza o predito sobre Emanuel (Deus conosco). Conclusiao: Tudo isso aconteceu. Note que na indicagao do texto, o verso 21 esta entre paréntesis. Isso para mostrar que ele é 0 texto Homilética ~- A Eloqiéncia da Pregagéo 87 cardeal. 1 Quando for pregar, o pregador lera 0 texto todo, mas destacara o v 21 para fundamentar a sua tese e o seu assunto. Note também que o primeiro argumento se baseia na etimologia do nome Jesus (composto hebraico de Iavé e Oséias = Josué). Texto 6: Mt 2.1-12. Tema: A visita dos magos a Jesus. Tese: O que fizeram para visita-lo? Assunto: 1. Foram do oriente para Jerusalém; 2. Perguntaram aos moradores da cidade; 3. Provocaram o interesse do rei, que convocou os sacerdotes e escribas para localizarem o rei-nascido; 4. Foram chamados ao palacio e incumbidos de uma missdo secreta; 5. Seguiram a estrela até Belém; 6. Encontraram o menino e lhe prestaram honras reais; 7. Foram avisados, em revelacéo, que nao o entregassem a Herodes. Concluséo: Encontraram o Rei dos Judeus e voltaram para a sua terra por outro caminho. Texto 7: Mt 2.1-12. Tema: A Visita dos magos a Jesus. Tese: Porque os magos visitaram Jesus? Assunto: 1. Porque viram uma estrela no oriente; 2. Porque essa estrela indicava 0 nascimento de um rei entre os judeus; 3. Porque eles queriam honra-lo. Note que o mesmo texto, com 0 mesmo tema, comportou uma tese diferente. Texto 8: Mt 2.1-12. Tema: Os magos e suas “revelacdes”. Tese: Que revelacdes receberam os magos? Assunto: 1. De uma estrela no oriente: 2. Das 88 Escrituras em Jerusalém; 3. De Deus mesmo, em Belém. Note que 0 mesmo texto, deu outro tema e tese diferentes. Texto 9: Mt 5.1-13. Tema: As Bem-aven- turangas. Tese: Quais sao as bem-aventurangas? Assunto: 1. A que se refere aos humildes de espirito; 2. A que se refere aos que choram; etc. Conclusao: O reino dos céus é daqueles que estéo dispostos a sofrer tudo neste mundo por causa dele. Texto 10: Mt 5.1-13. (3). Tema: A Felicidade dos Pobres de Espirito. Tese: Por que os pobres de espirito sao felizes? Assunto: 1. Porque a palavra “bem-aventurado” quer dizer “feliz”; 2. Porque o pobre de espirito ¢ alguém que sofre neste mundo por causa do reino dos céus; 3. Porque dos pobres de espirito € 0 reino dos céus. Concluséo: O pobre de espirito é feliz porque dele é 0 reino. Note que a extensao do n° 9 foi limitada aqui para permitir uma abordagem especifica sobre uma das bem-aventurangas (a primeira). Texto 11: Mt 5.33-37. Tema: Juramento a Deus. Tese: Jesus condena 0 costume judaico de jurar pelas coisas sagradas. Assunto: 1. Nao jurar pelo céu, porque € 0 trono de Deus; 2. Nao jurar pela terra porque é 0 estrado de seus pés; 3. Nao jurar pela propria cabega (oferecendo-a como fianga), porque ela néo é sua (ndo pode nem mudar a cor dos Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 89 cabelos). Conclus&o: seja o seu falar: sim, sim; nao, nao, pois o que passa disso vem do maligno. Texto 12: Mt 6.5-15. Tema: Oragao. Tese: Como devemos orar? (deduzida do texto) Assunto: 1. Nao como os hipécritas que oram para os homens (por ostentag4o), mas como os crentes sinceros, que oram para Deus (vs. 5-6); 2. Nao como os gentios que fazem longas oragdes, mas como crentes, que falam com objetividade e precisao (v.7-8); 3. Nao decorando as palavras (rezas), mas entendendo e sentindo cada palavra (v 9-13). 4. Sabendo que a oragdo é condicionada ao relacionamento com o proximo (v 14-15). Texto 13: Le 9.57-62. Tema: Dificuldade do Discipulado Cristaéo. Tese: Por que era dificil ser discipulo de Jesus? Assunto: 1. Porque nao havia estabilidade (vs. 57-58); 2. Porque nao podia ter compromissos familiares (vs. 59-60); 3. Porque nao podia manter relagdes familiares (v 61-62) Conclusao: Quem se preocupava com o lugar onde ia dormir, com os compromissos com o mundo ou nao queria se desprender dos parentes, nao podia ser discipulo de Jesus. Texto 14: Jo 1.6-13. Tema: Filhos de Deus. Tese: Quem sdo os verdadeiros filhos de Deus? Assunto: 1. Nao saéo os que nascem do sangue; 2. Nem os que nascem da vontade da carne; 3.Nem os que nascem da vontade do homem; 4. mas, os que nascem de Deus mesmo. 90 Texto 15: Rm 10.13.. Tema: Método da Salvacao. Tese: Como o homem se salva? Assunto: 1. Pela invocagéo (chamada = conversaio); 2. Pela invocacgéo do Senhor (o nome representa a pessoa); 3. Pela invocagéo sé do Senhor (unico que salva), Conclusao: Qualquer pessoa pode ser salva (todos os que invocarem o Senhor). Note que alguns textos oferecem todos os elementos necessdrios a um sermao. Quando isso acontece os mestres dao a esses serm6es 0 nome de “textuais” porque se fundamentam no texto. Achamos essa classificagéo inadequada, pois: 1. Todos os sermées biblicos sao textuais, visto que todos se baseiam num texto das Escrituras; 2. Nem todos os textos biblicos se prestam a esse tipo de exp osigao; 3. A maioria dos chamados “sermdes textuais” nao passam de simples “estudos biblicos”. Texto 16: Jo 4.31-42. Tema: A comida de Jesus. Tese: Qual era a comida predileta de Jesus? Assunto: 1. Fazer a vontade de Deus; 2. Completar a obra de Deus. 3.0 TEMA Se considerar 0 tema como o nome do assunto, isto é, apenas como o nome daquilo que se vai discutir; e 0 assunto, como a discusséo em si, entio pode-se fazer uma distingo entre 0 nome e a coisa nomeada e perceber a diferenga entre o tema e tese assunto. Ter tema é muito facil. Ter assunto é bem Homilética~ A Elogiiéncia da Pregagao 1 mais complicado pois temos que explicar o seu contetido. O tema é 0 assunto a ser discutido. A tese é a forma como o tema vai_ser discutido. E, 0 assunto é a discussao do tema como indicado pela tese. -No presente topico, vamos mostrar como é facil achar temas na Biblia, mas quando quando tratarmos do assunto iremos ver como as coisas vao mudar de figura. Tipos de temas O tema pode ser quanto a sua expresso: 1. Simples, quando se refere a um assunto. Ex. Deus - Amor - Jesus - Sacrificio - Pecado - Perdao - Zaqueu - Salvagao - etc. 2. Composto, quando se refere a dois ou mais assuntos. Neste caso a ligagdo dos assuntos se faz por: 3. Coordenagao, quando os assuntos sao independentes. Ex.: Deus e Jesus - Amor e Sacrificio - Pecado, Sacrificio e Perdio - Salvacéio ou Condenagio - ete. 4. Subordinagée, quando os assuntos sido interdependentes. Ex.: Amor de Deus - Deus é Amor - Sacrificio de Jesus - Perdiéo de Pecado - Pecado de Zaqueu - Salvagio Divina etc. Note como os temas compostos por subordinagéo sfio mutuamente restritivos. Eles fazem com que 0 sentido de um se subordine ao do outro. No primeiro exemplo, o tema AMOR perdeu o seu sentido geral (todos os tipos de 92 amor) para se referir apenas a um aspecto do carater de Deus. O mesmo acontecendo com o tema DEUS, que deixou de ser geral (sua existéncia, natureza, pessoa, funcao, carater, etc.), para se limitar apenas a um aspecto de seu carater (amor afetivo ou efetivo). No segundo exemplo o mesmo fenémeno ocorre. No terceiro exemplo, 0 tema SACRIFICIO deixa de ser qualquer de suas formas, motivos, objetos, etc., para se restringir ao sacrificio de Jesus. E 0 tema JESUS, deixa de ser sua pessoa, divindade, ministério etc., para tratar apenas de seu sacrificio. Assim por diante. Os temas compostos por subordinacgéo podem ser mais extensos, como por exemplo: O Perdao dos Pecados de Zaqueu. Note que perdao restringe pecado e que pecado restringe Zaqueu. Ainda: Jesus Perdoou os Pecados de Zaqueu. Assim, Jesus restringe perdao, perdao restringe pecado e pecado restringe Zaqueu. E vice-versa. Posi¢ao do tema O tema recebe nome especial segundo a posigdo que ocupa, a saber: Tema: quando é 0 nome do assunto. Sub-tema: quando se refere a uma parte do assunto principal. Isto, quando ha divisdo do tema. Ante-tema (tema geral): quando antecede a um tema ou a um conjunto deles. Exemplos: O ante -tema de um livro é 0 seu tema geral, quando o livro aborda Homilética ~ A Eloquéncia da Pregagao 93 varios temas.”*> O tema pode ser objeto de um livro ou de apenas um capitulo. O sub-tema pode ser um capitulo ou as divisdes que ele contenha. Assim, o ante-tema de uma série de conferéncias é 0 seu tema geral ou a soma do tema de cada conferéncia. Pontes de temas Se o tema é o nome do assunto, entio o pregador precisa ter muitos temas. Com efeito, o pregador, para ter muitos temas, precisa ler muito, ouvir muito, observar muito e meditar muito.?? Por isso, as suas fontes de temas serao: Leituras (livros, revistas, jornais etc.); audi¢ées (conversa, discurso, informagées, etc.); observagdes (coisas, fatos, pessoas) e meditacdes (reflexio, imaginacio, criatividade). Depois das leituras, a maior e melhor fonte de temas ¢ a Biblia. O pregador tem que ser um especialista na Biblia. E, para isso, ele tem que dedicar grande parte de seu tempo em seu estudo. EXEMPLOS Veja quantos temas podemos encontrar em um versiculo da Biblia: 8Nao confundir o tema com o titulo, conquanto o tema, muitas vezes é elevado 4 posigao de titulo. SUsamos a palavra meditar no sentido oriental de contemplagao, que é parar de pensar. 94 1. Joo 3.16 - Jesus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigénito para que todo aquele que nele cré nao perecga, mas tenha a vida eterna. Regra: Procure substantivar todas as palavras do texto. Temas simples: Deus - Amor - Mundo - Intensidade - Doagéo - Filho - Unigenitura - Humanidade - Crenga - Perecimento - Posse - Vida - Eternidade. Note que todas as idéias substantivas sao nominativas, por isso dizemos que o tema é 0 nome essencial das coisas. Temas compostos por coordenagao: Deus e 0 Mundo - Deus ¢ 0 seu Filho - Deus e a Humanidade - Amor e Fé (crenga) - Fé e Vida - Vida e Morte (perecimento) -Morte e Eternidade - Doagao e Posse - Fé, Amor e Vida - Deus, 0 Filho e o Mundo ete. Temas compostos por subordinacio: O Amor de Deus - A Intensidade do Amor de Deus -Amor de Deus para o Mundo - O Maior Amor - A Extensio do Amor de Deus - O Mundo que Deus Ama - A Universalidade do amor de Deus - A Universalidade do Pecado (subentendido como a causa do perecimento) - Amor Afetivo (que sente) - Amor Efetivo (que da) - Dadiva de Amor - Dadiva Divina - Exclusividade da Doagao - Pai de Amor - Amor Paterno - Pai que da o Filho - Filho, Prova de Amor Maior - Pecado: Causa da Maior Condenagao - Homilética — A Elogiéncia da Pregagao 95 Amor Puro c) Mundo Condenado - Filho Unigénito, tinica Solug’o - Mundo Perdido — A Fé que Salva - Posse da Vida Eterna - Amor Eterno - Perdigao Eterna - Salvacgao Eterna - etc. Note que estamos falando de tema e nao de titulo. O tema refere-se a uma idéia especifica, a um contetido especifico, enquanto que o titulo ¢ o nome do sermfo que pode variar conforme a tese € 0 proprio contetido. O tema entretanto, pode ser elevado a posicao de titulo, quando entdo ele passa a ser 0 nome de todo o serméo. Romanos 3.23 - “Todos pecaram e destruidos estdo da gloria de Deus“. Temas simples: Iniversalidade - Pecado - Destituigdo - Gloria - Deus. Compostos por coordena¢4o: Universalidade e Pecado - Universalidade e Condenacao a Pecado e Gloria - Deus e Pecado - Deus, Pecado e Gloria - etc. Compostos por subordinagao: Universa- lidade do Pecado - Universalidade da Condenagao - Destituigéo da Gloria -Gléria de Deus - O Deus da Gloria - etc. 96 4. A TESE Uma vez determinado o tema o pregador tem que formular uma tese. A_tese € uma declaragio contendo_uma proposta de discussdo sobre um assunto. | A tese & sempre expressa na forma de uma declaragao que pode ser afirmativa, negativa ou interrogativa. E por isso que dizemos que uma tese exige sempre demonstracdo, defesa, discussao, anilise, prova, explicagdo, etc. A tese € a indicagiio da maneira como o tema vai ser tratado. De posse de um tema (cap. XI, item 3 e cap. XII, item II), 0 pregador tem que formular a sua tese para saber como vai se orientar na elaboracg&o do assunto. A tese diz como o pregador vai analisar 0 seu tema ou, em outras palavras, como ele vai constituir 0 assunto de seu sermao. Lamentavelmente, apesar da importancia e do significado da tese, ela é totalmente ignorada pelos nossos mestres de Homilética (e de Oratéria e Retorica também). Basta dar uma olhada nos livros que estado escritos para se certificar disso. Homilética — A Bloqiiéncia da Pregacéo 97 COMO FORMULAR A TESE E muito facil, a partir de um tema, elaborar uma tese: 1. Tema: DEUS Teses: Deus existe. Deus nao existe. Deus existe? Deus nao existe? Note a afirmacao, a negacio, a negacao, a interrogagao afirmativa e a interrogacgao negativa. Sempre que o pregador afirma ou nega, ele se obriga a demonstrar 0 porqué de sua posicéo. Se entretanto ele interroga, sugere ignorancia ou duvida. Neste caso ele se obriga a esclarecer a ignorancia, ou aconfirmar ou a desfazer as duvidas. Outras teses, para o tema acima, podem ser: Quem é Deus. Quem nao é Deus. (Esta ultima forma de argumentar é chamada reversa e consiste na exclusado dos argumentos contrarios). 2, Tema: DEUS EO AMOR Teses: Deus ama. Deus nado ama. Deus ama? Deus nao ama? Porque Deus ama (nao ama). Por que Deus ama? (nfo ama?). Deus é amor (nao é). Por que Deus é (ou néo) amor? Como Deus ama (Nao ama). (Ama? Nao ama?) 98 3.Tema: DEUS, AMOR E HISTORIA Teses: A historia fala do amor de Deus (nao fala. Fala?) (nao fala?) 4. Tema: DEUS, AMOR E PECADOR Teses: Deus ama 0 pecador (néo ama. Ama? Nao ama?). O pecador precisa do amor de Deus (nao precisa. Precisa’? Nao precisa?). 5. Tema: DEUS, AMOR, PECADO E PERDAO Teses: Deus perdoa 0 pecado pelo seu amor (?) 6. Tema: JESUS CRISTO (Note que Jesus é nome pessoal e Cristo ¢ titulo real). Teses: Jesus 6 0 Cristo (nao 6 E? Nao 62). Porque Jesus é o Cristo. Por que Jesus é 0 Cristo? (Nao ¢)? Como Jesus provou ser o Cristo. (Nao provou. Provou? Nao provou?). 7. Tema: PECADO E PERDAO Teses: Devemos perdoar 0 pecado.(?) Nao devemos.(?) Como se perdoa o pecado.(?) Como nao se perdoa 0 pecado.(?) Quem perdoa 0 pecado.(?) nao perdoa(?). Quais as condigées para se obter o perdaio dos pecados.(?). Ha pecados que nao tém perdao.(?). Quando devemos pedir perdio dos pecados.(?). A quem pedir perdao dos pecados.(?) etc. Do exposto, vé-se que a tese, gramaticalmente, nada mais é¢ do que uma oragao, isto é, uma frase que tem sujeito e predicado. Assim, podemos estabelecer Homilética — A Eloqiéncia da Pregagao sg a seguinte diferencga entre a tese e o tema. Enquanto que a tese é uma idéia verbalizada, o tema é uma idéia substantivada. O sermaio pode ter uma ou mais teses, dependendo exatamente da maneira como o pregador vai analisar 0 seu tema. Assim como ele pode entrar no assunto, a partir de uma tese cardeal, ele pode também se valer de pré-teses (quando tiver que fazer declaragdes antecedentes para chegar a tese), de sub-teses (quando as declaragdes sao decorrentes da principal, de antiteses (quando a declaragdo se opée a anterior) e de varias teses (quando o assunto ¢ composto de varias declaragées). Exemplos: Texto: Le 19.1-10. Tema: Encontro de Zaqueu com Jesus. Pré-tese: Quando um encontro se torna inesquecivel? Respostas: 1. Quando surgem barreiras sérias; 2. Quando marcam a vida da pe ssoa. Tese: Por que 0 encontro de Zaqueu com Jesus se tomou inesquecivel? Assunto: 1. Porque houve barreiras psicologicas sérias (rico, baixinho, ladrao); 2. Porque houve barreiras fisicas sérias (correu, subiu, desceu, depressa); 3. Porque sua vida foi marcada por uma séria mudanga (conversao e testemunho publico). Notar que a pré-tese é uma tese preliminar, isto é, uma tese que lanca as bases para a tese principal. O titulo desse sermao, poderia ser “Um Encontro Inesquecivel. Texto: Jo 4.24. Tema: Adoragio a Deus. Pré-tese: Qual é a natureza de Deus? Resposta: Deus 100 é espirito. 1° Tese: Se Deus é espirito, onde devemos adord-lo; Assunto: 1. Naéo no monte Gerazim (Samaria); 2. Nem no monte Sido (Jerusalém); 3. Mas, em qualquer lugar. 2° Tese: Se Deus é espirito como adord-lo? Assunto: 1. Espiritualmente (sem imagem material, objetiva); 2. Sinceramente (em verdade mais subjetiva). Notar que a pré-tese é uma exigéncia do texto que, primeiro a natureza de Deus, para depois entrar em, onde e como adora-lo. Texto: Mt 7.24-27. Tema: Dois Construtores. Pré-tese: Qual foi o erro irreparavel de um dos construtores? Resposta: Construir sobre uma base falsa. Tese: Como evitar esse erro? Assunto: 1. Conhecendo bem 0 terreno. 2. Conhecendo bem o material que vai ser usado; 3. Conhecendo bem as técnicas de construgao; 4. Obedecendo todas as regras da construgéo. Concluséo: Quem assim constréi nao teme os temporais. Notar que o texto fala de um construtor que cometeu um erro irreparavel. A pré-tese situa esse fato, enquanto que a tese orienta sobre como evita -lo. Texto: Le 5. 1- 11 (2). Tema: Lavar Redes. Tese: Ha uma dupla significagdo para o ato de lavar as redes Assunto: 1. Sub-tese: PARA OS PESCADORES: 1. Tarefa finda; 2. Tarefa fracassada; 3. Prontidéo para uma agao imediata; 4. Sinal de perseveranca e de esperanga no dia seguinte: 2. Sub-tese: PARA JESUS. 1. Redes limpas (santificadas); 2. Perddo para uma nova oportunidade; Homilética — A Eloqiiéncia da Pregagao 101 3. Prontidéo para uma acéo imediata (hoje e nao amanha; 4. Prontiddo para um milagre (sob o uso de Deus). Conclusao: Metafora: Redes somos nos. E, em que condigées nos encontramos? Texto: Mt 11.25-30(28). Tema: Convite de Jesus. 1° Pré-tese: Ha convites que, por certas caracteristicas, se tornam irrecusdveis. 2° Pré-tese: Arrolamos 5 caracteristicas de um convite irrecusavel. Tese: Quais as 5 caracteristicas de um convite irrecusdvel? Assunto: 1. A importancia da pessoa que convida; 2. A importancia da finalidade do convite; 3. A facilidade das condigGes para se atender ao convite; 4. As vantagens auferidas em aceitando 0 convite. S. A disponibilidade de quem é convidado. Notar que essas caracteristicas podem ser apresentadas em forma de sub-teses, a saber: 1. De quem é 0 convite? 2. Para que é 0 convite? 3. Que condigées sdo exigidas? 4. Quais as vantagens? 5. Ha disponibilidade do convidado? Texto: Jo 5.39. Tema. Judeus e Escrituras. Pré-tese: por que os judeus examinavam as Escrituras? Resposta: Para encontrarem nelas a vida eterna. Tese: Qual é a verdadeira fungao das Escrituras: Assunto: Testemunha de Jesus. Notar que neste texto tem as idéias mestras, mas nao tem todos os argumentos para uma consideragio homilética. Nestes casos, o pregador tem que usar de sua criatividade, cultura ¢ espiritualidade. 102 Texto: Dt 4.23-24(24). Tema: Deus é Fogo. Tese: Deus ¢ um fogo. Assunto: 7 1, Que ilumina (Ex 24.15-18); 2. Que revela (Ex 3.1-8): Que aquece (SI 19.11-6); 4, Que queima (Ex 24,17). Texto: Mc 10.46-48. Tema: Grito. Tese: Por que gritamos? Assunto: 1. Por dor (Me 5.4-5); 2. Por socorro Mc10.47); 3. Por revolta (Mt 11.23-24); 4. Por medo (Jr 49.29); 5. Por derrota (Ap 6.15-16); Por vitoria (1Co 15. 5 5-58). Notar que nos exemplos 7 e 8 0 texto ofereceu o tema e a tese, mas os argumentos foram tirados de outros textos. Isso mostra que nem todos os texto oferecem um “prato feito” ao pregador. Por isso, ele precisa usar da imaginacdo, de sua inteligéncia, cultura e criatividade. Ao formular a sua tese, 0 pregador pode sentir que ela exigira algumas explicagoes iniciais para que 0 ouvinte possa acompanhar o seu pensamento. A isso se da 0 nome de introducio. A INTRODUGAO A introdugéo ¢ a parte do sermao onde o pregador entra pessoal e diretamente em contato com OS seus Ouvintes. A introdugao ¢ importante e necessaria porque nela o pregador nao s6 abre o didlogo (quebra 0 gelo de um relacionamento formal imaginario), mas Homilética— A Eloqiiéncia da Pregacao 103 fundamentalmente prepara os ouvintes para a tese em torno da qual vai girar todo o seu sermao. Na introdugao, o pregador pode justificar o titulo do sermio, pode analisar 0 texto lido e destacar a palavra, a frase ou o tema dele tirado; pode ilustrar, definir termos: desanimo, duvidas etc. A introdugao ¢ comparada a um vestibulo ou a uma sala de visita onde ambientamos nosso héspede para entao leva -los as demais dependéncias da casa. A introdugéo, como veras mais tarde, pode anteceder 4 enunciagao do titulo ou mesmo 4 leitura do texto. O pregador deve saber qual ¢ a melhor mancira de fazé-lo, na ocasiao. Alguns serm6es tornam-se totalmente inco m- preensiveis se nio houver uma_ introducgio. Sao aqueles em que 0 titulo exige uma explicagao, aqueles em que 0 texto requer uma analise; ou aqueles em que a tese pressupde uma realidade nao explicitada no titulo ou no texto. Eis alguns exemplos: Texto: Mt 7.13-14. Tema: Duas Porteiras. Tese: Por que Jesus nos aconselha a entrar pela porteira estreita? Assunto: 1. Porque a porteira estreita da para um caminho apertado, mas leva a vida eterna ; 2. Porque a porteira larga da para um caminho espagoso, mas que leva 4 morte eterna; 3. Porque a porteira estreita é¢ dificil de ser encontrada e sao poucos os que a acham; 4. Porque a porteira larga ¢ facil de ser encontrada e muitos entram por ela. Notar que o tema indicado fala de duas porteiras, mas nao diz que uma ¢ estreita e que a outra é larga. A tese, entretanto, fala do conselho de Jesus para se entrar pela estreita. Antes de chegar a tese, 104 pois o pregador tem que explicar os dois tipos de porteiras, e isso ele faz, na introdugao. Notar que o autor preferiu o termo “porteira”, em lugar de “porta”, por julgar que nao existe porta que dé para “caminho”. Porta da para edificios. Porteira dé para caminhos. Texto: Le 1.29-37. Tema: Caminho da Vida. Tese: Como é 0 caminho de nossa vida neste mundo ? Assunto: 1. E curto (de Jerusalém a Jericé); 2. E incerto (caiu nas maos de salteadores); 3. E ingrato (0 sacerdote e o levita passaram de largo); 4.E surpreendente (mas, um samaritano, que ia no mesmo caminho ... ). Concluséo: O melhor caminho para a nossa vida ¢ o do samaritano. Faze isso. Notar que o tema é uma metdfora. O caminho real tornou-se figura de um “caminho” filosofico-pratico. E, essa transposicdo metaforica nado teria sentido se nao fosse explicada numa introdugao, Texto: Le 15. 11-24. Tema: Filho Perdido. Tese: Quem ¢ o filho perdido? Assunto: 1. Mais mogo, (maior no grego huids é um filho emancipado); 2. Maior, mas sem direitos (da-me a parte que me pertence... e desperdigou); 3. Maior, mas menor (nao sou digno de ser teu filho). 4. Menor, mas igual (trazei... roupa, Sapato, anel). Note que os argumentos visam fixar os varios estagios da vida do filho perdido, mas pondo em destaque os termos mais mogo, maior, menor e igual. Isto nao teria sentido se nao houvesse uma introducao, Homilética — A Eloqiéncia da Pregacdo 105 onde esse detalhe fosse explicado. O autor preferiu o tema “Filho Perdido” objeto do texto e nao “Filho Prédigo” erradamente aceito. 0 ASSUNTO OU A ARGUMENTACAO Tomando o assunto como 0 conjunto de argumentos, de idéias ou fatos que comprovam a tese, podemos perceber que quando entramos no assunto, entramos no miolo do sermao, pois 0 assunto é tudo o que podemos dizer de um tema ou sobre uma tese. Essa € a parte mais dificil da Retorica (Oratéria) e da Homilética, pois a capacidade de ter assunto é proporcional a inteligéncia e 4 cultura do pregador. Quanto mais _ele_ ler, ouvir, observar. pesquisar, estudar, mi ir, Mais assunto ele tera. Ele precisa aliar sua cultura técnica (teologica) a uma boa cultura geral para ter muitos e bons assuntos. E facil achar temas e formular temas para o sermao. O dificil é ter assunto para justifica-los ou para demonstra-los. Para se ter um tema, basta ter uma idéia e identifica-la por um nome, mas para ter assunto, € preciso penetrar na idéia, analisa-la, conhecer-Ihe as partes, as relagdes existentes entre elas etc. Para isso, o pregador precisa de inteligéncia, imaginagao, criatividade, cultura e inspiragao. Uma das expressdes mais belas, consagradas no Novo Testamento sobre o pregador, é que ele é “ministro da palavra” (At 6:4; 1Tm 5. 17). Vale dizer que ele é um especialista da palavra. A palavra ¢ a sua ferramenta de trabalho, o seu “ganha pao”, por isso ele tem que maneja-la com perfeigao (1Tm 2. 15). No 106 capitulo sobre “A Homilética e a Eloqiiéncia” vimos como a palavra é o instrumento chave do pregador. Para dominar a dificil arte de falar, o pregador tem que gastar tempo, dinheiro e energias. Os grandes pregadores nao nascem feitos. Eles, dotados ou nao de habilidades naturais, sao_formados num processo longo e penoso. Sao produtos de muito esforgo, muita vigilia_¢ muito desgaste_fisico_¢ mental. Sao pessoas abnegadas que poem tudo de si ém seu trabalho, a fim de que seus sermées sejam ‘pecas completas, interessantes, cheias de conteudo ¢ _dignas de sua misséo0. Cada sermio é como um filho, concebido com amor, gestado com sacrificio e dada a luz com alegria para que seja uma béngao para a familia e para a sociedade. O assunto, pois, por ser a parte mais dificil e a mais importante do sermao, é a que, na verdade, vai valorizar 0 sermao e o pregador. O conceito que temos de um pregador depende da maneira como ele desenvolve o assunto de seu sermao. Assim, um pregador pode ser mau, mediocre, regular, bom, 6timo ou excelente, na medida em que ele sabe tratar do assunto. O pregador precisa nio sé saber como vai apresentar 0 seu sermao, mas especialmente sobre o que vai apresentar. E claro que o conceito ptblico sobre as qualidades de um pregador é muito relativo, pois depende muito da capacidade de julgamento do ouvinte. Poucos sabem distinguir um sermaéo d> uma arenga, e a grande maioria prefere palha a alimento. Para certas camadas sociais, 0 pregador é otimo se ele apela para as emogées, se impressiona pelos chavées, Homilética— A Eloqliéncia da Pregagao 107 pelas frases de efeito, pelos gestos dramiaticos, embora vazios de contetdo. Infelizmente foi na Retorica que’ a palavra demagogo adquiriu o sentido pejorativo de enganador do povo. A Homilética nao esta imune, também, a demagogia. 1. Tipos de Assuntos O assunto é a analise que fazemos de um tema. A andlise é 0 método de se conhecer um objeto através de sua diviséo, nas partes que 0 constituem e no exame detalhado de cada parte. Ao decompor um objeto, iremos descobrir se ele é constitui do de partes simples, que estado diretamente relacionadas com o todo, ou se ele & constituido de partes inter-relacionadas para forma- rem 0 todo. No primeiro caso, dizemos que 0 objeto é um sistema simples. No segundo caso, dizemos que é um sistema composto de sub-sistemas. Na andlise de um assunto, vamos perceber a sua independéncia ou a sua intima relagao com outros que constituem o seu sistema. Por isso, podemos analisar os assuntos da seguinte maneira: Forma. Como o objeto se apresenta; como parecer ser. Natureza. O que 0 objeto ¢; qual ¢ o seu modo de ser; de que substancia ¢ formado; quais os elementos que o compéem. 108 Estrutura. Como os elementos que o compéem estado dispostos; que relagéo de ligagao ha entre eles. Origem. De onde veio; quem o produziu (causa eficiente). Qualidade. Qual o seu valor (utilidade); qual o seu carater. Fungao. O que faz; para que serve. Finalidade. Para que existe; 0 que produz (causa fisica. Relagéo. Qual € 0 seu comportamento em relagéo as partes de seu sistema ou em relagio a outros objetos. Analogia. Que semelhanga possui com outros sistemas ou com outros objetos. EXEMPLOS DE ANALISE DE ASSUNTOS Assunto pela forma Tema: DEUS (3) Tese: Qual é a forma de Deus? Assunto: I. Deus é espirito e de forma indeterminada; II. Deus ao se revelar, assumiu forma humana: a) nos sonhos; b) nas vis6es. c) teofanias; d) na encarna¢ao. Homilética — A EloqUéncia da Pregagao 109 Assunto pela natureza Tema: Deus Tese: Qual é a natureza de Deus? Assunto: I. E um ser espiritual; IT. E um ser eterno. III. E um ser pessoal; IV. E um ser onisciente, onipresente e onipotente Assunto pela estrutura Tema: DEUS Tese: Quantos deuses ha? Assunto: 1. Ha um sé Deus; II. Deus subsiste em trés pessoas; III. A Trindade compreende o Pai, o Filho e o Espirito Santo. Assunto pela origem Tema; PECADO Tese: Qual é a origem do pecado? Assunto: I. No céu: uma rebeliao de anjos; II. Na terra: uma transgresséo humana; III. No homem: um ato de incredulidade: a) a tentagao; b) a cobiga. Assunto pela qualidade Tema: DEUS Tese: Qual é 0 carater de Deus? (3) Nao confundir tema com titulo Assunto: I. Deus é Amor; II. Deus ¢ Justiga; IIL. Deus é Santidade. 110 Assunto pela funcdo Tema: DEUS Tese: Qual é a funcgao de Deus? (ou 0 que Deus faz?) Assunto: I. Deus é Criador; I]. Deus é Pai; III. Deus Juiz; IV. Deus é Sacerdote; V. Deus é Rei; VI. Deus é Senhor. Assunto pela finalidade Tema: LEI Tese: Qual é a finalidade da lei? Assunto: I. A lei configura o crime; I. A lei denuncia o infrator; III. A lei julga o réu; IV. A lei condena 0 culpado; V. A lei absorve 0 inocente; VI. A lei ensina a justiga. Assunto pela relagao Tema: DEUS E PECADO Tese: Qual é a relagdo que ha entre Deus ¢ 0 pecado? Assunto: I. Deus nao é 0 autor do pecado; II. O pecado é contrario ao carater de Deus; III. O pecado é contrario aos propdsitos de Deus; IV. Deus condena 0 pecado. Assunto pela analogia Tema: REINO DO CEU Tese: A que se compara, na terra, 0 reino do Céu? Assunto: I. A uma semente que cresce; I]. A uma pérola de grande valor; III. A um cesto de peixes bons. Homilética — A ElogGiéncia da Pregagéio 111 Note que a palavra “reino” ja é uma metéfora, uma analogia. 2. Fontes de Assuntos Além do interesse em ter assuntos (em que exigem ler, ouvir e observar; ter inteligéncia, capacidade de andalise, sensibilidade, boa memoria, intui¢géo e criatividade), o pregador precisa ter uma boa dose de organizacao. Sua capacidade de organizar o material conseguido vai ajudd-lo nao so a ter assunto, Mas a saber onde encentra-lo na hora que precisar. Por isso, ele precisa organizar a sua biblioteca, ter um fichario, um arquivo ¢ adotar um sistema de controle desse material. ALGUMAS SUGESTOES: 1. LIVROS a. Reservar um tempo para sua leitura de livros. b. Leia com bastante atenc&o, procurando entender o pensamento do autor. c. Sublinhar as frases significativas. d. Anotar sua opiniao nas margens. e. Fazer uma ficha dos assuntos importantes. f. Fazer uma ficha das ilustragées. g. Dividir os livros, na estante, por secgdes tematicas. Ex.: Teologia, Evangelizagaéo, Admi- nistracdo, Etica, Biblia, Comentarios, Dicionérios, Devocional etc. h. Adotar um sistema de numeragao. 12 i. Fazer uma relagao dos livros: pelos titulos, pelos autores, pelos temas ou apenas pela ordem cronologica da aquisigao. j. Fazer um fichdrio tematico, conforme Modelo 9. k. Fazer um fichario hermenéutico, se o autor der a sua interpretacéo de um texto biblico. Veja Modelo 10. Nota: Os seguintes livros sao indispensaveis ao pregador: a) Biblia (em varias tradugdes e nos originais) b) Dicionarios: em portugués, grego e hebraico c) Dicionario Biblico d) Comentarios Biblicos e) Versiculario (4 2. REVISTAS a. Colecionar as revistas técnicas e encaderna- las em blocos. b. Das demais revistas, recorte ou destaque tudo o que julgar de interesse homilético (noticias, artigos, reportagens, etc.). c. Fazer um album de recortes, com indice remissivo, na abertura. 3. JORNAIS a. Recortar tudo o que achar interessante. Anote o nome do jornal ¢ a data da publicagao. b. Fazer um album de recortes, com indice remissivo. Homilética — A Elogiiéncia da Pregacao 113 4. EVENTOS Ha muitos eventos sociais que podem ser usados como fontes de assuntos, a saber: a) Calendario Eclesiastico. Cada Igreja tem os seus dias especiais (historicos, litirgicos e de atividades). b) Calendario Civil. Cada nac&o, estado ou municipio tem suas datas significativas. c) Calendario Social. Cada grupo humano ou categoria profissional tem suas datas s ignificativas. d) Vida Social. Ha muitos acontecimentos sociais que se tornam fontes de assuntos (nascimento , aniversario, casamento, morte, etc.). Quando...o...pregador_reclama por. falta_de assunto, al _sua_negligéncia aos estudos e falta de ¢ organizacao, bode &s estar. Ihe a ocorrer: 5. ACONCLUSAO Depois de apresentar 0 seu assunto (toda a argumentagdo que responde a tese), 0 pregador se obriga a fazer uma sintese de tudo o que disse, nao s6 para destacar e fazer lembrar as verdades principais, mas para ajudar os ouvintes a se beneficiarem da mensagem. Afinal, qual é a vantagem de se dar 114 atencdo a fala de um pregador e de tentar entender sua mensagem? Qual € 0 proveito pratico de tudo isso? Veja-se 0 que aconteceu com Pedro quando ele acabou de entregar a sua mensagem (At 2.37-40). A_concluséo € a parte do sermio_em que o pregador se obriga a_reduzir tudo_o que disse, em termos praticos, para atender 4 necessidade particular de cada ouvinte. Por isso, a conclusao precisa conter uma recapitulagéo sumaria de cada argumento ec uma aplicagao pratica (em nivel tedrico) as necessidades dos ouvintes. As vezes, o pregador vai apresentando os argumentos, vai concluindo-os e¢ os aplicando. As vezes, entretanto, ele vai somando muito do tipo do assunto que se esta tratando. 6. OAPELO O apelo, como um convite para que 0 ouvinte se manifeste publicamente sobre a mensagem, 6 uma parte importante do sermao. Enquanto que a conclusado ¢ um apelo a razao, a inteligéncia, para que o ouvinte se decida perante sua consciéncia e Deus, o apelo é uma chamada para uma manifestagao ptblica dessa decisto. E uma oportunidade que o pregador tem para avaliar a receptividade de sua mensagem, ao mesmo tempo em que da uma oportunidade para que seus assistentes participem, efetiva e objetivamente, seu imaginario dialogo com eles. O apelo é comparado ao convite que se faz as pessoas que estao num banquete para que se asse ntem e comam das iguarias que estio na mesa. Um Homilética~ A Eloqiéncia da Pregacaéo 115 pregador que nao faz apelo comete a mesma gafe de um anfitrido que anuncia o cardapio, mostra-o na mesa aos comencais mas néo os convida a se assentarem para dele se deliciarem. O apelo, entretanto, deve ser feito com muito cuidado, a saber: a. Nao ser obrigatério. O pregador nao deve se obrigar a fazer apelo em todos os sermées que pregar. Isso 0 torna rotineiro e magante. b. Nao ser insistente. O apelo insistente constrange os visitantes e os proprios crentes. c. Ser breve. Se o apelo insistente constrange imaginem um apelo insistente durante muito tempo! d. Ser claro. O ouvinte nado pode ficar em duvidas sobre o que esta querendo o pregador. e. Ser objetivo. O pregador nao deve generalizar o sentido do apelo. Nao deve pedir que levantem a mao “os que amam a Deus”, quando se quer que as pessoas se entreguem a Jesus. f. Ser honesto. Nao usar de asticia para conseguir decisGes. 1, Vantagens do apelo a. Da ao pregador uma oportunidade de avatiar o seu trabalho. Se foi claro, objetivo e convincente em sua Mensagem. b. Da ao ouvinte a oportunidade de se manifestar sobre 0 que ouviu. Além do significado teolégico, que assinala uma decisao para a salvagdo , 0 apelo tem o significado psicologico de uma decisdo 116 pessoal (muitas pessoas sio indecisas e sé agem quando motivadas por alguém). A maioria das nossas decisdes séo emocionais, isto é, dependem muito de influéncias externas. Também o apelo tem um significado historico para a pessoa. Ela sabera quando e como se tornou crista e jamais se esquecera desse dia. 2. Desvantagens do apelo A maior desvantagem do apelo, além dos aspectos negativos considerados atras, é¢ considera -lo como a ultima coisa que se pode de fazer em favor do pecador. O apelo ¢ a ultima coisa que o pregador pode fazer no processo de evangelizacdo, mas é a primeira no processo de Educagao Religiosa. Sem educacio religiosa, o apelo tem um valor muito relativo ¢ muito duvidoso. No apelo se consegue a demonstracio da simpatia e do desejo do pecador de se entregar a Jesus, mas é através do interesse do pregador e dos demais membros da Igreja, que o recém-nascido em Cristo vai receber o “leite racional” ¢ o “alimento solido” para se nutrir, se firmar e crescer na vida crista. Se nao pregar é pecado, igualmente nao doutrinar os decididos para que se firmem no Evangelho. Todos os crentes devem ajudar o pregador na conservagao dos resultados visitando e ajudando os novos convertidos. Homilética — A Eloqtiéncia da Pregagao WNT Muitos pregadores acham que o apelo nao faz parte integrante do serma4o, mas que, em algumas ocasides, podem dele se valer. Concordamos. Ha ocasides em que o apelo é indispensavel. Por exemplo, nos casos de sermées evangelizantes, nas campanhas de evangelizacdo, nos sermées doutrinais (em acampamentos, retiros ou mesmo na igreja), e sempre que a anuéncia pessoal, pratica e publica dos assistentes se torna significativa. 7-O TITULO” O titulo é o nome do sermao, como uma pega literaria completa. Nao confundir com tema, que ¢ 0 nome do assunto a ser discutido, com 0 assunto que é o tema em discussao. A_funcio do, titulo ¢ chamar a_atengao, interessar_e atrair_as pessoas. _ E pois uma _funcado nitidamente psicoldgica. A importancia do titulo vem se acentuando cada vez mais, em nossos dias, por causa do desenvolvimento das técnicas de comunicacdo e de publicidade. A maioria dos pregadores nao da importancia ao titulo do sermao. O acesso a imprensa, a publicagéo de boletins semanais nas igrejas, os convites e programas de cultos e de conferéncia e os painéis na frente dos templos, tém levado muitos pregadores a descobrirem o valor do titulo. *°Na primeira fase do preparo do sermao, o titulo pode antecipar 0 texto ou pode ser a tltima coisa que o pregador venha a fazer, por isso falamos dele agora. SOBRINHO, Munguba. Eshogo de Homilética, 1981, p. 101. 118 1. Tipos de titulos O titulo pode ser: ldgico, predicativo, descritivo ou retorico. a. Légico, quando possui direta relagéo com 0 tema. As vezes 0 proprio tema elevado a posigao de titulo. Como o tema é apenas o nome do assunto, 0 titulo tematico se torna impessoal e frio. b. Predicativo. Os titulos predicativos nada mais séo do que teses elevados a posigao de titulos. Ex. DEUS E AMOR - JESUS E O CRISTO - O QUE E A VERDADE - etc. E muito comum usarem-se os titulos predicativos em forma eliptica. Ex.: Jodo ¢ 0 apdostolo do amor = JOAO O APOSTOLO DO AMOR; Jesus é 0 Salvador do mundo = JESUS, SALVADOR DO MUNDO; A Homilética € a arte de pregar o Evangelho = HOMIILETICA, a arte de pregar o Evangelho. c. Descritivo, quando procura descrever o conteido do sermiéo em detalhes. Ex: A CONVERSAO DE UM CENTURIAO ROMANO CHAMADO CORNELIO; COMO O ESPIRITO SANTO CAPACITOU OS _ PRIMEIROS CRISTAOS A SE TORNAREM TESTEMUNHAS DO CRISTO RESSUCITADO - etc. A vida modera exige comunicagao rapida, por isso os titulos descritivos estéo em desuso por se tomarem inconvenientes. Mas nao quer dizer que nao possamos usa-los. Homilética — A Eloquéncia da Pregacéo 119 d. Retorica, quando se relaciona indiretamente com 0 tema: poética ou metaforicamente. Ex.: ONDE ESTA TEU IRMAO? NO CENACULO, COM JESUS - A CHAVE DA FELICIDADE - A UM PASSO DA ETERNIDADE - PORTA DA SALVACAO - PERTO DO REINO. 2. Posicao do titulo O titulo recebe nomes especiais, conforme a posigao que ele venha a ocupar no conjunto de uma obra literaria. Chama-se titulo quando apenas encabega um assunto ou uma obra. Titulo geral, quando encabeca outros titulos (particulares). E sub-titulo, quando é um titulo de partes subordinadas (divisdes do titulo). 3. Qualidades do titulo O titulo, para exercer plenamente a sua funcao, tem que possuir as seguintes qualidades: a. Atraente (sugestivo e interessante), pela atualidade da linguagem e do conteudo, pelo inusitado da forma e pela sua relagéo com o contexto externo. b. Discreto, pela seriedade que se apresenta. Nao sensacionalista, nao malicioso, nao constrangedor. 120 c. Honesto, pela cxatidéo que guarda com a verdade. Nao pretensioso (que promete 0 que nao pode dar). d. Impactual, pelo inusitado dos contrastes, ou contradigdes aparentes que sugere. Nem todos os sermées podem ter titulos impactuais, mas quando isso for possivel, o pregador deve aproveitar. EXEMPLOS DE TiTULOS: Atraente (sugestivo e interessante): Pela atualidade da linguagem: ATEU JA ERA - A IMPLOSAO DO HOMEM - UM ENCONTRO ESPECIAL - SALVACAO AGORA - QUEM E JESUS? - QUEM SAO OS VERDADEIROS FILHOS DE DEUS?; pelo inusitado da forma: UMA GRACA DE GRACA_ - PESCADORES PESCADOS -VERBO EM VERBO - A RIQUEZA DE UMA VIUVA POBRE - COMO SER FILHO DE ABRAAO SEM SER FILHO DE ABRAO - O VALOR DO NADA - LIXO E LUXO - A CONVERSAO DA MULHER DE LO - VIDA PELA MORTE; pela atualidade do conteudo: A CONQUISTA DA LUA - VIAGEM AO ESPACO - O DIREITO DE MATAR (Aborto) - O CHA DA MEIA NOITE (Eutanisia) - O DIVORCIO E UMA SOLUGAO; pela relagio com o contexto social: PARA ONDE VAO OS MORTOS (em finados -A CRUZ - A SEPULTURA - A RESSURREICAO (na semana; DEFICIENTE TAMBEM E GENTE (Ano Internacional do Deficiente) - MULHER, QUE Homilética ~ A Elogiiéncia da Pregagaio 424 TENHO EU CONTIGO? (Ano Internacional da Mulher) - OS VELHOS TAMBEM IRAO CONOSCO (Ano Internacional do Idoso) - A VERDADEIRA INDEPENDENCIA (Dia da Independéncia) etc. Discreto: Qualquer titulo que nao seja indiscreto. Nao ousariamos dar exemplos. Honesto: O pregador revela: Ter conhec imento do assunto; coloca-o em termos adequados; mostra imparcialidade. Exemplos de sermées desonestos: A ARTE DE FAZER O IMPOSSIVEL, mas o pregador argumenta com idéias possiveis e nao ensina a arte prometida. Neste caso, 0 ouvinte se sente ludibriado. - A BIBLIA DESACREDITA A CIENCIA, mas o pregador mostra nao conhecer nem a Biblia nem a Ciéncia. CRISTO FOI COMUNISTA, mas ouve -se as convicgées politicas do pregador. JESUS MANDOU GUARDAR O SABADO, quando é evidente que isso nunca aconteceu. SO O AMOR CONSTROI, mas o pregador nao conceitua o sentido do verbo “‘construir” e sabe -se que o édio também constroi. Impactual: O PECADO DE NAO SER PECADOR; A VIRTUDE DE SER PECADOR; JESUS, O SUBVERSIVO; DEUS MANDA MATAR; etc. O titulo precisa se relacionar sempre com o tema, com a tese ou com o assunto, direta ou indiretamente. 122 As vezes, 0 titulo é 0 proprio tema (nome do assunto). As vezes, o titulo é deduzido do tema (retorico). Ex.: “UM MISTERIO CONSOLADOR” (Deus) - UMA DOCE ESPERANCA (Jesus) - A CHAVE DA FELICIDADE (O Amor) - DEUS ESQUECE (0 perd4o como esquecimento) - O CORACAO DE DEUS (Amor como coracao) - ORNAMENTO DO CARATER (santidade) - NO ALTAR DE DEUS (0 sacrificio de Jesus) - etc. As vezes, 0 titulo é a propria tese isto é, a tese elevada a posicdo de titulo. Ex.: DEUS EXISTE - JESUS E DIVINO - O AMOR NUNCA FALHA - PERDOAR E ESQUECER - QUAIS AS CONDICOES PARA O PERDAO DE DEUS? - TRES RAZOES PELAS QUAIS JESUS DEVIA MORRER - HA TRES PROVAS DE QUE DEUS NOS AMA - etc. : As vezes, 0 titulo ¢ tirado do assunto, isto é, uma palavra, uma frase ou uma idéia significativa da argumentacao. Ex. UMA CAUSA NAO CAUSADA (O tema é: A existéncia de Deus; a tese é: Nao existe efeito sem causa; 0 assunto consiste em mostrar que 0 pecado so pode eliminado se o homem morrer para ele) - O mesmo assunto pode suscitar o titulo: DEUS APROVA O SUICIDIO? A interrogagio, neste ultimo exemplo, visa despistar 0 observador, caso ele néo ouga o sermao. E um perigo o pregador fazer afirmagdes impactuais, que s6 podem ser desfeitas através da pregagao. E bom sempre deixar uma duvida para atrair o observador. Homilética — A EloqUéncia da Pregagao 123 Outros exemplos de titulos tirados do assunto: O PECADO DE NAO SER LADRAO (O tema é: pecado e ladrao; a tese 6: ha uma circunsténcia em que nao ser ladraio também € pecado; 0 assunto, baseado no exemplo do fariseu (que se orgulhava de nado ser ladréo), mostra que apesar disso ele foi condenado. Nao ser ladriéo, como o fariseu, no é virtude, mas pecado. Le 18.9-14. O titulo mencionado anteriormente, “A ARTE DE FAZER O- IMPOSSIVEL” — depende fundamentalmente do assunto, pois o pregador precisa demonstrar que Deus faz o impossivel e que a “arte” esta em deixar Deus agir no homem e pelo homem. O pregador precisa ser habil e claro para definir os termos e desfazer os paradoxos contidos em seus titulos, especialmente quando impactuais. Por ter o titulo uma fungao psicoldgica, o pregador, ao escolher o titulo de seu sermao, deve se colocar no lugar do ouvinte e imagina-lo tomando conhecimento do mesmo. Sera que o titulo do seu sermao despertaria 0 interesse de alguém para vir ouvi-lo? Se uma pessoa lesse num jornal ou visse o seu sermao anunciado num painel, sera que sairia de casa 86 para ouvi-lo? Isso é 0 que o pregador tem que pensar quando vai dar nome ao seu sermao. Homilética — A Elogdéncia da Pregagao. 125 CAPITULO XII A ESQUEMATIZACAO DO SERMAO A Exegese, que € a arte da exposi¢ao, esta muito relacionada com a Homilética porque é nela que a Homileética vai encontrar as varias alternativas para a disposicéo dos elementos do sermao. Em definido os elementos constitutivos do sermao e dispondo-os de maneira |dgica c racional, podemos elaborar um esquema do que vai ser o proprio sermao. O esquema ¢ um resumo das idéias mais significativas do sermao (dentre os elementos constitutivos) em sua disposig’o técnica.*! Veja a disposigao abaixo: ; TITULO INTRODUCAO Tese: ASSUNTO(S) 1 Argumento 2 Argumento 3 Argumento 4 Argumento CONCLUSAO Apelo 51 Q esquema tem sido erradamente chamado de "esbogo". Esbogo é algo inacabado, indefinido, o que nao ocorre com o esquema homilético. Do grego schema, forma exterior mutavel. 126 Essa disposigao é seguida, geralmente, tanto para 0 sermao falado como para o escrito. Vejamos, na esquematizacéo, como devem ficar cada um desses elementos: 1. Titulo O titulo deve encabegar 0 esquema e deve ser escrito com todas as letras maiusculas. 2. Texto O texto deve ser indicado em forma de cédigo, abaixo do titulo a margem esquerda do esquema. O cédigo textual biblico é formado de trés elementos: 1. A abreviatura do livro;*” 2. O numero do capitulo; e 3. O mimero do(s) versiculo(s), separado(s) do capitulo por um ponto.*? Alem desses elementos basicos, 0 pregador pode acrescentar, em parénteses, 0(s) versiculo(s) que fundamenta(rao) especificamente o seu sermao. ” A Sociedade Biblica do Brasil adotou um método inteligente e racional de abreviaturas, que consiste em apenas duas letras. A inicial e a primeira consoante seguida (quando possivel). Esse método, entretanto, nao foi respeitado em Esdras, que deveria ser Es, em Provérbios (Pv); em Marcos (Mc); em Filemon (Fm); e em Pedro (Pe). Nesta obra adotamos esse método com as corr egées sugeridas. * Esse ¢ 0 sistema adotado pelas sociedades biblicas brasileiras ¢ nao 0 de dois pontos, que é um sistema norte-americano. Poucas editoras evangélicas brasileiras sabem disso, Homilética— A Eloquéncia da Pregagao. 127 3. Introdugao A introdugao deve ser resumida no esquema. Usam-se frases curtas ou palavras indicativas (palavras-simbolos de muitas idéias). Deve ser objetiva e ocupar até 1/4 do tempo gasto em todo o sermao. 4. Tese A tese deve ser bem destacada a escrita de maneira clara e completa. Se houver pré-tese ou sub-teses, clas devem seguir 0 mesmo critério de destaque, clareza ¢ integridade. 5. Assunto O assunto é a analise da tese ou os argumentos que a respondem. Os argumentos que constituem os assuntos do sermao, devem ser dispostos de maneira distinta e seqtiencial. 6. Distinta, porque cada argumento é uma parte integrante de toda a argumentagao. Como partes de um sistema, os argumentos tém que ser bem defin’ios e distintos para que o pregador nao seja redundante, anacrénico e confuso. Para isso, o pregador precisa ter boa acuidade mental e refinada cultura. A falta de um conhecimento 128 mais aprofundado da palavra, de seu conteudo técnico e de uma sensibilidade para pequeninos detalhes, levam o pregador a ser superficial e redundante. Ele ira arrolar varios argumentos para a sua tese, mas nao ter nada de novo em cada um deles, pois nao percebe que estara dizendo, sempre, a mesma coisa com outras palavras. Isso se chama tautologia, que o vulgo chama de “chover no molhado”. 7. Seqiiencial, porque os argumentos devem ser dispostos em seqiiéncia gramatical, logica e psicologica. a) Gramatical. Os argumentos devem ser dispostos de maneira a seguirem uma relacdo verbal reta. Exemplo: Se a tese é: Por que Jesus vive em mim, os argumentos devem ser expressos numa linguagem seqiiencial adequada, a saber: 1. Jesus vive em mim para comprovara minha salvagdo; 2. Jesus vive em mim para garantir minha filiacdo com Deus; 3. Jesus vive em mim para conservar a minha santidade; 4. Jesus vive em mim para controlar a minha vontade; 5. Jesus vive em mim para premiar os meus esforgos. Note que cada argumento guarda uma relagéo seqiiencial com a tesc, demonstrada pela forma da linguagem. No esquema, o pregador pode usar frases indicativas do argumento, reservando-se para dar a seqiiéncia gramatical no momento da expos igao. Exemplo: 1. Jesus vive em mim para comprovar minha salvacdo; 2. Para garantir a minha filiacdo; 3. Para conservar a minha santidade; 4. Para controlar a Homilética — A Eloqléncia da Pregagao 129 minha vontade; 5. Para premiar os meus esforgos. A expressao “Jesus vive em mim” fica subente ndida. b. Légica. Os argumentos devem corresponder a tese, também, em contetido. Se a tese é: Jesus morreu? (uma proposta que exige a investigacdo das causas), néo é ldgico responder: “Ele morreu entre dois ladrdes” (circunsténcia). Estas questées se relacionam com outras teses, a saber: Onde, Quando e Como. c. Psicolégica. Os argumentos devem ser distribuidos dentro de uma escala de valor, baseada na forga de persuasao de cada um. Eles devem se situar numa ordem de crescimento, indo do mais fraco (que apenas situam, esclarecem ou somam idéias) para o mais forte (que convence, que arrebata, que sublima). O ultimo argumento deve ser sempre o de maior forca de convicgao, de decisdo. Na giria da oratéria forense, © argumento decisivo ¢ chamado de “bomba” e vem sempre em ultimo lugar. Na linguagem militar é chamado de “o ultimo cartucho”, no jogo de péquer € “a ultima cartada” e no xadrez € 0 “xeque-mate”. 8. Conclusao A concluséo deve constar do esquema, de manceira clara e sumaria. O pregador deve dizer o que pretende com a sua mensagem; 0 que ele deseja que acontega em seus ouvintes. 9. Apelo Como o apelo é circunstancial (ao tipo de sermao, ao tipo de auditério e as condigdes do ambiente), nao precisa ele constar do esquema. O 130 pregador deve ser livre para fazer ou nao o apelo. Sobretudo, ele deve ser sensivel ao Espirito Santo . O pregador nao deve ter uma regra fixa sobre esse assunto. Ele deve ser maleavel a inspiracéo divina. 10. Tema Notar que o tema, por ser considerado como o nome do assunto, nado entra como parte do esquema. Ele aparece, no preparo do serméo, para que o pregador saiba como identificd-lo num texto e como toma-lo como ponto de partida para a elaboragao do sermao. Identificando o tema, o pregador tem que formular uma tese e descobrir 0 assunto, isto é, as respostas a essa tese. O tema so entra no esquema se cle for tomado como sindénimo do assunto ou se for usado como titulo. Em ambos os casos, ele perde a fungao de tema para ocupar essas outras fungées. A exposigdo ou alocugaéo do sermao é 0 que comumente chamamos de pregacdo. A exposigdo é a entrega do sermao. Na exposigaéo, o pregador mostra o que ele entende de Homilética, de Hermenéutica e de Exegese. Em outras palavras, ele mostra se realmente é um pregador. Mostra se entende da técnica e da arte de entregar um sermao. Mostra se é inteligente, criativo, sensivel, espiritual e eloqiiente. A pregagao é uma forma exegética e como tal, tem sua especificidade de exposigao. No capitulo anterior, vimos a disposig&o dos elementos basicos de Homilética — A Eloqéncia da Pregacéo 131 um sermao. Agora vamos ver como esses elementos devem ser apresentados ao publico. Depois de ter escolhido 0 texto, tirado o tema, formulado a tese, estruturado o assunto (a argumentacao) e se decidido sobre o titulo do sermao, o pregador esta preparado teoricamente para a pregacao. A pregacio, como qualquer discurso, é um mondlogo, mas o pregador tem que imaginar que vai travar um didlogo, uma conversa com seus ouvintes. Nessa conversa, entretanto, toda a iniciativa fica com 0 pregador, pois os seus ouvintes nao tém direito a palavra. Por isso, ao subir ao pulpito, o pregador tem que imaginar um didlogo com seus ouvintes, e vai ter uma conversa com eles, em tom de discurso. E, como sé ele é quem vai falar, ele precisa levar todos os elementos que iniciem alimentem e finalizem a conversa. Ele tem o tema ou titulo, o texto ou a introdug&o, a tese, o assunto ou argumentos, a conclusao e o apelo. Ha duas coisas que o pregador nao pode se esquecer ao pregar: 1. Que a sua linguagem tem que estar ao nivel do conhecimento de seu auditorio; 2. Nunca pressupor que as pessoas ja sabem. No primeiro caso, ele deve usar o linguajar mais simples e quando tiver que usar termos clevados ou técnicos, traduzi-los 4 compreensio popular. No segundo caso, partir sempre da idéia de que as pessoas estao ali para ouvir, porque nao sabem e¢ querem aprender. Nao se acanhe de esclarecer termos técnicos (especialmente teoldgicos) e de narrar fatos 132 biblicos. Naéo suponha que as pessoas ja sabem. Serd que sabem mesmo? E se ja se esqueceram? Ou se nunca ouviram? Nao cometa o erro de nao ensinar por supor que as pessoas ja sabem! Eis, em detalhes, 0 que o pregador tem que fazer: COMO USAR O TEXTO Se 0 sermao vai se basear num tema tirado de um texto sagrado, nada mais logico do que o pregador comegar 0 seu sermao pela leitura do texto escolhido. As vezes para causar curiosidade (por razdes psicolégicas) o pregador pode anunciar o titulo, fazer a introdugao e, entdo, apresentar o texto e a re sposta as varias questdes levantadas durante 0 sermiao, o tema pode ser até apresentado no final do sermao. Alguns cuidados especiais devem ser tomados previamente. A saber: 1. Escolher uma por¢ao suficie nte Nao ler apenas o versiculo que vai usar ou a palavra chave do tema, a menos que 0 contexto seja inconveniente ou desnecessirio. Leia uma porcdo suficiente para que 0 povo desfrute de um contato maior com a Palavra de Deus. Lembre-se de que o povo nao tem tempo e nem disposigdo para ler a Biblia em casa. Em muitos casos, depois de uma semana, um més ou um ano, essa vai ser a Unica oportunidade de entrarem em contato com a Palavra Homilética — A Eloquéncia da Pregagao 133 de Deus. Uma porgao maior das Escrituras podera ser o alimento, a resposta, 0 desafio ¢ a inspiragéo de que essas pessoas estado esperando de Deus. Uma porgado sagrada, bem escolhida e bem lida, podera ter maior significago para 0 ouvinte do que o proprio sermao. 2. Definir a por¢ao a ler As vezes, O pregador anota em seu esquema a porgao textual que vai ler, mas na hora, percebe que deve comegar antes, que deve deixar alguma parte ou mesmo ir adiante, avangando do ponto indicado. Isso depde contra o pregador, pois sugere improvisacao e falta de preparo. 3. Definir a tradugdo que vai usar As vezes, 0 pregador prepara seu sermao baseando-se em uma tradugdo, mas ao pregar, usa outra. Isso nado sé Ihe poderé causar embarago como podera comprometer todo o seu sermao. Imagine se o sermio se fundamenta numa palavra e esta nao aparece ou tem outro sentido noutra tradugdo. Um exemplo disso pode ser Rm 3.23, onde a palavra “destituidos” aparece como “carecem” em tradugdes diferentes. O pregador deve ter sempre 4 mao a tradugdo sobre a qual preparou 0 seu sermao. 134 4. Indicar o texto A indicagao deve ser clara, forte e repetida para que os assistentes a oucam, tenham tempo para localiza-la em suas biblias e participarem da le itura. 5. Deixar 0 povo acompanhar a leitura Hoje temos, gragas a Deus, uma variedade de tradugées e isso nao permite mais leituras unissonas ou alternadas (responsivas), mas nao impede que o povo acompanhe silenciosamente, em outras traduges, a leitura feita pelo pregador. Eis algumas razdes que tornam validas as leituras feitas pelo povo: 6. Da autenticidade O ouvinte nota que ha uma relagao ou perfeita harmonia entre a sua Biblia e a do pregador. a. Incentiva 0 uso da Biblia. O assistente percebe que é util levar a Biblia a Igreja; que ha uma finalidade; que ha um valor em porta-la. b. Treina 0 povo no manejo da Biblia. Abrir a Biblia, localizar uma passagem e lé-la é uma experiéncia didatica positiva, que precisa ser constantemente incentivada. c. Fala mais diretamente. Ouvir uma leitura do pulpito é algo que vem de longe e que esta fora dos Homilética— A Eloguéncia da Pregagao 135, olhos. Mas, ouvir a leitura e acompanha-la com os olhos (mesmo em tradugao diferente) ¢ algo que cala mais fundo, porque feita audio-visualmente. E algo que esta bem proximo, diante dos olhos e falando diretamente. A diferenga de tradugdes podera despertar a curiosidade e o interesse do assistente e até leva-lo a pesquisas posteriores. d. Torna o sermao mais vivo. O ouvinte se lembrara, com mais facilidade do texto sobre o qual o pregador falou e da maneira como o tratou. Sempre que ler esse texto em sua Biblia, se lembrara do sermao, do pregador, e se beneficiara de suas verdades. 7. Ler com arte e un¢ao A leitura deve ser correta, pausada e flexionada. O pregador nao deve se limitar a ler, mecanicamente, respeitando os sinais de pontuagdo do texto, mas dando a inflexdo correta e necessaria para que a leitura seja viva e que 0 ouvinte receba mais do que idéias frias. Sobretudo, a leitura deve ser feita com a razéo, com 0 coragao e sob o poder do Espirito Santo. Feita a leitura, o pregador deve estar preparado para iniciar 0 seu didlogo imaginario com o seu auditério. Ele deve imaginar que algumas perguntas lhe serao feitas ¢ ele tera que ter respostas. Inevitavelmente, essas perguntas virao na seguinte ordem: 136 PRIMEIRA PERGUNTA: “Sobre o que o senhor vai falar?” A resposta que o pregador der a essa pergunta vai Ser 0 titulo de sermao. COMO EXPOR O TITULO Se o titulo é uma palavra ou uma frase do texto, o pregador deve referir-se ao texto e mostrar de onde 0 tirou ou como o encontrou. As vezes, basta dizer: O titulo de nosso sermao ou de nossa mensagem é... Ou simplesmente: Vamos falar sobre... Respondida a primeira pergunta, o pregador deve imaginar logo a segunda, como se ela ja estivesse engatilhada na mente do ouvinte, pois uma decorre inevitavelmente da outra: SEGUNDA PERGUNTA: Como o senhor vai tratar 0 assunto desse titulo? A resposta que o pregador der a esta pergunta vai ser a sua tese. Ocorre, entretanto, que o pregador nunca deve anunciar 0 titulo 0 logo entrar na tese. Ele deve imaginar que o seu auditorio nao esta preparado para acompanha-lo em sua incursdo pelo assunto sem algumas explicacgdes_preliminares. Os ouvintes necessitam de informagdes basicas que thes Homilética — A Elogiiéncia da Pregagao 197 estruturem as mentes e lhes propiciem acompanhar, progressivamente, o raciocinio do pregador. Dai a Introducao. Ai esta a importancia e o porqué da introducao. COMO FAZER A INTRODUGAO A introdugao, como ja vimos, é 0 vestibulo do sermao. Ao se por diante do publico e tendo a obrigacao de falar, é natural que o pregador iniciante se sinta inibido para comegar 0 seu sermao. Alguns pregadores gostam de contar uma anedota* para se descontrairem ou mesmo para descontrair 0 proprio auditorio que esta tenso, indisposto e até cansado. Os resultados favordveis séo imediatos, pois a anedota exerce a fungio de ‘“quebra-gelo”, nas relagdes humanas. Ha ocasides em que o pregador pode iniciar 0 sermao com a introdug&o, depois ler 0 texto sacro e entéo apresentar a sua tese. Mas, neste Caso, a tese passa a ser também o titulo do sermao. E bom que o pregador tenha plena consciéncia do que esta fazendo para se tornar claro a seus ouvintes. Feita a introdugao, o pregador esta em condigdes de apresentar a sua tese, isto é, de responder 4 segunda pergunta que deixamos atras. Vamos repeti-la: * Anedota é a narragdo curta de um fato jocoso, real ou imaginario. 138 TERCEIRA PERGUNTA: Como o senhor vai tratar 0 assunto contido no seu titulo? resposta, como vimos, é a tese do pregador. COMO EXPOR A TESE Tese € uma declaracao cardeal, que pode ser afirmativa, negativa ou interrogativa. Como ja vimos, € uma proposta para a discussdo de um assunto. O pregador deve enunciar a sua tese com bastante firmeza e clareza, para que ela se destaque e se torne 0 eixo em torno do qual todo o assunto do sermao venha a girar. Uma vez dada a tese, o pregador deve imaginar a quarta pergunta do auditério: QUARTA PERGUNTA: Como 0 senhor vai analisar a sua tese? Essa pergunta pode ser feita em outros termos: “Que argumentos o senhor tem em abono de sua tese””? ou “Prove que a sua tese é verdadeira” ou ainda “Defenda a sua tese”. A resposta que o pregador tiver para essa pergunta sera o seu assunto, ou o assunto de seu sermao. Homilética— A Eloqiéncia da Pregagao 139 COMO EXPOR O ASSUNTO OU A ARGUMENTACAO. O pregador deve apresentar cada argumento de maneira clara, firme e bem destacada para que os ouvintes possam relaciona-los com a tese e perceberem o seu contetdo particular e geral. Os argumentos devem ser numerados, postos em destaque (em forma de tdpicos) e dispostos em seqiiéncia gramatical, logica e psicologica. Essa é a parte mais dificil para o pregador. Ele precisa fazer muito exercicio mental para ordenar as suas idéias. Se as coisas nao estiverem bem claras e bem ordenadas em sua mente, como poderao ser entendidas pelos ouvintes? O pregador pode dizer muitas coisas certas e boas, mas ele precisa saber ordenar a sua mente n4o sé para que tenha facilidade de apresentar as suas idéias, mas fundamentalmente para que seja entendido. Os argumentos, que sao o arsenal de fogo do pregador, podem ser expressos em forma de declaragao geral ou particular; e podem também ser subdivididos, em forma de sub-argumentos, ou em forma de ilustragées. Os argumentos podem ser apresentados em forma de: 1. Resposta, quando cada tdpico é€ uma resposta a tese. 140 2. Questionamento: a) quando o pregador faz perguntas e as responde ou b) quando ele imagina que 0 ouvinte esta perguntando. 3. Refutagao, quando se corrige idéias erradas. Esta forma é chamada também de reversa. Uma vez analisada a tese, isto ¢, desenvolvido 0 assunto, o pregador deve imaginar a quarta pergunta de seu auditério: QUINTA PERGUNTA: E, 0 que temos com isso? Ou, 0 que temos que fazer? A resposta que o pregador der a essa pergunta, vai ser a conclusao. COMO EXPOR A CONCLUSAO A conclusio é¢ uma forma de avaliar o conteido da mensagem. Nela, o pregador vai dizer aos ouvintes o que eles ganharam em té-lo ouvido. Na conclusio o pregador deve destacar a verdade principal e aplica-la as necessidades dos ouvintes. Lembre-se que Pedro, no Dia de Pentecoste, ao defender a tese de que o fendmeno ali verificado néo era embriaguez dos discipulos, mas o cumprimento de profecias, provocou uma necessidade angustiante nos ouvintes que clamaram: “Que faremos varées irmaos?” A resposta do apdstolo foi a sua conclusao (At 2. 37-38). Homilética — A Eloqiéncia da Pregagao 141 O pregador pode apresentar a sua conclusao (com um destaque da verdade central e uma aplicagdo) logo apos cada argumento ou pode somar os argumentos e, no final, fazer uma recapitulacdo com os destaques e uma aplicagao. A conclusao, pois é a orientacéo (em nivel tedrico), que o pregador da a seus ouvintes sobre como apropriarem-se de sua mensagem. E, como essa orientagao é tedrica, o ouvinte pode sair dali, p6-la em pratica ou nao. E, para que o pregador se certifique de que sua mensagem foi realmente entendida e vai ser posta em pratica, ele precisa imaginar a quinta e ultima pergunta de seu auditorio: SEXTA PERGUNTA: O que temos que fazer ja? A resposta do pregador vai ser 0 seu apelo. COMO FAZER O APELO Se a concluséo é um convite tedrico, o apelo é um convite pratico. Para fazé-lo, o pregador deve: 1. Definir 0 que quer que os ouvintes fagam: que orem, que levantem a mio, que fiquem de pé, que venham a frente, que preencham um cart&o, que fiquem apds 0 culto ete. 2. Ser claro quanto ao que o ouvinte deve crer para atender ao apelo. Se é para a salvagdo, para a consagracio de vida, para a dedicagio a um ministério, para consagragéo financeira, para participagao maior nas atividades eclesiasticas etc. 142 3. Ser sincero, dindmico e convicto. 4. Ser breve e educado (nao insistente e constrangedor). Homilética — A Eloqiiéncia da Pregagao 143 CAPITULO XIV METODOS DE EXPOSICAO A exegese literdria possui métodos gerais de exposigdo: a descrigao, a narragao e a dissertagao. 1. Descrigaéo ¢ a exposicao analitica, detalhada particular e minuciosa de um objeto (coisa ou pessoa). A descrig&éo ¢ a forma de se dizer como uma coisa é, em detalhes. A descric¢éo pode ser: 1. Analitica, quando enfoca um objeto ou parte dele, em detalhes. Exemplos: A Biblia é um livro religioso, que esta dividido em Antigo e Novo Testamento, em capitu los e versiculos e que se constitui num conjunto de revelagdes e de fatos significativos, registrados por inspiragéo de Deus; 2. Analdgica, quando os objetos ou suas partes sio enfocados por comparagao ou analogia. Exemplo: A Biblia 6 um tesouro de sabedoria; e 3. Reversa, quando os objetos ou suas partes séo enfocados pelas suas antiteses. Exemplo: A Biblia nao é um livro de ciéncia. Nota-se que a descrigféo é o método do inventario, da pesquisa. 2. Narracgdo ¢ a exposigao de fatos do modo como eles aconteceram. O narrador se limita a dizer as coisas como elas se deram. E 0 método tipico do cronista, do reporter, do historiador, da testemunha. 144 Contar a alguém como um fato se deu é narrar. Em Le 1. 1-3 a palavra narragdo ¢é a traducio da palavra grega exegese. 3. Dissertagéo é a exposicao discursiva onde os fatos sao analisados, interpretados; as idéias elaboradas e os conceitos estabelecidos segundo a opiniéo do autor. Na dissertacgéo os fatos sao analisados visando uma conscientizag’o e uma tomada de posigéo. E 0 método dos comentaristas, dos analistas, dos oradores e pregadores. A dissertagéo, entretanto, nao prescinde da descrigéo e da narragao. Com freqiiéncia ela se vale delas como suporte ou complementagéo de sua reflexdo. O sermao nada mais é do que uma dissertacdo (oral ou escrita), que se vale, também, da descrigdo e da narragdo. Pode-se ver isso nos sermées da Biblia. O “sermao do monte” registrado em Mt 5. 1-12 é um exemplo de dissertagao. O mesmo se da em Jo 5. 19-47, quando Jesus explica a sua misséo, c em 6.22-40, quando ele se identifica como o pio da vida. Em Mt 3.1-6 temos uma dissertagéo, com uma narragao contida de descrigdo analdgica. Homilética — A Elogléncia da Pregagao 145 CAPITULO XV FORMAS DE EXPOSICAO A Historia da Pregagao registra trés formas tipicas de exposigao: a leitura, a memorizagao parcial do esquema e a memorizagao total do esquema. 1. A Leitura do Sermao A leitura de uma pega literaria, como um discurso (numa assembléia, num parlamento, nos foruns, em solenidades publicas ou privadas), sempre foi uma forma expositiva valida, na oratoria. Também, na Homileética, é valida a leitura de sermées. No passado (do século XVI em diante), quando os pregadores eram licenciados e tinham que responder perante as autoridades eclesidsticas e politicas pelo que diziam nos pulpitos, eles eram obrigados a escrever 0s seus sermées. Por causa do costume generalizado de se ler os discursos ou os sermées, criou-se 0 conceito (a nosso ver errado) de improviso. Naquele tempo, o discurso ou sermao que nao fosse lido era considerado como “de improviso”. Voltaremos a este assunto no proximo capitulo. Hoje, a situagao é inversa. Sdo raros os pregadores que escrevem os seus sermdes e que os léem nos pllpitos. Contudo, ha vantagens e desvantagens na leitura do sermao. V ejamos: 146 Vantagens a. Exige que o pregador 0 escreva. Gragas a isso, os grandes pregadores do passado sao hoje conhecidos, pois os seus sermées escritos foram conservados e posteriormente impressos. b. Aprimora o conhecimento da lingua - O pregador pode consultar um diciondrio e conhecer o sentido exato de cada palavra que vai usar. Pode consultar a Gramatica e construir com precisio as frases. Pode selecionar as palavras que expressem melhor as idéias e que produzam melhor efeito sonoro € persuasivo. Poderao até criar neologismos. c. Desenvolve o estilo. O estilo é a maneira particular da pessoa expressar suas idéias. Veja o capitulo Homilética e Estilo. d. Desenvolve a capacidade de expressdo. Descobre novas maneiras de dizer as coisas e torna -se melhor compreendido. ce. Da seguranga. O pregador nao precisa se preocupar com o que vai dizer e nem como dizé-lo, pois tudo ja esta pronto e a mao. E aconselhavel que o pregador iniciante escreva, de vez em quando, o seu sermao para usufruir dessas vantagens. Homilética — A Eloqdéncia da Pregagaéo 147 Desvantagens a. Tira a espontaneidade. O pregador se priva do contato pessoal e direto com o seu auditorio. Amarrando ao texto, 0 seu sermao se torna impessoal e mecanico. b. Tira a mobilidade. O pregador fica estatico, preso ao pulpito. Nao pode se afastar e nem se expressar Com 0 rosto ou com as maos. c. Torna monotono. A leitura, por mais bem feita, nao admite arroubos de cexpressio, de empolgagao ou de dramatizagao. d. Perde a comunicacao visual. Muitas verdades ficam marcadas no ouvinte quando o pregador as transmite pelos seus gestos ou pelo seu olhar. A leitura impede que isso acontega. e. Exige muito do ouvinte. Além da atengado constante, que a leitura exige do ouvinte, ele ¢ solicitado a dar mostras de muita paciéncia e condescendéncia. f. Tira a liberdade mental. O pregador podera se afastar um pouco do texto para fazer breves comentarios, adicionar explicagdes ou dar informagées paralelas, mas corre 0 risco de se per der; “Perder o fio da meada” ou “se embananar”, como se diz na giria. g. Perde a seqiiéncia. Cada vez que 0 pregador tiver que virar a pagina, produzira um vacuo, que comprometera a seqiiéncia da entonagao, do entusiasmo e do proprio pensamento. Ha uma ruptura na mensagem. 148 h. Perde o crédito intelectual. Sugere incompeténcia; que copiou de outrem ou que usou um redator-auxiliar (copy desk). i. Perde prestigio. 0 povo nao da muito valor ao pregador que demonstre estar lendo o seu sermao. Porque isso sugere inseguranga, falta de habilidade ou de “dom” como se diz. Note que as vantagens da leitura surgem para 0 pregador quando ele escreve 0 sermao e que as desvantagens surgem quando ele vai prega-lo. 2. A memorizacao parcial do esquema Consiste em o pregador memorizar 0 quanto puder 0 esquema (especialmente os elementos basicos da disposigao), mas leva-lo ao pulpito, por seguranga, para té-lo 4 mao, sempre que houver necessidade. E preferivel o pregador ter 0 esquema 4 mao para uma consulta de soslaio e apresentar um sermao completo (com todas as suas partes), e deixd-lo na gaveta, confiando na memoria e esta falhar. 3. A Memorizagao Total do Esquema Consiste no pregador memorizar todo o esquema do sermio. Ele vai ao pulpito com as idéias principais, do sermao, na cabega. Ele tem uma visao geral do que vai dizer e de como dizé-lo, sem precisar de nenhum apontamento. Essa ¢ a forma ideal de exposigéo homiletica. Contudo, devemos reconhecer que ela depende muito Homilética — A Eloatiéncia da Pregagao 149 da capacidade mneménica do pregador e nao € uma forma acessivel a todas as pessoas. Qualquer que seja a forma expositiva que o pregador vier a adotar, tera que ser a que corresponda melhor a sua personalidade 0 que importa ¢ que ele faga o melhor que puder, com o método que lhe convier, mas com amor e ungao espiritual. Homilética— A Elogiiéncia da Pregagao 151 CAPITULO XVI ORIGINALIDADE, PLAGIO E IMPROVISO Esses séo trés temas muito discutidos em Oratoria. Tegamos algumas consideragées sobre eles. 1. Originalidade A originalidade é a capacidade de criar idéias novas; de imaginar e colocar as coisas de maneira diferente. A originalidade, pois, pode ser de forma ou de contetido. Ha pregadores que, pela sua inteligéncia, cultura, criatividade e espiritualidade, realmente sao originais. Imaginam formas novas de expor antigas verdades. Sdo como o escriba judeu de que falou Jesus. Quando se converte “tira do seu tesouro coisas novas e velhas?” (Mt 13.52). Entretanto, a originalidade ¢ sempre muito relativa, especialmente na Homilética. Muitos pregadores se inspiram em trabalhos escritos ou mesmo em sermées pregados por outrem. E, ha também aqueles que nao so se inspiram, mas que pregam totalmente sermoes alheios. 162 2. Plagio Plagiar ¢ pegar uma idéia alheia e reproduzir como se fosse sua. O Cédigo Penal considera o plagio como um furto literario ou artistico. Podemos considerar como plagio o ato de alguém reproduzir um sermao de outrem? Seria isso, um ato condenavel? Do ponto de vista juridico, fundamentado nas leis que resguardam os direitos autorais, reproduzir trabalho literario sem permissio do autor e sem declinar a fonte, é crime passivel de condenagao. Mas, no cristianismo, ha trés aspectos que tornam o plagio até recomendavel: 1. O objetivo maior do sermao é a gloria de Deus e nao a gloria do pregador que o concebeu. Milhares de pessoas tem sido salvas com sermdes pregados por repetidores. A gloria do pregador esta em saber que produziu um trabalho tao bom, que mereceu ser repetido e que produziu frutos para a vida eterna; 2. A seara é grande e poucos sao os ceifeiros. Se 0 pregador souber que os seus sermées estéo sendo pregados por outrem, ficara feliz por estar qualificando ceifeiros para a seara; 3. Ha pessoas que tém muita dificuldade em preparar um sermao, mas tém facilidade imensa de reproduzi-lo de outrem. Sdo-lhes de imenso valor os sermonarios (livros de sermdes) e os sermées ao vivo. E deles se valem com freqiiéncia. Isso, entretanto, no desobriga o repetidor de ser honesto quando vai pregar e de ser leal para com 0 seu colaborador (0 autor do sermao). Homilética — A Elogiiéncia da Pregagéo 153 Nao ha necessidade do repetidor dizer, no inicio da pregacao, que o sermao que vai pregar nao é de sua autoria. Isto lhe tiraria toda a autoridade e diminuiria 0 valor de sua participagao. Afinal, ha um mérito em seu trabalho, representado pela sua disposigéo de pregar, sua capacidade em reproduzir com fidelidade as idéias de outrem, 0 seu esforco pessoal de comunicagéio e a sua capacidade de persuaséo. Em ocasides excepcionalissimas, podera dizer 0 seguinte, no fim do sermao ou do apelo: “Agradego ao pastor fulano de tal a colaboragaio que me prestou na entrega deste sermio”. Tal agradecimento podera ser feito até na oracdo final do culto. Uma forma delicada e atenciosa é a de escrever uma carta ou dizer pessoalmente: “Aquele sermao que 0 irmao pregou em tal lugar foi usado por mim em tal lugar e produziu os seguintes resultados”. Ou “tenho usado o seu sermio do livro “Tal” e Deus tem abengoado grandemente o nosso trabalho“, Isso nao so dignifica o repetidor, como da muita alegria ao autor. Cada pregador deve usar os dons e as oportunidades que Deus lhe da, valendo-se dos recursos de que dispée. Nao é pecado ser repetidor de sermées. O pecado estd em fazer isso por preguica mental, por negligéncia ao estudo ou por comodismo. Pecado também € pregar por ostentacdo, com a preocupagao tinica de originalidade ou pelo prazer de imitar os mais bem sucedidos. 154 3. Improviso Improvisar é, literalmente, fazer sem provisio. Na oratéria seria falar sem ter estudado ou sem estar preparado. Mas historicamente, o improviso, na oratoria, é o falar sem anotagdes ou sem ter o discurso escrito. Isso tudo é muito relativo, pois o pregador pode ser apanhado de surpresa para pregar, mas nao ser surpresa 0 que ele vai pregar. Geralmente ele fala de algo que ja pensara, que ja estudara ou mesmo sermao que ja pregara. O pregador podera, também, nao ter anotagdes, esquemas ou o sermao escrito, mas tera todas as idéias memorizadas. O seu treinamento mental pode ser tio eficiente que, em fragio de segundos, rememorizara tantos sermées quantos forem necessarios. Poderd nio ser profundo, nem completo, mas dira sempre algo de que tenha pensado antes. A verdade é que, qualquer discurso ou sermao é sempre o resultado de uma elaboracgéo mental anterior. E, assim, nao ha improviso. O verdadeiro improviso nao se da quando o orador € apanhado de surpresa para discorrer sobre um tema que nao tenha estuda do ainda. Entao ele tem que trabalhar com a memoria, com a inteligéncia e com imaginacao para criar 0 conteido e lhe dar a forma, na hora. Isso ¢ improviso. A rigor, nao ha improviso na Homilética. Homilética — A Eloqiéncia da Pregacado 155 CAPITULO XVII A ILUSTRACAO Ilustrar é iluminar. E fazer com que a luz se enfoque no lugar onde precisamos ver melhor. E como alguém que, desejando ver algo num quarto escuro, abre a janela ou acende uma luz. Na imprensa, a ilustragéo 6 um desenho ou uma foto, introduzida no texto, com o propdsito de esclarecer ou justificar uma afirmacaio. E neste sentido que a ilustragéo é usada na Oratéria e por conseguinte, na Homiletica. 1. Tipos de Ilustracgdes Ha cinco tipos de ilustragdes, a saber: Conceitual, quando se cita 0 pensamento ou a opiniao de uma pessoa. Ex.: Disse Jesus: “Vai, a tua fé te salvou, (Mc 10.52). Disse Dom Pedro I, as margens do Ipiranga: “Independéncia ou Morte”. Paulo escreveu: “A quem honra, honra” (Rm 13.7). Técnica, quando se explica um principio cientifico, um processo técnico industrial, um costume, uma situagdo geografica, climatica etc. ex.: A lei da gravitacgdo; como era feito 0 pao azimo, 0 éleo da ungao, o vinho etc.; como eram as casas orientais; como eram os casamentos; como era a 156 regido do Sinai; onde ficava Ur dos Caldeus; como era o clima na Palestina em determinadas épocas; etc. Historica, quando se narra um fato passado registrado pela imprensa (livros, revistas, jornais), transmitido pelo radio ou televisio ou ouvido de testemunhas. Estérica, quando se conta uma lenda, uma fabula, uma parabola ou anedota imaginaria. Pessoal, quando se conta fatos testemunhados pelo pregador ou dos quais ele tenha sido protagonista. Nestes casos, algumas regras devem ser observadas: a) Dizer sempre a verdade. Analisar bem como os fatos se deram e ser fiel na narragiio. b) Certificar-se bem dos fatos, quando envolverem outras pessoas. Elas poderao ter outra versao. c) Fugir da auto-exaltagao. Evite destacar sua atengao pessoal, insinuando-se como esperto ou como exemplo para os outros. d) Evitar a delagéo. Nao use como ilustragao fatos confidenciais, que podem constranger ou comprometer as pessoas. Mesmo nao identificando as pessoas pelos nomes, se 0 caso for evidente, a identificagao sera notoria. Homilética — A Eloqdiéncia da Pregagao 157 2. Vantagens da ilustracao A ilustragéo nao so esclarece e justifica um argumento, mas pode ser um argumento. Por isso, as suas vantagens podem ser assim enumeradas: a. Quebra a monotonia. b. Revigora a atencao. c. Diminui a tensao do ouvinte. Descontrai. d. Desperta o interesse. Toda ilustragao tem o sabor de novidade. e, Marca o sermao. As verdades se tornam vividas quando ilustradas. Um sermao_ ilustrado dificilmente sera esquecido. f. Enriquece o ouvinte. Em cada ilustrac&o ha uma verdade, uma ligdo, um ensino. g.Valoriza 0 pregador. E tao agradavel ao ouvinte, que valoriza mais o pregador. A ilustracao sugere que o pregador é inteligente, estudioso, pesquisador, culto. Nem sempre isso é verdade, mas ¢ assim que 0 povo pensa. h. Valoriza 0 sermao. Torna-o mais digestivo, da contetido e 0 embeleza. i. Convence e emociona. A ilustragdo nio sé embeleza o sermao, mas tem a finalidade de fortalecer 158 o argumento. Por isso quando adequada, ela convence, emociona e facilita a decisao. Isto porque o ouvinte se identifica com as personagens da ilustracéo e descobre a solugao de seu problema. 3. Cuidados a Observar. a. Adequacao. Cada ilustragaéo tem que ter uma relagao direta com o fato que se quer ilustrar. Essa relagéo nao s6 deve existir no contetido geral, mas especificamente no ponto de intercessdo entra a ilustragao e o fato a ilustrar. A esse ponto de intercessto, de conexdéo, vamos dar o nome de “gancho”, pois a ilustragdéo, como um pingente do assunto, se ndo tiver um gancho, nao se firma. b. Objetividade. Evite detalhes que nao estao diretamente ligados ao assunto, pois podem retratar outras verdades que ofuscarao os ouvintes do gancho. c. Honestidade. Evite citar conceitos vagos, “por alto”, sem corresponder ao exato pensamento do autor. Evite “passar” como verdade, fatos duvidosos, cujas fontes sao indeterminadas. d. Seriedade. Evite ilustrar verdades sérias com anedotas. Homilética — A Elogliéncia da Pregagao 159 CAPITULO XVIII A PERSONALIDADE DO PREGADOR Ha sete fatores da personalidade do pregador que precisam ser analisados, pois eles sao fundamentais para 0 seu sucesso na pregagéo. Vamos denomina-los de perfis da personalidade. 1. Perfeic¢&éo Espiritual Ja vimos esse perfil quando tratamos da eloqiiéncia, mas nunca ¢ demais ressaltar que o pregador tem que ser um homem de fé. Ele vai pregar e ensinar a fé. Fé na existéncia de Deus, no interesse de Deus pelos homens e na relagéo do homem com Deus. Fé na oragao, na Biblia como registro inspirado da revelagao de Deus, no poder salvador de Deus em Cristo e na presenga real de Deus na vida do crente pelo Espirito Santo. Fé na ressurreigéo, na volta de Cristo, no juizo final, na vida eterna. A vida espiritual ¢ uma vida permeada pela fé. E, como pode um pregador falar da vida espiritual se ele nao tem fe? 160 2. Perfil Moral A fé cristé nao ¢ apenas uma crenga, uma aceitagaéo mental; mas também é€ isso, quando acompanhada de uma mudanga de vida. O pregador deve ser um exemplo de nova vida. Nao pregue aos outros 0 que vocé ndo consegue viver. Lembre-se de que a sua vida fala mais alto do que as suas palavras. Pregue a s~ antes de pregar aos outros. 3. Perfil Intelectual A pessoa que abraga a carreira de pregador deve estar bem consciente de que escolheu uma fungao intelectual. Ela ira trabalhar mais com o cérebro do que com as miaos e os bragos. Por isso, exige-se que o pregador seja inteligente, amante dos livros, criativo e culto. Tem que ser uma pessoa atualizada, isto é, em dia com o seu tempo. 4. Perfil Psicolégico O pregador tem que ser uma pessoa equilibrada mental e emocionalmente. Ele vai revelar por suas palavras esse equilibrio. A Psicologia da Linguagem ensina-nos que as palavras nao sao portadoras apenas de idéias, mas de emogdes, de temperamento e revelam motivagdes até inconscientes. As idéias acompanhadas das emogoes (alegria, tristeza, ira, amor, coragem, medo, otimismo, _ frustragao, realizacéo, derrota, vitoria etc.), revelam o Homilética — A Eloguiéncia da Pregacéo 161 temperamento (agressivo, submisso, introvertido, extrovertido etc.) e as motivagdes (conscientes ou inconscientes). Ha pregadores que transmitem mais a sua personalidade quando pregam, do que idéias. Por isso, para os assistentes esclarecidos, o putlpito se transforma, as vezes, mais num diva de psicanalise (onde o pregador oferece abundantes dados de sua personalidade doentia), do que numa fonte de orientagao sadia (onde o pregador oferece a luz, a espiritualidade e a inspiragao de Deus). Ha pregadores que falam mais de si do que das verdades de Deus que os ouvintes foram buscar. 5. Perfil Fisico O pulpito nao ¢ uma passarela por onde desfilam sé os mais bonitos e elegantes, mas temos que convir que a expressio fisica do pregador 0 ajuda muito na entrega do sermao. O pregador deve ter um porte atraente, isto ¢, altura e peso médios. Deve ser fisicamente completo, sem nenhum defeito fisico notavel. Nao que pessoas altas, baixas, gordas, magras ou portadoras de defeitos fisicos nao possam ser pregadoras. Podem e, as vezes, até sio bem sucedidas. O que pode acontecer que tais pessoas nao podem softer restrigdes em sua aceitacio pelo publico. As pessoas poderio sofrer bloqueios _ psicoldgicos. Infelizmente ha uma espécie de preconceito. Nos paises onde ¢ forte o preconceito racial, ha indisposigao até para se ouvir pessoas de outra raga. 162 Nao queremos desestimular as pessoas que foram chamadas para a pregacdo e que sejam vitimas de preconceitos humanos, mas queremos preveni -las de que Ihes serao exigidos mais esforgos, mais perseveranca, mais amor e mais convicgdo de chamada. 6. Perfil Sonoro A voz, como veiculo da pregagdo, ¢ essencial para 0 sucesso do pregador. Dois elementos sao fundamentais:. Timbre, que é a qualidade distintiva do som, que se apresenta sempre na mesma altura e intensidade. O timbre ideal para a pregagéo é o médio, isto é, nado agudo, nem grave, nem rouco e nem nasal (fanhoso). Diceao, que é a emissao correta dos sons da voz. A dicgao exige, além da pronuncia correta das palavras, firmeza e clareza. 7. Perfil Social Ninguém gosta de fazer “ma figura” perante a sociedade, por isso se justifica 0 medo que muitas pessoas tém de se exporem ao vexame publico. Esse medo é eufemisticamente chamado de timidez ou inibigfio e € tipico da maioria dos pregadores incipientes. Sua causa fundamental ¢ a inseguranga. Inseguranga emocional decorrente de sua falta de experiéncia em se relacionar com um _ auditdrio Homilética— A Eloqléncia da Pregacdo 163 (ficando a frente, em evidéncia e sendo observado por todo 0 mundo) e inseguranga intelectual, decorrente de sua insipiéncia cultural. Ha trés coisas que ele deve fazer: Orar. Mas orar em trés dimens6es, a saber: Na dimensao bioldgica. 0 nosso corpo deve estar voltado para a oragao e envolvido nela. A oragao que funciona é aquela que tem 0 nosso corpo a sua disposigéo. Inspirar profundamente, reter 0 ar por alguns instantes, soltar (aos poucos) pela garganta, como se fosse bocejar. Relaxar 0 corpo, soltando og musculos e os nervos (faces, bracos, torax, abdémen, pernas etc.). Sinta-se relaxado. Na dimensao psicolégica. Imaginar que um foco de luz branco-azulado desce sobre a sua cabega e ilumina todo o seu cérebro. Imaginar que esse foco de luz se espalha pelo auditério e pousa sobre a cabeca de cada ouvinte. Veja, pela imaginagaéo, um ponto luminoso (fosforescente) na cabecga de cada pessoa do auditorio. Na dimensao teolégica, Crer que Deus esta presente e que essa luz Ihe da a sensag&o de que o Espirito Santo, que esta no meio das pessoas, quer estar dentro de cada uma delas. Crer que, iluminado, és 0 mais poderoso instrumento de Deus para falar a essa gente nessa hora. Crer que 0 Espirito Santo, que esta dentro de vocé, vai iluminar sua mente e faz@-lo 164 lembrar de todos os pontos principais de seu sermio e que Os ouvintes serao ajudados nao so a entenderem a mensagem, mas a captarem as verdades profundas das entrelinhas, que suspeitam estar enunciado. Diga a ele: Senhor, agradego pelas maravilhas que vais operar neste lugar. Abengoa-me e, por meu intermédio, abengoa este povo. Eu te peso, em nome de Jesus. Amém. a. Assumir a grandeza de sua posicao. A Analise Transacional nos da uma idéia interessante sobre o complexo de inferioridade. Ela diz que essa questéo de “Complexo” 6 muito relativa. As vezes vocé esta numa posigao superior (ok) e as vezes vocé nado esta numa posicdo inferior (Néo ok). Assim, a pessoa que vai ouvir um pregador sendo culto ou nao, fica, naquele momento, inferior (Nao ok); e o pregador, naquele momento, fica superior (ok), pois ele esta em vantagem sobre todos os seus ouvintes. Ele teve o privilégio de escolher o tema, teve tempo para estudar, pesquisar e tracar a estratégia da exposicao. Todos os outros aguardam por ele, dependem dele e se subordinam a ele. Isso deve dar confianga ao pregador para que ele tenha o dominio do contetido e da forma de sua pregacao. b. Aproveitar todas as oportunidades. E natural que o medo leve a pessoa 4 fuga. Fugir do problema, entretanto, nfo ¢ a solugio. E apenas ignorda-lo ou fingir que ele nao existe. A solugao de todos os problemas sé aparece quando aceitamos o Homilética— A Elogdéncia da Pregacao- 165 seu desafio e o enfrentamos, mesmo com muitos sacrificios e riscos. No caso da timidez de falar em publico, fugir da oportunidade de pregar ¢ eliminar 0 melhor recu rso para se libertar dela. E jogar fora 0 remédio que lhe vai curar. Nunca deixe passar a oportunidade de pregar, pois é pregando que vencerdas a timidez. Isso é evidente, pois se a pessoa tem a necessidade de pregar, ela vai ter de se preparar (adquirir dominio da matéria e enfrentar 0 publico (adquirindo dominio das emogées). Aceitar com resolugéo e¢ alegria todas as oportunidades de pregar. Pregue, pregue, pregue... E lembre-se de que é fazendo que se erra e € errando que se aprende. Homilética~ A Elogiiéncia da Pregagéo 167 TERCEIRA PARTE : MODELOS E INDICE DE ASSUNTOS MODELO | - s (um minuto e meio). Esta escrito na Biblia que, certa vez, as autoridades judaicas interrogaram Joao Batista sobre quem ele era, pois cstavam preocupados com a multiddo de pessoas que acorriam “aos batismos que ele realizava, dizendo que elc cra um grande profeta” . E, quando lhe perguntaram: “Quem és tu?” Joao Batista respondeu: “iu sou a voz do que clama no deserto. Eu batizo as pessoas na 4gua, mas no meio de vos esti um a quem vos nao conheceis”. Evangelho de Joao, capitulo !, verso 26. Vamos destacar esta ultima frase: “No meio de vos esta um a quem vos nado conheceis”. E, por que muitas pessoas nado conheciam a Jesus em seu tempo? Nao é 0 mesmo que esta acontecendo hoje? Nao estara acontecendo isso, agora, com vocé? Cristo esta no meio de nds; Ele é acessivel a todos, mas nem todos 0 conhecem. Por que ha tantos aflitos? Tantos desorientados. Tantos desco nsolados? Vamos lhe oferecer trés razées para isso: A primeira é que muitas pessoas nao conhecem a Cristo porque nao buscam uma relagdo pessoal com Ele. No tempo de Joao Batista também foi assim. As pessoas seguiam uma religi&o tradicional, dos pais e ermao Para radio ou telefone 168 nao queriam um relacionamento pessoal com Deus, porque tal relacionamento exige arrependimento e fé (conversao: mudanga na vida). A terceira razio &é que muitas pessoas nao conhecem a Cristo porque nao 0 querem experimentar como Salvador. Ha muitos que nao sabem que sao pecadores e que estéo condenados a morte eterna por causa disso. Nao sabem que Jesus ¢ 0 unico Salvador e que so crendo nele podem ter a salvagao eterna. Crer em Jesus nao é sé aceitar que Ele existiu e que morreu na cruz. E entregar sua vida a ele. E experimentar uma nova vida com Ele. Concluséo. Embora Jesus seja acessivel (esta no mcio de vos, como disse Joao Batista), vocé jamais podera ser salvo se nao aceita-lo como Salvador, buscando uma experiéncia pessoal com Ele. Reconhega que vocé ¢ pecador e entregue-se a Jesus “Ele esta no meio de vos”. MODELO 2- Esquema do sermao anterior. SERMAO N° 54”’ Jo 1.26 As autoridades judaicas mandam_ interrogar Joao Batista: “Quem és tu?” A resposta: “No meio de vos esta um a quem vos nao conheceis”. *7 Notar que esse é um titulo técnico, apenas para o controle do pregador, - nos sermées para radio ou telefone, ndo ha titulo literario, pois isto é dispensavel Homilética— A Eloqliéncia da Pregagao 169 Tese: Por que muitas pessoas nao conheciam a lesus em seu tempo? jor que nao conhecem J t 2 E 0 conhec +92! Sgn ct hoje? ® Ha trés razdes:” 1 - Porque tinham uma idéia sobre ele. Esperavam um Messias politico terreno. Jesus se disse Rei, mas nao deste mundo . 2 - Porque nao buscavam uma relacgao pessoal com ele. Seguiam uma religiao tradicional. O conhecimento de Deus exige relacionamento pessoal. 3 - Porque nado queriam experimenta-lo como Salvador. Ignorancia de sua situagao espiritual: pecadores condenados. A experiéncia pessoal exige conversao . A experiéncia pessoal exige nova vida. Conclusio: Embora Jesus seja acessivel, o homem s6 podera ser salvo se 0 aceitar como unico Salvador. Reconhega o seu pecado e entregue-se a Ele. Apelo” (Veja nota de rodapé) *® Notar a tese paralela, para haver conex4o entre as respostas daquele tempo e sua aplicacio na vida atual. ** Essa é uma forma de sintetizarmos a resposta, isto é, a argumentagao. Com ela, o pregador antecipa a argumentacao, isto é, ele previne o ouvinte de que ele esta consciente de sua tese e que possui um arsenal determinado de argumentos. *° © apelo podera ser um pedido para que a pessoa escreva uma carta solicite um folheto ou copia da mensagem . 170 MODELO 3 - Sermao para radio (5 minutos) Hoje vamos falar sobre a Paternidade de Deus. O texto que escolhemos encontra-se no livro de Atos dos Apéstolos, capitulo 17, verso 29, que diz: “Sendo nds geragao de Deus, nado devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou a prata ou a pedra esculpida pela arte ¢ imaginagao do homem” . O apostolo Paulo disse isso perante uma assembléia de sabios gregos, em Atenas. Suas palavras denunciam uma contradigao entre a teologia grega c a sua pratica. Os filésofos gregos ensinavam que os homens eram filhos de Deus, mas na pratica, adoravam estatuas de ouro, de prata e de pedra. A teologia concordava, em teoria, com a teologia cristé, pois a Biblia estabelece uma relagao familiar de Deus com os homens. A Biblia diz que Deus néo é somente o Criador do universo e do homem, mas que ele ¢ também Pai. E, se Deus é Pai, vejamos como sao as relagdes familiares que existem entre Deus e os homens. O primeiro fato que a Biblia revela, é que o homem foi criado por Deus para ser seu filho. Isso é claramente demonstrado na afirma¢éo biblica de que o homem foi feito “a imagem e semelhanga de Deus”. “Criou Deus 0 homem a sua imagem; a imagem de Deus 0 criou: homem e mulher os criou”. Livro de Génesis, capitulo 1, verso 27. Investigando o sentido da frase “imagem e semelhanca”, descobrimos, na Biblia, que ela tem um sentido genético, fisico e psiquico que um filho tem com o seu pai. Em Génesis 5.3 esta escrito: “Addo Homilética — A Eloqliéncia da Pregagao 171 viveu cento e trinta anos e gerou um filho a sua imagem e pds-lhe o nome de Sete”. E certo que Adao foi criado por Deus, mas é certo também que ele foi criado para ter uma relacdo muito intima com Deus como a que sé existe entre pai e filho. E, de fato, na genealogia de Jesus, Addo nao aparece apenas como uma criatura de Deus, mas ele é expressamente declarado Filho de Deus. Evangelho de Lucas, capitulo 3, verso 38. Paulo também, concordando com os filésofos gregos, disse: “nds somos geragaéo de Deus” (Atos 17.29) e, aos Efésios, escreveu que toda a familia dos céus e da terra tem Deus como Pai porque recebem o seu nome (Capitulo 3, de 14 a 15). Essa é uma verdade maravilhosa, edificante e consoladora. Somos todos filhos de Deus. Deus é nosso pai. Ele € pai de todos os homens. Mas a Biblia revela uma outra verdade, que nao € muito consoladora. E a verdade de que 0 pecado cortou as relagdes familiares do homem com Deus. A Biblia afirma que o homem, por causa do pecado, foi desfiliado de Deus, foi deserdado, perdendo todos os direitos na familia de Deus. “As vossas iniqiiidades fazem separagéo entre vés e 0 vosso Deus!” Disse o profeta Isaias (Capitulo 59, verso 2). Na famosa parabola do “Filho Prédigo”, Jesus mostrou que o pecador, embora filho, estava longe da casa paterna e destituido de todos os direitos. Perdido (moralmente) e morto (espiritualmente) para os que 0 amavam, aquele filho preferia viver como se nao tivesse pai. Assim sao todos os homens. Afastados da casa do Pai por causa de seus pecados, 172 nao possuem mais nenhum direito na familia de Deus. O pior é que a Biblia os chama de “filhos do Diabo“. O Apéstolo Jo&o escreveu em sua primeira carta: “Quem comete pecado é filho do Diabo”. (capitulo 3, verso 8). E foi por isso que Jesus veio a este mundo. Jesus veio reatar os lagos familiares do homem com Deus. Ele veio filiar, novamente, o homem com Deus. E, para isso, ele morreu e ressuscitou. No Evangelho de Joao, capitulo 3, verso 3, Jesus afirmou: “Se alguém nado nascer de novo, nao pode ver o reino de Deus”. No verso 12, Joao disse: “Ele veio para os seus e os seus nao o receberam, mas a todos os que o receberam deu-lhes o direito de se tomarem filhos de Deus”. Na parabola do “Filho Prodigo”, Jesus mostrou que © novo nascimento comega quando a pessoa “cai em si”, isto é¢, quando toma consciéncia de seus pecados e se levanta para voltar a casa pate ma. Na familia hebraica, os filhos tinham direitos econdémicos ¢ politicos. O econdmico, participar nos bens da familia, e 0 politico, de governar a casa, a tribo e a nagdo. Esses direitos, entretanto, so poderiam ser usados pelos filhos maiores (emancipados). E maravilhoso ouvirmos o que a Biblia diz: “Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho... para nos dar a emancipacao de filhos”. (Carta aos Galatas, capitulo 4, de 4a 5). Uma vez nascido na familia de Deus, por ter morrido para a familia de Satands, o homem passa a desfrutar dos bens do Senhor, na heranga de seus Homilética — A Eloqiiéncia da Pregacao 173 filhos. Paulo diz que “somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.”(Carta aos Romanos, capitulo 8, verso 17). Conclusio. Embora ao nascerem todos os homens possam ser considerados como filhos de Deus, 0 pecado estabelece uma divisdo entre eles. De um lado ficam os rebeldes, desobedientes, que desonram o nome do Pai, que envergonham a familia © que, expulsos e deserdados (sem nenhum direito na familia), sio considerados como mortos para Deus. Do outro lado, ficam os filhos obedientes, amorosos e figis, que honram o Pai, que trazem alegria a familia e que desfirutam de todos os direitos. Qual é a sua situagao? Que tipo de filho é vocé? Lembre-se de que se vocé ainda nao aceitou Jesus como seu Salvador, vocé nao faz parte da familia de Deus. Vocé esta separado de seu Pai, vocé esta perdido, deserdado e morto. Volte agora mesmo para o seu Pai Celestial, como fez o filho prédigo. Somente pela fé em Jesus, vocé podera se tornar um verdadeiro filho de Deus. Venha receber o beijo de perdio e fazer parte da universal familia de Deus. A Biblia diz que “ha alegria no Céu quando um pecador se arrepende”; quando um filho volta para a casa do Pai. Ore a Deus comigo agora: “Querido Pai, reconhego que tenho estado longe de ti. Eu me arrependo dos meus pecados. Aceita-me, agora, como um de teus filhos, pois eu aceito Jesus como meu Salvador. E em nome de Jesus que estou te pedindo. Amém”, 174 Se vocé fez essa oragdo, escreva-nos para que lhe enviemos o livro de instrugdes sobre “Como Crescer na Vida Crista”. MODELO 4 - Esquema do sermao anterior A PATERNIDADE DE DEUS” At 17.16-31 (28,29) - Hinos: 46, 165 e 231 do Cantor Cristio* 1. Analise contextual. Paulo mostra a contradigéo entre a teoria e a pratica teoldgica dos gregos. Paulo mostra a identidade da teologia grega com a cristé no tocante a paternidade universal de Deus. 2. A Biblia afirma a paternidade de Deus. Tese: Como sao as relagdes familiares que existem entre Deus e os homens? 1. O HOMEM FOI CRIADO POR DEUS PARA SER FILHO A expresso “imagem e semelhancga” Gn 1.27 tem sentido genético. Gn 5.3. *! No esquema o titulo ¢ destacado. No sermao ele ¢ envolvido na introdugao. » No esquema 0 texto é indicado por completo e o verso basico entre parénteses. Isso ajudara o pregador quando tiver que prega-lo do pulpito. Veja-se como o texto util esté entre paréntes is Isso facilita o destaque para a indicagao do tema ou para a analise introdutoria. 33 © espago, em branco, apés 0 texto, serve para anotagaio dos hinos adequados 4 mensagem. Homilética —A Eloquéncia da Pregagao 175 a. Adao é filho de Deus. Le 3.38. b. A humanidade ¢ “geragaéo de Deus”. At 17.29; Ef 4.14-15 2. O PECADO CORTOU AS RELACOES FAMILIARES DO HOMEM COM DEUS a. O pecado faz separagao. Is 59.2 b. Parabola do Filho Prodigo: Perdeu os direitos de filho na sua familia. Le 15.13-14. c, O pecado faz o homem filho do diabo. 1Jo 3.8. Por isso Jesus veio ao mundo. 3. CRISTO VEIO REATAR AS RELACOES FAMILIARES DO HOMEM COM DEUS a. O pecador precisa morrer para 0 seu passado de pecados e renascer. Jo 3.3. b. O direito familiar se da com a aceitagio de Cristo. Jo 1.1-.2. c. Parébola do Filho Prédigo: “Caiu em si”. Le 15.17. d. Os direitos dos filhos na familia hebraica: econdmicos e politicos. S6 os maiores (emancipados) usufruiam desses direitos. Gl 4.4-5. e. Como filhos, somos herdeiros de Deus. Rm 8.17. Conclusao: A diferenga de relacionamento do filho rebelde e do filho fiel. Qual é a sua situagao? Apelo. Homilética — A Elogiiéncia da Pregagdo 177 QUARTA PARTE ESBOCOS PARA SERMOES Tema: NASCE JESUS Texto: Le 2.1-20 I - Introdugao: E natal. Nasce Jesus. Deus se encarna para habitar entre nos. Que a crianga do céu possa nascer em nos, irmanando-nos como filhos de Deus. Il - UM INFANTE REAL - SEM PALACIO E SEM BERGO a) Nao houve lugar em Belém para nascer (v. 7) b) Nasceu entre o boi e o burrinho (v.7) c) Tera lugar em meu coracao? (Jo 1. 11) Ill - A GLORIA E O RESPLENDOR DO CEU NA TERRA a) Nos olhos da crianga e das estrelas, reflete-se a gloria do Senhor. Brilhe a luz do céu (v.9; Is 9.2) b) Nao vem trazer temor (v. 10) c) Vem trazer novas de grande alegria para todos (v. 10) IV - OS ANJOS CANTAM EM SEU LOUVOR a) Pessoa na terra um canto do céu: Nasceu Jesus raiou a Luz! Chegou a Vida e a Paz. b) Ele é a Gloria do Pai conosco (v. 14; Jo 1. 14) c) Ele é a Paz na Terra (v. 14; Is 9:6,7) 178 V - Conclusao: De noite, nasce Jesus em Belém, e ilumina a escuridao. Ele traz a vida do céu, o amor, a paz. Mas nao teve um lugar onde nascer na cidade e nasceu na manjedoura, entre o boi e o burrinho. Neste Natal, que Ele nasca em seus coragées para fazé-los felizes, com a vida, 0 amor, a alegria e a paz do céu. Tema: CRER PARA VER Texto: Joao 20.19-31 I - Introdugao: Jesus disse a Marta, em Betdnia: “Se creres, verds a gloria de Deus!” (Jo 11.40). Ele nao ensinou a ver para crer, como fez Tomé, mas ensinou a crer para ver. Aqueles que vivem com fé verao, sentirao, experimentarao e desfrutardo as benesses do Deus vivo e verdadeiro. Il - CRER NO CRISTO QUE SE MANIFESTA a) O Cristo que tira o medo (v. 19) b) O Cristo que abre as portas (v. 19) c) O Cristo que se faz presente (v. 19) d) O Cristo que da tranqiiilidade e paz (v. 19-2 1) Jil - CRER NO CRISTO QUE CHAMA A CONGREGAR COM ELE a) O Cristo que envia ao mundo (v. 21) b) O Cristo que da o Espirito Santo (v. 22) c) O Cristo que manda levar o perdao (v. 23) Homilética — A Elogdéncia da Pregagao 179 IV - CRER NO CRISTO QUE FAZ FELIZ a) Os que créem para ver (v. 24-29) b) Os que créem no Cristo dos Sinais (v. 30) c) Os que créem no Cristo Vivo, Filho de Deus (v. 3.1) V - Conclusao: Quem quiser ver a gloria de Deus, ¢ s6 crer. Foi pelo crer que o proprio Jesus operou sinais e maravilhas, como reviver depois de morto e manifestar-se entre os crentes. Tema: O TRAJE NOVO DOS ELEITOS DE DEUS Texto: Cl 3: 12-17 I - Introdugao: O Apostolo Paulo, na riqueza de sua sabedoria vivenciada pelo Cristo que nele vive, da as roupagens dos eleitos de Deus santos e amados. Il - ROUPAGENS DAS QUALIDADES (v. 12) a) Compassividade - Qualidade de compassivo, compaix4o, sentimento amoroso que leva a sentir 0 outro em suas caréncias (1 Pe 3.8). b) Benignidade - Qualidade do benigno, bondoso, benévolo - nado maligno (S1 103. 17-18). c) Humildade - Qualidade do humilde, simples, singelo (Mq 6 .8; Mt 5. 3). d) Mansidao - Qualidade do manso, brando, pacifico (Mt 5.5 ; 1Pe 3:4) 180 III - ROUPAGENS DAS ATITUDES (v. 13-17) a) Suportando-vos (GI 6. 1-5) b) Perdoando-vos (Mt 6.14, 15 ; 18.21-35) c) Amando-vos no amor de Cristo (Jo 15.12) d) Vivendo a paz de Cristo (Jo 14.27 ; 16:33) e) Sendo agradecidos (Ef 5.20,21) IV - Conclusao: Revestidos das qualidades e atitudes dos eleitos de Deus, os cristdéos serdo retratos do proprio Cristo, onde vivem e por onde vao, até que Cristo volte. Tema: O EVANGELHO DO REINO DE DEUS Texto: Mateus 4:12-25 I - Introdugao: A obra que Jesus veio fazer no mundo foi restabelecer o reino de Deus nos coragées, interrompido pelo pecado original. Este ¢ o enfoque da expressio Evangelho do Reino. Il - UM REINO DE LUZ (v. 12-17) a) Deus é luz (1Jo 1.5-7; 2:7-11) b) Jesus Cristo é luz (Jo 1.4, 9, 19) C) Os filho do Reino sao luz (Mt 5.14-16) III - UM REINO NO PODER DA VERDADE (v. 23) a) Verdade que ilumina (S1 18.28 ; 34:5) a) Verdade que vivifica (Jo 6.68) c) Verdade que liberta (Jo 8.32 ; 14:6) Homilética — A Eloqiiéncia da Pregacéio 181 IV - O REINO DE DEUS NOS CORAGOES (v. 23) a) Deus conosco (Is 7.10-14 ; Mt 1.23) b) Deus em nos (SI 82.6; 1Co 3.16) c) Deus no mundo (SI 33.12 -22) V -UMREINO DE VIDA SAUDAVEL (v. 23 -25) a) Deum povo unido no Senhor 1Co 1. 10- 17) b) De uma comunidade instruida S] 27.4) c) De uma comunidade curada e liberta (Jr 30.17) ViI—Conclusao: O Evangelho do Reino de Deus fala de Deus reinando em nos, de dentro para fora, transformando -nos em reais filhos de Deus. Fala de Deus reinando na comunidade e no mundo. Tema: JESUS CRISTO - O CAMINHO PARA O PAI Texto: Joao 14.1 -14 1 - Introdugao: Cristo desceu do céu a terra e voltou da terra ao céu, para dar aos homens o caminho a Deus, ao Pai celeste. Il - CAMINHO DE PAZ a) Uma paz que nao se turba (v. 1) b) Uma paz assentada em Deus e no seu filho (v. 1) c) Uma paz assentada nas moradas do Pai (v. 2) d) Uma paz pela presenga do principe da paz (v.3 ; Is 9. 6.7) 182 Il - CAMINHO DO FILHO DE DEUS a) Caminho de Verdade (v. 6) b) Caminho_de Vida (v. 6) c) Caminho para 0 Pai (v. 6-9) IV - CAMINHO E FE a) Fé em Jesus Cristo como filho de Deus, Salvador e Senhor (v. 13,14; Ef 4.13) b) Fé nas obras de Cristo (v. 12) c) Fé e Vida de oragao confiante, buscando a estatura de Cristo (v. 13,14 ; Ef 4.13) V - Conclusao: Os homens tragam muitos caminhos de salvacéo e vida. Jodo aponta um caminho: Jesus Cristo. E por Ele que chegamos ao Pai. Ele nos abriu 0 caminho ao céus. Ele é o mediador da salvagio e nova vida (1Tm 2.5). Ele é 0 mediador da nova Alianga (Hb 12.24). Estejamos com Ele e Ele estara conosco. E isso nos basta. Homilética— A Elogiiéncia da Pregacao 183 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BLACKWOOD, W. Andrew. La Preparacion de Sermones Biblicas, 4 ed. Buenos Aires, Argentina: Casa Bautista de Publicaciones, 1941. 270 p. BROADUS, John A. Arte de Pregar, 2 ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1957. 280 p. BROWN, Colin. Diciondrio Internacional de Teologia do Novo Testamento. Siio Paulo: Vida Nova, 1985- 1997. BUENO, Francisco da Silveira. Grande Dicionario Prosédico-Etimologico da Lingua Portuguesa, | ed. Sao Paulo: Saraiva, 1979. 200 p. CONEICAO, A. A. Introdugdo ao Estudo da Exegese. Rio de Janeiro, CPAD, 1990. 112p. CRANE, James D. El Sermon Eficaz, 3 ed. Buenos Aires, Argentina: Casa Bautista de Publicaciones, 1968. 180 p. FEE, Gordon / STUARTE, Douglas. Entendes o que Lés?. Sao Paulo: Vida Nova, 1991. 330p. GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento Grego. 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