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Miguel Moreira
Secção Autónoma de Matemática
da Escola Superior de Tecnologia
do Instituto Politécnico de Setúbal
3 Funções Complexas 10
3.1 As Funções Polinomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 As Funções Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.3 A Função Exponencial Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.4 As Funções Circulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.5 As Funções Hiperbólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.6 A Função Logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.7 A Função Raı́z Quadrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.8 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4 A C−Derivação 21
4.1 A noção de limite e de continuidade . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.2 A derivação complexa e as suas propriedades . . . . . . . . . . 23
4.3 Funções Holomorfas (ou Analı́ticas) . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.4 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
5 Integração Complexa 29
5.1 A integração em caminhos e algumas propriedades . . . . . . . 29
5.2 O Teorema de Cauchy-Goursart . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5.3 O Teorema Integral de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.4 A Fórmula Integral de Cauchy e a Série de Taylor . . . . . . . 44
5.5 O Teorema Fundamental da Álgebra . . . . . . . . . . . . . . 48
5.6 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
6 Série de Laurent 51
6.1 A noção de singularidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
6.2 A Série de Laurent . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
6.3 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
1
8.3 Aplicações à Electrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
8.4 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
1 Introdução
√
Os chamados números complexos, isto é, os números da forma a + b −1,
em que a, b ∈ IR, surgiram pela primeira vez esboçados formalmente na
“Algebra” de Bombeli em 1572. A sua criação resultou da necessidade de
tornar válida a famosa formula de Cardano1 destinada à resolução algébrica
de equações de terceiro grau em que poderia haver necessidade de efectuar
cálculos com raı́zes quadradas de números negativos.
A construção do conjunto dos números complexos, habitualmente repre-
sentado por C, revelou-se de grande utilidade noutras áreas da ciência. As
transformadas de Laplace, as séries de Fourier e as transformadas de Fourier
constituem alguns exemplos de ferramentas indispensáveis da fı́sica e engen-
haria que nunca se teriam desenvolvido sem o aparecimento deste ramo da
matemática.
Tal como o conjunto dos números inteiros ZZ pode ser considerado uma
extensão do conjunto dos números naturais IN, o conjunto dos números com-
plexos C pode ser considerado igualmente uma extensão do conjunto dos
números reais IR, extensão esta que possui as seguintes propriedades adi-
cionais:
• Todo o elemento
√ de C pode ser representado da forma a + bi em que a
e b ∈ IR e i = −1 (isto é, i é uma solução de x2 + 1 = 0).
Repare-se que o conjunto dos números reais pode ser interpretado como
um subconjunto do conjunto dos números complexos e que no seio deste
último as raı́zes quadradas de números negativos passam a ter significado.
Um facto semelhante a este está na base da construção do conjunto ZZ. Com
1
ou Cardan: médico e matemático de Milão que publicou na sua obra de álgebra Ars
Magna, em 1545 a solução (enunciada anteriormente por Tartaglia) das equações cúbicas
x3 + px = q, x3 = px + q e x3 + q = px, com p e q > 0. De referir que qualquer equação
cúbica pode ser reduzida a uma das equações anteriores com uma adequada mudança de
variável. A solução da segunda equação apresenta a seguinte forma:
3 q q2 p3 3 q q2 p3
x= + − + − −
2 4 27 2 4 27
.
2
efeito os números que constituem soluções de equações do tipo x + n = 0,
n ∈ IN que não tinham significado no seio do conjunto dos números naturais
passam a adquirir sentido no seio do conjunto dos números inteiros.
a = Re z e b = Im z.
i2 = −1,
√
pois como foi referido, i = −1.
Se a cada número complexo z associarmos o par ordenado Z = (a, b) em
que a = Re z e b = Im z, Z diz-se a imagem de z e z pode designar-se por
afixo de Z. Nesta última representação os números complexos são pontos do
plano de Argand. Neste plano as imagens dos números reais estão associadas
ao eixo dos xx e e as imagens dos números imaginários puros ao eixo dos yy.
y 2 + 3i
.
4
− 4 + 2i
. 2
x
-4 -2 0 2 4
. -2 .
− 2 − 2i 4 − 2i
-4
3
Dois números complexos são iguais se e só se as suas partes reais e imagi-
nárias também forem iguais.
Sejam z = a + bi e w = c + di números complexos. As operações de
adição, subtracção, de multiplicação e divisão (caso w = 0), definem-se da
seguinte forma:
1. z + w = (a + c) + (b + d) i,
2. z − w = (a − c) + (b − d) i,
3. z × w = (a + bi) × (c + di) = ac + adi + bci + bdi2 =
= (ac − bd) + (bc + ad) i,
(a+bi) (c−di)
4. z
w
= (c+di)
× (c−di)
=
a −b
1. Basta mostrar que a2 +b 2 , a2 +b2 × (a, b) = (1, 0). Porquê?
2. Assim,
a −b
, × (a, b) =
a2 + b2 a2 + b2
a −b a −b
= ×a− 2 × b, 2 ×b+ 2 × a = (1, 0).
a2 + b2 a + b2 a + b2 a + b2
2
Um grupo abeliano designa um conjunto munido de uma operação binária associativa
e comutativa relativamente à qual existe elemento neutro e em que todo o elemento possui
simétrico.
4
Definio 5 Chama-se módulo ou valor absoluto ou norma do número
complexo z = a + bi à distância ρ de Z = (a, b) √à origem do plano de
Argand, isto é à norma Euclidiana de Z: |z| ≡ ρ = a2 + b2 = ||Z||.
5
No cálculo dos parâmetros anteriores a representação gráfica no plano de
Argand dos números complexos facilita a determinação dos argumentos.
Como se pode verificar o módulo e o argumento de um número complexo
não são mais do que as coordenadas polares da sua imagem:
√
Proposio 10 Sejam z = a + bi, θ = arg z e ρ = |z| = a2 + b2 . Então
a = ρ cos θ, b = ρ sen θ e z = ρ cis θ em que cis θ = cos θ + i sen θ.
z = ρ cis θ,
√
em que θ = arg z e ρ = |z| = a2 + b2 .
Observe-se que um número complexo fica completamente determinado
fixando um número real positivo ρ e um argumento θ. Assim, alguns autores
utilizam a notação de Steinmetz para os números complexos: z = ρ θ.
Naturalmente dois números complexos representados na forma trigono-
métrica são iguais quando os seus módulos são iguais e quando os seus ar-
gumentos diferem entre si de um múltipo de 2π. A proposição seguinte
formaliza este resultado.
z1 = z2 ⇔ ρ1 = ρ2 ∧ θ1 = θ2 + 2kπ, k ∈ ZZ.
Dem. Exercı́cio.
Chama-se conjugado do número complexo, z = a+bi o número complexo
z = a − bi. Geometricamente a operação de conjugação traduz-se no plano
de Argand pela reflexão de z relativamente ao eixo real xx.
2. z + w = z + w e z × w = z × w;
3. z = z sse z é real;
4. z = z;
6
y
.z = 2 + 3i
4
x
-4 -2 0 0 2 4
.
-2
-4
z = 2 − 3i
Figura 2: Um complexo e o seu conjugado
√
5. |z| ≡ zz;
Dem. Exercı́cio.
Certas operações algébricas entre números complexos realizam-se e inter-
pretam-se mais facilmente quando estes se encontram representados na forma
trigonométrica:
1. z1 × z2 = ρ1 ρ2 cis(θ1 + θ2 );
2. z1
z2
= ρ1
ρ2
cis(θ1 − θ2 ), z2 = 0;
3. z2−1 = 1
ρ2
cis (−θ2 ), z2 = 0.
Dem. Exercı́cio.
Considerando o resultado anterior verifica-se que o produto de dois números
complexos é um novo número complexo cujo módulo é o produto dos módulos
destes e o argumento a soma dos seus argumentos. A interpretação geométrica
no plano de Argand desta operação bem como das operações de inversão e
divisão de números complexos é útil e sugestiva.
z n = ρn cis(nθ), n ∈ IN.
7
Dem. Basta ter em conta a proposição 14 e aplicar o Princı́pio de Indução
Matemática3 .
A fórmula de De Moivre generaliza-se facilmente às potências de expoente
negativo de números complexos.
8
Definio 19 Seja z = ρ cis θ = 0, p ∈ ZZ e q ∈ IN. Então
p √ p p p
z = ( z) = ρ cis (θ + 2kπ) , k ∈ ZZ.
q q q
q
p
Desta definição resulta que se for uma fracção irredutı́vel obtêm-se
q
p √
exactamente
√ q determinações da potência z q . Nesta última
√ situação
√ ( q z)p =
q
z q . No entanto, se pq for redutı́vel tem-se em geral ( q z)p = q z q . Estes
factos aconselham alguma precaução ao trabalhar com potências racionais
de números complexos.
√ √
Exemplo 20 Consideremos por exemplo as expressões ( 6 z)4 e z 4 , z = 0.
6
4 2 √
A primeira não é mais do que z 6 = z 3 = ( 6 z)2 que tem três diferentes
determinações. A segunda apresenta seis determinaçoes diferentes.
4 √
Exemplo 21 Suponha z = cis π2 . Calcule z 2 (= z 2 ) e z 4 .
4
1. z 2 (= z 2 ) = cis(2 × π2 ) = cis π = −1;
√
√
2. z 4 = cis( π2 )4 = cis(2π) = 1 = ±1.
9
Exerccio 25 Represente no plano de Argand os números complexos 2 − 2i,
3 + 8i e −4 − 4i e, em seguida, escreva-os na forma trigonométrica.
Exerccio 28 Calcule:
3 Funções Complexas
Definio 32 As funções complexas de variável complexa são correspondências
f : D ⊆ C → C, tais que a cada elemento z ∈ D corresponde um e um só
elemento w = f (z) ∈ C. O conjunto D diz-se o domı́nio de f e o conjunto
f (D) = {w ∈ C : w = f (z) , z ∈ D} designa-se por contradomı́nio de f.
10
No ponto anterior estudaram-se algumas funções complexas de variável
complexa, nomeadamente a operação de conjugação e a função potência de
um número complexo. No entanto nem todas as operações estudadas ante-
riormente podem ser sempre consideradas funções. Para que tal aconteça
torna-se frequentemente necessário restringir o domı́nio de variação da ope-
ração√considerada de forma a assegurar a unicidade desejada. A√operação,
z → z, poderá ser considerada uma função se, por exemplo, arg z ∈ [0, π[.
Tal facto não é novidade e corresponde à generalização de um idêntico pro-√
cedimento adoptado na construção
√ da função real de variável real x → + x
a partir da operação x → ± x.
As funções complexas de variável complexa podem ser interpretadas como
campos vectoriais de IR2 em IR2 . Com efeito, a função w = f (z), em que
z = x + yi e w = u + vi, pode ser escrita na forma
f (z) = a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n ,
a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n = 0,
11
em que a1, a2 , . . . , an ∈ C, an = 0 e n ∈ IN tem n soluções (ou zeros) em C
(distintas ou não). Se z1 , z2 , . . . , zn forem as ditas soluções então,
a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n = an (z − z1 )(z − z2 ) . . . (z − zn )
a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n
f (z) = ,
b0 + b1 z + b2 z 2 + · · · + bm z m
em que a1, a2 , . . . , an , b1, b2 , . . . , bm ∈ C, n, m ∈ IN, diz-se uma função racional.
1. ∀z, w ∈ C, ez+w = ez ew .
1
2. ∀z ∈ C, ez = 0 e e−z = ez
.
12
4. (Forma exponencial) Suponha-se que z = ρ cis θ. Então
z = ρeiθ .
13
4. Expressemos z na forma trigonométrica: z = ρ(cos θ + i sen θ). Do
número 3 desta proposição resulta imediatamente que z = ρeiθ .
6. Exercı́cio.
7. Exercı́cio.
Definio 39 As funções
∞ 2n
n z
cos z = (−1) ,
n=0
(2n)!
∞
z 2n+1
sen z = (−1)n ,
n=0
(2n + 1)!
1. ∀z ∈ C,
eiz = cos z + i sen z.
2. ∀z ∈ C,
eiz + e−iz
cos z =
2
e − e−iz
iz
sen z = .
2i
3. ∀z ∈ C,
cos2 z + sen2 z = 1.
14
4. ∀z, w ∈ C,
cos(z + w) = cos z cos w − sen z sen w,
sen(z + w) = sen z cos w + sen w cos z.
5. Seja z ∈ C,
eIm z + e− Im z
| cos z| ≤ ≤ e| Im z| ,
2
eIm z + e− Im z
| sen z| ≤ ≤ e| Im z| .
2
Dem.
1. Basta ter em conta as definições 37 e 39.
2. Demonstraremos a primeira das igualdades (a segunda constituirá um
exercı́cio):
eiz + e−iz cos z + i sen z + cos(−z) + i sen(−z)
=
2 2
2 cos z + i sen z − i sen z
= = cos z.
2
3. Exercı́cio.
4. Desenvolvendo e simplificando
eiz + e−iz eiw + e−iw eiz − e−iz eiw − e−iw
× − ×
2 2 2i 2i
conclui-se que cos(z + w) = cos z cos w − sen z sen w. A verificação da
outra igualdade é deixada como exercı́cio.
5. Demonstraremos a primeira das desigualdades. Seja z = x + iy, x e
y ∈ IR,
eiz + e−iz ei(x+yi) + e−i(x+yi)
| cos z| = | |=| |
2 2
e−y+ix + ey−ix e−y |eix | + ey |e−ix |
= | |≤
2 2
e−y + ey e− Im z + eIm z
= = ≤ e| Im z| .
2 2
De notar que recorrendo às funções seno e coseno facilmente poderiamos
definir as funções tangente, contangente, secante e cosecante.
15
3.5 As Funções Hiperbólicas
Definio 41 As funções
∞
z 2n
cosh z = ,
n=0
(2n)!
∞
z 2n+1
senh z = ,
n=0
(2n + 1)!
Proposio 42 Seja z ∈ C:
1. ez = cosh z + senh z;
ez +e−z ez −e−z
2. cosh z = 2
e senh z = 2
;
3. cosh2 z − senh2 z = 1;
6. | senh z| ≤ cosh(Re z) ≤ e| Re z| ;
7. | cosh z| ≤ cosh(Re z) ≤ e| Re z| ;
Dem. Exercı́cio.
Também agora, de forma natural, recorrendo às funções seno e coseno
hiperbólicos poderiamos definir as funções tangente hiperbólica, cotangente
hiperbólica, secante hiperbólica e cosecante hiperbólica.
16
Proposio 44 Supondo z ∈ C\{0}, tem-se
e
arg ew = Im w = arg z + 2kπ, k ∈ ZZ.
Assim, Re w = log |z| e Im w = arg z + 2kπ, k ∈ ZZ, respectivamente da
primeira e segunda expressão, isto é,
As = {w ∈ C : s ≤ Im w < s + 2π} ,
y si + 2 π i y
ew
is x
x
17
habitual fixar um intervalo de variação de arg z + 2kπ (ou Im w), com o
comprimento de 2π, defindo assim um ramo do logaritmo exponencial
complexo.
Seja então z = 0 e w = log z tal que Im w ∈ [s, s + 2π[, s ∈ IR, isto é,
Definio 45 1. Seja z ∈ C, z = 0,
2. A função,
18
o que mostra que esta operação não pode ser considerada uma função sem
se proceder à definição (escolha) prévia de um ramo apropriado. Fazendo,
por exemplo, θ igual ao argumento principal de z, isto é, impondo arg z ∈
[−π, π[ podemos determinar um ramo √ da raı́zquadrada
complexa de z
√
(que já é uma função), definindo, z = ρ cis 2θ . Na fig. 4 representa-se
graficamente esta função.
z
y y
x x
Definio 47 A função,
√ (log z)
z=e 2 ,
associada a um ramo determinado do logaritmo exponencial complexo, diz-se
um ramo da raı́z quadrada complexa.
19
1
0.5
-0.5
-1
1
0.5 1
0.5
0
0
-0.5
-0.5
-1 -1
20
Exerccio 52 Mostre que a função cosh z é par e a função senh z é ı́mpar.
4 A C−Derivação
Tal como aconteceu ao estudar funções reais de variável real é possı́vel definir
os conceitos de limite7 , continuidade e derivabilidade de funções complexas
de variável complexa.
21
4.1 A noção de limite e de continuidade
Definio 60 (Limite) Seja f : D ⊆ C → C, e z0 um ponto de acumulação
de D. Então
lim f (z) = w ⇔
z→z0
∀δ > 0, ∃ε > 0 : z ∈ B(z0 , ε) ∩ D ⇒ f (z) ∈ B(w, δ).
Res.
1. Notando que
(Re f (z) − Re w)2 + (Im f (z) − Im w)2 < δ ⇔
(Re f (z) − Re w)2 + (− Im f (z) − (− Im w))2 < δ,
resulta,
f (z) ∈ B(w, δ) ⇔ f (z) ∈ B(w, δ).
Este facto demonstra o que se pretende.
22
Então, para certo ε > 0,
δ δ
|Re f (z) − Re w| < √ ∧ |Im f (z) − Im w| < √
2 2
⇒ (Re f (z) − Re w)2 + (Im f (z) − Im w)2
2 2
δ δ
< √ + √
2 2
⇒ (Re f (z) − Re w) + (Im f (z) − Im w) < δ
2 2
⇒ lim f (z) = w.
z→z0
23
complexo, de diferentes maneiras nas duas dimensões deste. Além disso, se
f (z0 ) existir, então
f (z) − f (z0 ) limx0 +iy→z0 f (x0i(y−y
+iy)−f (z0 )
0)
lim = f (x0 +iy)−f (z0 ) ,
z→z0 z − z0 limx+iy0 →z0 x−x0
24
Proposio 68 Suponha-se que f tem C−derivada em z0 (ponto interior do
domı́nio de f ). Então f é contı́nua em z0 .
Dem. Exercı́cio.
A C−derivação é mais “forte” do que a derivação parcial já que a ex-
istência da primeira implica a diferenciabilidade e a continuidade da função
em causa, factos que não resultam da simples existência de derivadas parciais.
As propriedades e as regras da C−derivação são análogas às correspon-
dentes regras de derivação já conhecidas na análise real. Indicaremos de
seguida algumas destas propriedades.
2. (f × g) = f × g + f × g ;
×g
3. fg = f ×g−f(g)2
, se g(z0 ) = 0.
Dem. Exercı́cio.
1. f (z) = iz 2 + 1;
2. g (z) = z 4 ;
1
3. h (z) = z2
.
dg(f (z))
(z0 ) = g (f (z0 )) × f (z0 ).
dz
25
Dem. Exercı́cio.
1 = (z) = (ew )
⇒ 1 = ew × (log z) = z (log z)
1
⇒ (log z) = .
z
26
Proposio 74 Seja f definida na região D e suponha-se que
f (z) = u(x, y) + iv(x, y)
tem C−derivada num ponto z0 = x0 + iy0 ∈ D. Então verificam-se as
equações de Cauchy-Riemann no ponto (x0 , y0 ), isto é,
ux (x0 , y0 ) = vy (x0 , y0 )
.
uy (x0 , y0 ) = −vx (x0 , y0 )
Reciprocamente se ux , uy , vx e vy existirem, forem contı́nuas e satisfizerem as
condições de Cauchy-Riemann em (x0 , y0 ), então f (z) = u (x, y) + iv (x, y)
tem C−derivada em z0 = x0 + iy0
f (z0 ) = ux (x0 , y0 ) + ivx (x0 , y0 ) .
Dem.
1. Suponha-se que f (z) = u (x, y) + iv (x, y) tem C−derivada num ponto
z0 = x0 + iy0 ∈ D, x, x0 , y e y0 ∈ IR. Então,
f (z0 + x) − f (z0 )
f (z0 ) = lim
x→0 x
= ux (x0 , y0 )+ ivx (x0 , y0 )
e
f (z0 + iy) − f (z0 )
f (z0 ) = lim =
iy→0 iy
= −iuy (x0 , y0 ) + vy (x0 , y0 ) .
Necessariamente, ux = vy e uy = −vx no ponto (x0 , y0 ).
2. Suponha-se agora que ux , uy , vx e vy existem, são contı́nuas e satis-
fazem as condições de Cauchy-Riemann em (x0 , y0 ). As duas primeiras
condições implicam a diferenciabilidade dos campos escalares u e v em
(x0 , y0 ), isto é,
f (z0 + x + iy) − f (z0 )
= u (x0 + x, y0 + y) + iv (x0 + x, y0 + y)
−u (x0 , y0 ) − iv (x0 , y0 )
= u (x0 + x, y0 + y) − u (x0 , y0 )
+i (v (x0 + x, y0 + y) − v (x0 , y0 ))
= ux (x0 , y0 ) x + uy (x0 , y0 ) y + ε1 (x + iy)
+i vx (x0 , y0 ) x + vy (x0 , y0 ) y + ε2 (x + iy) ,
27
||ε1 || ||ε2 ||
com limx+iy→0 ||x+iy|| = limx+iy→0 ||x+iy|| = 0. Finalmente as equações
de Cauchy-Riemann permitem deduzir,
f (z0 + x + iy) − f (z0 )
= ux (x0 , y0 ) x − vx (x0 , y0 ) y + ε1 (x + iy)
+i (vx (x0 , y0 ) x + ux (x0 , y0 ) y + ε2 (x + iy))
= (ux (x0 , y0 ) + ivx (x0 , y0 )) (x + iy)
+ε1 (x + iy) + iε2 (x + iy) .
Dividindo o primeiro e o último membro das equações anteriores por
x + iy e fazendo x + iy convergir para 0, deduz-se imediatamente a
existência do limite
f (z0 ) = ux (x0 , y0 ) + ivx (x0 , y0 ) .
28
4.4 Exercı́cios Propostos
Exerccio 78 Calcule recorrendo à definição as C-derivadas das seguintes
funções:
1. ez ;
2. z n , n ∈ IN.
Exerccio 79 Mostre que a função definida por,
3 3
x −y x3 +y 3
x 2 +y 2 + i x2 +y 2 , z = 0
f (z) =
0, z = 0
satisfaz as condições de Cauchy-Riemann na origem sem que exista f (0).
Exerccio 80 Determine os maiores conjuntos em que as seguintes funções
são holomorfas e calcule as suas C-derivadas:
1. (z + 1)3 ;
2. z + z1 ;
1 10
3. z−1 ;
1
4. (z 3 −1)(z 2 +2)
.
5. Seja z = x + iy tal que x e y ∈ IR. Determine a constante k que torna
holomorfa a função f (z) = ex (cos ky + sen kx) e determine f (z).
5 Integração Complexa
5.1 A integração em caminhos e algumas propriedades
Comecemos por caracterizar formalmente as noções de caminho e de linha.
Definio 81 Seja γ(t) = x(t) + iy(t), a ≤ t ≤ b, em que a, b ∈ IR, x(t)
e y(t) são funções reais. Então, a aplicação γ diz-se um caminho sec-
cionalmente de classe C 1 se x(t), y(t) são contı́nuas em [a, b] e exis-
tir uma sequência a = t0 < t1 < t2 < ... < tn = b, finita tal que x(t),
y(t) ∈ C 1 (]a, t1 [∪...∪]tn−1 , b[) 11 . A imagem de [a, b] por meio da aplicação
γ, isto é, o conjunto
Γ = {γ(t) ∈ C : t ∈ [a, b]},
diz-se uma linha.
11
Relembremos que x(t) ∈ C 1 (]ti , ti+1 [) se x (t) for contı́nua em ]ti , ti+1 [.
29
Nas condições da definição anterior γ (a) e γ (b) dizem-se, respectiva-
mente, a origem e a extremidade do caminho. A linha Γ = {γ(t) ∈ C :
t ∈ [a, b]} diz-se fechada se γ(a) = γ(b). Por convenção, a linha fechada
Γ diz-se orientada positivamente se os seus pontos forem descritos no
sentido anti-horário quando t aumenta. Caso contrário diz-se orientada
negativamente.
De referir que uma linha Γ associada a um caminho γ seccionalmente de
classe C 1 tem continuidade geométrica e a função γ tem derivada contı́nua
com excepção num número finito de pontos.
Repare-se que uma mesma linha Γ pode ser representada (ou parametrizada)
por diferentes funções ou caminhos γ.
30
Intuitivamente, um caminho é simples se a linha que lhe está associada
não se “intercepta”, isto é não tem troços ou secções com pontos comuns.
Consideremos agora o caminho seccionalmente de classe C 1 simples γ (t) =
x (t)+iy (t), a ≤ t ≤ b, cuja linha se encontra contida no domı́nio da seguinte
função complexa contı́nua, f (x, y) = u (x, y)+iv (x, y). O cálculo do integral
de linha de f ao longo do caminho γ pode efectuar-se recorrendo à definição
e às propriedades já conhecidas deste conceito (estudadas anteriormente na
análise vectorial):
f dγ = (u (x, y) + iv (x, y)) dγ
γ
γ
= u (x, y) dγ + i v (x, y) dγ
γ γ
= u (x, y) (dx + idy) + i v (x, y) (dx + idy)
γ γ
b
dx dy
= u (γ (t)) − v (γ (t)) dt
a dt dt
b
dy dx
+i u (γ (t)) + v (γ (t)) dt
a dt dt
b
dx dy
= (u (γ (t)) + iv (γ (t))) +i dt
a dt dt
b
dγ (t)
= f (γ (t)) dt.
a dt
Este facto motiva e justifica a seguinte definição de integral de uma função
complexa ao longo de um caminho.
31
Note-se que a definição anterior é independente da parametrização uti-
lizada, isto é, do caminho escolhido para representar a linha (aliás se assim
não fosse a definição não faria sentido) e justifica o abuso de linguagem que
passaremos a fazer: diremos que uma linha é seccionalmente de classe
C 1 se a sua parametrização, isto é, se o caminho que lhe está associado
for seccionalmente de classe C 1 .
Então,
1
2π 2π
a) Se k = 0, Γ (z−z0 )0
dz = 0
ireit dt = 0
(reit ) dt = 0;
1
2π
b) Se k = 1, resulta Γ (z−z0 )1
dz =i 0
(reit )0 dt = 2πi;
c) Finalmente, para k = 0 e k = 1,
1 2π it 1−k 2π
(eit )2−k
dz = i re dt = ir1−k dt = 0.
Γ (z − z0 )
k i
0 0
32
Dem. Exercı́cio
= F [γ(b)] − F [γ(a)] .
Corolrio 90 Nas condições da proposição anterior se Γ for uma linha fechada
(isto é se γ(a) = γ(b)) e se f tiver primitiva então, Γ f (z)dz = 0.
1. Para vermos que assim é basta observar que f (z) = 1 tem por primitiva
em B a função F (z) = z;
2. Aplicando a proposição 89 resulta imediatamente
1dz = F (γ(b)) − F (γ(a)) = F (w0 ) − F (z0 ) = w0 − z0 .
Γ
33
Definio 93 Seja Γ = {γ(t) ∈ C : t ∈ [a, b]}.Então, −Γ = {γ(a + b − t) ∈ C :
t ∈ [a, b]}.
Proposio 94 Se Γ1 +Γ2 f (z)dz estiver definido então,
f (z)dz = f (z)dz + f (z)dz
Γ1 +Γ2 Γ1 Γ2
Dem. Exercı́cio.
Proposio 95 Se Γ f (z)dz estiver definido então,
f (z)dz = − f (z)dz
Γ −Γ
Dem. Exercı́cio.
Definio 96 Sejam A e B as imagens de dois complexos no plano de Argand.
O segmento de recta dirigido de A para B representa-se por [AB].
Observao 97 De referir uma maneira prática de parametrizar [AB]:
[AB] = {A(1 − t) + Bt ∈ C : t ∈ [0, 1]} .
Exemplo 98 Considere Γ = [OA] + [AB] em que O, A e B sãorespectiva-
mente as imagens de zero, i e 1 + i. Calcule [OA]+[AB] f (z)dz e [OB] f (z)dz
em que f (z) = f (x + iy) = y − x − 3ix2 .
1. Comecemos por parametrizar os caminhos e calcular os parâmetros
necessários:
[OA] = {it ∈ C : t ∈ [0, 1]} , γ 1 (t) = 0 + it, γ 1 (t) = i,
[AB] = {t + i ∈ C : t ∈ [0, 1]} , γ 2 (t) = t + i, γ 2 (t) = 1 e
[OB] = {t + it ∈ C : t ∈ [0, 1]} , γ 3 (t) = t + it, γ 3 (t) = 1 + i.
2. Calculemos o primeiro integral:
f (z)dz =
[OA]+[AB]
= f (z)dz + f (z)dz
[OA] [AB]
1 1
2
= (t − 0 − 3i0 )idt + (1 − t − 3it2 )1dt
0 1 0
1
2
= (ti + 1 − t − 3it )dt = (1 − t + i(t − 3t2 ))dt
0 0
2 1
t2
t 1−i
= t− +i − t3 = .
2 2 0 2
34
3. Calculemos o segundo integral:
1
f (z)dz = (t − t − 3it2 )(1 + i)dt
[OB] 0
1 1
= (−3it2 + 3t2 )dt = −it3 + t3 0 = 1 − i.
0
35
Figura 7: Construção de uma primitiva local
4. Assim, não é dificil verificar com base em (1), (2) e na proposição (87)
que
F (w) − F (z) F (w) − F (z) − (w − z)f (z)
− f (z) = =
w−z w−z
f (ζ)dζ − f (ζ)dζ − f (z) 1dζ
Γ +Γ Γh +Γv
Γh +Γv
= h v =
w−z
f (ζ)dζ + +Γ f (ζ)dζ − Γ +Γ f (ζ)dζ − f (z) Γ +Γ 1dζ
h v
Γ +Γ Γ v h v v
= h h
=
w−z
{f (ζ) − f (z)}dζ δ
{l(Γh ) + l(Γv )}
Γ +Γ
= h v ≤ 2 =
w−z |w − z|
δ
2
{l(Γh ) + l(Γv )}
=
[l(Γh )]2 + [l(Γv )]2
δ
2
{ [l(Γh )] + [l(Γv )] + [l(Γh )]2 + [l(Γv )]2 }
2 2
≤ <δ
2 2
[l(Γh )] + [l(Γv )]
36
Teorema 100 (Cauchy-Goursat) Seja f uma função holomorfa numa região
D. Então qualquer que seja z ∈ D, existe uma bola aberta B(z, ε) ⊆ D, na
qual f tem uma primitiva.
Dem.
Naturalmente, ∂R f (z)dz ≤ 4i=1 ∂Si f (z)dz ≤ 4 ∂Sp f (z)dz , es-
colhendo adequadamente Sp ∈ {S1 , S2 , S3 ,S4 }. Definindo, Sp = R1 ,
resulta
f (z)dz
∂R
1
≤ f (z)dz .
4 ∂R1
37
3. Repetindo o raciocı́nio anterior, proceda-se à construção de uma sucessão
de subrectângulos fechados (sob o ponto de vista topológico), encaixa-
∞
dos e não vazios: R1 ⊃ R2 ⊃ · · · ⊃ Rk ⊃ · · · . Consideremos z0 ∈ Rk
k=1
(o que é possı́vel de acordo com uma generalização natural da pro-
priedade dos intervalos encaixados12 em IR).
4. Necessariamente,
f (z)dz
∂R
≤ f (z)dz , ∀k ∈ IN.
4k
∂Rk
38
O anterior teorema poderia ser mais facilmente demonstrado exigindo
adicionalmente que f fosse contı́nua13 .
O próximo teorema (Teorema Integral de Cauchy) assim como a possi-
bilidade de representar qualquer função holomorfa por uma série
de Taylor.
39
Nestas condições I(s) encontra-se bem definida (porquê?).
4. Por definição,
1
I(s) = G(s, t)dt
0
dγ(t)
com G(s, t) = f ((1 − s)γ(t) + sz0 ) (1 − s) .
dt
De notar que G(s, t) é integrável como função de t para cada s ∈ [0, 1]
e ∂G(s,t)
∂s
é contı́nua em [0, 1] × [0, 1] (porquê?). Estes factos permitem
aplicar a regra de Leibnitz (derivação paramétrica do integral):
1
dI(s) ∂G(s, t)
= dt.
ds 0 ∂s
5. Supondo s = 1, como
∂G(s, t) ∂ f ((1 − s)γ(t) + sz0 ) (1 − s) dγ(t)
dt
=
∂s ∂s
∂ (1 − s) dt dγ(t)
dγ(t)
= −f ((1 − s)γ(t) + sz0 )
dt
dγ(t)
−f ((1 − s)γ(t) + sz0 ) γ(t)(1 − s)
dt
dγ(t)
+f ((1 − s)γ(t) + sz0 ) z0 (1 − s)
dt
dγ(t)
= −f ((1 − s)γ(t) + sz0 )
dt
∂f ((1 − s)γ(t) + sz0 )
− γ(t)
∂t
z0 ∂f ((1 − s)γ(t) + sz0 )
+ ,
(1 − s) ∂t
40
então 1
dI(s) ∂G(s, t)
= dt =
ds 0 ∂s
1
∂ {f ((1 − s)γ(t) + sz0 )}
= −I(s) − γ(t)dt =
0 ∂t
= −I(s) − f ((1 − s)γ(1) + sz0 ) γ(1)+
1
dγ(t)
+f ((1 − s)γ(0) + sz0 ) γ(0) + f ((1 − s)γ(t) + sz0 ) dz =
0 dt
= −I(s) + I(s) = 0.
Este facto garante-nos que dI(s) ds
= 0 em [0, 1[. Como I (s) é contı́nua
neste intervalo, então, é aı́ constante!
Γs B( z , ε )
z. ε
0
0
Γs
Γ D
17
Um conjunto A diz-se limitado se existir um elemento x tal que |y| ≤ |x|, ∀y ∈ A.
Note-se que Γ representa um conjunto.
41
O resultado anterior também é válido no contexto anterior se Γ for uma
linha seccionalmente de classe C 1 :
Dem.
1. Fixemos z0 ∈ D e defina-se F (z) = Γ f (z)dz em Γ é um qualquer
caminho seccionalmente de classe C 1 contido em D e que une z0 a z.
F (z) encontra-se bem definida pois f é contı́nua e o integral de linha
referido não depende do caminho Γ escolhido (corolário 103).
42
|F (w) − F (z) − (w − z)f (z)|
= =
|w − z|
Γ+[zw] f (ξ)dξ − Γ f (ξ)dξ − [zw] f (z)dξ
= =
|w − z|
[zw] f (ξ)dξ − [zw] f (z)dξ
= =
|w − z|
[zw] {f (ξ) − f (z)} dξ δε
= ≤ = δ.
|w − z| ε
1
Exemplo 106 Seja f (z) = z−z , z = 0 e Γ = {γ(t) = z0 + eiθ : θ ∈ [0, 2π]}
0dz 0
uma linha fechada. Calcule Γ z−z0 .
1
Exemplo 107 Seja f (z) = z2
e Γ = {γ(t) = eiθ : θ ∈ [0, 2π]}.Calcule
Γ
f (z)dz.
43
Note-se que o exemplo anterior mostra-nos que Γ f (z)dz pode anular-
se (Γ é uma linha fechada) sem que f seja holomorfa. No entanto se f
for holomorfa numa região simplesmente conexa e se Γ for uma linha fechada
nessa região, então, Γ f (z)dz = 0.
Definio 108 Chama-se ı́ndice n(Γ; z0 ), de uma linha fechada (ou caminho
fechado) Γ (seccionamente de classe C 1 ), em relação ao ponto z0 ∈
/ Γ, ao
seguinte número inteiro:
1 dz
n(Γ; z0 ) =
2πi Γ z − z0
Este conceito traduz o ”número de voltas” que a linha Γ descreve em
torno do ponto z0 . Se as ”voltas” forem descritas no sentido positivo este
ı́ndice é positivo. Caso contrário é negativo. Se o ponto z0 não pertencer
ao interior de alguma região limitada definida pela linha então este ı́ndice é
nulo.
44
3. Seja A o fecho topológico18 de A e M = maxA |g(z)|. Note-se que M
existe pois g é contı́nua (porquê?) e A é fechado e limitado. Então,
|I| = g(z)dz ≤ M × 2πε.
Cε
Dem. Exercı́cio.
Observao 111 O anterior resultado permite concluir que uma função holo-
morfa tem derivadas de qualquer ordem contı́nuas (porquê?).
18
O fecho topológico do conjunto A não é mais do que o “menor” conjunto fechado que
contém A.
45
Proposio 112 Seja f holomorfa numa região que contenha B(z0 , r) e seja
maxz∈B(z0 ,r) |f (z)| ≤ M. Então,
n!M
|f (n) (z0 )| ≤
rn
Dem. Da expressão (3) e da proposição 87 resulta sucessivamente,
(n) n! f (z)
f (z0 ) = dz ≤
2π Γ (z − z0 )n+1
n!M n!M
≤
n+1
× 2πr = n .
2πr r
Apresentamos de seguinda uma versão mais geral da fórmula integral de
Cauchy:
Dem. Omitida.
sempre
∞ que |z − z0 | < ε. Nestas circunstâncias, an = n!1 f (n) (z0 ) e f (z) =
20
n=0 an (z − z0 ) é uniformemente convergente sempre que |z − z0 | < ε.
n
Dem.
46
1 1
∞ z−z0 n
2. Reparando que ζ−z
= ζ−z0 0 ζ−z0
(série geométrica de razão
z−z0
ζ−z0
< 1), deduz-se que
∞ n n
f (ζ) z − z0
∞
f (ζ) f (ζ) z − z0
= = (5)
ζ −z ζ − z0 n=0 ζ − z0 n=0
ζ − z0 ζ − z0
1
f (ζ)
com an = 2πi C (ζ−z0 )n+1
dζ.
deduz-se
f (n) (z0 )
an =
n!
o que conclui a demonstração.
21
Este facto é particularmente importante pois as séries de potências uniformemente
convergentes podem derivar-se e primitivar-se termo a termo no interior do seu cı́rculo de
convergência.
47
Este resultado permite concluir que toda a função holomorfa numa dada
região D pode ser desenvolvida em série de Taylor numa certa viz-
inhança de qualquer ponto z0 ∈ D. Como as funções que podem ser
desenvolvidas em série de Taylor (na vizinhança de qualquer ponto de uma
dada região) também têm derivada (pois toda a série de potências pode ser
derivada termo a termo no interior do seu circulo de convergência) é possı́vel
identificar as funções holomorfas com as funções representáveis por séries de
potências22 . Assim se explica que as funções com C-derivada podem indifer-
entemente ser designadas holomorfas ou analı́ticas.
48
é constante o que é absurdo pois f é um polinómio não constante. Assim,
f (z) = 0, ∀z ∈ C é uma proposição falsa, isto é, f tem pelo menos um zero
em C.
0 = a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n , a1, a2 , . . . , an ∈ C, an = 0, n ∈ IN
a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n = an (z − z1 )(z − z2 ) . . . (z − zn )
49
1. A curva z = 2eiθ , 0 ≤ θ ≤ π (percorrida de 0 para π);
2. A curva z = 2eiθ , −π ≤ θ ≤ 0 (percorrida de 0 para −π);
3. A curva z = 2eiθ , −π ≤ θ ≤ π (percorrida de −π para π).
Exerccio 120 Seja γ(t) = eit , 0 ≤ t ≤ 2π e Γ = {γ(t) ∈ C : t ∈ [0, 2π]}.
Mostre que
z
1. Γ ze5 dz = 2πi
4!
;
1/z
2. Γ ez5 dz = 0.
Exerccio 121 Mostre que
1. log z não é holomorfa no conjunto B = {z ∈ C : |z| < 1};
2. log z é holomorfa no conjunto B = {z ∈ C : |z − 5 − 5i| < 1}.
Exerccio 122 Calcule:
1. Γ z 2 dz em que Γ = eit sen3 t : t ∈ [0, π2 ] ;
2. Γ z sen z 2 dz em que Γ = {eit : t ∈ [0, 2π]} ;
2z 2 −15z+30
2 +32z−32 dz em que Γ = {3e : t ∈ [0, 2π]} , (uma das raı́zes do
it
3. Γ z3 −10z
denominador é z = 2).
Exerccio 123 Demonstre o corolário da fórmula integral de Cauchy 109,
isto é que
(n) n! f (z)
f (z0 ) = dz.
2πi Γ (z − z0 )n+1
Exerccio 124 Efectue a expansão em série de Taylor das seguintes funções
na vizinhança dos pontos indicados:
1
1. ,z
z+2 0
= 4;
2. eaz , z0 = 2i, a ∈ IR;
3. sen(z + i), z0 = −2;
4. ln z, z0 = 2.
Exerccio 125 Recorrendo à decomposição de um polinómio em factores do
primeiro grau, conclua que a multiplicidade (ou ordem) de um zero α de um
polinómio coincide com a ordem da sua primeira derivada que não se anula
em α.
50
6 Série de Laurent
6.1 A noção de singularidade
Comecemos por definir a noção de singularidade isolada.
Definio 126 Seja f uma função que não é holomorfa (ou analı́tica) em z0
mas que o é em todos os pontos de B (z0 , ε) \ {z0 }. Então diz-se que f tem
uma singularidade isolada em z0 .
51
6.2 A Série de Laurent
Teorema 130 Seja f uma função holomorfa na coroa circular {z ∈ C : r1 ≤
|z − z0 | ≤ r2 } definida pelas circunferências C1 = {γ 1 (t) = z0 + r1 eit ∈ C :
t ∈ [0, 2π]} e C2 = {γ 2 (t) = z0 + r2 eit ∈ C : t ∈ [0, 2π]}. Então, para z tal
que r1 < |z − z0 | < r2 , tem-se
+∞
f (z) = an (z − z0 )n ,
−∞
1
f (ζ)
em que an = 2πi C (ζ−z0 )n+1
dζ e C representa uma qualquer circunferência
de
+∞ centro z0 e raio r tal que r1 < r < r2 . Além disso, a série f (z) =
−∞ an (z − z0 ) é uniformente convergente sempre que r1 < |z − z0 | < r2 .
n
Dem.
1 1 1 1
2. Observemos que ζ−z
= (ζ−z0 )−(z−z0 )
= z−z0
× ζ−z0 . Alternativamente
−1
∞ ζ−z0 n
z−z0
1 1 1 1
ζ−z
= (ζ−z0 )−(z−z0 )
= × 1− z−z
ζ−z0 0
. Assim, ζ−z10 = − n=0 z−z0
−1
∞ z−z0 n
ζ−z0 z−z0
1
se ζ ∈ C1 e z−z
1− ζ−z0
= n=0 ζ−z0 se ζ ∈ C2 .
0
∞
1 −n−1
= f (ζ)(ζ − z0 ) dζ × (z − z0 )
n
=
n=0
2πi C1
∞
1 f (ζ) −n−1
= dζ × (z − z0 ) =
n=0
2πi C1 (ζ − z0 )−n
52
∞
1 f (ζ) −n
= dζ × (z − z0 ) =
n=1
2πi C1 (ζ − z0 )1−n
∞
−n 1 f (ζ)
= bn (z − z0 ) , bn = dζ.
n=1
2πi C1 (ζ − z0 )−n+1
4. De forma semelhante,
∞
1 f (ζ) 1 f (ζ)
dζ = dζ × (z − z0 ) =
n
2πi C2 ζ − z n=0
2πi C 2
(ζ − z0 ) n+1
∞
1 f (ζ)
= an (z − z0 ) , an =
n
dζ.
n=0
2πi C2 (ζ − z0 )n+1
5. Resultando,
∞
∞
f (z) = an (z − z0 )n + bn (z − z0 )−n
n=0 n=1
53
Exemplo 133 Construa os desenvolvimentos em série de Laurent em torno
dos pontos indicados das seguintes funções:
1
1. f (z) = z2
em torno de z = 0 e z = 1;
sen z
2. g(z) = z
em torno de z = 0;
Res.
1 ∞ ∞
f (z) = 2 = an (z − 0) +
n
a−n (z − 0)−n =
z n=0 n=1
∞
∞
a−n
= an z n + .
n=0 n=1
zn
Podemos concluir por comparação dos coeficientes que an = 0 se n =
−2 e a−2 = 1, isto é, o desenvolvimento em série de Laurent de f em
torno de z = 0 é f (z) = z12 .
1 ∞
n (n + 1)! (z − 1)
n
f (z) = 2 = f (1) + (−1) =
z n=1
1n+2 n!
∞
=1+ (−1)n (n + 1)(z − 1)n .
n=1
54
1
Exemplo 134 Construa os desenvolvimentos de h(z) = (z−1)(z−2) (em série
de Taylor ou de Laurent) válidos para |z| < 1, 1 < |z| < 2 e |z| > 2.
1. Notemos em primeiro lugar que h se pode escrever
1 1
h(z) = − e que
(z − 2) (z − 1)
1 z n
1 ∞
1 1
=− =− 2 z =− , se |z| < 2 e
(z − 2) (2 − z) (1 − 2 ) 2 n=0 2
1 1 ∞
=− =− z n , se |z| < 1.
(z − 1) (1 − z) n=0
Assim se |z| < 1,
∞
1 z n n
∞ ∞
1
h(z) = − + z = 1 − n+1 z n .
2 n=0 2 n=0 n=0
2
1 ∞ n+1
1 1
= z 1 = se |z| > 1.
(z − 1) 1− z n=0
z
Assim,
−1
2n 1
∞ ∞ ∞
1 1
h(z) = n+1
− n+1
= (2 − 1) n+1 =
n
n+1
− 1 zn.
n=0
z n=0
z n=0
z n=−∞
2
55
6.3 Exercı́cios Propostos
Exerccio 135 Localize e identifique o tipo de singularidade das seguintes
funções complexas:
1. (z + i)2/3 ;
2. tan(1/z);
3. √ 1 ;
z+i+2i
z 2 (z−1)
4. sen2 πx
.
1
Exerccio 136 Desenvolva em série de Laurent a função f (z) = z(z−1)(z−2)
nas seguintes regiões:
56
1
3. ,z
(z−1)(z−2) 0
= 1, z0 = 2;
No primeiro caso Res z12 ; 0 = 0. No segundo caso Res z33 + zπ2 + 1z ; 0 =
1. Para resolver o último caso teremos de desenvolver em série de Lau-
1
rent (z−1)(z−2) na vizinhança de z0 = 1 e z0 = 2. De notar que
1 1 1
h(z) = = − .
(z − 1)(z − 2) (z − 2) (z − 1)
1 1
Notemos que (z−2) é holomorfa numa vizinhança de z0 = 1 e (z−1) é
holomorfa na vizinhança de z0 = 2. Assim o desenvolvimento de h em
série de Laurent na vizinhança de z0 = 1 terá por parte principal apenas
1
o termo − (z−1) e o mesmo desenvolvimento em torno de z0 = 2 terá por
1
parte principal o termo (z−2) . Assim Res(h; 1) = −1 e Res(h; 2) = 1.
57
3. Assim, sabendo que h (z) = 4z 3 , conclui-se que
1 1 1
Res(f ; eπi/4 ) = = e−3πi/4 = e5πi/4 ,
4e3πi/4
4 4
1 1 1
Res(f ; e3πi/4 ) = 9πi/4 = e−9πi/4 = e7πi/4 ,
4e 4 4
1 1 1
Res(f ; e5πi/4 ) = 15πi/4 = e−15πi/4 = eπi/4 ,
4e 4 4
1 1 1
Res(f ; e7πi/4 ) = 21πi/4 = e−21πi/4 = e3πi/4 .
4e 4 4
1
Definio 141 Diz-se que f tem um zero de ordem k em z0 se f
tiver um pólo
de ordem k em z0 .
Proposio 142 Suponha-se que g tem um zero de ordem k em z0 e h tem
g(z)
um zero de ordem k + 1 no mesmo ponto. Então f (z) = h(z) tem um pólo
simples em z0 e
g (k) (z0 )
Res(f ; z0 ) = (k + 1) (k+1) .
h (z0 )
Dem. Exercı́cio.
Refira-se a existência de resultados para calcular expeditamente resı́duos
correspondentes a pólos que não são simples, isto é, que são de ordem superior
a um. Uma discussão sistemática e detalhada destes métodos pode encontrar-
se em [7]. Seguidamente apresentamos uma proposição que nos pode ajudar
a calcular resı́duos associados a este tipo de polos.
Proposio 143 Suponha-se que f tem um pólo de ordem k em z0 . Então
Φ(k−1) (z)
Res (f, z0 ) = lim ,
z→z0 (k − 1)!
em que Φ (z) = (z − z0 )k f (z).
Dem. Exercı́cio.
Teorema 144 (Teorema dos Resı́duos) Seja Γ uma linha seccionalmente de
classe C 1 , simples, fechada, orientada positivamente e contida numa região
D simplesmente conexa onde f é holomorfa excepto num número finito de
pontos singulares isolados, z1 , z2 , . . . , zn , pertencentes ao interior da região
limitada pela linha referida. Então,
n
f (z)dz = 2πi Res(f ; zi )
Γ i=1
58
Dem.
Teorema 145 1. Sejam ri > 0 tais que Bi (zi , ri ) estejam contidas (para
cada 1 ≤ i ≤ n) no interior
n=+∞da região definida por Γ e não se inter-
sectem e sejam f (z) = n=−∞ an (z − zi )n , 0 < |z − zi | < ri (para
cada 1 ≤ i ≤ n) os correspondentes desenvolvimentos de f em série de
Laurent. A escolha de tais ri é possı́vel em virtude do corolário 131 já
que as singularidades referidas são isoladas.
em que Ci = ri eiθ ∈ C : θ ∈ [0, 2π] .
n
Figura 10: Dedução do resultado: Γ
f (z)dz = i=1 Ci
f (z)dz
+∞
= an (z − zi )n dz = 2πia−1 = 2πiRes(f ; zi ).
−∞ Ci
59
4. Assim conclui-se imediatamente,
n
f (z)dz = 2πi Res(f ; zi ).
Γ i=1
P (z)
3. Qualquer uma das anteriores fórmulas é verificada se f (z) = Q(z) em
que P e Q são polinómios de grau n e m, respectivamente, tais que
m − n ≥ 2 e Q não tem raı́zes reais.
60
1. A função integranda
1
f (z) =
x4 + 1
está nas condições da proposição 147 (porquê?).
em que 1
R 2
z + 1z , 2i1 z − 1z
f (z) = .
iz
Dem.
1. Consideremos γ f (z) dz em que γ (θ) = eiθ , 0 ≤ θ ≤ 2π. Do teorema
dos resı́duos sabemos que
f (z) dz = 2πi {resı́duos de f (z) no interior do cı́rculo unitário} .
γ
61
2. Por outro lado, fazendo z = eiθ , deduz-se sucessivamente,
2π 1 iθ
R 2 e + e1iθ , 2i1 eiθ − e1iθ
f (z) dz = iθ
ieiθ dθ
γ 0 ie
2π
= R (cos θ, sin θ) dθ.
0
1. Seja
1
R 2
z + 1z , 2i1 z − 1z
f (z) =
iz
1
= 3
iz a − b 12 z + z1 − c 2i1 z − z1
−8z 2
=
i ((b − ic) z 2 − 2az + b + ic)3
−8z 2
= ,
i (b − ic)3 (z − z1 )3 (z − z2 )3
em que
1
z1 = a + (a − b − c )
2 2 2
(b − ic)
e
1
z2 = a − (a − b − c )
2 2 2
(b − ic)
são pólos de ordem 3. Repare-se que z2 é o único pólo que se localiza
no interior do cı́rculo unitário.
62
Concluı́ndo-se,
+∞
3. 0 x2dx+a2
, a ∈ IR.
63
2 2
Observao 154 O operador ∇2 = ∂x ∂ ∂
2 + ∂y 2 designa-se por Laplaciano (bidi-
2 2 2
mensional). Assim, ∇2 u = ∂x
∂ ∂
2 + ∂y 2 u = ∂∂xu2 + ∂∂yu2 .
2. Calculemos ∇2 u:
∂ 2u ∂ 2u ∂ux ∂uy ∂(2x) ∂(−2y − 1)
∇2 u = 2
+ 2
= + = + = 2 − 2 = 0.
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y
64
Definio 157 Seja f (x, y) = u(x, y) + iv(x, y) uma função holomorfa na
região D. Então u e v dizem-se funções harmónicas conjugadas na região D.
Dem.
65
4. Comparando esta expressão com a equação −2y − 1 = −vx conclui-
se que g(x) = x + K. Assim deduz-se que v(x, y) = 2xy + x é uma
harmónica conjugada de u em C.
∂u ∂v ∂u ∂v
∇u.∇v = + =0
∂x ∂x ∂y ∂y
pelo facto de se verificarem as equações de Cauchy-Riemann já que f = u+iv
é holomorfa.
∂ −→ ∂ −→
Observao 161 O operador ∇ ≡ ∂x
e1 + ∂y e 2 designa-se gradiente. Assim
∇u = ∂u →
−
e 1 + ∂u →
−
e 2.
∂x ∂y
y f :z z 2
y
4
25
3 20
15
2
10
1
5
00 0.5 1 1.5 2
x -4 -2 00 2 4
x
x x
66
Proposio 163 Seja f :A → B holomorfa tal que f (z0 ) = 0 ∀z0 ∈ A, então
f é conforme.
Dem. Seja θ = arg f (z0 ) e r = |f (z0 )| e γ(t) ∈ D de classe C 1 em
t = 0 com γ(0) = z0 , γ (0) = 0 e σ (t) = f (γ(t)). Então, σ (t) = df (γ(t)) dt
=
f (γ(t))γ (t) o que mostra que |σ (0)| = r|γ (0)||σ (0)| = r|γ (0)| e arg σ (0) =
arg (f (γ(0))γ (0)) = arg (γ (0)) + θ (mod 2π).
A resolução de alguns problemas da Engenharia passam pela determinação
de uma função harmónica (desconhecida) que satisfaça certas condições de
fronteira (conhecidas). Repare-se que as funções harmónicas são funções es-
pecialmente regulares cujas curvas de nı́vel24 podem traduzir e representar
muito apropriadamente, como veremos, os conceitos de linha de corrente,
isobárica, isotérmica, linhas de fluxo, linhas equipotenciais, etc.
Definio 164 O problema que consiste em descobrir uma função harmónica
Ψ num conjunto D conhecendo o seu valor em25 ∂D designa-se problema
de Dirichelet O problema que consiste em descobrir uma função harmónica
Ψ num conjunto D conhecendo o valor de26 ∂Ψ
∂n
≡ ∇Ψ.− →
n em ∂D designa-se
problema de Neumann.
Os problemas de Dirichelet e de Neumann podem aparecer combinados:
pretendemos conhecer uma função harmónica Ψ num conjunto D conhecendo
o seu valor em ∂D1 ⊂ ∂D e conhecendo o valor de ∇Ψ.− →n em ∂D\∂D1 .
Em muitas ocasiões o problema de Dirichelet ou Neumann pode ser re-
solvido numa dada região A se conhecermos a sua solução Ψ0 numa dada
região B (região esta normalmente mais simples). Para tal torna-se apenas
necessário conhecer uma transformação holomorfa bijectiva f que transforme
a região A na região B pois a aplicação Ψ(x, y) = Ψ0 (f (x, y)) é harmónica
na região pretendida. O resultado seguinte formaliza esta ideia.
Proposio 165 Seja Ψ0 uma aplicação harmónica da região B que se supõe
simplesmente conexa e seja f : A → B uma função holomorfa na região
A. Então Ψ(x, y) = Ψ0 (f (x, y)) é uma função harmónica na região A.
Dem. Seja Φ0 a harmónica conjugada de Ψ0 em B. A existência de Φ0 é
garantida pela proposição 158. Seja então a função F = Ψ0 + iΦ0 holomorfa
em B. Naturalmente H(x, y) = F (f (x, y)) é holomorfa em A em resultado
da proposição 71. Da proposição 155, como Ψ(x, y) = Re H(x, y) conclui-se
que Ψ é harmónica em A.
24
No caso bidimensional evidentemente.
25
Recorde-se que ∂D representa a fronteira de D.
26 ∂Ψ
∂n representa, no fim de contas, a componente do gradiente espacial de Ψ normal à
fronteira.
67
Observao 166 Na aplicação da anterior metodologia reforça-se a importância
de utilizar uma aplicação holomorfa f bijectiva.
Dem.
68
2. Em segundo lugar se z = x ∈ IR então
Ψ0 (z) = Ψ0 (x) =
1
= Re cn + [(cn−1 − cn ) log(x − xn ) + ... + (c0 − c1 ) log(x − x1 )] =
πi
c0 se x ∈] − ∞, x1 [
c1 se x ∈]x1 , x2 [
...
cn se x ∈]xn , ∞[
log |α| se α > 0 e α ∈ IR
pois, log(α) = log |α| + i arg α = .
log |α| + iπ se α < 0 e α ∈ IR
Observao 169 Repare-se que a solução anteriormente referida é limitada
pois
n
|Ψ0 (z)| ≤ |cn | + |cn−i − cn−i+1 | , ∀z ∈ B.
i=1
69
Admitindo que u e v são funções contı́nuas e com base nas equações 8, 9
e 10 não é difı́cil verificar que Ψ e Φ são funções harmónicas conjugadas, isto
é, f (x, y) = Φ(x, y) + iΨ(x, y) é uma função holomorfa.
As funções f , Φ e Ψ designam-se respectivamente potencial complexo,
função potencial de velocidade e função de corrente.
As curvas Φ(x, y) = K1 e Ψ(x, y) = K2 , como se viu na proposição 160,
são linhas ortogonais entre si em cada ponto.
De notar que as linhas Ψ(x, y) = K1 constituiem as chamadas linhas de
corrente do escoamento, isto é, linhas que em cada ponto tem por vector
→
−
tangente o vector velocidade V = (u(x, y), v(x, y)). Para verificar tal facto
basta observar que a afirmação y = y(x) é uma linha de corrente é
equivalente29 a afirmar que dx dy
= uv , ou seja
udy − vdx = dΨ = 0.
Note-se que esta equação diferencial é satisfeita pela famı́lia de curvas Ψ(x, y) =
K1 facto que confirma a tangência do vector velocidade em cada ponto da
linha de corrente.
Observe-se que se um escoamento for incompressı́vel e irrotacional existem
então duas funções Ψ e Φ que descrevem o campo de velocidades30 e que
satisfazem a equação de Laplace, isto é, ∇2 Ψ = 0 e ∇2 Φ = 0.
70
Refira-se que escolhendo Φ0 (x, y) = αx resulta ∂Φ
∂x
0
= u = α e ∂Φ
∂y
0
=
→
−
v = 0, V = (α, 0), campo de velocidades este compatı́vel com a ge-
ometria do problema transportado para a região B (mais simples).
x
-4 -2 0 2 4
71
e geométricas suficientemente regulares é uma função harmónica cujas curvas
de nı́vel representam as chamadas isotérmicas. A função harmónica conju-
gada de T designa-se normalmente por função de fluxo e representa-se por
Φ. As curvas de nı́vel da função Φ representam as linhas ao longo das quais
a energia é transferida sob a forma de calor.
Naturalmente as curvas de nı́vel da função T e da função Φ são ortogonais
entre si (porquê?).
72
T = 100
y 5
T = 75
T = 50
4
2 T = 25
00 1 2 3 4 5
x
x T = 0
→
− ∂(−v) ∂(−u)
rot E (x, y) = 0 ⇔ − =0 (12)
∂x ∂y
A equação 11 traduz o princı́pio de conservação da carga eléctrica e a equação
12 traduz a irrotacionalidade do campo eléctrico. Este último conceito deter-
mina que seja independente do caminho escolhido o trabalho que é necessário
dispender para transportar uma carga eléctrica de um ponto para outro ponto
na região considerada.
Seguindo um raciocı́nio semelhante ao adoptado na subsecção 8.1 con-
clui-se facilmente que udy − vdx = dΨ e (−v)dy + (−u)dx = dΦ são formas
diferenciais exactas. Este facto assegura-nos a existência dos campos es-
calares harmónicos conjugados Ψ = Ψ(x, y) e Φ = Φ(x, y) tais que
∂Ψ
∂y
= u e ∂Ψ
∂x
= −v
.
∂Φ
∂y
= −v e ∂x = −u
∂Φ
→
−
De notar que −∇Φ(x, y) = E e que além disso o campo eléctrico pode
ser caracterizado recorrendo ao conceito de campo potencial eléctrico
Φ = Φ(x, y) que satisfaz a equação de Laplace na região referida.
As curvas de nı́vel do tipo Φ(x, y) =constante chamam-se linhas equipo-
tenciais. A função harmónica conjugada Ψ do campo potencial eléctrico tem
por curvas de nı́vel as chamadas linhas de fluxo que são linhas ortogonais às
linhas equipotenciais (porquê?). De referir que o campo eléctrico é tangente
em cada ponto à linha de fluxo que passa por esse ponto.
73
y
Φ =1
Φ = 3/ 4
Φ = 1/ 2 x
Φ = 1/ 4
Φ=0
74
4. De notar que as condições de fronteira em A são satisfeitas pois f
transforma a fronteira inferior de B no intervalo ] − ∞, 0[ e a fronteira
superior no intervalo ]0, ∞[.
1. u(x, y) = x + y 2 + 1;
2. u(x, y) = x2 + y 2 ;
y
V
π /4
x
Figura 15: Região de distribuição de velocidades
75
y
T =1
π /4
x
T=0
Figura 16: Região de distribuição de temperaturas
y
φ =1 φ =1
φ=0 x
−π /2 π /2
Figura 17: Região de distribuição do potencial
Referências
[1] Agudo, F. R. Dias, Notas para um curso de funções de variável complexa,
UBI, 1995.
76
[6] Knopp, K., Theory of Functions, Dover, 1945.
[8] Rudin, W., Real and Complex Analysis, Mc Graw Hill, 1966.
77