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Projeto PERGUNTE E RESPONDEREMOS ON-LINE Apostolado Veritatis Splendor com autorizacao de Dom Estévao Tavares Bettencourt, osb (in memoriam) APRESENTACAO DA EDIGAO ON-LINE Diz Séo Pedro que devemos estar preparados para dar a razdo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1Pedro 3,15). Esta_necessidade de _darmos conta da nossa esperanga e da nossa 16 hoje € mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes floséficas—@ religiosas contrérias a 6 cat6lica, Somos assim incitados a procurar consolidar Rossa crenga catdlica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis 0 que neste site Pergunte Responderemos propde aos seus laitores: abordaquesiées da _atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristo a fim de que as dividas se < dissipem e a vivéncia catélica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que so encarrega do respective site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Estevao Bettencourt, OSB NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convénio com d. Estevao Bettencourt @ passamos a disponibilizar nesta area, 0 excelente e sempre atual contatdo da revista teolégico - filosdfica “Pergunte ¢ Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao. ‘Ad. Estévdo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade & zelo pastoral assim demonstrados. exsuntt responderemos SUMARIO “Sou Filha da lgreja!”” Secularidade, Secularizagdo e Secularismo ‘0 Domingo ‘Casais que se Dissolvem Igreja Favorével 20 Aborto? (© Mercado de Drogas PROBLEMAS / QUESTOES ATUAIS ANO XXX - MAIO 1989 - 324 3UNTE E RESPONDEREMOS MALO — 1989 Publicacao mensal No 324 — stor Responssvel: SUMARIO Zstdvio Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a matéria en a sublicada neste periédico “rds yoctbulos densos Steulrdade, Scutine @ Secularismho seve 194 © dia da festa ois EdigSes Lumen Christi Domingo 207 om Gerardo, 40 — 5? andar, $/501 Senora Tac oa abr 22 Gases enteece a Caixa Postal 2568 20001 = Rio de Janeiro ~ AJ Est8.n0 oF: oi Durante Steulos Fwvorbvel 21 etn Cormunicagfo — 0 Mercado de Drogas. 239 ® eamenr BREE NO PROXIMO NUMERO: 325 — Junho — 1989 Os Figis Leigos na Igreja, ~ A declaracdo dos Tedlogos de Coldnia. ~ As Seitas e seu Avanco. — O Linguajar do Cristdo Marxista. ~ "Os Versos Saténicos” COM APROVACAO ECLESIASTICA SINATURA ANUAL: NCz$ 10,00 Pagamento (3 escothal dos Correios do Rio de Janeiro. 1. VALE POSTAL 3 Agincia Cent 2. cHEQUEBANEARIO! > 3. No Banco do Bratil, para crédito na Conta Corrente n° 0031, 3041 em ‘nome do Mosteira de S, Bento'do Rio de Janeiro, pigivel na Agéncia ds Praga Maus (n®-0836), “Sou Filha da Igreja!” (Santa Terese de Avis) © fiet cristo que scompanha a histbria de nossos tempos, pode sentirse incitado a recordar uma famosa exclamacéo de Sta. Teresa de A (71582): "Sou fitha da Iria!” A Santa, que tinha um temperamento 20 metmo tempo, muito feminino, vivia numa épaca diffil: 0 Renascimento disseminava certo naturalismo paglo até em ambiantes cristdos; 0s pastores da Igreja se viam a brapos com a Invasio do mundanis- ‘mo @ a efervescéncia roligicsa protestante na Alemanha, na Suiga e na lnglater ‘em sua juventude, cedeu um tanto & mentalida- de hedonista © mundana de sus épocs; depois, porém, resolveu responder {08 desafios do momento abragando com a méxima fidelidade as normas de jritualidade do Carmelo sintetizadas nas palavras: Oracfo e Penitincia. ‘am meio &s tampestades e contradicées [A grande mestra compreendey, com todos os Santos, que é imposs(vel aderir 2 Deus Pai sem ser fiel a Cristo, que, como Cabera, leva os homens 20 Pai (cf. 1Cor 15,28). Tel convict & to cléssicae t/pica da 16 cristl que ‘no sfeulo I) S, Cipriano, bispo de Cartago (1 258), etcrevia am época ameacada por correntes @ divisdes: "A Espora de Cristo no pode ser adulte- Fada; Ela 6 incorrupta e pura, no conhece mais que uma 56 casa, guarde com casto puder 2 santidade do Gnico Télamo. Ela nos conserva para Deus, entrega ao Reino os filhos que gerou... NAO PODE TER DEUS POR PAI QUEM NAO TENHA A IGREJA POR MAE™ (Sobre a Unidede 2 lgre- ja, cap. 4). Estas dizeros, aos quals muitos outros se poderiam acrescentar, tirados 44a hapiografia, sugerem algo que & fundamental pera o crisiio até as nostos iat: 0 entire filho da Igreja nfo spanae por sor esta uma instituigfo cultural @ beneficente, mas principsimente por ser © Sacramento ou osinal sensivel que nos transmite a vida de Jesus Cristo, fezendo-nos, pelo Batismo 4 Eucaristia,fhos no FILHO, a fim da voltarmos ao Pai. ‘A espiritualidade cristf, bem entendida, sabe ver na lgreja a prolonga- «lo do mistério da Encarnacdo, Este implica, de parte do Verbo, um sssumir ‘ prépria fragilidede humana para fazer dela precisamente o canal do Trans- ceandental ou da vide divina. J 0 Apéstolo obsarvava: “Quanto mais palps- vel é a fraqueza dos homens, tanto mafs so evidencia que é a forca de Deus ‘que age na igre’ (cf. 2Cor 12,9sh, einciaTEcs, EB. 193 PERGUNTE E RESPONDEREMOS” ‘Ano XXX — NO 324 — Maio de 1989 Trds vocdbulos densos: Secularidade, Secularizacao e Secularismo Em sintese: Secularidade significa @ autonomia relative que as léncies humanas possuem 4m relaréo 4 religifo (0 vacSbuto opbe-se 2 curandeiris: no, magia, supersticso, artes que pretendem fazer de religifo @ chave pera resohvar de imedieto problemes ternporeis). Seculerizagéo ¢ 0 tomar secular, ndo sacral, Pode ser sadia (se elimina 1 falsa religisidede supersticiosa), coma pode sar nociva (se elimine 2 pré- ‘pria Religifo); neste caso terse 0 secuisrismo ou a teologia de morte de Deus. A teologia de morte de Deus foi cultiveds na déeade de 1960 por cris. dos que se baseavam sobre duas premissas: uma, de ordem socioligica (0 homem contemporinea jd nfo se interessa por valores religiosos, de modo ‘que Deus Ihe 4 um name morto); outra, de ordem filosbtica (es imagens que ‘em nosss mente formamos de Deus, ficam muito longe de Deus; si0 idoles). Por conseguinte, diciam tals teblogos, 0 cristBo no deve falar de Deus nem dos valores transcendentals. Facasse um Cristianismo ndo religioso ou sem Deus, visando apenas 20 servico do homem, aexemptode Jesus Cristo, que fol "9 homem pera os outros”. Estas ides perderam sue voge na dcada soguinta (1970), pols os ostu- iosos veriticaram que, apssar de tudo, 0 senso reigioso persiste nes homens ‘contempordneos; epenss pode novas expresstes, mals correspondentes bs mu- nicas desiguels; as cantritugas $80 mais poderotes,..; comeca a haver fuptu +, que provavelmente terminard em total desagregagio, a CASAIS QUE SE DISSOLVEM a 1.8.2 Dora Ri do Deixando a metrépole, transferimonot para uma cidade do interior. Dora pertence # uma familia de classe média, na qual o pai foi primeiramen: te humilde agricultor e depois se tornou urn prbspero comerciante, alme {do sampre fubir na escala social o profissional. Dora, educada em Cold religioso, conhece um rapaz chamado Ricardo, formado em Economia. A fa- parece vantajoso para o feressa-se por trabalhar nos ‘a modernizagéo a ampliagS0 negécios do futuro sogro, contribuindo pa daempresa, Realizarse os nipeias. O jovem ¢ intaligonte @ dindmico, bom mar do e bom pai, dando plena satisfacdo ao sogro. Acontace, porém, que Ricar- do visie muito pare a capital, onde abriu um excritdrio a fim de intensificar (8 nepécios. Dora, aos poucos, pergunta a si mesma se tantas ausincias 9 devem unicamente a interesses profissionals; ao haveria outra mulher em foco,... mulher de ntvel social ¢ econdmico mais eevado, mulher mais ser thante Bs coleges de Faculdade que Ricardo conheceu como estudente? Um belo dis, certa amiga intrometida Ihe diz que Ricardo chegou a montar um ‘apartament para essa outra mulher na grande cidade, Dora se cala; continua 2 ter amor por seu marida e vé que ¢ sempre bom pai paras fithos. Mas as ‘auséncias se multiplicam, inclusive para o estrangeiro, Assim a tenséo sobe. Romper-se-é tal casamento? Ponderemcs as forcas que atuam no bindmio Dora-Ricardo. Forgas centeftugas: 2) Talvez nunce tenha havido profunda compreensio mitua entre os ois cBnjuges. € possivel que Ricerdo tenha subconscientemente encarado © casamento como uma fase promissora de sua carrera profissional mais do ‘que como uma doagii de amor. ) A origem social & 2 formacio religioss de Dora diferem das de Ricardo. €) As viagens repetidas, especialmente quando para o estrangeiro, em- bora profissionsimente justificadas, aumentam a tensfo de Dora, mormente ‘tm sau Ultimo perfodo de gravider Forgas centripatas 42) Dora, com 8s filhos @ seis anos de casads, tend naturalmente a re- que ela viu em casa dos pais; estes nunca cogl- 23 32 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” 324/1989 ‘taram de separacio # sjudam a filha, acompanhande-a princi ‘momentos dificis. ) Dora, embora um tento perplexa, continua a amar Ricardo e ser-Ihe fiel; por isto rejeitou 8 sugestio, de uma amiga, de mandar vigiélo durante {a suas andancas pelas grandes cidades, €) Dora 6 profundamente religivsa, Por isto considera a sue tibulago como partitha da Cruz de Cristo a ser carregada generosamente. Conclusto: as forcas centrifuges ¢ as centripetas 880 poderosas no caso. Acontace, porém, que Dora é valiosamente sustentada por sua famélia © sua {6 pessoal. Do seu lado, Ricardo no parece pensar em separacdo; ama f filhos e ndo dessja dissolver o lar. € de crer entdo que 0 casal rosard, Estes dois casos, que s50 espetho fiel de carta faixa do realidade, ajus dam a compreender 0 problema da estabilidade do casamento; vé-se quanto 6 complexe pelo fato de que muitas variantes nele entram. Examinemos agora mais precisamente quais tejam os fatores que, em rnossos dias, mais ameacam desagregar os lares (forcas centrifugas). 3. As causas hoje mais detetérias Apont mos of oita seguintes fatores, 3.1. As mudongas topogréticas Outrora os casais novos permaneciam na érbita dos respectivos genito- res, de modo que os avds podiam transmitir 20s netos o patrimanio humano. moral ¢ religioso caracter‘stico de suas tradicties. Podia-se falar de "familias patriarcsis”, das quals aestabilidade era uma nota clésic Em nossos dias, sfo muitas as ofertas de emprego @ iniciatives que le- ‘vam 06 cassis novos a procurar em outras regiBes oportunidades mais vanta- Joses para se realizar econémica ou profistionalmente. Essas migragéas con- tribuam para que os jovens percam a identidade de suas tradigbes; nas gr ddos cidades existe masificacto; 08 atrativos @ as necessidades provocam dis pparsfo dos cfnjuges e dos filhos — 0 que gora instabilidade ameacas de de- sagroqacto. 224 CASAIS QUE SE DISSOLVEM 3 3.2 A mentalidade da mudanga ‘As mudangas de domic‘lio, justficadas como sio, vém a ser apenat ‘um aspacto de fendmeno mais amplo, que afeta a sociedade eo mundo, re- percutindo na estabilidade do catamento, Seja lembrado 0 consumismo acelerado, que incita os cidadéos a com- par e vender sempre mais e melhor. A publicidade se encarrega de suscitar 105 desejos ou 2s necessidades de adquirir novos aparelhos, novas pegas de roupa, novas comodidades... Comprar 0 dltimo e 0 mais funcional modelo ‘vem a ser um projeto que afets a economia de uma famlis modests, (Ora esse aff pode solapar também os valores morsis, como ¢, por ‘exemplo, 0 amor fiel. Quando ola) consorte vai envelhecendo e se desgesta, pode sugerir atentaco de troeé.lala) por outrola) 3.3. Arecuta do permanente (© homem moderno tem aversdo a instituicdes e normas permanente, Existe medo do futuro, tido como incerto; dav também a recusa de compro: missos vitalicios. Este fetor produz ndo somente nial, mas também a propasta de “casamento provis6 fenquanto for conveniente". O liverdade humans sua capacidade t(pica de fazer novas e noves opcBas Mois: hd quer diga que tudo evolui nfo £6 no mundo fitico, mas tam: bbém no plano ético: 0 que hoje & verdade, amanhi poderd ser falso; 0 que hhoje ¢ moralmenta bom, amanhé seré mau, como diz a filosofia existen- cialista, 34, Os meio comunieaedo social E not6rio o poder de influencia dos meios de comunicagdo social es- pecialmente da televisdo. Esta, particularmenta, cria hAbitos e dependéncia, lespectedor nfo se defende se no possui um senso ertico temente, sem @ funpfo critica; sim, umasentonéa,limitada, po- dos quais 0 ter consciéncia disto, uma atitude pass ‘ap6s uma novela ou um filme, muitos emit ‘ou molesto”; 08 aspectos educativos « moras... escapam a esse julgamanto. (Ora as imagens ¢ os enredos colhidos na televisio so geralmente mais vivazes @ penetrantes do que os da escola e da familia; $80 absorvidos sem 225 34 ‘PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 324/1989 flexo nem juizo erftico e vio construindo a tessitura secreta ou a trame do. modo de pensar da muita gente, especialmente dos que se habituaram &s n0- ‘elas & aos filmes. Assim 0 talevisor ¢ 0 permanente visitante do lar, cuia ‘presence foi até mesmo page © 20 qual as familiares permitem diga coisas ‘que no seriam toleradas da parte de outros vsitantes, Infelizmente os dados fomscidos por tait meios #80, muitas vezes, deletérios: exibem a infidelidade conjugal, 0 adultério, © hedonismo ou a procura do prazer baixo em tugar da ‘endincla nobre ~ 0 que redunda em detrimento do conceito de famfliaestd- vel; 0 telespectador vai-se insensibilizando para os grandes desmandos ou e8- ceandalos, que the véo sendo exibidos como fatot contumados, 20s quais se- ria tolice querer resistir no mundo de hoje. 3.5, Dificuldades econdmicas O fato econbmico pode af extremos da excala sbcio-econémnica, egativamente os cassis que estelam nos [Nas camades mais modestas a pendria ou a falta de bens msteriis, te vvezes de primeira necestidade, excita os nervos dos cdnjuges:.0 marido assu- ‘ma méltiplas oportunidades de trabalher, que no o deixam mais viver com 2 familia; ou um dos ednjuges culpa 0 outro seje de 80 genhar o suficiente, seja de gastar demais. Nos camedas meis ebestades, a riqueza faz que se pense mais em ter do que em ter, justamente a0 contrério do que 0 Paps Joo Paulo It apresen tava ts familias da Espanha, que 0 ouviam em 1982: "A familia & 2 Gnica ‘Comunidade em que todo ser humano ¢ amado por si mesmo, por aquilo que © hdbito de gozar e desfrutar suscita ‘quando necestéria, nenhum dos dois cénjuges ests isposto a aceité-1a para salvar a harmonia do lar. E neste sentido que a vul- ‘osa riqueza pode atuar como elemento desagregador do lar ‘Quanto & classe média, nfo escapa a influéncie do consumismo, que mais valoriza 0 ter do que 0 ser; se ela sucumbe asta filosofia, serd vitima a desagregacso. 3.6. Supersonsibilidade sexual Nip hé davide de que #¥0 sltamente chemativos os apelos & genitalide- de no nosso mundo, onde of murais, os eomerciais, ax bancas de jornais. esto impregnados de erotismo e incutem a idéia de que amor e gonitalidade ro se separam; donde a expresslo “fazer amor". Em consequéncis, a n0- ‘¢lo-de vida conjugal se empobrece, reduzindo-se as suas oxpressbes corporais 226 CASAIS QUE SE DISSOLVEM 38 réticas. Visto que os aspectot corpé-aos do ser humano se desgastam com ‘lativa rapider, desvanecem-s, para muitos, os encantos do matrimdni ‘guardassem a consciéneia de que 0 valor de alguém esta, antas do mais, em suas prandas espirituais © morais (quo, em vez de definhar, podem até o fim dda vida intensificarse), nfo aborreceriam to facilmante o cazamento. 3.7, 0 fator raigios0. A {6 entina que o matrimdnio sacramental é monogimico vel. O elemanto religioso 6 0 fator unitivo mais forte de todos, apto a supe- ‘ar as sadugSes desagregadoras; faz que © amor 20 contorte Sela unido 20. amor a Deus, que € 0 amparo mais sblido possivel para qualquer iniciativa ‘humana I de Deus e suscita a imitagfo de Cristo em sue entrege aos homens, entraga que significa também rendncia; na verdade, no hé amor (exper ‘amor conjugal) que ndo inciua rendncia; esta, exercida ce parte parte, constitu a cheve da solucdo de muitos problemas do cas Sendo assim, pode-se avatar qudo deletéria 6, para um cata, falta de valores religiosos: permite a expansio do egofsmo ¢ leva muita vezes 3 recu- ‘2 de qualquer autoridade, em favor do capricho momentineo dot cBnjuges, Existe hoje uma tendéncia & “privatizagfo do matrimonio", que reje- ta dar satisfaglo tanto 8 lgreja quanto ao Estado @ 3 sociedad, admitindo ‘que homem e mulher contralam e dissotvam 0 vinculo matrimonial segundo seus intoresses possoals. Na verdade, porém, © cesemento nBo inttituicdo. de indole meramente privada, mas’ possui ume dimensfo social que & da competéncia do Estado, quardae intérprete do bem comum; além disto, © casamento de um cristfo catdlico ¢ um sacramento, regulamentado pela \groja em obediéncia ac Evangelho. 3.8, Siléncio e comunicagao Por oltimo, assinale-se, entre as coutas de ruptura do casamento, o si lincio @ a palavra indevidos. 0 siténcio inoportuno ou a falta de comunicaglo ¢ evidentemente de- sagregador, como, als, registra a locugo popular: "Eles no falam um com 9 outro"; “Deixaram do conversar entra si”, O silincio inoportune pode ex- pliear-se por temperamento fechado, absorcSo de cada qual no seu mundo de trabalho, nas suas preocupacdes dentro ou fora de casa, por ressantimen- to ou mégoa... Estas atitudes corroem o amor # a conflanca mitua, fazendo ‘que a vids conjugal deixe de ser uma vida a dois, Requersse, de parte @ parte, 227 36 “PERGUNTE & RESPONDEREMOS™ 324/1989 lum esforco grande para superd-las e mantar no easel © dislogo sincero, que 4, por assim dizer, a respirapso da vida conjugal, (De outro lado, 2s palavras inoportunas sf0 também morttferas para o ‘casal; quando inspiradas pela paixdo, ofandem o interlocutor, expriminda jutzos precipitados unilaterais @ atingindo por vezes 2 farntlia dota) consor- ‘tt, Os grandes contlites comecam verbalmente e terminam em fatos doloro- 08; os brechas abertes nas discussGes vos dilatando, a ponto de tomnar-se agressées fisicas e ruptura total, Pergunta-se agora: 4, E quais silo os remédios? centrifugos do matrimonio is inchsi a tes ho de ser 0 antidoto dos males apontades. Como quer que sej2, vo equi frisados alguns pontos mais impor- tates, $2 do outro le do Cristo), é forea centripeta mais poderota; vem a ser a ralz @ 0 compindio de todos os remédios para manter o matrim@nio, Este "6 paciente, prestativo, nfo procura © préprio interesse, Ifo se irri, nfo guards rancor, tudo desculpa, tudo espera, tudo tuporta”™ (1Cor 13,47). 4.2.0 mundo am mudangas A evoludo & a8 mudancas no mundo de hoje sio fatos incontorniveis, ‘com 0 quais 6 preciso saber conviver sern se deixar afetar negativamente, Os deslocementos geagréficos nio sfo propriamente causas de ruptura do casemento; apenas pudem favoracer © desabrochamento de gérment de detagrogacto jf existente nos dois cBnjuges. Conde #0 vd que estes tam que Str preparados @ esclarecidos antes do catamento para que ssibam sustentar ‘seu nobre ideal ern meio a circunstincias diversas urbanas @ habitacionais, ‘som precisar de “estuta” pars se conservat. Quanto 2 mentalidade das mudancas ou 8 volubitidade de pensamento. ‘© conduta que marca o mundo de hoje, o casal cristfo hd de se convencer de que 228 CASAIS QUE SE DISSOLVEM 37 — existe valores perpnes, que fazem a grandeza do ser humano, na riqueza @ na pobreza, nz saide e na doenca, na alegre na tristeza, Tals 80. 2 fidelidede, a honra, obrio, a lealdade, o senso de responsabilidad, o amor benévolo e altrufsta... Tais valores s80 corroborados pela fd e o senso religio- so naqueles que reconhecem Deus ¢ sus Santa Patavra; = © compromisso definitivo ou vitalfcio, que amedronta a muitos, & algo de grande, pois contribui para emancipar a individuo do egofsmo, da vveleidade e dos caprichos infantis; concorre para tomar a pessoe adult ‘madura. Mas, como se compreende, no mundo voliwel de hoe, é necessério seja essumido apts séria deliberagdo. Precisamente o fracesso de muitos casa- imentos s@ deve 3 precipitardo dos aubentes, E necestério que estes se com- ppenetrem de que casamento nfo é aventura, mse tarefa vital; amar no 6 ‘querer 0 outro construfdo, mas & querer construir @ outro. Esté claro que, mesmo apés razoivel preparagio, o matriménio fica tendo um isco, pois 0 futuro é sempre uma incOgnita, ‘Mas ninguém pode fugit de todo perigo; para erescer, & necessério aceitar certos riscos previa ‘mente ponderados. Guern corre © risco do compromitso matrimonial com, tinceridade, pode estar certo(a) de que a graca de Deus no the fattaré, ‘que, através das vicissitudes inerentes 20 convivie de duas eriaturas fi amt inating(vel; existe [8 grande fel Sol dade de conduta...: tal flicidade ser4 plena na vida péstuma, consumacio de uma caminhada muitas vezes érduae penosa. “Sei em quer acredi Sdo Paulo (2Tm 1,12), carta de que sva fidelida via frustrado, 4.3, Dificuldades econdmicas votismo e paixBes. Mat no sio insuperdveis, O eristfo deve ter.em si 2 soli- ez suficiente para saber manter 05 valores morais mesmo nas grandes tam- ppestades que por fora o ameacam, Toda personalidade bem formada deve ‘razer seu lastro interior, que a defenda dos edversérios exteriores, inclusive essividade dos modelos dos meios de comunicagio social. Tal grandeza spiritual hb de ser entregque pelos pais como heranga preciosa 20s filhos, pa 18.05 quais © exemplo dos genitores é freqUentemente a escola mais marcan- tee influente de toda 2 ua vida, 4.4, Preparagiio sempre melhor pravenir que remediar. Daf a referdncias& prepara ‘¢%0 matrimonial nestas péginas. E parsdoxal o fato de que, para assumic ta- 229 38 ‘PERGUNTE & RESPONDEREMOS” 324/1989 rafas menos vultosss @ delicadas, os jovens tenhom que passer por anos de DpreparacSo, 20 pasto que, para 0 catamento (convivéncia (ntima de duas pessoas), se registra muita leviandade e iresponsabilidade, Esta preparapo no inclui relagBes sexuais, como se fostem o princi pal do casamento, Ao contrério, a abstinéncia pré-matrimonial educa s von- tudo @ a habilita a resistir a seduces que os cOniuges tenham de enfrentar posteriormente. Mesmo que se ajustem sexualmente, dois jovens podem nio tar condipdes de conviver ou de partihar entre si seus interessas sua vida, © emor 6 algo de muito mais amplo do que o exereicio da genitalidade: fasta s6 se enquadra bem dentro de um lar constiturdo estavelmentee ass ‘pto a recaber @ educar novas criatures. Onde no hd a establlidade de expo. 80 @ expose, nfo hi o clima necessério para formar o& pequeninos. © Papa Jofo Paulo II, em sua Exortaefo Aportblice Fanilisris Consor. to, distingue trés momentos principais na preparaedo para o catamento: ) 4 preparasdo remota, que ocorre desde @ inféncia, na escola do lar, Conde pai e mae ensinam a seus filhos os autinticos valores humanos e cris tos; tratese, em grande parte, de formar 0 caréter, incutir-lhe 9 amor 20 brio'e & responsabilidade, para que saiba moderer dignamente as inclinagtes da naturezs b) 2 preparardo préxime, que se realiza na adolescéncia, A catequese {deve contribuir para o discernimanto vocacional dos pupiles « ministrar 20s ‘que sentem o chamado matrimonial, as nagBes nobres « profundas que ct- recterizam esta vocaréo; ) 8 preparagéo imediata, que antecede de perto o sacramento do matt ménio. Geralmente compreende o Curso de Noivos ministrado nas paréquies {que merece todo 0 carinho da parte tanto dos instrutores como dos diset- ppulos; hi de oferecer a ocasido de uma reflexdo concreta e profunds sobre 3 vvida matrimonial, pondo anta os olhos dos futuros nubentes a rosa com ‘s0us espinhos, que simboliza 0 convivio matrimonial. Els olgumas ponderarSes que a deliceda questio da rupture de case smontos sugere & luz da s& razdo 0 da (6, Possa o diseurso ter sus continuids- dda nos coragBes dos intoressados! 230 A Igreja foi Durante Séculos Favoravel ao Aborto? Em sIntese: 4 fgreje sempre foi contriria 90 aborto, ou s8, 20 mort.

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