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| | | | | | | LUGAR COMUM NU, pp. 99215 M Ruinas modernistas Beatriz Jaguaribe Os cartées postais cariocas raramente focalizam edificagdes arquitetOnicas. As fotografias turisticas do Rio de Janeiro reproduzem, sobretudo, os clichés de praias repletas de corpos tostando-se ao sol, a bafa da Guanabara ao amanhecer ou ao pér do sol, os morros verdejantes e, final- mente, as mulatas exuberantes em fantasia de carnaval. Mesmo os postais com a escultura do Cristo fincado no topo do Corcovado amenizam sua sim- bologia sagrada e cultural através do espetéculo da vista panoramica. Consagrado por sua beleza topogréfica, o Rio de Janeiro é, nas palavras da poeta americana Elizabeth Bishop, “um belo cenério para uma cidade”. Leia-se, nesta reticéncia, que a edificacdo factual da urbe nao cor- respondeu, de modo algum, ao seu envoltério natural. Entretanto, no inicio do século XX, os cartées postais do Rio de Janeiro que os turistas nacionais buscavam eram, segundo Gilberto Freyze, aqueles que versavam sobre os progressos da capital. Bondes, monumentos, instalagdes técnicas, eram prenhes da simbologia da modernizagao nacional almejada pelos paroquianos retidos na imensidao de um Brasil pouco explorado.! Como ex-capital, o Rio de Janeiro ja néo simboliza as urgéncias do progresso que 0 caracterizou aos olhos provincianos do inicio do século. Os cartdes postais cariocas investem na fabricagiio de imagens do ex6tico tro- pical, numa abrangéncia que vai desde manifestagdes de cultura popular até demarcagées topogrdficas usuais, Na medida em que a cidade perde importancia polftica e econémica, um actimulo de epftetos revira-se nos redemoinhos dessa crise onde os clichés dos cartes postais que renegam 0 esvaziamento turistico convivem com manchetes que declamam a violéncia, os seqiiestros, o desmando social. UNAS MODERNISTAS. As cidades-capital projetam uma deliberagio simb6lica que ultrapassa © repertério usual das outras cidades. Possuem as marcas da oficialidade hist6rica conferida aos monumentos. Simbolizam, nos seus diversos momentos histéricos, 0 pante&o nacional. Sua vitalidade consistird, entretanto, em plu- ralizar a imagem estdtica do pantefo nacional através de praticas de vivéncia cultural que simbolizem as ordenagGes deliberativas do Estado. Nesta confluéncia de representagdes podemos explorar as camadas de mapeamentos simbélicos do Rio de Janeiro (construgao do MES/ MEC nos anos 30, a invengao de Brasilia nos anos 50) que emblematizaram a diversidade © os conflitos entre representagdes do Estado e experiéncias urbanas. Neste ensaio, busco tematizar como certas representag6es da cidade na literatura e na arquitetura tragaram perfis da modernidade do Rio de Janeiro enquanto capital. Uma modernidade construfda na confluéncia entre herangas multi-culturais e a deliberagdo dos diversos projetos de modernizagao encam- pados pelo estado. Sobretudo, quero sublinhar 0 contraste entre 0 moderno Belle Epoque e o moderno modemista entrevistos desde a perspectiva da mo- demidade contemporaine. Na sucesso de modernidades que se suplementam, ‘© que antes fora a configuragio do novo, torna-se datado. Os cartées postais do progresso ¢ a construgiio emblemética do edificio do MEC, antigo MES, nos anos 30, sio ombreados pelas manchas da temporalidade*, Se a modernidade Belle Epoque desfoca-se como passado distante j4 plenamente antiquado, a modernidade modernista dos anos 30 (construgio do MES/MEC) e 50 (nvengao de Brasilia), nos remete a um passado préximo. Um passado que enfatizou 0 novo como emblema, mas cujas marcas de novidade encontram-se fragmentarias no presente. A imagem central que evoco para capturar a relagdo paradoxal do mod- emo com a histéria, esté contida na montagem do conceito de rufna mo- dernista. A visio de rufnas modernistas tais como 0 prédio do MEC ono cam- pus da UFRJ no Fundao revelam, nos seus destrogos materiais, nao sé a pereci- bilidade arquiteténica como também a evanescéncia de um projeto nacional feito nos parametros totalizantes do panteio modernista. As ruinas dos impérios classicos expressavam a invencibilidade dos tempos ¢ a transitoriedade das construgdes humanas. Revelavam a vontade épica da conquista vitoriosa, derrotada pela ago do tempo e pelas transfor Beatriz Jaguaribe m 101 magoes da histéria? As rufnas modemistas expressam a caducidade do novo. Ao se rebe- . larem contra a agaéo do tempo, manifestam uma recusa frente & morte e uma negagdo da hist6ria: O mundo natural sobrep3e-se ao domfnio histérico na medida em que a vegetacSo amordaca o concreto. Entretanto, a histéria é reafirmada, paradoxalmente, na inevitivel efemeridade das construgées que se sucedem. Ao contrério do mundo épico, com sua ag&o deliberativa sobre a hist6ria, a rufna modernista jaz como fragmento destrogado de um novo,danifi- cado pelo outro novo do presente, que também serd descartdvel. Descartavel enquanto novo mas nao enquanto lembranga histérica. Toda cidade se desdobra, segundo o arquiteto italiano Aldo Rossi, em. varias outras cidades andlogas. As cidades andlogas sdo talhadas pelo vasto Tepert6rio de associacdes compostas pelas memérias coletivas da histéria, pelas ; lembrangas personalizadas do passsado, pelas flutuac&es subjetivas dos transe- untes no meandro urbano.* Diante dos processos de construgdo e desconstrugfio que marcam a pul- sacao da metrépole moderna, Rossi contrapde A experiéncia do estranhamento uma topografia mitica na qual os monumentos contém a promessa de uma meméria coletiva que pode ser ativada pelo arquiteto ou planejador urbano! Entretanto, seu conceito de cidade andloga requebra a armagdo monumental pela fluidez indefinida dos fragmentos que compdem as diversas paisagens histéricas e subjetivas do enredo urbano. Ao rememorar a modernidade datada das arcadas de Paris no século XIX, Walter Benjamin evocou-as através da projecio da imagem dialética. A / imagem dialética, assim como o olhar alegérico, provém de uma justaposigo de sentidos. Uma montagem que desestabiliza interpretagdes miticas na medi- da em que impede sua naturalizagfio por um estranhamento vanguardista que, na compilacao da alegoria moderna, dialoga com uma sedimentagdo histérica. Desta forma, podemos sugerir que as cidades andlogas, de Rossi, seriam cap- turavéis enquanto imagens dialéticas, Os monumentos transformam-se, nesta perspectiva, em projegdes alegéricas onde se dé a interface entre a simbologia do passado e sua atualizagfo no presente. No seu estudo sobre as arcadas, Benjamin buscov vislumbrar a Paris do século XIX como a metéfora da modemidade. As arcadas representavam 0 RUINAS MODERNISTAS palco do consumo, da vendagem da mercadoria como fetiche e como sedugiio publicitéria, Uma sedugo arquitetada sobre os auspicios do novo e da novidade. As memérias da modernidade contém, portanto, um discreto paradoxo. 0 mo- demo projeta-se enquanto novo, atual, contemporaneo. Ao rememorar a mo- dernidade evocamos jd seu envelhecimento e, neste sentido, langamos sobre o nosso instante contemporaneo um olhar perpassado pelos residuos da histéria. Para Walter Benjamin, segundo a bela interpretagdo de Susan Buck -Morss, as arcadas estariam carregadas das relfquias e dos escombros do que antes fora novo.‘ Nelas, os manequins da moda encontram-se petrificados na poeiragem do tempo pretérito. A moda descartavel, museificada na vi- trine do passado, representa a perpetuagdo da imagem do efémero. Por outro lado, as mercadorias do contemporaneo, com seu valor de novidade, ence- nam o inferno capitalista da repetigio que renega sua propria repetividade. A relagiio de negagio e afirmagao da modernidade com seu trajeto hist6rico acarreta, por consequéncia, a justaposig&o de objetos que articulam conceitos temporais opostos. Pela rememoragio, 0 objeto da moda des- cartavel adquire a aura da experiéncia pretérita eo monumento gasto pelo tempo on desfigurado pelos grafites do contempordneo, revela-se perecivel. Na mudanga de ethos hist6rico ¢ na prépria erosao da temporali- dade, os monumentos convertem-se em rufnas. O monumento como ruina, ora ganha uma nova aura simbélica nos préprios estilhagos de sua descons- trugdo ora é refuncionalizado para projetar algo distinto do seu primeiro Propésito arquiteténico. O monumento como rufna transforma-se numa ima- gem dialética no museu imagindrio da cidade andloga. Cariétides de musas com melenas de gesso, portdes de ferro retorcido m contomos org4nicos, vitrais com lirios, cisnes e doiradas donzelas, os orna- mentos Belle Epoque nas cidades latino-americanas nfo s6 repetiam o que Benjamin evocou como sendo a nostalgia do passado na modemizagao do pre- sente, como acrescentavam a recapturagiio do passado o fendmeno da redupli- cago imitativa. Entretanto, espelhando os modelos metropolitanos, as cidades Jatino-americanas do século XIX ¢ inicio do século XX - a Buenos Aires com suas construgées parisienses, a cidade do México no perfodo de Porfirio Dias ou o Rio de Janeiro da Reptiblica Velha - nao puderam obliterar a distingio do espago geogréfico, a sedimentagdo de culturas diversas e a projegio incongru- Beatriz Jaguaribe ente de elementos europeus convivendo com tradigées africanas e ind{genas. A construgéo simbélica das cidades-capital refletia as discrepdncias da mo- dernidade latino-americana posicionada entre o afa imitative do modelo ‘europeu e norte-americano e a diferenciago nacional constituida pela pujanga de elementos ibéricos, africanos e indigenas. Na tarefa de construgao da identidade nacional, durante o século XIX, as flutuac6es valorativas da cidade, ora emblematizada como centro civilizatério ora estigmatizada como fruto do colonialismo parasitario, davam pouca expresso As peculiariedades intrinsecas das metr6poles Jatino-ameri- canas. Especificidade de cidades periféricas que se articulavam culturalmente no embate e na contaminagao de tradigdes transculturais com inovagées modernizadoras. Enredados na armadilha de refletir 0 imitativo urbano ou apegados & tipologia folclorista do legado rural, o pensamento critico sobre a cidade desta- cou-se na area literéria. Machado de Assis, Lima Barreto, Jodo do Rio, entre outros, séo alguns dos nomes centrais que, em momentos distintos e com recur- sos diversos, vio tragar o perfil da capital tropical, do Rio de Janeiro. Mas a sin- gularidade arquitetOnica, a necessidade de forjar uma arquitetura modema e a0 ™mesmo tempo nacional, s6 ser4 viabilizada com o Modernismo de 30. O Mo- demismo, enquanto movimento estético-cultural possibilitou, na sua diversi- dade de representagSes, uma reinvengao transcultural da identidade nacional por meio da absorg4o interna das técnicas de estranhamento e deslocamento cultural das vanguardas internacionais.” E exemplar, neste sentido, a trajetéria de escritores como Alejo Carpentier, Miguel Angel Asturias e Oswald de Andrade, entre outros que, tendo participado e convivido com as vanguardas ¢ a boémia parisiense dos anos 20, voltaram para a América Latina para apreciar, com novos olhos, a cultura local. Se, no parecer de Gilberto Freyre, a elite brasileira do século XIX encontrava-se petrificada em encenagdes de fachadas oficiais “para inglés ver", o dilema da apreciagao européia face ao primitivis- mo latino-americano seré outro mediante a propria absorc&io que as vanguardas européias irao fazer das culturas néo-ocidentais,* O “real-maravilhoso” de Carpentier, assim como a antropofagia de Oswald de Andrade, so o resultado dessas trajetorias de intersegSes que se iniciam na invengdo vanguardista do primitivismo e repercutem na reinvengdo Jatino-americana de modelos de 104 MRUINAS MODERNISTAS absorgio cultural. Frente ao estranhamento surrealista em Paris, Alejo Carpentier con- trapSe as imagens da incongruéncia “real maravilhosa” latino-americana, O “real maravilhoso”, diversamente do maravilhoso surrealista, nao fabrica a montagem do encontro fortuito do“ guarda-chuva e da méquina de costura na mesa de dissecar cadaveres”, nao nos assinala a dispariedade arbitréria requebrando ordenagdes Iégicas, mas nos revela o objeto europeu, sendo apropriado & luz das tradigdes africanas, ou nos aponta as amalgamas mestigas do pensamento europeu sendo americanizado. O busto de Sécrates no jardim tropical como um orix4 dos bosques, a invengao de uma for- taleza-Versailles francesa pelos ex-escravos no Haiti, sdo fragmentos destas. confluéncias alegéricas que inscrevem eventos e artefatos na superposigao de camadas histéricas e de parametros culturais. Face ao absurdo dadaista, & tecnificagao futurista e ao onfrico surrealista, Oswald de Andrade introduz a parédia carnavalesca da antropofagia. A deglutigao do Bispo Sardinha como alegoria da apropriaciio nacional do estrangeiro. Na edificagiio das cidades, entretanto, a moderna arquitetura nao tinha a obrigacao de expressar, diretamente, o caréter nacional no seu sentide trans- cultural. Mas, conforme aponta Otflia Arantes, a auséncia de regionalismos era compensada por uma atitude utopista que ordenava um novo projeto nacional.’ Com construgao de Brasflia, a modemnizagdo urbanistica brasileira suscitou um interesse que ultrapassou as fronteiras nacionais, A atengio internacional delegada & construgdo de Brasilia colocou este imenso pais periférico na vanguarda da edificagao modernista. Internamente, a construgéo da cidade-capital no corag&o desértico do Brasil, emblematizou a utopia de uma modemidade irradiadora da nova fundagiio nacional. Acidade modernista, capital do pais periférico, assinalava as possibili- dades da invengio do moderno fora dos eixos centrais. Sobretudo, a edificagao veloz da cidade no meio da tébula rasa do Planalto Central, simbolizava a assi- natura inaugural de uma histéria nacional que se projetava no novo arquiteté: co. Face as discrepantes realidades brasileiras, as terriveis desigualdades soci- ais e diparidades regionais, a nova cidade de vidro, concreto armado e aco, emergia como a utopia da modernizacao estandardizada ¢ igualitéria. Seu cen- Beatriz Jaguaribe Seu centro monumental, branco e curvilineo, relumbrando, segundo as palavras do préprio Oscar Niemeyer, com “os palicios suspendidos, brancos a aéreos, nas noites infinitas do planalto central”, Uma cidade que parece ter descido dos céus para pousar no planalto central. Uma cidade deliberativa, como o fruto dos partos de inteligéncia que Angel Rama sustentou ter sido a intengao das cidades fundadoras nas Américas". Neste sentido, Brasflia é, verdadeiramente, uma cidade fundadora da modernidade brasileira. Antes da invencdo de Brasflia, o Brasil era governado nos limites do Palacio do Catete, casarao construfdo entre 1858 e 1866 pelo Baro de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. O casario do Palacio do Catete foi arquitetado como um tour-de-force que visava colocar em plena modorra tropical os refi- namentos da cultura européia. O salao dourado com sua reduplicagao diminu- tiva do sallio de espelhos de Versailles, o quarto mourisco com os motivos do Alhambra, os espelhos dourados de Veneza, as escadarias de ferro inglés e os lustres de cristal franceses, negociados pela troca de toneladas de café tropical obtidos com a explorago do trabalho escravo. A conversiio do trabalho escra- ‘vo em refinamento evropeu consagrou o prest{gio da familia patriarcal-urbana do Bardo de Nova Friburgo e emblematizou os sonhos de riqueza de uma sociedade fortemente hierarquizada. O sonho da moderidade Ifmpida e iguali- taria de Brasilia implementado por Juscelino foi arquitetado entre as paredes da arquitetura eclética e ornamental deste casarfio, construido com a riqueza provinda do trabalho escravo, O novo despontando como o sonho da mo- dernidade entre os vestigios do passado. Na década de 30, em pleno Estado Novo, Getiilio Vargas, governando o Brasil a partir do Palacio do Catete, inaugura a construgio de varios edificios monumentais entre os quais se destacam 0 Ministério da Educagao e da Satide, MES (atual MEC) e 0 Ministério da Fazenda. Nessas tentativas arquiteténicas, vé-se a marca da implementagio do novo nao s6 como possiblidade de edificagfio, mas como renegociagfo da histéria brasileira. Um impeto oficial modemista que, aliado a intelligentsia, tratou de reordenar a histéria nacional para renegociar os vestigios do passado que a arquitetura eclética e imitativa do Palacio do Catete protagonizava. Uma Tenegociacao incompleta, na medida em que tanto 0 MES/MEC modernista quanto 0 Ministério da Fazenda e 0 Ministério do Trabalho foram planificados 408 MERUINAS MODERNISTAS: durante o Estado Novo. E significativo que a reinaugurac¢o nacional teha sido deliberada no cenério da cultura ¢ a representagiio da economia e do trabalho tenha sido preservada na construgao dos edificios monumentais de arquitetura eclética. Em contraste com a arquitetura imponente, eclética, monumental e marmérea do Ministério da Fazenda - uma arquitetura reminiscente das cons- trugdes grandiosas da arquitetura fascista italiana - a simbologia do MEC é discreta, obliqua e abstrata. Na interago entre as agéncias do govemo e a intelligentsia mo- dernista, a construgdo do MES, em pleno Estado Novo, antecipou a invengdo de Brasflia no final da década de 50. Sinalizou a apropriagéio da arquitetura modemista como a fundagio simbélica de uma nova projecao do Brasil. O custo destes empreendimentos arquiteténicos mostrava que a invengdo de uma nova viséo da atquitetura teria que ser apoiada por um ethos ideol6gico coop- tavel pelos projetos governamentais. A flexibilidade deste ethos genérico ocor- reu de acordo com o ambiente politico e pode incluir conceitos como modemi- zagio, igualitarismo, desenvolvimentismo e a promogo de valores civicos. Em todos esses empreendimentos, tanto na construgiio do MES durante o Estado Novo quanto no desenvolvimentismo democrdtico de Juscelino Kubitschek, estava em pauta a renegociagdo da hist6ria brasileira, encapsulada pela ressonancia mitica do conceito de modernizacao. A disputa pelo dominio do conceito de modernizagio foi travada em varios setores da intelectualidade modernista em contraponto a formagio mo- derna, no sentido progressista, cientificista e beletrista de outros setores tradi- cionais. A luta pela aceitago dos ideais modernistas no implicou somente na sua progressiva institucionalizagéo mas também em uma contenda com as instituigdes anteriores. Nessa saga, 0 arbitrio do modernismo estrangeiro adi- cionava um elemento de validez e autoridade, fundamental as tentativas de implantagiio do modemismo local. Na disputa pela construg&io do MES, a inte- ragao entre Le Corbusier, Gustavo Capanema e Gettilio Vargas reveiava as ambigtiidades entre poder institucional, modernismo internacional nagdes periféricas. Uma primeira leitura localizaria residuos de reduplicagao colonial na importncia impar consagrada ao arquiteto estrangeiro, como avaliador dos Beatriz Jaguaribe m 107 projetos nacionais-arquitet6nicos. Somente em pafses periféricos um arguiteto estrangeiro poderia penetrar no labirinto intemo do planejamento governamen- tal. E s6mente em paises periféricos relativamente jovens seria possivel criar um novo horizonte histérico, baseado numa mitologia arquitet6nica. Entretanto, a nog&o do moderno centrado na fabricagéio do novo, uma novidade fabricada na Europa, néo era necessariamente sinGnimo de erradicagao do pas- sado, como a encampada pelos partidarios da tabula rasa na versio progressista da arquitetura européia. A modernidade “nova” do MES estava inserida numa ordenagio de prefiguragbes alegéricas. O “novo” modemo deveria reportar-se ao passado para projetar o futuro. © moderno arquiteténico brasileiro deveria abranger uma heranca multi-cultural, no por apropriagées focloristicas mas pela “universalidade” de formas atemporais que evocariam o processo histdrico. A intemacionalidade neutra de fachadas de vidro, brise-soleil e pilotis, seria atenuada pela colocagiio de azulejos tingidos com a mesma nuance de azul das igrejas barrocas, assim como os murais de Portinari, no interior do prédio, ao descreverem os ciclos da cana do dcucar, do café e outros episédios econémicos da histéria brasileira, narrariam uma épica histérica. Lissovsky e Moraes sugerem que uma qualidade indispensdvel do novo estaria alocada nos critérios de durabilidade, monumentalidade e fun- cionalidade”. O critério de funcionalidade seria a base inquestiondvel da arquitetura modernista. Os princfpios de circulagao, higienizagao e comparti- mentalizago flexfvel, que os urbanistas do inicio do século buscaram, pareciam ter encontrado sua cristalizagao ideal na espagosa funcionalidade da arquitetu- ra modemista. As nogées de Le Corbusier da casa enquanto “maquina de morar”, o axioma da “forma seguir a fungao” e a economia minimalista de Mies ‘Van der Rohe, expressa no lema “menos é mais”, também constitufram 0 vocabulério da projego arquiteténica do MES. A questo da durabilidade e da monumentalidade era, porém, mais problematica. Ao contrétio do Ministério da Fazenda, com seu apelo ao ecletismo recheado de referéncias histéricas, materiais nobres ¢ murais fol- cléricos retratando costumes indigenas, no MES, as alusdes 20 passado, nos azulejos e nas pinturas de Portinari, nfo possufam a simbologia da autoridade explicita. Na aus€ncia da estdtua colossal do “homem brasileiro”, encomenda- 408 ml RUINAS MODERNISTAS da por Capanema, as discretas simbologias do MES apontavam seletivamente contra o eclético ao explicitar, pela valorizagiio da meméria barroca, referéncias obliquas ao passado. Como varios pesquisadores jé elucidaram, os modernistas posicionaram-se como os érbitros do passado e do futuro. O passado represen- tado no estilo eclético da Belle Epoque, considerado o méximo da modemidade no inicio do século, configurou-se como o dpice do kitsch em contraposig#io a0 “aut8ntico” barroco e ao novo moderno. Em uma vista ao Rio de Janeiro em 1926, Gilberto Freyre comenta a discrepancia entre a beleza do cenério tropical e os horrendos borrées arquitet6nicos que enfeiavam a moldura natural. Ao visitar a Camara dos Deputados, no centro do Rio de Janeiro, Freyre comentou: “Orlam a frontaria do edificio grupos de escultura. Figuras nacionais. Figuras da hist6ria brasileira. E estas figuras brasileiras, por um critério engragadissimo de har- monia ou de classicismo vestidas 4 romana. E de um relevo de figura de vaude- ville - e 0 assunto ja foi aproveitado em revista teatral - a figura do Coronel Benjamin Constant, com barbicha e pince-nez, de saiote romano, bragos e per nas nuas, a segurar as rédeas do fogoso cavalo do General Deodoro. Este tam- bém, a romana, ergue uma espada do tamanho de uma faca de cozinh. Tudo, enfim, de um ridfcuio incrivel."? Entretanto, esse modelo Belle Epoque foi considerado a ultima voga da modernidade nas reformas urbanjsticas, empreendidas pelo prefeito Pereira Passos, entre 1902 e 1906, Ao forcarem a expulsio dos pobres do centro do Rio de Janeiro, as reformas de Pereira Passos fomentaram as diferengas entre a zona sul, a zona norte e as favelas circundantes. Também estraturaram um cen- tro cosmopolita, desenhado para o tréfego elegante das elites europeizadas. No entanto, esse mesmo espaco do privilégio, enquanto espago piiblico, néo aboliu as possibilidades de permeabilidade social. Grandes avenidas, bares, cafés, Iojinhas, esquinas com seus vendedores ambulantes, fomentavam a vitalidade da rua urbana. Uma fermentagio vital, por onde transitavam pessoas de dife- rentes estratos sociais: imigrantes, trajando ainda, as vezes, roupas de sua origem camponesa, a elite local, empacotada em cashmere inglesa e mulheres negras, bahianas, com as longas saias rendadas ¢ turbantes na cabega. Os escritos de Lima Barreto, Joao do Rio e outros, oferecem-nos imagens de um Rio de Janeiro onde memérias coloniais, etiqueta francesa e ambigdes Beatri2 Jaguaribe m 409 americanas, combinavam-se em um novo tempero tropical. Lima Barreto, critico contundente das estratégias modernizantes e dos edificios ecléticos da reforma Pereira Passos detalhou, em seus escritos, as discrepancias entre © centro, a zona sul ¢ os subiirbios cariocas. O decadentismo estético de Joao do Rio difere muito do realismo denunciador de Lima Barreto. A cidade do Rio de Janeiro, entrevista nas veladas noturnas do dandi fldneur, toma-se uma experiéncia exética-ambigua de fascinio ¢ estranhamento. Casas de 6pio, cultos africanos, seitas misticas, pobreza e prostituigao, luxo e perversidade, ricos e pobres, brancos e negros, fazem todos parte do cenério vibrante e decadente da nova babilénia tropical. A pulsagao da vida de rua, no Rio de Janeiro, estava fortemente atre- Jada & ocupagiio dos espagos puiblicos por meio de priticas de socializagao e de costumes africanos e europeus. Apesar da fachada europeizante ¢ das intervengées policiais, os cultos africanos e a miisica afro-brasileira mar- caram forte presenga na cidade Belle Epoque. Nos anos 30 e 40, a variagao multicultural da rua carioca foi atenuada por elementos mais europeus. Porém, foi na interseg&o deste cenario, composto por edificios afrancesados de estilo eclético, igrejas barrocas, edificios de escritério modernistas e, sobretudo, nas ruas arruinadas dos sobrados com seus balcGes de ferro retor- cido, que as primeiras melodias do samba ressoaram.'* Sera a favor da preservacaio da ambientagfo de rua que Gilberto Freyre argumentaré contra modelos de urbanizagio que, ao privilegiarem o automével, condenavam ao esmorecimento as nuances pedestres da arte de flanar. A obliteragao da rua, um elemento essencial do desenho urbano de Le Corbusier, realizar-se-ia em Brasilia pelo planejamento urbano de Liicio Costa e por meio da compartimentalizacio funcionalista das superquadras, interconectadas por avenidas de asfalto. Embora 0 MES tivesse sido construfdo durante o regime autoritétio do Estado Novo ¢ Brasilia tivesse surgido no periodo democratico de Juscelino Kubitschek, a cidade mo- dernista pode, posteriormente, ser encarcerada por apropriagdes simbélicas autoritérias, uma vez que seu desenho emblematizava a capital politica e a marca do Estado, Interpretado por seus idealizadores modernistas como um. monumento da inteligéncia esclarecida contra 0 obscurantismo e batizado por Roquette Pinto como o Palacio de Cristal da Guanabara, o edificio do 140 MRUINAS MODERNISTAS MES niio teve, pela transparéncia de sua arquitetura, como nao refletir e dialogar com os resfduos de outros estilos arquitet6nicos e as imagens con- trastantes da urbe. Segundo Lissovsky e Moraes, 0 ponto de maior vunerabilidade do prédio do MES foi sua precdria durabilidade. A abundancia de vidros, a fragilidade dos pilotis, os vaos abertos que poderiam ser apropriados por mendigos ou pelos exclufdos da metrépole, depunham contra uma erquite- tura que tinha por base os prinofpios da funcionalidade. Tais objegées foram descartadas pela conexdo proposta entre essas inovagdes e os exemplos da arquitetura classica. Dessa maneira, por meio de analogias atemporais, os pilotis modernos ganharam a eternizagao das colunas gregas na antiguidade classica, No perfodo em que o MES estava sendo projetado, outro grendioso Pprojeto modernista estava também sendo germinado. A Universidade do Brasil, atual UFRJ, requeria um novo campus académico ¢ novas instalagdes arquitetonicas. Conforme a documentagio de Lissovsky e Moraes, a influéncia de Le Corbusier somente se fez sentir apés a derrocada do reno- mado arquiteto italiano, Marcello Piacentini, responsdvel pela concepgao dos novos ediffcios da universidade de Roma. Era admirado pelo regime fascista, por sua habilidade em fabricar novos ediffcios com os emblemas aurdticos do monumental classico. Piacentini e Le Corbusier nao represen- tavam apenas diferentes modeios arquiteténicos mas, também, projetos sociais distintos. A contenda européia entre 0 internacionalismo modernista arquiteténico e as rememoragées modernistas dos Estados autoritdrios tepercutiria plenamente no Estado Novo autoritério e nacionalista de Getulio Vargas. Na Alemanha, 0 arquiteto favorito de Hitler, Albert Speer, enfatizava a nogao de que as construgdes deveriam antecipar seus proprios futuros perfis arruinados. As rufnas nazistas, portanto, poderiam inspirar pensamentos heréicos para os milénios futuros.'* A arquitetura modernista progressista estava bem menos voltada para 0 passado monumentalizado e menos orientada para a projegao de sua futura monumentalizagao. O monumento modernista designava, primordial- mente, 0 futuro jé antecipado na modernidade inaugural do seu desenho. O “novo” esquivava-se da temporalidade histérica, rebelava-se contra seu i Beatriz. Jaguaribe mi 111 inevitavel envelhecimento, nfo suportava ver-se como ruina ¢ nfo almejava inspirar “pensamentos herGicos”, como no nazismo ou no fascismo. A histéria era um devir progressivo que o {mpeto modernista deveria sempre antecipar. Até 0 MES brasileiro, apesar da sua conexfo ténue com o passado, era um edificio que deveria manter a apar€ncia de ter sido diariamente inau- gurado. O tempo nao deveria contar no espaco congelado do futuro. Mas a solugao arquitet6nica modernista, como muitas invengdes modernistas, era pautada pela avaliagio do “novo”. Um dos fatores irreversiveis do “novo” era que um outro novo “novo” deveria suplantar sempre 0 outro velho novo. Como monumento a criago do “novo”, a arquitetura modernista teria que, miticamente, imobilizar-se no novo eterno que escaparia aos estragos do tempo. Destrogos de gesso, placas quebrados de brise-soleil, azulejos descascados e crescimento de ervas daninhas, sao parte do repertério dos sinais de decadéncia que agora encobrem 0 MEC, antes o simbolo privile- giado da arquitetura modernista no Rio de Janeiro. Na outra extremidade da cidade, o campus modernista do Fundio - um projeto des anos 30, mas efetivado nos anos 50 e 70 - oferece um espetéculo desolado. Os edificios modernistas emergem como massas estandardizadas de concreto entre a vegetago amortecida e as pistas de asfalto escaldante. Nas temperaturas de 40 graus, pedestres solitérios Iutam contra o mato e a travessia das pistas. A descentralizag&io das construgdes tora a conglomeragiio e o encontro comunitério problemético; cada depar- tamento vé-se entrincheirado nas suas 4reas especificas de especializacao. O transporte péblico precdrio induz as aglutinagées frenéticas de estudantes buscando meios de escapar do labirinto funcionalista. Nos setores adminis- tativos, funciondrios movem pilhas de papéis de mesa em mesa. Uma tela de computador digita os dias, meses e anos que os papéis gastam em seu deslocamento entre corredores ¢ gavetas do sistema burocrético. A tecnologia registra, com preciso, os descompassos da inépcia administrativa. Ao lado dos obstaéculos de natureza burocratica, colocam-se as barreiras concretas da deterioracgao material. Patios e alas, sufocados no acti- mulo de destrogos, padecem no abrago asfixiante da vegetagdo descontrola- da, Se, na evocagao poética de Walter Benjamin, “as rufnas so no dominio 112 MRUINAS MODERNISTAS das coisas 0 que a alegoria € no dominio do pensamento”, 0 campus desfuncionalizado do Fundao e a decadéncia do antigo MES sio ruinas alegéricas do colapso modernista.'* A recuperagio material destes edificios demonstra o quao urgente é a tarefa da promogao de suas fungdes. Uma fungo moderna, incompativel com o préprio processo de envelhecimento. Entretanto, a visio de ruinas modemistas ou de marcos arquitet6nicos modemistas, significativos no seu momento de construgdo e, atualmente, em estado de dilapidagao, sio fragmentos de um mapeamento simb6lico que inclui as construgSes contemporaneas dos arranha-céus modernistas e pés- modernos dos edificios de alto luxo e dos condominios fechados, .que emblematizam a recente urbanizagao da Barra da Tijuca. Portanto, a rufna modernista nao € aqui interpretada, exclusivamente, enquanto decadéncia fisica dos edificios, mas também como alegoria fraturada de um ethes prévio que nao se realizou ou que se tornou datado. Em contraste irénico, os arranha-céus modernistas e condomfnios exclusivos, construidos de acordo com padrées modemistas derivativos ou citagdes pés-modernas, encontram- se em isolamento rigido defrontando-se e, a0 mesmo tempo, armando-se contra a intrusdéo da cidade empobrecida. Os condominios, em particular, buscam proteger as zonas do consumo privilegiado contra a crescente ameaca das favelas agigantadas. Centrados nos padrées homogéneos do gosto e estilo de vida da “alta” classe média, 0 contato entre os moradores de classe média dos condominios e os setores carentes da cidade é recheado de ambigiiidades. Entre a promessa contida no monumento-ruina mo- dernista e 0 arranha-céu contemporaneo modernista jaz a trajetéria das projegdes arquiteténicos e projetos estatais fracassados que visavam a trans- formacao totalizante e exemplar da sociedade brasileira. Carlo Carena nos esclarece que a apreciagéio do século XVII pela ruina fora primariamente vinculada ao significado dado a uma historia recapturada que tingia em tons melancdlicos o cenério da natureza.”” As ruinas eram especialmente valorizadas quando seus perfis destrocados eram realca- dos pelo contorno da natureza, quando o crescimento vegetal de mato e fo- Thagens atapetavam e abragavam a pedra que fora monumental. A detrocada de épocas passadas era tanto um testemunho do esfor¢o civilizatério de tecer significagbes e da tentativa de depositar a assinatura da cultura na paisagem Beatriz Jaguaribe m 113, natural quanto um signo da impossibilidade de superar as devastagdes do tempo. As ruinas eram tao impregnadas de importancia histérica que a moda de criar ruinas artificiais no meio do jardim inglés “naturalizado” tornou-se altamente valorizada. Carena revela que Delille, um especialista francés, tecera adverténcias contra a tola propensao de aderir modisticamente as rui- nas attificiais e alertava seus leitores que somente possufam verdadeiro valor histérico aquelas rufnas que tinham sido destrogadas pelo tempo. Na terminologia de Walter Bejamin, poderfamos dizer que Delille protestava contra a “desauratizagéo” da rufna por meio da reprodugio artificial que abolia a unicidade de tempo e espago, Em outras palavras, enquanto a rufna hist6rica projetava um sentido do sublime, a rufna artificial era mera parédia. Entretanto, de forma paradoxal, o atual MEC, em particular, reflete, na sua destrui¢go, uma “aura” peculiar expressa na meméria de uma mo- demidade progressista, uma evocagio de uma modernizagao nacional, um testemunho de fracassos utopistas que nos falam de uma era de intelectuais pliblicos, projetos educacionais e imagens totalizantes de um Brasil que nao pudera ser inteiramente encompassado pelo ethos da modernizagio. O edifi- cio modernista em ruinas passa a simbolizar a transitoriedade histérica de sua propria funcionalidade. A plena recuperagao do antigo MES é uma derradeira passagem da sua transigo de monumento modernista a ruina modernista e, finalmente, a emudecido pastiche pés-moderno. Nos meandros subjetivos dos mapeamentos simbdlicos, a ruina modernista pode banhar-se na meia luz nostdlgica das ilusdes pretéritas. Pode ser renovada como souvenir do passado modemista no museu pés- moderno. Pode ser vivenciada na naturalizada neutralidade do edificio de governo que ora é funcional ou disfuncional de acordo com as circunstan- cias econdmicas ou politicas. Pessoalmente, prefiro vé-la a luz dos con- trastes. O edificio funcionalizado projetando sua silhueta contra a cidade descontrolada. Azulejos modernistas ao lado das mercadorias kitsch vendi- das pelos camelés. A utopia moderista e a ruina modernista como o sonho da razio na cidade do caos. 114 Mf RUINAS MODERNISTAS Notas " Ver 05 comentérios de Gilberto Freyre, “‘...espalharam-se pelo Brasil milhares de cartdes - postais: vistas menos do Corcovado ou das matas da Tijuca ou das palmeiras do Jardim Botdnico - maravilhas da natureza antes para inglés ver que para brasileiro admirar... Nesses postais... os provincianos em visita 20 novo Rio mais insistentemente falavam a gente de casa ou aos velhos da familia, era dos progressos urbanos-urbanos ¢ industriais - da agora chamada Capital da Repiiblica....” in Ordem e Progresso, Rio de Janeiro, Editora Record, p. 476. 2 Neste artigo utilizarei alternativamente a denominagio atual do MEC, edificio do Ministério da Cultura ou MES. O atual MEC era conhecido, no tempo de sua construga0, como 0 MES, edificio do Ministério da Educago e Sade. Quando me Tefiro ao tempo histérico de sua construgo, emprego o nome MES. O excelente artigo de Mauricio Lissovsky e Paulo Sérgio Moraes de $4 “O novo em construgéo: © edificio-sede do Ministério da Educagio ¢ Saide ¢ a disputa do espago arquiteturdvel nos anos 30”, Rio de Janeiro, Niter6i, vol. 1, nimero 3, maio/agosto, 1986, pp. 17-31, serviu para a pesquisa de época, como minha fonte principal para a elaboragio deste ensaio. Esse mesmo artigo detaiha, também, os novos planos de construgéo para o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. ‘Ver ainda o artigo de Donato Mello Jr. “Um Campus Universitério para a cidade do Rio de Janeiro”, in Arquitetura Revista, FAU/UFRI, vol. 2, primeiro semestre, 1985. Para uma discuss%o sobre as disputas simbol6gicas ¢ ideolgicas entre 0 modernismo do MES ¢ a simbologia do Ministério da Fazenda, assim como outras construgdes do mesmo perfodo, ver o livro de Lauro Cavalcanti, As preacupacdes do belo, Rio de Janeiro, Editora Taurus. > Para uma discussio sobre o significado das rufnas classicas ver o livro de Laurence Goldstein, Ruins and Empires: The Evolution of a Theme in Augustan and Romantic Literature, Pittsburgh, University of Pittsburgh Press, 1977. * Para o conceito de cidade andloga ver o livro de Aldo Rossi, A Scientific Autobiography, Cambridge, Mass, MIT University Press, 1981. ‘Ver também artigo de Beatriz, Jaguaribe “Os Passos Perdidos: Cidade e Mito” in Revista do Patriménio Histérico Artistico e Nacional, mimero 23, 1994, ‘Ver também o belo artigo de Patrizia Lombardo, “Plaza de Italia”, mimeo. + Para uma discusso sobze 0 conceito do monumento em Alod Rossi, ver David Harvey, A condigdo pés-moderna, Sao Paulo, Edicdes Loyola, 1993, pp. 83 ¢ 84. © 0 livro de Susan Buck Morss, The Dialectics of Seeing: Walter Benjamin and the Arcades Project, Cambridge, Mass, The MIT Press, 1993, oferece uma extra- Beatriz Jaguaribe m 115 ordindria interpretagio do projeto incompleto que Walter Benjamin pretendia realizar sobre as arcadas de Paris. * Para uma discussio sobre o “real maravilhoso” ver Os Passos Perdidos: Cidade e Mito, ibid., p.a. * Ver Gilberto Freyre, Sobrados ¢ Mocambos, Rio de Janeiro, José Olmpio Editora, tomo 2, 1985, p. 392. ° Ver Otilia Arantes, Mdrio Pedrosa: Itinerdrio Critico, Sao Paulo, Editora Scritta, 1991. Esta citagdo foi extrafda do artigo de Helena Bomeny, “Utopias da cidade: as capitais do modernismo”, em O Brasil de JK, CPDOCC, 1991, p. 146. * Ver o livro de Ange] Rama, La ciudad letrada, Hanover, Ediciones del Norte, 1985. " Ibid p.2. © Ver Gilberto Freyre em Tempo de Aprendiz, So Paulo, vol If, 1978, p. 275. “ Ver o livro de Hermano Vianna, O mistério do samba, Rio de Janeiro, Jorge Zahar ¢ Editora da UFRJ, 1995. * Ver Albert Speer, Inside the Third Reich, New York, Macmillan Company, 1970. “ Para uma andlise do conceito de rufna e alegoria ver o livro de Walter Benjamin, The Origens of the German Tragic Drama, Londres, Verso, 1977. "Ver Carlo Carena em Rufna/Restauro, Enciclopédia Einaudi, vol. 1, Lisboa, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1984, ~--Beatriz Jaguaribe € professora da Escola de Comunicacao da UFRJ.

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