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EQUIPAS DE NOSSA SENHORA. A VIRGEM MARIA INTRODUCAO ‘Falar da Virgem Maria, na hora actual, 6 uma empresa arriscada..."E 0 que pensa © Pe, Albert Rouet, capelio de um liceu, e actualmente responsivel pela catequese. Exprimeo com algum humor, no cabecalho de um belo livro que consagra a Virgem ‘Maria e a0 seu lugar na vide cristd de hoje. De facto, 0 tema marial para muitos ji nzo ‘esté na moda. Talvez interfiram nessa “alergia" certas recordacBes desagradaveis de pr tioas numerosas € impostas sem discernimento a nossa juventude, e até mesmo, hoje, certa admirapao exagerada e equivoca por aparigdes ¢ peregrinagdes duma duvidosa autenticidade. Muitos receiam que a devooiio marial, oracdo e imploragio por vezes ueril, distraia das tarefas urgentes a favor da justlca, dos compromissos sociais.. Nem por isso & menos verdade que ess dificuldades, reais, nfo constitwem uma desculpa pa- ra nos calarmos e para evitarmos a pergunta: a verdadeira devo¢ao a Nossa Senhora susceptivel de uma tal caricatura? ‘A resposta apenas pode ser dada, segundo me parece, recorrendo séria e atenta- ‘mente ao Evangelho, e foi nessa perspectiva que estas notas foram redigidas. Que nos diz 4 sagrada Escritura acerca da Virgem Maria? Como no-la mostra? Nao certamente como uma “grande dama”, cheia de privilégios, multiplicando os milagres 3 favor dos seus de- votes. Mas uma “crit”, apatconadamente dedicada ao seu Filho, toda entregue d nossa salvagdo, unida a Jesus nas horas alegres, mas sobretudo no drama da Paixdo: um cora- ‘fo chelo de fé, décil ao Espirito Santo, atento d Palayra de Deus, vivendo na pobreza eno silencio uma vida de dedicagdo e de incansivel caridade. Maria é um modelo, ao mesmo tempo que wm socorro maternal discreto e atento 4s nossas verdadeiras necessidades. O Conctlio Vaticano Il, no belo capitulo com que termina a Constiuipzo sobre a Igreja insistiu sobre trés pontos: Maria sempre em rela: fo a Cristo, Maria modelo das virtudes teologais, Maria discretamente presente ds nos- sas vidas cristas pela vigilancia de um amor que nos insta a sermos fieis ao Evangetho. Estas perspectivas guiardo a nossa leitura dos Evangelhos da Virgen e esperamos que ajudardo os destinatérios destas notas sem pretens0es a compreenderem melhor o mis- tério marial, @ aprofundarem uma “devogdo”, cujo projecto, segundo Paulo V1, “empenhar os cristdos numa vida totalmente conforme @ vontade de Deus" (Exort. Marialis cultus), Muito longe de nos distrair das realidades quotidiaras ~ em que Maria, ‘muito simplesmente, passou a sua propria vida — e de propor uma ficil “evasa0", a de vopdo marial enraiza-se na vida dos casais cristdos, para Ihe levar a caragem sorridente € 4 alegria dos verdadeiros Magnificat. Porque Maria, afinal, apenas nos dird uma coisa: Deus é grande e bom; e, naqueles que nisso consentem, faz grandes cvisas. Henri Holstein, sj. INDICAGOES BIBLIOGRAFICAS ) ois pequenos livros sugestivos, especialmente para os jovens ¢ para aqueles que {querem ultrapasser a piedosa espontaneidade da confianga em Maria, aprendida na in- fancia. Estes dois volumes completam-se e “perfazem-se”: o primeiro pondo em desta- {que 0 mistério marial no mistério cristfo, e o segundo tentando dizer o significado, para a vida crista, das cenas evangélicas de que Maria € o centro: — Albert ROUET: Marie, Ed. du Centurion, coll. Croite et comprendre, 1975. Marie et la vie chrétienne.Desciée de Brower, coll. Croire aujourd” hui, 1978. 2) Estudos exegétivos sobre Maria no Novo Testamento — André FEUILLET: Jésus et sa Mere, segundo os evangelhos da infincia, de S. Lucas, segundo S. Jofo. Gabalda, 1974. — René LAURENTIN: Structure et théologie de Luc 1-2. Gabalda, 1957. = John Me HUGH: La mére de Jésus dans le Nouveau Testament, traduzido do inglés. Ed. du Cerf, coll. Lectio divina, n. 90, 1977. ‘Teés grossos volumes, doutos e cheios de notas eruditas... Mas que permitem, & quem o deseje, informar-se acerca das posigbes de exegetas sérios ¢ informados (€x- cepcionalmente!) sobre os pontos delicados da interpretaggo do Novo Testamento (por ex. & concepgdo virginal). O mais completo e 0 mais metédico € o livro de Mc Hugh, exegeta inglés, que discute longamente (0 livro tem 494 péginas na tradugio francesa) as interpretagbes propostas e justifica as solugSes tradicionas. 3) Bstudos teologicos — Cardeal GM. GARRONE: Marie hier et aujourd’hul Ed. du Centurion, 1977. Come viveram o: eristfos a piedade marial, ¢ como, hoje, 6 precito situar Maria no centro da vida cris. = Mol. NICOLAS: II est né de la vierge Marie. Maria no mistério cristo. Beauchesne. Coll. Doctrine pour le peuple de Dieu, 1969. Exposigfo toldgice que o autor, entdo decano da Faculdade de teologia de Tou louse, se esforga par por ao alcance de crstfos cultos. Preocupagéo de evitar qualquer tecnicidade na expresifo, que no entanto se maritém muito austera! 4) Documentos do Magistério ~ René LAURENTIN: La Vierge au Concile, Lethielleux, 1965. Hist6ria e andlise do cap. VIII da ConstituigZo sobre a Igreja, do Vaticano IL, con- sagrado a Virgem Maria, O texto conciliar (texto latino e traduglo francesa) é reprodu- ido om apéndice, pp. 193-217: podems envontrito at. — Paulo Vi, Exortago apostélica Marialiscultus (2 de Fevereizo de 1974), publicada, ‘com introdugdo do P.e Wenger, sob o titulo: Le eulte maria aujourd hui. Ed. du Centu ton, 1974, 5) As aparigoes mariais — Vraies et fausses apparitions dans IEglise.Lethielleux, 1973. Volume colectivo, reproduzindo as exposigdes criticas e as trocas de pontos de vista de uma sessfo da Sociedade francesa de estudos mariais (Pontmain, Setembro de. 1971) consagrada a0 facto das aparigbes recentes e ao seu “estatuto” na Igreja:informa- ‘980 verificada e juzo teol6gico. O Pe, Boris Bobrinskoy representava, nessa sessio, o- pponto de vista da Igreja ortodoxa. Paris 16 de Junho de 1978 EQUIPAS DE NOSSA SENHORA A ANUNCIACAO Maria — 1 «Serd chamado o Filho do Altissimon (Le. 1,32) 1. A mensagem do anjo Como nos anincios do Antigo Testa mento, Deus transmite sua mensagem por meio de um anjo. Manoah, a mae de Sansfo, recebe a visita de um “anjo de Deus", que lhe anuncia que, apesar da sua esterldade, ela val gerar um fllho destina- do a grandes coisas, Trémula, Manoch apressase @ contar 0 que se peiou a0 seu marido, que implora uma nova visite do anjo, pgra mais detalhes, ¢ obtém satista- ‘elo (Jz. 13,1-21), Literariamente, S. Lue cas insptow-se na passagem pitoresca do livro dos Juizes para consti orelato da Anunciagfo. Este telato esté cheio de alusdes 20 Antigo Testamento: € preciso estarmos atentos a isso para compreen- dermos 0 sigifieado do. didlogo entre Gabriel e Masia Articulase em trés tempos: “Alegra-te, chia de graga,o Senor & contigo” (v.28). ‘A palavza “ave que nos é fair (Ave, Maria.) 6 insuficente para ta- duzir 0 verbo utlizado por 8. Lucas (Khairé): 60 anneio do tempo messiani- £9, 0 indicativo da sua vinda: “alegrate, fha de Sito, slta gritos de alegria, filha de Jerusalém... O rei de Israel, 0 teu Senhor est4 no meio de ti’ (Sofonias 3, 14.15;ef. Zac 99). Maria conhece os profetas, que medita detde @ infincia, A saudapgo do anjo — com o reff “0 Senhoré contigo”, sinal de uma escolha particular da parte de Deus — nfo poderia engant-la. Os tempos ressidnicos, Uo esperados, tinham entfo chegado! Mas porqué este antincio, a ela 56? Compreende-se o espanto perturbado da jovem: “Perguntava a si mesma 0 que significava (0 que queria dizer para ela) esta saudagh — “Conceterds um filho, ¢ darthe-és © nome de Jesus”: O anjo sossega-a, como outrora fora sossegada a boa Manoah. E explica melhor a mensagem que esti en- cattegado de revelar: Maria vai ser mae, € mie do Messas. O filho que ele anuncia herdaré, com efeito, o “trono de David, seu pai": serd portanto descendente do grande Rei, e Deus the dard um “teino que no teré fm”. Todos estes tragos cor- respondem aos antincios proféticos. do Messias “filho de David”: nao hé divida de que Maria é designada por Deus para essa dignidade que as mulheres de Israel ambicionavam: ser a mie do Messias. Nes- se instante, Maia interrompe 0 seu inter- locutor: "Como poderd ser isso se eu nfo conivego homern?”: o reslismo ds frase, dita no presente, manifesta uma intengao- Aeliberada; Maria, aids, nfo opde um ve- to, mas pergunta “como poderd ser” ““O Espirito Santo viré sobre tie 0 poder do Altissimo te cobriré com a sua sombra”. Para responder & pergunta de Maria, © Anjo revelathe o mistério da ctianga de quem vai ser mae, E fé-lo em termos bfblices:a vinda do Espirito anun- cia uma ‘grande obra de Deus”, ¢ 0 verbo empregado evoca a presenga divina na ar- 2, coberta pele sombra do Altissimo Maria seré pois, pela acgdo do Espirito, uma nova “atea” onde Deus repousard “6 fora de divida que S. Lucas, em- pregando essa expressdo (cobriré com a sua sombra), sabia que associagSes de idelas i acordar no espitito de um judeu este pensa necessariamente na divina Pre senga ou Shekinah. De facto essa frase no pode significar outra coisa: 0 poder ctiador do Espitito Santo de Deus vai descer sobre Maria como a gléria do Senhor tinha outroradescido sobre a ten- da do Testemunho ¢ a tinha enchido de una presenga diving. O que implica que Tavé, pelo que vai fizer em Mara, vai ve sitar 0 seu povo; ¢ 0 que vai fazer nela seré criar no seu stio uma crianga sem interveng#o de pai humano. £ por isso ‘que 0 santo Menine que dela nasceré se- 14 chamado Filho de Deus” (John Me Hugh, La Mére de Jésus dans le Nouveau Testament, trad. franc. Cerf, 1977, p. 103). Assim, em termos discretos, mas suficientemente claros para uma. judia familiaizada com as Bscrituras, a mensa- gem & transmitida: os tempos’ messin ‘cos chegaram, um fiho de David vai nas- cer, filho de Maria. Mas este Menino esta- 14 tio proximo de Deus que usaré, no verddeira sentido, o titule de Filho de Deus — porque Maria, nova arca, estd cheia da presenga divina, Deus nio a to- ma 2 tralpfo; Maria sabe, confusamente sem divida, mas realmente, o que lhe é roposto.. 2. A resposta de Maria AA tinice pergunta com que Maria inter. romipeu o nj, “como poders ser isso?”, revela a corrente do seu pensamento ¢ a sua preocupacio. Ao contrério de Sara, expose de Abradu, que ng pode admitir conceber umt filho na sua velhice, e que tral o seu cepticismo por um riso de troga (Gn 18,9-15), Maria nfo poe em diivida 0 poder de lavé. Mas quer saber exactamen- te o que the pede. O seu propésito de virgindade foi inspirado pelo Senhor; pe- dirthe-d Ele, agora, que mude de opi- nifo? Pergunta que, como vimos, provoca a revelagio decisiva da intengao divina sobre Maria. Que ela consinta em receber no seu seio, pela acco do Espirito, 0 proprio Filho de Deus, Quantas perguntas devem entdo ter surgido no espirito de Maria! Perguntas Jonginguas e perguntas proximas, dizen- dorhe pessoalmente respeito: Como serd este Filho do milagre? Como se apresen- tari aos homens? Como realizaré as es perangas que toda a gente poe no Messias ‘esperado? Mas, primeiro que tudo, que ‘me sucederd? Que honra me estd reserva da, visto que sou chamada a ser, milagro- samente, a mde do Messias — Filho de Deus? Nao serei a “dama mais considera- da” om Israel? Mas, em face de José, ‘qual seré a minha situacg0? Que lhe hei- de dizer e como the hei-de explicar? No id ele conceber suspeitas ¢ talvez me re- jeitar? Maria afasta todas estas perguntas, re- ‘cusa se a oncarar o futuro, aceita ser trae tada como Deus quiser, mf venerada em Israel ou esposa repudiads pelo marido cheio de suspeitas.. Maria abandona tudo isso nas mos do seu Senor. ‘S6 uma coisa a preocupa: fazer o que Deus quer, € fazéJo 0 melhor possivel. ‘A sua f exprime-se numa obedigncia to- tal, apaziguada ¢ confiante: “Eu sou a eserava do Senhor". Ao que ela dé 0 seu pleno consentimento, sem ver bem todas 4s suas repercussdes numa vida doravante perturbada e mesmo abandonada ao im- previsto, 6 a Palavra santa e soberane do seu Seqhor: “Faga-se segundo a tua Pala via’. A adesfo plenamente livre de Maria, que permite a Encamagio, ¢ jé a unifo da Mie a obra do Filho: “Maria, filha de Adio, consentindo na Palivra de Deus, torna-se Mae de Jesus ¢, ecolhendo de todo 0 coragdo, sem que ‘nenhun pecado a retenha, a vontade di- vina de salvapfo, entrega-se a si mesma integralmente, como a escrava do Senhor, A pessoa e d obra do seu Filho,..” (Vatica- ‘no Il, Lumem Gentium, n.0 56) 3.0 Magnificat Quando alguns dias ou semanas mais tarde, Maria encontra a sua prima Isabel, velba mulher que traz em si Jogo Baptisia felicitaa pela sua f6. E é bem {sso 0 que itradia nela, depois do seu en- contro com o anjo: “Bemaventurada que acreditou: hé-de cumprir-se o que lhe foi dito da parte do Senor!” Como agradecimento, Maria canta o ‘admirdvel Magniticat, em que ela expr sme toda a sua gratidfo. Mas, ao contrério do cintico de Ana, mae de Samuel (1 ‘Sam, 2,1-10), em que o poema de Maria se inspira, © Magnificat rediza a perfai- do de nfo por em causa aquela que o canta, Ana triunfava, sem muita modés- ta, dos que a tinham injuriado; Maria s6 colha para Deus, esquece-se de si mesma, reconhecendo-se apenas como humilde destinatéria dos dons de Deus: “Ele olhou para a sua humilde serva...o Todo Pode- oso fez em mim grandes coisas.” © Magnificat s6 se ocupa de Deus, da sua fidelidade as suas promessas, da sua atencZo aos pobres e 20s pequenos, que ele exalta em detrimento dos ricos pre~ sungosos e poderosos. Poema de uma contemplativa, de tal modo perdida na admiragio da grande obra de Deus que parece esquecer-se de si mesma. E, quando Maria acaba de cantar a acgao de gragas dos homens, de todos os homens, jé destinados & salvago pela crianga que ela traz em si, afadiga-se em hhumildes gestos de caridade, a0 servigo- Gaqueles 2 quem veio ajudar num mo- mento dificil, com o seu carinho ¢ 0 seu trabalho: “Maria ficou com Isabel cerca de trés meses, ¢ depois voltou para casa”. QUESTOES PARA A TROCA DE PONTOS DE VISTA 1) Quando pensamos em Maria, somos mals sensivels & sua fé obediente, & sua tranquila humildade... do que ao esplendor todo poderoso que facilmente a piedade po- ular venera? A insisténcia do Concilio sobre a f€ de Maria parece-vos trazer qualquer coisa de novo, ou pelo contrério, confirmar o que pensiveis espontaneamente, ao ler 0 Evangelho? 2) Os imprevstos da nossa vida... pessoa, familiar, profissional, nfo serdo “snais de Deus"? Seré necessério compreender todo o seu significado pars os aceitarmos e os integrarmos na nossa orapfo? Maria ficou surpreendida e mesmo “‘perturbada” com as palavras do Anjo. Teremos de nos admirar de que nés mesmnos por vezes nos sintamos perturbatos, confundidos ou tentados a revolta? Contanto que saibamos recobrar a rosa caima‘etentar, na oraglo,acetar 0 que nos faz sofrez? No pode o exemplo de Maria ajudar-nos a dominar, com conflanga (mas muitas vezes ndo sem dificuldades), as apreensbes relativamente 2 um futuro que passamos demasiado tempo 2 imaginar? 3) £ assim to dificil, depois das coises sucsderem, reconhecer a acglo de Deus ‘nos acontecimentos desconcertantes e imprevistos? E sem divida a fé que os interpreta, & preciso tempo para, quando por fim 2 paz descer sobre nés, podermos cantar, com. © corago ainda dolorido, o nosso Magnificat. Nao serd uma graca a implorar por inter- cessto de Maria? 4) “Deus 6 fiel as suas promeseas” (Le 1,5455), canta Maria, Crer nesta fidelida- de, mesmo quando ela se nfo mostra com evidéncia, é 0 fundamento da esperanca crist: lugar desta virtude na nossa vida... EQUIPAS DE NOSSA SENHORA MARIA E JOSE ‘Maria = It wdosé, filho de David, nao tenhas receio de tomar contigo Maria, tua esposan 1. 0 amincio feito José (Mt 1.18: Segundo S. Mateus, atento 20 pape! assumido por José celativamente a Jesus, tum “anjo do Senhor” avisa José da con: cepg0 miraculosa de Maria ¢ pedesthe que “a tome co ‘A intengio de Mateus 6 esclarecer @ rmissfo confiads a José: cabeshe mostrar fem Jesus 0 “filho de David”. Néo é por geragto carnal que Tesus seré descenden- te de David, mas pela adopgdo leal da quele que 0 Evangelho go temerd che- mar ‘seu pai” (Le. 2,48): Jesus €filho de David, porque fiho adoptivo de José. Tal 6 0 abjectivo preciso do que S. Ma: teus nos quer fazer compreender. “Mateus apresenta este ensinamento num relato que & formado (nfo invente- do) a parti do género literdrio das anun ciagbes. Como Abraio (Gén. 17-18), José recebe o anincio dum filho dado por Deus” (X. LéonDufour, Enudes érangile, p. 77). Mas, no caso de José, © mensageiro de Deus revela concepeio virginal do menino, de que José é convi- dado a constiturse “o pai” Este aviso libera José duma grave inguietagio: legalmente, ele devia “re- ppudiac” Maria; mas o respeito que tem por els impele-o, “para nfo « difamar publicamente”, a despedi-ia em segredo. Solugdo generosa, mas que esberre com dificuldades faciimente prevsiveis: “O caso entrard inevitarelmente no doméaio piblico, pelo mencs quanto aos paren- (Mt. 1,20) tes da esposa, O despedimento em segre- do seria portanto ilus6rio, a nfo ser que se admitisse que, tendo jé tomado a sua esposa consigo (0 que contradiz o Evan- gelho), José assumisse de qualquer modo 4 responsabilidade da paternidede da crianga a nascer” (P. Grelot, art. “‘Jo- seph”, Dict. Spir. VIL, col. 1297). Instruido pelo anjo de que “o que se gerou em Maria vem do Espitito Santo”, José, resolutamente, “fez 0 que 0 anjo do Senhor the tinha prescrito: tomou cconsigo sua esposa, mas nfo a conheceu”, Discreto mais possivel sobze este episbdio delicado, © pouco preovupado com psicologia, o pritheiro Evengelho ‘no permite de modo algum imaginar 0 que terGo sido, nesse momento importan- te, as confidéncias de Maria Aquele que sssumia a paternidade do seu filho. Mas podemos facilmente imaginar 0 acordo profundo de Maria e de José, urindo a sua vida por Jesus. A atmosfera deste acordo € de siléncio ¢ de submisséo total 4 vontade de Deus. A sinice resposte de José & mensagem do anjo, que nos é re- ferida em Mateus, € uma aquiescéncie de facto: “tomou-a consigo”. Assim como Maria, na Anunciaglo, acolheu o Filho de Deus, José toma a responsabilidade paternal do filho de D: “E em nome de descendénsia de David, em nome de Israel, como dele do do povo eeito, que José o justo peran- te 2 ordem divina, acothe o mistério da nova Alianga. Se Lucas, evangelista de

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