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DIRECGAO ( prUunano amrre 2 de REDACAO HEUHIQUE Be nESENOE 5 peerae ues ADMINISTRACAO e REVICTAMENCAL ROSARIO FUSCO Auoy ae er Sr) MEAT IK © NICOLAS FUSCO SANSONE EL NOCTURNO DE LOS CUERPOS ASCENSO FERREIRA ‘MULA-DE-PADRE, RIBEIRO COUTO. A DESCOBERTA DE CATAGUAZES GUILHERMINO CESAR BALADA DO ARCO-IRIS DA GENTE MARIO DE ANDRADE PRESENTATION DE LA JEUNE FILLE (DOLOUR) ASCANIO LOPES PAPEL DO INSTINTO NO MUNDO ATUAL A. FONSECA LOBO AUTORIA DA ARTEDE FURTAR (CONC) JKO DORNAS FILHO MEUS OITO ANNOS PEREGRINO JUNIOR EL VANGUARDISMO EM EL BRASIL ILDEFONSO FALCAO. SINGERMAN, STOLEK, ETC. (CONCLUSAO) JORGE FERNANDES CANGAO AO SOL FRANCISCO INACIO PEIXOTO MARIA LAVADEIRA MARIA CLEMENCIA: FIGURA APONTAMEDTOS DE UBYRATAN VALMONT, FRANCISCO INACIO PEIXOTO, AFFONSO ARINOS SOBRINHO, F., GUILHERMINO CESAR, PEIXOTO e K. F. com um suplemento relativo aos Numero especial: sis ror. starg, Abril « Maio ASSINATURA — 11$000 ANNO 1 VERDE CATAGUAZES — JANEIRO 1928 eee RE eX ake aes m afm Ah lhe MARIA CLmnercra gente, 6 a pintora do sol, dos pampas e das palmeiras, por 6celencia. Dona dum dos mais bélos lapis da férvida Argentina dagora. Pra nés, verdes, 6 uma baita felicidade iniciar- mos com este interessantissimo dibyo uma serie de colaboragdes de pequeninos motivos de Maria Clemencia, fixados e mareados com aquelle seu geltinho de simplicidade admiravel, Brevemente publicamos duas eyocagies biblicas de sua autoria: Los Reys Magos ¢ Moysés selbado de las oguas. Desenhos magnificos duma encantadora, profunda penctragio psicologica do motivo impresso. sony ce NUMERO 5 8 VERDE _daneire 1928 EL NOCTURNO DE LOS CUERPOS ANHELANTES Del préximo libro EL VIENTO DEL MAR Hasta el silencio de tu Irente legaron mis labios con sus besos. En Ia vida de tus ojos estaba tendido el camifio de los suciios. (La noche de tu cuerpo anhelante sentia la solitaria maravilla de mi corazén abierto en los cantos del mar) En el reposo de tus pechos i cabeza tavo un refugio sereno. i Me esperaba tu cuerpo anhelante! (EI llamado de as aguas lejanas queria quitarnos el camino de los suefios) Nuestros cuerpos hablan desplegado el gritos de los viajes largos! ‘Tu agitaste sobre el afan del mar Ja solitaria maravilla de mi corazén. Yo elevé hasta las estrellas del cielo el silencio de tu frente. jEntonces la noche tuvo dos cuerpos anhelantes corriendo en el camino de los sueiios! NICOLAS Fusco Sansone Nicolas Fusco Sansone—jovem poe- ta uraguayo ¢ 0 autor de La Trompeta de las voces aiegres~ poems 1925, Um delicio- so livro de estréa que fol uma revelacho & um exito—{Antologia de la moderna poe sia wruguya — 1, Pereda Valdés). Fundou em 1920 @ revista de combate £1 comido. Colabora em Martin Fierro, Prda, Card- tula ¢ ete, Tem vinte anos apenas ¢ reside ‘actualmente em Montevideo, sua cidade natal, Janeiro 1928 VERDE 9 EE ET A MULA - DE - PADRE PRA MARIO DE ANDRADE Um dia no engenho Jétarde da noite, Que estava tio préta Como carvao... . A gente falava de assombragao: —O tio de Pinga-Fogo appareceu morto na matta com 0 peito varado pela canella de Pé-de-Espeto! —0 cachorro de Brabo-Manso levow na sexta-feira uma surra das Caiporas! —A Mula-de-Padre quiz beber o sangue da mulher de Chico Lolao: Na noite tho preta como carvao A gente falava de assombragao ! L& em baixo a almanjarra, A rara almajarra, Gemia e rangia Que o engenho Alegria E’ bom moedor... —Bh Andorinha! —Bh Moga branca ! —Eh Beija Flor! Pela bagaceira 2 Os bois ruminavam E as eguas pastavam Esperando a vez De entrar no rojéio... Eagente falava de assombragdo! Foi quando se deu a coisa esquesita: Mordendo, rinchando, 4s popas ¢ aos pulos Se pondo de pé com artes do Cio, Surgiu uma Bésta sem ser dali nao.., —Atalha a’ bicha, Barauna! —Sustenta o lago, Maracana! E a Bésta agarrada Entrou na Almanjarra Tocou-se-Ihe a peia Até de manha... E depois que ella foi solta entupiu no dco do mundo! Num abrir e fechar d’olhos a maldita se encantou! De tardinha, Gente vinda Da cidade ‘Trouxe a nova Deque a Ama De seu Padre Serrador Amanhecera tdo surrada Que causava compaixfo... Na noite tfo preta como carvéio A gente falava de assombracio! Do «Canna Caiana>. ASCENSO FERREIRA. 10 VERDE Janeiro 1928 A DESCOBERTA DE CATAGUAZES ‘Todo o Brasil esta surpreso: existe Ca- taguazes! ‘A contingencia das enormissimas dis- tancias criou entre nbs o habito dandy, de- luma pose uin pouco, Anatole France (um pou- eo 1910), de duvidarmos mutuamente da existencia das nossas cidades. Podemos ir a Petrogado ¢ voltar em menos tempo do que um habitante de Porto Alegre tera de gas- tar para ira Manaus. (Sem fallar em que a viogem & Russia ¢ mais eommoda). Por ii obrasileiro da rua do Quvidor (princip: mente o brasileiro da rua do Ouvidor), dian- te do mal irremediave}, criou esta defensiva para a sua indifferenga: Manaus nao existe, Cuyab4 nao existe, Goyaz ndo existe, ete. Joao do Rio tem numa comedia um per- personagem que duvida da existencia real de Goyaz. Parece que ¢ na «Eva». E esse per- sonagem, que habilmente preparara um ma- drigal atacante, exclama num rasgo pura a moga bonita da pega: «—O' meu Goyaz 6s tu!» Entretanto, o exagero, na razio directa das nossas descuidosas inditferengas patrias, chega ao ponto de, em pleno Districto Fede- ral, haver quem duvide de Cascadura. Ape- zar dos bondes com as. taboletas insophi maveis: « Apezar da minha pre- zada amiga d. Gilka Machado j4 ter morado la e garantir que Cascadura existe. E’ atre- vimento duvidar da palavra de uma pessda ‘do seductora. Assim, Cataguazes. Em vilo Astolpho Dutra foi presidente da Camara dos Depu- tados Federaes. Em vio Astolpho Resende €uma das figuras mais formosas do direito brasileiro: a par da bondade pessoal, a luz clarissima da cultura ¢ da intelligencia rica, Nasceram em Cataguazes? Mas onde 6 Ca- taguazes? Subitamente, “Verde”: um bofetio na atonia literaria nacional. Poesia. Escrevem prosa tambem, mas tudo aquillo (a capa. os annuncios de ‘sapatarias, a provavel divida erescente para com 0 typographo, umas pho- tographias muito cheias de borrées, uns ra- pazes a escrever para todo mundo ‘que nfo ‘conhece «tu pra cf, tu prd Ii»), tudo aquil- Io 6 poesia. Como 6 bom ter vinte_annos!— digo-Ihes eu que fago 30 no proximo 12 de margo. Essa {é, esse impulso, essa virginda- de crianga de todos os appetites! — al movimi- ento de liberseién que se operaba en todo el pais. al- unas inteligencias vivos, curiosas, Hens de vibraci- jn, Hens de eatusiasmo, 16 VERDE Janeiro Yel seflor Tasso da Silvetra. se, disgust con el sofior Tristan de. Athayde exaciamente porque este nities on ous cEstudloes) (segunda eerie), baclondo la historia'de nuestro movimiento de vanguardia, olvid6 el grupo de FIESTA. grupo de FIESTA, que el seflor Taso de Silvera convino Lamar “la tereera corriente' (Ia prl- mers seria In de Blo, con los sefiores Ronald. de Car. Valho, Renato Almetda, Grape Aranha. ete, y- la, so- via a de San Patio, con. Joe seflores Ouvaldo © Pradente Mdraes Netio, Sergio Bu: ‘arque, Alcantara Machado, ete, 0 vice versa) 80 po- dia conformarse com el olvido” del seflor ‘Tristan ‘de ‘thayde. Kealmente et olvido del seflor” de Ath fue injusto, mas tuo ‘hasta elerto’ punto. explicable, por custo’ a6lo ahora. les muchachos de la tercere cousituyeado wis urapo aparte, com ‘programas, ideas proprias, E1 “Grupo Verae” Bmpero, quien quisiera acepiar Ia -tercere cor- Hoata def weir Taao da Silveira, para set Juno, {eodra que incouporar ® nuestro movimiento de van uardia una corriente mas Ia. (special para VERDE) «Ao findar o seculo do ouro Minas fa uma ruina. O viajante que se aventurava por essas regides devia levar provisdes por- Que em parie alguma as poderia comprar: ao contrario, 0 proprio habitante da casa a cuja porta batesse, talvez Ihe supplicasse, pelo amor de Deus, a esmola de um punha- do de farinha. Hoje, apés 0 deslumbramento e o buli- cio afanoso de tanta ambig&o e loucura—e como para attestar a perennidade do espiri- to creador libertado dos interesses e acci- dentes humanos — de todo esse pasado ape- has resta uma quasi ruina que é uma obra- de-arte, a obra do Aleijadinho, esculptor e arehitecto, Nasceu em Ouro-Preto em 1730, era pardo escuro, filho de um portugucz ¢ de uma africana; sabia ler ¢ escrever, mas parece nao ter frequentadg outra aula alem da de primeiras lettras. Padecia de uma ter- rivel molestia incuravel, em que perdeu to- dos 0s dedos dos pés, 86 andando de joe. Thos; das mAos apenas Ihe restavam 0s pol- legares e 0s indices. Atormentado por dd- res cruciantes, narravam que elle proprio, servindo-se do formfo, cortava com uma pancada de macete o membro que 0 fazia Sofirer. Esse monstro physico, asqueroso, de face atormentada e dislorme, de palpe- bras cahidas e bocca estuporada, escondia- se debaixo de uma tolda para trabalhar nas igrejas. Nao Ihe perturbava 0 genio inculto nenhum ensinamento de academias ou de mestres. A sua obra surgiu e viveu na es- pontaneidade da imaginacao creadora, sem henhuma deformagdo. Trabalhou nas capel- las de S. Francisco de Assis, de Nossa Se- nhora do Carmo e nas das Almas, em Ouro Preto; nas matrizes de S. Joao’ do Morro Grande e de Sabaré; nas de Marianna ¢ San- ta Luzia. Destacam-se na sua obra a_matriz capella de 8. Francisco, em Sio Joao d’El- rei, e os templos e estatuas de Congonhas do ‘Campo. Foi © maior artista que durante secu- los produzio o Brasil. E 60 que resta do maravilhoso potosi das Minas Geraes que por tanto tempo assombraram 0 mundo. Janeiro de 1928. PAULO PRADO Janeiro 1928 Janeiro 1928 VERDE ‘POEMAS BRASILEIROS Para Antonio de Alcantara Machado . A serra é toda um clardo dentro da noite. ‘Tranquilo, no alto, o bambual assiste aos destrécos da queimada crepitando perto. E eis que uma labareda, ainda tremula ¢ indecisa, vem dansar em torno dele—e dansa entre as taquaras sécas que o circundam... Outras mais véo se erguendo... Ora avangam, ora recéam, —sarabanda > de salamandras ratilas e vivas, dentro da noite enluarada, em torno ao emaranhado ‘da touceira. Depois, vertiginosamente, € um fogaréo que sdbe, se avoluma, € cresce, ¢, ‘numa furia, ganha © cireulo em cheio do ‘bambual tranquilo, (Amanha, com certeza, um poeta qualquer, um pocta simbolista, ird dizer que aquela fumarada, dentro da noite enluarada, —sem ter visto, sequer, 0 espetaculo di- nimico do fogo estralando os gomos yerdes dos bambus recurvos— € simplesmente a alma sofredora e ingenua das queimadas..) HENRIQUE DE RESENDE NESTA REDACAO: POEMAS CRONOLOGICOS, de Henrique de Resende, Rosario Fuseo e Asca- nio Lopes. Prego (livre de porte) 5$000.—— Em Sfo Paulo na i1\ViRA\ RIA GARRAOX. 4 VERDE Janeiro 1928 “Cataguazes, o cinema, a Phebo, a lei de menores, etc. Outrora nto se comprehendia a vida em qualquer cidadezinha do interior, por mais novo que fosse, sem uma banda de mu- siea e sem fogueteiro. Qualquer aconteci- mento no logar: a chegada do seu vigario, 0 anniversario do coroné Trindade, a festa do Divino, tudo era motivo para que o fogucto- rio espocasse Nos ares € se Ouvisse 0 tara~ ta-tehim-, tara-ta-tehim-bum d’.. Este progresso nas cidadezinhas, nos arraiaes, ¢reflexo do que se passa nas gran- des cidades. Nestas, 0 jazz-bond e 0 automo- vel so us instituigbes novas. Muito breve, encontraremos nas villazinhas a victoria do jxz O Ford 4 vem ehegando, aos poucos. Em Cataguazes, hoje centro adianiado, niio mais soffremos 0 pipocar dos foguetes, nem © pam-pam-pam-pum, das bandas de musica. “Tudo passou, e ha muito tempo. Ficou- nos ocinema. Mas um cinema de verdade, ‘onde se exhibemos melhores trabalhos da industria americana, Ali, espairecendo 0 ce- rebro, a gente encontra lenitivo para muita magoa. Emquanto na tela os factos se desenro- Jam, inverosimeis ou ndo, cada um de nés Tica pensando que 0 mundo tambem nifio pas sa de uma tela, onde cada qual, como bone- co, representa uma farga, e prompto. Digam os moralistas 0 que quizerem. Que 0 cinema nao presta; que o cinema cor- rompe; que o cinema traz a sedugio do Iuxo; que o cinema ensina 0 mal junto com © bem. 0 cinema é como o mundo: tem de tudo um pouguinho. Cada um que tire o bom pedago. Depols, a fita sempre tem um castigo para os mass. Hr faz uma grande defesa da familia. Haja vista que todo enredo termina com 0 casamento, como si nisto estivesse .aior felicidade que o homem pode conquis- tar neste mundo terraqueo... Pols bem. Porque o cinema é um indi- ce de civilizagao, applaudimos muito gosto- samente 0s nossos conterraneos, que se em- penham na vantagem de uma grande fabri- ca cinematographica em nossa terra. Batre parcnthesis: Noo es tou fazendo propaganda da Phebo. Nom olla precisa dis- 80. Sou muito camarada do . Humberto, mais isso nfo vem 0 caso. Continuemos. Nio esmoregam os actua- es organizadores da promissora fabrica. Te- rio que uctar muito contra a rotina, contra ‘a ma vontade. Mas no se importem com i Mios obra. E’ preciso explorar motivos outros, que o genio latino possue, sem eahir no logar commum das scenas indecentes, que nos chegam do pais de Tio Sam. A lei de menores poderé ticar, até, ina- plicavel, E’ s6 produzir com 0 que € nosso, som ir buscar na irresistivel attraegio da malicia 0 enredo das scenas, Mais tarde, quando Cataguazes se trans- formar em uma Holywood-mirim, as recom- pensas virdo. E podem ficar certos que irao obter muito mais do que—triunphos, glorias, honrarias, titulos, elogios, etc., ete. Alem destas cousas vasias, que nao enchem a barriga da gente, virdo as moedas, os eruzei- Tos, as pelegas. E, destas, que boladas... J. MARTINS IMPORTANTE VERDE 6a revista mais livre de preconceitos, do mundo. VERDE nada tem que vér com as ideias de seus colaboradores, esteriorizados ‘em artigos VERDE 6 uma alegre revista, divulgadora de valores novos. Esta E mais nfo deseja nfo, devidamente assinados. bem satisfeita com isso. podem erér. Janeiro 1928 O QUE SOU para MARIA CLEMENCIA Sou bohemio, Sou vagabundo, Sonhador ¢ apaixonado eu sou. Sou quasi um louco. ‘Tudo por causa do meu amor... (Assim dizem aquelles que nao sabem que, por causa do meu amor, eu sou simplesmente feliz). Janeiro 1928. MARTINS MENDES. Duas amost Tio Santana a ROSARIO FUSCO, No fim do espigdo abanquei-me cansado. A roca mofina com médo do sol estava amaréla da gente ter d6. 5 do “Mela-Pataca”,a sair Ouvi vozerio pros lados da grota «Anda négo! pra riba, Diabo ! vor nao comeu? Otha 6 mito fieando pra traz! Anda négo! que falta de forga> ‘Tio Santana falava sosinho no eito. Se assustando ao me vér derepente esplicou na linguagem cabinda que @ perna vergava © brago pedia descango. entio tio velho espantava a fraqueza lembrando direito a fala do antigo feitor. GUILHERMINO CESAR. UIARA Si vocé visse os olhos de’la ‘Tao bonitos brilhando Voeé tinhn ecoragem Fernio Dias Paes Leme De manda-los ezaminar Pelo ourives d’El-Rey D. Afonso, ‘Tinha Fernio Dias? ‘Tinha néo... FRANCISCO 1. PEIXOTO VERDE MOVIMENTO ecebemos uma colegfozinha de Proa (di- regio de Jorge Luis Borges, Pablo Rojas Paz, Brandén Carrafa e Ricardo Giiiraldes). Proa é uma magnifica publicaghe mo- dernista argentina que, infelizmente—a ezem- plo de nossas revistas de arte néva, no lo- grou alcangar o seu terceiro ano de ezis- tencia. Comtudo foi brilhantissima. Como prova al estéo seus 24 volumes—primoros mente impressos—e recheiados de coisas ma- gnificas que muito contribuirio, decerto, pra um estudinho mais ou menos completo e per- feito sobre a interessante literatura do paiz visinho. Na primeira oportunidade falaremos so- bre os valiosos ezemplares recebidos. cari- nhosa homenagem de Norah Borges—d gente de «verde.» 2 roximo numero: um desenho de Norah Bor- ges—feito especialmente pra nossa revis- ta, poemas de Jayme Griz, Willy Levin, As- censo Ferreira ¢ Sebastido Lopes. Por cause da grande présea que nés tinha- mos de botar pra fora VERDE n. 5. que por sinal j4 anda vermelhinha de vergonha, nos esquecemos de incluir os nomes de Willy Le- vin eJ. Martins na capa da rovista ¢ do su- plemento, respectivamente. Paulo na Federagso, de Sousa Lobo. Na revisdo deste artigo escaparam-nos 08 se- guintes erros : vullo de reservas dynamicas de naturezas em vez de -fornecidas. es entenda Gallia. — ‘Néo me consla que Fra em vez de “Ieli tem méos de povos que delles nio carecem nem os ulilizam pare o bem commum+—em vez de ‘*ndo carecem nem assiste ligams etc. [ !defenso Pereda Valdés, o pocta de Poesia assim toda leve, cheia de uma sen- sibilidade muitas vezes doentfa e que porisso mesmo quando péga agente de geito faz tanto bem... Comoficaram bem no francés 0s titulos dos poeminhas! Réve final Porquoi?. Desespoir. A la louange de tes mains eneke . Nos ‘aio. até a impres- séo de que sdo nomes de valsas zingaras, molengas feitas pra se adormecer... sas de silence et de tristesse Je|me rapelle ta voix ot ta caresse Vexaltation enfiévrée de mes sens. Et je subis en peine ce long désespoir de ne pas pouvoir reprendre dans ton souvenir tous ces mots de tendresse, de foi et de [eroyance, —ces mots d'amour que je tal dits jour.» Essa tradugao to bonita que Charles Lu- cifer fez dos POEMAS PARA ESQUECER receram algumas dividas. Uns di-, Janeiro 1928 ficou sendo um livro—e um livro bom pra se ler baixinho quand «le nuit baisse la paupiére Jentement» ef fon ferme les yeux pour ne pas pleurer- PEIXOTO. GENTE: porqué VERDE j4 passou pelo susto de mot Ter, ¢ n6s porisso quasi que morremos susto, resolvemos que, deste numero et diante, @ nossa revistinha ficasse menor mais barata pré gente e pra vocés tambem, ‘Aproveitando a ocasifio, lembramos a vo- cés que VERDE precisa de_assinantes. Sem isso éla morreré NECESSARIAMENTE ! VERDE quer tambem correspondentes representantes em todas as cidades do Bra- sil. Sem isso éla morreré NECESSARIA- MENTE ! VERDE precisa tambem da camaradagom de toda a gente moga, Sem isso éla morrerd, NECESSARIAMENTE ! VERDE quer, quando nada, ser uma re- vista de divulgagao. VERDE custaré daqui por diante: Numero avulso—500 reis Numero atrazado—800 reis Assignatura anual 6000 reis Seja,desde j4, umassinante de VERDE: (Pedidos, acompanhados da respectiva Importancia, pra nossa direcao). SanaEEaEaEEnEEEEEEEEEEEEe Casa Fenelon BATE O RECORD NA DISTRIBUIGAO DE SORTES GRANDES S6 nestes ultimos dias Mais de 50:000$000 contos distribuidos com seus froguozes. BILHETES DE TODAS _AS LOTERIAS DO. BRASIL! Diariamente planos magnificos! HABILITAE-VOS?! Jaheiro 1928 Segunda conversa Vocé esta muito enganado E! verdade que eu vou as vezes ao cabaret que bebo bem e como melhor que gosto de jogar que a volupia quente de certa bocca me traz prazer e alegria... E! verdade que eu dou demasiada importancia a essa vida material que vocé condemna Tenho automovel Vou ao cinema Leio livros immoraes ‘Tenho gana de infringir todos os manda- mentos... Mas no fundo meu Deus eu sou familia. SERGIO MILLIET Poema Primi De vez em quando eu sinto cousas inexplicaveis. Esquego a cér dos teus cabellos... No me lembro da tua voz... Procuro tolamente a razio Porque os teus cabellos silo cortados ou a tua bocca é quente... De vez em quando eu fico perguntado a mim mesmo: «—Porque tu te chamas Maria?...» MARQUES REBELLO SERENIDADE de ACHILLES VIVACQUA Os versos sitio do principio da vida literaria do poeta e quasi que a gente ja conhecia todos. Um punhado de criticos (?) esereveram sobre uma tal de iafluencias Magreates de que se resente encharcado (dizem ¢les) o livri- mho Sereaidede. Gragas a Deus néo entendo critica, nem criticos—e nfo dou valor ne- nhum “mesmo pra alguns déles. Porisso 6 quéu acho que falar em influencias ¢ boba- gem, Esplicar porqué seria cansar. VERDE. 9 Achilles Vivaequa (Roberto Theodoro) € 0 mesmissimo que escreveu aqueles boni- tissimos versos do Samba que esta revistinha de vocés publicou no seu numero de esiréa. Pra mim este poeminho s6 marcou bem Achilles Vivacqua enchendo a gente de con- fianga bastante prés suas coisas futuras. Por emquanto #4 se pode falar que Se- renidede € um livro de POETA. Mais, acho que © Achilles nfio deseja nao. Martim Cereré de CASSIANO RICARDO © mesmo Cassiano Ricardo de dante: do tempo do vemos cogar popogeios Simpati- eo como qué.O homem ao que parece ndo demudou nfo porém néo piorou nada gracas a Deus—e a gente contin@a géstando bem déle. Martin Cereré (0 Brasil dos meninos, dos poetas ¢ dos heroes): titulo pamparra, enqui- silativo. Franeamente isso fala muito grésso € voc’ acaba assuntando mesmo antes de abrir o livrao dessa idade cheinho de boni- tos desenhos verdes de Di Cavalcanti... Muita coisa boa. Muita coisa que poderia ser 6tima, Muita coisa regular e muita coisa Tuizinha até. Das coisas béas pra mostrar que dei, destaco: @ minhe chicore de-cofé (A. minha conhecida do ramos cagar), a3 tres brinquedos coma lua. 2 wiéra de cabélos vermelhos. pirequara. 0 monduca © « giuscppina (dum sabér de terra braba muito nosso) ¢ o mafufo. que transcrevo pra voce «Disseram pra ele ee beijo de mulher era fruto escondido le andou muito tempo pensando que beijo de mulherfaz ia mal... néio fez nfo. Lhe disseram tambem que quando a gente morde auivaia 6 doce mas depois 6 amarga, néio ¢ nto. Lhe disseram tambem que todo amor ¢ tempe- rado com veneno e mel pra refrescar 0 coragéo mas que depois. diz—que perde a razfio, Néo perde nao». Acho isto simplesmente gOstoso. Alids todo o livro & mais ou menos assim impre- gnado dum sentimento de brasilidade muito profundo. ‘Martin Cereré @ uma festa de poesia bra- sileira dentro do Brasil dos meninos, dos poetas e dos heroes, oe 10 VERDE O GRUPO DE “VERDE” E OS OUTROS De Alvaro Moreyra: «Rosario Fusco, Henrique de Resende, Ascinio Lopes. Tenho aqui os trés poetas de Cataguazes num livro 86: Poemas Chronolo~ gicos. Chronologicos 6 horrivel. Os’ poemas ‘sho lindos. Os trés amigos vivem dentro da mesma paysagem. Nao é por escola que ¢s- crevem parecido. Quasi meninos, perderam a {6 no soneto, Descobriram que nao preci- sava rimar e medir syllabas. Ficaram poetas simplesmente, E simplesmente contam rea- lidades ou lembrangas, cada qual crm @ sua musica, com as palavras que pertencem a todos € que vem delles como os passaros das arvores quando 0 861 acorda... A differenga entre a poesia de hoje ea de antes-do-hontem, eu véjo, todas as noites, em Copacabana, Uma é a Avenida Atlantica, aclarada pelos féeos eletricos, postos em distancias eguaes desde o Leme até a Igre- jinha. A outra 6 0 e60 de Nosso Senhor, rramado de esirellas e a lua cae-nio-cea por sobre o mar. Estas coisas nao sio faceis de explicar. Porque ha pessoas que acham sublime a illu- nagdo da Avenida Atlantica ¢ nunca olharam para 0 céo. ‘O mal do movimento chamado modernis- ta foi 0 desaloro do comec¢o. Numa terra que usa tanto de revolugdes, ninguem sabe pura que, um motim intelligente, de fins esclare- cidos, provocou repulsa... Graga Aranha quasi que destruiu a Academia. Protesios quasi_geraes. O ge- neral Isidoro quasi destruiu S. Paulo. Applau- sos quasi goracs, Nogam Oswaldo de Andra- de que botou lanca-perfume nos olhos de va- rios inimigos. Affirmam tenentes que deram tiros contra muitos cidadios inoffensivos. Luis Carlos Prestes atravessou o Brasil. Mo- rio de Andrade tambem, Eatretanto, Luis Carlos Prestes tem maior prestigio nacional do que Mario de Andrade. 0 livro @ a espada... Anedocta... A espada aqui est4 por cima. Mas 0 livro corta muito mais. Vocés véo vér...» (Aguario—Para todos de 14—4—928.) BREVEMENTE. MEIA-PATACA POESIA de Guilhermino Cesar e Francisco L. Peixoto Janeiro 1928 De Mario de Andrade. (Revista de Antropofagia—maio de 1928— . Paulo). Dr. Edison Resende Diplomado pela Faculdade de Mediciaa do Rio, com Tonga pratica. Cirurgia geral — Doengas, do, apparelho genito-urinario no homem ena mulher. Diathermia—Alta frequencia ¢ Raios ul- tra-violeta. Endoscopia exploradora de ope- ratoria das vias urinarias — Cura radical da Blenorrhagia pela diathermia. CONSULTORIO: ASTOLPNHO DUTRA (Proximo ao Grupo Escolar) ‘TELEPHONE 110 — CATAGUAZES AY. Janeiro 1928 luciona 0 X: sangue novo, moral nova, vida em rumo novo. Graga Aranha objectar-nos-ia: <0 futuro nao entender 0 passedo». E eu Iho retrucarci: pois que no entenda,—entendamos-nos 0 presente, entendam os vindouros seu pre- sente. Nao me consta que Franga entenda Italia nem Italia commungue com etruscos ou ligurios. Brasil nfo compreende Contede- raco Tymbirica. Nagfo ¢ lingua, arte, ¢: lisagfo, riqueza, forgn. Nada tem com povo e raga 0 destino geographico do Brasil, maxi- mo no globo, sera cumprido por gente forte de maos ferreas o almas graniticas. Boas ar- mas 6 valem 4 bragos robustos, almas in- trepidas. Soffremos pouco e nao compreendemos a vida. Nilo chegamos ainda ao nivel do dia. banho lustral sangue falton no bergo, A VERDE. 17 guerra, renovagfo de valores, da ordem ar- chaica'das coisas, nos esqueceu. No quinhio da Iucta vital nfo nos cou- beram duros combates nem duras victorias, apanagio dos fortes. No repouso destempe- rare a alma bellica dos luctadores. Para ser- mos grandes precisamos muito luctar, ser- mos hercules, athletisar-nos. Ou entdo: rua. O Salisbury, aquelle velhaco lorde in- glez foi camarada ¢ prevenio: «tempo vird que as nagdes cultes da terra nao poderao permittir que vastas zonas do globo perma- necam inaproveitadas em mos de povos que dellas nfo careceu nem assiste ligam para © bem commum>, Ougamos pois Souza Lobo o propheta dynamico da nossa verde nacionalidade. UBYRATAN VALMONT. MOVIMENTO Do proximo numero em diante «Ver- de> jogaré suas paginas quadradas pra riba ‘do Brasil inteirinho vestidas noutro formato, melhormente impressa, melhor- mente colaborada e com menos anuncios que tanto enfelam as edigdes anteriores. A sensivel demora do aparecimento do presente numero foi devida especlal- mente a uma completa transtormagao nas olicinas em que verde é impressa, Deverd se inangurar por todo més de junho, em Montevideo, uma elegante es- posi¢io de grabados e debyjos de Maria Cle- mencia, Norah Borges, (irman do festejado poeta c escritor argentino Jorge Luiz, Bor- ges) e Xul Solar, patracinada pelo poeta e critico de arte uruguayo—Tldcfonso Pereda. Valdez, amigo de Verde e amigo do Brasil. E’ uma noticia lindamente bonita esta, prova do entusiasmo mogo que unima os fogosos jovens vanguardistas do paiz irmao. Gimenéz Caballero e Guillermo de Torre, respectivamente director e secre- tario de «La Gaceta Literarias que se pu- blica em Madrid, promoveram em setembro deste ano, a primeira festa do livro em Espanha. Durante mais de um més estiveram 4 venda autografos de escritores varios, es- vanhoes e americanos. Recebemos: O cenaculo, Revista da Cido- de de Recife, Pernambuco. Essa negra fulé (poema) de Jorge de Lima—Maceié—Ala- goas, Kismet (poemas) de Zolachio Diniz— Rio, Lo gaceto iileraria—Madrid (oferta de Ma- ria Clemencia), O espirito libero omericano de Satil de Navarro—Rio, Fesfo (mensario de arte © pensamento) numeros 7 e 8—Rio. Os rapazes de Belorizonte esto anun- ciando pra breve a Antologia de 4 (poesia). INFANCIA ‘Tu eras naquele tempo dos meus dez anos A malicia perturbadora Da minha ingénuidade supersticiosa. Hoje lémbro sorrindo O beijo que arrancdste 4 forga dos meus 14- bios inesperientes. Surgiste na minha vida de menino amedron- tado e timido como a tentagfo pecaminosa Que rouba as almas pro inferno Re —Pernambuco. WILLY LEVIN 18 VERDE. __ Janeiro 1928 MESTRE TASSO, OTIMISTA IMPENITENTE MESTRE: Me dirigindo 0 voo# neste momento, niio 0 fago ‘em nome dos mous 4:28 eolesas que Tarn alvos dae suns inominaveis enndices. Valo, tho somente, por m nha conta e risco. Faz-se mister que etl acentve 1 molramente: nflo quero me arvorar em professor. Nd Absolutamente “nio. Desejo, sim, ineutir nas eubte Fanoas galerins do sou espirito de critleo Joven uma dein, simamente perfunetoria, “ucorea da. onxurra da de bestices empoladinhas que voc’, talvez sob a ghd de influxos deleterios, eOndensou nas colunas do seu artigo, publicalo no 4” numero ‘de FESTA, No se péde nogar quic, si voce eacroven case artigo fol para se_colocar cm evidencia, chamando sobre st @ alonoho dos outros, ¢ para passar tambem um bi- Faisslmo elogio na yonte da. mua turma, ma sun pure §1 vor possulsse profunda @ virginal sonstbilt- dade, sf foose possivel a voce se habiluer a distingulr melhor 05 valores ¢ a meditarim pouguinho, dolxan- do tambem de ger tio tolamente conveacido. eu serla capas do aorediine que cumpriadn’ o rou dealing de critleo Joven, voce pudesse crlentar 0 publieo. Iznara @ darihe uma verdadoira nogio do. Arle, para. qie dest arte chogasse ele & compreender ea apreciar algum dia alguns dos genuinos cantores da realidade braatleira. Creio que a matoria (a composta cox at- {istaa-Artistas) ‘diepenearia dle bom grado os tes ro: vigorantes contacts com n aima popular. de que fala voo8. Com todo o seu pedantisino bocd, voo’ tem cor Fagem de debxar que ¢ seu iustre nome Tigurea line ta dos colaboradores de ELECTRICA.(orgam de pro- paganda das lampadas Osram-Mazda) ‘revista ‘que tem como directdr o pomposo poeta Heitor Alves, au tor da VIDA'EM MOVIMENTO, tive que é uma’mn- ravitha de tetelazinhax ELEGTRICA'¢ uma revista Datuta que publicn coins assim: MICROSCOMO. Achilles Alves define nestas ostrophes Singelas ¢ sures, dle um tom lyrica, co- mo eompreende & vida. (N. da It) O nosso mundo 80 resime numa esperanca unieamente feita de sonho © de perfume, © nosso mundo! Quanta gente © julga espira de fumaga, guie se evapora de repente. ‘Mas que {ilusito! O tempo passa 2.0 nosso mundo pequenino Ta, impellido pola graca fo Deus Cupido-o Deus Menino, Note importante: o autor deste negocio ¢ irmao do dlrotor Alves, Mas delxemos isso de parte. Em ver do ezaminar, tim-tim por tim-tim, todas as bestidadezinhas quo sairam da sun penna, prel mostrar a vocé que eu tambem possio notaveis Sualkindes aromgttictKagendo heim pouparel als tempo ¢ no me enngarel multo, NAO. sel sl voce atingira 0 aloanee. desso minha. alfiude. Garanto, po- rém, que. la ¢ eminentemente. pratica, ‘Antes quo mo caqueca, quero fazer uma _per- gunta: ¢ por Medo ou por que é-que voea ee mantem numa situagio tho duvidosa em face do Mario? Me lembro isto porque ‘voed, na pagina 7 de FESTA numero 2, diz. que Ole no passa de um méro. pastichador de coisas europeias e passadas e de um suposto renovador da nossa literatura. Entrotanto, no numero 4.de sua revista, voce o intitila vordadeiro, renovador de nossa arte, referindo-se ainda a. sua, acho dinamien @ A sua thdlvidualldade | desbordante. Quasi a mesma colsa voce disse a respeito do Osival do. Interessante tudo isso, nfio acha Como voc’, naturalmente, sei espllear, prefiro passar adiante, Vojamos a agora a minha anofoe’:, que levard sobre a sua vantagom do sor acompahada de algi- ‘mas notas elucidativas, Fieard bOa, Val ver. i incapaz de se ANTOLOGIA Ah! quom foi que passow pelo meu pomar colorido e arrebatou os mous rutos maduros ! w Ah! ja vae Dedéco para os seus quarenta... @) Dentro do vagao, uma paizagem arida de eaixelros Vinjantes, devorando cousas. Orgia de bananas e ovos duros. (3) Dentro do meu coracho, dansou-se a dansa silenciosa da renuncia. @ Na noite longa-longa, Morestal, demente umbros: uma virgem dourada erguia uma Ianterna, Que ou Sique mudo, envolto na grave sinceridade met silencio... (6) (Torna-se_necessaria uma esplicagio; ineluinde na minha axfologre osses trechos em prosa © cm poe- sla, nilo 6 meu intulto depreciar os sens autores. Pelo contrario admiro alguns deles). voe®, MESTRE que essa historia deri cularizar as produgdes dos outros ¢ facilima, Prinel- palmento quando omprogamos 0 sou procesto nada Gecente e ainda por cima temos a ventura de encom: trar leitores ineautos 6 ingenuos. ‘Terminerel agora, meu insigne eritieo joven. De vooé nada mais direi, Basta que cu Tale sémente isto: voe® 60 Tda FESTA. Procure no dieionario © NeJa quantas palavras boniiiaias comegam por essa letra, Por ezomplo: (O10, trouxa, tabaréo, © ediostera, Janeiro de 1928, FRANCISCO I. PEIXOTO. NOTAS—(1) Barreto Fitho, poeta das vegeti cas nostalgins o das interrogapses ousadas, no Magalhies, escritor das aliviuhacoes. supreenden- tos; (3) Brasilio Ttiberé, burilador de paginas jograles- eas, de uma alogria do sol amankecento; (4) Cecilia Meirelles, poctiza das estranhas cadencias universalis- tieas; (5) Murillo Araujo, poota das iluminagdes agiarns (@) Lacerda Pinto, vate de uma espiritualidade deli cadiesima, Janeiro VERDE 19 SINGERMAN. STOLEK, ETC., ETC. A sra. Singerman poderia nflo declamar um s6 verso brasileiro e nfo tolerar um uni- co poeta nosso, pensando que todos fossem cheirozinhos engommadinhos © insupporta- veizinhos como o morubixaba Osvaldo Ori- co, ser muito amiga do Brasil. Nao enxer- uel fambem, em qualquer minuto, no gesto ingratissimo ‘da sra. rman offensa 20 Brasil. Ora bolas. Quem ¢ a sra. Singerman, com todo o seu orgulho e mais a récua dos que a praclamam genial, como se 0 genio, ao envez de ser 0 que é, fosse um phenome- nozinho vulgar? © caso’ limitou-se a isto: ingratidfo de quem tanto devia sor grata ao Brasil ¢ aos brasiloiros, Pretenderam até intrigar-me como sr. Ministro do Exterior, como se s. ex. nfo ti- vesse o que fazer. A argentinidade da sra. Singerman—deixem que accentue—6 s6 para effeites de bilheteria na nossa Idiotolan- dia. A minha intengfio declareda foi esta: que se soubesse disso ahi e que 08 meus pa- tricios e patricias, por cestigo merecido pao Ihe levassem mais acontribuig&o do seu applau 80. do seu dinheiro, que no mais se aper- cobossem della e de’ suaarto «aqui em Buenos Aires e a que se referiu o marido ¢ empresario na car- ta 4 «A Tribuna», de Santos, ainda que fos- sem authenticos, seriam uma consequencia da reclame atordoante que faz. Mas esse mesmo , por effeito dessa mesma cus- tosa reclame dependurada nos muros vadios. da cidade, obtem os bichos amestrados do Parque Japonez, 03 xaropes e as rillulas purgativas de qualquer boticario inexperio. A virtude est4 apenas no cartaz. Os commentarios que ahise publiraram, o sr. Viggiani, matreiramente, transmittiu-os para aqui, pelo cabo. Uma manha (e este ponto desejo aclarar bem para csmigalhar A injuria que o «Diario da Noite> e a «Folha da Manhi>, de S. Paulo, acolheram) depois de ha ver rechassado systhematicamente o st. Stolek e nfo acceitar a sua tardia «Boa vontades, fui por elle, de novo, importunado em minha casa, Estava escrevendo a conle- rencia para a , de 10 de Se- tembro, em -La Pena», Mandel que o meu criado 0 trouxesse at¢é mim. Educadamente, olferecl-the assento e perguntel-ihe a que vi- nha, Desentranhiou do bolso, com ar de com- punegiio, um mago de telegrammas ¢ alludiu 20s commentarios de certos jornaes, no Rio, Falci-lhe com franqueza: que lamentava as adulteragdes e, com a lisura de que sou ca- pas, adeantel o que fizera: que escrevera car- tas ‘a alguns 8 de imprensa, narrando- Ihes 0 caso e pedindo-Ihes que agissem como se lhes afigurasse gnelhor. E mais: que era desejo meu eserever, eu proprio, esses com- metarios ¢ remettel-os pelo correio, mas que, por falta absuluta de tempo, ndo o conéeguira. Isso foi, porventura, protestar innocencia? E, por acaso, jé nasceu 0 ho- mem quo me possa atemorisar? Disse-Ihe ainda qne, assim como no me considerava culpado pelo ineendio de Roma, quando Nero foi Imperador, nfo. po- deria ‘ter a culpa daquillo que entendessem escrever tacs ou quaes diarios, dentro de a autonomia. Continuava a declarar-lhe que snra, Sagerman, ao contrario do gran, je violinista David Bolia e da admiravel declamadora Wally Zenner, recusdra 0 seu concurso & festa do Ateneo. O snr. Stolek, com 0 seu palafratorio de vendedor de mo- veis a prestacdes, sem entender de psycho- logia, nfo lendo 6 que sou na minha face mascula, insinuou, entdo, a remota possibi- lidade do desafiar-me para um duello. Ahi. esquecido de que o em minba casa, approximei-me mais e gritei-Ihe: —“O snr. tem 0 topete de vir pertur- bar-me 0 trabalho, euidando que me aco- vardo com duello?” Sem esperar que ime respondesse, roscgul, talvez um pouco exaltado pela \solencia desse individuo: —"Duello? Acceito-o jae J6, mas sob a condicfo de que seja 4 brasileira, Nada da comedia de padrinhos, phrases protocol- lares, medicos e.. lavadeira 4 distancia. Homem a homem”. Exaltaglo momentanea porque se re- flectisse como costumo reflectir, teria cha- mado 0 meu eriado Francisco e ordenado: sPonha esse sujeito na rua com um pontapé no rabo! $6 isso, para continuar a trabalhar. Fil-o, porém, engulir a ameaga, mesmo Jonginqua, e romantizur a vz. Os meus ami- 3 no Rio ow na Conchinchina, os que, de facto, me eonhecem, sabom que esse episo- dio 86 podia ser assim como estou contando. Eu, na vida, ¢ na idade em que estou, apenas me arreceici de uma coisa: de poder, um dia, chegar a ter medo. Mas esse dia’ niio chegou, nem chegaré porque, muito cedo, eduquei a minha vontade, que 6 Inquebran~ tavel. No bravatcio, nem interpreto 0 cs- padachim, Eu amoé & paz que me permitte =. trabalhar, Em horas perfeitamente opportu- nas, e sempre por motivos justos, appliquei uns’ pares de pescogdes em determinados patifes. Repetirel a dose, se for preciso... Como ja ee juei tambem, o meu tele- gramma ao sr. Vi passel-o por genero- Sidade, antes as supplicas do sr. Stolek. Quan- do esse individuo, pela“contesima vez, na tarde desse dia (0 do duello...) me importu- now, choramingando, medroso do fracasso dos reeitaes de sua mulher ¢ esporeado pe- los telegrammas repetidos daquelle empre- sario, ainda me oppuz a qualquer remendo. Consultei, no entanto, alguns brasileiros que, no momento, estavam commigo e, um delles, dr. Ezequiel Ubatuba, foi até quem redigi 6 telegramma. Ku modifiquei 0 texto para ebrasileiros resentidos ete.» «resolvemos> ac- ceitar explicagSes ote. Com isso quiz dizer que, éscapa a taes generos Sendo, por maior e em especie, na essencia, amago ¢ for- ma, uma daquellas cathegorias de estylo de- nominadas pelo profundo Silvestre Pinheiro; seja . Gosei & bessa com este pedago. Oswald de Andrade nfo escreve por escrever, como qualquer sujeito interessante nao. Esereve afirmando tudo muito direitinho. Suas ideas e conceitos emitidos. Sem titubear. Com fir- meza. Porqué sempre foi assim que éle fez. Ha pedagos fertissimos no livro em que Oswald de Andrade se revela um psicologo formidavel! Puro Rafael Lopéz de Haro (com perddo dos senhores que no vao 4 missa do j4 celebre romancista hespanhol). ‘A linguagem empregada no esirella de ebsintho 6, sem duvida, admiravel. E af o autor se afirma mesmo um dos milhores prosadores nacionais. Entre anti- gos € modernos. Um livro como este vale por duas ve- zes. Pela originalidade tinica do seu autor. E pelo trago forte com que elle marcar4, pris geragdes vindouras, a espaventada ati. tude de ousada independencia espiritual de Oswald de Andrade. F. 4 VERDE Balaninha ¢ oulras mulheres. lidade do sr. Ribeiro Couto 6 um caso 4 parte nas letras brasileiras. Por- que 0 seu caso & tipfeo como o seu estilo. Nesse livro de contos éle 60 mesmo homem ironico e piedoso das produgdes an- teriores. Nao variou na maneira de ver e de sentir. Folizmonte. A’ ironfa ¢ a piedade so as tintas mais caracteristicas desse grande enamorado de ambientes discretos. Nada de quadros berrantes: todos leves € comunicativos. Nunca mothando 0 pincel de todo... Quando 0 observador principia tragando forte surge 0 coragdo do poeta e suaviza 0 colorido. 11 contos. Alguns publicados anterior- mente. Todos sem enfase, Som tiradas de efeito. Mas a gente percede naquéles perio- dos simples © despretonciosos um profundo desencanto. Desencanto e alguma tristeza. Uma tristeza mansa que até nos faz bem... Que delicioso recolhimento intimo tem a sua prosa! Entretanto as palavras vém claras © precisas. Eis a sua qualidade mais simpdtica: sinceridade de expressao. O fixador de Baioninke c oulras mulheres avangou bastante. O adoravel Ribeiro Couto quasi timido de hontem passou agora—ape- var da confusio do momento — a trilhar que O Crime do Esludente Batista © outros li- yros deixaram entrevér, Diante déle surge uma linda clareira. E’ finear barraca ce es- perar a caga. Esta nfo faltard, Tudo nos diz que o autor de tanta coi- sa béla péde trabalhar confiante. Tendo a certeza de ser o mais simpatico intelectual da sua geragio, GUILHERMINO CESAR. Notas sobre Clan do Jabot (poesia). O pequeno volume que Mario de An- drade acaba de publicar nlio 6—propriamen- te, um livro regionalista. Porém um. livro 4 inspiracdo regional. Prineipalmente, ‘como todo livro desse poeta, traz a sua nova marea—de—tabrica, resultado de sua constante procura. Nao sabemos bem si Mario de Andrade perdeu alguma coisa. Mas.. ealemo-nos, por emquanto, O «regionalismo» de Mario ndo 6 uma preocupagdo, tomada a palavra no seu pri- mitivo sentido de significagdo verdadel Porém sim uma consequencia. Espanto ma ravilhado do poeta pelas coisas ingenuas da terra. Espanto este motivido pelo espirito terra-a-terra—e, portanto, uma consequente influencia déle, ‘na razio directa do geito ou sentido com que o encaro e compreendo. Janeiro Nao sei quem duma feita escreveu que Guilherme de Almeida é um sujeito em cada liyro. Nao concordo com isso. E inda outro dia conversando com o Ascanio sobre o pes- soal paulista discutimos muito a ésse respeito. Guilherme muda de roupa, s6. No fundo 0 mesmo , 0 mesmo imutavele, comtudo, delicioso—digamos (pra no haver mal entendidos), Guilherme de Almeida. Amigo da forma, estética, escola © tudo o mais. Mario de Andrade, muito pelo contrario, sempre novo. Sempre’ diferente. Sempre inédito. Sempre «desmaneirado-, es- quisito. E 6—justamente, essa falta de «ma- neira» que o caracteriza, distinguindo-o dos outros modernos como um super-espirito & parte. A mais clara inteligencia da moderna geragao brasilei © autor de Escrava esté ficando, a meu ver, um caso muito sério na ordem—das eoi- sas. E€ pena que nio se tenha feito ainda sobre ele um pequenino ensaio de fixacio. Mas um ensaio de que por outra coisa, de «regionalista» mesmo, Quem se der a um estudo balanceado has ultimas producdes do poeta, de fins de 1926 até agora, vera que ole hoje osté mais seguro de si (no sentido de «tirme», porque Mario de Andrade nunca andou {6ra de si). mais equilibradoe que a sua nova «marca» se acomoda muito bem com o seu geito fer- vido-fogoso de poetar. E vai indo «tudo bra- sileiramente-. © -pau—brasileirismoy de Losango cigqui Tisca o trago que une sua fase primitiva 4 actual, O que nao ha duvida porém, apesar de tudo 0 que se tem tido de mau contracle, 6 gue Mario de Andrade continua a ser conta- ‘como 0 sujeito mais interessante do mo- mento, O sujeito que ndo acha geito na ma- Janeiro 1928 VERDE 25 duréza, por ecelencia. E hale ser sempre novo. Sempre mogo. Porém muito, muitissimo diferente daquela figura de Walter Scott que aos oitenta anos brincava de gude sé pra dar aos outros uma aparente visio de ale- gria jovial. Infantilmente. ‘A -alegria esportivas em Mario 6 uma sequencia logica da sua maneira de viver pela qual tudo pra ele 6 muito bom e coisa nenhuma implica -desinfelicidade>. Nao é da gente se espantar, portanto, que Clon do Jaboti seja uma coisa 'simplesmente admiravel, visto brotar dum espirito. mais admiravel’ ainda. z ARRAIADA MINEIRA A proposito de FESTA VERDE Os poetas minciros da moderna corren- te vdo aparecendo pouco a pouco. O senso de modernidade preocupa seriamente a ge- ragdo moga. Essa geragéo que vive agora de olhos voltados para a nossa alegria cria- dora. E 0 ambiente da vida americana surge nas inteligencias de hoje como resultante logica desse instante de inquietagdo © pro- cura. Em Minas 0 modernismo tem sido enca- rado de modo mais frio. Resultado da distan- cia que vae das montanhas ao mar. Distan- cia que dificulta a ago civilizadora do ho- mem do litoral sobre o homem do interior. Olhemos Rio e Sio Paulo: por 14 o trabalho mogo tem sido mais seri. (Convenhamos: essa distancia da a0 mineiro certa serenida- dena discussdo dos assuntos). ‘Até hontem vinhamos fazendo poesia de continuagéo. Sem a procura incessante do criginal que caracteriza as produgdes supre- endentes dos Andrades, Razées: muitas. Uma délas: 0 pudor natural de parecer estrava- gante ayenturando f6rmas € concepgdes no- vas. Assim tem sido. Nao sei si para forta- lecer ou atrofiar as nossas letras, Nao se pode determinar ao certo a re- sultante de tantas forgas contrarias. Pode-se dizer—todos estamos vendo—que a coisa esté tomando outro caminho. Nos ultimos dois anos a corrente tem se avolumado. E por toda’ a parte vdo brotando as idéas novas. Apoi- adas em espeques de cultura variada e tra- gmentaria, Cultura que se metodiza vaga- Tosamente. E que tende ao definitivo. Defi- nitive s6 admissivel para classificagdo. Vem-nos agora de Ponte-Nova, a . Pode haver um pouco de ezagéro na frase. ‘Mas ndio deixa de ser verdadeira e concordo com éla. Os outros meninos, minha irmf, meus trmiios, mo- Weds, ores, meus briaq\ ‘4 casaria branca de minha terra, a burrinha do vigario pastando junto 4 ca- ceili chela de grapas ‘endita ‘sols entre as matkeres, bendilo ¢ 0 rato do vosso veatre.. E as mos do somno sobre os mous olhos, £45 Guanous do'mea extneciano = a do meu Sahiodo dan paginas Dontlas ara_omea vaio de ava! E to tao to tonge.. tho fouge.- Poesia flufda. Impalpavel. Metatisica. Jorge de Lima 6, inegavelmente, um poeta de valor. E bem’ aquele homem que faz da realidade das coisas duras, um milagre lindo de beleza interior. 'Néo 6um revoltado nfo. Mas uma alma bOa que espera. Com um sorriso ironico nos labios. Mas de desapontamento que de ma- licla, Forgando pra nfo chorar. «Fazendo de contas... Poeta do Norte Jorge de Lima botou ments eee noe seus yore essa outra grande, granderrima qui je que Ihe reconhego). Nao o sertdo dos jagungos e bandoleiros satados. No o serio perigoso Gas séces ¢ pragasde gafanhétos. Mas oser- tio lendario do. «mogo do ponche-pala» ‘Terra de poetas batutas como le 36! F ELECTRICA—2* serie n. 1—Revista do sul de Minas. Cheia de infantilidades, E de muitos reclames. Na maior parte deles mal itos. Por ezemplo aguéle que Heitor Alves fez do belo livrinho de Ricardo Martins. Em todo caso tem outros bons. Como o do Keye- ledor Gesteire- No meio desses reclames se encontram sigumas poesias de, Ricardo Martina. De Mu- ‘Araujo. De Heitor Alves. 86. VERDE Janeiro Palavra de honra que fiquei gostando das duas amostras dos Kythmos da lerra encan- toda! 01° faciculo da 2 serie de Electrica ainda transcreveu uma poesia de Ribeiro Couto e um pedago da Enxurrada do Tasso que annuncia 0 fervor claro do autor da A vida em movimento. Batuta ! “(2) Manuel Bandeira» vai colaborar no proximo numero. Pra qué essa interrogago nas costas do homem, gente? (© servigo tipografico de Ekcirca obriga © leitora der cambalhotas. Que fara 0 pobre do tipographo? PEIXOTO. CARATULA Anolll n°. 114 Hebdomadario de teatro cinema, belas- artes e literatura. Muito vivo e muito bem escrito Carétule se impoe principalmente pela feitura grafica e capricho na colaboragSo. . Neste n°, destacamos um poema de Mareelle Ancluir, Embriogues, muito bonito e muito bem pensado. Notas de critica, cinema, teatro e etc. F LIVROS RECEBIDOS: Paulo Mendes de Almeida—Carfaz—S. Paulo—1923. Charles Lucifer—Parmi le soir indefni— Paris—1927. Achiles Vivacqua—(Roberto Theodoro) —Serenidade—1928. Aco revista continental—Buenos Aires 2. jembro—1927., Heitor Alves—Vide em movimento—Passa Quatro— Festa—mensario de arte e pensamento— Rio—ns. 4/5 6. Reca—revista moderna — S. Carlos —S. Paulo— Fevereiro 1928. Nicolés Fusco yne—Le trompela de Jas voces alegres Montevide 1925. Christovéo de Camargo—O Fni Me- Iner—19927. = La Sierra—organo de la juventud ret vadora andina, n. especial—Janeiro, Fey reiro, 1928—Pera—Lima. Mustrogéo Paranense—Curytiba—Feverei- ro 1928, ete.

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