= igbes Técnicas uid Introdu¢gao Entre as condigdes humanas € comum a de gostar-se de movimentos e de mudanga, Viajar parece-me titil porque o espirito tera nisso um continuo exer- cicio ao encontrar coisas novas e desconhecidas. Montaigne (Journal) 1.1 Turismo: Problemas de Defini¢ao 1.1.1 Conceitos de Lazer, Recreio e Turismo Quando falamos de turismo € preciso saber do que falamos, a que realidade nos referimos, © que e quem queremos identificar. Apesar da extraordinaria dimensio que aleangou e de fazer parte integrante do modo de vida das sociedades contemporaneas, ¢ apesar de toda a gente usar a expressiio correntemente, nem sempre as pessoas a utilizam com 0 mesmo do e nem todas signifi que a ouvem a percebem da mesma maneira, Para uns o turismo € uma coisa muito séria porque Ihes proporciona emprego ¢ rendimento e dele dependem as suas vidi s; para outros, é sinénimo de diversdo para ricos e ociosos, Para quem vi forma de alcangar satisfagdo e realizagdo pessoal, mas para quem tem responsabilidades politicas é um meio para alcangar bem-estar social. Para alguns é um meio de invasdo das suas vidas e de destruigdo de valores que fazem parte da sua identidade mas, para muitos, & uma forma de libertagao. Umas vezes, abrangem-se na designagao de turismo s6 aquelas situagdes e atividades que proporcionam prazer e diversiio a quem vem de fora mas, outras vezes, incluem-se nela uma vastiddo de situagdes muito diversificadas mas ligadas entre si por elementos comuns. Por vezes, em fungio das perspetivas de cada um, adotam-se designagdes na tentativa quantas vezes falha de rigor, de «marcar terreno» ou «marcar posi¢dion mas vazias de senti- do (por exemplo, «turismo residencial»), ¢ até, repugnantes («turismo sexual»), que contri- buem mais para o descrédito do que para o engrandecimento de uma atividade que nasceu estreitamente ligada ao enriquecimento e valorizagdo da pessoa humana,Economia e Pol ica do Turismo Originalmente, a realizagao das viagens de que nasceu a palavra «turismo» ocorria por puro prazer, por distragdo, para aprender ¢ aumentar os conhecimentos ou por mera curiosidade, recusando-se a inclusdo no turismo de viagens com outros fins: as viagens turisticas eram aquelas que se enquadravam nas nogdes de tempo livre e de ociosidade com recusa de ou- tras. «O turismo rigorosamente consiste nas viagens por mero prazer, que se fazem com fim exclusivo de gozar os encantos dos paises que se visitam», dizia-se (Ataide, 1934/1936) O turismo deriva da nogao de tempo livre que «é 0 tempo ndo consagrado ao trabalho e que €um fendmeno socioeconsmico historicamente diferenciado tendo uma relagdo direta com os lazeres» (ONU, 1988). Coloca-se, contudo, a necessidade de formular um conceito de lazer jé que este, embora tenha relagdo direta com o tempo livre, ndo tem a mesma amplitude. Chic (1998) identifica trés maneiras de conceptualizagdo do lazer: uma, segundo a qual, 0 lazer & encarado como tempo livre ou nao obrigatério; na segunda, o lazer como atividade a parte das obrigagdes tais como o trabalho ou a familia, ¢, a terceira, segundo a qual o lazer € considerado com um uso subjetivo, um estado mental ou uma condigao definida pelos individuos como lazer. As diferencas entre estas concegdes, mais do que esclarecer, dificultam a compreensio do Ambito do lazer ¢ impossibilitam o seu uso para fins Gteis tal como encontrar formas para responder as necessidades pessoais derivadas do lazer. Por isso, parece mais adequada a definigo de Dumazedier (1988) para quem o lazer «é a atividade a qual as pessoas se entregam livremente, fora das suas necessidades e obrigagdes profissionais, familiares e sociais, para se descontrair, divertir, aumentar os seus conheci- mentos ¢ a sua espontanea participagdo social, livre exercicio e capacidade cr Segundo esta definigao, o lazer comporta trés dimens (descanso), ou seja, a procura de repouso, libertagdo das preocupagdes e constrangimentos; a diversdo com o fim de esquecer, por momentos, a vida quotidiana, entregarse a atividades que im- pliquem uma rotura com o quadro de vida habitual; desenvolvimento (aumentar os conhe- cimentos), consistindo no exercicio de atividades que permitam ao individuo afirmar-se, expressar talentos ou exprimir-se: pintar, desportos, jardinagem, visitar monumentos, ouvir sica (Amirou, 2007), Deste modo, o lazer & o tempo de que cada pessoa dispde apés o seu trabalho ¢ estudo, dormir e a realizay sidades basicas como a alimentagZo, as compras, os cuidados com os membros da familia, a higiene e a realizagdo dos trabalhos caseiros, que constituem as suas obrigagdes profissionais, familiares e sociais. Todas as atividades que impliquem uma obrigagao ou resultem de uma razdo de cardter compulsivo, qualquer que seja a sua natureza, nao fazem parte do lazer tempo de lazer nao significa inagdo e, em regra, é um tempo de ocupagdo com ativi- dades de livre escolha dos individuos, «tendo por objetivo restaurar 0 bem-estar fisico € psicolégico, favorecer o desenvolvimento pessoal ¢ enriquecer o potencial intelectual» mi do de outras ne 2Inerodugio (ONU, 1988). No entanto, Rojek (2005) distingue duas formas distintas de lazer: uma, 0 lazer sério, que envolve beneficios duradouros tais como autoenriquecimento, melhoria da autoimagem e intensificago da solidariedade e, outra, o lazer superficial, focalizando-se no hedonismo, no estimulo sensorial como fontes intrinsecas de satisfagdo («matar o tempo», olhar as montras, beber, jogos de sorte). O tempo de lazer 6, geralmente, um tempo ocu- pado como forma de distragdo, evasdo, divertimento ou do desenvolvimento e realizagao pessoal e, nessa medida, é um tempo de reereio, O recreio € tomado, entdo, no sentido da variedade de atividades realizadas durante o tem- po de lazer e define-se como sendo o conjunto de agGes e atividades que as pessoas desen- volvem livremente de forma positiva e agradavel durante o lazer, ineluindo as participagdes ativas e passivas em desporto, cultura, educagdo informal, entretenimento, diversdes, visi- tas e viagens. Neste sentido, o recreio cobre quaisquer ocupagdes durante o lazer que ndo envolvam um compromisso e nele se incluem as viagens turisticas, Nestes termos o turismo é uma forma de lazer, mais coneretamente de recreio, mas difere dele em multiplos aspetos. Em primeiro lugar, o recreio pode ser baseado na residéncia ou nas suas proximidades en- quanto o turismo pressupde sempre uma deslocagdo para fora da residénci sempre uma deslocagdo, 0 que as restantes formas de recreio no exigem. Em segundo lugar, muitas das viagens que integram o turismo implicam responsabilidades € envolvem obrigagGes que estdo ausentes do conceito de lazer: obrigagdes sociais, poli ticas, profissionais ¢ familiares. No diagrama do «lazer, recreio e turismo» (Figura 1.1), sugerido por Boniface et al. (1982), as viagens de negécios surgem separadas do tempo de lazer mas, além destas, hd outras que também o devem ser, tais como: estudantes que participam em programas comunitérios, participagdo em obrigag tratamentos ou recuperacao fisica (v. g., termalismo). E : no turismo ha 's familiares € soci E por esta razdo que faz sentido falar em «turismo de lazer» como atividade 4 qual as pessoas se entregam livremente & parte as, suas obrigagdes, ou seja, livres de compromissos, Em terceiro lugar, as viagens turisticas implicam uma permanéncia em locais fora da resi- déncia habitual por perfodos de tempos variéveis mas que podem ultrapassar semanas ou , © que dé lugar a tempos livres que so ocupados por atividades de recreio: deslocagdes ¢ permanéncias turisticas geram recreio para satisfago do qual des atividades produtivas idénticas Aquelas que sao criadas para satisfagao do recreio na drea da residéncia. O turismo ¢ uma forma de recreio que, por sua vez, gera recreio, Por iiltimo, todos os equipamentos necessarios ao recreio servem o turismo mas este exige equipamentos e profissdes adicionais (meios de alojamento, equipamentos necessérios a0 turismo de negécios, operadores turisticos). mesmo meses nvolvem,Economia e Politica de Turismo Tempo de lazer Jempo de trabalho Tempo disponivel para um ingividve depois que o trabalho, ve 0 sono eoutras necessdades bisicastenham sido atencidas Recreio «cupagéow: aividades desenvolvidas durante o tempo de lazer Fluxo continuo éaatvidade de recreio Recreioresdencial: lazer quotdiano: | Viagens de um | Turismo: Viagens de leitura,jardinagem, teatro, cinema, | dia: visitas movimento maps televséo, restaurantes, | | atracées, etc. | temporario convivéncia social |desportos para fora da residencia habitual Limites geogréicos Ga ‘ocal | Regional [Nacional [internacional Figura 1.1 - Lazer, recreio e turismo Fonte: Boniface et ol, 1982. Nestes termos, o turismo é, em parte, tempo de lazer (recreio) e tempo ocupado no exerci cio de responsabilidades e obrigagdes tal como se mostra na Figura 1.2. Figura |.2—Relagao entre o tempo livre e 0 turismo