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AQUISICAO POR IPRA ADQUIRIDO DE _CaenEciou 01 mar, 2010 909.7 Dios dts io err oy EDITORA ROCCO LTDA. ta Rete So 20011-040 - Rio de Janeiro, RJ Tel: 2507-2000 - Fax: 2507-2244 e-mail: rocco@rocco.com.br vrww.roeco.com.br Printed in Brazil / Impresso no Brasil CIP-Brasil. Catalogacio-na-fonte. al dos Editores de Livros, RJ Nas mathas da letra: ensaios / Silviano Santiago. ~ Rio de Janeiro: Rocco, 2002 Inclui bibliografia ISBN 85-325-1404-9 1. Ensaio brasileiro. 2. Literatura brasileira ~ Hist CDD-869.94 02-0493, CDU-869.0(81)-4 $C001171373 SHCOy> a ¢ critica, I. Titulo. QI Sumirio Nota 4 primeira edigio ... Nota 4 segunda edicio ... Poder ¢ alegria Prosa literdria atual no Brasil © narrador pés-modemo . Singular ¢ anénimo © Evangelho segundo Joio Il © dentro do dentro do dentro Fechado para balanco ... ‘A permanéncia do discurso da tradi¢io no modernismo .. Historia de um livro .. A estrutura musical no romance .. Questio de perspectiva... O intelectual modernista revisitado Amizade e vida profissional.... 13 28 44 61 72 81 85 108 145 164 187 193 eet IE Por qne © para que viaja o europeu?.. Onde a propaganda ¢ onde a arte... at IV Para além da histéria social . . 251 Bibliografia . . 273 Nota final ........ 275 Nota 4 primeira edigao Estes ensaios dramatizam quatro preocupagées da minha inquietagio ctitica, inaugurando novas perspectivas de com- preensio do fenémeno literdrio no contexto cultural brasileiro Uma primeira preocupacia é com as cantemporaneas, isto é aqgueles autores de obras com quem convive a minha propria escrita ficcional ¢ poética. E a maneira como, analisando ¢ ava- liando a producéo literéria pés-64, mapeio escritas, tracos te- miticos e problemas para melhor me situar. Uma segunda preocupagio € com os modernistas. Algumas sugestdes de leitura ¢ algnmas conclusées (ainda que precdrias) podem parecer cruéis a uma sensibilidade ainda afinada com o ideirio de 22. Nao tenho interesse em pedis-lhe desculpas. Asinalo a ténica e a consciéncia que tenho da minha tomada de posigio. O resto & matéria para discussio académica. Em seguida prolongo duas linhas que s¢ enconttam desde Uma Hiteratura nos trdpicas. Retomo a questio das relagdes entre a Europa ¢ as Améri- cas, agora pelo viés de um ensaio de Umberto Eco e pela cri tice de uma inesperada forma de censura artistica em pais tio democratizado quanto a Alemanha pés-hitleriana. Retomo, depois, certa preocupagio teénica que sé encontra disseminada aqui ¢ ali nos meus textos criticos que tangenciam a literatura comparada. Agora o intuito é 0 de questionar 2 metodologia de leitura que se encontra na minha produgao mais recente, © rabicha desta ¢ de outras contradigées, nio é dificil encontré-lo na minha formagio intelectual. Quem ago Nota a primeira edigio se lembra que André Gide disse que era um homem em didlo- go, que tudo nele combatia e se contradizia. Um duplo agradecimento final: ao Instituto de Estudos Avangados (USP), por um incentivo que acabou durando ape- nas dois meses, e ao CNPq, por uma recente e intermitente bolsa de pesquisa. Maio de 1988 8 NAS MALHAS DA LETRA Nota 4 segunda edicgio A Editora Rocco tem pouco a pouco republicado os meus livros esgotados. Na categoria ensaio sobre literatura e cultura brasileiras, saiu recentemente Uma literatura nos trépicos. Agora langa a segunda edigio de Nas malhas da letra, Proximamente, estara reimprimindo Vale quanto pesa. Nas malhas da letra retine os ensaios que escrevi nos anos que sio conhecidos como os do proceso politico de abertura. O livro mantém relago estreita com os dois livros de ensaios que o antecedem. Uma literatura nos trépicos viveu de certa euforia narcisista, decorrente da teoria da dependéncia econémica aplicada ao conhecimento e desenvolvimento das artes e das culturas na- cionais do Terceiro Mundo. A euforia que sustenta os ensaios mais densos do livro, em particular “O entre-lugar do discurso latino-americano” e “Ea, autor de Madame Bovary”, foi per- dendo o vigor nas duas dltimas décadas e praticamente se apa~ gou com o século. Hoje pareceria um livro datado, se 0 novo milénio nio nos tivesse trazido questdes que ali foram expostas € discutidas. No seu estertor, os novos tempos se alimentam de idéias que foram por ele corroidas. Vale quanto pesa tentou conviver criticamente nao s6 com 0s descalabros ¢ impasses criados pela repressio e a censura as artes, decorrente do regime implantado pela ditadura militar, como também com a emergéncia brutal dos problemas por que passou o artista no momento em que a economia brasilei- Ta tornava-se por op¢io dos dirigentes do pais uma economia Nota a segunda edigio 9 de mercado. O nome do sabonete da minha infincia servia de metafora para que se perguntasse qual era © peso ¢ o valor da arte no miomento em que a critica perdia sentido e o consu- midor se algava 4 condigio de arbitro todo-poderoso. Recen- temente a Academia Brasileira de Letras foi convidada a se envolver na questéo. Nas mathas da letra traz ensaios que tentam dramatizar os percalcos da nova literatura brasileira. Ao mesmo tempo em que quer privar-se das fortes amarras que mantém com 0 Mo- dernismo, opta por enfrentar frente a frente a questio da tra- digo nacional. © livro passa a encarar a produgio modemista pelo viés da pés-moderidade ¢ a tradigio pelo viés do que foi recalcado pelo Modernismo — o pré-modemismo por exem- plo. Autores como Euclides da Cunha, Lima Barreto e Joio do Rio estdo ai e nio nos deixam mentir, O ensaio intitulado “O narrador pés-moderno” talvez seja a melhor chave para a sua (re)leitura. Nao é sem modéstia que afirmo que esses trés livros de ensaios, precedidos pelo Carlos Drummond de Andrade, que pu- bliquei em 1976, acabam sendo de maneira sutil — e talvez por isso mesmo envergonhada — comentirios aos livros de criagdo (prosa e poesia) que fui escrevendo no decorrer das dé- cadas finais do século. Criagio ¢ critica se langam na minha obra com 0 mesmo impeto e coragem. Criagio e critica so intercambiaveis, A leitura do outro, como esta claro nos roman- ces Em liberdade © Viagem ao México, além de ser uma forma de enclausuramento do escritor na tradicio literéria nacional ¢ cosmopolita de que extrai sentido, € também o modo mais vi- vaz que encontra para escapar das armadilhas do sujeito singular € imperioso, mera panqueca pos-moderna, que tem servido de engodo a paladares aflitivos ¢ irresponsiveis. O autor Abril de 2002 10 NAS MALHAS DA LETRA Poder e alegria A LITERATURA BRASILEIRA POS-64 — REFLEXOES A Celso Cunha Nbs temos que dar ao Brasil o que cle nao tem e que por isso até ‘agora no viveu, nés temos que dar uma alma ao Brasil ¢ para isso todo sacrificio € grandioso, & sublime. E nos dé felicidade. [...] Toda 4 minha obra é transitéria ¢ caduca, eu sci. E eu quero que seja transitoria, [...] Mas que importa a etemidade entre os homens da Terra ¢ a celebridade? Mando-as 4 merda. Eu nado amo o Brasil espiritualmente mais do que a Franga ou a Cochinchina, Mas é no Brasil que me acontece viver e agora 36 no Brasil eu penso ¢ por ele tudo sacrifiquei Mario de Andrade (1924) Tentemos, primeiro, uma distingao bisica que servira para caracterizar tematicamente a literatura brasileira pés-64. Deixa esta de apresentar como tema principal e dominante a explo- ragio do homem pelo homem. Esse tema foi em geral drama- tizado pelo processo de conscientizagio politico-partidaria de personagens pertencentes 20 campesinato € ao operariado, acompanhado de critica velada (simpitica) ou aberta (radical) 4 oligarquia rural ¢ a0 empresariado urbano. O jogo entre as duas forcas sociais opostas escamoteava por vezes as camadas médias e urbanas da sociedade e era composto de forma a an- tecipar dramaticamente uma evolugio otimista ¢ sem tropecos do capitalismo para 0 comunismo no Brasil. Otimismo e utopia se aliavam para mostrar a vit6ria definitiva das forcas de esquerda. E pelo abandono gradativo desse tema (e seus subtemas) que a literatura pés-64 se diferencia da literatura engajada que Poder ¢ alegria 13 ee

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