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Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz Aula 01 - Criminologia ar eet arr ca Noses iniciais de Criminologia: 5 O conceito e método da Criminologia a A Criminologia como ciéncia e a interdlisciplinaridade (LO. Criminologiae Politica Criminal. 11. Criminologia e Ciéncia Criminais). ‘Objeto, sistema e funcBes da Criminologia. 3. Conceitos de crime, de 01 criminoso e de pena nas diversas correntes do pensamento criminolégico (nas Escolas Classica, Positiva e Técnico-Juridica e na Criminologia Critica) 4. Vitimologia. 5. Criminologia cientifica e os seus modelos tedricos. 6. Ohomem delinquente. Teorias bioantropolégicas, psicodinamicas € Psicopsicologicas. 7. A sociedade crimindgena. Sociologia Criminal e 02 Desorganizagao Social. Teorias da subcultura delinquente € da anomia. A perspectiva interacionista 8.A Criminologia € © Paradigma da Reacao Social. ‘9. Criminologia na América Latina e as agencias de controle. 03 12. Criminologia ¢ © Sistema de Justiga Criminal. 13. Criminologia @ o papel da Policia ludiciaria 14. A criminologia no Estado Democratico de Direito. 1. Criminologia .. aa 12 Objetos da Criminologia .. Questoes Sumario www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz 1.1 Objetos da criminologia No inicio da aula de apresentacdo, deixamos antever os objetos de estudo da Criminologia. A titulo de introdugéo sobre 0 tema, apresentamos a seguinte questo: 2011 — PC/SP — Delegado de Pol Constituem objeto de estudo da Criminologia a) 0 delinquente, a vitima, o controle social e o empirismo. b) 0 delito, o delinquente, a interdisciplinaridade € controle social c) 0 delito, o delinquente, a vitima e o controle social. d) 0 delinquente, a vitima, 0 controle social e a interdisciplinaridade. €) 0 delito, o delinquente, a vitima e 0 método. Gabarito: C A Criminologia, em virtude de sua autonomia cientifica, apresenta objeto especifico. Sao eles, respectivamente, o Delito, o Delinquente, a Vitima e as formas de Controle Social. Vejamos agora, de forma isolada, os trés primeiros objetos de estudo da Criminologia: o Delito, o Delinquente, a Vitima Lembrando que na préxima aula nos ocuparemos do quarto objeto, qual seja, 0 Controle Social. A Criminologia tida por moderna se destaca justamente pela ampliagao de seu objeto. Assim, enquanto classicamente sé se preocupava em estudar o delito e 0 delinquente, a criminologia moderna encara o problema da criminalidade ampliando seu objeto de anélise para passar a abarcar em seu estudo: a vitima e as formas de controle social. ‘www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz Delito (Crime) Como se pode perceber, as primeiras investigagées criminolégicas versavam quase que exclusivamente sobre a pessoa do delingiente e sobre o delito. A referida ampliagéo decorre de ume releitura "qualitativa" do problema criminal, com 0 consequente deslocamento do interesse criminolégico, pautado preponderantemente na analisa da vitima e das formas controle social. Desse modo, a Criminologia tradicional tinha por base um sdlido e pacifico consenso a respeito do conceito legal de delito, no o questionado. Nesse contexto apresentavam forga impar as teorias etiolégicas da criminalidade, que tomavam daquele seu auténtico suporte ontolégico; 0 principio da diversidade (patolégica) do homem delingtiente (e da disfuncionalidade do comportamento criminal); e os fins conferidos a pena, como resposta justa e util ao delito. Estes constituiam seus quatro pilares mais destacados. ' Os fundamentos epistemoldgicos e ideolégicos da Criminologia tradicional s&o assim objeto de releitura da criminologia moderna, de forma que a prépria definicao de delito e 0 seu respective castigo - a pena - so concebidos radicalmente como problematicos, conflitives, inseguros. Nesse contexto, j4 se indagou em concurso 0 seguinte: 2009 - Policia Civil/SP - Delegado de Policia A criminologia é uma ciéncia que dispée de leis: a) imutaveis e evolutivas; b) inflexiveis e evolutivas; c) permanentes e flexiveis; d) flexiveis e restritivas; ' GOMES, Luiz Flavio e PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia. Criminologia, 5.ed.rev. e atual.- Séo Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. ‘www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara ula Prof. Pablo Farias Souza cruz ©) evolutivas e flexiveis Gabarito: E Partimos da premissa, embora nao informada pela questao, que se queria questionar a respeito da criminologia moderna. Assim, alertamos 0 candidato que a panorama mudaria se o enunciado da questo afirmasse inicialmente, por exemplo: A criminologia classica... A criminologia moderna parte de uma reconsideragéo da “questéo criminal", que pde em cheque os postulados, os dogmas da Criminologia classica & luz dos conhecimentos cientificos interdisciplinares da contemporaneidade. Sobre o tema, elucidativas as ligdes de Pablos de Molina: As teorias estrutural-funcionalistas, as subculturais, as da socializagdo e da aprendizagem, as do conflito, as interacionistas do labelling approach e outras contribuiram decisivamente para a redefinigéo dos postulados de um novo modelo. Um novo paradigma que rechaga 0 conceito juridico formal de delito, reclamando maiores cotas de autonomia frente ao sistema legal para selecionar seu préprio objeto com critérios rigorosamente cientificos (conceito "definitorial" de delito versus conceito “ontolégico"); que postula a “normalidade" do homem delinquente, a “funcionalidade" do comportamento "desviado" e a natureza "conflitual” da ordem social (frente ao principio de “diversidade" do infrator, da "patologia" da desviagéo e ao cardter "consensual" que a Criminologia classica assinalava a ordem social); e que, a0 denunciar a extrema relevancia do controle social na génese da criminalidade (que no 'selecionaria" 0 crime, mas antes o "produziria") e sua atuacéo discriminatéria, sugere um drdstico deslocamento do objeto da investigacdo cientifica: dos fatores criminégenos (conforme a terminologia das teorias etiolégicas convencionais) ao controle social, do delito mesmo, isto é, das variéveis independentes 4 varidvel dependente, superando o enfoque etiolégico.” * Garcia-Pablos, A. Tratado de Criminologia, cit., p. 90 e ss. Contrapondo dois modelos criminolégicos, 0 "positivista" e 0 "critic", Baratta, A. "Criminologia y dogmatica Penal. Pasado y futuro del modelo integral de la Ciencia Penal", in Papers, Revista de Sociologia, n. 13, p. 17 € ss. Apud GOMES, Luiz Flavio e PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia. Criminologia, 5.ed.rev. € atual.~ Séo Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 4 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz Como 0 conceito de delito nao interessa somente a Criminologia, pois dele se ocupam outras dreas do saber, como a Filosofia, a Sociologia e 0 Direito Penal (entre outras), precisamos delimitar 0 Conceito de Delito para fins criminoldgicos, o que iré embasar todo 0 contetido a ser exposto no presente curso. De modo a demonstrar a polissemia relacionada ao conceito de Delito, aproveitamos para expor esquematicamente as definicdes existentes nos mais variados aspectos, com base na obra Criminologia’, referéncia atual e indicada para concursos, isso tendo em vista primordialmente sua aptidio para a completude: * GOMES, Luiz Flavio e PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia. Criminologia, 5.ed.rev. e atual.- Séo Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. ‘www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz s Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara "Dos concussos Direito Penal, por exemplo, serve-s0 do tum concvito formal © normativo, imposto por exigencias inexoraveis de legalidade © seguranca juridica: delito € toda conduta prevista na lei penal e somente a que a lei penal castiga. Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz A Filosofia e a Btica, por sua vez, valem-se de outras pautas ¢ instancias além do direito positive: da ordem moral, da natural, da razao etc. O conceito filoséfico de “delito natural” — tanto em sua verso positivista como na jusnaturalista — tampouco atende ds necessidades da Criminologia. Formularam-se muitos aatros, conecitos materiaio de delito, por Sellin, (Settn, T Culture confict and crime. p. 25 @ 46, sobre estes conceitos materiais de deito) Gotifredson e Hirschi, (Gottfredson, MR. ¢ Hirschi, TA genera! theory of crime. p 4 € ss) Assim, 0 “positivismo criminolégico’ ~ para ‘citar somente uma de suas inumeriveis construgdes -, em seu intento de formular um’ conceito “material” de crime, independentemente de toda varivel ‘espacial, temporal @ legal, criou a imprecisa expressdo “delito natural’, que Garéfalo definiria como "uma esto daquela parte do sentido moral, que consiste nos _sentimentos altruistas fundamentais (piedade © probidade) segundo 0 padrio médio em que se encontram as ragas humanas superiores, cuja medida € necessiria para a adaptacao do individuo a sociedade’; (Caréfalo, R (Criminologia, 1885, p. 30 e ss\ outros autores, no entanto, realgam a nocividade social da conduta ou a periculosidade do seu autor. (Sobre Sutras nogdes "materiaisdo dclito, vite Hurwitz, 5. Criminology, p. 372. risco Social), Pinatel,L.Traite de Drott Penal et de (Criminotagie, ¥. I, p20 € ss., Marnhem, HL Yergletchence Krminotogie, cit, p74 ¢ $5; Bsenterg, U Kriminobgee, ci, p 7 € ‘85; Rodriguez Manzanera, L Crininobogia, et, p. 22-23, Of GarcaPablos, A Tratado de’ Criminologia, ‘cit, p85. Sobre os diversas conceiios ‘ de dette, vide, recentemente, Sessar, K. “Sobre el concepto in Revisia de Derecho Peral y ‘Crimi-nologia (UNED), p. 269 a 301. ) Fishbein.( Fishbein, D-H, ‘Biobehovisral }—| perspective in Criminology, p. 96 ¢ <3) Gotifredeon ¢ Hirechi exigem “forge fisica ou enganc™ {force or frau} © busca de interesse proprio. Fishbein pretende elaboralo em toro do Senses ds graces por tor esoe tim Ceensale wal ss orspoctiauesns antrsociais, suscettvels de medigao © estavel ou permanente ao largo das diferentes culturas. ‘A. Sociologia utiliza 0 conceito de “conduta desviada’ (deviant behavoir, Abweichendes Verhalten etc.), que toma como critério de referencia as expectativas sociais, (Sobre o anceito saciolégico de “conduta desviada’, vide Ricenberg, U Rriminotogie, cit, p 7; Kaiser, G. Krminologie. cit, p 18 e ss. Wiswerle, ©. Sopiologie Abnusichenden Verholten, p. 18 ¢22.; Opp, K D Abweishendes Verhalten und Gesellechaftestrukturen, p. 38.8 #2 Parsone, T. The accial aystom, p 250 e 8¢, Matza, D El proceso de desviacion, cit, p. 21.€33) pois nao existe ~ nem pode existir ~ uum catalogo apricristice e neutro de condutas objetivamente desviadas (desviadas in se ou per se] prescindindo daquelas. Desviado sera um comportamento conereto na medida em que se afaste das expectativas sociais om um dado momento, enquanto contrarie os padrées © modelos da maioria social. Nao importam, pois, ‘as qualidades objetivas da conduta, inerentes a esta ou referidas a valoragées que procedem de outras instancias normativas, sendo o juizo social dominante e a conduta “esperada’. De algum modo ~ conforme esta orientacao ~ a dosviagéo nao reside na conduta mesma, porém na doe demais. (Vide Kaiser, ©. Kriminologie, cit, p. 118-120. Também Vold, G. B. Theoretical Criminology, cit, p. 253 ¢ ss. Vetter, Hi J. € Siverman, [. J. Criminology and erie: an introduction, p. 11 e 8) Mais ainda, as teses “interacionistas’ do labelling approach chegam a negar a existencia de um conceito de delito, por entender que este 36 tem uma natureza ‘definitorial’, isto &, tratar-ee-ia da etiqueta que © seletivo © discriminaté: sistema legal atribui a certos autores e n&o das qualidades negativas de certos comportamentos. (Sobre 0 probiema, vide GaraPabios, A. Tratado de Criminobgia cit, p. 36 ¢ ss Ressaitando 9 carater meramente “defnioriat'do delte: Becker, H. S. The outsiders: studies in the socobgy of deviance, p. 9 ¢ ss. tembén, Rader, W. Za rind ot delist tevte de las definiciones sociales (0 etiquetamiento’) respecto de las dimensiones esenciales del enfocue dei etiquetamiento (labeling approach) en el campo de ia Sociologia Criminal, in Cuadernos de Politica Criminal. 8,7. 51) www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz A doutrina conclui que nenhum desses conceitos de delito pode ser assumido sem maiores implicacdes pela Criminologia. Em que pese 0 conceito do direito penal ser um ponto de partida para a Criminologia, 0 mesmo nao é suficiente, haja vista a metodologia empirica e interdisciplinar desta ciéncia. Assim, pode-se afirmar a inadequag&o do dogma nullum crimen sine lege ao estudo criminolégico. Assim, 0 Delito para criminologia envolve fatos que podem ser irrelevantes para o Direito Penal, como o chamado "campo prévio" do crime, a “esfera social" do infrator, a "cifra negra", as condutas atipicas, etc...); Interessa 4 Criminologia no tanto a qualificac3o formal "correta" de um acontecimento penalmente relevante, sendo "a imagem global do fato e do seu autor": a etiologia do fato real, sua estrutura interna e linamica, formas de manifestagao, técnicas de prevengéo do mesmo e programas de intervencao no infrator etc.* 0 criminélogo entdo, fazendo criticas e adequagées as definigdes de delito @ sua ciéncia, acaba por chegar as seguintes conclusées: 1) © conceito criminolégico de delito é um conceito empirico, real e dindmico. XY Segundo Serrano Maillo, A. |Introduccién a Ix Criminologia, cit. Pp. 26 @ 27), seguindo premissas proximas ac labelling approach, 0 delito tem uma natureza "em boa parte de construgio social’, pelo que interessa & Criminclogia ndo apenas sua spi penal. como também sua definicao pela sociedade, pela policia, pela Administragao da Justiga ete. ¢, desde logo, 0 processo de litera doe Eb. etme a proramlorin in Air pecmas predomina o interesse geral ou 0 interesse particular. 2) A moderna Criminologia se interessa, antes de tudo, por temas de maior transcendéncia que a prépria definicéo formal do delito, como, por exemplo, as funcées que desempenha o delito como indicador da efetividade do controle social, seu volume, estrutura e movimento, a distribuicéo da criminalidade entre os distintos estratos sociais etc. 3) O delito, para a Criminologia, € um problema social e comunitério, que * No sentido do texto, Gdppinger, H. Criminologia, cit., p. 3-4. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 7 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara ee ean Prof. Pablo Farias Souza Cruz exige do estudioso uma determinada atitude (empatia’) para se aproximar dele. Nesse contexto se percebe que como o crime recebeu varias conceituagdes dos penalistas, filésofos, moralistas, sociéloges, politicos, etc... seriam necessérias algumas reflexées pelo crimindlogo. Para 0 penalista, ndo é sendo 0 modelo tipico descrito na norma penal: uma hipétese, produto do pensamento abstrato. Para o patologista social, uma doenga, uma epidemia. Para o moralista, um castigo do céu. Para 0 experto em estatistica, um nlimero, uma cifra. Para o socidlogo, uma conduta irregular ou desviada. A Criminologia, por seu turno, deve contemplar o delito n3o sé como comportamento individual, mas, sobretudo, como problema social e comunitério, entendendo esta categoria refletida nas ciéncias sociais de acordo com sua acepgao original, com toda sua carga de enigma e relativismo. Para Oucharchyn-Dewitt e outros®, , um determinado fato ou fendmeno deve ser definido como "problema social" somente se concorrem as seguintes circunstancias: que tenha uma incidéncia_massiva_na_populac3o; que referida incidéncia_seja dolorosa, aflitiva; persisténcia_espaco-temporal, falta de um inequivoco consenso a respeito de sua etiologia e eficazes técnicas de intervenc3o no mesmo; consciéncia social generalizade a respeito de sua negatividade. Como se verifica o delito seria a conduta no minimo enquadrada como um "problema social", quando ento configurar na caracterizagio acima. Os problemas sociars reclamam uma particular atitude do tvestigador, @ qual a Excola de Cincago denommow "empaiia”. O crime, também. Mas, empatia, desde logo. ndo significa simpatia nem cumplicidade cam o infrator ¢ seu mundo, sendo interesse, aprego, fascinagie por wm profunde e doloroso drama humano e comunitirio: um drama préximo, mas, ao mesmo tempo, enigmético e tmpenetravel. Referida paixdo e atitude de compromisso com 0 cencirio criminal e seus protagonisias sao perfetiamente conpativeis com a distancia do objeto e da neutralidade requeridas do cientista. Contraria 4 enpatia é a atitude indiferente e fatigada, tecnocrérica, dos que cnidam do fendmeno delitwo como qualquer otro problema, esquecendo sua natureca aflitiva, sua amarga realidade como conjlito interpessoal € comunitério. Ow a atitude estrnamente formalista que vé no delito um mero comportamento tiptco previsto na norma penal ou antecedente Iégico da consegiiéncia juridica, que fundamenta a trexordvel pretensco punitiva do Estado. Apud in GOMES, Luiz Flavio e PABLOS DE MOLINA. Antonio Garcia. Criminologia, S.ed rev. e atual~ S80 Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. © Em Approaches toward social problems: a conceptual model of basic and applied social psychology, p. 2 Jiménez Burill, F Psicologia social y sistema penal. p. 19 ess, 5-287. Ch www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 8 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula Prof. Pablo Farias Souza Cruz Delinquente (Criminoso) Por delinquente se tem a pessoa que realiza a infragdo penal. Foi no positivismo criminolégico que a pessoa do delinquente alcangou seu maximo protagonismo como objeto das investigacées criminolégicas. © principio da "diversidade" que inspirou @ Criminologia tradicional (o delinquente como realidade biopsicopatolégica) 0 converteu no centro quase exclusivo da atengao cientifica. A seu turno, a Criminologia moderna, passou a tratar com menos prioridade a figura do delinquente, se submetendo & uma verdadeiro giro sociolégico. Emblematica é a andlise da imagem que se professa do homem delinquente. Sobre a referida imagem, quatro acepc6es sao paradigmaticas: a classica, a positivista, a correcionalista e a marxista.’ A flosofia CORCORAN, | 0 TREES, por partiu de uma imagem por sua vez - e 0 marxismo | ultimo, atribui a Piblime e ideal devser | Plivandoibe de seu cero e de seu | POF Sut we ° Hier frumano, como centro | feada 8 seen the a posse |s.00y0" “Go inator eee score eeere | delve controle sobre seus atos e seu | Tea alee. fee actor | BREN ads wecu abeen * Pees eee da liberdade - no iso ose poner i coe oe vende ees Be te ee | ema aa So a oe | eee Scenes Seer emis oe =| gee Seer aoe ee SErietose Ou nea | pitta do prams sansa, Sremnner eee Suvi in| Exrecona | erent incon Nee erecta a sere) O| aie ake |S See ee Sania ae ore ee ee comportamento Guepertnimncke a5 tarde an A. Tratad> de delitvo 3. pode ser dindmasa do couen 0 ofitn que r0 Crminologia, ot, atcibuido a0 dindeica do cousas ¢ efit aue reas | Tragen. do homem deinanenie | Comma oe) Sarma “cudeia "de “estanulos '¢ | @ue professa 0 correcinalismo J. nao | respostas: fatores determinantes | — _& —€m particular, a a razbes internas, nem | intemnos, endogenos (biobgicos) ou | Besserungstheonie alema — vide a influencias externas. | externps ¢ exdgenos (sociais) explicam | DOT se. cy Bee ee eeees; | sum conduta inenoraveknente. "© z O crime, pois, Pons | Srauetipo ideal, quase slgEbrico, dos oe Bim TE [csicos oa ugar ua imagem deficiente, absurdo Em conseqiiéncia, 1 Vide Garcia-Pablos, A. "Explicaciones estructural-funcionalistas del delito’, in Delincuencia. Teoria e investigacién, p. 165-193. Ferri, E. Los nuevos horizontes del Derecho y el procedimiento penal, p. 23 € ss. www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 9 9 Criminologia para 0 cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Smemieres ula Prof. Pablo Farts Souza cruz ‘enigma, Para oa | materializada © concreta do homem: ‘dissiess; semethante a uma equagio, « Uma formula, a uma reapao quimica ¢, de outro lado, 0. principio | da de sua carga __hereditaria, enclausurado em s © separado dos demais, que ola o pasado e sabe, fatalmente escrite, seu futuro ~ um animal selvagem e perigoso Sobre o tema ja se indagou em concurso: EP 01/10 - A Escola Posit (a) cré no determinismo e defende o tratamento do criminoso; (b) tem em Bentham um de seus precursores; (c) foi consolidada por Carrara; (d) baseia-se no método dogmético e dedutivo; (e) surgiu na etapa pré-cientifica da criminologia; Gabarito: A Sobre as escolas criminolégicas trataremos em nossa aula 3. Em sintese comparativa, lapidar € a ligéo dos professores Hoje, nao podemos negar a imagem muito mais rica, dinémica, pluridimensional e interativa do ser humano dada por disciplinas empiricas como a Psicologia, as ciéncias da conduta etc. O individuo néo é um ser solitério, desarraigado, que se enfrenta com sua liberdade existencial sem condicionamentos, sem historia (tese dos classicos); porém, tampouco é uma mera concatenacao de estimulos e respostes, uma maquina de reflexos e hdbitos ou um prisioneiro de seu cédigo biolégico € genético (tese positivista), que olha sé 0 passado; nem uma mesmo criou. Pelo contrario, 0 homem é um ser aberto e inacabado. Aberto aos demais em um permanente e dinémico processo de comunicagio, de interagSo; condicionado, com feito, muito condicionade (por si mesmo, pelos demais, pelo meio), porém com www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 10 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula Prof. Pablo Farias Souza cruz assombrosa capacidade para transformar e transcender o legado que recebeu e, sobretudo, solidério com o presente e com a visio no seu préprio futuro ou no futuro alheio. E 0 homem real e histérico do nosso tempo, que pode acatar as leis ou nao cumpri- las por raz6es nem sempre acessiveis 4 nossa mente; Um) Sér enigmatico, complexo, torpe ou genial, heréi ou miseravel, porém, em todo caso, mais um homem, como qualquer outro. Dificilmente cabe afirmar, hoje, que sé um ser patolégico pode atrever-se a violar as leis, pois a experiéncia didria ~ e as estatisticas - constata 0 contrario: os individuos "normais" séo 0s que cada vez mais delingiem. A criminalidade econémico-financeira, a de funcionarios e profissionais, a juvenil, a de trafico, dentre outras, confirmam esta evidéncia.® ° GOMES, Luiz Flavio € PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcla. Criminologia, 5.ed.rev. e atual.- Sé0 Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz uw Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz Vitima No ciéncias juridicas penais, a vitima ou ofendido € 0 sujeito passive da infragéo penal, a pessoa que sofre diretamente as consequéncias (fisicas, psiquicas, econémicas, sociais e etc...) da pratica criminosa, sendo um dos principais interessados na satisfagéo da pretensdo punitiva do Estado. O tratamento da vitima nos ordenamentos transitou entre dois grandes polos, 0 completo abandono e a chamada idade de ouro!” dois grandes radicalismos que a criminologia tende a afastar. Entre o abando e o protagonismo, o redescobrimento tem sido a nota dos ordenamentos atuais, com leve e progressiva tendéncia ao fortalecimento da protecSo da vitima através de normas como: Lei de protecéo a vitimas e testemunha, a Lei Maria da Penha e alteracdes recentes promovidas no CPP. Nesse contexto, se coloca o estudo da Vitimologia, processo que se propde a promover uma revisdo do papel da vitima no fendmeno delitivo, que segundo Luiz Flavio Gomes e Antonio Garcia Pablos de Molina se apresentam em trés fases, Protagonismo, neutralizag’o e redescobrimento. Sobre o tema, destacamos, das ligdes dos referidos autores, o seguinte: 1) O abandono da vitima do delito é um fato incontestavel que se manifesta em todos os émbitos: no Direito Penal (material e processual), na Politica Criminal, na Politica Social, nas préprias ciéncias criminolégicas. Desde © campo da Sociologia e da Psicologia Social, diversos autores tém denunciado esse abandono: 0 Direito Penal contemporéneo - advertem - acha-se unilateral © equivocadamente voltado para a pessoa do infrator, relegando a vitima a uma posicéo marginal, ao Ambito da previsio social e do Direito Civil material e processual. A Criminologia tampouco tem demonstrado sensibilidade pelos problemas da vitima do delito, pois centra seu interesse exclusivamente na pessoa do delinquente. O sistema legal define com precisdo os direitos - 0 status - do infrator (acusado), sem que referidas garantias em favor do presumido responsével tenha como |légico correlato uma preocupacéo "© Segundo a denominagao de Shafer, in The victim and his criminal. a study in functional responsibility, p. 7 € ss. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 12 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz semelhante pelos da vitima. O Estado - e 0s poderes ptiblicos - orienta a resposta oficial ao delito com base em critérios vingativos, retributivos (castigo a0 culpavel), desatendendo 4s mais elementares exigéncias reparatérias, de maneira que a vitima resulta relegada, geralmente, a um total desamparo, sem outro papel que 0 puramente "testemunhal". Por Ultimo - e ainda de acordo com a dentncia dos socidlogos e psicdlogos -, os escassos investimentos pliblicos parecem destinados sempre ao punido (novas prisées, infraestruturas penitenciérias etc.), como se a ressocializagéo da vitima ndo fosse um objetivo basico do Estado "social" de Direito. O abandono da vitima do delito, desde logo, pode ser constatado - por muitas e diversas causas - tanto no dmbito juridico como no empirico e no politico-social. 2) O sistema legal - 0 processo - j4 nasceu com o propésito deliberado de "neutralizar" a vitima, distanciando os dois protagonistas do conflito criminal, precisamente como garantia de uma aplicag3o serena, objetiva e institucionalizada das leis ao caso concreto. A experiéncia havia demonstrado que n3o se pode pér nas maos da vitima ou de seus parentes a resposta ao agressor; que a natural paixdo que o delito desencadeia em quem o sofre tende a instrumentalizar aquela, convertendo a justiga em vinganga ou represélia; que a resposta ao crime deve ser uma resposta distante, imparcial, publica, desapaixonada. A neutralizacéo da vitima est, pois, nas préprias origens do processo legal moderno. Este é um mecanismo de mediacao e solugao institucionalizada dos conflitos que objetiva despersonaliza a rivalidade entre as partes contendoras. Mas, a linguagem abstrata, simbélica do Direito e o formalismo da intervencdo juridica converteram a vitima real e concreta do drama criminal em um mero conceito, em mais uma abstracao. Em virtude de o delito ter sido definido como enfrentamento simbélico do infrator com a lei, como lesdo ou perigo de les3o de um bem juridico ideal, anénima e despersonalizadamente, a vitima se enfraqueceu, tornou-se fungivel, irrelevante. Deste modo, o Direito nao s6 distancia as partes do conflito criminal, senéo também abre um abismo www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 13 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Avlaa Prof. Pablo Farias Souza Cruz irreversivel entre elas e corta artificialmente a unidade natural e histérica de um enfrentamento interpessoal. A consequéncia de tal fenémeno é muito negativa e, de fato, j4 foi constatada em algumas investigacées empiricas. O infrator, de um lado, considera que seu Unico interlocutor é 0 sistema legal e que sé frente a ele é que contrai responsabilidades. E esquece para sempre de "sua" vitima. Esta, de outro lado, se sente maltratada pelo sistema legal: percebe o formalismo juridico, sua criptolinguagem e suas decisées como uma imerecida agresséo (vitimizacao secundéria), fruto da insensibilidade, do desinteresse e do espirito burocratico daquele. Tem a impresso, nem sempre infundada, de atuar como mero pretexto da investigacéo processual, isto 6, como objeto e ndo como sujeito de direitos. Tudo isso aprofunda cada vez mais o distanciamento entre a vitima e o sistema legal, acelerando seu processo de ‘alienagao" em relacao aquele."* Mas, nao foi muito mais distinta a ateng3o dispensada 4 vitima pelas disciplinas empiricas. A Criminologia tradicional desconsiderou-a, polarizando em torno da pessoa do delinquente todas as investigagées sobre o delito, sua etiologia e prevengao. A vitima é considerada mero objeto, neutro, passivo, fungivel, estatico, que nada contribui para a explicacéo cientifica do acontecimento criminal, para sua génese, dindmica e controle (esse o pensamento cldssico).’? Tampouco 6 alentador, finalmente, 0 panorama, para a vitima, nas esferas da deciséo politica (Politica Criminal, Politica Social e Assistencial etc.), porque o Estado "social" de Direito conserva demasiados habitos e esquemas do Estado liberal individualista. O crime continua sendo um fatal acidente individual, para todos os efeitos: a soliddria reparacdo do dano e a " Cf. Sangrador, J. L. La Victimologia y el sistema juridico penal, cit., p. 68-84, *° A Criminologia classica se caracterizou por um radical individualismo que polarizava em torno exclusivamente - da pessoa do delinquente a andlise do fato delitivo. Nem do ponto de vista etiolégico nem preventivo algo interessava mais que 0 infrator. A possivel relevancia, para ambos efeitos, de outros "protagonistas" do acontecimento delitivo - a interacao reciproca de todos eles na dinamica criminal ~ muito raramente foi objeto de preocupacao. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz bad

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