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= aes PROCESSOS DE GRUPO: A INFLUENCIA NOS Grupos SOocIiAIs VISAO GERAL DO CAPITULO Definigdes: 0 que E um Grupo? Grupos Nao-Sociais: Os Efeitos da Mera Presenga de Outras Pessoas Facilitagéo Social: Quando a Presenga dos Outros Aumenta Nossa Energia Indoléncia Social: Quando a Presenca dos Outros nos Relaxa Sexo e Diferengas Culturais em Indoléncia Social: Quem Faz Menos Esforco? Desindividuagao: Perder-se na Multidéo Grupos Sociais: Entrada, Lideranga, Trabalho e Competigao Composigéo e Estrutura dos Grupos Socials Lideranga Sexo e Lideranga Decisées de Grupo: Duas Cabecas (ou Mais) S40 Melhores que Uma? Contlito € Cooperagtio Resumo Se Voce Estiver Interessado m um dia frio de janeiro de 1961, John F. Kennedy tomou posse como 35.° presidente dos Estados Unidos. Um romancista nao poderia ter escrito melhor roteiro: Kennedy era jovem, inteligente e bonito, filho de uma familia rica, bem-relacionada, e heréi de guerra. Tinha uma mulher inteligente ¢ bela e dois filhos adoraveis. Na vitéria sobre Richard Nixon, provou ser um mestre estra- tegista, cuja aparéncia vistosa, cujo senso de humor cujo encanto pessoal eram perfeitos para 0 novo meio de divulgacdo de massa, a televisio. Cercou-se de assesso- res e membros de gabinete tao talentosos que um comen- tarista os sagrou “os melhores ¢ mais brilhantes” (Halberstam, 1972). Assumindo o comando nesses momentos excitantes, de imediato Kennedy teve que tomar uma diffcil decisio politica. Deveria dar prosseguimento a um plano, iniciado pelo governo Eisenhower, de invadir Cuba? Pode parecer estranho, de nossa perspectiva na década de 1990, que uma pequena ilha ao largo da costa da Fldrida fosse con- 196 Processos de Grupo: A Influéncia nos Grupos Saciais siderada uma ameaga to grande aos Estados Unidos. Estévamos, porém, em plena Guerra Fria e Fidel Castro, que liderara recentemente uma revolugio comunista em Cuba (com apoio da Unido Soviética) era definitivamente considerado uma ameaga. O plano de Eisenhower consi tia em desembarcar na costa cubana uma pequena forga de exilados cubanos, treinados pela CIA, para que instigas- sem ¢ dirigissem um levante de massa contra Castro, Kennedy reuniu seus assessores para examinar os pros € os contras do plano. Transformado em uma unidade for- temente amarrada e coesa, o grupo trouxe ao assunto gran- de volume de conhecimentos especializados. Apés demo- radas discusses, o grupo resolveu seguir em frente. No dia 17 de abril de 1961, uma forga de 1.400 exilados inva diu uma rea de Cuba conhecida como Bafa dos Porcos, O resultado foi um completo fracasso. As forgas de Castro capturaram ou mataram praticamente todos os invasores. Pajses latino-americanos amigos ficaram indignados com a invasio, pelos Estados Unidos, de um de seus vizinhos. ‘Como resultado da desastrada invaso, Cuba tornou-se um aliado ainda mais estreito da Unido Soviética. Mais tarde, © presidente Kennedy perguntaria: “Como pudemos ser tio esttipidos?” (Sorenson, 1966). O que deu errado? De que modo um grupo de pessoas {do talentosas, que se reuniram demoradamente para ana- lisar as opgdes, poderia ter concebido um plano tao desas- trado? A maioria supde que os grupos tomam melhores decisdes do que os individuos isolados. Neste caso, contu- do, um grupo de especialistas cometeu um niimero assom- broso de erros. Teria o presidente Kennedy agido melhor tomando a decisio sozinho, sem consultar assessores? Embora vocé possa pensar que sim, lembre-se da crise politica seguinte enfrentada por Kennedy e que envolveu também Cuba. No més de outubro seguinte, a CIA desco- briu que a Unido Soviética instalara misseis nucleares em Cuba, a uns escassos 145 quildmetros da costa da Flérida. Os misseis estavam apontados para os Estados Unidos e a crise resultante levou-nos a mais perto do que jamais esti- vemos da Terceira Guerra Mundial (Rhodes, 1995). Kennedy e seus assessores habilmente evitaram-na com uma estratégia brithante de ameagas, bloqueio naval e ges- tos conciliatérios, que conseguiram fazer com que Khruchtchey, o lider da Unido Soviética, recuasse e retiras- se os misseis. O que, dessa vez, Kennedy e seus assessores fizeram de modo diferente? Descobriram por acaso uma boa estratégia ou aprenderam com o fiasco anterior da Baia dos Porcos? Neste capitulo, vamos estudar a maneira como as pessoas trabalham em grupo, assunto esse que constitui um dos t6picos mais antigos da psicologia social (Cartwright & Zander, 1968; Davis, 1992, 1996; Levine & Moreland, 1990, 1998; Levine, Resnick & Higgins, 1993; Steiner, 1974; Witte, 1996; Zander, 1979). 2 DEFINIGOES: © que E um Grupo? Na sua forma mais simples, © grupo pode ser definido come pessoas que esto no mesmo lugar ao mesmo tempo. De acordo com essa definicdo ampla, ndo é preciso haver interago entre as pessoas para que 0 conjunto seja considerado um grupo: els precisam simplesmente estar na presenga umas das outres Exemplos disso incluem estudantes fazendo uma prova juntos, passageiros em um avido e torcedores em um jogo de beisebol Na primeira segio deste capitulo, veremos como o fato de fazer parte desses grupos niio-sociais — quando duas ou mais pes- soas se encontram no mesmo lugar, a0 mesmo tempo, mas no interagem entre si — influencia o comportamento do individuo. A pergunta mais importante a respeito de grupos é a seguinte: quais 0s efeitos da mera presenga de outras pessoas? Embora sejam interessantes os efeitos dos grupos nio sociais, a maioria dos psicélogos sociais, ao definir os grupos, refere-se a algo mais do que a um bando de pessoas que, por acaso, ocupam 0 mesmo espaco. Pensamos em pessoas que st reuniram com um fim comum em vista, como no caso dos assessores de Kennedy trabalhando juntos para chegar a uma decisdo sobre politica externa, em cidadiios que se reinem para solucionar um problema da comunidade, ou pessoas que foram a uma festa para liberar tensfio acumulada, Grupos sociais sé definidos como duas ou mais pessoas que interagem entre sie silo interdependentes, no sentido de que suas necessidades € seus objetivos levam-nas a depender umas das outras (Cartwright & Zander, 1968; Lewin, 1948). Segundo essa defi- nigdo, Kennedy € os assessores formavam um grupo social, a0 paso que estranhos que esperam juntos um 6nibus constituem ‘um grupo ndio-social. Na parte final deste capftulo, examinare- ‘mos a estrutura e a composi¢ao dos grupos sociais, a maneira como eles tomam decisdes e como enfrentam confflitos. Grupos NAo-Socials: Os EFEITOS DA MERA PRESENCA DE OuTRAS PESSOAS Vocé age de maneira diferente quando ha pessoas em volta? Simplesmente estar na presenga de alguém pode produzir uma grande variedade de efeitos interessantes em nosso comporta- mento. Comecemos examinando como o grupo afeta seu desempenho em algo que vocé conhece muito bem — subme- ter-se a uma prova em classe. FACILITACAO SOCIAL: QUANDO A PRESENCA DOS OUTROS AUMENTA NoSSA ENERGIA Chegou o dia do exame final em sua classe de psicolos Depois de passar horas incontéveis estudando a matéria, voce 197 Processos de Grupo: A Influéncia nos Grupos Socials Fig. 9.1 Baratas e facilitagdo social. No Labinto & esquerda, as baratas tinham uma tarefa simples: saindo do ponto de Partda, percorer a pista até a caia escu- ra. Eas cumpriram essa tarefa com mais rapidez quando outras baratas as olhavam ¢o que quando estavam sozinhas, No labi- ‘nto dreta, as baratas tina uma tare- fa mais df, Precisaram de mais tempo para encontrar a salda do labirinto quan- fo outras a5 olhavam do que quando estavam sozinhas, (Adaptado de Zajone, Heingartner & Herman, 1969.) Labirinto simples Labirinto complexo Meta Caivas das Holofote se acha pronto. Ao chegar, descobre que a prova seré dada em uma sala pequena, cheia de gente. Vocé vai se espremendo, aco- tovelando os colegas, até chegar a uma carteira vazia, O profes- Sor entra e diz. que se algum estudante se sente ineomodado com © espago apertado, pode fazer sozinho o exame em outra das salas menotes ao longo do corredor. O que deve vocé fazer? A questio € se a mera presenga de outras pessoas afetard seu desempenho (Geen, 1989; Guerin, 1993; Kent, 1994; Sanna, 1992). A mera presenga de outros pode significar uma de duas coisas: a) realizar uma tarefa com colegas que fazem a mesma coisa que vocé, ou b) realizar uma tarefa na presenga de uma platéia que nenhuma outra coisa faz sendio observé-lo. O importante é que, em nenhum dos casos, voce esta interagindo com outras pessoas — elas esto simplesmente na mesma sala, constituindo um grupo niio-social. Faré tal presenga alguma diferenga? Se fizer a prova em uma sala cheia, vocé se sentira nervoso e tera problema para lembrar-se da matéria? Ou a pre- senga dos colegas o motivaré a se sair ainda melhor do que se fizesse a prova sozinho? Un mero centale social gera... um estimulo de spirilo animal que lew a efcéncn de ead operéxio individual. Karl Marx (1818-1883) ara responder a essa pergunta, vamos precisar falar de inse- tos — na verdade, de baratas. Acredite ou nao, um estudo cliis- sico que usou baratas como participantes de pesquisa aponta uma resposta para a questio sobre como vocé deve submeter-se a prova de psicologia. Robert Zajonc e colegas (1969) construf- ram uma engenhoca para verificar como o comportamento das baratas era influenciado pela presenga de outras. Os pesqui dores colocaram uma luz forte (do que baratas nao gostam) no fim de uma pista e mediram o tempo de que elas precisavam para escapar da luz, correndo para a outra extremidade, onde poderiam entrar rapidamente em uma caixa escura (veja o lado esquerdo da Fig. 9.1). A pergunta era: elas realizariam essa facanha simples com maior rapidez quando estivessem sozi- nhas ou na presenga de outras baratas? Vocé talvez. esteja se perguntando como os pesquisadores conseguiram convencer outras baratas a servir como espectado- ras, Eles fizeram isso colocando baratas extras em caixas de plastico transparente, perto da pista. Elas estavam, por assim dizer, na arquibancada, observando as baratas solitérias na prova (veja Fig. 9.1). O que aconteceu foi que as baratas indi viduais realizavam a tarefa com mais rapidez quando na pre- senga de outras do que quando estavam sozinhas. ‘Nao estamos querendo dar nenhum conselho, com base em. um tinico estudo que usou baratas, sobre como voce deve fazer sua prova de psicologia. A histéria, porém, nao termina aqui. Dezenas de outros estudos foram realizados sobre os efeitos da ‘mera presenca de outros espectadores, envolvendo nao s6 seres humanos mas outras espécies, como formigas e aves (por exemplo, os de Bond & Titus, 1983; Guerin, 1986; Rajecki, Kidd & Ivins, 1976; Zajone & Sales, 1966). Ha uma notével consisténcia nos resultados desses estudos. Enquanto a tarefa cra relativamente simples, bem conhecida — como escapar de ‘uma luz para as baratas —, a simples presenga de outros melho- rou o desempenho. Por exemplo, em um dos primeiros experi- mentos de psicologia social jamais feitos, Norman Triplett (1898) pediu a criangas que enrolassem linha de pesca em um carretel, sozinhas ou na presenga de outras criangas. Elas 0 fizeram mais répido na presenga das coleguinhas. ‘Tarefas Simples versus Tarefas Dificeis, Antes de concluir que vocé deve permanecer em uma sala con- gestionada para fazer a prova, precisamos levar em conta um diferente conjunto de resultados. Lembre-se de que dissemos que a presenga de outros methora o desempenho em tarefas simples, bem conhecidas. Escapar de uma luz é mole, mole, para uma barata, ¢ enrolar linha de pesca em um carretel tam- pouco é dificil, até para criancas. Mas o que acontece quando ‘damos a alguém uma tarefa mais dificil e 0 colocamos na pre~ senga de outros? Para descobrir 0 que acontece, Zajone e cole- gas (1969) incluiram outra condigao no experimento com as baratas. Dessa vez, as baratas tinham que encontrar a saida em 198 Processos de Grupo: A Influéncia nos Grupos Socials g Porcentual de tacadas dadas ‘Abaxo da méeia ‘cima da médla uum labirinto com varias pistas, das quais apenas uma levava & caixa escura (veja 0 lado direito da Fig. 9.1). Trabalhando elas nessa tarefa mais dificil, ocorreu o padrao oposto de resultados: elas precisaram de mais tempo para resolver 0 caso quando outras estavam presentes do que quando estavam sozinhas. Muitos outros estudos também comprovaram que pessoas € animais tém pior desempenho na presenga dos outros quando a tarefa € dificil (por exemplo, Bond & Titus, 1983; Geen, 1989), Excitagio e Resposta Dominante Em influente artigo publicado em 1965, Robert Zajonc apresen- tou uma excelente explicacao tedrica do motivo por que a presen- 4 de outros espectadores facilita uma resposta bem conhecida ou dominante, mas inibe uma menos praticada ou nova. Seu argumento tem duas etapas: primeiro, a presenca de outras pes- soas aumenta a excitago fisiolégica (isto é, nosso corpo torna-se ‘mais energizado) e, segundo, ocorrendo a excitagio, toma-se ‘mais fécl fazer alguma coisa simples (a chamada resposta dom rnante), mas mais dificil fazer algo complexo ou aprender alguma coisa nova. Vejamos, por exemplo, algo que é uma segunda natu- reza para nds, como andar de bicicleta ou assinar o nome. A exci- taco causada pela presenga de pessoas que nos observam deve tomar ainda mais fécil esse comportamento bem aprendido. Mas ‘vamos supor que temos de fazer algo mais dificil, como apren- der um novo esporte ou resolver um problema dificil de matemé- tica, Neste caso, a excitacdo nos fard sentir-nos agitados e nosso Yo Yo Ma a0 vistoncele {do que individuos isolados? Depende do tipo de tarefa,

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