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‘Valdemar Susans Const Etoile Educ esd Cer Far Mateos toni Lait Maron Cena de rine Pedro Gorge Tereznka Azra Rios coe a Puesto (CP) Pino, Angel “As mares do humane =e orges da consti caus) da cen ppc dav’ Sig? Ana Pa Sh ai BINS 26-1174 Desevtmeny 2.Cars 3 Nabeh See ‘numanos 3 Vigo Lev Semenoich ET Ti Indices para catilogo cote 1, Gsaneas: Constaiocuur Naina humana Psksogin 2, Cons cultural: Celanga Netueos una Psogi ANGEL PINO AS MARCAS DO HUMANO AS ORIGENS DA CONSTITUICAO CULTURAL DA CRIANCA NA PERSPECTIVA DE LEV S, VIGOTSKI ame | I | Capitulo | A rianga, um ser cultural ou da i Lckgn 20 sobs [AINSUFICIENCIA DO NASCER HUMANO ‘Tomowse ja um lugar-comum afirmar que, a0 nascer, o homem & um animal incompleto,éraseatrbuida a F. Nietzsche, ou que ao nasci= mento a erianca parece um ser prematuro, como teria afimado 0 antro- pélogo L. Bolk A fragilidade do bebé humano no momento de nascer & | sua insufiiéncia para sobreviver por conta propria fazem dle, efeti- ‘vamente,o mais indefeeo dos mamiferos. Durante muito tempo — bem ais de aquele que as crias de animais mais préximos do ser humano precsaan para adquirr sua autonomia —, a sobrevivéncia do bebl hur ‘mano depende totalmente da solidariedade dos seus semelhantes, em particular dos pais, Multas semanas deverso transcorrer antes de ele er Capaz de articular movimentos cam os bragos para atingir 0s objetos proximos, Longos meses serio necessSris para que atija uma relativa ‘utonomia de movimento para cortar o espago e aproximar-se com as prdprias pemas dos objetos que o cicundam. Enfim, virios anos deve ‘io pastar antes que ele consiga realizar com um minimo de destreza as principe fungBes motors (corer, salar, subir descer escadas, mani- plat objets et), Sendo isso devido a um ritmo de maturacso oréorio lohan sepien', parece dificil expicarbiologicamente esse aparente aire: 0 maturacional e a decalagem temporal que separa a maturacto dos ‘bebés humanos da maturagio dos bebés de grande pavte das espécies que o precedetemn, Pela tégice da evolusio biologics, segundo a qual o processo ‘evolutivo se apresenta em termos de ganhos cumulativos das especies ‘mais recentes em relaséo as mais antigas,o bebé humano deveria ser ‘mais "esperto” que as cras das espécies precedentes, no ao condi A cexplicagto desse aparente paradoxo parece resid, justamente, na quilo que constitui a vantagem evolutiva de homo sapiens: suas “fun. s0es superiores", de natureza cultural, paticularmente a fala. Vale a pena lembrar aqui a observacko que faz Wallon (1942: 78-88) quando Aiscute os trabalhos,tpicos dos anos 20 do sécula passado, compara. ‘do comportamentos de criancas e macaces da mesma idade, submeti- dos ao mesmo tipo de provas cuja solucio pritica exige 0 uso de ins- {rumentos, De forma geral, esses trabalhos salientavam a desvanta gem da crianga em relagdo 20 simio até o momenio de consttuicdo da fala, Segundo Wallon, tais omparagies no podem ser exalas, pois na “%inteligéncia prética” (aquela que usa instrumentos) do macaco entra demasiads habilidade motora para que a crianga de um ano de idade ssa competi com ele. Ndo €al, alera o autor, que deve ser procurada 2 diferencs entre eles, mas na mancira como se configura o campo espa lal de cada ums ‘A dating essencial entre cles ¢ gue, antes de rd, o expago do macaco nada mais € do queo dos seus gestoseobjetivon. © espace da crianga nao & ainda 0 meio neuro abstrato, onde as mudancas de posi ent. ‘bjetos poctem ser ivrementeimaginadss, mas ce fest amano 1 Spin puentopaaiacntenporres. oboe aa domino hres spins, € mas emi tbsp da epic him sp use o homes Neanera) aparedsan 0000 ans atin ¢ guj com ss pce tons reas ‘on hs compan? hs ea ce snnuess ep eons ‘eee he Spa he ene ere pe Hime ques precede moa piso enh mattcaaiods heme com on proprisobjetor, como uma dat suas qualidades fundida nas ‘outras. (Wallon, 1942: 88) ‘Ouseja, mesmo sem possuie ainda a iberdade que the outorgard a fala —a qual faré toda a diferenca entre a crianga eo primata da mesma ‘dade — aquela, contaviamente ao que ocorre com este, percebe ja 05. cbjetos com suas formas e qualdades préprias e suas posigbes no espa p,0 que Ihe permite estabeleerrelagdes entre eles com liberdade sufi- ciente para nfo ser condicionada a agi pela gestalt da situagao objetiva, ‘como ocorte com © macaco. A possibilidade de comparar os objtos & ‘ns distincias¢ de escolher entre os diferentes meins 8 sa disposigfo para atingir seus objetivos toma a agg0 da crianca mais lenta que a do simio da sua idade, mas, em compensacio, tomava subjetiva e delibera- da (iberada do condiclonamento da situacio) (Os mecanismos genéticos ditos “instintives” que, ao que parece, regulam as fung6es responsiveis da precoce autonomia do bebé no rmundo animal, nfo operam no caso do bebé humano ou, pelo menos, ro da mesma maneira. Com efit, dese os primeiros instantes da sun ‘esténca, diferentes mecanismos cultuais entram em ago que conte rem as agies do bebé humano um caniter cada vez menos automético ju instntivo ecada vez mais imitativoe deliberative. E assim, por exem. plo, que no mundo dos mamiferos a natureea parece ter provide as #8 reas genitoras de necessidades cuja stisfaclo possibllita a satisfagio das nacessidades vitais das crias (como comer a placenta e o cordio ‘umbilieal de alto valor nutritive, protagendo a era das nefastas conse ‘quéncias de ica ligada ao compo da progenitor ou a atracio por cetos cheiros € contatos que possbiltam a estimulagio por parte desta de fungBes fsiologicas importantes para 0 desenvolvimento do seu bebe ouainda a manutengio deste perto dela de forma a prover sua nutricSo « protecio), ao passo que no mundo humano,o conjunto de agBes des- tinadas a garantiro atendimento das necessidades vitais do bebe fica na 2 As cgi em pongo det enous nga ue figure ne gn ke rating ste aden mins eri sn er gu epee svertncl cae soe das cates depend da ve volun nkltva da mse eo do gripo 2- Galo que cxpce«ocrrnca de os qu, om Intent ftentam conta sobevvencis do be (abunone, arses Iss infantis etc) tes imperadvenem qualquer cue epee, Ena ‘no mndo animal a sbrevivenn do bet &guanida pela tendons Snatinvas da femea progentorae/on de indus epee dogs 20 no mundo humavo &confinda& dacs dos pls nontorasa las Sorat soi Aart eo neo gua tice humana sd som sombra de divi, fora poderons par arate abs humans serving nn scednde a: Hs met, Pon, gue mito mei fequentemente qu que svn dene podem no funciona. Tova, por paradonl due ost prc ¢ ne 'posadeindesve! que reste x superna dear soe ot nt. oeseafimar, ent, i aparene conic de nfroriade« de prematriade do bebe humano, em verde conta uma perds © tm ebstclo ao seu deserwalviment, represent, Plo contr, in forme gan e um grande meio de desenvolvimento, una vez gue sia que pose er teow sp, que pose beefs eda sina cultural da especie umn pra deve um oe aman, Nese cata apurenedesvntagem em eros bilge cont ma me tagem em termes ultras nose pode dizer de quase todas os fngGea Biligcs 0 fato de nto estar totalmente pronas no moments do nascimento possibilta que elas safam prfundas asformagie stb ‘oda cults do propio meta. 8 verdad que também a cis de grande nimero de espécies sninsis passam, nos prints die ou semanas e dh, poe mee se rnlantes da aprendieagem social Mas ete una rane die ‘ange ents espcin e 0 homer, pois a paseo due no caso dos Ssimais ess mudangasocore nos limites Go plo Belgien mo gual nevlustopemanece rlatvamenteestaciondria no caso ostoee umanos,extaplam o plno belgio¢ ocrrem no plano cull nde evlucd parece no te limits Pea sun rare elu 6 Outro = universo cultural (Colocada a questio do duplo nascimento da ctianga, obinlgica © caltural, podemos afirmar que este comesa, como 0 mostra ahistéria do “movimento de apontar” analisado por Vigotski (1997: 104), quando 05 primeirosatos naturas da crianga adquitem signifiagio para 0 Outro. 56 Aepois € que eles se tornam significatives para ela. A kdia de que o “movimento de apontar" é 0 modelo explicaive da constituicao cultural da evianca, como afirma Vigotsi, € extrema mente sedutora, pois permite explicar a passagem do biol6gico 20 cul- tural do cultural 2 biolgic: rw nextaco Figur 1: Relago dos dois plage do deenlsimento unane (problema, no caso conereto que nos ecupe neste trabalho, & que "movimento de apontar” aparoce num momento reatwvamente tardio na histéria da cranga, pois pressupae a existincia de uma certafuncio- nalidade motorainexistente nos primeitos meses de vida. Cabe entio & pergunta: existizia, antes disso, outro mecanismo que, sem exigi esa funcionalidade motora, poderia desempenhar tm papel equvalente? (0u, a0 contrrio, ants da existenca da funcionalidade motora no seria possivel falar de atividade cultural propriamente dita, mesmo iniial? Do pouce que se conhece ainda & respeito do estado do bebé hums ro nas primeiras semanas de vida, sabe-se que, desde @ inicio, dispoe de uma sensovalidade bastante eficente para garanti as necessidades dle contato com o seu meio fisico e socal (sensorislidade visual, auditiva «© titi), sendo as dreas sensoraisprimarias do eGrtex as primeitas a de- senvolveremse,seguidas das motoras primavas, as quas, como vimes, ‘]stdo em relativ atzaso no bebe humano, comparadas com as de outros mamiferos da mesma idade. Essa dupla fungio, sensorial e motors, ‘mesmo quando sua atticulagio atinge tm certo nivel de estabiidade funcional, ainda ¢ totalmente insufiiente para que o bebé humano pos ‘52 relacionar-se com o mundo cultural. Daf a questio: como explicar ‘que desse hipottico momento 22 cultural possa emergir um ser cultural que, um dla, esta plenamente intagrado no universo humano? ‘Uma resposta bastante plausvel e em consondncia com a relida- de humana sera que a sensorialidade ea motrcidade, mesmo antes de se aticularem —o que, segundo os especalistas da india’, val aor tecendo lentamente a0 longo do primeizo ano de vida da ciansa—cons- tisuiriam a base das primezas formas de comunicagio desta com o seu meio social. Com efsito, a sensorialidade permite a crianga captar os sinus procedentes deste meio ¢ a moticidade permitelhe expressar corporalmente seus elados iernos (necessidades, emogves etc) com ‘movimentos isolados de partes do corpo, Dest forma elas permitiriam ‘cranca satisazer 0 que, segundo pesquisasetoligias, parece consti- tuir a necesscade hisica dos mamiferos superiorese 0 fundamento bio- Josico da sua socabilidade, preldio ealicerce da socabilidade huma~ a: a necessdade de contate com os ses semelhantes. Os estudos cis ‘x dos Harlow com bebés macacos revelaram que a necessidade de ‘ontato é mais premente que todas as outras necessdades bisicas, in tlusivea de alimento, sendo em conseqiéncia a mais primitiva delas. A necessidade de contato explica também esse misterioso fendmeno do *maprinting”,relatado por K. Lorenz (1968), eas conseqiénclas nefastas| que o fensémeno da prioagio® produz tanto em bebés de animais quanto ‘em bobs humanos. J. Bowlby, 1967) [A existéncia de um pertodo sens6rio-motor anterior 3 aparicio da fala € consensual ene 0s especialistas da inftncia. Embora eles difiram {quanto & maneira de conceber sua fungio no desenvolvimento da crian- ‘pv em razio das diferengas que existem entre eles a respeito da con- “xpsto da ginese e natureza das fungoes psiguicas, todos concordam. (que esa aividade exerce um papel crucial 7. alen HB; Page 97 ALF aso, Theat oe, Arion sai, 95,1745, FF e MK ai Teaictnalaytns nA See F Haro Beer rar ra {PIU Now Mork, Acer Fr 19629755 Laren I pra eae hate i pin a fe ais main 1968 9, Comte nostnlon de. Spit Holo ete oes yas Conds marly he, Te pcan Sato he ci 135} «ce Bow, cm! Indl vl, Bsc Book Ine Harp 197) om eae dvenas pags Com cans ‘ntact pn mtr oo depose das ris das ms ade aes, ‘and even onesies paige dete parc Para Paget, o pariodo senssrio-motor, que cobre os 18 primeitos meses de vida, ¢ claramente um periodo em que, "por falta de fungio smblica, bebe nfo apresenta ainda nem pensamento, nem afetvida- Ge ligada a representagoes que The permitam evocar as pessoas ou o& ‘objets em sus auséncia”. Iso ndo impede que sea um perfodo decis- ‘vo "porque a ciangaelabora nesse nivel as subestruturas cognitivas que servo de ponto de partda as suas construgoes perceptivase intelec- tuais posteriores, assim como tum certo mtimero de reagées afetivas ele- -mentares que determinarSo em parte sua afetividade subseqiiente” (971-7) Fica claro que, para Piaget, & importincia do periodo sensério- motor esté em que o sistema de assimilacio sensério-motora se finaliza ‘uma espécie de "ligica da agio” que comporta uma série deestruturas Ae orem e de agrupamento as quais constituem a subestutura de ape agbesfuturas mais complevas do pensamento. Existe nesta concepgio ‘2 conviegio de que as estraturas mentais superiores — fontedizeta ou Indineta de outrasatividaces psicoligicas — emergem de estrututss a teriores que tm como base a8 operagbes sens6rio-motoras e que isso ‘corre num longo processo em espiral gerador de novas estrutures,como feito normal da interacio da erlang (organismo — suite epistémico) om 0s objetos (meio — objet epistemlco), Para Wallon, preocupado com a transformagso da crianga sob & agio do meio social, @ funcio motora (motricidade) é objeto de uma etamorfose que faz com que a crianga passe da condigio de um set Diol6gico para @ de um ser simbslico. A motricidade ¢ uma atividade natural iolégica, mas emtinentemente pstica, pois éportadora de wma aputro cmanca (2 uncuacen simouca 7 aputto. Figura 2 Diagn da dupa vs de cmumicagt canals, Em tal situago, apesar de o bebé estar inserido mum mato social ¢ cultural, seus movimentos, ainda fora de controle, enquadram-se mais no plano dos mecanismas primitivos(instintivos?) de reagao do que dos Aispositivos culturis. As coisas comegam a mudar quando a artcula- ‘io dos reas sensoriaise motoras permite o surgimento de utncircuito roativamente integrado destas duss semistica, Seguindo no caminho de anise apontado por Vigotsk (1998: 223 1225), poder-se-ia concluir que a progressva integracio cesses dois tipos de semisticas, a sensdrio-motorae a simibélica,conduz, paradoxalmen- 1e/2 independéncia de uma em relagdo 8 outra, uma vez que cada uma elas € comandada por principios diferentes. A razia de fundo disso seria que sua integrasio propiciaria& crianca a percepoio da sigcagto «ss proprias agdes, passando de uma A outa, O exemplo do “ato de spontas”, ao qual me referirel mais adante, dina bem claro 0 jogo de antculago dessas dual semiticas: de um lado, a comunicacio natural, répria da crianga dessa idade, comandada pelos sna; de outro, a sim- ‘lca, propria do adulto, comandada pela sigifcagio que, ao ser incor- porada pela crianga, deslocaoeixo da agio do determinismo dos sins 3 indeterminagao dos sign. ‘razendo esta reflexio para o campo do assunto que nos ocupa neste trabalho, pode-se dizer que, em sintese 0 “nascimento cultural”, ‘jos indicios procuro, nada mais ¢ do que o processo pelo qual o grupo social trata de inttoduzr no cicuito comunicativa, senssrio-motot da -iangaa sgniongo do crcuito comuicativa, semibtico, co adiulto, Desa forma, as duas fungBes, a sensorial e a motora, uma vez articuladas, ‘mesmo nas suas formas mais elementares,constituitiam o primeiro cr- ‘ta de comunicagdo da crianga com o Outro, por meio do qual ela pode ‘stabelecer os primeitos contatos com o mundo estranho da cultura Esse clcuito seria o ponto de partide, ao mesmo tempo, da cons Lituigho da rede de relagSes socais da erianga e do processo de cons- titwigdo cultural. Com efeito, na medida em que as agbes da crianga vio recebendo a signfcagio que Ihe di o Outro — nos termos pro- ppostos pela tradiczo cultural do seu melo social — ela vai incorpo- rando a cultura que a constitu como um ser cultura, 0 se, como ‘um ser homano, CRIANGA rmedlacio semlstca do Outro Fgura 5: Mediago do Outro ming eiangectur Vale lembrar aqui, para encerrar estas reflexses,algumas das con clusdes 2 que a andlise do “movimento de apontar”® conduziu Vigotsk, uma vez que elas nos fornecem elementos para entendermos a dinémi- «2 do processo de desenvolvimento cultura: + O desenvolvimento humano passa, ncessariamente, pelo Outro; pot tanto, a historia de cada uma das fungbes psiquiens & uma histéria social Por isto poderiamos dizer que ¢ por melo dos outros gue nos trnamos ‘és mesmos e esta regra se apicn no = a0 individuo como un todo, ‘as também historia de cada fungio separadamente Iso também con ttataesstncia do processo do desenvolvimento cla raduzido ama forma puramente login. O indvicuo toma-se paras o que ele ems pelo que cle manifesta 20s outros. (1997: 105) 100 “movin de sponta que aati rng pote & considera or gol come uma espe de pupa 39 procs dena He ses cet de sie nu apts posterae + Nesse processo, a crianca no desempenina um papel passivo, muito ‘pelo contrrio, pois €iniciativa dela (o ato de apontas) que constitu ! razio eorigem da acio de Outro. Com efit, so os sinas emitidos por ela que desencadeiam a acio interpretativa do Outro. O ato de Spontar consti um caso particular do principio geral do desenvol- vimenta cultural, o qual no é uma simples incorporacio de padrbes de comportamento das outros, mas o resultado de um complexo pro- ‘cesso de conversto da significagio das relagbes saiais em quea cian- {a vai se envolvendo e no qual as agies de cada um dos integeantes fa relagio desencadelam as agbes dos outros. Parece entio razosvel Iiger © nascimento cultural da crianga a necessidade bisica que tanto tela quanto 0 Outro (me, pai etc.) tém de estabelecervincuos socais por meio do “canal” de comunicacao de que dispe cada um dele natural ou biolégico no caso da cranga (espasmos, chores, movimen- tos ete) cultural ou simbélico no easo do adulto: Fic dao asi por que tudo © que € interno mas formas superiors fo nocessriinene exer, ito 6 fo} para os outros o que agora é para st ‘nest. (i) + As fngessiperioesconstitativas da pessoa foram antes rages soci: “oda fungio mental eupetior —afirma Vigotski — fol eterna por que foi soca antes de tomar intern, uma fangio esttamente mental cla fot primeiramente uma relagio social de duas pessoas.) [Nesta linha de argumentaglo, podemes concur que a crianca s6 ter acesso a signfcagto das objets culturais, ou sea, 86 poderé tornar- se ui ser cultural, por intermédio da mediagao do Outro. [De tudo o que acaba de ser exposto, como 0 litorjé poders ter ercebido,surgem algumas indagacbesteérico-conceituasarespeito dos termos usados por Vigotsk nas suas elaboragdes tedricas sobre odesen- ‘yolvimento cultural — sem dvida,a sua maior cntribuigio & psicolo- tit eds cidncias humanas em geral —e que ele nfo explictou cu, pelo ‘menos nko de forma suficiente para permitir aos seus letores uma com preensio clara da que ele pensava a respeito dels, Refiro-me, de forma mals especifca, aos termos “cultura”, "fungio", "conversso" ¢ “relagio Social”. Dada 8 sua importincia para a comprecnsio do pensamento do autor ¢ para a anélse do objeto desta investigaco, tentarei discutlos ‘os dois proximos capituls, Inicialmente, tratarei do conceito de “cul- tura” (Capitulo I) em razio do papel centeal que ele ocupa mma pers pectiva psicalogica que define o desenvolvimento hummano camo “cults ral". Os outros termos sero tratados no capita seguinte (Capttlo I), alertando o leltor que se tataré de uma espécie de ensaiointerpretativo do pensamento do autor, uma vez que néo se dispée de elementos con: slstentes a respeito do sentido que tém para ee, Capitulo Ii Natureza e cultura __RIZES ETIMOLOGICAS DO TERMO “CULTURA” Do ponto de vista etimoldgico, a palavra cultura é uma transposi- ‘go 0 portugues do term latino cultura, substantivo derivado do ve bo clr, cuja signifcasso “trabalhar a terra” nos remete ao campo da " pugio humana. Por extensao, o termo remete ao métoda de fazer ‘seicer microorganismes em ambiente apropriado (cultura bacteriolé- | ges) G. Jahoda (1992) lembra que, na Antighidade latina e durante | iaultos séculos depois, o termo cultura estava ligado também 3 ide de desenvolvimento de ceras faculdades do esprito, como na expres- ‘io cultura ments (cultvo da mente) usada por Cicero para referi-se, de forma figurada, 2 filosofia. Na tradicio grega existem dois termos | diferentes para signifiar estas duas coisas: 0 de georgiz, para signifi ‘ar o trabalho de lavoura, e © de mzthema, para significar o conheci- Iento, De qualquer maneira estes dois termos conduzem também & | idéia de protugéo humana, material ou mental. Trata-se de uma idia ‘que merece ser retida, pols retornarel a ela mais adiante ao delimitar fs contornos da significacso com que o termo cultura seré entendido neste trabalho, | Em époce muito posterior, numa tradigSo cujs raizes podem ser encontradas no pensamento iluminista do séeulo XVII 0 t=r=——="—

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