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Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 Prof. Pablo Farias Souza Cruz eer rary ar ete oes Pay Noses iniciais de Criminologia’ 0 O conceito e método da Criminologia. A Criminologia como ciéncia e a interdisciplinaridade (LO. Criminologiae Politica Criminal. 11. Criminologia e Ciéncia Criminais). ‘Objeto, sistema e fungdes da Criminologia. 3. Conceitos de crime, de o1 criminoso e de pena nas diversas correntes do pensamento criminolégico (nas Escolas Classica, Positiva e Técnico-luridica e na Criminologia Critica) 4, Vitimologia. 5. Criminologia cientifica e 03 seus modelos teoricos, 6.0 homem delinquente. Teorias bioantropolégicas, psicodindmicas psicopsicol6gicas. 7. A sociedade criminégena, Sociologia Criminal e ue Desorganiza¢ao Social. Teories da subcultura delinquente e de anomia. A perspectiva interacionista. 8.A Criminologia € o Paradigma da Reac8o Social ‘9, Criminologia na América Latina e as agéncias de controle. 22, Criminologia ¢ 0 Sistema de Justiga Criminal. 03 © = 13: Crimminologia « 0 papal da Policia hidicisria 14. criminologia no Estado Democrtico de Direito. Sumario 1.1 Criminologia na América Latina @ as agéncias de controle 2... 1.2 Criminologia o o Sistema de Justiga Criminal .. 1.3 Criminologia e 0 papel da Policia Judiciéri 1.4 A criminologia no Estado Democritico de Direito .. 15 Questées ... www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara eccoeciases Nala 3 Prof. Pablo Fares Souza cruz E chegada a hora. Atingimos a fase final de nosso curso. Chegamos ao Nosso Ultimo encontro, onde exporemos temas de grande importancia para a criminologia e para o préprio Direito Penal, que so a Prevengao da Infracao Penal e os Modelos de Reac&o do Crime. Obviamente, quando se fala das agéncias de controle, do sistema de Justica Criminal e do o papel da Policia Judiciaria, se esté fazendo mengdo aos mecanismos de prevencdo e reacao a infracéo penal, o que se deve demonstrar dentro do contexto em que estamos inseridos, qual seja, o do Estado Democratico de Direito'. Sobre as agéncias de controle, deixamos para agora, momento oportuno, abordar 0 quarto objeto da criminologia, o denominado Controle Social. Fazemos isso porque, conforme se observa na leitura do edital, o examinador nos indica a probabilidade de enfrentar o de tema das agéncias de controle dentro do que se costuma denominar prevencdo e reacéio a infracado penal. Assim, vejamos. O homem se organizou para viver em sociedade. Os conflitos no grupo se resolvem de forma dindmica, estabiliza as relages no grupo e gera uma estrutura de poder institucionalizado (Estado) e difuso (midia, familia etc.). Zaffaroni. Na sociedade se encontra uma estrutura de poder onde se verificam grupos que dominam e grupos que séo dominados. Com setores mais proximos e outros mais afastados dos centros de deciséo. Diante dessa estrutura complexa, se visualiza a necessidade de estabelecer formas de controle da sociedade, tanto dos setores mais afastados, quanto dos mais préximos do centro de poder. Dessa necessidade que surge a importancia do estudo das formas de controle social pela criminologia * Reputa-se por Estado Democratico de Direito aquele Estado que se submete ¢ € regido por leis aprovadas de forma democritica. ou seja. com a participagao, direta ou indireta. do povo, ‘www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Oat Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara "DOs cONCUREOS Aula3 Prof. Pablo Faries Souza Cruz Sao varios os sistemas de controle social: 1) meios de comunicagao de massa; 2) familia; 3) educacao; 4) sauide; 5) partidos politicos etc. © controle social, portanto, ¢ feito através de instituigdes mais difusas, e também através de meios especificos, como por exemplo, 0 direito (sistema) penal (juizes, policiais, funciondrios etc.). A enorme extenséo e complexidade do fenémeno controle social demonstra que uma sociedade é mais ou menos arbitraria conforme se oriente por formas de controle social variadas, e néo imponha sé o controle penal institucionalizado como principal. Zaffaroni. Entende-se por Controle Social o “conjunto de instituigées, estratégias e sancées sociais que pretendem promover e garantir referido submetimento do individuo aos modelos e normas comunitérias” (Garcia-Pablos de Molina, RT, 2002, p. 133). Sobre o tema jé se indagou em concurso: (EP - 01/10) - Para Garcia - Pablos de Molina é entendido como o conjunto de instituigdes, estratégicas e sancdes sociais que pretendem promover e garantir a submiss3o dos individuos aos modelos e normas comunitdrias. O texto se refere: (a) & Criminogénese; (b) aos fatos condicionantes biolégicos; (c) ao controle social; (4) aos fatos condicionantes sociolégicos; (e) aos fatos condicionantes criminais; Gabarito: C www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 Prof. Pablo Farias Souza Cruz Se percebe que no sé o Direito Penal funciona como meio de controle social, mas toda e qualquer norma tida por comunitaria que sao aquelas conclusées socialmente adequadas, aceitas em virtude da vida e do sentimento criado nas comunidades, donde se passa a utilizar 0 termo comunitarismo. Ademais, a expresso (comunitarismo) & extremamente presente nos estudos mais modernos de defesa social e é de onde se delineou a ideia de policiamento comunitario (tipo de policiamento onde se viabiliza maior participagdo da comunidade envolvida pelo delito). Nesse contexto se percebe a possibilidade se aventar Orgao informais realizando controle social. Assim, podemos classificar 0 controle social em uma dicotomia, informando que o controle social pode ser informal ou formal. Reputa-se controle social informal? o realizado pela sociedade civil, tais como Escola, Familia, Igrejas, Ciclo Profissional, Opinio Publica. Sobre o tema ja se indagou em concurso: (SP - POLECIA CIVIL - Esc de controle social: A) a Policia Civil. 40 - 2010) Atua como agente informal B) a opiniao publica. C) 0 Ministério Publico. D) 0 Juiz de Direito. E) 0 Sistema Prisional. Gabarito: B Por outro lado, verificamos como controle social formal o realizado por instituic6es oficiais, estatais, como, a Poli Judiciario, a Administragdo Penitenciaria. ia, © Ministério Publico, o Poder ” Os agentes de controle social informal tratam de condicioner 0 individuo, de disciplind-lo através de um largo e sutil processo que comeca nos nticleos primarios (familia), passa pela escola, pela profissio, pelo local de trabalho e culmina com a obtenco de sua aptidio conformista, interiorizendo no individuo as pautas de conduta transmitidas e aprendidas (proceso de socializacéo). (Pablos de Molina) www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Oat Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara "DOs cONCUREOS Aule3 Prof. Pablo Faries Souza Cruz Na oportunidade, passemos a analisar cada uma dessas instancias de controle. Primeiramente as instancias de controle informal e posteriormente as instancia de controle formal. Instancias de Controle Informal: A Familia é 0 primeiro elemento de socializagao do individuo, onde o mesmo passa a adquirir conhecimentos minimos e aptos a formar seu carater enquanto pessoa pertencente a um grupo. Base da sociedade é tida como célula basilar para existéncia da sociedade. A Escola € tida como o ambiente onde 0 individuo realiza seus primeiros atos em convivio social, exercitando assim 0 comportamento tide por adequado para além do que esté acostumado a ter no 4mbito familiar. A Igreja apresenta importante papel na realizacio do controle informal, pois o culto a divindade € caracteristica natural do mundo civilizado. Assim, a instituigaéo pode se mostrar apta a recuperar ou evitar o desvio para a delinquéncia. O Ciclo Profissional, mormente num sistema capitalista, onde se percebe manifestac3o de poder nas mos de quem detém o autoridade sobre os meios de produgéo, também se visualiza formas de controle social onde se determinam 0 modo de atendimento ao cliente, as relacdes com os colegas de profissdo, etc. Instancias de Controle Formal?: A Policia é a responsavel pelo que a doutrina denomina de Primeira Sele¢&o, j4 que a ela incumbe tomar as primeiras medidas diante da ocorréncia do crime. Alids, no s6 depois do crime, como também compete elaborar atos ostensivos de policiamento no intuito de evitar sua ocorréncia. Nesse ponto lembramos 0 que se costuma estudar no processo penal a respeito da organizacdo da seguranca publica na Constituicdo Federal. * Quando as instancias informais do controle social fracassam, entram em funcionamento as insténcias formais, que atuam de modo coercitivo e impéem sancées qualitativamente distintas das sangdes socials: séo sancdes estigmatizantes que atribuem ao infrator um singular status (de desviado, perigoso ou delingiiente). (Pablos de Molina) www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula Prof. Pablo Faries Souza Cruz “Nesse momento vale a pena registrar a distincdo entre policia judicidria e policia administrativa para que 0 candidat tenha nogdo de que ird_compor, apés sua aprovacio no concurso da Policia Federal, o quadro de uma entidade de policia judic Assim, a POL{CIA JUDICIARIA (civil ou federal) é aquela que realiza investigagdo e auxilia o Poder Judicidrio, assim, tem como fungéo tipica a investigacéo das infragdes penais visando auxiliar o aparato de estatal de repressdo do delito (REPRESSIVA). Fungées da policia ju * Auxiliar do poder judiciério e Elaboracao do Inquérito Policial J4 a POLICIA ADMINISTRATIVA é ostensiva e preventiva, pois atua primordialmente antes do crime visando evitd-lo, inibi-lo (PREVENTIVA). Nao se pode confundir. O fato de as policias civis e federais serem policias judicidrias n&o significa que as mesmas sejam parte da organizagSio do poder judicidrio, mas simplesmente que ajudam, auxiliam os Orgdos desse poder. Assim, tanto as policias judicidrias quanto as administrativas fazem parte do poder executivo. Vejamos entiio a disposicao constitucional da Seguranga Publica no Brasil: Policia (art. 144, CF): a) policias administrativas (ostensiva): de prevencéo 2 policia militar Q policia rodovidria Q policia ferroviaria Q policia maritima www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula3 Prof. Pablo Faries Souza Cruz b) policias judicidrias (nao ostensiva): repressiva Q estadual Q federal” © Ministério Publico, € © responsével pela denominada segunda selecdo, pois atua na provocacao dos érgéos do poder judicidrio o intuito de submeter as questées penais ao crivo judicial, bem como sustentar todas as demandas que veiculem o interesse publico. O Poder Ju fazendo o filtro final de situagdes que exigem a atuacio coercitiva, j4 que rio, uma vez provocado, realize a terceira selecdo, nenhuma leso ou ameaca de les&o a Direito seré subtraida da apreciagéo do Poder Judiciario. A atuacao do poder judiciario se materializa, por exemplo, com a determinag3o de prisées cautelares e com a prolagéo de sentenga criminal condenatoria. A Administragdo Penitenciaria, em parte gerida pelo préprio Poder Judicidrio, tem natureza mista, pois no que tange a execugéo dos servicos destinados ao atendimento e disciplina do preso envolvem a atuac&o conjunta da administragéo publica, no &mbito do Poder Executivo. Assim, devemos sistematizar nosso estudo: TSSTANGIAS INFORMAIS: TSSTANCIAS FORMAIS: Familia, Escola, Ciclo Profissional, \Policia, Judiciério, Ministério Pablico 4 Opiniso Publica. Administracao Penitenciaria, Condidona 0 individuo a | Entram em cena quando as Aisciplina, de niicleos | instancias informais fracassam, primarios como 2 familia, | Sto meios que naturalmente se posteriormente pasando elas | apresentam como coercitivos demais instancias, consolidando © | acabam por estigmatizar 0 sujeito processo de socializagio. tido por delinquente, desviado ou perigoso. ‘www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara emcoectases Rule 3 Prof. Pablo Fares Souza cruz Segundo Lélio Braga Calhau, citando Ana Lucia Sabadell, possivel classificar o controle social através de varios critérios, tais como: 1) Quanto a0 modo de exercicio; 2) Quanto aos destinatdrios; 3) Quanto aos agentes fiscalizadores (forma mais comum de se classificar - conforme jé se fez aos estabelecer a dicotomia entre controle social informal e formal); e 4) Quanto ao ambito de atuasao. Quanto ao modo de exercicio, 0 controle social pode ser instrumento de orientagdo e pode ser meio de fiscalizacéo. Quanto aos destinatarios, 0 controle social pode ser difuso (fiscalizagao de toda a comunidade) e pode ser localizado (fiscalizagao de determinada classe social ou grupo). Quanto ao ambito de atuacSo se percebe a realizacdio do controle social através de sancSes formais ¢ informais, de meios positivos e neqativos e de forma interna ou externa. As sangées formais sdo as aplicadas pelo Estado (criminais, civis ou administrativas) e as formais sao as que nao possuem coercibilidade, pois decorrem da repulsa social do comportamento. Os meios positives séo os que envolvem a premiacéo do comportamento adequado. Por outro lado, os meios negativos caracterizam a reprovacéo do comportamento através de sangées. Tais meios séo comuns nos Ambitos escolares. O controle interno costuma ser denominado como autodisciplina, onde se viabiliza a aquisicao, a internalizacao das obrigacées naturais do individuo na convivéncia em sociedade. Em caso de fracasso do controle interno (autodisciplina) tem espaco e atuac&o os mecanismos de controle externo, que s&o os atos realizados pelo Estado ou pela sociedade no intuito de determinar a realizao do comportamente tide por adequado. www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Oye Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara "DOs cONCUREOS ula3 Prof. Pablo Faries Souza Cruz A teoria do controle social representa um giro metodolégico de grande importancia, ao qual nao esta alheio a teoria do etiquetamento e da reacao social pela relevancia que os partidérios destas modernas concepgées socioldgicas assinalam a certos processos e mecanismos do chamado controle social na configurag&io da criminalidade.* Para a teoria do controle social a delinquéncia nao € algo produzido, mas sim um acontecimento natural. Assim, ao invés de questionar por que delinquimos?, passa a utilizar como problematizagéo a pergunta: por que néo delinquimos? E nesse sentido que representa um giro metodolégico. No Ambito da teoria do controle social, seu desenvolvedor, Hirschi, conclui que nao se delinque porque existem alguns vinculos entre o sujeito e a sociedade que o impedem de delinquir. Tais vinculos, so respectivamente: O apego, a entrega, a participacdo e a crenca. Para a teoria do Labelling Approach 0 comportamento do controle social ocupa um lugar destacado. Porque a criminalidade, conforme seus tedricos, nao tem natureza "ontolégica", sengo "definitorial". E 0 decisivo é como operam determinados mecanismos sociais que atribuem o status de delingiiente: a qualificagéo juridico-penal da conduta realizada ou os merecimentos objetivos do autor passam para um segundo plano. Por isso, mais importante que a interpretagao das leis 6 analisar 0 processo de aplicacéo das mesmas é realidade social; processo tenso, conflitivo e problematico. 0 mandamento abstrato da norma se desvia substancialmente quando passa pelo crivo de certos filtros altamente seletivos e discriminatorios que atuam guiados pelo critério do status social do infrator. Precisamente por isso as classes sociais mais oprimidas atraem as taxas mais elevadas de criminalidade, e nao porque professem uns valores criminais per se - nem porque cometem mais crimes -, sen3o porque o controle social se orienta prioritariamente para elas, contra elas. O controle social, por isso, no se limita a "detectar" a criminalidade e a identificar o infrator, mas antes "cria" ou "configura" a criminalidade: realiza uma fungéo "constitutiva", * GOMES, Luiz Flivio e PABLOS DE MOLINA. Antonio Garcia. Criminologia. Sed.rev: e atual- Sto Paulo: Revista dos Tribuma 2007, www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 9 Onn Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara excoertses ola Prof. Pablo Fares Souza cruz de sorte que nem a lei é expresséo dos interesses gerais nem o processo de sua aplicagdo a realidade respeita 0 dogma da igualdade dos cidadaos. Os agentes do controle social formal néo sé0 meras correias de transmissao da vontade geral, senéo filtros a servico de uma sociedade desigual que, por meio deles, perpetua suas estruturas de dominac3o e incrementa as injusticas que a caracterizam. Em conseqiiéncia, a populagéo penitencidria, subproduto final do funcionamento discriminatorio do sistema legal, ndo representa a populacao criminosa real - nem qualitativa nem quantitativamente -, tampouco as estatisticas oficiais representam essa realidade. * O aprofundamento do estudo sobre a atuagSo do controle social - de suas insténcias formais e informais - constitui um dos objetivos metodolégicos prioritarios da teoria do /abelling approach, que apontou com trés as principais caracteristicas do controle social penal®: 1) Seu comportamento seletivo e discriminatorio (0 critério do status social prima sobre o dos merecimentos objetivos do autor da conduta); 2) Sua fungio constitutiva ou geradora de criminalidade (os agentes do controle social néo "detectam" o infrator, mas antes "criam" a infracdo e etiquetam o culpado como tal); e 3) O feito estigmatizador do mesmo (marca 0 individuo, desencadeando a chamada “desviacdéo secundaria" e as "carreiras criminais"). Aceitando-se ou ndo estas premissas tedricas, 0 certo & que hoje jé ndo se pode questionar que a reagéio social condiciona em boa medida o volume e a estrutura da criminalidade.” * GOMES, Luiz Flivio e PABLOS DE MOLINA. Aaténio Garcia. Criminologia.S.ed.rev.e atual - Sao Paulo: Revista dos Tribumss, 2007 ° Cf. Garcia-Pablos. A. Tratado de Criminologia, cit. p. 177 ess. ” GOMES, Luiz Flavio e PABLOS DE MOLINA. Anténio Garcia. Criminologi. S.ed.rev.e atual- Sao Paulo: Revista dos Tiibumas, 2007, 10 www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula3 Prof. Pablo Faries Souza Cruz Sobre o tema jé se indagou em concurso publico: (SP - POLICIA CIVIL - Escrivéo - 2010) A teoria do “Labelling Approach” ou da Reacao Social é também conhecida como: A) Teoria da Anomia. 8) Teoria da Subcultura. C) Teoria Ecolégica. D) Teoria do etiquetamento ou rotulagao. E) Teoria Espacial. Gabarito: D Também jé se deu como correta a seguinte afirmacio em concurso publico: MP/SC - 2005 - Promotor de Justica: Em meados do Século XX, surge a Criminologia Critica, que, orientada pelo paradigma da reag&o social (labeling approach), passou a estudar o fenémeno da criminalizag3o priméria e secunddria promovida pelo sistema penal, descobrindo a sua atuacao seletiva e estigmatizante. Certo Deve-se atentar para 0 fato de que o Direito Penal representa somente um dos meios ou sistemas normativos existentes, do mesmo modo que a infracéo legal constitui nada mais que um elemento parcial de todas as condutas desviadas; e que a pena significa uma op¢do dentre as muitas existentes para sancionar a conduta desviada. Mas é inegével que o Direito Penal simboliza 0 sistema normativo mais formalizado, com uma estrutura mais racional e com 0 mais elevado grau de diviséo do trabalho e de especialidade funcional dentre todos os subsistemas normativos.® Norma, processo e san¢io s&0 trés componentes fundamentais de * Kaiser, G. Kriminologie, cit., p. 83. Cf, Garcia-Pablos, A. Tratado de Criminologia, cit., p. 179. Souza Cruz an www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Fari Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara ula Prof. Pablo Faries Souza Cruz qualquer instituigéo do controle social, orientada a assegurar a disciplina social, ratificando as pautas de conduta que o grupo reclama.° Como medidor da efetividade do controle social se tem que: “Seguindo a conhecida hipétese de Allport - hipétese da curva J -, costuma-se afirmar que um bom indicador do grau de efetividade ou consolidagio de um comportamento normativo € a distribuigéo do mesmo de acordo com uma curva em forma de J. A cultura, 0 direito, os costumes e os restantes sistemas normativos exercem uma presséo sobre o individuo para reclamar sua conformidade. Esta pressdo normativa produz um deslocamento e a conseguinte distribuicio empirica em forma de J, com as cotas mais significativas onde aquela é mais intensa. (Allport, F. "The J-curve hypothesis of conforming behavior", em Journal of Social Psychology (51/1934). Cf. Kaiser, G Kriminologie, cit., p. 88.) Nao obstante, nem o incremento das taxas de criminalidade registrada significa, sem mais, um fracasso do controle social penal, tampouco parece vidvel um sistematico e progressivo endurecimento deste para alcancar cotas mais elevadas de eficacia.’” O controle social penal tem limitagdes estruturais inerentes & sua propria natureza e funcéo, de modo que nao é possivel exacerbar indefinidamente sua efetividade para melhorar, de forma progressiva, seu rendimento. A prevengao eficaz do crime nao deve se limitar ao aperfeicoamento das estratégias e mecanismos do controle social. Com razo dizia Jeffery: "mais leis, mais penas, mais policiais, mais juizes, mais prisées significam mais presos, porém néo * Gomes, 2007. '° Vide Garcia-Pablos, A. Tratado de Criminologia, cit., p. 185 e ss. Com efeito, referido incremento pode derivar precicamente de uma maior efetividade do sistema ou de uma taxa mais elevada de comunicacéo (do mesmo modo que um descenso nas taxas oficieis de criminalidade nao implica, sem mais, a correlativa diminuicéo da criminalidade real ou o éxito do sistema legal: pode - e costuma suceder - que a criminalidade aumente significativamente e, frente 20 fracasso do sistema legal, 0 cidaddo néo comunique 0 delito). Tampouco cabe esperar muita coisa do sistema legal (sé do sistema legal) na prevencio da delingiiéncia: 0 controle social "formal" no é mais que o ultimo degrau de uma engrenagem complexa, cujo rendimento nao sé tem algumas limitagdes estruturais insandveis, como também depende do bom estado do completo mecanismo de controle. Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA, Aaténio Garcia. Criminologis. S.ed rev ¢ tual - Sto Paulo: Revists dos Tabunais, 2» ‘www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula Prof. Pablo Faries Souza Cruz necessariamente menos delitos".!! A eficaz prevengéo do crime néo depende tanto da maior efetividade do controle social formal, sendo da melhor integragéio ou sincronizagio do controle social formal e informal. !2 © incremento dos indices de criminalidade registrada sempre foi interpretado como sinal inequivoco do fracasso do controle penal. Sem duivida alguma porque se partia da conhecida tese do "volume constante” da criminalidade; existindo um volume constante de delinquéncia na sociedade - se pensava -, qualquer aumento significative do mesmo deve ser atribuido a uma falha ou a um defeito no sistema do controle social. Porém, esta argumentagio n3o convence. Em primeiro lugar, porque o incremento efetivo das taxas de criminalidade registrada nos ltimos anos nao pode ser interpretado, sem mais, como um incremento correlative da criminalidade real As pesquisas de vitimizagéo e os informes sobre noticia do delito parecem demonstra-lo, de modo que a criminalidade real nao aumentou na forma acelerada e significativa sugerida pelos nuimeros das estatisticas oficiais. Em segundo lugar, porque o pressuposto tedrico desta opinido (tese do volume constante do delito) encontra-se hoje muito questionado. Com efeito, costuma- se estimar inservivel para a anélise do delito em sociedades pluriestratificadas e em via de rapida transformacéo, por sua rigidez e porque pressupde a manutengéo de algumas varidveis sociais (incluida a noticia do delito pela vitima) de impossivel controle. Por outro lado, o controle social tem limitacSes estruturais inerentes 4 sua peculiar natureza. N&o é possivel exacerbar indefinidamente sua efetividade melhorando, de forma progressive, seu rendimento. O castigo sé é funcional quando se limita ao comportamento de uma minoria: em outro caso, perde - tal como o crime - sua func&o integradora. © controle razodvel e eficaz da criminalidade, em consequéncia, nao pode depender exclusivamente da efetividade e do rendimento das instancias do controle social. Pois, com efeito, do ponto de vista etiologico (génese e "l jeffery, C. P. "Criminology as an interdisciplinary behavioral science’, em Criminology, p. 149-169. "No sentido do texto, Kaiser, G. Kriminologie, cit., p. 90. Cf. Garcia-Pablos, A. Tratado de Criminologia, cit., p. 186 e 187. r 2B ‘www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Oak Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara eccoeciares ola Prof. Pablo Fares souta Cruz dinamica criminal), a intervengéo do sistema legal pressupde o delito, néo incide em seus fatores, em suas raizes ultimas; em termos de prevencao, todo programa que tenha como objetivo fundamental um melhor rendimento do controle social formal corresponde ao modelo da chamada prevencéo secundaria ou tercidria, a menos eficaz, ainda que possa parecer 0 contrério a curto prazo, precisamente porque opera de modo tardio € sintomatolégico, onde e quando o problema social se manifesta, porém nao onde, quando e como o conflito é gerado. Nao se pode esquecer, por ultimo, que o incremento das taxas de criminalidade no é conseqiéncia direta do fracasso do controle social, senao de outros fatores. © controle social falha porque o crime (devido a outras causas) aumenta.” No 4mbito da América Latina, se observa peculiaridade na sistema de controle social da criminalidade. Nesse ponto, bem destaca a professora Camila Prando: "Seguindo a tese de Rusche e Kirshheimer, pode-se afirmar que, estando a América Latina inserida em um modelo socioeconémico da periferia do sistema capitalista, suas formas de controle social séo também particulares, tendo em vista que a cada organizagao socioeconémica correspondem formas diversas de controle socials. No entendimento de Castro, a andlise das variacdes e complementaridades do controle punitive deve se dar a fim de identificar as formas de dominacao existente, admitindo-se que na América Latina se observa, desde sua colonizacao, a coexisténcia de sistemas diversos de produgéo, como subsistemas feudais, pré-capitalistas ¢ capitalistas.2o No mesmo sentido, Raul E. Zaffaroni afirma: @ ‘feudalismo’, ‘pré-capitalismo’ ou ‘capitalismo’ latino-americanos em sentido estrito, ou seja, no mesmo sentido dado nos paises centrais onde estes fendmenos eparecem como sentidos originaries, surgidos de sua propria dinémica. Por isto, também € absolutamente inadmissivel a pretensio do desenvolvimentismo neo-spenceriane a0 tentar compreender © controle social latino-americane por anelogia com etapas (..) 2 impossibilidade de nos referirmos precentes ou pascadas do controle central. Noses regio marginal tem uma dindmica que ests ° GOMES. Luiz Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA. Antinio Garcia. Criminologa, 5.ed rev: atual~ Sto Paulo: Revista dos Tribunss, 2007, 14 www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Oak Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara eccoeriasas ola Prof. Pablo Fares souts Cruz cendicionads por sua dependéncia e nosso controle social ests 9 ele ligado”. (ZAFFARONI, 1991, p. 6s)".14 Dentro dessa linha de raciocinio é que se acabou por cunhar a expresséo controle penal subterraneno, que posteriormente inspirou a denominagSo: Direito Penal Subterréneo, comumente utilizada pelo porfessor Zaffaroni. Nesse diapasao informa a autora citada anteriormente: "A partir dessas consideragées, CASTRO desenvolve a concepgdo de controle penal subterraneo, afirmando que “o sistema subterréneo operaria nos diferentes niveis do sistema social E dizer, tanto nos mecanismos de controle formal quanto nos do controle informal. E apareceria tanto nos contetidos quanto nos nao-contetidos do controle social, especialmente o formal’. A autora deduz essa forma de controle da andlise da operacionalizacao do sistema penal latino-americano, atuando de modo disperso, desigual e seletivo. Entretanto, 6 Zaffaroni quem desenha um quadro sinéptico, apontando as diversas formas que assume © controle punitivo nas sociedades latino-americanas. Neste sentido, 0 autor estabelece uma classificagdo do controle sociopunitivo em: institucionalizade come punitivo (sistema penal em sentido estrito e paralelo) e como n&o punitivo (assistencial, terapSutico, tutelar, laboral, administrativo e civil); e parainstitucional ou subterraneo. Para ele, © carater punitivo do controle ndo depende da lei, mas sim da “imposig&o material de uma cota de dor ou privagdo que nao responde realmente a fins distintos do controle da conduta”». Partindo desta compreenséo mais ampla de controle punitivo, entende-se que ha ndo apenas um controle punitivo institucionalizado em sentido estrito, mas ha também um sistema institucionalizado paralelo, “composto por agéncias de menor hierarquia e destinado formalmente a operar com uma punigéo menor, mas que, por sua desierarquizagdo, goza de um maior ambito de arbitreriedade e discricionariedade institucionalmente consagradas”s. © controle séciopunitivo parainstitucional ou subterraneo é, por sua vez, operacionalizado pelos préprios segmentos institucionais ou por alguns deles, através Disponivel em: Lunp:/‘www: google.com br/usl?s4-t&ret™j&qn Kees source-webGed~2&ved-OCCMQFJABSulhttp%3A%2E%IF www.dombelder edu br92Fveredas_direito%2Epdt%2F24_132 pdf&eeiAddVNoqK cag TjqY Fl&cusg=AFQCNFSsZ S_YISBE-Z1230_bKoSLIGLrwésig?-hXS174boC2IbGHOVzjqFA &bvin=by. 79184187.d.eXY &cad=rja 15 www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara ola Prof. Pablo Fariss Souza Cruz de um processo nao institucional e de métodos institucionalmente ndo admitidos (técnicas de tortura, técnicas de morte, ocultagéo de caddveres e outros)."1* Por fim devemos apontar a evolug&o e as tendéncias do controle social penal, por reputarmos esse 0 mais emblematico, ainda mais se pensando no contexto do concurso que irdo prestar, para o cargo de Delegado de Policia. O controle social penal é tido como o controle social formal mais agressivo. “Dita dinamica conduz n&o ao utépico desaparecimento do mesmo, senéo & avaliag3o empirica e realista dos seus efeitos, do seu impacto, com o objetivo de assumir a necessidade de sua intervengéo, mas circunscrevendo esta aos conflitos mais graves que a reclamem, tanto por razdes de prevencdo geral como estritamente garantidoras.'° A idéia da subsidariedade ou o postulado da !'” expressam fielmente esta tendéncia. intervenc&o minima do Direito Pena Claro que 0 pensamento utépico apoia com veeméncia 0 desideratum de Radbruch: conseguir j4 n&o um melhor Direito Penal, sendo algo melhor que o Direito Penal.'® No entanto, ainda que muitos otimistas e radicais j4 estendam o certiddo de ébito do Direito Penal e afirmem que tem seus dias contados,'? tudo parece indicar que 0 desaparecimento do Direito Penal nado é "questéo de tempo".2” Que goza de boa satide, Que o célebre "Oraculo fiinebre pelo Direito Penal Classico" de Ferri?! segue sendo uma bela profecia descumprida Assistimos, pois, somente a um proceso histérico de racionalizaco do mesmo que pondera a necessidade iniludivel da sua presenga como instrumento eficaz de solucdo de certos conflitos sociais de uma parte, e de outra, o grave custo 5 Disponivel em: lunp//www google.com br/l?sa-t&retjSeq~&este-ssource-websed=24ve-OCCMQFABS&uulhup%3A%2E%2F wwwdomhelder edu br%<2Fveredas,direito?62Fpdt%s2F24_152 pdtseeim1AddVNeqKeugaw TjqY Fl&xusg-AFQCNFS82 S_YISBE-ZL230_bKoSLIGLewéesig?=hXSI.24boC2/bGHOVzjqFA.&bvmn=bv.79 184187 d eXY &ead '© Cf. Garcia-Pablos, A. Derecho Penal. Introduccion, cit., p. 104 e ss.; do mesmo, Tratado de Criminologia, cit., p. 187. "Cf. Garcia-Pablos, A. Estudios Penales, cit, p. 98 e ss. e 121 e ss. Do mesmo: Derecho Penal. Introduccién, cit., p. 106 e ss. r 'G, Radbruch, Recht sphilosophie, p. 269. r '°V. Stratenwetrh, G. Die Zukunft des strafrechtlichen Schuldprinzips, p. 5-7. Idem, ibidern. *' Ferri, E. Los nuevos horizontes del Derecho Penal y el procedimento, p. 23. 16 ‘www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara eccoecimras Rula3 Prof. Pablo Fares Souza Cruz que sua intervenc&o inevitavelmente proporciona.’* Em conseqiiéncia, esperar uma progressiva retirada do Direito Penal e sua substituigéo por outros controles eficazes mas menos gravosos parece uma previséio realista que a experiéncia histérica garante. Profetizar, no entanto, o desaparecimento do Direito Penal a médio prazo segue sendo uma utopia.” ?? Por fim, paralelo interessante, abordado por Zaffaroni, ¢ o referente a relacdo entre os direitos humanos e 0 controle social. O referido autor registra que as instancias de controle podem também servir & violagéo de direitos fundamentais, conforme haja a manipulacéo dos meios de comunicacaéo de modo a justificar até mesmo as mais graves atrocidades. Exemplo disso seria: 1) 0 trafico de milhdes de africanos como escravos justificada em uma pretensa inferioridade da “raca”; 2) A atuaggo de Hitler, com a ideologia da superioridade da raga ariana, que acabou por desencadear o maior conflito generalizado do mundo entre 1939 e 1945 (Ademais sobre o tema interessante o aprofundamento feito no romance “O colecionado de Lagrimas escrito por Augusto Cury, que sugiro a leitura apés sua aprovacao no concurso que tanto almeja ou em um momento de lazer); 3) O liberalismo do séc. XVIII e comego do século XIX, pautados na teoria da necessidade, ideologia que justificou o aniquilamento nuclear da populaciio de Hiroshima e Nagasaki. Assim, se verifica que jé se matou e humilhou em nome da humanidade e da justica, isso sempre justificado pelas mais variadas instancias de controle, onde as pessoas acreditavam agir imantadas por um direito natural. Em 1948, no auge da 24 Guerra, a ONU proclamou a DECLARACAO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM, como um ideal comum a ser alcangado por todos. Desde entéo vem se construindo um sistema internacional de garantias de direitos fundamentais - direitos humanos - que acabam por ” Cf, Garcia-Pablos, A. Derecho Penal. Introduccién, cit., p. 56. * GOMES. Luiz Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA. Antonio Garcia. Criminologia. S.ed sev. e atual- Sao Paulo: Revista dos Tribamais, 2007 www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz v7 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula Prof. Pablo Faries Souza Cruz delinear um LIMITE positive nas Constituigdes as ideologias que regem o controle social em todas as nagdes. Cria-se assim uma baliza, um paradigma universal de controle social, que se baseiam na protecéo integral do ser humano, Superada a anélise do controle social, devemos passar a andlise do que se costuma chamar de prevencao e reacao criminal. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 18 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Rula3 Prof. Pablo Fares Souza cruz Diante da caracterizagdo do delito como acontecimento social e inevitavel, a criminologia passa a repensar as forma de prevencdo da infracdo penal, bem como os meios de reagio a essa pratica. Aos olhos da criminologia classica, se tratava o delito de forma simbdlica e rivalizada, onde de um lado se colocava o Estado do outro se colocava o infrator, como adversérios em uma luta. Dentro deste modelo criminolégico, a pretenso punitiva do Estado, isto é, 0 castigo do infrator, polariza e esgota a resposta ao fato delitivo, prevalecendo a face patolégica sobre seu profundo significado problematico e conflitual.”* Por outro lado, a moderna Criminologia, parte de uma imagem mais complexa do delito, encarando-o como acontecimento social. Assim, para o delineamento de suas condcusdes, a dita moderna criminologia adota e reconhece o papel ativo e dindmico aos protagonistas da infragdo penal (delinquente, vitima, comunidade), bem como acentua a relevancia dos muitos diversos fatores que convergem e interatuam no "cenario" criminal.?> E diante desse contexto é que partiremos para o tratamento das formas de prevenco estudadas pela criminologia. Assim, considera-se 0 lado humano e conflitivo do delito, sua aflitividade, os elevados "custos" pessoais e sociais deste doloroso problema, cuja aparéncia patolégica, epidémica, de modo algum mediatiza e serena anélise de sua etiologia, de sua génese e dindmica (diagnéstico), nem o imprescindive! debate politico-criminal sobre as técnicas de interveng&o e de seu controle. Assim, ndo se contenta, nesse modelo teérico, com o castigo do infrator como algo que esgote as expectativas que o fato delitivo desencadeia. Para além, se busca a ressocializagéo do delinquente, a reparagdo do dano e a prevencéo do crime. Logo, é nesses termos que se perceber o enfoque ™ GOMES. Luiz Flivia ¢ PABLOS DE MOLINA. Antinio Garcia. Criminalogia. Sed sev e atwal- Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. °5 GOMES, Luiz Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia. Criminologia. 5.ed rev. ¢ atuaL- Sto Paulo: Revista dos Tribunais, 7. ‘www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara hala 3 Prof. Pablo Faries Souza Cruz cientificamente mais satisfatério e 0 mais adequado as exigéncias de um Estado “social” e democratico de Direito. °° Primeiramente, devemos equalizar o conceito de prevenc&o para entao tratar das prevenges intituladas como primaria, secundéria e tercidria na criminologia. No Ambito do direito penal tradicional, parte da doutrina identifica a prevencao com o efeito dissuasério da pena, nesse contexto prevenir equivale a dissuadir 0 infrator potencial com a ameaca do castigo, a contramotivar-lhe. A preveng&o, em conseqtiéncia, 6 concebida como preveng&o criminal (eficécia preventiva da pena), e opera no processo motivacional do infrator (dissuaséo). Para outros, 0 conceito de prevenc&o seria mais amplo, compreendendo 0 efeito dissuasério mediato, indireto, que pode ser conseguido por meio de instrumentos néo-penais, que alteram o “cenario” criminal modificando alguns dos fatores ou elementos do mesmo (espaco fisico, desenho arquiteténico e urbanistico, atitudes das vitimas, efetividade e rendimento do sistema legal ete.). Para boa parte dos penitenciaristas, finalmente, a prevengdo do delito nao é um objetivo auténomo da sociedade ou dos poderes publicos, senéo o efeito ultimo perseguido pelos programas de ressocializag&o e reinsergéo do condenado. Trata-se, pols, ndo tanto de evitar o delito, sendo de evitar a reincidéncia do infrator. O conceito de preveng30 equipara-se, assim, ao de prevengéo especial e & muito menos ambicioso, seja em razéo do seu destinatdrio (0 condenado, nao o infrator potencial ou a comunidade juridica), seja em razio dos efeitos pretendidos (prevenir simplesmente a reincidéncia do condenado, nao evitar a criminalidade), seja, enfim, em razéo dos meios utilizados para alcangar tal meta (execugéo da pena e tratamento ressocializador). ° GOMES, Luiz Fivio ¢ PABLOS DE MOLINA. Antonio Garcia. Crminologia, 5.cd rev eatual- Sto Paulo: Revista dos Tribus, 2007 www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 20 Oat Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara ‘Dos concuEsOS Aula3 Prof. Pablo Farias Souza Cruz No dmbito da criminologia, o sentido de prevengéo tem significagdo muito mais ampla do que para os penalistas. Assim, a prevencdo implicaria em medidas que visem dificultar o cometimento da infragdo penal e/ou desestimular o infrator potencial com a ameaca do castigo. Para isso, a criminologia enfoca a prevencSo de acordo com o ponto de vista “etiolégico", observendo a génese do fenémeno criminal, reclamando assim uma interven¢déo dinamica e positiva que neutralize suas raizes, suas "causas". Segundo Pablos de Molina: a prevencdo deve ser contemplada, antes de tudo, como prevengéo "social", isto 6, como mobilizago de todos os setores comunitérios para enfrentar solidariamente um problema "social". A prevengdo do crime n&o interessa exclusivamente aos paderes piiblicos, a0 sistema legal, sendo a todos, 4 comunidade inteira. Néo é um corpo "estranho", alheio é sociedade, senaéo mais um problema comunitdrio. Por isso, também convém distinguir 0 conceito criminolégico de preveng3o - conceito exigente e pluridimensional - do objetivo genérico, de pouco éxito, por certo, implicitamente associado ao conceito juridico-penal de preveng&o especial: evitar a reincidéncia do condenado. Pois este ditimo implica uma intervengéo tardia no problema criminal (déficit etiolégico); de outro lado, revela um acentuado trago individualista e ideolégico na selegéo dos seus destinatérios e no desenho dos correspondentes programas (déficit social); por fim, concede um protagonismo desmedido as instancias oficiais do sistema legal (déficit comunitério).’” Vejamos ent&o, sob a ética criminolégica, os conceitos de prevenséo primaria, secundaria e tercidria. Em primeiro lugar deve-se registrar que a diferensa entre prevengdo "primaria", "secundéria" e "terciaria" baseia-se em diversos critérios: na maior ou menor relevancia etiolégica dos respectivos programas, nos destinatarios Garcia-Pablos, A. Tratado de Criminologia, cit., p. 880-881. Souza Cruz ay www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo F: Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 Prof. Pablo Farias Souza Cruz aos quais se dirigem, nos instrumentos e mecanismos que utilizam, nos seus Ambitos e fins perseguidos.”® Assim, se afirma que a educacSo, socializac’o, casa, trabalho, bem-estar social e qualidade de vida sio os A4mbitos essenciais para uma prevengdo priméria, operando sempre a longo e médio prazos e se dirigindo a todos os cidaddos. As exigéncias de prevengao primaria correspondem a estratégias de politica cultural, econémica e social, cujo objetivo Ultimo é dotar os cidadéos, consoante as palavras de Luderssen, de capacidade social para superar de forma produtiva eventuais conflitos. 7° Justamente em virtude da prevencao primaria se propor a atuar a médio e longo prazo é que se delineiam limitagdes praticas, j4 que a sociedade naturalmente reclama solugées de curto prazo. A prevengdo secundaria, opera a curto e médio prazos e se orienta seletivamente a concretos (particulares) setores da sociedade: aqueles grupos e subgrupos que ostentam maior risco de padecer ou protagonizar o problema criminal. A prevengéo secundéria conecta-se com a politica legislativa penal, assim como com a acéo policial, fortemente polarizada pelos interesses de preveng&o geral. Programas de prevengéo policial, de controle dos meios de comunicacao, de ordenaco urbana e utilizaco do desenho arquiteténico como instrumento de auto-protegéo, desenvolvidos em bairros de classes menos favorecidas, sao exemplos de prevengéo "secundaria”.*° A prevengéo terciéria, tem um destinatério _perfeitamente identificavel: 6 0 recluso (populagéo presa), 0 condenado; e um objetivo certo: ° GOMES. Luiz Flavio ¢ PABLOS DE MOLINA. Antinio Garcia, Criminologia, 5.el rev © atual- Sao Paulo: Revista dos Tibuuss, 2007, GOMES. Luiz Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA. Antonio Garcia. Criminologi. 5.ed rev ¢ atual,- Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 2007 © GOMES. Luiz Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA. Antonio Garcia. Criminologia, 5.ed rev eatual- Sto Paulo: Revista dos Tribunss, 2007 www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 22 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Prof. Pablo Farias So evitar a reincidéncia. Das trés modalidades de prevengéo é a que possui 0 mais acentuado carater punitivo. A plena determinacio e seletividade da populac3o destinatéria de tais programas, assim como os elevados indices de reincidéncia, néo compensam 0 déficit etiolégico da prevencao terciai , suas insuperaveis caréncias, pois trata-se de uma intervencao tardia (depois do cometimento do delito), parcial (sé no condenado) e insuficiente (nao neutraliza as causas do problema criminal). (Garcia- Pablos, A. Tratado de criminologia cit., p. 883 e ss.) De modo a facilitar o registro das espécies de prevencéio estudadas pela criminologia, propomos © presente quadro: Aula 3 a Cruz PREVENCAO PREVENCAO PREVENCAO PRIMARIA SECUNDARIA_ TERCIARIA . Toltada para as origens | * Politica legislativa penal, | © Destinatério: _ populagao do delito, visando neutralizé-lo| agio policial, politics de | carceréria; antes que ocorra, seguranga publica. . Cardter punitivo; . Resolugio das caréncias | * Atua na exteriorizacao | © Objetivo: evitar a crimindgenas; do conflito, reineidéncia; . Opera a longo ¢ médio} * Opera a curto e médio| « Intervengaio tardia, parcial ¢ prazo ¢ se dirige a todos os| prazo; insuficiente cidadios, * Dirige-se a —_setores = Reclama _prestagdes | espectficos da sociedad sociais —@—_—intervengio comunitaria; . Limitagses _priticas: ‘falta de voutade politica ¢ de ‘conscientizasio da sociedade Tradicionalmente, a resposta ao problema da prevengio do delito ¢ visualizada por dois modelos muito semelhantes. Sao eles: 0 modelo classico e 0 modelo neoclassico. Esclarecemos os referidos modelos, com base nas ligdes de Pablos de Molina: www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 23 Modelo Classico Modelo Neoclassico De acorde com uma opinito muito generalizada, 0 Direito Penal simboliza a resposta primaria € natural (por exceléncia) ac delito, a mais efieaz. A referida eficacia, ademais. depende fundamentalmente da _capacidade dissuaséria do castigo, isto é, da sua gravidade. Prevencio. dissuasio e intimidaczo. conforme tais ideias, sd0 termos correlatos: © incremento: da delinquéneia explica-se pela debilidade da ameaga penal: o rigor da pena se traduz, necessariamente, no correlative descenso da criminalidade. Pena € delito constituem os dois elementos de uma equacio linear. Muitas politicas criminais do nosso tempo (leia-se: politicas penais). de fato. identificam-se com este modelo falacioso simplificador que manipula o edo do delito, ¢ que trata de ocultar 0 fracasso da politica preventiva (na realidade, repressiva) apelanco em vio as” © modelo tradicional de prevengio nao convence de modo algum, por muitas razdes. Antes de tudo, a suposta exceléncia do Direito Penal como instrumento preventivo - diante de outras possiveis estratégias = parece mais produto de prejuizos ou pretextos defensistas que de uma serena anilise cientifiea_ da vealidade. Pois a capacidade preventiva de um, determinado meio nio depende de sua natureza (penal ou no penal), senio dos efeitos que ele produz. Convém recordar, a propésito. que a intervengie penal possi elevadissimes custes sociais. E que stta suposta efetividade esti longe de ser exemplar. A pena, na yerdade. nso dlisstiade: atemoriza. intimida, E reflete mais a impoténcia, © fracasso, a auséncia de solugdes que a conviceao € energia imprescindiveis para abordar os problemas seciais. Nenbuma pelitica criminal realista pode prescindir da pena; porém, tampouco cabe denegrir a politica de prevengao, convertendo-a_ em mera politica penal. Que reforgar os mec: ° delito, m rigor desmedide, longe de smos inibitérios ¢ de prevenir paradoxalmente criminégenos. ¢ algo, de outro lado. sobre 0 que existe evidéncia empiric. Mais dureza, mais tem efeitos Direito Penal, nao. significa _necessariamente menos crime Do mesmo modo que o incremento_da_criminalidade_ndio_pode ser Para a denominada escola neoslassica jou moderno classicismo), 0 efeito dissuasorio preventive aparece associado ma fincionamento (efetividade) do sistema legal que ao rigor nominal da pena. Seus teéricos, de fato, atribuem a criminalidade a0 firacasso ou fragilidade daquele. isto é a seus vendimentos. Melhor a infia-esuutura © a dotagio orgamentiria do sistema legal seria a mais adequada ¢ cficaz estratégia para prevenir a criminalidade: mais ¢ melhores policiais. mais € llores juizes. mais € melhores prisdes. Deste modo, os "eustos" do delito se "encarecem" para © infrator, que desistin’ de seus planoy criminaiy a0 comprovar a efetividade de um sistema em perfeito estado de funcionamento. A. sociedade, concluem os partidarios. deste enfoque neoelassico. tem crime que quer ter, pois sempre poderia melhorar os resultados da luta baixos preventiva contra. ele, —_incrementande: progressivamente o rendimento do sistema legal. aperfeigoando a sua estrutura material dotagio orgamentiria, invertendo mais € mais recursos em stias necessidades (humanas ¢ materiais): assim se poderin sempre esperar ¢ conseguir. de forma sucessiva ¢ ilimitada, mais, éxitos ¢ melhores resultados. Mas este modelo de prevengio tampouco € convincente. Para a prevengio do crime. efetividade do sistema legal € sem diivida relevante, sobretudo a curio prazo € com relagio a certos setores da delinquéncia (p. ex. oeasional), Poréi, miio cabe esperar muito dele, Porque 9 sistema legal deisa intactas as “eausas” do crime ¢ atua tarde demais (do ponto de vista etiolégice). quando © conflito se manifesta (opera, pois, sintomatologicamente). Sua capacidade preventiva (prevengie primaria). em consequencia, tem alguns limites estruturais insuperiveis. A- médio ou longo prazo_ nfo reselve por si mesmo o problema criminal, cuja dindmica deriva de outras razées. Em segundo lugar. ¢ contiariamente 20 que com frequéncia se supde. j4 nao parece ragoavel —atribuir es movimentos da criminalidade (o ineremento ou o descenso de seus indices) efetividade maior ou menor do www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Civil do Ceara 24 ont Prof. Pablo Farias Sour: Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 explicado como consequencia exduswa da debilidade das penas ou do fracasso do controle social. © modelo de prevencio classico, em segundo lugar, revela. uma __anilise demasiadamente primitiva € simplificadora do processo motivacional e do préprio mecanismo dissuasorio. Professa, imagem intelectualizada do infrator, quase algébrica, ingénua, a0 supor que a opgio delitiva é produto, de um balango entre custos e beneficio; de wna fin e refletida decisio racional na qual o infrator pondera a gravidade da pena cominada ao delito e as vantagens que este Ihe pode propercionar, E. © estereétipo do delinquente previdente. calculador, que nao se coaduna com a realidade; generalizam-se alguns padrdes decisionais que nio sio validos nem sequer para a delinquéncia econémica convencional (¢ muito menos, desde logo, para a denominada criminalidade "simbolica ou "expressiva’). O certo € que 0 infrator indeciso valora € analisa mais as consequéncias préximas e imediatas de sua conduta (v.g., risco de ser preso ete) que as finais ou definitivas (gravidade da pena cominada pela lei para o delito). Suas previsdes ¢ atitudes, ademais, situam-se em planos muito distintos dos “riscos" improvaveis de sofrer aquela pena e dos beneficios seguros derivados do cometimento do fato delitivo. Precisamente porque conta com a possibilidade de evitar 0 castigo € que decide cometer o delito. A certeza, pois, de uns beneficios imediatos, seguros, prevalece sobre a eventualidade de alguns riscos que descarta, ow contempla como improvaveis, por mais graves que estes sejam. As cigneias empiricas, _finalmente, demonstraram a complexidade do mecanismo dissuasério. Tudo parece indicar que nele intervém muitas e diversas variaveis, que interatuam, ademais, de forma nem sempre uniforme. A gravidade nominal do castigo, 0 rigor da pena, é s6 uma delas, de modo que seu concreto efeito inibitorio ou contramotivador depende, em cada caso, do comportamento interagao das demais varidveis. Assim, por exemplo. uma pena de seis anos de privagio de liberdade tem, sem — divida, efeito intimidatério hem _distinto sempre com feito, uma um nos Sistema legal. Tampouco a fragilidade deste, sem mais, determina um ascenso correlativo da criminalidade (da criminalidade "veal", naturalmente, nio da “oficial” ou da "registrada"), nem uma melhora sensivel de sett rendimento reduz ma mesma proporgao_ os indices de crimimalidade. Nao existe tal correlagao, porque o problema € muito mais complexo ¢ obriga a ponderar outras muitas variiveis, Pela” mesma razio, _melhorar progressiva e indefinidamente os resultados da prevengio do delito por meio do sisiema legal, potencializando 0 rendimento a efetividade dele, € uma pretensdo pouco realista, condenada a0 fracasso a médio prazo. De uma parte, porque nio falta razio, provavelmente, iqueles que invertem a suposta relaso de causa ¢ efeito, afirmando que nio é 0 fracasso do sistema legal (causa) que produz 0 incremento da delinquéncia (efeito), sendo este timo (aumento da criminalidade) que ocasiona a fiagilidade e © fracasso do sistema legal. De outra parte, porque no podemos confundir a criminalidade "real" ¢ a "registrada", supondo erroneamente que os niimeros desta tiltima constituem um indicador seguro da eficicia preventiva do sistema legal. Mais ¢ melhores policiais, mais e melhores juizes, mais e melhores prises, dizia a propésito um autor, significam mais infratores na prisio, mais condenados, porém nto necessariamente menos delitos. Uma substancial melhora da efetividade do. sistema legal incrementa, desde logo, 0 volume do crime registrado, se apuram mais crimes ¢ se reduz a distincia entre os nimeros “oficiais” € os "reais" (cifra negra). Porém, nem por isso se evita mais crime, nem se produz ou gera menos delito em idéntica proporgio: 86 se detecta mais crime. E mi a politica criminal que contempla © problema social do delito em termos de mera "dissuasio”, desinteressando-se da imprescindivel andlise etiolégica daquele ¢ de genuiinos programas de prevengio (prevencio priméria), E péssima a politica criminal que esquece que as chaves de uma prevengao eficaz do delito residem nao no fortalecimento do controle social “formal”, sento numa melhor sineronizagio do controle social "formal" e do informal", © na implicagio ou compromisso ativo da comunidade www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo F: Souza Cruz 25 ont Prof. Pablo Farias Sou Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 a Cruz diferentes processes motivacionais, Mas nfo € decisiva s6 a durago do castigo (a duracio abstrata ¢ nominal da pena): a natureza do delito de que se trata, o tipo de infrator, o grau de apoio informal que possa receber 0 comportamento desviado, a rapidez ¢ imediagao da resposta, 0 modo pelo qual a sociedade ¢ 0 delinquent percebem 0 castigo (adequiacao, efetividade) ete. sto cixcunstineins que condicionam decisivamente o poder dissuasorio conereto daquele. Em outras palavras, uma pena de seis anos de privagio de liberdade nto intimida sempre do mesmo modo, nem intimida sempre, nem em todos os casos mais do que uma pena privativa de liberdade de dois. trés ou de cinco anos. O efeito dissuasério real da pena (da ameaga ou cominagio penal) encontra-se muito condicionado pela percepgio subjetiva do infrator com relagio virtualidade da efetiva imposigio do castigo, em caso de cometimento do delito. Determinante sera, neste sentido, nio a maior ou menor severidade nominal da pena abstrata, senio a maior ou menor certeza do riseo que associa o delinquente potencial a pritica do delito valorando as circunstincias concretas do caso (grat: de dificuldade que implica a execugio do delito, pericia. e capacidade propria. para leviela a cabo exitosamente, efetividade real do sistema legal etc). Nesse cflelo ou avalingh consequéncias proximas derivadas da pr delito, as investigagdes empiricas parecem ter verificado dois extremos. Em primeiro lugar, que o infrator - sobretudo, 0 habitual - adota uma atitude marcadamente mais otimista na ponderacio de riscos que 0 cidadao respeitoso das leis. Tal atitude pode-se dever a uma certa distoreio na percepcio da realidade, ow "sindrome de otimismo" nfo __justificado, caracteristico do perfil psicologico do infrator, ou todo o contririo: a0 pragmatismo ¢ experiéncia deste, que Ihe permitem valorar com realismo a escassa efetividade do sistema legal €, portant, a alta probabilidade de cometer 0 delito impunemente Em segundo lugar, que, por sua vez, 0 gran de otimismo difere segundo a natureza do delito e a personalidade correlativa de seu autor O_delingnente sexual. por _exemplo, _nio E imprescindivel distinguir a "politica criminal” da "politica penal", se mio se quer privar de conteiido ¢ autenomia o préprio conceito de "prevencio”, que reclama uma certa politica criminal (de base —_etiolégica, _positiva, assistencial, social e comunitaria), nao formulas vepressivas ou intimidatérias, —meramente sintomatologicas, policiais, que mao cuidam das raizes do problema criminal € prescindem de toda anilise cientifica do mesmo. Excurso: Avaliagio _ empirica modelos dissuasérios (classico € neoclissico) a) Nio é tarefa ficil. por razdes metodolégicas, avaliar empiricamente 0 cfeito intimidatério real da pena (da pena abstrata com que se comina a pritica de um delito, da conereta que se impée ao infrator) e. no geral. a capacidade dissuaséria do sistema legal (que dispoe, ademais, de outros instrumentos € meios. como a detengio policial, a pristo proviséria ete para © cumprimento de seus fins). Sem embargo, © uso racional do castigo ~ objetivo prioritario do Estado social e democratico de Direito, e de toda Politica Criminal cientifica - exige a verificacio empirica de sua eficdcia, de sua utilidade, dada a estrita__legitimagao. instrumental do mesmo (sem esquecer, em todo caso, que um sistema legal em bom estado de funcionamento tem que satisfazer_outras exigéncias e ereditar certas qualidades positivas além de seu poder dissuasério e efetividade). Por igso, hoje interessa sobremaneira 4 Criminologia verificar a eficdcia dissuasoria real do castigo © suas variiveis: se é verdade - om mio - que a ameaga da pena evita a pratica de delitos € previne a criminalidade: se a imposigho & cumprimento da pena conereta mitiga ~ ou nie ~ © risco de reincidéncia do infrator. Em sintese, se existe evidéncia empirica de que a pena satisfaz as necessidades e expectativas sociais ~ que os modelos dissuasérios conferem a0 castigo. Dado que as sangdes formais (a pena) ¢ as informais (outras sangées sociais) integram © controle social (total ou global) - ¢ que sto reciprocamente interdependentes -, nzo parece tarefa. ficil, desde um ponto de vista metodolégico, isolar € abstrair umas de outras para verificar a capacidade preventiva das primeiras, Pois nao cabe mais discutir que a efetividade do controle social informal _e suas dos www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo F Souza Cruz 26 ont Prof. Pablo Farias Sour: Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 Costuma sequer pensar ha possibilidade de ser castigado. O delinquente contra 0 patriménio € a seguranga no trinsito, pelo contrario, calcula racionalmente os riscos da pratica do delito. Mais ainda o faz, sobretudo, o delinquente no Ambito socioecondmico € do meio ambiente, e, desde logo, as corporagées, no particula quanto a0 risco da imposigao de sangdes pecuniarias, No caso do delinquente terrorista, 0 efeito dissuasério do castigo - incluido o de maximo rigor - depende menos da percepsio subjetiva do autor sobre © risco da imposigao daquele ¢ de sua severidade que no de outros delinquentes. Nio faltava razio, portanto, a Becearia quando sustentava jé em 1764 que 0 decisive nio € a gravidade “das penas, senio a rapidez (imediatidade) com que sio aplicadas; nio © rigor ou a severidade do castigo. sentio sua certeza out infalibilidade: que todos saibam ¢ comprovem ~ incluindo © infrator potencial, dizia © autor - que © cometimento do delito implica inevitavelmente a pronta imposicio do castigo. Que a pena nfo é um risco futuro e incerto, sento um mal préximo e certo, inexoravel. Pois se as leis nascem para ser cumpridas, temos que concordar com o ilustre milanés que sé 2 efetiva aplicagio da pena confirma a seriedade de sua cominagio legal. Que a pena que realmente intimida é a que se executa: € que se executa prontamente, de forma implacavel, e ainda caberia acrescentar a que € percebida pela sociedade como justae merecida. Sangdes condicionam sempre o rendimento das instancias de controle social formal ¢ a eficacia dissuasoria das penas. ‘b) Tem-se afirmado em uma obra de recente publicagio que si poucos os estudos empiricos dirigidos a verificar os efeitos reais do castigo (em particular, a capacidade disstaséria deste) - todos, insiste-se. realizados por psicdlogos. socidlogos criminélogos: © que surpreende € 0 quanto a doutrina penal tenha abandonado o problema, limitando-se a. cri interpretar e aplicar as leis Os autores da obra citada, partindo da experiéncia empirica, entendem que esta refuuia 0s postulados basicos dos modelos dissuasérios. Desmentiria, desce logo, a suposta eficicia preventiva-especial da pena (no delinquente conereto que a padeceu), incapaz de evitar sua reincidéncia, E sé verificaria, parcialmente, ademais, as exigéncias da prevengao-geral, enquanto que o risco ou probabilidade de que se deseubra o delito ¢ se detenha o infrator (¢ nfo 0 rigor do castigo) parecem ser elementos essenciais em fimgio da prevengio da criminalidade. © firacasso preventivo-especial da pena ~ sempre segundo os auitores mencionados = ja tinha sido constatado em uma investigagio de Redondo, Funes € Luque sobre a reincidéncia, cuja principal conchusio foi que a prisfo. per se, nfo previne nem evita a recaida no delite. Do estudo examinado se depreenderia - contra as premissas e postulados dos modelos dissuas6rios = que os indices de reincidéncia aumentam com o incremento da frequéncia de ingresso na pristo ido infrator e com 0 da duragao da pristo. e rigor das condigdes de cumprimente ¢ extingio da condenacio. Isto é a probabilidade de reincidir aumenta em proporstio ao mimero de vezes que © infrator tenha ingressado na prisio, ¢ a duragio desta. E os indices mais elevados de reincidéncia ocorrem entre os apenados que sofreram condenagdes mais rigoresas. Quanto a eficacin preventivo-geral da pena, os autores consideram que aquela parece mais associada ao isco. ow probabilidade de descobrimento do delito que ao rigor ou severidade nominal do mesmo castigo, tudo isso sempre desde a percepcio subjetiva do infrator, que avaliaria, caso a caso, 0 grau do mencionado risco_our_probabilidade de _ser_detido. A. www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo F: Souza Cruz 7 Prof. Pablo Farias Sou Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 a Cruz gravidade da pena de seu regime de cumprimento careceria de relevancia em fine30 da capacidade dissuaséria daquela como instrumento de prevencio, 0 que poderia se predicar, também, da pena capital e sua nula incidéncia nas taxas de homiciclios. 7 *! GOMES. Luiz Flivio ¢ PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia. Criminologia 5.ed sev. ¢ atual- Sao Paulo: Revista dos Tribunais. 2007. www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo F: Souza Cruz 28 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Prof. Pablo Farias Souza Cruz Modelos de reagio ao crime. Os modelos de reagdo ou resposta ao crime so distintos, e costumam ser categorizados da seguinte forma, forma inclusive j4 cobrada em concurso (conforme se verd nas questdes sobre a aula de hoje). Modelo dissuas6rio ou classico - também conhecido como modelo retributivo, este modelo se centra na punigSo ao infrator, que deve ser intimidatoria e proporcional ao dano causado. O Estado e o ofensor sao os protagonistas, vitima e comunidade ocupam lugar de segundo escalao. Nesse modelo, aplica-se pena somente aos imputéveis e semi-imputdveis, pois aos inimputdveis se dispensa tratamento psiquiatrico. Modelo ressocializador - O delito € reconhecido como consequéncia de variados fatores. Enfoca no ser humano e pondera a ressocializac&io do infrator a sociedade através da privacdo da liberdade. Ainda se apresenta como um modelo punitivista. O Estado e 0 ofensor sS0 os principais atores e a vitima ea comunidade também acabam por ocupar papeis de somenos importancia. Modelo integrador (Restaurador) - advoge pela desjudicializagéo baseado num direito de intervencéo minima, onde o sistema carcerario esté reservado para quando nfo ha outra alternativa, 2 n3o ser a segregacSo. Este modelo, por sua natureza, potencializa 0 desenvolvimento de métodos alternativos de resoluc&o de conflitos, de acordo com a convicc3o de que so as partes envolvidas no conflito as que devem se comprometer em sua solucéo e, é nesta viséo, onde nasce a possibilidade de utilizar praticas restaurativas em casos penais. O modelo integrador converte a vitima e a comunidade em protagonistas do drama penal, também nao deixam o ofensor fora deste sistema, este modelo € a conseqiiéncia de uma troca de peradigma de uma justica retributiva a uma ” PENTEADO FILHO, Nestor Sampé Paulo: Saraiva, 2012, p. 87. Manual Esquematico de Criminologia. 2° edicéo, Séo \www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 29 ont Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara oe nla Prof. Pablo Fores Souza Cruz justica restaurativa, O modelo integrador busca satisfezer verdadeiramente as expectativas sociais no caminho de pacificar as relacées humanas, de tal sorte que flexibiliza praticas como a justiga restaurativa. > Sistematizando, com base no contexto abordado acima e nas ligdes de Nestor Sampaio Penteado, temnos: DISSUASORIO RESSOCIALIZADOR RESTAURADOR (INTEGRADOR) *__ Repressio por meio da|* Punigto junto com|* Desenvolvimento da peniséo, reinsergio social, denominada Justiga Restaurativa, * —— Pedagogia do castigo; |* — Participacto da|* —— Aplicagio efetie do principio * Pena para 08 | sociedede ainda comedida; da intervengio minima do Dircito imputaveis e semi-imputivei, |* — Prevengéo de ocorréncia | Penal: . Tratamento para os| de estigmas como|* Busca em medida semelhante a inimputéveis correspousabilidade da| Reeducagio do infrator com a sociedad. Reparagito da vitima— (busca reestabelecer o status quo ante): = Promove a participagio mais evidente da comunidade atingida pelo deltio. E importante registrar, haja vista a atengdo que tem ganhado em certames da area juridica 0 que vem a ser a denominada justi¢a restaurativa, que facilmente pode ser enquadrada como um modelo moderno de reagéo ao crime. Assim reproduzimos abordagem feita em nosso: Processo Penal Sistematizado, no prelo pela editora Forense, onde contextualizamos o tema dentro da abordagem a respeito do principio constitucional do devido processo legal: “Questo interessante, inclusive ja tendo sido objeto de questo discursiva do concurso da Defensoria Publica de Sao Paulo™ se refere & existéncia de dois tipos de devido processo legal. 30 www.pontedosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Prof. Pablo Far Destarte, atualmente se falam em dois devidos processos legais penais vigentes no Brasil: DEVIDO PROCESSO PENAL CLASSICO. (CPP) e o DEVIDO PROCESSO PENAL CONSENSUAL (Lei 9099/95 ~ Juizados Especiais). Ha quem diga que o devido processo legal penal consensual é inconstitucional, mas nao é esse o entendimento prevalente O raciocinio que se tem confirmado é que, o que ocorreu foi a criagdo legal de um novo processo, com regras claras e especificas. Tal raciocinio foi comprovado pela jurisprudéncia, que entendeu como constitucional esse novo devido processo legal. Assim, poderiamos comparar os sistemas classico e consensual da sequinte forma: CLASSICO CONSENSUAL Encerra-se, na maioria das vezes, Encerra-se com sentenca de mérito | com sentenca homologatéria de transacao. Hé julgamento, hd justiga classica, : H8 consenso penas impostas infragoes de menor potencial infracdes penais médias e graves c ofensivo Trata-se aqui de assunto que tem ganhado grande relevancia no Ambito académico com a denominago: Justica Restaurativa. Destacando a importancia do tema, a Defensoria Publica de Sdo Paulo, no concurso ptblico realizado em 2006, indagou aos candidatos para o cargo de defensor publico: “Questo 10 - Direito Processual Penal: Compatibilize 0s principios da justica restaurativa e do devido proceso legal.” aL www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aule3 Prof. Pablo Fariss Souza Cruz Para uma melhor visualizacio das diferengas entre os dois sistemas, colaciono quadro comparativo elabora pelo ilustre professor Renato Sécrates Gomes Pinto que sintetiza bem os principais enfoques axiolégicos e procedimentais dos dois sistemas. VALORE JUSTIGA RETRIBUTIVA JUSTIGA RESTAURATIVA celta juddico-normarive de | Gonceite vealistics de Grime - \to ame ato contia a sociedade — | que traumatiza a vitiny, causande da pelo Estado The danas, - Multia Unichiseiphiniicdade represen! iplinaniedacle Paunde do Intevesse Pablice Pando do lntevesse das Be Sociedade, representada pelo Enwolvidas © Comunidade jirstica Eetada. o Cente) - Mb Camunal participativa eetatal da fy Cmnal Sulpalalilade Individual voltude | Resporvabuladade, pola acstaunacsien panto pasado Lstgmunzacne | muma dimensao social, comparulhada coletwamente & walled praio tate Tie Dogmitico de Ducito Penal [Use Ganico © \ltemative do Direite Positiwo Hhidieoga de Estado quanto as | Gonmprometinente com a anche scl: jo minton vim | hustica Soeal genndo concxde oamuanclade: ate tacke: % desconexao Cultialmente tlesivel (cesperto a ditetenea, toleuinces Diteuasie, Petvaasio stuxmon. C..R.De Vite, €R. Gomes iat, orp. 2005, Jusrca Resturanva (Brasiia— DF Ministre du Jastiga ¢ Programa dss Nayoes Unidas para ¢ Desenvolsimene - PNUD) p. 24 www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 32 JUSTICA RETRIBUTIVA Prof. Pablo nic ¢ Piblico nnuuidiue, conras pessoa aavelva Inxispombilicse ‘enal_ | Pancipse da Opoutuniciad Contenainsn e contiaditéne rantiao « uy Lingagem, nosis : . proeedunenios form contidenethild cemplesos giuuti rote prntexpm is J Atores panies atontades repreventando o Est reventandy i do Darate fisstonats & Proceso Deesona a cargo de | Proceso Deerscno compartlliad autondades Folica, Delegada | coms pessoas envolvids Promaton jonas tor ¢ commuudad Dircito Uinchmensmahdade penisonalicad 6 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Aula 3 O autor supracitado conclui entao que as diferenca entre os resultados dos dois sistemas seriam as seguinte: * Stakmon, C.R De Vito. eR Gomes Pato, om. 2005 Jastica Restaura (Brain ~ DE Minsténo da Jasin Proerama das NasBes Unias pra ¢ Devenvlimenss - PNUD) p25 www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pablo Farias Souza Cruz 33 Criminologia para o cargo de Delegado de Policia Civil do Ceara Prof. Pablo Farias Souza Cruz RESULTADOS JUSTICA RETRIBUTIVA JUSTICA RESTAURATIVA Preverican Geni ¢ Pspectal Sbordlagen slo Crime:

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