T4 - Tratado de Metodologia Científica - p.45-69 PDF

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en Segunda Parte METODOLOGIA CHENTIFICA 4 Estudando a Ciéncia S* muitos os autores e pensadores que apresentam conceitos do que é ciéncia. Aciéncia abrange praticamente todos os campos do conhecimentohumano, relacionados com fatos ou acontecimentos e agrupados por principios que sio as regras. Trata-se do estudo, com Gitérios metodolégicos) das relagdes existentes entre causa ¢ efeitos de um fendmeno qualquer, no qual o estudioso se prope a demonstrar a verdade dos fatos e stias aplicacées praticas. E uma forma de conhecimento sistematico, dos fenémenos da natureza, dos fenémenos sociais, dos fendmenos biolégicos, matematicos, fisicos e qui- micos, para se chegar a um conjunto de conclusdes verdadeiras, légicas, exatas, por meio da pesquisa e dos testese De acordo com os cientistas, qualquer assuntg/que possa ser estudado pelo homem pela utilizagao do método cientificg de outras regras especiais No mundo académico, fazer ciéncia é importante para todos porque é por meio dela que se descobre e se inventa. Por intermédio da ciéncia e da tecnologia é que temos os aparelhos de comunicacao, 0 computador, fibras pticas, meios de transportes complexos, instrumentos cirtirgicos de alta pre- cisdo, equipamentos na area de engenharia, energia nuclear, complexos sistemas de producao, avides, foguetes, materiais bélicos, controle das pragas e aumento da produtividade no setor agropecudrio, dentre outros. A ciéncia provocou no séc. XIX a Revolucao Industrial, principalmente pela fisica e a matemética, além de outros avancos no campo da psicandlise, das ciéncias sociais, da biologia, da quimica. Por meio das observagées e do experimento, nds interferimos e alteramos a propria natureza e 0 fendmeno observado. 48 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Nos dias de hoje, muitas areas da ciéncia se sobrepdem de tal forma que estudiosos de areas diferentes podem se dedicar a um mesmo tipo de problema, com pontos de vista distintos. Por exemplo, um psicanalista e um fisiologista podem perfeitamente bem estudar as reacdes de um astronauta dentro de um 6nibus espacial. Um poderd estudar as formas relacionadas com alucinagées, en- ganos de visao, depressao e outras reacdes mentais, enquanto o outro estaré in- teressado nos processos respiratérios, fluxo sangiiineo, perda de massa éssea. Em virtude da sobreposicao de algumas areas, tem sido muito dificil se estabelecer delimitagdes de onde comeca uma ciéncia e onde termina a outra. + OproprioPopper analisa essas dificuldades em seu trabalho sobre a questo da indugio* Do ponto de vista do conhecimento -(gnosiologia)~ 0 conhecimento é 0 reflexo e a reprodugao do objeto na nossa mente, Dessa forma, no processo do conhecimento participam os sentidos, a razao ¢ a intuigao. A grande diivida é saber qual delas é a origem, a nossa base principal de conhecimentos. Com relacdo ao lugar e a importancia dos sentidos, da razao e da intuicao, hé divergéncias de opinides entre os maiores pensadores sobre 0 assunto e, na histéria da filosofia, aparecem diferentes doutrinas a respeito. Vem do grego o termo ciéncia ~ scie ~ que designa conhecer. Significava, de uma forma geral, para os gregos, todo o saber criticamente fundamentado. Dessa forma, todo o resultado da indagagao racional fazia parte integrante de um tnico saber e a ciéncia nao se distinguiria da filosofia. Nos dias de hoje, a ciéncia distingue-se das outras formas de conhecimento, representando um njvel intermediério entre o conhecimento vulgar — o infimo indicado—e 0 mais elevado, que é a prdpria filoSafia, excecao feita aos aspectos especiais qualificativos como é 0 caso das ciéncias juridicas, filos6ficas e outras. E discutivel, mas a ciéncia ja nao tem o seu perfil ideal na filosofia, e sim na fisica, na quimica, na biologia. Quanto mais um ramo de estudo se aproxima desta, tanto mais merece a consideragao da ciéncia. 4.1. COMPONENTES DA CIENCIA As ciéncias possuem: a) Objetivo ou finalidade ~ A ciéncia visa estabelecer a distingéo das caracterfsticas comuns ou das leis que regem as relag6es de causa e efeito dos fenémenos. 7 POPPER, Karl. 4 ldgica da pesquisa cientifica, S40 Paulo: Cultrix, 1975. p. 27. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 49 b) Fungo — A principal é 0 aperfeigoamento do conhecimento em todas as dreas para tornar a existéncia humana mais significativa. Objeto ~ Subdividido em: - formais - Os objetos das ciéncias formais ou pura sao os ideais. Seu métodoé a dedugao, e seu critério de verdade é a consisténcia ou nao contradicéo de seus entindiados. Todos os seus enunciados sao analiticos, isto é, deduzidos de postulados ou teoremas. —_ - factuais - Os objetos das ciéncias factuais ou aplicadas, sio materiais, seu método é a observacio e a experimentagio e, em segundo lugar, também a inducao e seu critério de verdade é a verificagao. Os enunciados das ciéncias factuais sao predominantemente de sintese, embora haja também enunciados analiticos. 4.2 ASPECTOS LOGICOS DA CIENCIA A logicidade da ciéncia manifesta-se por meio de procedimentos e ope- racoes intelectuais que: a) Possibilitam a observacdo racional ¢ controlam os fatos; b) Permitem a interpretagao e a explicagio adequada dos fenémenos; ©) Contribuem para a verificagao dos fenémenos, positivados pela expe- rimentagao ou pela observacio; d) Fundamentam os principios da generalizacao ou 0 estabelecimento dos principios e das leis.* Muitos estudiosos da Metodologia Cientifica procuram entender a ciéncia por angulos diferentes, mas todos caminham para um tinico objetivo que é a demonstracao da verdade por meio da observacao e da experimentacao. A ciéncia é, portanto, “Acumulagio de conhecimentos sisteméticos”; “Atividade que se propée a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicagbes praticas”; “Caracteriza-se pelo con! ento racional, sistematico, exato, verificdvel €, por conseguinte, Talivel”; “Conhecimento certo do real pelas suas causas”; ANDER-EGG, Ezequiel. Introduccién a las técnicas de investigacién social: para trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. p. 15. 50 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA “Conhecimento sistematico dos fenémenos da natureza e das leis que os regem, obtido pela investigacao, pelo raciocinio e pela experimentagao inten- siva”; “Conjunto de enunciados légicos e dedutivamente justificados por outros enunciados”; “Conjunto organico de concludes certas e gerais, metodicamente demons- tradas e relacionadas com o objeto determinado”; “Corpo de conhecimentos consistindo em percepgées, experiéncias e fatos certos e seguros”; “Estudo de problemas soltiveis, mediante método cientifico”; “Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo”. Ander-Egg, no seu trabalho Introduccién a las técnicas de investigacién social, afirma que a ciéncia é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou provaveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificdveis, que fazem referéncia a objetos de uma mesma natureza, subdividindo-o em: - conhecimento racional, isto 6, que tem exigéncias de método e esta constituido por uma série de elementos basicos, tais como sistema conceitual, hipsteses, definicdes; diferencia-se das sensagGes ou imagens que se refletem em um estado de animo, como o conhecimento postico, e da_compreensao imediata, sem que se busquem os fundamentos, como é 0 caso do conhecimento intuitivo popular. ~ certo ou provavel, j que nao se pode atribuir 4 ciéncia a certeza in- discutivel de todo saber que a compée. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande a quantidade dos provaveis. Antes de tudo, todalei indutiva émeramente provavel, por mais elevada que seja sua probabilidade. — obtidos metodicamente, pois nao se os adquire ao acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras légicas e procedimentos técnicos. (Saistemattzadorespisto 6, nao se trata de conhecimentos dispersos e des- conexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de idéias ou teorias. - verificaveis, pelo fato de que as afirmagées que nao podem ser com- provadas ou que nao passam pelo exame da experiéncia nao fazem parte do Ambito da ciéncia, que necesita, para incorporé-las, de afirmacdes comprovadas pela observacao. ~ relativas a objetos de uma mesma natureza, ou seja, objetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certas caracteristicas de homo- geneidade.* * TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da ciéncia. 3. ed., Rio de Janeiro: Kennedy, 1974. po. SE TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 51 4.3 CLASSIFICAGAO DAS CIENCIAS E RAMOS DE ESTUDOS Nao existe uma linguagem tinica para a classificagao das ciéncias. A sua classificagao foi feita por diferentes pensadores e estudiosos do assunto. As propostas vém dos gregos, passa por Comte com o positivismo, Carnap, Wundt, Bunge e outros. “ Baseando-nos em Bunge, apresentamos a seguinte classificagao das ciéncias e ramos de estudo.* FILOSOFIA (LOGICA) FORMAIS (Puras) sintetiza e explica os MATEMATICA fatos e principios descobertos sobre 0 universo e seus habitantes, FISICA, FISICA NUCLEAR, MINERALOGIA, LOGISTICA MILITAR, PETROGRAFIA, GEOLOGIA, COMPUTAGAO, ENGENHARIA, ASTRONOMIA NATURAIS QUIMICA = QUIMICA ORGANICA, QUIMICA INORGANICA, FISICO-QUIMICA, FARMACIA E BIOQUIMICA BIOLOGIA BOTANICA, MEDICINA, ZOOLOGIA, VETERINARIA, AGRICULTURA, TEC. ALIMENTOS, ENFERMAGEM ‘(plicadas) utiliza 0s fatos e principios cientificos para fazer coisas Uiteis aos homens ECOLOGIA SOCIAIS SOCIOLOGIA, PSICOLOGIA SOCIAL, ‘ tle~ ANTROPOLOGIA CULTURAL, aha | e GEOGRAFIA, DIREITO, oe props ADMINISTRAGAO, COMUNICAGAO a SOCIAL, ECONOMIA, HISTORIA. * BUNGE, Mério. La Ciencia, Su Metodo y Su Filosofia, Buenos Aires: Sigioveinte, 1974. cap. 1 f 52 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA A geologia, meteorologia, oceanografia e astronomia também sao agru- padas como geociéncias. “As Ciéncias Formais ou Puras e as Ciéncias Factuais ou Aplicadas sao necessarias para levar os beneficios da-pesquisa cientifica. A maioria dos es- tudiosos conhece mais a respeito das Ciéncias Factuais do que das Ciéncias Puras, em virtude de manterem mais contato com as conquistas das Ciéncias Aplicadas. 4.4 A TEORIA DO CONHECIMENTO A teoria do conhecimento tem o seu inicio com a seguinte pergunta: Po- demos ter um conhecimento exato do mundo que nos cerca? Ou seja, trata-se dé saber se 0 mundo é conhecido tal qual é, ou de forma diferente do que aparenta ser? . Do ponto de vista cientifico - gnosiologia — 0 conhecimento € 0 reflexo e a reproducao do objeto na nossa mente. Dessa forma, no processo do co- nhecimento participam os sentidos, a razio e a intuigao. A grande duivida é saber qual delas é a origem, a nossa base principal de conhecimentos. Com relagao ao lugar e-a importancia dos sentidos, da razao e da intuigao no conhecimento da verdade ha divergéncias de opinides e na historia da filosofia aparecem diferentes doutrinas a respeito: 4.4.1 O Empirismo Sua origem vem do grego empeiria, que significa experiéncia. E uma doutrina que afirma que a tinica fonte de nossos conhecimentos é a experiéncia recebida e experimentada pelos nossos sentidos. Seu principal axioma em latim é: NIHIL EST IN INTELLECTU QUOD PRIUS NON FUERIT IN SENSU - Nada existe no intelecto que antes nao tenha estado nos sentidos. De uma forma geral os empiristas como Locke, Hume, Condillac, Stuart Mill e outros consideram que 0 conhecimento empirico, obtido através dos Orgaos dos sentidos, é suficiente para conhecer a verdade. Por ocasido do nosso nascimento, a nossa menic estd totalmente vazia, assemelhando-se a um buraco Regro ou a uma folha em branco na qual, com 0 passar do tempo, a experiéncia escreve. De acordo com os pensadores, principalmente Locke, todos os nossos conhecimentos, incluindo os mais gerais e abstratos, © sujeito cognoscente tira da experiéncia a sua forma de ser. A razao nao agrega nada de novo, porque se limita simplesmente a unir e ordenar os diferentes dados da experiéncia. E suficiente a razao se afastar dos dados da experiéncia para cair no erro, desligar-se da realidade. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 53 O principal mérito do método empirico é 0 de assinalar com vigor a importancia da experiéncia na origem dos nossos conhecimentos. Os empiristas de um modo geral tém razdo ao afirmar que nao existem idéias inatas, e de que antes da experiéncia nao ha e nem pode haver conhecimento algum sobre o mundo exterior. Entretanto, 0 ponto fraco dos empiristas é, sem duivida, a subestimagao do papel da razao, do pensamento abstrato e a sua diferenga qualitativa em Telagao ao conhecimento empirico. Os nossos sentidos nos dio somente o conhecimento dos fendmenos. A esséncia das coisas, ¢_ntimero, s6 podem ser alcangados pela razdo, pelo pen- samento abstrato. Tanto isso é verdadeiro que muita gente, muitos estudantes, possuem grande dificuldade para atingir 0 raciocinio abstrato @ nao sé desen- volvem. O mundo de hoje, séc. XI, esta a exigir 0 raciocinio abstrato, muito mais do que nas épocas anteriores. A ciéncia ¢ a tecnologia se desenvolvem praticamente no mesmo ritmo e, as vezes, com vantagens para a tecnologia. Essa Jan wigan Newsro 4.4.2 A Razaio Doutrina que afirma que a razio humana, o pensamento abstrato, é a tinica fonte do conhecimento. O termo vem do latim ratio = razdo. Aocontrario dos empiristas, os racionalistas afirmam que os nossos sentidos nos enganam e nunca podém conduzir a uth conhecimento verdadeiro, uma vez que o mundo da experiéncia encontra-se em conti formacao. E como o universo, em constante mutagao. Para os racionalistas, um conhecimento é verdadeiro somente quando é logicamente necessario e universalmente valido. Esse conhecimento s6 pode ser alcangado pela razao. O racionalismo comeca com Platao e se estende por Descartes, Espinosa, Leibniz, wa mudanga e trans- Kant e outros. ( De acordo com a Teoria das Idéias Inatas de Descartes ou das formas a priori de Kant, os conceitos fundamentais do conhecimento sao os inatos, ou seja, nascem conosco e, nesse sentido, nao procedem da experiéncia, sAo a priori, conforme Kant, anteriores & experiéncia.* O principal mérito do racionalismo, ao contrario do empirismo, consiste no fato de reforcar a idéia do importante papel ativo e criador da razao, do pensamento abstrato, no conhecimento da verdade e da esséncia das coisas. * CAIARD, Edward. The Critical Philosophy of Immantiel Kant, Glasgow, 1889. KULPE, Oswald. Inonanuel Kant. Leipzig, 1908. 54 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA O erro dos racionalistas est no fato de separarem a razo da experiéncia, de desprezarem 0 papel dos sentidos, considerando apenas que a raz4o nao depende de nada, nao depende da experiéncia, e pode por si propria conhecer a verdade. Os racionalistas partem da consciéncia do homem adulto e culto, que adquiriu e formou muitas idéias, axiomas e principios da razao. Contudo, nao observaram que essas idéias, principios e axiomas possuem a sua origem no empirismo. Apés serem repetidas milhares de vezes pelo pensamento, essas verdades objetivas se tornaram evidentes e axiométicas e criaram a impresséo de serem, a priori, inatas, congéfitas e inerentes a razao humana." 4.4.3 A Intuigao A intuicao, ao contrario do que se pensa, desempenha um papel muito importante no campo da ciéncia, no conhecimento da verdade, embora Bergson e outros pensadores tenham afirmado que é possivel conhecer diretamente"a verdade, o absoluto, sem auxilio dos sentidos e da razao, por meio da faculdade irracional_ou_sobrenatural que é a intuigéo, com a qual estariam dotadas, segundo cle, apenas as elites privilegiadas, eleitas por uma forga sobrenatural (Deus etc.). . Na histéria da filosofia, a intuigao tem sido estudada ha longo tempo, igualmente desde Platdo até os nossos dias, e a maioria das correntes do nosso século é intuicionista e considera a intuicéo como 6rgao ou faculdade superior de conhecimento, que nos fornece direta e imediatamente a verdade absoluta. Entre essas escolas, podemos incluir: a ~ Neotomismo, doutrina filos6fica oficial da Igreja; b ~ Intuicionismo, do filésofo francés Henry Bergson ~ 1859-1941; c - Fenomenologia, do filésofo alemao Edmund Husserl - 1859-1938; d -Existencialismo, do também filésofo alemao Martin Heidegger - 1889- 1977. Atualmente, poucas correntes filos6ficas nao sao intuicionistas como é 0 caso do marxismo, pragmatismo e neopositivismo; entretanto, nenhuma delas nega a intuicao como espécie natural de conhecimento. Axioma: do grego axiologes, do latim axioma. Premissa imediatamente evidente que se admite cgi /ersalmente verdadeira sem exigéncia d Priori TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 55 © Marxismo - Doutrina dos filésofos Karl Marx ~ 1818-1883 ~ e Friedrich Engels — 1820-1895 - fundamentada no materialismo dialético, e que se desenvolveu por meio das teorias de luta de classes e da elaboracao do relacionamento entre 0 capital ¢ 0 trabalho, do qual resultou a criagao da Teoria da Tatica da Revolucao Proletaria. * Pragmatismo - do inglés pragmatism — Doutrina de Charles Sandes Peirce, filésofo americano — 1839-1914 -, cuja tese fundamental € de que a idéia que temos de um objeto qualquer nada mais é sendo a soma das idéias de todos os efeitos imagindveis e atribuidos a nés a esse objeto, que possa ter efeito pratico. Para Peirce a verdade de uma pro- posicdo é uma relacdo totalmente interior 4 experiéncia humana, e 0 conhecimento é um instrumento a servico da acao, tendo o pensamento carater puramente finalistico. A A verdace de wma. proposicso-consiste ofatodequedlasda uth tenha alguma espécie de éxito ou de satisfacdo. irce é 0 precursor da légica e criador da semidtica — teoria dos signos. Com Peirce, prossegue-se 0 campo de estudo da ciéncia da comunicagio. ~~ * Neopositivismo — do francés positivisme — neopositivisme — Positivismo légico — movimento doutrinério do chamado “Circulo de Viena”, fun- dado por Moritz Schlick, fildsofo alemao ~ 1882-1945 -, que reuniu os fildsofos germanicos Phillip Franck, Otto Neurath, Rudolf Carnap, Hans Reichen Bach e Ludwig Wittgenstein, cujas teses so assinaladas pelo carter cientificista e expressamente antimetafisico, que associa a tra- digéo_empirista ao formalismo légico matematico. A intuicdo é um modo de conhecimento que completa as demais espécies e modos de conhecimentos — sensivel e racional. A intuiggo é uma funcao especial da mente humana, que age pelo pensamento, independentemente da pessoa ser ou nao letrada. E um fenémeno psiquico natural que todos os seres humanos possuem, alguns em maior grau e outros em menor grau, conforme certas condicées — a pajelanga, o misticismo e 0 esoterismo atuam muito nessa Area como forma de conduzir as pessoas. ~ E uma forma de conhecimento obtida de maneira muito clara e de forma direta, sem a intervencdo do raciocinio, de uma s6 vez e nao por meio de atos sucessivos. E um conceito cartesiano, para 0 qual a intuicdo é proporcionada pelas idéias claras e distintas que tornam o critério da verdade inteligivel. Vem do latim— in tuire= ver em, contemplar;intuitus = visdo, contemplagao; intuitio = ato de ver, contemplar e corresponde a uma forma de conhecimento direto, uma forma de visdo imediata dos objetos e de suas relagdes com outros objetos, sem o_uso de raciocinio discursivo ou de base cientifica. ~Para Kant a Anschauung — visio 6 uma forma que os seres humanos possum de estabelecer relagdes com o mundo que os cerca. Kant admite na Critica do juizo estético e teleolégico que a intuigao estética possibilitaria a sintese 56 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA entre o particular e 0 universal, a apreensdo do absoluto, na forma de intuigao sensivel e intelectual.” 4.5 A DIVISAO DA TEORIA DO CONHECIMENTO A Teoria do Conhecimento preocupa-se em estudar os problemas fun- damentais do conhecimento e pode ser dividida em trés areas distintas: 1- GNOSIOLOGIA]- do grego gnosi ciéncia, estudo, tratado. A gnosiologia preocupa-se em estudar a esséncia do conhecimento, uma forma de conhecer a realidade, as qrigens ou fontes do conhe- cimento, as formas ou espécies da qual se reveste 0 conhecimento, a validade do conhecimento em geral, ou seja, a verdade, e qual o seu critério. (2= ErIsTEMoLoGral- do grego episteme = ciéncia. Estuda a validade do conhecimento cientifico, das ciéncias particu lares. conhecimento e logos do latim 3= METODOLOGIA]- do grego método, meta = ao longo de: hodés: via, caminho, organizacao do pensamento. Estuda os meios ou métodos de investigacio do pensamento correto e do pensamento verdadeiro que visa delimitar um determinado pro- blema, analisar e desenvolver observaiées, criticé-los e interpreta-los a partir das relades de causa e efeito. Encontrar os fenémenos que sao objetos de estudo, dando-Ihes suporte cientifico para uma mo- nografia, dissertagao de mestrado ou tese de doutorado. ‘A Metodologia divide-se em: a) Légica Formal — que estuda os principios formais do pensamento. Estuda 0 pensamento correto, ou seja, a coeréncia do pensamento consigo mesmo. b) Légica Dialética — que estuda as condigdes subjetivas-objetivas do conhecimento da realidade com o fim de alcangar a verdade objetiva. Analisa © pensamento verdadeiro, isto é, a correspondéncia entre pensamento e objeto ~ a realidade objetiva * KANT, |. Critica da razio pura, Sao Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 17. 5 O Método Método deriva da Metodologia e trata do conjunto de processos pelos quais se torna possivel conhecer uma determinada realidade, produzir determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos. Dessa forma, o método nos leva a identificar a forma pela qual alcangamos determinado fim ou objetivo. Para ensinar musica a alguém, existe um método, da mesma maneira que para ensinar um idioma as escolas de linguas possuem o seu proprio método de ensino, que leva o aluno a aprender de uma maneira mais facil ou nao. Para aprender a tocar violao, existem muitos métodos nas baneas de jornais. Para investigar um fendmeno qualquer, também existe um método que nos possibilita estabelecer uma relagao de causa e efeito. O Método ¢, portanto, ‘ma de pensar para se cl a naturezs de um determinado problema, quer seja para estudé-lo, quer seja para explicé-lo. O Método, que sao regras, foi elaborado nos seus mais diferentes aspectos por muitos pensadores, cientistas e estudiosos da metodologia cientifica ao longo dos séculos. E muito provavel que a sabedoria humana nao resolva realmente todos 0s problemas de modo sistematico. MaS depois que o problema é resolvido, © método cientifico é utilizado para explicd-lo e expor a sua solugao de um modo ordenado para poder ser compreendido por todos aqueles que esto no processo da produgao cientifica nas universidades, e precisam compreender que a_ciéncia_possui_um plano formal de desenvolvimento. Dessa forma, 0 método nos leva a: a) Apresentar 0 tema; ( b) Enunciar o problema; 58 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA ©) Rever a bibliografia existente; @) Formular hipéteses e varidveis; e) Observar e fazer os experimentos; f) Interpretar as informac6es; g) Tirar conclusdes. 5.1 METODO E TECNICA O método se faz acompanhar da técnica, que é 0 suporte fisico, si0 os instrumentos que o auxiliam para que se possa chegar a um determinado Itado: ensino, descoberta, aprendizado, invengao, investigagao. A técnica 6 a parte material, é a parte pratica pela qual se desenvolve a habilidade de ensinar, aprender, produzir, descobrir ¢ inventar. Existem varias formas de ensinar a lingua portuguesa: por meio da ver- balizagao, exercicios, leituras, escrita — sio0 métodos. Mas quando o professor utiliza-se do giz, do quadro-negro, de transparéncias no retroprojetor, de en- cenagoes ¢ de outras formas para didatizar a sua aula, ele estaré utilizando-se de técnicas. Quanto melhor forem os recursos técnicos, metodologicamente os resultados serao outros, melhores. O método é de certa forma o encaminhamento, a busca, contrapondo-se a obtengio de um resultado qualquer ao acaso. Este conceito traz implicito 0 fato de que antes de se desenvolver o método é preciso estabelecer os objetivos visados de forma muito clara; por exemplo, descobrir, analisar, estudar, pes- quisar se o telefone celular produz nos usudrios dores de cabega, calor e coceira no rosto, enjéo e sonoléncia. Qual o método mais adequado que deveré ser utilizado nesta investigacéo? Quais séo os meios técnicos que servirao como apoio ao método. Nao se trata de um termo absoluto, um cardter uno, porque em muitos casos existe apenas uma intyigéo, uma pré-ciéncia do objeto que estimula a criagdo do método. - Descartes foi um dos maiores estudiosos do assunto em sua obra Discurso sobre 0 método — Discours sur La Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérilé Dans:es Sciences - 1637 ~ Discurso sobre 0 método para bem conduzir sua razito e procurar a verdade nas ciéncias. O assunto € complexo porque pluraliza e se diversifica de acordo com 0 dominio de cada area do conhecimento das ciéncias formais e dedutivas as ciéncias empirico-formaise ciénciasnaturais, e, dentro de cada dominio, segundo 0s problemas. Por exemplo Método de Resolugao da Trigonometria, Método de Resolugao da Geometria Espacial. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 59 A formulagao de enunciados precisos tem sido visto desde Newton 1642- 1727 - Os principios mateméticos da filosofia natural (1687), como sendo uma das tarefas mais importantes da ciéncia. Entretanto, somente com Francis Bacon (1561-1626) — Novum Organum — Novo método, que a descrigao sistematica do procedimento a ser adotado, que € 0 Método, na busca das leis que regem as relaces de causa e efeito dos fenémenos, foi aceita pela comunidade cientifica do séc. XVII ao nosso século. O papel do Método na pesquisa cientifica, cujo termo vem do latim e significa caminho, passos para se chegar a um objetivo, possibilita assentar enunciados — tema ~ gerais ou especificos sobre observagées acumuladas de casos gerais e especificos. Bacon mostra na esséncia do seu trabalho - Novo método - a questao da bservagao e da experimentacdo aos quais devem se submeter os fendnemos, podendo-se dessa forma confirmar a verdade, A demonstragao do que é ver- dadeiro ou falso s6 pode ser feita por meio do experimento, e da fase da pesquisa 6 que se pode observar e registrar metodologicamente a forma ade- quada e sistematica das informag6es que se possa coletar a respeito das causas de um determinado fendmeno, que, conseqiientemente, é 0 problema. O método nos leva a examinar de uma maneira mais ordenada as questdes do Por que ocorre? Como ocorre? Onde ocorre? Quando ocorre? e O que ocorre? Na realidade, 0 problema é uma indagagao, conforme o exposto, cujas respostas ou explicagdes $6 serao possiveis por meio da pesquisa e da expe- rimentacgao. O bom andamento da pesquisa e da experimentacao dependerd exclusivamente da adequagaéo do método e das técnicas a serem utilizadas. 5.2. METODO INDUTIVO : A Indugo separa os enunciados cientificos dos outyds tipos de enunciados que se baseiam na_emocio, na autoridade, na tradicao, na conjectura, no preconceito, no habito, nas manchetes de jornais, nos titulos de filmes e novelas. ‘A questao da inducao, chamado de Problema de Hume, tem perturbado os pensadores desde o tempo de Hume - 1711-1776 — autor de An Enquire Concerning Human Understanding (1748), dentre outras, até os dias de hoje. As correntes de pensamento a favor de Hume demonstram que a indugio se converte em principio légico independente, incapaz de ser inferido da ex- periéncia ou de outros principios légicos, e que a ciéncia se torna impossivel sem cle. 60 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA © tema, além de polémico, é também extremamente embaragoso porque € exatamente a ciéncia que deve apoiar-se em pilares cuja validade nao tem como ser demonstrada Este fato levou os empiristas a partir de Locke (1632-1704) — An Essay Concerning Human Understanding (1690) - ao_ceticismo, ao irracionalismo, ao sticismo. A partir disso, basicamente, os empiristas se viram na condigao de afirmar que é preciso admitir que as leis cientificas nao podem ‘adas, que no sao certas, embora certas, as leis cientificas sao provaveis, e, na prdtica, senao em teoria, isso nao se distingue de certeza. Em vez de continuarem a lutar com um problema légico aparentemente insohivel, preferem prosseguir com a atividade cientifica e alcancar maiores resultados. Por outro lado, Popper sustenta que nao se deve abandonar de forma leviana as teorias, porque isso representaria a adogao de atitudes excessivamente frageis para o desenvolvimento da ciéncia e da pesquisa. O método indutivo possibilita 0 desenvolvimento de enunciados gerais sobre as observacGes acumuladas de casos especificos ou proposigdes que pos- sam ter validades universai: Exemplos: O Homem é animal; O Homem €¢ racional; Logo, o homem é animal racional (validade universal). O método indutivo é considerado como o elemento distintivo da ciéncia. O seu emprego é considerado camaforma ou critério de demarcagao entre aquilo que é cientifico e aquilo que nao é cientifico- Enunciados cientificos — Tema — sao 05 unicos que nos levam ao conhe- cimento seguro, preciso e certo, porque possuem fundamentos de certeza, ver- dade, razdo e evidéncia_observacional e experimer Para Popper, a inducao é um conceito dispensdvel. Nao existe. Nao ha indugao. A observacao ¢ sempre sclétiva. A teoria popperiana é sem dtivida uma cxplanacao da Togica ¢ sla historia la Togica e da historia da ciéncia e nado uma visao da psicologia que cultiva a ciéncia. A teoria de Popper é 0 fundamento racional da acao dos cientistas, é uma ia que explica ¢ orienta de que forma se desenvolve 0 conhecimento humano. © conhecimento € de cardter provi Absolutamente nada da ciéncia esta permanentemente estabelecido, coisa Aalguma nela ¢ absolutamente inalteravel.* * POPPER, K. Op. cit., p. 308. ‘TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 61 Indiscutivelmente a ciéncia esta em constante modificagéo e esta modifi- cacao nao ocorre por simples acréscimo de novas certezas. Nao se deve perder de vista 0 aspecto de que a experiéncia pode endossar a qualquer momento que aqueles conhecimentos sao erréneos e precisam de revisao. Q ponto de partida da induc&o nao sao os principios, como na deducdo, mas a observacao dos fatos € dos fendmenos, da realidade objetiva. Seu ponto de chegada € 0 estabelecimento de leis ou regularidades que regem os fatos ou fenédmenos. Apesar das grandes discussdes levantadas no século passado sobre 0 as- sunto, a induc&o é 0 método cientifico por exceléncia e, por isso mesmo, é 0 método fundamental das ciéncias naturais e sociais. Na realidade, a indugao nao é um raciocinio tinico: ela compreende um. conjunto de procedimentos, uns empiricos, outros ldgicos e outros intuitivos. 5.2.1 Indug¢ao Formal A lei que rege 0 ponto de chegada expressa realmente a totalidade dos fendmenos observados. Exemplo: A Terra, Marte, Vénus e Jtipiter sio desprovidos de luz propria Ora, a Terra, Marte, Vénus e Jtipiter sao todos planetas. Logo, todas os planetas so desprovidos de luz propria. Essa lei refere-se a todos os planetas do nosso sistema solar. - A indugio formal pode atégraoaumentar 0 CONRCCMTENG, mas substitui or um termo geral uma série de termos singulares. 5.2.2 Indugao Cientifica ou Amplificadora Conseqiientemente, a Lei nao exprime a totalidade, entretanto expressa uma parte dos fenémenos. Conclui de um ou mais fatos particulares para todos os fatos semelhantes, presentes e futuros. Exemplo: Este ima atrai o ferro. Ora, aquele ima atrai o ferro. Logo, em toda parte e sempre, o ima atrairé o ferro. Outro exemplo. Premissa: Descartes morreu, Rui Barbosa morreu, Carlos Gomes morreu. Ora, Descartes, Rui Barbosa e Carlos Gomes e os demais eram homens. Logo, todos os homens sio mortais. 62 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Nesta linha de raciocinio fica claro que nao foram observados todos os casos ou fatos dos homens terem morrido, mas um certo numero deles, con- siderados suficientes por estabelecerem a relacao constante e necessdria repre- sentada pela lei. Certamente a indugio cientffica 6 imperfeita e portanto passivel de erro, mas 6a linha de raciocinio mais empregada nas ciéncias, pois na pratica nem sempre 6 possivel observar todos os fatos ou fendmenos. (trabalha d ofse" Ao de un principle E we Tido come yerdadtire. ~ 5:3 METODO DEDUTIVO ¢ gySiva wm er! Ao contrario da indugao, o método dedutivo procura transformar enun: ciados complexos, universais, em pa s, A conclusao sempre resultaré éim uma ou varias premissas, fundamentando-se no raciocinio dedutivo. O método dedutivo também pode se realizar nas operacées légicas, nas quais os raciocinios simples podem chegar a enunciados complexos. Fazem parte das ciéncias dedutivas a Jégica e a matemitica. ‘A dedugao como forma de raciocinio légico tem como ponto de partida um principio tido como verdadeiro a priori. O seu objetivo é a tese ou conclusao, ue é [ue se_pretende provar. ‘A deducao apresenta duas formas: analitica, formal ou silogistica. E uti- lizada na ldgica formal. Trata-se de um raciocinio puramente formal, no qual aconclusao nao fornece um conhecimento novo, ao contrario da inducao; isto porque a dedugio ja est implicita nos principios. Sua forma mals importante é 0 silogismo,* raciocinio composto de trés juizos ou proposicées: duas pre- missas - mafore menor ~ ¢ uma conclusao. Exemplos de silogismo ou dedugao formal: * Todos os homens sao mortais - premissa maior; * Plato 6 homem - premissa menor; * Logo;-Platao é mortal — conclusio. No campo da matemitica, a conclusdo 6 uma proposicéo nova que se constréi com a ajuda de principios. Silogismo: dedugao formal tal que, postas duas proposigdes, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicadas, chamadas concluséo. Novo Dicionério Aurélio, 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. Premissa: a que ¢ mandada primeiramente. Cada uma das duas primeiras proposigdes de um silogismo que serve de base a conclusao. Fato ou principio que serve de base a um raciocinio. Novo Dicionério Aurdlio, 2. ed, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 63 Exemplo: Num teorema de geometria a conclusao nao esta contida nos princfpios (na hipétese), mas na sua demonstracao. Consiste em construi-la com a hipétese. eran Exemplo: Constréi-se a soma dos Angulos de um poligono com as dos triangulos, nas quais se pode decompor o poligono e cujo numero é 6 de seus lados, menos dois. Na Algebra constréi-se a nova forma de expressao algébrica, partindo da primeira e assim por diante. ‘A deduco e a inducao, tal como sintese e andlise, generalizagées e abs- trades, no so métodos isolados de raciocinio e pesquisa. Eles se completam na realidade e s6 so separados para efeito de estudo e facilidades didaticas. so estabelecida pela indu rvir de princi; i maior ~ para a dedugio, mas a conclusao da deducao pode também servir de principio da inducao seguinte — premissa menor -, e assim sucessivamente. Exemplo: O cobre conduz eletricidade, 0 ferro e 0 zinco também. O cobre, o ferro, 0 zinco etc. sao metais. Logo, todos os metais conduzem eletricidade. A conclusao deste raciocinio indutivo serve de premissa maior para o raciocinio dedutivo. Todos os metais conduzem eletricidade. Ora, a prata é metal Logo, a prata conduz eletricidade. Deve-se observar que quando uma das premissas nao for verdadeira, a conclusdo também nao 0 sera. Exemplo: Todos os homens sao honestos. Ora, os ladrées séo homens. Logo, os ladrdes sao honestos. 5.4 METODO CARTESIANO: 7% ,caviés Tomando como ponto de partida a universalidade da razo, da qual todos os homens participam, Descartes identifica no intelecto, em sua pureza, duas faculdades essenciais: a intui¢ao, pela qual podemos ter imediatamente pre- sentes no espirito idéias claras, perfeitamente determinadas e distintas, simples \ 64 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA e irredutiveis; e a deducao, pela qual podemos descobrir conjuntos de verdades ordenados racionalmente. © método constitui-se de quatro regras de utilizagao da intuicéo e da deducio, para que possamos estender a certeza matematica ao conjunto do saber. T. Pela regra da evidéncia, devemos evitar todas as prevengdes ~ conjuntos de preconceitos — e precipitagdes, para acolher apenas idéias claras e distintas. 2. Pela regra da andlise, devemos dividir nossos problemas no maior ntimero possivel de partes, para melhor resolvé-los. 3. Pela regra da sintese, devemos distinguir entre as verdades mais simples, independentes e absolutas, das ver- dades mais complexas, condicionadas e relativas. Essa regra pressupde a or- denacao das partes segundo o critério da relagao constante entre elas, de modo que possam ser comparadas com base na mesma unidade de medida. 4. Pela regra de enumeragao, devemos selecionar exclusivamente o que for necessario e suficiente paga a solucéo de um problema, evitando as omissdes.* Descobrir, medir, analisar, otimizar, decidir, observar os resultados e os fendmenos e comegar o ciclo novamente séo maneiras pelas quais a tomada de decisao nas pesquisas deveriam ser executadas através de métodos cientificos. Certamente que a intuigio desempenha papel importantissimo nas aces humanas e nos pensamentos, como Descartes enfatiza no seu Regulae ad direc- tionem ingenii. Nesse trabalho, ele cria regras para auxiliar a reflexdo inventiva; ela apareceria entre as primeiras pesquisas de Descartes. Muito rica em dados, sua obra lida com légica e metodologia possibilita a introdugio da heuristica, que é um conjunto de regras na reflexao inventiva. —— Pela observagio, nossa atitude na agao nao pode ser meramente Logica, pois deve ser também reconhecido que a emogo é uma influéncia positiva e de grande importancia para o pesquisador, porque nos tira do automatismo e da rotina. Descartes disse, e depois dele Leibniz € Bolzano, que a atitude heuristica é um encontro da intuigao inventiva eda légica. ‘As normas da heuristica, de acordo com Déscartes, sio também as que parecem ser importantes na conduta da pesquisa e na criatividade. Mesmo assim, talento e experiéncia nao sao tudo; nds necessitamos de um desejo intenso, de uma vontade extraordindria e de uma perseveranca muito grande para chegar & verdade. O pesquisador no nivel de pés-graduagao e o cientista encontram isso no método cientifico. Acima de tudo, existe a necessidade de, na nossa constituicao mental, haver um espirito comprometido coma verdade, para que as discusses possam ser baseadas em modelos cada vez mais préximos da realidade; talvez até incompletos porque séo modelos e nao objetos, mas solidamente construidos em bases légicas e cientificas. * DESCARTES, René. Discours sur la méthode, 2. ed, Paris: Guéroult, 1925. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 65 5.5 OUTROS METODOS E SUAS APLICAGOES Método Breve Descrigio Aplicagao direta__Partindo do fato de que a teoria de uma teoria. __matemitica ou racional abstrata, . totalmente enunciavel, existe, ela 6 aplicada aos problemas reais considerados, - M&om Woot eric Método dezever Da critica de hipéteses basicas ou hipétese seus desenvolvimentos, de hipoteses mais aceitiveis. Método ciiticg ou Montar um novo sistema de dialético. hipsteses partinde da destruigio dgsistema anterior “Método da Supde-se que exista uma antiga teoria ou organizagao. A renovagao consiste em modificé-las, levando em nsideracio novos fatos novos métodgs, mas sem alterar © objetivo da acéo. Exemplo e Aplicagio isse € 0 método dos modelos mateméticos usados por fisicos ou economistas. E uma mecanizacdo verdadeira que nos possibilita passar da teoria a0 Somes passe Dos efeitos de uma organizacao ou de uma maquina montada de acordo com certos principios, construgao de um sistema mais Goente. Intervengo num trabalho de pesquisa ou classificagao de um dissidente efetivo que obtém sucesso na modificagaio da tendéncia da pesquisa, ou a escolha de uma classificagao diferente. Um dos métodos praticos mais usados em pesquisa e organizagao. Na fisica, rever a teoria da condutividade & luz da cigncia atémica. Introduzir cartées perfurados numa firma sem mudar seus principios da contabilidade. Método da Conceitos sio tirados de um Tirar o concdito de um estado fransferéncia dos campo especifico, g uma feitativa transiente da fisica e tentar usé-lo conceitos. Tifa para transferi-los ayn no estudo de certos problemas de FELONS Y\ gt yang » administragao de empresas. Método da Um fenémeno é examinado com —_Analogia entre certos problemas transferéncia por as consideragbes e do ponto de de fusio na fisica e fluxo num. analogia. vista de um fenémeno diferente. problema de trafego. Analogia entre a mortalidade de células vivas e 0 desgaste do equipamento, Método da Certas limitacdes so impostas, _Isso representa o estabelecimento prolongacao. ara que el r de indugao na raza, como & ‘Sxcedidas, levando a novas Timitagées, e assim por diante. freqiientemente feito em matematica. 66 Método Breve Descrigao fenomenolégico. Método teratolégico. Método da dicotomia. SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Defendido pelo filésofo Husserl, consiste em isolar num fendmeno influéncias para estuda-lo e usé-lo, embora suas ligagoes abandonadas possam, mais tarde, ser levadas em consideracao. Consiste em formular hipéteses Km, dos limites normais da Tacionalidade, e entao imaginar seu efeito num modelo dado. Defrontando determinado problema, nos perguntamos uma série de questdes que podem ser respondidas com um sim ou nao. Exemplo e Aplicagio de um liquido pelo uso de corantes, Considerar ‘ium problema de administracdo valores extremos de certos parametros, para encontrar um objetivo razodvel Esse ¢ 0 procedimento classico na matemsticd para muitas demonstragées. Um elemento no problema é definir como processar, ou nao, certas caracteristicas ~ escolha entre varios tipos de investimento através de sucessivas dicotomias. Método de Método universal que permite 0 Tabela Mendeleev. matrizes de estudo racionalizado do campo _Interagdes econémicas ou descoberta. das possibilidades. Um quadro _sociologicas. Problemas de ou matriz € feito dando as informagéo em empresas reagies das caracteristicas Analise fatorial tudadas em relagdo umas com as outras. Pode ser generalizado em hipercubos ao se procurar as reagoes das caracteristicas quando m é maior do que 3 Método Determinagio de grupos de Pesquisa de inovagao tecnolégica. morfoldgico. elementos que podem ser parte Grande sucesso na pesquisa de um conceito morfolégico, ou espacial. Astronomia, de uma maquina. Método Ha uma correlagéo negativa entre Pesquisa de novos processos de “brainstorming”. a criatividade e a mente critica, _venda e publicidade. Estética Em trabalho de equipe, qualquer critica & proibida, e sugestées aos mais diferentes possiveis so encorajadas. industrial. ee —— TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA, 67 5.6 METODO DIALETICO Do grego dialektos, que significa debate, forma de discutir e debater. A dialética possui duas bases: a pré-socratica, que apareceu na Grécia, como sendo um método de pesquisa e busca da verdade por meio da formulacao adequada_de perguntas e respostas, até atingir o ponto critico do que é falso © do que é verdadeiro. Sécrates foi o primeiro articulador dessa arte. Uma arte que recebeu an- teriormente o titulo de mariéutica, que em grego significa parto de idéias. Uma homenagem a sua mae que era parteira. Sdcrates com 0 método dedutivo conseguiu extrair de um escravo anal- fabeto a demonstracaio nao matemitica, mas dialética, do teorema de Pitdgoras. O quadrado da hipotenusa ¢ igual 4 soma do quadrado dos catetos. A dialética é um debate de astticia, onde se procura derrubar os argumentos dos adversarios, muito empregado na Grécia antiga. E um processo de comu- nicagao que prende muito a atencéo das pessoas em virtude da habilidade dos protagonistas. O repente utilizado pelos poetas de literatura de cordel do Nordeste e pelos repentistas no interior do estado de Sao Paulo, por ocasiao da Festa do Divino, se assemelha na forma e na graciosidade a dialética, embora 08 repentistas utilizem uma viola para apresentar os seus trabalhos, coisa que shdo acontecia com os gregos. + Fra um método de pesquisa em busca da verdade, que consistia na for- mulagio de perguntas e respostas para trazer 4 tona todas as incongruéncias das concepgies vulgares ou falsas. A primeira pergunta a ser desenvolvida, por meio desse método, é a definicdo do tema do debate ~ Tese - obtida pela resposta. Fazia-se nova per- gunta a base do contetido e da anillise desta — Antitese -, e assim por diante, até se chegar a verdade. Socrates utilizava a forga do seu argumento e, por ser um grande co- municador, tinha facilidade para usar este método para -confundir os seus adversarios. Apés algumas perguntas coerentemente formuladas, ele obtinha a confisséo de ignorancia do interlocutor ou o confundia, mostrando a con- tradicao em que tinha cafdo. E um método que funciona bastante na magistratura e nas investigac6es policiais. Nos escritos de Aristételes, encontra-se Zendo de Eléia como sendo o iniciador da dialética, que, por sua vez, abriu campo para a légica. A dialética contemporanea, que tem _o seu desenvolvimento com He- _sel,- 1770-1831, acabou proporcionando a segunda fase dessa linha dé raciocinio. - Enquanto o empirismo considera os nossos sentidos — a experiéncia - como a base, a fonte do conhecimento, o racionalismo considera a raz4o como sendo a fonte do conhecimento e 0 intuicionismo como sendo a fonte do 68 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA conhecimento a intuigao{ para saisralismo dialéticda verdade estd na sintese das _trés doutrinas: Os sentidos, a razéo ¢ a intuigao sao os elementos que tomam parte na formacao do conhecimento. Na nossa atividade pratica ‘do dia-a-dia, obtemos, por meio dos nossos senfidos, imagens sensiveis dos objetos concretos. Nesses mesmos objetos en- contram-se implicitas as informagGes acerca deles — ocultas ou nao ~, sobre suas qualidades. As informagées e as qualidades sao extraidas por obra da nossa razéio e da intuigao, pelo entendimento ativo ou pelo intelecto. Ogiaterralismo dialético}stabeleceu que o conhecimento nao é um reflexo simples, passivo, inerte da realidade, mas um processo dialético complexo, regido por leis. Uegel recoloca a idéia do pensador grego Herdclito, que demonstrou qué no universo tudo é movimento e transformagao ¢ nada permanece como é. O quimico francés Lavoisier também afirmou quase isso: Na natureza nada se cria, tudo se transforma. Siq_as macs spiny altes O universo é a idéia materializada antes de qualquer coisa,ou situagao. Teve-se 0 espirito qué pensou o universo, dando-lhe freadadey Tanto o/espirito como o universo encontram-se em movimento dialéticoY emborg nag sejam as transformagoes do espirito que determinam a tansfor- ‘macao da materia. Uma pessoa qualquer tem uma idéia, concretiza-a e é essa idéia materia- lizada ou concretizada que cria transformagées na matéria. Entretanto, para Marx as cosas ¢ que se transformam c refletem as suas modificagSes em nossa mente, ciando as idéias. Marx concorda com a idéia de movimento do universo no qual se acham as coisas, os fatos-e os pensamentos ede que nao sao as transformagées das idéias que determinam as transformagdes nas coisas. Marx critica os fildsofos por se preocuparem em interpretar 0 mundo de formas diferentes em vez de se preocuparem em transformé-lo.** * HEGEL, G. Friedrich. Fenontenologia do espirito. Prof. da Universidade de Heidelberg Berlim, Alemanha, de grande talento pedagégico. Influenciou todos os seus discipulos das universidades alemas. Na Fengmenologia, vamos encontrar uma das obras mais im- portantes da literatura filoséfica “Uma influéncia da alma que se eleva ao espirito por intermédio da consciéncia”, 1770-1831. ‘+ MARX, Kail. Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie. Artigo publicado em 1844 sobre a critica da filosofia do direito de Hegel, primeiro esboco de interpretacio materialista dda dialética hegeliana. Economista, fildsofo e socialista alemao, estucou na Universidade de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, 1818-1883. deep) 17% = p3i( Hiab 4 omg Mere Mosca), teen | | L TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 69 5.6.1 Leis da Dialética a) Cada coisa é um processo, isto é, uma marcha, um _tornar-se. Se se examina uma péra, vé-se que é uma sintese momentanea deste pro- cesso. Antes de ser péra foi flor e, posteriormente, poder ser uma arvore. Conclui-se que esta, no momento, submetida a uma lei interna de movimento. Dessa forma, as coisas nao sao consideradas como realizadas, mas, isto sim, em proceso de realizagao. As coisas se modificam e se transformam em virtude das leis internas, do seu . autodinamismo e das contradigoes que encerram. > Jaat tdiave carla b) _ Existe um encadeamento dos processos. A flor se modifica em péra, esta em arvore e a arvore em htimus, este em novos processos vitais, quimicos ou fisicos, meio ambiente etc. O mundo € 0 conjunto de, todos os processos, onde tudo sofre uma transformagao concentrada * e progressiva. Este encadeamento dos processos nao € circular mh = ime Basta ver que uma péra gera uma arvore, mas uma arvore Bera milhares de péras que nao sao integralmente idénticas & ancestral. c) Nomovimento dialético, as coisas trazem em si as suas contradigées. Sao levadas a transformar-se no seu contrario. O vivo;por exemplo, caminha para’a morte. Conclui-se, de acordo com Hegel;-que uma coisa é a0 mesmo tempo ela propria — Tese — e uma contraria — Antitese. A coisa no momento é simplesmente uma Sintese. No mé todo dialético temos duas divisdes opostas: a que leva 0 ser para a sua prépria construcao e outra que o leva para a destruicéo desta mesma construcao, para ser precisamente 0 que nao é. d) Em varias oportunidades, um proceso que se orienta em ritmo de repente muda qualitativamente. Considera-se qua- litativo quando ocorre a_mudanca na naturezp. Se quisermos uma certa quantidade de Agua, sua temperatura vai,subindo quantitati- vamente 10, 15, 20... 90 graus centigrados; aos 10) graus, entretanto, ocorre uma mudanga brusca de estado fisico. Ela entra em ponto de ebuligdo. Trata-se de uma mudanga qualitativa. Ela deixa o estado liquido e passa para 0 gasoso, evaporacao. ' Por isso se vé que no encadeamento dos processos dialéticos as transfor- mages acontecem quantitativa e qualitativamente. V7__—ioeereee'mnms—’ A vide lwace go merle ¢ amos bnew avida. % e eqpiral, vo/farere> de reef PITTHE rerttrn~ay . Atos 7 CA. COmne wae yoo pl ate edilo, nee man. Jon pie corrideradn. ” ie oe

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