You are on page 1of 11
MOREIRA JR. =a O uso de doxazosina para tratamento de pacientes yertensos portadores de hiperplasia prostatica benigna Doxazosin for treatment of hypertensive patients with benign prostatic hyperplasia Ulisses Salgado Rodrigues Expedite em Geritria pele Associngbo MédceBrasiire Jo%o H. Pous Hedico urolgista © andrologist,Diretor do Instituto de Urologia de Guanihos.Diretor da Unimed de Guarulics. Herb tla do Sociedade restora de Urlosia: Membre do SIR Assocacio Internacional para Estudos da Impoténca. Nembro da SLAT Associ latino Americana para Estudos da Impotincia, Membr ta ASI hssocecko Bresiere pare Estudos “as Inadequabes Serva Geraldo E. Faria Diretor do Intute de Urolegia@ eroogia de Rio Claro - SP. Edgar Nunes Moraes ‘Mestre e doutor em Medicina (UFMG). Professor adjunto do Departamento de Clinica Médica da PMG. Marco Anténio Q.C. Fontes ‘Mestre e doutor em Urologia pele Escola Paulista de Medicina. Chefe da Clinica de Urologia do Hospital Naval Marcio Dias - Rio de Janel. Edson D. Moreira [Médico infectologeta e doutor em Epidemiologa pela Universidade de Columbia, NY. ‘Pesquisador titular de Fundagso Oswaldo Cru? ~ Bahia Enderego para correspondéaca: Uiieses Salgado Rodngues Hospital Municipal Rocha Maia ‘Rua General Severiano, 92 CEP 2290-040 - Rio de Janeiro RI - Brasil Tel: (24) 2521 6866 E-mail: usalgado@uol.com.br * Cerduran - Laboratérios Pizer Lida, ‘Recebido para publicaco em 07/2007. ‘Acsito em 08/2007. © Copyright Moreira J. Eitora. Todos os direitos reservados. Unitermos: amlodipine, ant-hipertensives, alfa-antagonis estudos muticéntrees,hiperplasie prosttica,hipertenséo. Unterms: adrenergic alpha-antagoniste, amlodipine, antihypertensive agents, doxazosin, hypertension, multicenter studies, prostatic hyperplasia, adranérgicos, doxazosina, ‘Sumario Introdugo: A coexisténcia de hiperplasia prostética benigna (HPB) e hipertenséo arterial sistémica (HAS) ocorre em quase 25% dos homens com idade superior a 60 anos. O tratamento farmacolégico da HPB com bloqueadores a-1-adrenérgicos pode ser benéfico para ambas as patologias. Este estudo multicéntrico teve por objetivo primério avaliar 2 eficdcia e seguranca de doxazosina sobre os sintomas prostdticos em pacientes hipertensos portadores de HPB. O objetivo secundério foi a avaliacdo de seus efeitos sobre a presséo arterial. Pacientes e métodos: Apés um periodo de duas semanas de tratamento com placebo, 82 pacientes portadores de HAS sem tratamento farmacolégico (presséo arterial [PA] diastélica 95-110 mmHg) e com Escore Internacional de Sintomas Prostaticos (I-PSS) > 12 foram tratados por 10 semanas com doses tituladas de doxazosina, que foi depois mantida por mais 4 semanas (dose otimizada). Pacientes que no apresentassem controle da PA (PA diastélica < 90 mmHg) com a maxima dose titulada de doxazosina deveriam receber amlodipino 5mg/dia. Os parémetros primérios de eficdcia foram as mudancas no I-PSS. Os parémetros secundérios foram as variacdes da PA diastdlica e sistélica na posiclo sentada e da frequéncia cardiaca (FC), medida pelo pulso radial. A’seguranca foi avaliada pela incidéncia de eventos adversos € de hipotensdo postural. Resultados: O I-PSS diminuiu, significativamente, de 20,3 + 4,7 para 7,4 + 5,4 (p<0,001), apés 14 semanas de tratamento (reducéo média de 36,5%). Houve redugdo significativa (P<0,001) da PA sistélica (de 155,0 + 14,3 para 129,9 + 14,3 mmHg) e diastélica (de 100,4 + 4,5 para 81,5 + 8,2 mmig). Também houve diminuicdo da FC ao final do estudo (de 76,0 £ 8,8 para 72,8 + 7,7 p=0,03). Apenas trés pacientes receberam amlodipino. Eventos adversos relacionados 20 medicamento foram registrados em 16 pacientes (19,5%), mas nenhum deles fol grave ou levou & interrupcao do tratamento. Nao ocorreu aumento da incidéncia de hipotensao postural durante o estudo. Concluséo: A doxazosina, titulada de acordo com 0 protocolo deste estudo, é eficaz e segura para o tratamento de pacientes hipertensos com HPB sintomidtica, reduzindo os sintomas prostéticos e os niveis de PA. Sumary Introduction: Almost 25% of men older than 60 years have systemic arterial hypertension and benign prostatic hyperplasia (BPH) Pharmacological treatment of BPH with a-1-adrenergic blockers can be effective for both conditions. This multicentric clinical trial aimed primarily to evaluate the efficacy and safety of doxazosin on prostatic symptoms in hypertensive patients with BPH. The secondary objective was to assess doxazosin effects on blood pressure. Patients and methods: After a 2-week washout period with placebo, 82 hypertensive patients without pharmacological treatment (diastolic blood pressure [BP] 95-110 mmHg) and with an International Prostatic Symptoms Score (I-PSS) 2 12 were treated for 10 weeks with titrated escalating doses of doxazosin, which was sustained for other 4 weeks (optimized dose). Those who did not achieve BP control (diastolic BP < 90 mmHg) with the maximum titrated dose of doxazosin should receive amlodipine 5 mg/day. Primary efficacy parameter was I-PSS changes from baseline. Secondary efficacy parameters were systolic and diastolic BP changes from supine to orthostatic position, and also heart rate. Safety was evaluated by the incidence of adverse events and postural hypotension. Results: I-PSS diminished significantly from 20.3 + 4.7 to 7.4 + 5.4 (P < 0.001) after the 14-week treatment (mean reduction of 36.5%). Both systolic and diastolic BP were also significantly reduced (from 155.0 + 14.3 to 129.9 + 14.3 mmHg, and 100.4 + 4.5 to 81.5 + 8.2 mmHg, respectively; P < 0.001). Heart rate was reduced by the end of study, too (from 76.0 + 8.8 to 72.8 + 7.7; P = 0.03). Only 3 patients had to receive amlodipine. Adverse events related to doxazosin were seen in 16 patients (19.5%), but none of them were serious or caused the interruption of treatment. There was no increase in the incidence of postural hypotension during the study. Conclusion: Doxazosin titrated to the highest tolerable dose is efficacious and safe for treatment of prostatic symptoms in hypertensive patients with BPH, reducing both the I-PSS and BP levels Numeracéo de paginas na revista impressa: 374 a 378 RESUMO IntrodugSo: A coexisténcia de hiperplasia prostética benigna (HPB) € hipertens&o arterial sistémica (HAS) ocorre em quase 25% dos homens com idade superior a 60 anos. O tratamento farmacolégico da HPB com bloqueadores a-1-adrenérgicos pode ser benéfico para ambas as patologias. Este estudo multicéntrico teve por objetivo primario avaliar a eficécia e seguranca de doxazosina sobre os sintomas prostaticos em pacientes hipertensos portadores de HPB. O objetivo secundério foi a avaliacdo de seus efeitos sobre a presséo arterial. Pacientes e métodos: Apés um periodo de duas semanas de tratamento com placebo, 82 pacientes portadores de HAS sem tratamento farmacolégico (pressao arterial [PA] diastélica 95-110 mmHg) e com Escore Internacional de Sintomas Prostaticos (I-PSS) ? 12 foram tratados por 10 semanas com doses tituladas de doxazosina, que foi depois mantida por mais 4 semanas (dose otimizada). Pacientes que nao apresentassem controle da PA (PA diastélica < 90 mmHg) com a maxima dose titulada de doxazosina deveriam receber amlodipine Smg/dia. Os pardmetros primérios de eficdcia foram as mudancas no I-PSS. Os parémetros secundérios foram as variades da PA diastélica e sistélica na posic¢go sentada e da freqiiéndia cardiaca (FC), medida pelo pulso radial. A seguranca foi avaliada pela incid€ncia de eventos adversos e de hipotensdo postural. Resultados: O I-PSS diminuiu, significativamente, de 20,3 + 4,7 para 7,4 + 5,4 (p<0,001), apés 14’semanas de tratamento (reduco média de 36,5%). Houve reducSo significativa (P<0,001) da PA sistélica (de 155,0 + 14,3 para 129,9 + 14,3 mmHg) e diastdlica (de 100,4 + 4,5 para 81,5 + 8,2 mmHg). Também houve diminuic3o da FC ao final do estudo (de 76,0 + 8,8 para 72,8 + 7,7 p=0,03). Apenas trés pacientes receberam amlodipino. Eventos adversos relacionados ao medicamento foram registrados em 16 pacientes (19,5%), mas nenhum deles foi grave ou levou a interrup¢do do tratamento. Ndo ocorreu aumento da incidéncia de hipotensao postural durante 0 estudo. Conclusdo: A doxazosina, titulada de acordo com o protecolo deste estudo, é eficaz e segura para o tratamento de pacientes hipertensos com HPB sintomdtica, reduzindo os sintomas prostdticos e os niveis de PA. INTRODUCAO Ahiperplasia prostética benigna (HPB) é uma das patologias urolégicas de maior prevaléncia em homens com idade superior a 50 anos. Alteracies histolégicas de HPB esto presentes em mais de 60% dos homens na sexta década de vida e 40% dos homens com mais de 70 anos apresentam sintomatologia(1,2). Também nessa faixa etéria ocorre a maior prevaléncia da hipertensdo arterial sistmica (HAS) e a coexisténcia dessas duas doencas ocorre em quase 25% dos homens com idade superior a 60 anos(3). O envelhecimento da populacéo € 0 maior acesso aos métodos diagnésticos, inclusive no Brasil, certamente aumentaré a concomiténcia dessas duas patologias. Existem evidéncias de que a associago entre HPB e HAS seja mais do que simples coincidéncia. Alguns estudos mostram que HAS é a doenca que coexiste mais freqiientemente com _hiperplasia prostatica(4) e outros mostram uma possivel correlac3o entre sintomas e progresséo da HPB com a presenca de HAS(5). Além desses dados, fatores relacionados a sindrome —_metabilica, principalmente hiperinsulinemia, parecem estar associados tanto a fisiopatologia da HAS quanto 3 progressio da HPB(6). A sindrome da HPB, conhecida como prostatismo, é caracterizada por um conjunto de sintomas decorrentes da hiperplasia das glandulas periuretrais e do estroma, associado 3 hipertrofia das fibras musculares. O aumento do volume da glandula prostdtica acarreta constricgéo da luz uretral e obstrucéo @ passagem de urina, que, associadas a0 aumento da atividade dos receptores a-1-adrenérgicos, presentes nas fibras musculares hipertrofiadas, que se encontram no interior das glandulas da uretra prostética e do colo vesical, levam aos sintomas —_urindrios_-—sobstrutivos =e -—_—Ciritativos(7-9). Assim, 0 uso de bloqueadores a-1-adrenérgicos poderia_trazer beneficios em relacdo aos sintomas da HPB, diminuindo também os niveis de pressao arterial, em pacientes portadores de ambas as patologias(10). A doxazosina é 0 bloqueador a-1-adrenérgico melhor estudado no tratamento farmacolégico da HPB. Existe também grande quantidade de informacao a respeito de seu uso como farmaco anti- hipertensivo, tanto como monoterapia como parte de terapia com miltiplas drogas, com perfil de eficacia e efeitos colaterais bastante conhecidos(11). © objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de doxazosina, enquanto terapia para hipertensdo arterial, sobre os sintomas prostaticos em pacientes hipertensos portadores de HPB, tanto em monoterapia como em combinacio com amlodipino como segundo férmaco, em pacientes nao controlades com monoterapia. PACIENTES E METODOS Critérios de elegibilidade Os pacientes candidatos ao estudo eram homens com idade entre 45 e 80 anos, com diagnéstico de HPB e HAS léve a moderada sem tratamento. Foram incluidos os candidatos com Escore Internacional de Sintomas Prostaticos (I-PSS, do inglés International Prostate Symptom Score) 3 12 na visita de selecéo e que, durante duas semanas de tratamento com placebo, apresentassem hipertenséo, definida como a média de duas medidas de press&o arterial (PA) diastélica no intervalo entre 95 e 110 mmHg (sem nenhum medicamento anti-hipertensivo). Essas medidas deveriam ser documentadas em duas semanas consecutivas (semanas -2 e -1 ou semanas -1 e 0) durante a Fase I do estudo (ver a seguir). Foram excluidos candidatos que tivessem participado de qualquer outro estudo investigativo durante um més antecedendo este estudo; com diabetes mellitus mal ou n&o controlado; com HAS grave (PA diastélica > 110 mmig e PA sistélica > 180 mmHg); sob tratamento com anti- hipertensivos concomitante ou nas duas semanas anteriores a incluso; com disfungSo renal (creatinina superior a 1,2 mg/dL ou proteindria ou hematuria significativas) ou hepatica (enzimas hepdticas 3 50% acima do limite superior normal); com insuficiéncia cardiaca congestiva, doenca coronariana ou angina pectoris; com histérico de acidente vascular cerebral nos seis meses anteriores & inclusao; sob tratamento com drogas potencialmente vasoativas; com prostatite crénica ou infecco do trato urindrio atual; que tivessem sofrido reacao medicamentosa séria ou idiossincratica a bloqueadores a-adrenérgicos ou de canais de céicio diidropiridinicos; com intenco de doar sangue durante ou nas quatro semanas posteriores ao término do estudo; com histérico de alcoolismo ou abuso de drogas; com nivel sérico de PSA (antigeno prostético especifico) total acima de 4 ng/mL e/ou alteracdes ultra-sonogréficas sugestivas de cncer de préstata; com distirbios urolégicos nao relacionados diretamente 3 HPB que alterassem a capacidade de miccdo, incluindo disfuncéo neurogénica de bexiga, distdrbios neurolégicos, estenose uretral ou antecedente de radioterapia pélvica; sob uso de medicamentos que pudessem alterar os padrées de miccéo (androgénios, antiandrogénios, diuréticos, colinérgicos, anticolinérgicos, __" simpatomiméticos, anti- simpatomiméticos e anti-histaminicos); ou, finalmente, com problemas psicolégicos incapacitantes. Os pacientes somente foram incluidos no estudo apés assinarem o termo de consentimenta livre e esclarecido e © protocolo ter sido aprovado pelo Comité de Etica em Pesquisa de cada um dos 11 centros participantes. O estudo foi conduzido, segundo 08 principios éticos da Declaracgo de Helsinque, legislacées referentes 3 pesquisa clinica no Brasil e as normas de Boas Praticas de Pesquisa Clinica. Delineamento do estudo Os pacientes foram alocados em apenas um grupo de tratamento. O estudo foi constituido por trés fases: fase I (introducdo do placebo, visitas 1 e 2): durante essa fase todos os pacientes que preencheram os critérios de eligibilidade receberam placebo por periodo de duas semanas; fase II (eficdca, visitas 3, 4, 5 6): nessa fase, que durou um total de dez semanas, foi feita a titulacdo da dose de doxazosina (baseada nos niveis de PA) em até quatro semanas. Os pacientes iniciaram com a dose de 1 mg por uma semana, com aumentos da dose para 2 mg, 4 mg e 8 mg, até atingirem a meta de controle da PA ou até que eventos adversos impedissem aumento da dose. A meta de controle de PA consistia em reduggo da PA diastélica abaixo de 90 mmHg ou em, pelo menos, 10 mmHg abaixo da medida basal; e fase III (manutencSo, visitas 7 e 8): durante essa fase, que durou quatro semanas, 0s pacientes foram mantidos em sua dose otimizada de doxazosina determinada na fase II. Durante a fase de manutencao a dose de doxazosina poderia ser diminuida a critério dos investigadores caso ocorressem eventos adversos. Para aqueles pacientes em quem houvesse faiha em atingir a meta de controle de PA na visita 7, seria adicionado 0 amiodipino, 5 mg/dia. Em qualquer momento durante o estudo a dose de doxazosina poderia ser reduzida a critério dos investigadores, se ocorressem eventos adversos relacionados 20 medicamento. Na consulta inicial foram realizados: histéria médica, exame fisico completo com afericdéo de PA (posigdes ortostética e sentada) e do pulso arterial radial, além da aplicacao do questiondrio do escore I- PSS. Foram também solicitados exames laboratoriais de sangue (hemograma completo, niveis séricos. de sédio, _potéssio, transaminases, fosfatase alcalina, creatinina e PSA total) e urina I, eletrocardiograma (ECG) com 12 derivacées e ultra-sonografia de préstata. Na visita 2 foi feita a reavaliac3o de PA e pulso. Apés sete dias, na visita 3, os pacientes receberam doxazosina (1. mg) para ser tomada uma vez ao dia no desjejum. Ocorreram, entéo, mais duas consultas (visitas 4 € 5) a cada sete dias e outras trés (visitas 6, 7 ¢ 8) 2 cada quatro semanas. Em todas as visitas foram aferidos a PA e 0 pulso radial como na visita inicial e, exceto na quarta visita, foi aplicado 0 questiondrio do escore I-PSS. No dia do retorno a cada visita os pacientes n&o tomaram 0 medicamento passaram por uma avaliagdo 24 horas apés a Ultima dose de doxazosina. Na Ultima consulta os pacientes passaram pelos mesmos procedimentos da visita inicial, exceto pelo ECG, e responderam ao questionatio do escore I- PSS. Finalmente, foi feita a avaliaco final global depois de 16 semanas. Toda medicacao usada durante o estudo foi registrada na ficha clinica do paciente e a ades%o ao tratamento foi avaliada pela contabilizac3o do némero de comprimidos utilizados da droga de estudo. ‘Avaliagao de eficdcia e seguranca A avaliacéo priméria da eficdcia teraputica foi dada pela variacéo média do escore I-PSS nas diferentes visitas, enquanto que a avaliacdo secundéria foi realizada pela variacao da PA diastélica e sistdlica, na posiggo sentada, e da freqiiéncia cardiaca medida pelo pulso radial. Todos esses parémetros foram avaliados em funcéo do tempo. Ao longo do tratamento foram anotados todos os eventos adversos referidos pelos pacientes ou observados pelos investigadores, incluindo alteracées de exames subsididrios que resultaram em modificacso da dose da medicag3o do estudo ou sua interrupcéo, ou que ainda necessitaram de intervencdo ou avaliac3o quanto ao risco para o paciente, A andlise da seguranca e da tolerancia foi realizada segundo a frequéncia e a intensidade dos eventos adversos, assim como pelas diferencas de PA na posicgo sentada e ortostética (hipotensao postural). Andlise estatistica Os parametros de eficdcia e de seguranca foram avaliados por meio de andlise de variéncia para medidas repetidas e as comparacdes miltiplas foram feitas através do teste F, com base na estatistica de Wald. Os parémetros utilizados na andlise de seguranca e tolerancia foram todos avaliados por métodos descritivos para a freqiiéncia de eventos, segundo sua intensidade, € pela proporcéo de pacientes que apresentaram os eventos adversos. Todos os testes estatisticos foram bicaudados e os cdiculos estatisticos foram realizados utilizando-se 0 sistema SAS®, versdo 8.02. Valores de p<0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Tabela 1. Caractersticas dos pacientes 20 Inicio do estuco (N=82) Varivel NCA) [es Branca oo gra B utes % ees) eis w1s88 Intervlo san DuragiodaWPO(anos) Vecana 14 Iter 0-21 PR iat Gm a) r 353 Abreviaturas: HPB, hiperplasia prostética benigna; PA, pressao arterial. RESULTADOS Fluxo e caracteristicas dos pacientes De um total de 107 pacientes selecionados para o estudo, 82 preencheram os critérios de elegibilidade. Destes 82 pacientes, todos receberam placebo durante a fase I, todos receberam doxazosina e 61 completaram 0 estudo, sendo que um ngo concluiu todos os procedimentos da visita final, no entanto foi considerado na andlise de dados. Dos pacientes, 22 sairam do estudo antes da ultima visita. AS raz6es para interrupc&o do tratamento foram eventos adversos em quatro pacientes, 15 pacientes por violac3o de protocolo e trés pacientes por perda de seguimento; um paciente retirado do estudo por evento adverso jé tinha completado o tratamento. Ao final do estudo 32 pacientes (53,3%) estavam recebendo 2 mg de doxazosina, 17 (28,3%) recebendo 4 mg, e 12 (20,0%) 8 mg. Apenas trés pacientes receberam amiodipino por nao terem atingido a meta de controle de PA. Os dados demogrficos dos pacientes estudados se encontram na Tabela 1 Anilise de seguranca Dos 82 pacientes que receberam doxazosina, 16 pacientes (19,5%) tiveram pelo menos um evento ‘adverso. Os eventos mais frequentes foram cefaléia, em quatro pacientes; tontura, hipertensgo e boca seca, em dois pacientes cada. Outros eventos adversos, que ocorreram sempre em um caso, foram angina pectoris, edema facial, disfagia, nausea, vémito, ins6nia, sonoléncia, dispnéia, tosse, soluco e rinite. Apenas um paciente apresentou evento adverso grave, que incluiu disfagia, dispnéia e edema de face, causados por sindrome de ve cava superior secundéria a uma massa no mediastino anterior (neoplasia de pulmo), além de diabetes mellitus; tais eventos ndo foram considerados relacionados a droga em estudo. Os resultados de exames laboratoriais n3o mostraram alteragées significativas durante 0 estudo. As diferencas entre PA sistélica, PA diastdlica e freqiiéncia cardiaca, medidas nas posigdes sentada e ortostatica, ao inicio da fase I do estudo, foram de 3,6 + 7,9 mmHg, 3,3 + 4,9 mmHg e 2,3 + 3,2 batimentos por minuto. Ao término da fase III, essas_mesmas diferencas foram de 3,3 + 6,2 mmHg, 3,8 + 4,3 mm Hg e 2,7 + 3,1 batimentos por minuto, respectivamente. Ndo foram observadas, portanto, diferencas significativas entre PA sist6lica, PA diastdlica e freqléncia cardiaca aferidas nas posicbes sentada e ortostética, entre 0 inicio € 0 final do estudo, mostrando que a doxazosina no causou hipotensdo postural clinicamente ou estatisticamente significativa. Da mesma forma, n&o foram observadas diferencas significativas nessas mesmas medidas durante as outras visitas do estudo (dados nao mostrados). 8 2 5 Iss 0 ‘SEMANA Figura 1 - Variagao do Escore Internacional de Sintomas Prostéticos (I- PSS) ao longo do estudo. Os valores representam médias e erros- padrao do escore I-PSS obtidos nas visitas inicial, 3, 5, 6, 7 ¢ 8. As médias do I-PSS nas visitas 5, 6, 7 e 8 foram significativamente menores que na visita inicial (p < 0,001). Anali de eficdcia A varidvel de eficdcia priméria, 0 escore I-PSS durante as visitas do estudo, diminuiu significativamente de 19,0 + 5,2, ao inicio da fase II, para 7,4 + 5,4, ao término da fase II (p < 0,001). Também ocorreu diminuicdo significativa quando comparada a média do escore I-PSS no inicio da fase II com as médias nas demais visitas durante as fases I e m1 do, estudo (Figura 1). As varidveis de eficdcia secundarias foram: 0 comportamento da PA sistdlica e diastdlica, bem como da freqiiéncia cardiaca, ao longo do estudo. Houve reducdo significativa tanto da PA sistélica quanto da diastélica durante as visitas, inciando-se na visita 4 (p < 0,001). A freqééncia cardiaca a0 final do estudo se mostrou diminuida em relacdo & medida basal, com nivel de significancia p=0,03 (Tabela 2). DISCcUSSAO Bloqueadores a-L-adrenérgicos_ se tém —_consolidado como medicamentos de primeira linha no tratamento clinico da HPB, devido & sua eficdcia e perfil de seguranca(12,13). Dentro dessa categoria, a doxazosina é o farmaco melhor estudado e mais amplamente utilizado, tendo sido utilizada inclusive no estudo clinico Medical Therapy of Prostatic Symptoms (MTOPS), o maior estudo randomizado e placebo- controlado para tratamento de HPB(14). Assim, esté bem documentado que o tratamento da HPB numa fase em que os sintomas s80 moderados e leves (I-PSS 8 a 19) leva a melhora sintomatica e da qualidade de vida e também diminui a progressio da doenca para indicacdo de cirurgia, assim como a incidéncia de retencdo urindria que necessite de © sondagem —vesical © de —urgéncia(15). © uso de drogas anti-hipertensivas em monoterapia em dose otimizada, em média, reduz os niveis de PA em 10 mmHg e, freqiientemente, se faz necesséria a adicéo de uma segunda droga(16). Se considerarmos comorbidades como a HPB em individuos hipertensos, uma droga que apresentasse efeitos benéficos em relacdo ‘a ambas as patologias poderia ser de grande utilidade, como é 0 caso da doxazosina. Além disso, 2 doxazosina melhora o perfil lipidico de pacientes com sindrome metabélica(11,16), 0 que é benéfico para a diminuicao do risco cardiovascular de pacientes hipertensos. Tabela 2 - Valores das médias £ erro poco de PA sistlica, PA diastlica e frequéncia carcfaca obidas durante as fases le ll do estudo Visita PA-sist@ica (mmHg) PA clastlica (mmlig) Frequéncia cardiaca (opm) ‘ero padro ‘erro patho ert0 padrao t eos 43 004245 Tepe 8 z 5248 S243 TSst7 i 15152168 97252 B79 r 1583 164" Seer asta, 5 Wai 1182 wee Tae78 a 153 188 a r (aps warwr a tag 145° 815282 Abreviaturas: PA, presséo arterial. *p < 0,001 em comparacdo com a visita if No presente estudo, a doxazosina, titulada até a dose maxima tolerada para obtencao do controle da PA em pacientes hipertensos com HPB, mostrou-se eficaz na reducao dos sintomas de HPB, avaliada por meio da reducdo do I-PSS apés 0 periodo de tratamento de 14 semanas. Essa reducao (de 36,5%) foi comparavel aquela observada em outros estudos com doxazosina e outros bloqueadores a-1-adrenérgicos, nos quais se obervaram redugées de 30% a 45%(17,18). A melhora dos sintomas foi verificada apés duas semanas de tratamento e aumentou apés 6, 10 e 14 semanas, o que reflete 0 inicio de aco precoce da doxazosina, j4 na dose de 2 mg/dia. Também a meta de controle da PA diastélica foi observada precocemente, sendo que 80,1% dos pacientes necessitaram de doses entre 2 e 4 mg/dia. Apenas trés pacientes dessa amostra, portadora de HAS leve a moderada, necessitaram da adi¢do de uma segunda droga, no caso amlodipino 5 mg/dia para atingir esta meta. O efeito hemodindmico, considerado limitante ao uso de doses elevadas de doxazosina em pacientes hipertensos, ahipotenséo postural ndo foram verificados nos pacientes deste estudo, uma vez que as diferencas entre PA sistélica, PA diastélica e freqiéncia cardiaca nas posicées em ortosttica e sentada ndo foram significativas quando comparados os valores iniciais e aqueles obtidos durante as visitas. Além disso, n3o houve interrupcSo do tratamento -—motivada_ «= por —hipotensdo —_ postural Em um grande estudo clinico com 2.363 pacientes portadores de HPS e hipertensos, que jé vinham em uso de anti-hipertensivos e com razodvel controle da PA (PA diastdlica < 95 mmHg), a adicéo de doxazosina em doses escalonadas até 4 mg/dia reduziu a PA diastélica em 7,1 + 7,1 mmHg e o escore I-PSS em 52,7% em média, com incidéncia cumulativa de eventos adversos relacionados & doxazosina de apenas 4,4%(19).Esses dados séo semelhantes aos obtides no presente estudo, no qual fica evidente que a selecdo rigorosa de pacientes hipertensos com HPB, excluindo aqueles com maiores riscos de apresentarem reacées adversas a0 uso de a-1-bloqueadores (portadores de ICC, doenca coronéria, usudrios de medicamentos potencialmente vasoativos como —antidepressivos _tricicticos, hipertensos graves, pacientes com disfuncao hepatica e renal etc.), permite que 2 doxazosina seja eficaz, bem tolerada e segura para 0 tratamento de ambas as condigées. No presente estudo apenas 16 pacientes (19,51%) apresentaram eventos adversos, na sua maioria leves. Apenas um paciente apresentou evento adverso grave, porém relacionado a uma neoplasia pulmonar e no a doxazosina. Em concluséo, a doxazosina, titulada de acordo com 0 protocolo deste estudo, mostrou-se efetiva para reduzir os sintomas de HPB, medidos por meio do escore I-PSS, e também para controlar a PA em pacientes hipertensos, com bom perfil de seguranca e tolerabilidade. Bibliografia 1. Thorpe A., Neal D. Benign prostatic hyperplasia. Lancet 2003; 361:1359-67. 2. Kirby RS. The natural history of benign prostatic hyperplasia: what have we learned in the last decade? Urology 2000; 56(5 Suppl 1):3-6. 3. Flack JM. The effect of doxazosin on sexual function in patients with benign prostatic hyperplasia, hypertension, or both. Int J Clin Pract 2002; 56:527-30. 4, Prezioso D, Catuogno C, Galassi P, D'Andrea G, Castello G, Pirritano D. Life-style in patients with LUTS suggestive of BPH. Eur Urol 2001; 40 (Suppl 1):9-12. 5. Michel MC, Heemann U, Schumacher H, Mehiburger L, Goepel M. Association of hypertension with symptoms of benign prostatic hyperplasia. 1 Urol 2004; 172:1390-3. 6. Hammarsten J, Hogstedt B. Hyperinsulinemia as a risk factor for developing benign prostatic hyperplasia. Eur Urol 2001; 39:151-8. 7. Untergasser G, Madersbacher S, Berger P. Benign prostatic hyperplasia: age-related tissue-remodeling. Exp Gerontol 2005; 40:121-8. 8. Schwinn DA, Price DT, Narayan P. Alphai-Adrenoceptor subtype selectivity and lower urinary tract symptoms. Mayo Clin Proc 2004; 79:1423-34. 9. Roehrborn CG, Schwinn DA. Alphat-adrenergic receptors and their inhibitors in lower urinary tract symptoms and benign prostatic hyperplasia. 1 Urol 2004; 171:1029-35. 10. Martell N, Luque M; HT-BPH Group. Doxazosin added to single- drug therapy in hypertensive patients with benign prostatic hypertrophy. J Clin Hypertens (Greenwich) 2001; 3:218-23. 11. Black HR. Doxazosin 2s combination therapy for patients with stage 1 and stage 2 hypertension. J Cardiovasc Pharmacol 2003; 41:866-9. 12. Sarma AV, Jacobson DJ, McGree ME, Roberts RO, Lieber MM, Jacobsen S]. A population based study of incidence and treatment of benign prostatic hyperplasia among residents of Olmsted County, Minnesota: 1987 to 1997. J Urol 2005; 173:2048-53. 13. Milani S, Djavan B. Lower urinary tract symptoms suggestive of benign prostatic hyperplasia: latest_ update on alpha-adrenoceptor antagonists. BJU Int 2005; + 95 Suppl_—4:29-36. 14. McConnell JD, Roehrborn CG, Bautista OM, Andriole GL Jr, Dixon CM, Kusek JW, Lepor H, McVary KT, Nyberg LM Jr, Clarke HS, Crawford ED, Diokno A, Foley 3P, Foster HE, Jacobs SC, Kaplan SA, Kreder KJ, Lieber MM, Lucia MS, Miller GJ, Menon M, Milam DF, Ramsdell JW, Schenkman NS, Slawin KM, Smith JA; Medical Therapy of Prostatic Symptoms (MTOPS) Research Group. The long-term effect of doxazosin, finasteride, and combination therapy on the clinical progression of benign prostatic hyperplasia. N Engl ] Med 2003; 349:2387-98. 15. Djavan B, Waldert M, Ghawidel C, Marberger M. Benign prostatic hyperplasia progression and its impact on treatment. Curr Opin Urol 2004; 14:45-50, 16. Zusman R. Patients with uncontrolled hypertension or concomitant hypertension and benign prostatic hyperplasia. Clin Cardiol 2004; 27:63-9. 17. Chung BH, Hong SJ, Lee MS. Doxazosin for benign prostatic hyperplasia: an open-label, baseline-controlled study in Korean general practice. Int J Urol 2005; 12:159-65. 18. MacDonald R, Wilt TJ, Howe RW. Doxazosin for treating lower urinary tract symptoms compatible with benign prostatic obstruction: systematic review of efficacy and adverse effects. BJU Int 2004; 94:1263-70. 19. Martell N, Luque M; HT-BPH Group. Doxazosin added to single- drug therapy in hypertensive patients with benign prostatic hypertrophy. J Clin Hypertens 2001; 3:218-23.

You might also like