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13 | 26 fevereiro 2020

AS ARTES ENTRE AS LETRAS arte

Isabel Patim
prof. universitária

‘TONS DE SONS’
– a propósito de Música & Artes Plásticas
A exposição de pintura ‘TONS DE SONS’ de
AFONSO PINHÃO FERREIRA está patente
na Árvore - Cooperativa de Actividades Ar-
tísticas, no Porto, de 6 a 21 de março.

No conjunto de obras que Afonso Pinhão Fer-


reira expõe sob o título ‘Tons de Sons’, o dis-
curso musical embebe o objeto pictórico e
suas textualidades. As diversas linguagens
da estética musical são convocadas na poli-
fonia pincelada, numa libertação expressi-
va de sons que celebram, na nossa memória,
o sublime do universo sonoro, através de re-
presentações pictóricas de onde ressaltam
a emoção, a paixão, a euforia, o sofrimento, o
contentamento, e a libertação.
O médico escritor Armando Moreno, no Livro
A Medicina e a Música, refere ser “um lugar co-
mum a ideia de que a Música está diretamen-
te ligada às emoções”, acreditando mesmo ser
muito provável que “o som interfira com as
emoções de modo mais direto do que a pró-
pria luz. Por outro lado, enquanto que o ner-
vo ótico dispõe de fibras motoras, sensitivas
e mistas, o nervo acústico é exclusivamen- 5.ª Sinfonia de Beethoven
te sensitivo o que pode explicar, de certo mo-
do a sua maior aptidão para a emotividade.”1 20h, e conta com um programa que inclui um a arte seja qual for a circunstância”, pois tal se-
A multiplicidade de representações e discur- Porto d’Honra e um momento musical, bem ria “ocultar a memória humana, amputando-a
sos do universo musical e a polifonia da obra como uma breve conferência com o Artista, a da sua história”.2
pictórica de Pinhão Ferreira convidam-nos à Curadora, e o Maestro Henk van Twillert. A obra de Pinhão Ferreira em exibição reme-
sinestesia e a distintas e gratificantes perce- Amante das artes, e paralelamente ao seu cur- te-nos para uma das maiores realizações da
ções sensoriais, perante a objetivação estéti- riculum académico e clínico (Professor Cate- humanidade: a expressão de emoções atra-
ca de representações identitárias, individuais drático da Universidade do Porto e Médico vés da arte, da música, além da palavra. Como
ou coletivas. Dentista, especialista em Ortodontia), Afon- se as emoções sentidas pelos Artistas, pelo
O pintor Pinhão Ferreira retrata os músicos, os so Pinhão Ferreira dedica-se, desde 1992, autor e por todos os artistas convocados nas
instrumentos musicais, a ato musical, o cor- à pintura e à escultura. Na pintura tem da- telas, codificadas através da cor, sombra, for-
po musical, a música corporal. O gesto, a pos- do preferência ao retrato, tendo até ao mo- ma, harmonia, pudessem ser descodificadas
tura e a expressão das figuras retratadas ma- mento executado mais de 300 trabalhos e experienciadas por um observador ouvinte,
terializam o corpo de sonoridades. Os rostos, que podem ser visitados em linha em <http:// agora, também leitor deste texto.
mãos e braços conferem identidades, indivi- apinhaoferreira,blogspot.com> e em <http:// Neste convite a pintar a música supero-me co-
duais ou coletivas, aos retratos que nos reme- olhadelasnaoleadelas,blogspot.com>. Con- mo espectadora ouvinte, através da arte do
tem para intérpretes e sonoridades familiares, tando já com a organização e curadoria de Autor, porque a escuto, a sinto, e a vivo. Fico
como Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, mais de 20 exposições, desde a fundação em com Beethoven, com a sinfonia do destino,
Mariza, ou os Três Tenores. Com a pluralidade 2012, é Diretor da Galeria de Arte Ortopóvoa, neste sentir em que só a alma sente corpo.
de discursos musicais coexistem representa- cuja missão é divulgar obras de arte, poden-
ções de atos de materialização, com o coro ou do ser visitada “tanto pelos utentes da clínica
a orquestra, os cantares do Minho ou do Alen- como por qualquer apreciador de artes plás-
tejo, o violino ou o violoncelo, o pianista ou os ticas”. < https://www.ortopovoa.pt/galeria-de- NOTA
1 Moreno, Armando. (2012)
trompetistas. -arte/ >
A Medicina e a Música. Lisboa, Medilivro
A exposição de mais de duas dezenas de O Artista acredita que “sendo incumbência 2 Ferreira, Afonso Pinhão. (2018).
obras na Cooperativa Árvore, com a Curado- marcante a arte promover o desassossego e “Perigoso é... Calar a Arte”. In: Rita,
ria de Isabel Ponce de Leão e José Rosinhas, alentar o debate através da exposição trans- A. & Ponce de Leão, I. (coord.). Perigoso é...
inaugura no dia 6 de março, entre as 18h e as formativa da realidade, não seja possível calar Edições Esgotadas, pp. 11-18.

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