You are on page 1of 34
SOAVENTURA DE SOUSA SANTOS Prof, Assocado da Faculdade de Economia de Coimbra INTRODUCAO A SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAGAO DA JUSTIGA* Entra outras razces, 0 aumento um padréo expeciica ae orgenie ‘iamatco dos procesion sar cor Glo profesional» eran re Soquinciee gua prodcaw nos tibu. Sociagade. ca molilesIneancias ‘eaia pelo estvdo de adminievaeao 93 tribunais na resclugdo dos 6 Investigacto, ais ousgualdaon’ no Sviim do mio a novtaiaege oe Fadunaieconeediaos como subs tema’ do Sistome polten slew a areas om Parag A ' sociologia do direito s6 se constitui em ciéncia Condigées social, na acepeao contemporanea do termo, isto é, em ramo socials @ ‘especializado da sociologia geral, depois da segunda guerra tedricas da mundial. Foi entao que, mediante o uso de técnicas e métodos Sociologia dos de investigagao empirica e mediante a teorizagéo propria feita tribunais ‘sobre 0s resultados dessa investigacdo, a sociologia do direito verdadeiramente construiu sobre 0 direito um objecto tedrico especifico, autonomo, quer em relagéo a dogmatica polltic ‘quer em relacdo a filosotia do dirsito. No entanto, antes deste Periodo foi grande e rica a produgao cientitica orientada por uma perspectiva socioldgica do direito © a tal ponto que a sociologia do dirsito 6, som duvida, de todos os ramos da sociologia aquele em que o peso dos precursores, das suas orientagoes tobricas, das suas preferéncias do investigagao, ddas suas criagdes conceituais, mais fortemente se tem feito ‘sentir. © que no surpreende se tivermos em conta aue, a0 * Ese abaiho (0 niclaimente apresontad, om verado abrevads, no 1 SimposioIntemaciona do Proceseo Cilla Gig leaae a Faculdade ae Dieta Se Colmbca ce 21a 26 Se Weis Ge 1084, © ubleado no Brasil na Revista de Processo 37, 1885, pp. 121-180 e, em gepantols, ne Revota Uruguaye se Oorecna Pocaaa!T, YO8S 2 Boaventura de Sousa Santos contrario doutros ramos da sociologia, a saciologia do direito ‘ocupa-se de um fendmeno social, 0 direito, sobre o qual inci- dem séculos de produgdo intelectual cristalizada na idade moderna em disciplinas como a filosofia do direito, a dogma- tica juridica @ a historia do direito. Uma das ilustragoes mais significativas deste peso dos precursores consiste no privilegiamento, sobretudo no periodo inicial, de uma visdo normativists do direito em detrimento de luma visdo institucional e organizacional e, dentro daquela, no privilegiamento do direito substantive em detrimento do Gireito processual, uma distingao ela propria vinculada a digdes tedricas importadas acrticamente pela sociologia do ito, Sem recuarmos aos precursores dos precursore Giambattista Vico (1953) e Montesquieu (1950-1961), 6 notorio que a visdo normativista e substantivista do direito domina, no século XIX, a produgdo © as discussbes tedricas, quer de juristas, quer de cientistas sociais, como hoje Ihe chamaria- ‘mos, interessados pelo direito. Assim, @ quanto 20s primeiros, de todos 0s debates que na época so portadores de uma perspectiva sociologica do direito, ou seja, de uma perspectiva, ue explicitamente tematiza as articulagGes do direito com as condigdes e as estruturas sociais em que opera, o debate sem diivida polarizador ¢ © que opde os que defendem uma con- copgao de direito enquanto variével dependente, nos termos {da qual o direito se deve limitar a acompanhar e a incorporar (08 valores socials e os padres de conduta espontanea e pau- latinamente constituidos na sociedade, © os que defendem uma concepeao do direito enquanto variavel independente, nos termos da qual o direito deve ser um activo promotor de ‘mudanga social tanto no dominio material como no da cultura @ das mentalidades, um debate que, para lembrar posisoes ‘extromas ¢ subsidiarias do universos intolectuals muito distin= tos, se pode simbolizar nos nomes de Savigny (1840) e de Bentham’). O mesmo se pode dizer quanto ao debate oito- centista sobre 0 direito no ambito da sociologia emergente, Se 6 certo que se acorda em que 0 diteito reflecte as cond (G0es prevalecentes e ao mesmo tempo actua conformadora- mente sobre elas, 0 debate poleriza-se entre os que concebem © direito como o indicador privilegiado dos padrées de soli- dariedade social, garante da composi¢éo harmoniosa dos conflitos por via da qual se maximiza a integravao social © jaliza 0 bom comum, © 0s que concebem o direito como, expressao Ultima de interesses de classe, um instrumento do dominagéo econdmica e politica que por via da sua forma Fe a suns, ponies ergs, Barham procutoy fuera 3 arn 823) = Introducto a Sociologia da ‘Administragdo da Justiga cenunciativa (geral e abstracta) opera a transtormagio ideol6- gica dos interesses particularisticos da classe dominante em Interesse colectivo universal, um debate que se pode simball- zar-nos nomes de Durkheim (1977) (2) ¢ de Mars (2). No primelro quartel do nosso século a visto normativista substantivista do direito continuou a dominar, ainda que com ‘nuances, © pensamento sociolégico sobre o direito. € assim ‘exemplarmente 0 caso de Enrlich, para alguns 0 fundador da sociologia do dirsito, em qualquer dos dois grandes temas da ‘sua produgao clentitica: o direlto vive e a criagao judicidria do direito (1929 e 1967). No que respeita ao primeiro, 0 direito vivo, € central a contraposicao entre 0 direito oficiaimente estatuido e formalmente vigente @ a normatividade emergente das relagées socials pela qual se regem os comportamentos @ se previne e resolve @ esmagadora maioria dos contflitos. No que respelta ao segundo, a criagao judiciéria do direito, & ainda a mesma visto fundante que da sentido & distingao entre a normatividade abstracta e exangue da lel e a normal vidade concreta © conformadora da decisio do julz. Atente-se, ‘no entanto, que este segundo tema, e em geral a orientagao tworiea da escola do diteito livre ov da jurisprudéneia socio logica (Pound, 1911 e 1912)('), ao desiocar a questio da normatividade do direito dos enunciados abstractos da lei para as decisoos particulares do |uiz, criou as pre-condigoes te6ricas da transiga0 para uma nova visio sosiolégica cen- trada nas dimensbes processuals, institucionals e organi cionais do direito. Nesta mesma transigao @ ainda no mesmo periodo (0 primeira quartel do nosso século) se situa a obra {de M. Weber (1964) (3). A preocupagao de Weber em detinir a especificidade e 0 lugar privilegiado do direito entre as demais 2 nc a ica Burka recuse a ditingao erie lei pusice’s ats prvado, or conslera i; fen, substuinge-t Delt SReungto enire H {Giese area comaria at Sratiyciona) "Cada um deste ti Se soldarioga ‘arene repressive corespanae fnosiniea,assonto nos valores oa eonesioncia cole cule viedo cone Wo um exe, uma forms de solisaregage dominante oes somedades So Dascado. 0 siete renttotus corresponde a solidaiasage organica, ante, Ras selene contemparacasabontanacviaio 9. abaho @, Num estudo de autonomizagao terice om ro ‘weta, No ontantow a sua vaste bra esa epic Ge Telrercies nao ss inca a0 rat Cham expan & Cantrowea Gin ot Fioeaa do Diole de Hoge! (1843) 4 Ideciogi Aloma (1845-40) artgos ho No Fhamsene Zertung ("848 10) 6: besota de Brumario te Napolege Sona pate (eo) “Gryndrsee (3b87°08).0 Capt (oBty: A Guerra Cin om Franga W187) © Cries do Programe de Gata (115) "5 ro, ala, Roscoe Pound quem aprosentou Ehvich & comunidade clontifen nglontaxoricn 1590, (2) A'muhorseleceSo'do que nesta obra respeita 4 socologia do sist ea 08 Mx Reine (158. 14 Boaventura de Sousa Santos fontes de normatividade em circulagao nas relagdes socials no ‘soio das sociedades capitalistas levou-o a centrar a sua ané- lise no pessoal especializado encarregado da aplicacao das normas juridicas, as profissoes juridicas, a burocracia estatal Segundo ele, o que caracterizava o direito das sociedades capitalistas e 0 distinguia do direto das socledades anteriores ‘era 0 construir um monopélio estatal administrado por fun- ciondrios especializados segundo critérios dotados de racio- nalidade formal, assente em normas gerais e abstractas apli- ‘cadas a casos concretos por via de processos logicos contro- laveis, uma administragaio em tudo integravel no tipo ideal de urocracia por ele laboraco. Esta tradigao intelectual diversificada mas em que domina @ visio normativista e substantivisia do direito teve uma Influéncia docisiva na constituicao do objecto da sociologia do direito no pés-guerra. Dentre os grandes temas deste periodo refiro dois a titulo de exemplo: a discrepancia entre o direito formalmente vigente e o direito sociaimente eficaz, a célebre dicotomia faw in books/law In action da sociologia juridica americana: as rolagdes entre 0 direito © 0 desenvolvimento socio-econdmico e mais especificamente o papel do direito na transformago modernizadora das sociedades tradicionais. Em qualquer destes temas, bastante distintos, um centrado prefe- rentemente nas preocupagées sociais dos paises desenvol dos e 0 outro nas dos paises am desenvolvimento, sao nitidos © privilegiamento das questoes normativas e substantivas do direito e a relativa negligéncia das questoes processuais, ins- titucionais @ organizacionais. No entanto, esta conjuntura intelectual em breve se alte- rou. Contribuiram para isso duas ordens de condicbes, ambas femergentes no final da década de 50, inicio da década de 60 Ccondigbes teéricas © condigdes socials, Entre as primeiras, as Ccondigdes tedricas, salionto trés. Em primeiro lugar, o desen- volvimento da soclologia das organizagdes, um ramo da sociologia que tem em Weber um dos principals inspiradores, dedicado em goral ao estudo dos agrupamentos socials cria- dos de modo mais ou menos deliberado para a obtencio de um fim especifico, com enfoques diversos sobre a estrutura a forma das organizagdes, sobre 0 conjunto das interaccbes sociais no seu seio ou no impacto delas no comportamento dos individuos (*). Este ramo da sociologia desenvolveu em breve un interesse especitico por uma das organizagbes de larga escala dominante na nossa sociedade, a organizagao (0) Para além dos slasicas (M. Weber ©. Michla) as roeréncias besidar neste ramo Ga soctologa 440, Slznick (1949), Play (1855) 0. Marche" simon (i868), Nt Crosir (1963), 8. Clegg & D. Ounkerisy (860, Introdugt Sociologia da ‘Aaministagao da lestga Judiciéria e particulermente os tribunais (Heydebrand, 1977 © 1979) A segunda condigfo teérica & consttuida pelo desenvol- vimento da ciéncia politica e pelo interesse que esta revelou pelos tribunais enquanto instancia de decisdo e de poder politicos. teoria dos sistemas utilizada na andlise do sistema Paltico em geral(”) oncontrou no sistema judiciario um ponto de aplicagao especitico © as acgoes dos actores do sistema, particularmente as dos juizes, passaram a ser analisadas em fungdo das suas orientacoes poiticas(*) ‘A terceira condigao tebrica & consiituida pelo desenvol- vimento da antropoiogia do direito ou da einoiogiajuridica 420 libertar-se progressivamente do seu objecto privilegiado, as sociedades coloniais, virando-se para 0s novos paises atrica- ‘os asiaticos © para os paises em desenvolvimento da Amé- Tica Latina, até finalmente descobrir o seu objecto duplamente Primitivo dentro de casa, nas sociedades capitalisas desen~ Yolvidas. Ao centrar-se nos ltigios @ nos mecanismos da sua revengdo e da sua resolugao, a antropologia do dieito des Viou a atengao analitica das normas 0 orientou-s6 para os processes para as instiuigSes, seus graus diferentes de formalizacao @ de especialzacao @ sua eficdcia estruturadora dos comportementos Gabe agora referir brevemente as condigdes socials que, juntamente com as condigses teoricas, possibilitaram a orien- tagio do interesse sociolégico para as dimensbes processutis, institucionais © organizacionais do direito. Distingo duas Ccondigdes principals. A primeira diz respeito as lutas sociais protagonizadas por grupos socials até entdo sem tradigao histérica de acglo colectiva de confrontacao, 08 negros, 08 estudantes, amplos sectores da pequena burguesia em iuta Por novos direitos sociais no dominio da seguranga social, habitacto, educacto, transportes, meio ambiente © qualidade o vida, otc, movimentos socials que em conjungao (por ‘vezes dificil) com 0 movimento operério procuraram aprofun- ar 0 conteiido democrético dos regimes saidos do pos -quarra('®). Foi neste contexto que as desigualdades sociais foram sendo recodificadas no imaginario social e politico @ (2 Hee Ses, (Sy uma ams ones mal gate (a umavusso Geral veacte Grossman s MWe forge) (1980 ure ery evoacl, 0G Schubert (8D, Sent (169) Saeeb {orgy Sere Gan ist: sme anal erties do-arign precedete om SBtape re: shape re (ei t,o Sarton (080) «a iblograia tad [h'Sio muito nimeronaa as andes empitene don dernian mov Sgnineago soca dusts montmanios 6 jets salons na Curopa A Tou. ‘ana (1088 @ 1075) nos EUA.A. Oborstnal (1873) e F. Phen (197): Dan: fre'os autores que minor fem analsaga ns relarSes entre ox moumantos Nocils a0 Selo, gestaca Piven eR Cloward {8H} 0.) Handi C978) 16 Boaventu Sousa Santos passaram a constituir uma amoaga a logitimidade dos regimes Politicos assentes na igualdade de direitos, A igualdade dos idadaos perante a lei passou a ser confrontada com a desi- gualdade da lei porante os cidadios, uma confrontagao que ‘em breve se transformou num vasto campo de analise socio- logica e de inovagdo social contrado na questi do acesso iferoncial a0 direito © & justiga por parte das diferentes clas- ses © estratos sociais A segunda condi¢ao social do interesse da sociologia pelo proceso & pelos tribunals é constituida pela eclosao, na década de 60, da chamada crise da administracao da justica, uma crise de cula persistencia somos hoje testemunhas. Esta condigao esté em parte relacionada com a anterior. AS lutas socials @ que fiz referéncia aceleraram a transtormagao do Estado liberal no Estado assistencial ou no Estado-providen- cla, um Estado activamente envolvido na gestao dos contltos fe consertagées entre classes © grupos sociais, e apostado na minimizagao possivel das desigualdades sociais no ambito do modo de produgao capitalista dominante nas relagoes eco- némicas. A consolidagdo do Estado-providéncia significou a ‘expansdo dos direitos sociais e, através deles, a integragao das classes trabalhadoras nos circuitos do consumo ante- Flormente fora do seu alcance ("). Esta integragao, por sua vez, implicou que 08 contlitos emergentes dos novos direitos socials fossem constitutivamente contlits juriicos cuja dir- migao caberia em principio aos tribunals, Iitigios sobre @ relacao de trabalho, sobre a seguranca social, sobre a habita- ‘e40, sobre 0s bens de consumo duradouros, etc, etc. Acresce ‘que @ integrag&o das classes trabalhadoras (operariado e nova equena burguesia) nos circultos do consumo foi acompa- nhada e em parte causada pela integragdo da mulher no mer- ccado de trabalho, tornada possive! pela expansao da acumu- Iago que caracterizou este periodo. Em- consequéncia, 0 aumento da poo! de rendimentos familiares fol concomitante ‘com mudangas radicais nos padrées do comportamento fami- liar (entre cOnjuges @ entre pais e flhos) e nas préprias estra- tégias matrimoniais, 0 que velo @ constituir @ base de uma acrescida conflitualidade familiar tornada socialmente mais Visivel ¢ até mais aceite através das transtormagoes do direito de familia que entretanto se foram verificando, E esta foi mais uma causa do aumento dos litigias judiciais. De tudo isto resultou uma explosio de ltigiosidade & qual 4 administragao da justica dificilmente poderia dar resposta. Acresce que esta explosio velo a agravar-se no inicio da (') As tansfornagdes do. poder do. Estado. dei decorentes 80 importante e compiouae Cis's tude exarpla, Santos i982 5). Introduggo a Soci ia da ‘Administragdo da Justign década de 70, ou seja, num periodo em que @ expansio eco- ‘nomica terminava e se iniciava uma recessao que so prolonga até hoje @ que, pela sua pertindcia, assume um cardcter estru- tural. Dai resultou a redugao progressiva dos recursos fin ceiros do Estado e a sua crescente incapacidade para dar Ccumprimento aos compromissos assistenciais e providenciais assumidos para com as classes populares na década ante- ior (72. Uma situagdo que da pelo nome de crise financeira do Estado e que se fol manifestando nas mais diversas reas de actividade estatal e que, por isso, se repercutiu também na incapacidade do Estado para expandir os servicos de admi- nistragao da justiga de modo a eriar uma oferta de justiga compativel com a procura entretanto veriticada. Daqui resul- tou um factor adicional da crise da administragao da justica A visibilidade social que Ihe foi dada pelos meios de comuni- ‘cacao social © a vulnerabilidade politica que ela engendrou para as elites drigentes esteve na base da criagdo de um novo f vasto campo de estudos sociologicos sobre a administragao da justiga, sobre a organizagao dos tribunals, sobre a forma ‘G80 € 0 recrutamento dos magistrados, sobre as motivagdes das sentencas, sobre as ideologias politicas profissionais d0s varios sectores da administragao da justiga, sobre 0 custo da justica, sobre os bloqueamentos dos processos @ sobre 0 ritmo do seu andamento em suas varias fases. Uma vez analisados 08 antecedentes © as condicoos da Ccontribuigao da soclologia do direito para 0 aprofundamento {das complexas interacgbes entre o direito processual © a ‘administragao da justica, por um lado, e a realidade social e ‘econémica em que operam. por outro, passarei agora a anali- ‘sar de modo sistematico o Ambito diversificado dessa contri- buigao com vista @ apontar com babe nela, na parte final deste ‘trabalho, as linhas de investigagao mais promissoras e o perfil ‘de uma nova politica judiciéria. Concentrar-me-ei na andlise das contribuigdes no ambito da justiga civil, embora muitas dostas tenham um Ambito mais geral e abarquem também a justiga penal, como facilmente se reconhecera Distinguirei trés grandes grupos tematicos: 0 acesso a Justica: a administracao da justiga enquanto instituigao politica @ organizagao profissional, dirigida @ produgdo de servigos especializados; a ltigiosidade social e os mecanismos da sua resolugdo existentes na sociedade. rag) UD® 6 os ma Tse sabre te GuBsHD Fao aa Temas da sociologia dos tribunais 7 18 Boaventura de Sousa Santos 0 acesso a justica © tema do acesso & justiga # aquele que mais directa- mente equaciona as relacdes entre 0 processo civil ea justiga Social, entre igualdade juridico-formal e desigualdade socio- -econdmica No Ambito da justica civil, muito mais propri mente do que no da justica penal, pode falar-se de procur feal ou potencial, da justica("?). Uma vez definidas as suas ccaracteristicas internas e medido 0 seu émbito em termos ‘quantitativos, € possivel compard-Ia com a oferta da justica produzida pelo Estado. Nao se trata de um problema novo. No principio do século, tanto na Austria como na Alemanha, foram frequentes as dendncias da discrepancia entre a pro” cura e a oferta da justica e foram varias as tentativas para a ‘minimizar, quer por parte do Estado (a reforma do proceso civil levada a cabo por Franz Kioin na Austria) (Kiein, 1958; Denti, 1971), quer por parte dos interesses organizados das classes sociais mais débeis (por exemplo, os centros de con- sulta juridica organizados pelos sindicatos alemaes) (Reifner 1978). Foi, no entanto, no pos-guerra que esta questao ‘explodiu. Por um lado, a consagracao constitucional dos ‘Novos direitos econdmicos e socials @ a sua expansao paraiela fa do Estado de bem estar transformou 0 direito a0 acesso fefectivo @ justiga num diraito charneira, um direito cuja dene- (gagao acarrotaria a de todos os demais. Uma vez dastituldos de mecanismos que fizessem impor 0 seu respeito, os novos direitos socials e econémicos passariam a meras declaragbes politicas, de conteudo @ fungao mistificadores. Dai a consti tagao de que a organizagao da justiga civil e, em particular, a tramitagao processual nao podiam ser reduzidas 4 sua dimensdo técnica, socialmente neutra, como era_comum serem concebidas pela teoria processualista, devendo inves tigar-se as fungdes socials por elas desempenhadas e em par~ ticular 0 modo como as opdes técnicas no seu selo veicula- vam op¢des a favor ou contra interesses sociais divergentes (ou mesmo antagénicos (interesses de patroes ou de operé- ‘ios, de senhorios ou de inquilinos, de rendeiros ou de pro- prietérlos fundidrios, de consumidores ou de produtores, de homens ou de mulheres, de pais ou de filhos, de camponeses. ou de citaginos, ete, ete.) ("4 Neste dominio, a contribuigdo da sociologia consistiu em investigar sistemética e empiricamente os obstéculos 20 avesso efectivo a justica por parte das classes populares com (G3) Na ustiga penal ha, por assim dizer, uma procure forgada da jus oeaaarrt para aan ett jen ode iGuslmentefalar-se Ge procura social a |. (5 Ka Etro Goer hapemcria Se ccljriicapoatvita eins por detra Gas solugoes teonicas processus. Neste ero, We Gappatets (1568) FCalamandre! (195) Introdugto @ Sociologia da ‘Administragao da Justiga vista a propor as solugdes que melhor os pudessem superar. Muito em geral pode dizer-se que os resultados desta investi- gagdo permitiram concluir que eram de tr6s tipos esses obs- téculos: econdmicos, socials e culturais("8). Quanto aos obs téculos econémicos, veriticou-se que, nas sociedades capita- listas em geral, os custos da Iitigagao eram muito elevados & {que a relagao entre o valor da causa e o custo da sua ltigagao ‘aumentava & medida que baixava o valor da causa. Assim, na ‘Alemanha, veriticou-se que a litigagao de uma causa de valor medio na primeira insténcia de recurso custaria cerca de metade do valor da causa. Na Inglaterra verificou-se que em ‘cerca de um tergo das causas em que houve contestagdo os Custos globais foram superiores aos do valor da causa. Na Italia, 08 custos da litigagao podem atingir 8,4% do valor da ‘causa nas causas com valor elevado, enquanto nas causas ‘com valor diminuto essa percentagem pode elovar-se a 170% (Gappelletti e Garth, 1878: |, 10 @ segs.). Estes estudos reve- im que a justiga civil € cara para os cidadaos em geral, mas revelam gobretudo que a justica civil @ proporcionalmente mais cara para os cidadaos economicamente mais débeis. que sao oles fundamentalmente os protagonistas @ 0s inte- ressados nas acgbes de menor valor e é nessas acces que a Justiga proporcionalmente mais cara, 0 que configura um fendmeno da dupla vitimizagao das classes populares face & administragdo da justica. De facto, verificou-se que essa vitimizagao & tripla na medida em que um dos outros obstaculos investigados, a len- tidao dos processos, pode ser facilmente convertido num ‘custo econdmico adicional e este ¢ proporcionaimente mais ‘gravoso para o$ cidadaos de menos recursos. No final da década de 60, a duragao media de um proceso civil na Italia fra, para o percurso das trés instancias, 6 anos © § meses (Resta, 1977: 80); alguns anos mais tarde, na Espanha, essa duragao era cerca de 5 anos e 3 meses (Cappolletti e Garth, 1078: 14), No final da década de 60 as acgdes civis perante 0 tribunal de grande instancia em Franga duravam 1,8 anos & erante o tribunal de primeira instancia na Bélgica 2,38 anos (Cappelleti e Garth, 1978). A andlise da duragdo média dos processos civis © a consequente veriticagaio do aumento da lentidao da justica é um dos tomas mais intrigantes da inves- tigagdo sociolégica sobre o8 tribunais nos nossos dias, Por lum lado, veritica-se que a Iitigacao civil tem vindo a diminuir [© eamio geral dos evtudos do peviodo Incial esta patents em Confertace Proceedings (1962) 6 em J. Cart @ J Howare (1965) Pode ‘Shas lee uma velo global sprotundaaa dos estudos reazados noe {ios lass durant a Bocada seguine- em Cappallet e Barth (orgs) (2308) uma oom monumental ema fteronct biblogracs obigatoria este dominio, 20 Boaventura de Sousa Santos de volume nas iltimas décadas, Os estudos feitos na Italia neste campo (Resta, 1977: 83 @ segs.) corroboram int ‘mente o8 produzidos em Espanha, onde Juan Toharia (1974: 190) conclui que ao maior desenvolvimento social @ econé- ‘mice, @ a0 consequente aumento da vida juridica civil e da conflitualidade social nesta area, tem correspondido um dectéscimo das causas civis nos tribunals de justica. A este fenémeno voltarei mais tarde. Por agora basta referir 0 para- doxo denunciado muito recentemente por Vincenzo Ferrari (1983: 338): apesar da carga do contencioso civil ter vindo a iminuir @ apesar das muitas inovagoes introduzides com 0 objectivo do tornar a justica civil mais expedita, 0 facto ¢ que se tem vindo @ verificar um aumento constante da duracdo média dos processos civis. E mais intrigante ainda 6 0 facto de este aumento se revelar resistente nao $6 as inovacbes parciais que 0 procuram controlar mas também em relagao as restruturagoes globais do proceso tendentes a eliminar por completo a lentidao da justica. Assim, 0 processo de trabalho, que, no inicio da década de 70, constitui juntamente com 0 ‘Statuto dei lavoratori uma importante vitoria das organizagées Coperérias italianas no sentido de acelerar a administracao da Justiga mais directamente relevante para os interesses das Classes trabalhadoras, tem-se vindo a revelar, em tempos recentes, Impotente para impedir 0 aumento progressivo da duragdo das causas laborais Estas verificagoes tam levado a sociologia judicléria a Cconcluir que as reformas do processo, embora importantes para fazer baixar 0s cusios econémicos decorrentes da lenti- {do da justiga, nao sao de modo nenhum uma panacela. E pre- ciso tomar em conta e submeter a anélise sistematica outros factores quicd mais importantes. Por um lado, a organizagao judiciéria e @ racionelidade ou irracionalidade dos eritérios de istribuigdo territorial dos magistrados. Por outro, a distribul ‘Gao dos custos mas também dos beneficios decorrentes da lentidao da justiga. Neste dominio, @ a titulo de exemplo, 6 importante investigar em que medida largos estratos da ‘advocacia organizam ¢ rentabilizam a sua actividades com base nna (9 n&o apesar da) demora dos processos (Ferrari, 1983: ‘839; Resta, 1977: 87). Mas, como comecei por refer, a socio- logia da administragdo da justica tem-se ocupado também dos obstdoulos sociais @ culturais a0 etectivo acesso a justica por parte das classes populares, e este constitui talvez um dos ‘campos de estudo mais inovadores. Estudos revelam que a Gistancia dos cidadaos em relagao administragao da justica € tanto maior quanto mais baixo ¢ 0 estrato social a que per- tencem e que essa distancia tom como causas proximas nao apenas factores econémicos, mas também factores sociais Introducto a Sociologia da "Administragao da Justiga cculturais, ainda que uns e outros possam estar mais ou menos remotamente relacionados com as desigualdades econémicas. Em primeiro lugar, os cidadaos de menores recursos tendem 2 conhecer pior os sous direitos 9, portanto, a ter mais dift- culdades em reconhecer um problema que os afecta como sendo problema juridico. Podem ignorar os direitos em jogo (u ignorar as possibilidades de reparacao juridica. Caplowitz (1963), por exemplo, concluiu que quanto mais baixo ¢ 0 strato social do consumidor maior é a probalidade que des- conhega 06 sous direitos no caso de compra de um produto defeituoso. Em segundo lugar, mesmo reconhecendo o pro ‘blema como juridico, como violacao de um direito, @ necessé- rio que a pessoa se disponha a interpor a acgao. Os dados ‘mostram quo 0s individuos das classes baixas hesitam muito mais que 0s outros em recorrer aos tribunais, mesmo quando reconhecem estar perante um problema legal. Numa investi- (gacdo efectuada em Nova lorque junto de pessoas que tinham sido vitimas de pequencs acidentes de viagAo, verificou-se que 27% dos inquiridos da classe baixa nada faziam em compara- (gdo com apenas 2% dos inquiridos da classe alta (citado em Carlin e Howard, 1965), ov seja, quanto mais baixo 6 o status socio-econémico da pessoa acidentada menor é a probabili- dade que interponha uma acgao de indemnizacao. Dois facto ‘88 parecem explicar esta desconfianga ou esta resignacaor or um lado, experincias anteriores com a justica de que resultou uma alienacao em relagao ao mundo |uridico (uma reacgao compreensivel a luz dos estudos que revelam ser grande a diferenga de qualidade entre os servigos advocaticios Prostados as classes de malores recursos © os prestados as Classes de menores recursos); por outro lado, uma situagao. geral de dependéncia e de inseguranga que produz o temor de represalias se se recorrer aos tribunals. Em torceiro 0 ‘ltimo lugar, verifica-se que © reconhecimento do problema ‘como problema juridico e o desejo de recorrer aos tribunals, para o resolver ndo so suficientes para que a iniciativa seja de facto tomada. Quanto mais balxo ¢ 0 estrato socio-eco- ‘nomico do cidadao menos provavel & que conhega advogado (ou que tenha amigos que conhegam advogados, menos pro- vavel 6 que saiba onde © como @ quando pode contactar 0 advogado e maior ¢ a distancia geografica entre o lugar onde vive ou trabalna e a zona da cidade onde se encontram os escritorios de advocacia e os tribunais, ‘© conjunto testes estudos revelou que a discriminagao social no acesso & justiga 8 um fenomeno muito mais com plexo do que a primeira vista pode parecer, ja que, para além ddas condicionantes econémicas, sempre mais dbvias, envolve condicionantes sociais ¢ culturais resultantes de processos de 22 Bosventura de Sousa Santos socializagao @ de interiorizagao de valores dominantes muito ificeis de transtormar. ‘A riqueza dos resultados das investigacdes sociolégicas no dominio do acesso & justica ndo pode deixar de se retlectir nas inovagées institucionais e organizacionais que, um pouco por toda a parte, foram sendo levadas a cabo para minimizar 18S escandalosas discrepancias entre justiga civil © justica social verificadas. No imediato pos-guerra, vigorava na maioria dos paises um sistema de assisténcia judicidria gratuita organizada pola ‘ordem dos advogados ¢ titulo de munus honorificum (Cappel letti © Garth, 1978: |, 22 © segs: Blankenburg, 1980). Os inconvenientes deste sistema eram muitos e foram rapida- mente denunciados. A qualidade dos servigos juridicos era baixissima, uma vez que, ausente a motivagao econdmica, @ distribuigdo acabava por recair em advogados som experién= cia e por vezes ainda nao plenamente profissionalizados, em {geral som qualquer dedicagdo & causa. Os critérios de eligi’ Tidade eram em geral estritos e, muito importante, a assistén- cia limitava-se aos actos em julzo, estando excluida a consulta juridica, a informacao sobre 0s direitos. A denuncia das ‘carencias deste sistema privado e caritativo levou a que, na ‘maioria dos paises, ele fosse sendo substituido por um sister pblico e assistencial organizado ou subsidiado pelo Estado. Na Inglaterra, criou-se logo em 1949 um sistema de advocacia, ‘convencionada posteriormente aperteicoado (1974), segundo © qual qualquer cidadao elegivel nos termos da let para 0 patrocinio |udicidrio gratuito escolne 0 advogado dentre os ue se inscreveram para a prestagao dos servigos e que cons- tam de uma lista; uma lista sempre grande, dado o atractivo da remuneragao adequada a cargo do Estado. Nas duas décadas seguintes muitos palses introduziram esquemas semelhantes de servigos juridicos gratvitos. Estes esquemas, conhecidos nos paises anglo-saxénicos pela designagao de Judicare, uma vez postos em prética, foram submetidos a festudos sociolégicos que, apesar de assinalarem as significa tivas vantagens do novo sistema em relagdo ao anterior, nao deixaram contudo de revelar as suas limitagdes (Blankenburg, 4980: 1 @ sogs.; Abel-Smith af al, 1973). Em primeiro lugar, apesar de em teoria o sistema incluir a consulta juridica independentemente da existéncia de um litigio, 0 facto ¢ que, ‘na pratica, se concentrava na asistencia judiciaria. Em segundo lugar, este sistema limitava-so a tentar vencer os ‘obstaculos econémicos ao acesso a justi¢a, mas nao 03 obs- ‘tdcules socials e culturais. Nada fazia no dominio da educa ‘Gao juridica dos cidadaos, da consciencializacao sobre os Novos direitos sociais dos trabalhadores, consumidores, Introdugto & Sociologia da ‘Administragao da Justiga inquilines, jovens, mulheres, ete. Por ultimo, concebendo & asistencia judiciaria como um servico prestado a cidadaos de menos recursos individualmente considerados, este sistema ‘excluia, & partida, a concep¢do dos problemas desses cida- daos enquanto problemas colectivos das classes socials su: bordinadas. Estas erticas conduziram a algumas alteragoes no sistema de servigos juridicos gratuitos e, no caso dos Estados Unidos da América, conduziram mesmo & criag8o de um sis- tema totalmente novo baseado em advogados contratados pelo Estado, trabalnando em escrtorios de advocacia locali- zados nos bairros mals pobres da cidade e seguindo uma festratégia advocaticia orientada para os problemas juridicos dos pobres enquanto problemas de classe, uma estratégia privilegiando as acedes colectivas, a crlagao de novas corren- tes jurisprudenciais sobre problemas recorrentes das classes populares e, finalmente, a transformagao ou reforma do dieito substantivo (Cahn @ Cahn, 1964; Note, 1967). Ndo cabe aqui avaliar em pormenor este movimento de inovagao institucional ‘a que Portugal se tem, pouco honrosamente, furtado, um movimento cujas sucessivas etapas denotam uma consciéncia, progressivamente mals aguda da necessidade de garantir 0 ‘acesso efectivo a justiga por parte de todos os cidadaos. Hoje, pode mesmo dizer-se que este movimento transborda dos Interosses juridicos das classes mais baixas e estonde-se ja ‘20s interesses juridicas das classes medias, sobretudo aos ‘chamados interesses difusos, interesses protagonizados por ‘grupos sociais pouco organizados e protegidos por direitos socials emergentes cuja titularidade individual @ problematica, Os direitos das criangas contra a violéncia nos programas de Tolevisto e os brinquedos agressivos ou perigosos, os direitos da mulher contra a discriminacao sexual no emprego @ na Ccomunicagao social, os direitos dos consumidores contra a produgdo de bens de consumo perigosos ou defeituosos, os direitos dos cidaddos em geral contra a poluiao do meio ambiente, A defesa publica destes direitos deu origem & insti- tuiggo da chamada advocacia de interesse pablico subsiciada ppelas comunidades, por fundagdes ¢ pelo Estado (Trubek et ‘a, 1980). Deu também origem a algumas reformas no pro- nomeadamente o alargamento do concoito de processual e de interesse em agir. Passo ao segundo tema da sociologia judicidria. Trata-se {Ge um tema muito amplo no qual se incluem objectos de and- lise muito diversos. A concepgto da administragao da justica ‘como uma instancia politica fol inicialmente propugnada pelos Clentistas politicos que viram nos tribunals um sub-sistema do sistema polltico global, partilhando com este a caracteristica ‘Aadministragao da justi¢a enquanto instituigéo politica e Profissional 23 24 Boaventura de Sout Santos de processarem uma série de inputs externos constituldos por ‘astimulos, pressdes, exigéncias socials e politicas e de, atrar ‘ves de mecanismos de conversio, produzirem outputs (as decisdes) portadoras elas proprias de um impacto social € politico nos restantes sub-sistemas. Uma tal concepgao dos tribunais teve duas consequéncias ‘muito importantes. Por um lado, colocou os juizes no centro ddo campo analitica. Os seus comportamentos, as decisdes por cles proferidas @ as motivagbes delas constantes, passaram a ser uma varidvel dependente cuja aplicaglo se procurou nas cortelagées com variaveis independentes, fossem elas a ori- {gem de classe, a formagdo profissional, a idade ou sobretudo. @ ideologia politica e social dos juizes. A segunda cons quéncia consistiu em desmentir por completo a idela conven- ional da administracao da justiga como uma tungée neutra pprotagonizada por um juiz apostado apenas em fazer justica, ‘acima @ equidistante dos interesses das partes. Sao conheci- dos os estudos de Nagel (1969), Schubert (1965) (*), Ulmer (1962 © 1979), Grossman () @ outros nos EUA, de Richter (1960) ¢ Dahrendort (1961), na Alemanha, de Pagani (1969), i Federico (1968) ¢ Moriondo (1967), na Italia e de Toharia (1975), na Espanna, Nos EUA, 08 estudos iniciais centraram-se ‘no Supremo Tribunal Ge Justica. A titulo de exemplo, Schu- bert, distinguindo entre |uizes liberals e conservadores, corre- lacionou as suas ideologies politicas com as suas posigoes nos relatérios e declaragées de voto nas sentengas em varios: dominios do comércio juridico desde as relagdes econdmicas até a0s direitos civicos e obteve indices elevados de co-vari (¢80 (%). Outros estudos incidindo sobre as decistes dos tri- Dunals de primeira instancia, tanto nos dominios penal como ‘no civil, mastraram em que medida as caracteristicas sociais, politicas, familiares, econdmicas e religiosas dos magistrados influenclaram a sua definigdo da situagdo e dos interesses om Jogo no processo e consequentemente o sentido da dec 880(*), Os estudos itallanos sobre a ideologia da magistratura ‘Ao assentam no comportamento decisional mas antes nos C2) Sehubor @ tambom 9 organaador das mohores colectaneas oe ‘gtudos sobte.e compartargerio'e as altudes dod juz norte emercanes (Scheer 1965 «186s cn Gslanseuna.rito coal sor sw pepectna om J. crosman (chert datingus entre juices vamente. ‘Ainda no ambito da administragao da justiga como orga: nizagdo profissional, s80 de salientar os estudos sobre 0 Tecrutamento dos magistrados e a sua distribuicdo territorial (Ferrari, 1983: 312), Dentro do mesmo quadro teérico, mas de uma perspectiva muito diferente, sa0 08 estudos dirigidos @ conhecer as atitudes © as opinides dos cidadaos sobre @ administragao da justiga, sobre os tribunals e sobre os julzes. Uma tradigdo de investigagto que teve em Podgorecki um pioneiro com os seus estudos sobre a percepca0 social do direito ¢ da justica na Polonia e que se tem vindo a prolongar fem miltiplas investigagdes (Podgorecki et al, 1973). Um ‘estudo recente feito em Italia revelava uma atitude modera- damente destavoravel perante a magistratura (Ferrari, 1988: 312). gal oe enone eto #0 do Hogarth 187), Os era sobre Bs"aganteséa'semmieregaa’ de Justia ndo ta contrary apenas noe Stade rcesana ns cram amber aobre oy fadon Por serge ie nag elasic SoH Raion 0 4 Zod i, {23} Sigo's earecierzagao proposta por E. Dies (1978 43 ¢ seg) 26 Boaventura de Sousa Santos Os contlitos socials ¢ os mecanismos Todos estes estudos tém vindo a chamar a atencao para ‘um ponto tradicionalmente negligenciado: a importancia cru- cial dos sistemas de formagao e de recrutamento dos magis- trados e a necessidade urgente de os dotar de conhecimentos ulturais, sociolagicos e econémicos que os esclaregam sobre ‘as suas proprias opgdes pessoais e sobre o significado poll tico do corpo profissional a que pertencem, com vista a pos- sibilita-ihes um certo distanciamento eritico e uma atitude de Prudente vigiléncia pessoal no exercicio das suas fungdes ‘numa Sociedade cada vez mais complexa e dinamica Este tema constitul a terceira contribuigdo da sociologia para a administragdo da justiga. Alids, neste dominio a con- {ibuigao inicial pertenceu a antropologia ou etnologia social, Os estudos de Evans Pritchard (1989) no Sudao, de Gulliver (1963) e Sally Moore (1970) na Africa Oriental, de Gluckman (1955) @ Van Velsen (1964) na Africa Central/Austral © de Bohannan (1957) na Africa Ocidental tiveram um impacto decisivo no desenvolvimento da sociologia do direito, Deram @ conhecer formas de direito e padrées de vida juridica totalmente diferentes dos existentes nas sociedades ditas civ: lizadas; direitos com baixo grau de abstracgdo, discerniveis apenas na solugao concreta de litigios particulares: dirsitos ‘com pouca ou nula especializacao em relagao as restantes actividades socials; mecanismos de resolugdo dos Iitigios, ‘caracterizados pela informalidade, raidez, participacao activa da comunidade, conciliagdo ou’ mediagao entre as partes através de um discurso juridico retorice, persuasivo, assente na linguagem ordinaria. Acima de tudo, estes estudos revela- ram a existéncia na mesma sociodade de uma pluralidade de direitos convivendo e interagindo de aiterentes formas. No ‘momento histérico em que @ antropologia convergia teorica & metodologicamente com a sociologia, 0 impacto destes estu- dos na sociologia do direito foi enorme. Muitos foram os estudos que se seguiram, tendo por unidade de anélise o lti- gio (e nao a norma) e por orientagao tedrica o pluralismo |uridico, orientados para a andlise de mecanismos de resolu- {G40 juridica informal de contlitos oxistentes nas sociedades Contemporaneas e operando & margem do direito estatal e dos tribunais oficials. Citarei dois exemplos. O estudo pioneiro de 'S, Macaulay (1966) sobre as praticas juridicas e sobretudo os Conflites juridicos entre os produtores @ os comerciantes de automéveis nos EUA, resolvidos de modo informal & margem das disposigdes do direito comercial e da intervengao dos tri- bunais, orientados pelo objective de néo oriar rupturas nas relagdes econdmicas e retirando destas poderosos dispostivos ‘sancionatorios nao oficials. Em segundo lugar, os estudos por Introducao a Sociologia da "Administragao ca Justiga ‘mim realizados no iniclo da década de 70 nas favelas do Rio do Janeiro ¢ onde me foi possivel detectar e analisar a exis téncia no interior destes balrros urbanos de um direito infor- mal nao oficial, nao protissionalizado, centrado na Associagdo {de moradores que funcionava como instancia de resolugao de Itigios entre vizinnos sobretudo nos dominios da habitacao e dda propriedade da terra (Santos, 1974 e 1977). Estes muitos outros estudos que se sequiram com objectives analiticos somelhantes permitiram concluir 0 sequinte. Em primeira lugar, de um ponto de vista sociolégico, o Estado contampo- raneo nao tem 0 monopélio da produgao e distribuigo do Jdireito. Sendo embora o direito estatal o modo de juridicidade dominante, ele coexiste na sociedade com outros modos de Juridicidade, outros direitos que com ele se articulam de modos diversos (Santos, 1880: 64 © segs.; Rulvo e Marques, 1982). Este conjunto do articulagdes e interrelagoes entre varios modos de produgao do direito constitul 0 que designo or formagao juridica. Em segundo lugar, 0 relativo declinio a litigiosidade civil, longe de ser indicio de diminuigao da conflitualidade social e juridica, 6 antes o resultado do desvio dessa contlitualidade para outros mecanismos de resolugao, informais, mais baratos expeditos, existentes na sociedade. Estas conclusoes nao deixaram de influenciar algumas das reformas de administragio da justiga nos ultimos anos. Distinguire! dois tipos de reformas: as reformas no interior da justiga civil tradicional e a criagao de alternativas. Quanto as primeiras sao de saliontar as seguintes: 0 reforgo dos poderes do julz na apreciagao da prova e na condugéo do proceso gundo 0s principios da oralidade, da concentrag3o © da Imeci¢ao, um tipo de reformas com longa tradigao na teoria processualista europeia iniciada pela obra pioneira de Franz Klein; a criagao de um novo tipo de relacionamento entre os varios participantes no processo, mais informal, mais horizon- tal, visando um processamento mais inteligivel e uma partici pagao mais activa das partes e testemunhas. Como exemplo deste tipo de reforma citarei o chamado Stuttgart Modell na ‘Alemanha Federal e os tribunals de grande instancia criados ‘em 1967 nos departamentos periféricos da regiao parisiense (Ballé 6 al., 1981); por altimo, e relacionado com as anterio- ros, as roformas no sentido de ampliar 0 ambito @ incentivar 0 uso da conciliagao entre as partes sob 0 controle do julz (2). [As reformas que visam a criagao de alterna tuem hoje uma das éreas de maior inovagao na politica judi- cléria. Elas visam criar, em paralelo & administracao da justiga convencional, novos mecanismos de resolugao de litigios (@) Uma propesta defendida entre nbs por Pessoa Vaz (1976), 28 Boaventura oe Sous Santos Para uma novi pol judici ica ria ccujos tragos constitutivos tém grandes semelhangas com os originaimente estudados pela antropologia 0 pola sociologia do direito, ou seja, insttuigdes leves, relativa ou totalmente desprotissionalizadas, por vazes impedindo mesmo @ presenca de advogados, de utlizac4o barata, se nao mesmo gratuita, localizados de modo a maximizar 0 acesso aos seus servicos, ‘operando por via expedita e pouco regulada, com vista & ‘obtengao de solugses mediadas entre as partes (2). Neste dominio, os paises socialistas de Estado do Leste Europeu ‘tem uma grande experiencia (os tribunais sociais e 08 tribu- rnais de camaradas), assim como a China e 0 Japao com as instituigdes, algumas ancestrais, de mediag&o. Em tempos rocentes, € de mencionar a criacao experimental dos centros de Justiga de bairro nos EUA e 08 conciliateurs em Franga (#4), Em Portugal, algumas iniciativas no mesmo sen- tido no pds 26 de Abril nao tiveram qualquer concretizacao (Singicato dos Magistrados do M. P., 1982), Passarel agora a mencionar as linhas de investigagao mais promissoras no dominio da sociologia da administragao da justiga e 0 seu possivel impacto na criagéo do que desig- rrarei por uma «nova politica judiciaria. 1—A domocratizagao da administragdo da justica é uma dimenstio fundamental da democratizagao da vida soci econdmica @ politica. Esta democratizagao tem duas vertentes. ‘A primeira diz respeito & constituigao interna do processo e inclui uma série de orientagdes tais como: 0 maior envolvi- mento e participagdo dos cidadios, individualmente ou em ‘grupos organizados, na administragao da justica: a simplii- ‘capo dos actos processuais e 0 incentivo conciliagao das partes, 0 aumento dos poderes do julz; a ampliagao dos con- Cceitos de legitimidade das partes e do interesse em agir ‘A segunda vertente diz respeito & democratizagao do acesso a justiga. € necessario criar um Servigo Nacional de Justica, um sistema de servigos juridico-sociais, gerido pelo Estado © plas autarquias locals com a colabora¢ao das organizacoes profissionais e sociais, que garanta a igualdade do acesso a justiga das partes das diferentes classes ou estratos socials. Este servico no se deve limitar a eliminar os obstaculos eco- ‘némicos ao consumo da justiga por parte dos grupos socials, de pequenos recursos. Deve tentar também eliminar os 0bs- ca) JO # cerca ga cet tart om Sarton 582 & (G0 menos coletines de esudor soo esta 0 Abel orgy 1065) Introdugto a Sociologia de ‘Administracdo da Justigg taculos socials e culturais, esclarecendo os cidaddos sobre os seus direitos, sobretudo os de recente aqulsigao, através de Consultas individuals © colectivas e através de acgdes educa tivas nos meios de comunicagao, nos locals de trabalho, nas escolas, ote 2— Estas medidas de democratizagao, apesar de amplas, tom limites Obvios. A desigualdade da proteceao dos interes- 505 socials dos diferentes grupos socials esta cristalizada no préprio direito substantivo, pelo que a democratizagao da fadministragao da justiga, mesmo se plonamente realizada, nao ‘conseguiré mais do que igualizar os mecanismos de reprodu- (¢8o da desigualdade, Ha pouco, um jurista chileno dizia que ‘Ao fazia sentido lutar no seu pais pelo acesso a justiga por parte das classes populares ja que o direito substantivo era tao discriminatério om relag8o a elas que a atitude politica democratica consistia exactamente em minimizar 0 acesso. Nos EUA 08 servicos juridicos para os pobres acabaram mui tas vezes por propor reformas no direito substantivo que des- ‘som maior satisfagdo aos interesses dos seus clientes enquanto classe social No nosso pais, sobratudo nos ultimos dez anos, foi pro- mulgada legislacdo que de modo mais ou menos afoito pro- tende ir ao encontro dos interesses sociais das classes traba- lnadoras e também dos interesses emergentes nos dominios dda seguranga social e da qualidade de vida, por exemplo, a que sto particularmente sensiveis as classes médias. Sucede, porém, que muita dessa logislagao tem permanecido letra morta, Pade mesmo avangar-se como hipdtese de lei sociolo- gica que quanto mais caracterizadamente uma lei protege os interesses populares @ emergentes maior 6 a probabilidade de que ola nao seja aplicada. Sendo assim, a luta democrética pelo direito deve ser, no nosso pais, uma luta pela aplicacao do direito vigente, tanto quanto uma luta pela mudanga do direito. {Alids, mesmo com base no direlto substantivo mals sedi mentado na ordem juridica portuguesa ¢ possivel, mediante interpretacoes inovadoras da lel, obter novas protecodes para 08 interesses sociais até agora menos protegides. Foi esta afinal 2 aposta do movimento que na Italia ficou connecido pelo uso alternative do direito (Barcellona, 1873, Calera et al 1978). Neste campo sao varias as experiéncias um pouco por toda a parte. Reterirei, a titulo de exemplo, 0 estudo que, com ‘outros, realizei no Recife sobre os conflites urbanos, sobre- tudo contlitos de propriedade da terra nos bairros marginais ‘onde vive metade da populagao da cidade, Esta investigagao revela que os habitantes dos bairros tém conseguide algumas 29 30 Boaventura de Sousa Santos vitorias nos tribunals ainda que & partida os seus argumentos ‘sejam relativamente frageis em termos estritamente juridicos, Estas vitérias configuram um auténtico uso alternativo do ireito tornado possivel pela argumentagdo tecnicamente sofisticada de advogades altamente competentes pstos, gra- tuitamente, & disposicdo das classes populares pela comissao de Justica e Paz da diocese de Olinda e Recife por iniciativa do bispo D. Helder Camara (Santos, 1982 @ 1983; Faicio, 1984) Mas também aqui, a interpretagao inovadora do direito substantivo passa pelo aumento dos poderes dos juizes na condugao do processo. 3—A diminuigao relativa do contencioso civil detectada ‘em varios paises tem sido considerada disfuncional ou seja, ‘como negativa em relagao ao processo de democratizagao da justiga. A analise sociolégica da persisténcia desse tendmeno revela que ela pode ser funcional para a prossecugao de cer tos interesses privlegiados a quem a visibilidade propria da justica civil prejudicaria. Se & certo que as classes de menores Fecursos tendem a nao utlizar a justiga pelas razdes que ‘expusemos, a verdade ¢ que as classes de maiores recursos tendem igualmente a resolver 08 seus itigios fora do campo judiclario. Isto tom sido opservado em muitos paises. Na Italia, @ nos EUA, por exemplo, parece claro serem as classes Intermédias (pequenos e médios credores e proprietarios, etc.) quem mais recorre aos tribunals (Resta, 1977) (3). Estudos muito recentes realizados na Bélgica veriticam igualmente @ crescente marginalizago das magistraturas economicas numa 6poca de crise em que, sobretudo 20 nivel dos grandes gru- os econdmicos e financeiros, as consideragées de oportuni- dade econdmica sobrepujam largamente as consideragoes de legalidade econémica (Jacquemin © Remiche, 1984). A com- posigdo particularista @ secreta de interesses econdmicos que, pela envergadura destes, afecta significativamente os interes- ‘50s socials globais, 6 feita multas vezes com @ conivéncia @ a ratificagdo dos aparelhos politicos @ administrativos do Estado, mas fora do escrutinio publico a que a justica civil os fexporia. Este particularismo ¢, alids, um dos factores de femergéncia de novas formas de pluralismo juridico nas sociedades capitalistas avancadas, formas que constituem a ‘expressio socio-juridica do que om sede de ciéncia politica se tem vindo a designar por neo-corporativismo. 3%) Nos EUA, 6 etude mais recente 020 ne Usiersade 4 WacansincMacison, Ves ure pancramica goal doe ‘uttoaes am Law and Soptey Review 12 {voet-t36} decease so tome ‘Special asus on Dispute Broceaing and Clu Litgabon= Introdugde & Sociologia da ‘Administragao ea Justion Nestas condigées no me parece possivel que o Estado possa, através de medidas de dinamizacao da administracao da justica, absorver em futuro préximo estas formas de justica privada como por vez0s se designam. Quando muito, é poss vel que 08 grupos neo-corporativistas mais organizados venham a ter poder politico suficiente para impor tutolas, jurisdicionais diterenciadas mais afeitas & dindmica interna dos seus interesses. Nao me parece t8o pouco que estes mecanismos de resolugae dos litigios & margem do controlo do Estado sejam intrinsecamente negativos ou atentorios da democracia. Podem, pelo contrario, ser agentes de democr tizagdo da sociedade. Tudo depende do conteddo dos int esses em jogo e do impacto do seu comércio privado no processo de desenvolvimento democratico da sociedade no us todo. No entanto, ¢ certo que muitas das reformas recentes da administragao da justica visam reduzir a sua marginalidade ou residualidade. Estao nestes casos as reformas de informaliza- (cdo da justica a que fiz referéncia. As alternativas informais 80 uma criagdo juridica complexa cujas relagdes com 0 poder do Estado devem ser analisadas, uma analise que fiz outro lugar e que nao tepetirel aqui (Santos, 1982 a). Bastard dizer que nas experiéncias em curso 0 controlo ou supervisao do Estado varia muito e que nelas a questo do acesso nfo tom a ver com a assisténcia judicidria mas antes com a capi citagdo das partes em fungdo das posigées estruturais que ‘ocupam, Nos casos em que os litigios ocarrem entre cidadaos (ou grupos de poder socio-econémico pariicével (itigios entre vizinhos, entre operdrios, entre camponeses, entre estudantes, etc.) a informalizagdo da justiga pode ser um genuino factor de democratizagdo. Ao contrario, nos litigios entre cidaddos ‘ou grupos com posigdes de poder estruturalmente desiguais Ultigios entre patrdes @ operarios, entre consumidores @ pro- dutores, entre inuilinos e senhorios) 6 bem possivel que a Informalizagao acarrete consigo a deterioragao da posigao juridica da parte mais fraca, decorrente da perda das garantias processuais, e contribua assim para a consolidagao das desi- gualdades sociais; a menos que os amplos poderes do juiz profissional ou leigo possam ser utilizados para compensar a erda das garantias, 0 que sera sempre diticil uma vez que estes tribunais informais tendem a estar desprovidos de meios sancionatérios aticazes. A titulo de exemplo, refiro que apés 1 criago do tribunal de habitaco em Nova lorque destinado a resolver de modo expedito, informal e desprofissionalizado, 08 conflitos entre inquilinos @ senhorios 0 numero de despe- jos aumentou (Lazerson, 1982). Os inquilinos tinham deixado de contar com os expedientes processuais utiizados pelos 32 Boaventura de Sousa Santos advogados para suster ou desoncorajar 0 despojo. Aliés, a situagae que no futuro melhor e mais perigosamente simbol zaré a dissociagao entre |ustiga célere e justiga democratica decorrera em meu entender das reformas hoje em curso com Vista, no a lnformalizagao, mas antes & informatizagao da justiga, uma questo que no abordarei aqui 4—A contribuigao maior da sociologia para a democrati- zago da administracdo da justica consiste em mostrar empl ricamente que as reformas do processo ou mesmo do direito substantivo no tera muito significada se nao forem com- plementadas com outros dois tipos de reformas. Por um lado, 2 reforma da organizagao judiciaria, a qual no pode contribuir para a democratizagao da lustiga se ela propria nao for inter amente democratica. E neste caso a democratizagao deve corter em paralelo com a racionalizagao da diviséo do traba- ha e com uma nova gesto dos recursos de tempo © de capacidade técnica, Por outro lado, a reforma da formagao © dos processos de recrutamento dos magistrados sem a qual a ‘ampliagdo dos poderes do juiz propostas om muitas das reformas aqui referidas carecera de sentido e poderd even- tualmente ser contraproducente para a democratizaao da ‘administragao da justiga que se pretende. As novas geracoes, de juizes © magistrados deverdo ser equipadas com conhe mentos vastos © diversificados (economicos, sociol6gicos, politicos) sobre a sociedade em geral e sobre a administragao, dda justiga em particular. Esses connecimentos tém de ser tornados disponiveis e, sobretudo no que respeita aos conhe- cimentos sobre administracao da justi¢a no nosso pals, esses conhecimentos tem ainda de ser criados, pelo que se sauda recente criagao, no ambito do centro de Estudos Judiciarios, do Gabinete de Estudos Juridico-Socials, cuja vocacao parece ser precisamente a de gerar esse tipo de conhecimentos, E necessario aceitar 08 riscos de uma magistratura cultu- ralmente esclarecida, Por um lado, ela reivindicara o aumento de poderes dacisorios, mas Isso como se viu vai no sentido de muitas propostas e nao apresenta perigos de maior se houver um adequado sistema de recursos. Por outro lado, ela tendera a subordinar a coesao corporativa & lealdade a ideias socials © politicas disponiveis na sociedade. Daqui resultara uma certa fractura ideolbgica que pode ter repercussoes organizativas, Tal nao deve ser visto como patoldgico mas sim come fisiologico. Essas fracturas © os conflilos a que elas derem lugar sero a verdadeira alavanca do proceso de democratizacao da justica. . Referéncias Bibliograficas Abel. F. (ora) Abel-Smith, 8, oral Barcellona, P. (org) Bald, C., of a. Bentham, J Bickel, A Blankenburg, E. (org) Blau, . Bohannan, P Cann: Cahn Calamandrel. P. Calera, N.oah. Caplowt, 0. Cappelleti, M. Cappellett, Ms Garth, B. (orgs) Carlin, J. Howard, J Casper, J. Clegg, S. Bunkerey, 0. Conference Proceedings Crozier, M 1962 1973 1973 1901 1020 1963 1980 1985 1964 1956 1978 1963 1900 1978 1976 1980 1964 1969 Introdugdo & Sociologia da ‘Administragao da Justiga The Politics of Informal Justice, Nova lorque, Academic Press, 2 vols. Londres, H Legal Problems and the Citze yemann LUso Alternative del Dirt, Bari, Laterza, 2 vols. 33 Le Changement dans Institution Judiciaie, Paris jeterlo da vustiga is de J. Bentham sur la situation politique The Least Dangerous Branch, Indianapolis, Bobbs-Mertill, Innovations in Legal Services, Cambridge, Mass., 0.G.H. Publishers ‘The Dynamics of Bureaveracy, Chicago, University of Chicago Press 7 omeass Justice and Judgement among the Tiv, Londres, Oxford University Press: Tho War on Poverty: a Civilian Perspectives, Yale Law Journal 73, p. 1317 Procedure end Democracy, Nova lorque, New York ‘Sobre el Uso Alternativo del Derecho, Valencia, Femando Torres The Poor Pay More, Nova lorque, Free Press Processo e Ideologia, Bolonha, I! Mulino Access to Justice, Miao, Giuttre Legal Representation and Class Justices, ULC.LA Law Review 12, p. 381 “The Supreme Court and National Policy Making» ‘American Paitical Science Heview 70, p. 80, Organization, Class and Control, Londres. RKP The Extension of Legal Services to the Poor, Weshington OC, US Government Printing Oftice Le Phénaméne Bureaueratique, Paris, Soul 34 Bosventura de Sousa Santos Dani. R. Danvendort, Denti, Diaz, E 01 Federico Durkheim, €. Easton, 0. Ehren, Ehrich, & Evans “Pritchard, E Falcto, Joaquim Alora) Fano, E et al (orgs). Ferrari V. Gluckman, M. Grossman, J Wells, (orgs) Gulliver, P. Handler, J Heydebrand, W. Heydebrand, W. Hogarth, J 1967 1961 ser 1978 1968 1977 1965 1929 1967 1960 1986 1909 1983 1955 1980 1963 1978 1977 979 sr ‘Decision-Making in a Democracy: The Supreme Court as a National Polley Makers, Journal of Public Lew 6, p. 278 Deutsche Richter. Ein Beitrag 2ur Sociologia der (Operschichts, In Gesolischalt und Freinert, Muniaue Provosso civile Comunita Giustizia Sociale, Mil8o, Edizioni di Legalidag-Legitimidad on ol Socialitmo Demoerstico, Madrid, Civitas 1 Recrutamento dei Magistrat, Bari, Laterza A Divisao do Trabatho Social, Lisbos, Presenca ‘A Framework for Poltical Analysis, Englewood Clits, Prentice-Hall Grundlegung der Sociologia des Rechts, Bertin, Buncker Humblot Recht und Leben, Berlim, Duncker © Humblot The Nuer, Nova lorque, Oxtord University Press Contito de Dirsito de Propriedade. Invastes Urbanas. Filo de Janeieo, Forense Trastormation! Crit del Wel Piemonte, De Donato 2 Sta Regione *Socilogia del Diritto e Riforma del Processor, Studi in Honore de Renato Troves, Milo, Giutire, p. 338 The Judicial Process among the Barotse of Northern Rhodesia, Manchester, Manchester University Press Constitucional Law and Judicial Policy Making, Nova Toraue, John Wiley, 2 6d, Social Contr! in an African Society. & Study of the ‘Arusha: Agriguttural Masai of Norinern Tanganyika, Condres, BKP Social Movements and the Legal System, Nova lorqus, Reademic Press ‘The Context of Public Bureaucracies: An Organizational ‘Analysis of Federal District Courtse, Law and Society Review 19, p. 758 The Technocratic Administration of Justices in Spitzer (org) Research in Law and Secioiogy, vol. 2 8. Sentencing as @ Human Process, Toronto, Uni Toronto Press sity of Jacob, H. (or3.) acquemin, A Romicho, 8 (eres) Kalven Jr Hi Zolsel, Klein, F Lazerson, M. March, J Simon, ¥ Macauly, Montesquieu, C Moore, S. Moriondo, €. Movzelis, N. Overschall, A Pagani, A Piven, & Cloward, A Piven, Fs Cloward, odgorecky. A Pound, F. Reltner, U Rosta, 1967 1988 1966 1958 1982 1958 1966 1950. 2961 1970 1967 1968 1960 1973 1960 vert 1917 1973 ron nerd 1978 1917 Introdugdo a Sociologia da "Administracao da Justiga Law Politics and the Federal Courts, Boston, Little Brown Los Magisiratours Economiques ot la Crise, Bruxelas, CRISP The American Jury, Boston, Little Brown Zeit und GeistesstrEmmungen in Prozesse, Frankturt, iKfostermane, 2" 66 In the Halls of Justice, the Only Justice is in the Halls ia R. Abe! (org) (1982) vol. I, p. 118 Organizations, Nova lorque, John Wiley Law and the Balance of Powar: The Automobile Manufacturers and their Dealers, Nova lorque, Sage LEsprit des Lois, Pars, Société Des Belles Lettres Politics, Procedure and Normes in Changing Chagos laws Airica 40. p22 Liideologie della Magistrature Italiana, Bari, Laterza Organization and Bureaucracy, Nova lorque, Aldine The Legal Process trom a Behavioral Perspective, Homewood, The Dorsey Press. Nelgnbornoad Law Otfices: The New Wave in the Legal Sorvices for the Poor-, Harvard Law Review 80, p. B05; Social Contict and Social Movements, Englewood Clits, Prentice-Hall La Professions del Judice, Mildo, Einaudi Rogulating the Poor: The Function of Pubic Weltare, Nova Poor Peoples Movements, Nova lorque, Random Knowledge and Opinion about Law, Londres, Martin Robertson The Scope and Purpose of Sociological Jurisprudence, Harvard Vaw Review 24, p. 58,25, p- 440 Gewerkschattan und Rechtshitfe um die Jahrundertwende in Deutschland, Berlin, Wistenschattszentrum Contitt Sociali ¢ Giustzia, Bari, De Donato 36 Boaventura de Sousa Santos heinstein, M, (or9) Richter, W. Ruivo, F. Uoltao Marques, MM: Santos, B. 8. Santos, B.S Santos, B. 8 Santos, B.S. Santos, B.S Santos, 8. 8 Santos, 8. 8 Sevigny. F.C. Schubert, 6. Schubert, 6 (oro) ‘Schubert 6. Schubert, G. Selanick, P Shapiro, M s074 ser 1980 19828 19820 s9820 1983 joao 1960 1049 1975 Max Weber on Law in Economy and Society, Nova Forque, Simon & Schuster ‘Die Renter der Oberlandesgerichte der Bundesrepublik Eine Berute-cozialstatisone Analyso-, Hamburger Jahrbuch fir Wirtschatte und Gesellechaftsponti V Comunidade e Antropologia Juridica em Jorge Dias: Vilarinho ga Furna © Rio de Onors, Revista Crica 00 Ciénctas Socials 10, p. 44 Law against Law: Legal Reasoning in Pasergade Law, Cuernavaca, CIDOC The Law of the Oppressed: the Construction and, Reproduction of Legality in Pasargadas, Law and Society Review 12.0.8 20 Discurso @ 0 Poder. Ensaios sobre a Sociologia da Retorica Juridica, Boletim da Faculdede de Direit de Coimbra (Numero Especial) £0 Direito o a Comunidade: As Transtormagses Recentes da Natureza do Poder do Eslado nos Paises Gaptalstas avancadoss, Revista Critica de Ciencias Soeiais 10, p. 8 Law Stato and Urban Struggles in Recife, Brazil, Madison, University of Madison “A Participagao Popular na Administracao da Justigas in Sinateato doe Magistrados do MP. (1082), p. 83 0s Conflitos Uroanes no Recife: © Caso do Skylab, Revista Crea do Citncias Socials 11, p. Von Beruf unserer Zeit tir Gesetzgebung und ‘Rochiswissenschati, Heidelberg, Mont Constitutional Politics: The political Behavior of Supreme Court dustiees and tne Constitutional Poliores that they forque, Hott, inenarte Winston Judicial Decision-Making, Nova lorque, Free Press Judicial Behavior: A Reader in Theory and Research, Chicago, Rand McNally The Judicial Mind: The Attitudes and Ideologies of ‘Supreme Court Justices, 1946-1969, Evanston, Northwestern University Press IVA and tho Grass Roots, Berkeley, University of Chicago Pret Courts: in Polsby @ Greenstein (orgs) Handbook of Political Science, Reading, Mass. Addison-Wesley, vol. V. poste Sinacat don, apisttados do Me Toharia J Tohara, J Touraine, A, Touraine, A, Treves, R Troves, F. Trubek, 0. of al Ulmer, S Uimer, S Van Velsen Vaz, Pessoa Vico. Giambattst Weber, M Weisbrod, 8. iors.) 1974 1975 1965, 1973 1975 1960 1980 1904 1976 1953 1908 1977 Inivodugso & Sociologia da “Adminisracae da Justia ‘A Participagio Popular na Administrapao da Justice, Lisboa, Livios Horizonte Sensi eto ore ar Glustzia © Giudic! nella Socleta italiana, Gai, Laterza, 36a. e Introduzione alle Sociologia del Dirito, Milo, Einaudi 200: Legal Services and the Administrative State: From Public interest Law to Public Advocacy», n€ Blankenburg (org), 1980, p. 131 The Political Party Variable in the Michigan Supreme Court, Journal of Public Law 11, p- 982 sResearching the Supreme Court in a Democratic Plurals systom’ Some Thoughts on New Directions= Law and Pottey Quarterly yp. 53 The Politics of Kinship, Manche University Press Manchester Podores © Deveres do Julz na Conciiagao Jucteta ‘Coimbra’ Opere, Mildo, Ricardi Wirtschaft und Gesellschaft, Coldnia, Kiepenheuer © witsen obi intraet Law, Berkeley, Unversity of ‘Chicago Press 38 Boaventura de Sousa Santos Comentario de Aaro Laborinho Lucio ae Dison, Senro [No nosso panorama juridico @ judiciario @ Sempre de. saudar, ‘pola. sua_escassez, alguer, rapalng versando 8 SOCIOLO- IA DA ADMINISTRAGRO OA JUSTICA fe multo mais 0 € quando, como no caso prosento, se nao ‘rata de um wravaino Gualquer! Rareando entre nds a investigacao empi- fica que outros desenvolveram oportuna- manta, tom-se basiago a cultura por {Quesa, neste dominio, com broves abort ens do cunho ossoncialmente teorstico Imals voltadas para o estudo, indispensa Yel. 40 abjecto.e dos mstodaa a sociolo- ‘la, 69 que para o ensalo da sua aplieagso {usr na detinieda dos cantornos edo Contoudo dos problemas, quer na busca do solucoes alternativas que perma assq-os. & assim que, tambem ho dominio da. adminisiragao da justiga, uja crise so reconnece, a procura leg: {ima ¢'empenhada de viae alternativas 60 esgota, as mais das vezes, no. interior ormativa- do sieteme, ‘do, mesmo passo Que se atiibul ainda a activigace que a Garacteriza tragos de uma mitoiogia que ao encontra ja correspondencia nas aquisigses culturals dos Gitimos dois Ssculos. € assim que o debate om torno fas regras que héo-de paular os novos ‘guadros de organizagao judicieia, embora fieo nas suse intengoes Ge mudanca, se evolve em. esterlidage pratica, que. 0 ‘esenvolvimento da criee nao deka ludit E'por isso que a questo dove sair dos limites fechados das solucdes sistemsticas ‘acquiridas © partir em busca de novos Pressupostos. de ralz epistemolagica Giversa edo extracgao cultural geval, ‘capazes de estabelecerem um espago plus fFidimensional de investigagae onde 0 problema em analise readguira a sua Simensdo total de relagdo. delxando os mareos limitados do uma definigao ato mmistioa e pure Tomando como ponte de partida SINTRODUGAD A’SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAGAO DA JUSTIGy pxemple, 0 significado posta 40 steforgo dos poderes do julz na apre= Clagto da prove ‘9 na condugto do Bt0- Eesso», como Integrando algunas das reformas ocorridas nos. ltimos anos, ao ‘mesmo tempo que se coloca a questao da formagao do. magistrado sublinhando 0 papel que cate, tambem al entre nds. ao Gontre'de Estudos Juatcirios. {Arrancando a competéncia hoje conterida fos Tribunals enguant érgdos de sobe- Fania, de uma relagao de representagio Stiea' da propria Comunidade, navera cue fexigir'so daqueles nao apenas uma Intor- werigao de natureza formal, de moras arBI- {rose uma ealidade de confit cuja Soluede final se situs fora da componente Vineviada da decisdo a proferr, mas antes luma_acgao tecnica e moralmente com- prometida com o resultado final de cada Pleito enquanto exercicio, no cancreto. do {ntoresse geral postuiado na comunidade "2 do aumento Gos oderes do Tribunal ainda inciplentemente eonseguido, Situando-se, porém, a questao no dominio Uitime da aplicagae do dirata ao caso ou Conflito earecide de composigao, aquele Sumento de poderes nao podera deixar de Corresponder a paraeia adicao de instru mantos de conhecimenta # Se intormacas Que, justamente am face da naturere especitica da aplicacas judiciaria do Gireito, nade procuraree fora da cléncla ormativa e, priviegladamente, no campo as cléncias Socials, al elevando 0 papel ‘a atrbuir a soclologia Faz aqui sentido, por isso, 0 recurso & feterida distingae entre slaw In Books: @ “law in actions, fazendo corresponder § primeira a chameda seoeioiogi bra segunda a ssociologia 9 Assim, esta ganhe a dimens Verdadeira soeiologia judiciaria cu) Toudo se analisard om duas vertentes estruturais que Ihe marca’ 0 objecta fssencial: par um lado, enquanto sootolo: gia da administracdo da ustica em sentido Festrito,caber-ine-a-o estudo @ a erica do funcionamento ‘da maquina judiclaria ®, ‘em geral, dos tribunaia e bem assim © Eonthbuto para a adopao de novas solu 605. altornativas, “dada a sun especial Yocagao para a deteceao e dotinigao aas situagdes de bloquelo e do inslicacia Quantitatva © qualtativa. Por outro lado, fenquanto sociologia eral, do. ponto em ue so afirma como eléncia do facto na Sua expressao mals ampla de Incidéncia, historica, cultural, econémica e politica Como consequenci ‘concepeae interdiseipin {raga de justig ‘eter Ineldéncia na estera da organizacao juci- Cliria,institucionalizando-ce formas ¢ ns= {rumentos de intervengao adequ: No espaco material aa formagao. dé Imagistrados, nao dispensara um leque de materias 6 um metodo critica Ge abord: Gem capazos do os situarem cultural «© fechicamente Ao contibuto i elissco que a scicogia {9 airelto vom propondo essenciaiment artirdo eéculo XIX, acrosce agora, entre Fos, aquele gue se acivinha em fase. de piosao ado 0 acvento a Investigacao rien, por um lado, ¢ tendo em conta {ura cultural prépria de uma socie- Gade democtdtica, por outro propiciando Gampo vasto para © desenvolvimento de ‘Uma verdadeira sociologia da aplicagao do ‘ireto ‘Como exemplo fica js esta INTRODUCAO KSOCIOLOGIA DA ADMINISTRACAG DA JUSTIGA na’ qual se evidenciam’o rigor lentiiéo, °@ sentido erica © 0 cunno poltmico’ abrindo s discussao © pater Elando a diferenga sempre motivadora, Outros passos, por certo, se seguirto! = Comentario de Ricardo A. Velha Jie Desembargadoe Director da runeda ates 1. Para ultrapassar as desigu: que se opdem & prociam Jltfoica dos cldadaos, a Lel Fundamental Feconhece no seu arf. 20", em harmonia com 0 art. 13, que todos term 8 & todos © assegt ‘aco8s0 aoe tribunals para defess dos sous Gireitos, nao podendo a justiea ser dene {gada por Insuficiencia de meios econdmi- © ditsto ao dirsito @ acesso aos tribunais , pols, um direito fundamental constitu: tianalmente Feconhecico. We 80 tem feito em seu cumpr- ‘nemo! Nada, absolutamente nada. Continuamos, por isso, a reger-nos_pel Colm" 17/70, de'8 de dunno, da Assistoncta Judicidria, © respective Regulamento, aprovado pelo Becreto'n» 562770, do. 18 Imtrodugao a Sociologia da "Administragao da Justiga de Novembro. que visa apenas suprir as eticgncias economics de quem fom de recover aoe Tnbunale Dal a sua insuticiencia para responder ao preceita conatuconal” por noon Ponder aos aspectos séclo-culturals pos. foz'em relevo no trabalho de Boaventura de Sousa Santos, e que por 3" sho uma vreira @ democratizagao oa Justiga, Como 0 eutor demonstra. Mas mesmo no aspecto econémico, 0 Giploma 6 ineutilente, porgue nao as80- ura 20 assiatico uma fepresentatvence [bridice capae ® eiclentePaincipalmente porgue, ‘sem. © inentvo Ga. vamagem Seonémica que é 2 slavanca do exerseio decuma profieao liberal, o patrocino com SSsimarisi judiciaria 6 whercido, 68100 honrosna excepeées, num plano de inte. fease secuncarls, como um sever para Gue 0. advogado nde’ so sonte vocacio- flado:e porque normelmenteo confiado a fivogados OU estagierios Inexperientes, Seje ual fora natureza oa causa Ha cerca de vinte anos, quma comarca dos arredores do Lisboa, onde ocorriam Imuitas acgoes Ge divércio ‘ou de separ G20 [udlcisl de pessoas o bens, ndo con festadas.na sua generalidade, para Juris- Gicionalizar situagoes de ruptura ha mut Ultrapassadas por outras carencladas de legitimagao, ouviamos a fiat do ‘tribunal, Que Contacto. com as falguns advogados levavam dois mil escu= os. 30 pela simples obtengao da. assie- tenela judicisrial € assim era completa: frustado © fim do regime” aes Com @ explosdo da alirmagto dos direitos fundamentals em consequéncia do 25 de [Abril 0 dieto de. aoese0 no direito tor. lima expenencia de consulta uridica gr {ulta, cujo nivel de eficacia e de desenvol- Vimento foram sempre imitados, segundo Cremos, pols embora 2" prineipio vvida Em 19 de Outubro de 1978, o entdo (e actual) Ministre da Justiga, Dr Mario Rapose, Java poste a uma Comissao de [Acesso a9 Diraito, porque o «Direlto existe ara ser confecido © aplicada-. Ai reco- ‘hecia. relativamente ao direto a protwe= G40 Juridica, a existéncia de «multiples 39 Boaventura de Sousa Santos situagoes ao natureza economics, social, Cultural e mesmo psicologicas que, doma- yezes, a ultrapastams, © qua =a proteceo luridica pre-judicaria ou pars ludicaria nao esta, erie nos, logllali= vamente consagrada>. E perguniava: Informava nessa acasido que vem 2 de Margo de 1978, 0 Comite de Ministros 36 Conseiho da Europa emit uma Resolu- Go (78-8) sobre a Asistencia Judiclaria &, mais amalamente, sobre Consulta Juri- fica, que, tendo sido ace por Portugal ‘ira implicsr que, em prazo. previsivel: mente nao muito dilatado, 0 Ministerio da ‘Justiga tonha.de impulsionar um eonjunts {0 accoes, cesignadamento do caracter [Na mesma altura (Boletim M. J. 260, pag. Se'segs) 0 Presidente da ‘Comissas esignada, Dr. Angelo de Almeida Ribeiro, hoje Provedar do. Justiga e paladino dos Girsitos humanos, predisposto, como ‘isse, va apresentar um trabalho itil endo estinaco a ficar na gavetas, tanto mals ‘Que contava com ‘edhios © apropriasios festudos sobre a matéria, da Direcgto dos Negocios Juridicos do ‘Conseino oa Europes, © reconhecendo que -varios pa ‘3e5 europeus J possuem uma orga 40, mullo apereicoada’ e consiceram informagao Juridica dos cidadaos, © bem ima agsistencia judiclaria, como ‘ulenticos servigos publices, disponde de folgados orcamentos e fontes de receitar, rnd obstanie. 28 diiculdades 9 s0lugeo do probiama no nosso pals, por ndo ser Justo que 0 fosse 8 eusta dos advogados, ‘05 quale rejeitam a ideia de sociazagao 0 direlto. © que sdepols de um dia de Intenso e preocupante trabalne nem sem pre os advogados se encontram dlsponi= ‘ig para aretan do'bom samaritano- nao rejeitou 0 encarga porgue =o Gireito asaude, © Gireta a educagao, Droprio acesso A Justiga, sdo direitos fun Samontas duma Sociedade moderna» Em Portugal tem sido, pois, nz Optica dos advogados que exercem uma protissso Iiberal que o problema tom sido encarado, Certamente’ por isso, até hoje ainda nao {oi resolvido , contra os auspicios do Or. ‘Almeica Ribeiro, 0 trabalho a Comies’o ficou mesmo na gaveta. Ha que concur, portanto, que em tal Planes quostdo 6" sempre subordinada, como manifestacao de caridade a tavor S95, pabres, revelando-se uma antinomia feseenclal entre os inleresses da advocacia exereida como protiseao liberal e @ reali- Zagae do acesso 20 direto como direto fandament Por isso, embora sejam de lowvar e apoiar todas as iniciativas, da Ordem dot Advo- ‘pados ou de outras instituigoes particula: Fes, a somelnanga inclusivamente do que fcontece em varios paises ‘estrangeltos, om experiéncias muito intoroseantes, autadas por vezes por grande Idealisme sentigo 6s solidariedade social, no sane {ido de minarar as consequencias do incumprimento do. preceituado constitu- lonalmente, s0 a ctiagto de um Sorviga Nacional de Justica, como preconiza Bosventura de Sousa Santos, com ease ou eutro nome, pode correspancer & solugso 0 problema, dando lugar a um corpo. oe ‘advogados publicos ou oficioscs, sujeltos @ventualmente a cisciplina do Conselho Superior da Magistratura, onde terao os mas exercendo as respectivas. fungoes ‘Com um estatuto especitice, que garaia a Independencia, ibercado @ responsabilida de proprias, na estrita defesa dos diet onfladas, com respelto pela lel, como 88 desempenhadas pelo Nl. Pace sr jadieal, © Usuftuinds de uma smuneragao fixa paga pelo orcamento do Estado, em consideragdo ca dignicade da tuneao, ‘complotada ‘com uma remunera- fo varidvel a processar pelo Gabinete se Gesiao Financeira co Ministerio da Jus= tiga, com verbas proveniontes da procu Fadoria das custas Judieais, em unggo de ‘Uma pontuagao a determinar pelo numero © natureza de intervengoes. © serviga de onsultas seria organizado de modo a ‘arantir-a Sua genuinidade, © ndo seria Somitida a advocacia livre & tals advogae dos publices, embora se admitisse a feturcia para everederem pels eovocsola 86 através de um servico deste tipo e com largas obrigagoes no plano da informagao jusidiea se dard elective cumprimento: so fart 20° da Consttuigao da Republica Nao contra a Orem dos Agvogados. ins- {iio wadicional"na nossa, ewineagao, por isso como. 80u lugar: proprio, nas fom ela oa sou lado, 8 atl com a cua olaboracto, poraue la por a1 no pode Satistona’ todas ae necessidades soba. Todavis, nao vai ser tacll um empreenai- mento desta natureza, para 0 qual 6 fun- damental a vontade politica. Como afir- ‘mou, porém, © Dr. Mario Raposo no dia 79 Se Abril de’ 1965, nat seasag do Cold: Quio organizado pela Astociagto para Progresso do Direita em colaborscao com 2 Associagao Sincical dos. Magistrados dudicials, “€ 0 proprio Estado que deve intervie para ‘resolver’ os problemas 3a ‘Justia, Enquanto esta realidade nao ost ver resolvida, tere, por exemplo, de por parte a problematica do acesso ao Siretto- 2. A simplificagao operada com 0 diploma interealar de proceso. clvl (Decreto Lat ni=-242/85, de'8 de Julho) [a trouxe algu= mas vantagens na acoleragao processual, {endo embora indispensivel aprofundé-ta Toaavia. 0 volume de processos 6 de modo eiovade, afectando qualida ‘Juatiga e fornando desumane a vida. dos Julzes, que so-uma profunda e prioritaria laleragao da organizaga0 Juaiclaria pode onstiuir um avanea significative na Feso- Tugao da crise ga sustiga Como dizia 0 Consetheiro Rodrigues Bas- tos, durante uma mesa redonda realizada ho aia 5 de Novembro de 1985 no Contre te Estudos Judiclari, chamando a at G0 para as deficiencias da organizagao fagiciaria (ct. Tribuna da Justica, 13, Bi, 4) eae oe rege om ate Brganizagao juoiciaria éa egielagao do ‘a2! Mais de um século, duas grandes guerras mundiais, profundas transform: Goes socials @ economicas, tecnicas Erentticas, no,centro ada era da inform fica, e-em” Portugal os. tribunals eas comareas corresporidem praticamente a0 Que eram na epoca da monarguial Quanto @ organizagao interna dos tribu- ‘as basta ‘izer-se que, numa época em Que dovia ser obrigatoria palo manos. 4 Saculogratia de touas ae Gecisos Judie Glas, como requisito fundamental da sua Inteligibicace, since os julzes nao. dis- poem em seu auailio do servigo efectivo Ge simples dactlogratos para escreverem ‘3 suas contengas! Se 0 querem fazer, tern Glos proprios We aprender a fazé-lo! Importe, pois, como conclula 0 reterido Conselheira, retormar protundamonte, relundir por completo, 4 organizagac hudiciara.| Prepara-se, no Ministerio da. Justi nova Lei Oiginica dos Triounais Judicials, ue no pode, pelo que se vertica, cor ortar meras alteragdes de forma super {ruturals, se os responsaveis por ela que- rem etectivamente’dotar 0. pals. de"um Introduede a Socioloci ‘Administraca0 da Justiga bata resolver os problemas da st Mio apenas tazar mais um @iploms’ due Sein dherente do anterior Fundamental ¢ determinar, pela investiga (go sociologica adequada, quais as reals Gos judiclarias do pals, actuals fendencials, avaliar os meigs tecnicos, {ue se cispoe © que devem ser postos ao Servigo ‘dos tribunals, ponderar as r Capacidades 9 vendimanto a oxigi [izes em condigoes humanamente ‘vais, theando-se numeres de contig. (20 @ respeliar em correlagso com rsse, ara que os juizes nao soam as eternas \itimas da cesproporgao entre as neces iidades de as satista: estas condicoes, deser Volver um plano’ de reestruturagao ce Feorganizagio "dos tibunais ent moldes modernos eficiontes, para dar resposia Capaz as ne je dustiga da Sociedade global neste sentido que as sugestées de Boa- ventura ‘de Sousa’ Santos. merece em eral a nossa concoreéneia, porque Fopresontam um trabalho serio e de ele Vado espinto cientificg na busca de solu (008, aue bem merece ser compreendido S considerado nas allas esferas Ga politica Que conduz 0 pais, carecide que esta de Solugoes verdadelras. Dontro dos mesmos object amo aliciants a exper ataleles alternativas aos tribunals, nas Quais 2 conciliagao ® a aquidace sejam a Base de resolugdo das questoes, desde gue possam assentar na gratultidade de Intervengao © na conceseao de latos Poderes de averiquacdo a tals estruturas, Sem grandes exigencias formals, mas ‘oxcluslvamente no Ambito de agrupamen= {os socials diferenciados, Cromos que a tungao judicial 60 tends Valorlzaecte. socialment ‘los de alto signi atrimonial. Pelo contrari, burocratizarse 2 degrada-se na apreciacdo caudalosa Ge ‘quesides de menor significado, A Constituigso da Republica permite tals Getruturas altorativas. art 217 ne 2 ‘Todavie, estamos em erer quo no encon- trarao eco signiientvo no. melo juss, Tio 86 polos intoresses igados 8 adminis tragdo Hadicional da justice portuguesa mag pore noses sotedade. reve linda pouce propensao Ou contlanca pa Selnar de reconhecer & exclusiidade dos a 42 Bosventura de Sousa Santos tribunals como érga0s vocacionados para 2 definigdo de ltgios, © porque os pro Brios julzes nao esta predipastos psleo- fogicamente a admit que a Justiga posea ser slcangada fora do ambito dos Tribu ‘as, imtegrados de juizes de carreira, ou a Grbita da sua competéncia espectics, 3. Anténio Sérgio via no juiz o represen- tante do interesse goral (Democracia Gadernos da Sears Nova, Lisboa, 1938) Todavia, Jd Noje nao se disponsa & inves: tigagio socloldgiea noe planos da elabo- ‘da sua interpretagao © 0 ragao das Tels proprio Fado pola inivencia da factores ideclog Gos, culturals 9 socials do proprio Jule 2, Por isso. para que a Jus- ‘mals objectiva, que. se torna Ineiponsavel caca vor mas Uertar 9 Juiz para mals amplos connecimentos cas Giéncias socials, o que dusde logo na sua formagao dove sor considerado daciaive: mente, porque so assim esterao em cone Jigoe Ge poderom ultrapasear ss. suas proprias limitagoes no ampito da sua Tiberdade de livre apreciacdo das provas e gocisao conscionto da materia de ditto. Bogue, verdadeiramente 0 [uz indepen: dente € 0 que pode superar-se nas suas orspectivas e ‘interesses pessoas. para Alcancar os valores legals a proservar na Socisdo. que € 2 sua responeablidade Perante a sociedade global, que nele Goposita @ sua contianca {Quando da instituigdo do dlreito de prefe- fencla a novo artengamento pars habita fo, nos termos dovart 1 net, Go Becrato-Let n 420/76, do 28 so Malo ve 2 despeito de 0 relatorio do diploma dizer Sxprecsamente que scom 9 presente Siploma visecse garantir 0 vireito & habt tagaor das pessoas que habitavam a casa a'ata da caducidade do arrendamento or morte do arrendataro, logo se forma Fam duas correntes interpretatvas a nivel os, nossos {bunals Uma, consigerando {al aireto de preteréncta um direto potes- {ativo a novo arrendamento da peseoa nas Condigbes provisias peta ll em'relagao 80 Sennotio, o quo legitimava a sua posse, @ritando' 2 cesocupagao da casa ate & Gelobragao do contrato de arrendamento Sutra sorrento, slimertada por um puris- ‘mo coneeltual na tradi¢go des julzes mals Impermeavels & abertura sociologice, por tava na Interpretacae de que, tratando de um direito de preferéncia, s6 se padi fntendor no sentido ‘de haver aveito, ove arrendamento se 0 senhorio ve di usesse a arrendar a casa a terceira pes: 0a, depois de a mesma ter sido desocu- pada por todos cs ocupantes anteriores Nao vale a pene falar dos inconvenientes ue resuitaram desta altima interpre Mas'o certo.e que fol preciso nov: vengo legisiatva para'per cobro & ques {do como Decroto-Lsi n> 326/81, ded de Dezembro, que consagrou do modo mais explicto & existéncia de um direto pes S0al 8 nove arrendamento contra @ von tage do'sennorio. Eis um exemplo da importancia que cons- ftui, designadamenta, a formagao socio logiea dos juizes, e a razao por que deve Set fomortads mas tamoem revalacor Que 6 logisiador deve procurar sero mi Sxplicito. possivel na formulacao. do” 360 Pensamerto. So assim se poderd0 evitar Spreciacoes da_mentalidace dos. juizes ome a que thes faz b Professor Orlanao Go""Carvaino "em ~Alguns Aspectos da Negociacae do Estabelecimonton, (Rov. dt 9. Jur ano 114", pag. 360): ror priedade Imobilaria— que dstruta, ainda Roje, de_um enralzado’prestigio a0. nivel {a jucisdiedo em Portugal (e porvent sequela dessa ideologia Teudal Stransformadas de que, muito. aguda- mente, POUCANTZAS no flau) cam um entond mais ou mongs revanenista do" lavor que. a partir de 340 deu a0 ingulino comerciante Stesta‘na origem da resistencia dos Jule res. . Comentario de Vitor Wengorovius Aavogado 1. 0 estudo de Boaventura de Sousa San- tos 6/2 primeira incureao séria, om termes de Sociologia do Direto, em areas que se Ineluem no toma fundamental da Adminis: wage da Justiga Foi por isso com alegria que o fi A Optica tesrica do texto 6 manitesta- ‘mente intoressante, leventando questoes Socioldgicas que merecem aprotunos: ment, a5 quals, no entanto, nfo cabem fos limites deste despretoncioso comen- tro, Farei, por isso, apenas uma spreciagso basoada na exporigncla de advogado # de Benton que te fm preocupade com 2. No dominio do acesso & justiga muito, uase tudo, hd a fazer entre nos. As disposigdes legals relativas a assiston- la judieidtia, embora na Lei ns 7/70c6 figa que stem direito a assistencia todos ‘aqueles. que ‘se. encontrem em sitUaga0 feconémica que thes nao permita custear ‘3 despeces normals Jo ploita-, nao eon tem, nem nessa Tei nem no Regulamento da Assistencia Judiclari, formes elicazes {98 apurar quem tem verdadeiras razdes oo Fequerer ossa assisténcia. Sendo o sistema Daseado em meros requerimentos:soltos, Individuals, dos intoressados aos Tribu- fais, sem qualquer enquadramento nsti= {Ucional, suceae com frequencla, na pra tica, que a assisténcia e concesida a quem dela Doderia nao carecer ond ¢ cance: Sida & quem dota prociea Por outro lado, @ este ponte é aids salien- tedo no ensaio de Boaventura Ge Sousa Santos, nao ha qualquer alfusao publica fhem informagao' sulllente sobre estas materae, Quanto & nomeagao de advogacos,¢ feta pelo jug, em principio mediante escalas Siabotadis previamente (bal 1/70, ase Mitte Hegulamento ar. 18°) pela Ordem dos Advogados © pola Camara dos Sole {adores Mas’ variteanvse lmeneas deli clancies no sistema’ Por’ Um lado. a omengao"reea sobre qualquer ‘esses Pralissionals mesmo que nao esta iter fessaco nseo” ou no trabale hebituae mente naqueta aren juriciea Jo caso em uesito tha por exemple, nemeacces reaventes pare. o-patrocinio. de causas penal de protisionais que as mesmas se hao dosieam, nom estao asim dentro da svolugao em pormencr do respactiva Siete process) O-que nao pode deiner de gorar falta de, motivagao ou ale. do Breparagao especiica, Por outro lado no "Gm gor feta uma triagem doe casos © ‘requencia sso nomendos rm qualquer possibidede aga ou dete judi Acresce que embora se preveja que «a ecisao final da accao fixers os honors fos do advogaco ‘edo solletadar go [ssistido, que responders pelo pagamento, er seja vencido, quer vencedor~ (Ba: Beno, logo na Base x. da Let 7/70, diz que “A obrigagao, de pagamento ‘ustas © honorarios 6 ¢ exiglvel quando O-devador, beneticiario da assistencia, Aaquira meios que Ine pormitam of Walon para questoe Sera de col Introdugto & Sociologia da ‘Administragao da Justiga Em consequéncia, o defensor oficiaso poUuso ou naga Tecebe ® suporta mesmo 0 seu bolso muitas despesne (de deslo= faces, aaministratvas de escrtoro, de foletones, etc.)..1'© Estado, por sua ver, tem-se mantido ausente da concretizagao dosto =dirolto charnelrae, ressalvaca ape- fas a limitada intervengaa do poder judi= Cia atras anunciads ‘A Ordem dos Advogados ven propondo Gesde na varios. anos um sistema de agvocacia convencionada (uma das hipo= {esos moncionada no estuso am apracia= (Gio) sem quo tena havido qualquer res- Dosta oficial positiva, pelo menos a nivel pratico e publico Facontemente, diversos sectores de advo- (gados © juizes ou magistrados do Ministe- Fo Publica tom levartado a conveniéncia Je, se institu antes, pelo. menos nas ldades grandes (com advocacia conven Slonaga has restantes zonas), um sistema Somelhante ao que & deserito no ensslo de ‘de Sousa Santos o que vigore {em aticulagao tamibern com aigumas associacoes (ae. inguilinos, equenas propriearios, sindicals, peque hos. patrées). que tem tido.intervencto Bosivana concsseB0 de apoio consulivo Sjusictaro Trata-se portanto de um problema em aberto, de grande importanela, @ 20 qual Os divorsos. partidos #0 Goverao deviam Sedicer seria atengdo, Inicitivas recentes femeno lovantago na Ascomblela da Republica ee de esperar assim que. 2 uestdo passe a merecer um novo lhar 3. A administragao da justica vem sofren- do desde ha bastantes anos ja de um pie ‘meiro concicionamento tsica e outro Gul- {Ural altamente Iimitatvos da. sua_quall= dade: em grande parte por falta ck plano da formagaa, um significativo paseo fem frente). &. bar outro lado, quanto aoe funcionarics judiciais, nao sé ha tambem gho. 43 Boaventura de Sousa Santos randes obstaculos culturals pola tondsn- ia dominante de se ver essa Independén- Quais evitar, Convenient. Uma pequena lacuna do t Spreclago contre porvn edo papel dos aavogasos © seus cor dicionamentos e, ainday'6o\intrreiaco- amento. doe, diversos’ componentes Setivigade judietaria, de algum modo fase sempre, nistorisam @; Sint, "atorn gue ama ex cia potisional me faz supor scones. ar ur inicio de tatamento tebrco, a porque « aeiministarao da jutiga nba 8 Spenas fungao dos magstrados 5, Os mecanismos da resolugso dos con- fitos sociale om Portugal foram swvereos ® Ficos nos ultimos doze anos e estas expe Fiencias nao foram ainda suicientemente ‘estudaaas. Em qualquer caso a caréncia de diversiti= cagao dos Tribunals, com a criageo Go Tribunals (ou ate, para certos.canfltos equencs, utras insttulgoos) male se osm, especiaizados “¢ -descentralizados, Tevela-se, segundo creio e tenho profs: Sionalmente. sentido, como uma ofienta: ‘ea em quaiquer caso a. reter, para iy Sesignadamente. ao encontro ga enorme ‘diversidade @ diferent simportancias dos problemas. Sem duviga tambem sera cone Yeniente acentuar as experiancias de con: Cliggao (embora muitas vezes, na pratica, mal Fealzadas) 0 de arbitragem,

You might also like