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% -MISTORIA DO BRASIL a0 Estado. Esse movimento se caracteriza pela indefinigao dos espacos péblico € privado. Que significa isso? Significa que, se por um lado o Estado & penetrado por interesses parti- culates, por outro sua ago nao tem limites claros, decorrentes de garantias individuais dos cidadios. Os tragos do Estado patrimonial luso, onde tudo, em Giltima andlise, é patriménio do rei, ajustam-se aos tragos da sociedade colonial, na qual predomina a solidariedade familiar. ‘A familia ou as familias em alianga ~ ¢ aqui estamos falando de familias da classe dominante ~ surgem como redes formadas nio apenas por parentes de sangue mas por padrinhos ¢ afilhados, protegidos e amigos. Para a Coroa, 0 Estado é um patriménio régio € os governantes devem ser escolhidos entre os homens leais ao rei. Por sua vez, os setores dominantes da sociedade tratam de abrir caminho na maquina estatal ou receber as gracas dos governantes em beneficio da rede familiar. Por caminhos diversos, resulta disso um governo que se exerce no de ios acordo com padres de impessoalidade e respeito a lei, mas segundo crit de lealdade. A expressio “para os amigos tudo, para os inimigos a lei” resume a concepgio e a prética que descrevemos. O fato de que ela tenha sido atri- bufda a um presidente da Repiiblica mostra que estamos diante de um padrio de comportamento com longa vida na hist6ria do Brasil ECONOMICAS 2.17. AS PRIMEIRAS ATIVIDADES Hoje, o Brasil se caracteriza por conter regides muito diferentes entre si, ‘mas esse fato era ainda mais acentuado nos tempos coloniais, quando, além de tudo, as comunicagées eram dificeis e existiam dreas inexploradas ou des- conhecidas. 2.17.1. O AGUCAR Na sua faixa litorinea, 0 Nordeste representou o primeiro centro de colonizagao ¢ de urbanizagio da nova terra. A atual situago do Nordeste nio 6 fruto da fatalidade, mas de um processo hist6rico. Até meados do século XVIII, a regio nordestina, que era designada como o “Norte”, concentrou as atividades econdmicas e a vida social mais significativa da Coldnia; nesse férica, menos urbanizada, sem vinculagio periodo, 0 Sul foi uma area per direta com a economia exportadora. Salvador foi a capital do Brasil até 1763 €, por muito tempo, sua Unica cidade importante. Embora nao haja dados de populagdo seguros até meados do século XVIII, calcula-se que tinha 14 habitantes em 1585, 25 mil em 1724 e cerca de 40 mil em 1750, a metade dos quais eram escravos. Esses ntimeros podem parecer modestos, mas tém muita significado quando confrontados com os de outras regides: So Paulo, por exemplo, tinha menos de 2 mil habitantes em 1600. ‘A empresa acucareira foi 0 niicleo central da ativagao soi do Nordeste. O agiicar tem uma longa e variada hist6ria, tanto no que se refere 4 Seu uso quanto a localizagio geogréfica. No século XV, era ainda uma especiaria, utilizada como remédio ou condimento exético. Livros de receitas do século XVI indicam que estava ganhando lugar no consumo da aristocracia européia. Logo passaria de um produto de luxo para o que hoje chamarfamos de um bem de consumo de massa. Sob o aspecto geogrifico, a cana-de-agiicar teve um grande deslocamento no espaco. Origindria da india, alcangou a Pérsia € dali foi levada pelos conquistadores drabes a costa oriental do Mediterraneo, A seguir, 08 arabes a introduziram na Sicilia € na Peninsula Ibérica. J4 em 1300, vendia-se em Bruges (Bélgica) 0 agiicar produzido na Espanha. No século XV, a producao das virzeas irrigadas de Valéncia ¢ do Algarve (sul de Portugal) era co- mercializada no sul da Alemanha, nos Paises Baixos ¢ na Inglaterra, Vimos como a produgao agucareira fi ante nas ithas do Atlantico, onde se fez um verdadeiro ensaio do que viria a ser o empreendimento implantado no jo Brasil Nao se conhece a data em que os portugueses introduziram a cana-de- agicar no Brasil. Foi nas décadas de 1530 € 1540 que a produgao se esta- beleceu em bases s6lidas. Em sua expedigdo de 1532, Martim Afonso trouxe um perito na manufatura do agticar, bem como portugueses, italianos ¢ fla- mengos com experiéneia na atividade agucareira da Iiha da Madeira. Plantou- se cana € construiram-se engenhos em todas as capitanias, de So Vicente a Pernambuco, ™ _MsrORIS DO BRASIL Um dos objetivos centrais da criag2o do governo geral foi incemtivar a produgio na abandonada Capitania da Bahia. O Regimento de Tomé de Sousa continha uma série de preceitos destinados a estimular o plantio ¢ a moenda de cana, concedendo, entre outras vantagens, isengo de impostos por um certo tempo. Além disso, 0 governador-geral, ainda por determinagio do regimento, construiu um engenho de propriedade da Coroa em Pirajé, préximo a Sal- vador Na Capitania de Sao Vicente, Martim Afonso foi sécio, com portugueses e estrangeiros, de um engenho que talvez tenha sido 0 maior do sul do pais ~ 0 Siio Jorge dos Erasmos ~, nome derivado do alemao Erasmo Schetz, que 0 comprou dos $6 produgao de cana no Rio de Janeiro, especialmente na regido de Campos, teve jos originais. Hoje, existem apenas as ruinas do engenho. A também expresso, mas até o século XVIII a cachaga e ndo 0 agticar foi 0 principal produto obtido, sendo utilizada sobretudo como moeda de troca no comércio de escravos com Angola. Os grandes centros agucareiros na Colénia foram Pernambuco ¢ Bahia. Fatores climéticos, geograficos, politicos e econémicos explicam essa lo- calizagio. As duas capitanias combinavam, na regifio costeira, boa qualidade de solos e um adequado regime de chuvas. Estavam mais préximas dos centros importadores europeus e contavam com relativa facilidade de escoamento da produgao, na medida em que Salvador e Recife se tornaram portos impor- tantes, 0 ENGENHO A instalagao de um engenho constitufa um empreendimento conside- ravel. Em regra, abrangia as plantagdes de cana, 0 equipamento para processi- la, as construgGes, os escravos e outros itens, como gado, pastagens, carros de transporte, além da casa-grande. A operagdo de processamento de cana até chegar ao agiicar era complexa. Jé nos primeiros tempos, importava-se em capacidade administrativa e uso de tecnologia, aprimorada ao longo dos anos. \Varias fases se sucediam, passando pela extraco do liquido, sua purificagio € purgacZo, A cana era moida por um sistema de tambores, impulsionado por forga hidréulica ou por animais, Os engenhos movidos a égua, por seu maior tamanho e produtividade, ficaram conhecidos como engenhos reais. ‘oaRAsIL COLONIAL Py Tanto no Brasil como em Portugal nfo foram instaladas refinarias no perfodo colonial. O agticar do Brasil era chamado de barreado porque utili zava-se barro na sua preparacHo. Isso nao significa que fosse de ma qualidade. © acdicar barreado resultava tanto no agiicar branco, muito apreciado na Euro- pa, como no mascavo, de cor pardacenta, considerado, na época, de qualidade inferior. Desse modo, a técnica de se obter acticar branco com o emprego de barro compensava, em parte, a inexisténcia de refinarias. ‘A instalagio ¢ a atividade de um engenho eram operagdes custosas que dependiam da obtengao de créditos, No século XVI, pelo menos parte desses eréditos provinha de investidores estrangeiros, flamengos ¢ italianos, ou da propria Metropole, Posteriormente, no século XVII, essas fontes parecem ter- se tornado pouco significativas. Pelo menos na Bahia, as duas principais fontes de crédito vieram a ser as instituigdes religiosas e beneficentes, em primeiro lugar, e os comerciantes. Antes de 1808 nao existiam bancos no Brasil. Ins tuigGes como a Misericérdia, a Ordem Terceira de Sio Francisco, o Convento de Santa Clara do Desterro, além de suas funcdes especfficas, cumpritam 0 papel de financiar a atividade produtiva através de empréstimos a juros. Os comerciantes tinham com os senhores de engenho um relacionamento especial. Financiavam instalagdes, adiantavam recursos para se tocar 0 ne- g6cio ¢, pela propria posigao que ocupavam, tinham facilidade de fornecer bens de consumo importados. AS contas entre as duas partes eram acertadas no fim da safra, Muitas vezes os comerciantes aceitavam receber agticar em pagamento das dividas, mas a prego abaixo do mercado. A histéria final do comércio agucareiro escapava de mios locais e mesmo de maos portuguesas. Os grandes centros importadores estavam em Amsterdam, Londres, Ham- burgo, Génova e tinham grande poder na fixacdo dos precos, por maiores que fossem os esforgos de Portugal no sentido de monopolizar 0 produto mais, rentavel de sua colonia americana, ‘Vejamos agora alguma coisa sobre a estrutura social do engenho, co- megando pelos dois extremos: escravos de um lado, senhores de outro. Foi no Ambito da produgdo acucareira que se deu com maior nitidez a gradativa passagem da escravidio indigena para a africana, Nas décadas de 1550 ¢ 1560, praticamente no havia africanos nos engenhos do Nordeste. A mfo-de-obra dios era constituida por escravos indios ou, em muito menor escala, por provenientes das aldeias jesuiticas, que recebiam um salério infimo. Tomando ” ImsrORIA D0 Beast. © exemplo de um grande engenho ~ Sergipe do Conde, na Bahia registros sobreviveram até hoje, podemos ter uma idéia de como se deu a transigio. Em 1574, os africanos representavam apenas 7% da forga de tra- balho escrava; em 1591 eram 37% e, em torno de 1638, africanos e alro- + cujos brasileiros compunham a totalidade da forga de trabalho. Os em sua maioria nos pesados trabalhios do campo. A situagio de quem traba- Ihava na moenda, nas fornalhas € nas caldeiras podia ser pior. Nao era in- tivos realizavam um grande ntimero de tarefas, sendo concentrados comum que escravos perdessem a mao ou o brago na moenda, Muitos obser- vadores que escreveram sobre os engenhos brasileiros notaram a existénci de um pé-de-cabra e uma machadinha préximos & moenda para, no caso de um escravo ser apanhado pelos tambores, estes serem separados ¢ a mio ou brago amputado, salvando-se a maquina de maiores estragos. Fomathas ¢ caldeiras produziam um calor insuportivel, ¢ 8 trabalha- dores se arriscavam a sofrer queimaduras. Muitos cativos eram treinados desde cedo para esse servigo, considerado também um castigo para os rebeldes. Apes: © chegavam a “banqueiros”, um auxiliar do mestre-de-agticar, ou mesmo a ar de tudo, excepcionalmente, escravos subiam na hierarquia de fungdes mestre. Este era um trabalhador especializado, responsivel pelas operagées ade do acti Os senhores de engenho tiveram um consideravel poder econdmico, finais e, em tiltima andlise, pela qual social e politico na vida da Coldnia, Eles formavam uma aristocracia de riqueza e poder, mas ndo uma nobreza hereditiria do tipo que exist Europa. O rei concedia titulos de nobreza por servigos prestados ou mediante pagamento, Entre ids, exagerar a estabilidade dos senhores de engenho © mesmo su: to, esses titulos néo passavam aos herdeiros, Nao deve- mos, riqueza, generalizando para 0 conjunto de uma classe social aquilo que foi caracteristica de algumas familias, O negécio da cana trazia riscos, depen- dendo da oscilagaio de pregos, de uma boa administracio, do controle da massa eserava. Os engenhos foram mais permanentes do que seus senhores. Exis- tiram com os mesmos nomes por centenas de anos, porém mudaram varias veres de mios, Quem eram os senhores de engenho nos primeiros tempos? Algumas familias de origem nobre ou com altos cargos na administragao portuguesa, imigrantes com posses, comerciantes que se dedicavam ao mesmo tempo A atividade comercial ¢ & produgio. Bem poucos eram fidalgos ¢ nem todos catélicos de longa data. Cristios-novos estiveram bem representados entre os primeiros senhores de engenho baianos. De 41 engenhos cujos pro- prictarios puderam ter suas origens identificadas no periodo de 1587 a 1592, doze pertenciam a cristios-novos. Com o correr do tempo, a partir de muitos casamentos realizados entre as mesmas familias, os senhores de engenho se converte Seus membros mais prestigiosos trataram entdo de tragar uma genealogia que estabelecesse suas raizes nobres mem uma classe homogénea em Portugal Os senhores de engenho nao viviam isolados na plantation. Pela propria natureza e localizagio de sua atividade, geralmente proxima a um porto, estavam em contato com 0 mundo urbano € com um olho no mercado in- ternacional, Afinal de contas, sua riqueza dependia ndo sé je de tocar 0 negécio no Brasil mas dos pregos fixados do outro lado do Atlantico, capaci nos grandes centros importadores. Entre os dois extremos de senhores ¢ escravos ficavam 0s libertos € 08 trabathadores brancos que trabalhavam em servigos especializados como artestios (ferreiros, carpinteiros, serralheiros ete.) ¢ mestres-de-agicar. O grupo mais numeroso de homens livres cujas atividades ligavam-se ao engenho era 0 dos plantadores de cana, produtores independentes que nao possufam recur Sos para montar um engenho. Dependiam portanto dos senhores, mas as vezes tinham algum poder de negociar quando a produgio de cana nos engenhos era escassa, Raramente mulatos ou negros libertos foram plantadores de cana. Admitida essa exclusdo racial, 0 poder econdmico do setor variou muito. Havia desde homens humildes, cultivando pequenas extensdes de terra com 1m vinte ou trinta cativos e eram dois ou trés escravos, até outros que possui candidatos a senhor de engenho. ALTOS E BAIXOS DA ATIVIDADE ACUCARETRA Nio é exato falar de um ciclo histérico da produgio agueareira, como foi tradicional entre 0s historiadores. “Ciclo” dé idéia de surgimento, ascensio ¢ fim de uma atividade econdmica, 0 que certamente nfo foi 0 caso do agticar ou de outros produtos, como 0 café. O avango da exploragiio do ouro no século XVIII, por exemplo, no significou o fim da economia agucareira. E mais 2 {MISTORIS DO BRASIL adequado falar em conjunturas, ou seja, fases melhores ou piores, embora possamos dizer que, em meados do século XIX, 0 agticar deixou de cumprir papel dominante na economia do pais. dos vaivéns do negécio agucareiro, podemos cas de sua hist6ria no perfodo colonial, de- Sem entrar nas mindci distinguir algumas fases bé marcadas pelas guerras, invasdes estrangeiras e pela concorréncia. Entre 1570 € 1620 houve uma conjuntura de expansio, dado 0 crescimento da demanda nna Europa. por no haver praticamente concorréncia. A partir dai, os negécios se complicaram como conseqiéncia do inicio da Guerra dos Trinta Anos no continente europeu (1618) ¢, depois, por causa das invasdes holandesas no Nordeste. As invasdes tiveram em geral um efeito muito ne; necessério fazer algumas distingdes. A ocupagio de Salvador em 1624-1625 tivo, embora seja foi desastrosa para a economia agucareira do Recéneavo Baiano, mas nio para Pernambuco. Por sua vez, enquanto Pernambuco sofria as consequiéncias das lutas resultantes de uma nova invasio holandesa entre 1630 e 1637, a Bahia beneficiou-se da escassez do produto no mercado internacional € da conse- giiente elevacao de pregos. Na década de 1630, surgiu a concorréncia. Nas pequenas ilhas das An- tithas, a Inglaterra, a Franga e a Holanda iniciaram o plantio em grande escala, provocando uma série de efeitos negativos na economia agucareira do Nor- deste. A formagio de pregos fugiu ainda mais das maos dos comerciantes portugueses e dos produtores coloniais no Brasil. A produgao antithana, tam- bém com base no trabalho de escravos, gerou uma elevaciio do prego destes & incentivou a concorréncia de holandeses, ingleses ¢ franceses no comércio negreiro da costa africana. Nunca mais a economia agueareira do Brasil vol- taria aos “velhos bons tempos” Mas no periodo colonial a renda das exportagdes do agticar sempre ocupou 0 primeiro lugar. Mesmo no auge da exportagio do ouro, 0 agicar continuou a ser o produto mais importante, pelo menos no comércio legal Assim, em 1760 correspondeu a 50% do valor total das exportagdes ¢ 0 ouro 46%. Afora isso, no fim do perfodo colonial a produgdo teve um novo alen- to, no s6 na area nordestina, Medidas tomadas pelo Marqués de Pombal uma série de acontecimentos internacionais favoreceram a expansio. Dentre esses acontecimentos, devemos destacar a grande rebelido de escravos ocor- rida em 1791 em S40 Domingos, colénia francesa nas Antilhas. Durante dez anos de guerra, So Domingos ~ grande produtor de agiicar e café — saiu da cena internacional. No inicio do século XIX, produziam agticar, por ordem de importancia, a Bahia, Pernambuco ¢ o Rio de Janeiro. Sio Paulo comecava a despontar, mas ainda como modesto exportador. te colonial nfo foi sé ‘a econdmico e social, 0 Nord Do ponto de vi agticar, até porque 0 préprio agicar gerou uma diversificagdo de atividades, dentro de certos limites. A tendéncia & especializagao no cultivo da cana trouxe como conseqiéncia uma continua escassez. de alimentos, incentivando a pro- dugo de géneros alimenticios, especialmente da mandioca. A criago de gado esteve também em parte vinculada as necessidades da economia acucareira, Houve ainda outras atividades, como a extragdo da madeira ¢ 0 cultivo do fumo. 2.17.2, 0 FUMO © fumo foi uma significativa atividade destinada a exportagio, embora estivesse muito longe de competir com o agiicar. A grande regiao produtora ¢ no Recéncavo Baiano, em especial na érea em torno da hoje cidade histérica de Cachoeira. Produziram-se varios tipos de fumo, desde os mais finos, exportados para a Europa, até os mais grosseiros, que foram im- localizou-s portantes como moeda de troca na costa da Africa A produgio de fumo era vidvel em pequena escala, ¢ isso criou um setor de pequenos proprietérios, formado por antigos produtores de mandioca ou imigrantes portugueses com poucos recursos. Ao longo dos anos, esse setor cresceu ao mesmo tempo que crescia nele a presenga de mulatos. Uma amostra de 450 lavradores de fumo baianos, entre 1684 e 1725, revelou que somente 3% eram mulatos, enquanto em um estudo semelhante realizado no fim do século XVIII, esse percentual subiu para 27%. Seria equivocado porém pensar que nas plantagdes de fumo se con- ¢ média rural, ou seja, um campesinato vivendo centrou uma verdadeira cl do trabalho familiar, Houve grandes proprietérios que combinaram o fumo com outras atividades. Ntimeros levantados a partir de recenseamentos locais, indicam que pelo menos a metade dos lavradores era composta de escravos. 2.17.3, A PECUARIA A criagdo de gado comegou nas proximidades dos engenhos, mas a tendéncia & ocupagio das terras mais férteis para 0 cultivo da eana foi em- purrando os criadores para o interior. Em 1701, a administrago portuguesa proibiu a criagiio em uma faixa de oitenta quil interior A pecusiria foi responsavel pelo desbravamento do “grande sertio”. Os cria dores penetraram no Piaui, Maranhio, Paraiba, Rio Grande do Norte, Ceara e, a partir da dre sco, chegaram aos Rios Tocantins & ‘Araguaia, Mais do que o litoral, foram essas regides que se caracterizaram a perder de vista. No baiano maiores do que metros da costa para do Rio Sto Fran: por imensos latifiindios, onde 0 gado se esparram: fim do século XVI, existiam propriedades no se Portugal, e um grande fazendeiro chegava a possuir mais de 1 milhdo de hectares, Por muito tempo os historiadores acreditaram que, pelas caracteristis mais livres do manejo do gado, a populagio do sertio fosse composta so- bretudo de indios € mestigos. Estudos recentes constataram também ai a presenga de escravos de origem africana, ao lado da gente livre pobre, 2.18, AS INVASOES HOLANDESAS As invasdes holandesas que ocorreram no século XVII foram 0 maior Embora concentradas no Nordeste, elas conflito politico-militar da Coldnia no se resumiram a um simples episddio regional. Ao contrario, fizeram parte do quadro das relagdes internacionais entre os paises curopeus, revelando a dimensio da luta pelo controle do agticar € das fontes de suprimento de escravos A resisténcia ais invasées representou um grande esforgo financeiro & militar com base em recursos nio s6 externos como locais. Foi um indicio das possibilidades de ago auténoma da gente da Colénia, embora estivesse ainda Jonge a existéncia de uma identicade separada da Metrépole, Como diz 0 historiador Evaldo Cabral de Mello, a guerra foi uma luta pelo agicar e, sobretudo em seu tiltimo periodo, sustentada pelo agticar, através dos impostos cobrados pela Coroa. 0 oaasi.covoNtAL as A his(6ria das invasdes liga-se 2 passagem do trono portugués & coroa espanhola, como resultado de uma crise sucess6ria que pds fim a dinastia de Avis (1580). Na medida em que havia um conflito aberto entre a Espanha e os Paises Baixos, o relacionamento entre Portugal ¢ Holanda iria inevitavelmente mudar. Sobretudo, os holandeses nao poderiam mais continuar a exercer 0 lizagio do agicar. papel predominante que tinham na comerc Eles iniciaram suas investidas pilhando a costa africana (1595) e a cidade de Salvador (1604). Mas a Trégua dos Doze Anos entre a Espanha e os Pafses Baixos (1609-1621) deixou Portugal em situagio relativamente calma. O fim da trégua e a criagiio da Companhia Holandesa das Indias Ocidentais marcam a mudanga do quadro. Formada com capitais do Estado e de financistas par- ticulares, a companhia teria como seus alvos principais a ocupagao das zonas de produgio agucareira na América portuguesa e 0 controle do suprimento de eseravos, As invasdes comec: holandeses levaram pouco mais de 24 horas para dominar a cidade, mas praticamente nao conseguiram sair de seus limites. Os chamados homens bons refugiaram-se nas fazendas proximas a capital ¢ organizaram a resisténcia, chefiada por Matias de Albuquerque, novo governador por eles escolhido, pelo bispo Dom Marcos Teixeira. Utilizando-se da tatica de guerrilhas e com ‘a expansio dos invasores. Uma ram com a ocupacao de Salvador, em 1624. Os reforgos chegados da frota composta de 52 navios € mais de 12 mil homens juntou-se, a seguir, as tropas combatentes. Depois de duros combates, os holandeses se renderam, a por um ano, Europa, eles impediram em maio de 1625. Tinham permanecido na Bah O ataque a Pernambuco se iniciow em 1630, com a conquista de Olinda dos distintos. A partir desse episédio, a guerra pode ser dividida em trés per Entre 1630 e 1637, travou-se uma guerra de resisténcia, que terminou com a és sobre toda a regitio compreendida entre 0 Cearé afirmagao do poder holan € 0 Rio Sao Francisco, Nesse perfodo, destacou-se de forma nes Juso-brasileira, a figura de Domingos Fernandes Calabar, nascido em Porto Calvo (Alagoas), perfeito conhecedor do terreno onde se travavam os com bates. Calabar passou das forgas luso-brasileiras para as holandesas, tornando- se um eficaz colaborador destas, até ser preso e executado. O segundo perfodo, entre 1637 € 1644, caracteriza-se por relativa paz, relacionada com 0 governo do principe holandés Mauricio de Nassau, que foi iva, na visio

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