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CAPITULO * DOTS FuNGAO DO ENSINO DE FILOSOFIA DA EDUCAGAO EB DE HISTORIA pA Epucacao |. Como se pode ver pela programacao deste Encontro,' o tema central gira em torno do magistério de Filosofia da Educagao e de Historia da Educagéo. Como profissionais que atuam nessas areas, reunimo-nos, pois, para debater o préprio sentido daquilo que estamos fazendo. Por que é importante analisarmos mais profundamente (2 em conjunto) o trabalho que estamos desenvolvendo no momento atual? Se fizermos um levantamento rapido dessas disciplinas do ponto de vista do lugar que ocupam na organizagao dos cursos, veremos que, em relagdo ao curso de Pedagogia (onde sio obrigatorias, j4 que figurarn no curriculo minimo aprovado pelo CFE), veremos que hi trés situagdes basicas com as quais os professores podem se defrontar. Com efeito, temos alguns cursos em que Histéria e Filosofia da Educagao constituem uma Unica disciplina; hd outros, porém, em que ambas sao dadas em separado, permitindo-nos detectar as seguintes situagGes: |. professores de Historia e Filosofia da Educa¢ao; 2. professores de Filosofia da Educagao; e 3. professores de Historia da Educagao. Ora, em cada uma dessas situag6es a organizagao progra- matica da (ou das) disciplina(s) vai assumir matizes diferentes. Se sairmos do curso de Pedagogia iremos verificar que a disciplina Filosofia da |. Palestra proferida no IX Encontro da Associagéo de Professores Universitarios de Filosofia e Historia da Educagao, realizado de 22 a 24 de julho de 1974, em Sao Paulo. 26_Epucacio: Do Senso Comum A Conscifncla FILOSOrica Educag&o aparece (se bem que nao em carater obrigatério) com uma certa freqliéncia nos cursos de graduaco em Filosofia, assumindo af uma conotacio diferente, pois nao é a mesma coisa lecionar essa disciplina para alunos de Filosofia e de Pedagogia. Além disso, a disciplina Filosofia da Educagao tem sido colocada ultimamente (e também aqui nao em carater obrigatério) nos cursos de Licenciatura, assumindo também af uma conotacao diferente. Com efeito, a referida disciplina sera desen- volvida durante um semestre apenas, para alunos de diferentes cursos: Letras, Geografia, Histéria, Matematica, Fisica, Ciéncias Sociais, Psicologia, etc. Quanto a disciplina Histéria da Educagao, esta ndo aparece em outros cursos que no ode Pedagogia, pelo menos com uma freqliéncia que merega uma mengao especial Em face dessas diferentes situagdes, vamos verificar que hé um problema comum. E deste problema que nds partiremos. Ha uma tendéncia a se colocar a énfase na primeira palavra da locucao — uma énfase seja na filosofia, seja na historia — ea segunda palavra — a educagao — aparece como um apéndice, como uma mera conseqiiéncia. Constatamos, pois, que o professor de Filosofia da Educagao estA preocupado com a "filosofia'; ele esta preocupado em "dominar" aquilo que se chamaria 0 campo da Filosofia, da mesma forma que o professor de Histéria da Educagao esté preocupado em dominar o campo da Histdria e a Educagao acaba ficando na penumbra. Em conseqtiéncia desta énfase na primeira palavra da locugdo, pode-se notar que mesrno esta primeira palavra nao é suficientemente caracterizada, quer dizer, enquanto se est4 preocupado com a filosofia (como professor de Filosofia da Educagao), enquanto se est4 preocupado coma histdria (como professor de Histéria da Educagao) nao se chega a explicitar suficientemente 0 que significa Filosofia eo que significa Historia. Nesses casos, eu, como professor, entendo a Filosofia como alguma coisa jd constituida e que é preciso dominar para poder dar conta da minha tarefa; trata-se, pois, de alguma coisa que esta fora de mim; qual o seu significado, isto é algo que nao surge a mim como problemiatico. A Filosofia é entendida como tendo, 'a priori", um significado préprio e isto nao é passivel de questionamento. O que se questiona é como posso eu dominar o campo que a Filosofia abrange. O mesmo se diga em relago a Historia. Em face desta situagao, tanto a Filosofia como a Historia acabam por ser encaradas segundo a perspectiva tradicional, sem que seja explicitado suficientemente o significado de cada um desses termos. Em conseqiiéncia, 0 professor acaba se detendo nas abordagens comumente feitas sob FUNcAO DO ENSINO DE FILOSOLIA DA Epucacio... 27 onome de Filosofia e sob o nome de Historia, sem refletir mais profundamente para verificar se aquilo que est4 recebendo o nome de Filosofia merece precisamente este nome ou ndo; o mesmo se diga em relagio a Historia — por exemplo: no caso da Historia da Educacao, é possfvel que o professor desenvolva uma programacio partindo dos acontecimentos e se detendo numa historia das doutrinas pedagdgicas. Nesse caso, 0 seu problema como professor de Historia da Educagao sera como se pode dominar todo o contetido das doutrinas pedagdgicas que foram desenvolvidas através da Historia. Cabe, porém, perguntar: o objetivo de um curso de Histéria da Educagao se esgota na exposigao das doutrinas pedagdgicas? Ou, em outros termos: a exposigdo das doutrinas pedagdgicas, a mais ampla possivel, é que permite que se atinja o objetivo do ensino de Histéria da Educagao? Estamos de tal modo obsorvidos pela necessidade de conhecer quais sdo essas correntes e de transmitir esses conhecimentos para os alunos que nds nao nos indagamos se fazer Histdria da Educagao e se ensinar Histdria da Educacio € isto, ou se nao seria outra coisa. 2. Apartir da situagio detectada no tépico anterior, podemos caracterizar-as trés linhas basicas que nos parecem assumir os programas destas duas disciplinas: Filosofia da Educacio e Histéria da Educagao, sejam elas ministradas separada ou conjuntamente. Uma primeira forma de se organizar a programagao consiste em se filiar a uma determinada corrente ja constitufda, a um pensamento ja elaborado — neste caso, a Filosofia da Educacao serd ministrada, por exemplo, na perspectiva do existencialismo, ou do pragmatismo, ou do tomismo, etc. A segunda forma se caracteriza pela postura eclética. Em vez de se filiar a uma corrente, levam-se em conta todas as correntes; isto pode ocorrer tanto em sentido diacrénico como em sentido sincrénico, ou seja, tanto na sucessao cronolégica das correntes através dos tempos, como na coexisténcia de diversas correntes no mesmo tempo — no caso da Filosofia da Educacao constata-se, entdo, a preocupagio de se mostrar © pensamento grego, o pensamento medieval, as correntes do pensamento modemo e do pensamento contemporaneo. A justaposigio das diferentes correntes constitui o que estamos chamando de postura eclética. Por vezes, em face da dificuldade de se abranger todas as correntes, tenta-se, pelo menos, expor as correntes mais préximas de nds, elaborando-se a Programagao na base da exposigao das correntes do pensamento contemporaneo. Neste caso, temos a predominancia do plano sincr6nico; a postura eclética, todavia, continua prevalecendo. 23 Epueacio: Do Senso Comum A ConscifNcIA FILOSOrICA No caso da Histéria da Educagio, a énfase na primeira palavra da locugao acaba por fazer predominar (talvez pelo fato mesmo de ser Historia) a diacronia, Quando se concentra a atengo nas instituigGes educacionais, passa-se, entao, em revista essas instituigdes desde a antiguidade grega até a poca contemporanea Cabe registrar ainda uma terceira forma que decorre do desejo de se escapar as duas alternativas antes mencionadas. Nao querendo se filiar previamente a determinada corrente, e buscando evitar também a postura eclética, alguns profes- sores procuram novas saidas, organizando programas, por exemplo, a partir de temas, na forma de seminarios, estimulando os alunos a constituirem grupos de estudo por sua prépria iniciativa, etc. Tais tentativas, porém, via de regra, resultam inconsistentes e um tanto frustradoras. Como superar o problema? Deverfamos optar por uma corrente? E como optar? A opgio vai implicar o conhecimento das diversas alternativas para que ela seja consciente; empreender-se-A, entdo, um exame sério, profundo, de todas as correntes para que se possa optar? Em face dos alunos: coloco-os diretamente dentro da minha opgao ou deixo-os livres para fazerem a sua op¢ao? Neste caso, a trajetoria que eu empreendi para chegar 4 minha opgao deveria fazer com que os alunos também a percorressem para fazé-los chegar & sua opgao? Como, nesse caso, abordar todas as correntes num tempo curto e como escapar a postura eclética? Estamos diante de uma situagao problemitica e que justifica a colocagao do tema deste encontro, bem como o tema desta palestra. Areflexio desenvolvida até agora em termos de constatagao da situag4o concreta em que os professores de Historia e Filosofia da Educagao esto, evidenciou que em face das locugées "historia da educagio" e filosofia da educagao", a énfase era dada na primeira palavra em detrimento da segunda. Para efeitos desta palestra, proponho que se coloque a énfase na segunda palavra e se veja até onde se podera caminhar com esta reviravolta no enfoque da(s) disciplina(s) que constitui(em) a nossa preocupacao e a nossa rea de atuagao profissional. 3. Centremos, pois, a nossa atengao na educagao e a partir daf procuremos abordar a Filosofia e a Histéria. Ao se propor isto, pode ser langada uma questdo: nés no estamos passando de uma hipertrofiaa outra? Se se hipertrofiava a primeira palavra, vamos hipertrofiar a segunda e deixar na penumbra a primeira? Nao estarfamos, neste caso, sendo tio unilaterais quanto na situagao antes analisada sendo, em conseqtiéncia, alvo das mesmas criticas e enredando-nos nos mesmos problemas antes levantados? Fungo po ENsINo br BiLosoriA pA Epucacao... 29 No entanto, se centrarmos nossa aten¢4o na Educacao, ou seja, na problematica educacional, possivelmente teremos, a partir dai, condigGes para esclarecer o significado da Filosofia e da Historia; em conseqliéncia, a primeira palavra da locugao ndo ficaré na penumbra, mas ao contrario, se desvelard e irrompera com toda a forga que lhe é prdpria. E por que isto? Porque a Filosofia nao se exerce no vazio, da mesma forma que a Histdria nao se dé em abstrato; quer dizer, a Filosofia é uma atitude que se dirige a algo e a Historia 6 uma historia concreta, portanto, histéria de alguma coisa. Se nds nos preocuparmos com a problematica educacional, tentaremos examinar a partir dai em que a Filosofia pode ajudar a esclarecer os problemas da eduaagio e em que a Histéria pode nos ajudar a entender esta problemitica educacional que nos preocupa. Com efeito, se tomamos, por exemplo, a Filosofia, verificamos que 0 seu objeto sao os problemas que surgem na existéncia humana. Se estamos preocupados com a Filosofia da Educagao, a filosofia s6 tera sentido na medida em que nos permitir explicitar a problematica educacional. Se ela ocultar a problematica educaconal nao estara contribuindo para preencher a sua prdpria fungio e como tal estard se traindo enquanto filosofia. Se voltarmos aquela atitude inicial — énfase na primeira palavra — que acabava por tornar o seu sentido nao suficientemente caracterizado, veremos que, partindo de um pensamento ja elaborado, ndo estamos desenvolvendo uma reflexdo e, como tal, nado estamos filosofando. Os resultados da reflexao filosdfica nao sao a reflexao filosdfica, apesar da tendéncia freqiiente de se tomar os resultados pelo préprio processo. A Filosofia da Educacio s6 poderd prestar um servico a formagio dos educado res na medida em que contribuir para que os educadores adotem esta postura reflexiva para com a problematica educacional. Se, ao contrario, nds, enquanto educadores, nos limitarmos a tomar conhecimento de determinados resultados a que se chegou a partir de determinadas reflexdes, entéo nao estaremos desenvol- vendo a reflexao filosdfica propriamente dita, vale dizer, estaremos abdicando da tarefa prépria da filosofia. Logo veremos que consideracées semelhantes podem ser feitas em relagao a Histria da Educagao. Parece-me, pois, que a nossa preocupac¢ao, enquanto profissionais ligados a Filosofia da Educagdo e a Histéria da Educagao, devera estar concentrada na problematica educacional. Sem isso, estaremos traindo nossa propria atitude filosdfica ou histérica. E neste sentido que poderemos superar a hipertrofia tanto do primeiro 30_Epucacio: Do Sinso Comum A Con como do segundo termo, porque af recuperaremos 0 sentido da locugao como tal. } ‘Trata-se, com efeito, de Alosofia da Educagao e nao simplesmente de Filosofia (porque neste caso a propria Filosofia se esvaziaria); nao também da Educagao sem a postura reflexiva (porque neste caso a Educa¢ao nao seria um processo intencio- nalmente conduzido). No easo da Histéria da Educagio, temos a mesma situagao: trata-se de Historia da Educacdo e nao de Historia (porque neste caso também o nosso projeto se esvazia) e nem apenas de Educagao (porque neste caso ela seria desenraizada). O concreto é histérico e para dar conta da problemitica concreta da educagao € necessdrio assumir a postura histérica. Vé-se, pois, que, a partir da abordagem indicada acima, teremos uma unidade dos dois termos da locugdo; uma unidade sem ambigtiidade. Portanto, nao se trata de flutuar ou oscilar entre um projeto filosdfico e um projeto pedagdgico; um projeto historico e um projeto pedagdgico. As ambigliidades, flutuagdes e oscilagoes podem ser superadas se e somente se a nossa aten¢ao se concentrar na problematica educacional concreta. Tlatitude é 0 constitutivo essencial da Filosofia, o que pode ser ilustrado através dos exemplos mencionados na histdria do pensamento humano. Se tomarmos, por exemplo, Aristdleles, Platéo, ou outros pensadores reconhecidos como filésofos, veremos que tais pensadores fizeram filosofia exatamente na medida em que pensaram os problemas de sua época. Hoje, quando tomamos contato com os resultados do pensamento aristolélico, tais produtos aparecem como algo acabado, como algo ja constitufdo, parecendo possuir existéncia autnoma, independen- temente do processo que 0 gerou; no entanto, a filosofia de Aristoteles é 0 processo de reflexdo que ele desenvolveu para chegar a esses resultados. Se nds assumimos a atitude filos6fica, cumpre-nos desenvolver um processo de reflexdo sobre os problemas que a nossa época esta colocando; e se se trata de filosofia da educag&o, isso implica assumir a atitude de reflexéo sobre os problemas educacionais que a nossa situag&o concreta esta nos colocando. Transmissao pura e simples dos resultados da reflexao de Aristoteles, da reflexao de Kant, da reflexao de Sartre, e assim por diante, nao constitui propriamente a tarefa da Filosofia. Exemplifiquemos 0 que foi dito acima, com uma referéncia ao pensamento de Kant. O problema com que Kant se preocupou era, efetivamente, um problema fundamental na sua época. Formado na tradigao racionalista que vinha de Descartes, Funcio no ENsINo pis Fitosoria pA Epucacio..._ 31 absorvendo os conhecimentos de Leibniz através de seu mestre (Wolff), Kant entrou em contato com o pensamento de Hume que, segundo suas préprias palavras, o despertou do sono dogmatico em que vivia, acreditando que a perspectiva racionalista eraa perspectiva valida. Na medida em que entra em contato com a obra de Hume, que colocava os problemas numa perspectiva diversa daquela em que(Kant Ravia sido formado, entao ele se defronta com um problema capital que pode ser expresso nos seguintes termos: como se explica ° conhecimento? 0? Segundo a perspectiva racionalista ou segundo ape perspecti ‘al Ao lado disto, Newton acabara de sisternatizar a ciéndia fisica e ao mesmo tempo em que ele — Kant — travou conheci- mento com os debates dos fildsofos, vale dizer, com as conclusdes contraditdrias a que eram conduzidos os filésofos, ele notava a objetividade da ciéncia fisico- matemiatica na forma como havia sido exposta por Newton. Em face da situag4o acima descrita, Kant se colocou a questao fundamental: como € possivel o conhecimento humano? Observe-se que ele nado perguntou se era possivel o.conhecimento humano; isto, com efeito, j4 nao era problema em sua época, uma vez que os éxitos da ciéncia fisico-matemiatica estavam ai para evidenciar que era possivel o conhecimento humano. Con a possivel, af estava o problema ~e toda a sua reflexdo se desenvolveu no sentido de explicar esse problema. Hoje, ao expormos o pensamento de Kant, via de regra, aquilo aparece com um grande teor de aridez e na medida em que os alunos nao tém sequer esse referencial historico, mais arido ainda se torna aquele pensamento que, enquanto vivo, estava revestido de todo um dinamismo e de todo um significado; agora, porém, ja constitufdo e acabado e langado a alunos que nao estéo preocupados dado que em sua existéncia nao irrompeu o problema kantiano (como é possivel o conheci- mento humano’), entdo a exposicao do pensamento de Kant além de dificil de ser acompanhada se torna estéril e, ao fim e ao cabo, se torna anti-filoséfica; em vez de formar uma atitude filosdfica, deforma o sentido da palavra, e por vezes chega até mesmo a criar uma atitude negativa em face da Filosofia. Trata-se, com efeito, de uma situagao relativamente familiar a diversos professores, qual seja: ao iniciar um. curso de Filosofia da Educagao, defrontam-se com alunos que se colocam, “a priori", numa atitude negativa em face da Filosofia; nesses casos, necessita-se de um desgaste razoavelmente grande para quebrar, primeiro, esses preconceitos em face da Filosofia a fim de poder, posteriormente, desenvolver um trabalho positivo no sentido de desencadear a atitude filos6fica nos alunos. O fundamental, portanto, é que os alunos assumam essa atitude filos6fica; que © Comum A Consciincia FiLosonica 32_Epucacio: Do St eles sejam capazes de refletir sobre os problemas com os quais eles se defrontam e, No caso da Educagao, que eles sejam capazes de refletir sobre os problemas educacionais. ~ No que diz respeito a Historia. da Educagao, verifica-se fendmeno semelhante: a Historia, por obra da hipertrofia da primeira palavra da locugio, acaba por nao ser compreendida, 0 seu significado acaba por nao ser explicitado claramente; assim, a Histéria acaba sendo absorvida no sentido tradicional de seqliéncia de fatos ou seqiiéncia de idéias, resumindo-se a uma mera cronologia. Ao se reduzir a Histdria a uma seqliéncia de fatos ou de idéias, ocorre af um agravante maior: tais fatos (ou idéias) acabam por se resumir naquilo que eu chamaria de "fatos de supra-estrutura’, isto é, aqueles fatos que se evidenciam mas que ndo explicam 0 processo historico concreto, sendo, ao contrario, explicados pelo processo histérico concreto. Em conseqiiéncia, o ensino da Histéria, em lugar de explicitar 0 mencionado processo, apenas expde os fatos de supra-estrutura, resultando, daf, 0 carater ins{pido de que se reveste esse tipo de ensino. Ea Historia, a semelhanga da Filosofia, acaba por se tornar, também ela, uma disciplina “chata’, uma vez que serAnecessdrio reter uma série grande de fatos (ou de idéias) geralmente desprovidos de sentido; assim, a memorizacdo acaba sendo o recurso de que o aluno (e por vezes 0 professor) langa mao para se situar em face do problema da Historia. Usando de uma imagem, poderfamos descrever o processo histérico por analogia com o teatro. No cenario da Histéria temos os atores € os autores da Histéria, do mesmo modo que numa pega teatral temos os atores eo autor da peca. O autor nao aparece; no entanto, a obra é sua e os atores representam aquele papel que Ihes foi designado na trama da pega, trama essa que é obra do autor da pega. Para os expectadores, os atores estdo em evidéncia e sdo por vezes cultuados, surgindo como idolos. Em contrapartida, os autores estao ocultos nos bastidores, ficando, geralmente, na penumbra, quando nao sao totalmente esquecidos. Na Historiografia temos, pois, o seguinte fendmeno: os fatos de bastidores que sao os fundamentais, dado que nos permitiriam compreender o que esta acontecendo, tais fatos nao sAo explorados suficientemente, enquanto que os fatos de supra-estrutura (ligados & imagem dos atores) so mencionados numa seqliéncia cronolégica sem que se entenda bem porque em determinado momento quem esteve em evidéncia foi este ator € nao outro e que papel representava este ator; Fungio po ENsINo pi Finosoria pA Enucagio... 33 quer dizer, que forgas ele estava representando, forgas essas que nos permitiriam compreender qual a matriz basica daquele momento histérico. Dessa forma, a Historiografia tende a se resumir na apresentagao de uma série de nomes, fatos e datas e o recurso para se reter esses dados tera que ser a memorizagao mecanica, uma vez que a compreensao da trama da Historia se perde. Ora, a compreensao da trama da Histdria sé sera garantida se forem levados em conta os "dados de bastidores', vale dizer, se se examina a base material da sociedade cuja historia esta sendo reconstitufda. Tal procedimento supde um processo de investigag4o que nao se limita aquilo que convencionalmente é chamado de Histéria da Educagao, mas implica investigagdes de ordem econémica, politica e social do pais em cujo seio se desenvolve o fendmeno educativo que se quer compreender, uma vez que é esse processo de investigagao que fard emergir a problematica educacional concreta. Na medida em que nés, professores de Histéria da Educagao, assumimos essa atitude de investigagao; na medida em que nés, em face dos alunos, estimulamos esta mesma atitude, eis como estaremos contribuindo efetivamente para o avango do campo de conhecimento que constitui a Historia da Educagao e, no nosso caso especifico, para o desenvolvimento da Histdria da Educagao Brasileira. 7 “~~ 4, Em concluso, cabe observar que um curso de Filosofia da Educagao ou de Histdria da Educacao assumira caracteristicas marcadamente diversas das tradicionais, se nds, enquanto professores, nos colocarmos na perspectiva apresentada neste texto. Tal mudanga de perspectiva sé serd possivel, obviamente, se estivermos empenhados em assumir até as Ultimas conseqiiéncias o papel que nos cabe na drea de Filosofia da Educagao e/ou Hist6ria da Educagao. Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (C4mara Brasileira do Livro, SP. Brasil) Saviani, Dermeval, 1944 - Educag3o: do senso comum a consciéncia filoséfica/Dermeval Saviani. 13. ed. —Campinas, SP : Autores Associados, 2000. — (Colegao educagéo contemporanea) Bibliografia. ISBN 85-85701- 22 - 6 |. Educago - Brasil 2. Educagao e Estado 3.Educagao - Filosofia |. Titulo. IL. Série. 95-5063 CDD-370.1 Indices para catalogo sistematico: |. Educagao : ilosofia 370.1 PEdiggo - 1980 Impresso no Brasil ~ abril de 2000 Copyright © 2000 by Editora Autores Asociados Depésito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto n* 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Nenhuma parte da publicagdo poder ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, seja eletrénico, mecinico, de fotocépia, de gravagio, ou outros, sem prévia autorizacdo por escrito da Editora. O (Cédigo Penal brasileiro determina, no artigo 184: “Dos crimes contra a propriedade intelectual Violagdo de direito autoral Art. 184. Violar direito autoral Pena— detenglo de trés meses aum ano, ou muta, 12 Se a violagéo consstirna reproduséo, por qualquer meio, de obraintelectual,no todo ou em parte, para ins de comércio, sem autorizaco expressa do autor ou de quem o represente, ou consist na reprodusao de fonograrna e videograma, sem autorizagéo do produtor ou de quem o represente: Pena — recluséo de um a quatro anos e muta.”

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