Astrocinhas Do Bom Retiro PDF

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Pro-Posigees, v.15, n. | (43) = jnvabr 2004 As “Trocinhas” do Bom Retiro! Conthibuicdo a0 Estuao Foleldrico @ Sociolégice aa CCuttura @ dos Grupos infantis loretan Femander Prefacio O folclore, durante tanto tempo abandonado aos amadores, seus dinicos estu- diosos, tornou-se hoje uma cigneia, que tem suas regras, seus métodos, e que exige de quem a estuda qualidades especiais. Ninguém mais fez, para transformar o folclore em ciéncia, que Mirio de Andrade. Hoje, ergue-se uma pléiade de jovens pesquisadores, dos quais muito se pode esperar. Entre eles: Florestan Fernandes. O dominio que ele aborda, no estudo que se segue, é um dominio bastante negligenciado, o do folclore infantil. E é preciso reconhecé-lo: hé entre o mundo dos adultos ¢ 0 das criangas como que um mar tenebroso, impedindo a comunica- ‘0. Que somos nds, para as criangas que brincam 20 nosso redor, seno sombras? las nos cercam, chocam contra nés; respondem s nossas perguntas, num tom de condescendéncia, quando fingimos interessar-nos por suas atividades; mas sente- se, perfeitamente, que, para elas, somos como os méveis da casa, parte do cosmos ‘exterior, ndo pertencemos a seu mundo, que tem seus prazeres e seus softimentos. Ends, os adultos, vivemos também dentro de nossas préprias fronteiras, olhamos as eriangas brincar, repreendemo-las quando fazem muito barulho, ou, se deixa- mos cair sobre seus divertimentos um olhar amigo, ndo é para eles que olhamos, mas, através deles, para as imagens nostilgicas de nossa infancia desaparecida. T.Wabatho escrto em 1944, para 0 concurso "Temas Braseos", nsttuldo pelo Departamento de Cultura do Gremio da Faculdade de Flosofi, Ciéncas Letras, ganho palo autor no Abita {a Seo de Ciéncias Soca; pubitado, posteriormente, com preci de Roger Basie, pela evista do Arqato Municipal. CXIl, Departamento de Cutur, Séo Paulo, 947 (p. 7-124). (N. da E) Teche trancerto do Capitulo 2 do lvroFoldore e mucdanga soci na cide de $60 Paulo, 2. ed. evita pelo autor, Petrino: Edtora Vozes, 1979, p. 153-175 e Referencias Bidlogrficas p, 256. ‘A obra completa ce Floestan Fernandes esti sendo preparada para republcacio na integra Este Fragmento € uma reprodugio avtorzada, 29 Pro-Posigdes, v.15, n. | (43) -jan/be 2004 Para poder estudar a erianga, é preciso tornar-se erianga. Quero com isso dizer ‘que nao basta observar a crianga, de fora, como também nao basta prestar-se a seus brinquedos; é preciso penetrar, além do circulo magico que dela nos separas «em suas preocupagoes, suas paixoes,€ preciso viver o bringuedo. E isso no é dado a toda a gente, O primeiro métito do trabalho de Florestan Fernandes é que ele & 6 resultado de uma observagio que comecou por uma interpretagio profunda; 0 autor fez parte da grande conjuragio das eriangas. Na nota explicativa, que abre este trabalho do folclore infantil, podemos ler «estas significativas linhas. “O presente estudo tem uma particularidade: € a0 mes- ‘mo tempo uma contribuisio & sociologia ¢ a0 folclore.” Florestan Fernandes se desculpa, pelo que eu the rendo, 20 contririo, meus cumprimentos. O folclore é uma cultura; ora, néo se pode compreendera cultura, separando- a do grupo social que ela exprime. Estamos entre os que acham que a descricio purae simples do material, a pesquisa das fontes ¢ das origens nfo sio suficientes, porque 0 folelore tem uma funcio e uma vida, ele representa um papel. Por con- seguinte, querendo penetré-lo, em lugar de permanecer na crosta exterior das sobrevivéncias do passado, é preciso recolocé-lo num meio social. O folclore no uma simples curiosidade ou um trabalho de erudigio, ¢ uma ciéncia do homem — nao deve portanto esquecer 0 homem, ou melhor, neste caso, a erianga que brinca, E por isso que as duas partes deste trabalho, os grupos infantis ¢ o folclore infantil no Bom Retiro, nao devem ser consideradas como duas partes justapostass clas formam uma unidade orginica. Eo estudo das “trocinhas”, de sua linguagem, de seus ritos de expulsio ou de iniciagao, de suas ceriménias, de suas estruturas, que explica os caracteres préprios do folclore, que vive nessas “trocinhas’, Notar- se-do paginas muito sugestivas, em que Florestan Fernandes critica a teoria da Imitagio dos adultos pelas criangas, no brinquedo como “papai e mamie” - ou ainda aquelas sobre papel de assimilagao dos imigrantes, das rodas e dos brin- quedos que confirmam aliés as precedentes. Sea cultura infantil se fizesse sobretu- do pela mie preta ou pelos pais estrangeiros, a obra do sincretismo seria muito ais forte do que é. Tudo isso s6 se pode compreender pelos caracteres do grupo infantil, que constitui um grupo mais ou menos fechado, de interrelagdes prépri- as, € tradicionalista Esse tradicionalismo, nora-se nas ltimas paginas deste trabalho: os cinticos infantis sio de antigos romances hispanicos ou portugueses. E sabe-se que se po- dria ir ainda mais longe, porque além das palavras hd gestos, ea crianga continua, «em nossos dias, em seus brinquedos de “cara ou coroa”, os antigos ritos de adiv nhagio, assim como nas rodas, no balango, na cabra-cega, as cerimOnias girat6rias dda mais alta antiguidade. Mas as significagoes antigas desapareceram, ¢, agora, aqui, se quisermos compreender as novas fungies do folclore infantil, precisare- 230 Pro-Posigies,v 15. n | (43) ~jandabe 2004 ‘mos estudar 0 grupo de brinquedo como grupo social, sua naturera e seu papel. Como se vé, se, de um lado Florestan Fernandes pade escrever, com justa razio, que 0 estudo folclérico the serviu “de modo subsididrio ou fundamentalmente a0 estudo sociolégico” a reciproca nao é menos verdadeira: € 0 estudo sociolégico, aque esclarece o folclore. ‘Temos necessidade de que se multipliquem as pesquisas deste género. Que nao se tema esclarecer uma cincia pela outra. Os amantes da pureza lastimar-se-f0, talvez osamantes da realidade objetiva 6 rerio a ganhar com isso. E, agora, deixemo- nos guiar por Florestan Fernandes, esse guia seguro ¢ amigo, nesse mundo das “trocinhas”, das meninas brincando de roda, dessas criangas das ruas populares, reunidas em bandos, apés.a escola, nos suaves crepuisculos dos bairros paulistanos. Roger Bastide |= Nota Explicativa Poucos trabalhos precisario, como este, de uma nota explicativa & guisa de introdugio. Mas, de uma verdadeita nota explicativa, destinada antes a0 esclareci- mento de certas questdes nao apresentadas no texto, que 3 discussio de problemas teéricos fandamentais. Isto também seria importante. Mas, como escapa As neces- sidades do trabalho, em conjunto, pareceu-me oportuno deixi-la de lado. (O presente estudo tem uma particularidade: é, ao mesmo tempo, uma contri- buigao a sociologia e ao folclore. Este, porém, € um motivo mais para apreensoes que para outra coisa qualquer. Porque, se 0 estudo do folclore brasileiro esté pre- cisando de uma renovago® — tanto no campo dos mérodos quanto nas esferas da sistematizagao e explicacao cientificas —a utilizagao concomiante dos dois pontos de vista, um sociolégico ¢ outro folelérico, num mesmo trabalho, pode suscitar confuses, apesar das intimas conex6es eu ligam o segundo ao primeito. O duplo aspecto desta contribuigio ao estudo do folclore e dos grupos infantis, todavia, originou-se das proprias imposigies do material recolhido, sistematizado e anali- sado. Eis aqui a principal razao de ser desta nota explicati Gestudo dos elemertos do flloe brasileiro como padres costumeiros de comportarent, lem relacio concreta com a condutaindivigua,€ bastante recente ene nés,datando de Casa Grande & Serzala, de Giberto Free. Arterormente, em excala microx.pca, apenas SIio Romero, em alguns ensais, e Euciles da Cunha, em certostrechos de Os Series, fram gums coisa neste sentdo. Odeserwolvimento da sociologae da atropoogia, no Brasil car as conticBes necessrias 20 aproveltarmento mais ample rcional do material flcérico, chido em pesquias de campo, pelos Gentstas sodas. Bi Pro-Posigdes. v.15. n. 1 (43) jane 2004 Em 1941, na qualidade de aluno regular do cursos de Ciéncias Sociais da Faculdade de Filosofia, Cigncias e Letras da Universidade de Sio Paulo, realizei pata a Cadcira de Sociologia I, a cargo do professor Roger Bastide, uma pesquisa sobre 0 folclore paulistano. Embora trabalhasse nessa pesquisa durante todo 0 ano, a coleta propriamente intensiva foi levada a efeito depois de maio até o fim do ano. Colhi material sobre: folelore infantil, cantigas de ninar e de acalanto, cantigas de piquenique, bringuedos de salao, respostas, ou melhor, jogo de pulha entre adultos, alguns contos, lendas e fabulas, adivinhas populares, sonhos (ape- has as interpretagbes de cunho mégico), superstigbes,ditos e provérbios*, Poco a pouco, porém, & medida que a experiéncia do trabalho de campo me esclarecia melhor ¢ que fui me interessando por certos problemas © por certas questées, preferivelmente, restringi-me coleta de elementos do folelore infantil e, por meio deste, o estudo dos grupos infantis conhecides como “trocinhas”, Verifica-se, por ai, que nao comecei a trabalhar, diretamente, no campo do folclore infantil. Por isso, nao tinha nenhum plano de pesquisa quando surgiram 95 primeiros problemas suscitados pelo estudo do material recolhido. A simples constatasio de que elementos do folclore infantil paulistano tinham origens remo- tas, no folclore portugues e castelhano, parecia-me insuficiente. Pois era, de fato, ‘mais um ponto de referencia para novas indagagbes, do que o coroamento da ané- lise tedrica do referido material. Iss0, 6 claro, levou-me aalargar 0 campo de traba- Iho: foi asim que passei do estudo do folclore infantil ao dos grupos infantis das “trocinhas”. Em poucas palavras, o conhecimento puro e simples do mecanismo de desenvolvimento interno dos fatos folcléricos, do ponto de vista exclusivo do fol- clore, revelou-se incompleto, ¢ assim a andlise dos contetidos culturais implicou, naturalmente, no estudo das formas sociais correspondentes. Enquanto o primei- +0 approach era exclusivamente folclérico,o segundo deveria ser predominantemen- ‘e sociolégico, Em todo caso, um nao excluia 0 outro, Ao contririo, todo trabalho preliminar de narureza folelsrca, serviu de modo subsididrio ou fundamentalmente a0 estudo sociolgico da cultura e dos grupos infantis. Neste sentido restrito pode- se mesmo, falar na utilizagio do folclore como um método de trabalho. Ao redigit o presente ensaio, procurei aproveitar amplamente o trabalho ante- rior, de folclore propriamente dito, Iso pareceu-me conveniente para comprovar, fandamentando-as objetivamente, as conclusdes a que cheguei no estudo da eul- | Roroveltando esse material escev alguns artigos para a revista Sociologia, “Foldore e Grupos Infanti’ vol. Vn 4; “Edueagio e Cultura Infanti" vo. 5, n, 2; “Elementos Mégicos do Foldore Paulista", vol. Vio. 2 3. Uma boa parte do miterialrecolhido, dos probleras da pesquisa e cas conclusbes a que chagusi foram expestos, no ano passado, no Seminirio de Métodos © Técricas de Pesquisas Socais, digo pelo professor Dorald Person ds Escola de Socologin e Pola 232 Pro-Posgées, 15, 9 (43) jan fabe 2004 ‘ura e dos grupos infantis. Por iso, a peculiaridade deste trabalho tem suas causas € nao repousa sobre preferéncias pessoais ou arbit trabalho, um liame muito forte entre as duas partes ou, em termos mais gerais, entre 05 dois pontos de vista, o qual é representado pelas proprias necessidades analiticas da pesquisa. Durante periodo de trabalho de campo, observei e estudei “trocinhas” nos bairros do Bom Retiro, Lapa, Bela Vista, Bris e Pinheiros. Gragas & amizade de algumas criancas, material relativo as “trocinhas” do Bom Retiro é mais comple- to. A coleta de dados foi feita exclusivamente por meio da observacio direta. A. dlescrigao fiel das ocorréncias éa técnica mais adequada em pesquisas deste géne- 10, Permnite-n10s nao s6 a obtengio dos vérios elementos do cancioneito literario ~ no caso as diversas composiges do folclore infantil ~ como facilita, extraordinari aimente, 0 estudo da vida social dos imaturas nos grupos infantis. Apds a observa- ias. Alm disso, existe, neste io minuciosa ¢ prolongada de algumas “trocinhas’, 0 pesquisador fica habilitado a compreender certos aspectos do comportamento dos imaturos em seus pr6prios grupos socias, desenvolvimento de sua personalidade, obediéncia a determinadas regras, etc., que comumente escapam aos adultos em geral e aos pesquisadores ‘mais afoitos ou menos treinados. As possbilidades de revisio ¢ de controle dos dados assim obtidos s40 muito grandes. Utilizei-me, nesse mister, sempre dos meninos e meninas dos grupos estudados, com os quais tina amizade, Mesmo quando pertencentes a outras “trocinhas’, a sua opinigo ¢ as suas criticas sio valiosissimas. Esta colaborasio com os pesquisados, por seu lado, criou muitas vezes condigies favoriveis a0 entabulamento de conversas mais ou menos demo- radas com os membros das “trocinhas’. E ébvio que, no caso, essas conversagbes constituem verdadeiras ¢ completas entrevistas. Quando existem possibilidades de orienté-las, como verifiquei, permicem elucidar muitos pontos importantes, como; folguedos prediletos, papéis e interesses dos imaturos nas “trocinhas’,rela- s56cs dos membros de uma “trocinha” entre si e com os de outras “trocinhas”, grau de consciéneia grupal, de lealdade aos grupos, etc. Relativamente & anotagio de dados estaisticos, obtive material sobre: a) os membros das “trocinhas” do Bom Retiro, conseguindo saber a nacionalidade dos pais, starus social da familia rela- 566s no grupo vicinal, ntimero de membros das “rocinhas”, contribuigio para sua manutengio, existéncia de equipes de futebol, etc; b) os folguedos e a participa- io de “trocinhas” por criangas brasileiras e descendentes de japonenses, nas ruas Miguel Isasa, Bartolomeu Zuunega e Fernio Dias, em Pinheiros; ) a participagio de brancos e negros nos grupos infantis da Bela Vista. os elementos folcléticos exigem, ainda, um estudo complementar “de gabinete”: de determinagio de fon- tes, De acordo com as necessidades da pesquisa que efetuci, bastatia a determina- fo das fontes imediatas. Por isso, no prolonguei a anslise temética ou formal além do folclore ibérico — do folclore portugués e do folelore castelhano. 23 Pro-Posigbes, v.15, n. | (43) jan abr 2004 presente trabalho no contém, todavia, todos os dados recolhidos nos diver- sos bairros pesquisados. Restringi-me as “trocinhas’ do Bom Retiro, que puderam ser estudadas com maior rigor igido ha dois anos, foi apresentado no primeiro semestre de 1944 a0 concursos “Temas Brasileiros", insttuido pelo Grémio da Faculdade de Filosofia, Ciéncias ¢ letras da Universidade de Sao Pau- lot, tendo merecido, por decisio do professor Roger Bastide, o prémio relativo & segao de Ciéncias Sociais. Depois disso, a publicagio de novos livros sobre o fol- clore infantil, os estudos recentes de psicologia social e de ancropologia cultural sobre 0 comportamento dos imaturos ¢a possibilidade de consultar outras fontes antigas, de que no dispunham na época, sobre os grupos infantis em Sao Paulo, indicavam-me a necessidade de refundir 0 trabalho. Néo o fiz, contudo, porque tenciono publicar, futuramente, dois estudos mais desenvolvides, um sobre 0 fol- lore infantil paulistano e outro sobre as “trocinhas”. Este trabalho tem o caréter de uma simples contribuigéo parcial; nfo vejo, pois, inconveniente em publicé-lo como o redigi, hi dois anos atris. A propria distribuigio da matéria a redagio, {que hoje eu modificaria profundamente, ficam como estavam. A tinica alteragio consiste na supressio de uma longa introdugio sobre o folclore”, que nao tinha ratio de ser. ‘Como contribuigio ao estudo do folclore infantil, além disso, o presente tra- balho, ¢ outros estudos sobre 0 mesmo tema que estou farendo, constituem uma séria confirmasio — pelo menos quanto aos textos dos elementos do cancioneiro literdrio — de uma velha hipétese formulada por Mitio de Andrade, a respeito da origem portuguesa das composigdes do folclore infantil brasileiro. Quanto a0 tipo melédico, 0 proprio Mario de Andrade fez. uma anilise satisfat6ria — embora in- completa ~ que evidencia a influéneia européia e particularmente portuguesa nas rodas infantis brasileiras. Devo agradecer, pela colaboracao prestada na coleta e revisio dos dados sobre as “trocinhas’ do Bom Retiro, Nilda Mezzarana e seus irmaos Orlando e Alberto, a cujo auxilio devo parte do éxito que a pesquisa possa ter; e também agradego as notas, as novas fontes indicadas e as sugestes do professor Roger Bastide. Ao professor Emilio Willens sou grato por algumas sugestBes que me fer, em 1942, relativamente ao aproveitamento do material sociolégico, e ao professor Fernando de Azevedo, pelo estimulo que representou o apoio inesperado que me deu e pelas ctiticas aos dois artigos publicados sobre © assunto na revista Sociologia, as quais 3 Porc dos Jk Aderaldo Castelo, eno deetor do Departamento de Cultura do Grémio. da Facuttade de Filosofia. 5. Os principals dos contidos nessa introduc fomeceram o material para um artigo — "Sobre 0 Fokclore"- publado ern Riesafa, Cncias e Letras, n. 9, 1945 (nmero este que deveria sir em 1943.) 234 Pro-Posigées, v.15, | (43)- janJabr 2004 foram de grande utilidade mais tarde, quando procedi & revisio das conclusées a aque chegara Sao Paulo, 1946. Florestan Fernandes ll — Os Grupos Infants Pata facilidade de trabalho, tomamos termo infantil numa acepgao um pou- coampla, envolvendo nessa designacio os imaturos em geral. Entretanto, precisa- mos esclarecer que no vamos analisar todos os tipos de grupos infantis, mas ape- nas os grupos formados nas ruas, que muitas vezes as criangas chamam de “wocinkas’. Veremos, adiante, em que consistem essa trocinkas. Por enquanto, salientaremos que hé outros tipos de grupos infantis, que po- dem ser constituidos também nas ruas (entre menores de 4, 5 € 6 anos), em que rio hi uma conscigncia grupal definida e muito menos consistente: grupos de recrcio entre as criangas que freqiientam a escola, cujas atividades sao limitadas pelos lagos congeniais e &s vezes orientadas pelos adultos; os grupos infantis dos play-grownds, etc. Esses grupos nao foram objeto de estudo, de nossa parte. Che- gamos i andlise do grupo infantil através da pesquisa de folclore que efetuamos e, por isso, limitamos essa andlise mais propriamente As “trocinhas”, grupos consti- tuidos por imacuros, tendo por finalidade imediata a recreagio. 1) A Formagio das “Trocinhas” As “trocinhas” estéo condicionadas ao desejo de brincar—a recreagio, como os demais tipos de grupos infantis, Suas atividades, todavia, excedem aos limies da recreagio em si mesma, assumindo aspectos diferentes as relagdes entre os seus componentes ¢ destes relativamente a0 seu grupo € as relagdes das diversas “trocinhas” entre si. ‘A condigao basica para a formagio das “trocinhas” &a vizinhanga. A contigtii- dade espacial das familias facilica a sintese social dos individuos, embora nao a crtie, Por isso, a “trocinha” apesar de sua existéncia independente, como grupo que 6 ainda se liga & vontade do adulto, Com a mudanga deste, o membro imaturo do grupo vé-se na contingéncia de tentar sua integragio noutra “trocinha’. E isto, as vexes, & fatal, pois esse membro, sendo um lider, sua auséncia pode acarretar 0 desaparecimento, ainda que momentaneo, do grupo. Foi o que verificamos, por exemplo, num dos grupos de meninas da rua da Graga. Decorridos apenas scis meses apés nossa pesquisa, observamos que as reunides das criangas eram menos freqiientes, chegando, mesmo, a desaparecer durante algum tempo. Uma das meninas, respondendo & nossa pergunta, disse que o motivo essencial fora a mu- 235 Pro-Papioes, 18. 1 (43)- jan fabe 2004 danga de uma companheira, possivelmente a lider do grupo. Com a mudanga posterior de outro membro, a situagio do grupo tornara-se ainda mais precaia: “Angelina foi embora. Nao tem mais graga. Ainda quando havia a Edi Entretanto a “teocinha” resistiu, 0 que prova que pode colocar-se acima dos indi- vviduos que a constituem. © papel da vizinhanga é importantissimo, pois condiciona os contatos entre os individuos. Mas nao €a causa, propriamente dita, da interagio, Aqui aparece o fator recreagio, o qual esté inteiramente unido ao elemento tradicional e parece constituir a causa ou motivo da formagao desses grupos infan- tis. Inicialmente, as criangas podem reunir-se s6 para brincar. Depois, pouco a pouco, os contatos vio criando um ambiente de compreensio comum ede amiza- de reciproca, manifestando-se a consciéncia grupal pela intolerincia para com os «stranhos ao grupo. Nesta fase inicial da formagio do gruo tem particular impor- tincia os jogos ¢ as rodas infantis. A medida que os contatos sc estreitam ¢ se desenvolve a unidade do grupo, as atividades tomam outra diregao. As meninas comegam a brinear de “Bom dia, meu Senhorio”,ete., mas, pouco a pouco, pas- sama brincar de “casinha’, “comidinha’, “papai e mami’, acabando por se intr duzirem, nesta fase, uma nas casas das outras, em cujo quintal geralmente bri cam de “easinha’, ete.* ‘Os meninos, por seu lado, passam dos jogos para o “bate-bola” (quando nio comegam por aquii mesmo) e acabam formando um “timinho” Este dura quase sempre muito pouco. E reorganizado, sofrendo altos e baixos, conforme os lugares: & custa de disputas com as equipes de outras “trocinhas” das redondezas, acaba se firmando ¢ deixa de ser chamado infantil da rua X ou a “uroga” X, ou da “troga” da rua X, para receber um nome: Infenil Estrela, etc. (ou juvenil, ou 0 que seja), sendo assim reconhecido pelos seus membros e pelos das “trocinhas” rivais. Todavia, a importincia dos brinquedos de roda ¢ dos jogos na formagio das “trocinhas” nao diminui. Por isso, justamente, os fatos folcl6ricos podem ser con- siderados as causas ou motivos, indiretos que sejam, desses agrupamentos, jé que essas rodas e esses jogos sfo elementos do folclore infantil do grupo. Mesmo os agrupamentos posteriores das meninas ainda permanecem dentro do plano do folelérico, porque os brinquedos que as agrupam dentro de casa, ‘mais intimamente (“mamie, “casinha’, etc), sio também de cunho tradicional. ‘Os meninos fogem um pouco — com o futebol, a natagio, etc. — dos contatos regulados por fatores de natureza folelrica, mas diariamente voltam a brinear de Note se que eta parte de nossa pesquisa abrange aperas algumasfarilaspobres ou "remediacas™ (Gos itimos sous da classe média), 7. Diminatvo aportuguesado do team ings 236 Pro-Posigoes, v.15, | (43) janJbr 2004 “pegador” de “barra-manteiga”, “pula-mula’, etc., colocando novamente suas re- lagbes dentro daquele plano. Portanto, restumindo esta parte, podemos dizer que a vizinhanga € a condigio € 05 elementos da cultura infantil tradicional a causa desses agrupamentos — as “trocinhas”. Esse é, esquematicamente, 0 quadro oferecido pela formagio de um dos grupos infantis. Mas pode acontecer que a crianga encontte 0 grupo ji cons- tituido © no acompanhe, como nés 0 fizemos, 0 seu desenvolvimento. Entio, toma-se necessirio tentar sua integracio a0 grupo. Organizagdo dos grupos infantis Nesses grupos se iniciam os contatos das criangas com 0 meio social, de manei- ra mais livre e intima, As relagdes sio as de grupos primarios, face a face, apresen- tando-se perfeitamente organizadas regulamentadas em seus tragos mais gerais, havendo, mesmo, sangdes punitivas para os transgressores. Como frisamos acima, 6s individuos em interagao pertencem ao grupo vicinal. S6 dificilmente sao acei- tos os ddvenas. Aré o fim da primeira infincia e &s vezes também durante parte da segunda infincia, nao se verificam circulos fechados entre as criangas do grupo infantil, participando dos folguedos tanto os meninos como as meninas. No inicio da puberdade, entretanto, a separagio torna-se visivel: al, podemos distinguir os gru- pos infantis femininos os grupos infantis masculinos, os quais sio totalmente fechados a individuos de sexo diferente. Essa separagio pode ser efetuada antes ou depois, de acordo com a influéncia dos mais velhos (participantes mais antigos dos grupos que podem iniciar os novos). As préprias eriangas de sexo masculino, pois é entre os meninos que a distingio ¢ mais rigida, podem encontrar algumas dificuldades quando pretendam integrar-se ao geupo. Isso porque aqui jé ha uma consciéncia grupal, viva ¢ consistente, expressa pelo “nés” coletivo e pela expres- io “troga’ ou “trocinha’ com que os préprios meninos designam o grupo que formam, As meninas, conquanto adquirem uma consciéncia de grupo assaz forte, no chegam, geralmente, a viver o drama coletivo do menino, que participa inte- gralmente da vida de seu grupo, como pudemos observa. [Nessa fase, em que procura aproximar-se sempre ¢ somente dos individuos do préprio sexo, da mesma idade ou mais velhos, a crianga fica muito mais zelosa do seu sexo, valor e relages que os pr6prios adultos. Como os contatos com os mem- bros mais antigos do grupo valem como uma iniciagéo & malica, a diferenciaco dos grupos por sexos torna-se ainda mais extrema, nao sendo absolutamente per- mitido meninas nos grupos de meninos ou vice-versa. As relagoes intergrupais se definem em torno dos individuos do mesmo sexo eas relagGes que qualquer mem- bro do grupo mantenha com pessoas de sexo diferente e da mesma idade, mais ou menos, sio encaradas como coisas puramente individuais ou de conquista (namo- ro, por exemplo). 237 Pro-Posigbes, v.15. . | (43) jan abr, 2004 Hi, todavia, transgressores, isto é, individuos que brincam num ¢ noutro gru- po. Mas sio designados pejorativamente entre os companheiros, perdendo a sua reputacao dentro do grupo. No caso das meninas, a situagio da transgressora ainda piora, porque os meni: ‘nos procutam “aproveitar-se” dela, 0 que transpira logo, colocando-a em posigio insustentével (a mae vem a saber, pelo “falatério” das companheiras, etc.), en- quanto 0 protagonista ou protagonistas masculinos tém, ao contrério, sua reputa- 0 aumentada. © lema da segregagio foi consubstanciado na scguinte formula Home com home Muié com muig Faca sem ponta Galinha sem pé Os que desobedecem, jd sibem: podem ser segregados, recebendo durante muito tempo designagdes pejorativas. Entre nés, os meninos ficam sendo conhecidos por “mariquinhas”, “maricas”,“fresquinhos”, “fresco de merda”,"veado”, ete. €a8 meninas — geralmente s6 no seu préprio grupo — por “muleconas”. Pareceu-nos, do que observamos, que a situagio da menina desajustada é ainda pior do que a do menino, contendo a expressio um significado de desaprovacio real, dificil- mente contornavel. Essa separagio por sexo corresponde a0 inicio de atividades recreativas dispares, ‘quer quanto aos imaturos masculinos, quer quanto aos femininos. Eles passam a orientar-se na escolha dos folguedos, de acordo com as habilidades geralmente consideradas préprias dos homens e das mulheres ‘As meninas — as quais tém uma mentalidade grupal menos intensa, como jé falamos ~ caracterizam-se por serem menos violentos os motivos dos agrupamen- tos. Agrupam-se de acordo com as habilidades femininas, brincando de “mame”, de “fazer comidinhas’, fazem “roupinhas” para bonecas, etc., sendo 0s seus brin- aquedos quase sempre sedentérios. Nao dio nome is “trocinhas’ e o papel da lider do grupo nio ¢ tao ativo como entre os meninos; lider atua pela presenga e mais anima que dirige os folguedos. As “trocinhas” dos meninos sio muito mais ricas quanto & divisio do trabalho © 20 espirito colctivo; talvez porque a equipe de futebol geralmente implica uma redistribuigio constante de atividades, ao mesmo tempo que coloca 0 individuo como participante de um grupo contra outro grupo. Asatividades dos individuos sempre sio variadas ¢ tendem a aumentar ~ existe o clube, as regras costumeiras que governam a sua organizagio ea selecao do presidente, do secretitio, do tesou- tito, ete. Para o “cargo” mais importante, em regra, & escolhido o préprio lider. A 238 Pro-Posigées . 15,1. 1 (43) janJabr 2004 cleigao regula essas escolhas, que tém em vista as qualidades, ¢, 3s veres, também as posses dos candidatos. O lider, como presidente da equipe, encarrega-se de minis- trar os castigos ~ geralmente corporais e de segregagio temporiria ou defi aos transgressores das regras. Pode, também, nao haver contravengio as regras (por exemplo: nao contribuir para a manutengio do “time”, nao comparecer aos treinos ou 4s disputas com as equipes rivais, estragar alguma coisa da equipe, ‘como uma bola de camera, etc.), mas uma simples falta de “chance” ~ nao apro- feita pelo lider, € mesma, € tanto mais cristca sea sua equipe perder. Todo o sacrificio pela equipe do grupo € pouco e a obrigagao geral dos membros consiste em.prestigid-la Quando o lider nao é 0 chefe formal, tacitamente todos o consideram o chefe eventual, aparccendo, do mesmo modo, como a alma de tudo, Pode haver outros cargos (quando os membros da “trocinha’ podem contribuir, seo lider nfo guarda o dinheiro, apresenta-se a necessidade de um tesoureito; do mesmo modo, esco- Ihe-se o treinador, um juiz, 0 capitio, etc.), aos quais 0 membro do grupo nao se pode furtar, sob pena de ser punido. Aliés, do que observamos, esses lugares $20 desejados: por isso, s6 raramente alguém no os aceitaria. Contudo, nas “trocinhas’ nio hé apenas deveres. Hé também direitos, com- partilhados por todos os membros, de acordo com sua importincia no grupo. Essa importancia est em funcio da forca fisica, da capacidade nos jogos, do di- nheiro que possa dara manutengio da equipe, etc. Os direitos, geralmente, con- sistem na protegio do membro contra os membros pertencentes is “trocinhas” rivaiss podem ser, também, isengo de pagamento da mensalidade da equipe (quan- do é um elemento indispensivel e nao dispie de dinheiro, como verificamos). Por ai podemos avaliar a importincia que assumem as equipes de futebol na vida das “trocinhas’ e dos seus membros. Entre o bairro da Luz.e 0 Bom Retiro, ‘num total de onze ruas, estudamos dezesseis “trocinhas’, das quais dez tinham sua equipe infantil! A afeigio do imaruro pela sua equipe, entretanto, pode ser melhor avaliada depois que a equipe “arelaxa”. Referem-se a ela como a coisas importa tes com certa reveréncia grave, mesmo que em seu lugar jé exista outra. Ji vimos dois motivos que podem levar & segregagio: 1) desobediéncia a nor- ma de separacio por sexos; 2) punigéo de qualquer ato relativo & equipe do grupo. Hi outro modo de se chegar ao ostracismo, nesses grupos, © qual se refere as disputas entre seus préprios membros. Dois meninos podem brigar, “ficando de mal”, O ato simbélico é 0 cruzamento dos dedos mindinhos. Entio, nao se falam um ao outro, executando cada qual os seus papéis nos folguedos, falando-se 0 menos possivel es6 0 estritamente necessério e convencional. Para “ficar de bem”, ©.ato simbélico da paz & 0 eruzamento dos “mata-piolhos”. Entretando, a disputa pode ser mais grave, levando & cisio temporitia do gruc ‘po em dois partidos antagdnicos. Além de rara, a cisio dura muito pouco tempo. ‘eitar um passe feliz e chutar a bola fora, verbicgrata. A puni 239 Pro-Posiges. 15. n. | (43) jana, 2004 s falguedos de cunho tradicional dio origem: 1) a grupos estiveis e 2) a grupos effmeros. O segundo caso refere-se a grupos formados ocasionalmente, num convescote ou numa festa, estando antes em fungio da vontade dos adultos que da crianga, quanto & sua duracéo. ‘As “trocinhas’, todavia, entram no primeiro caso, Tém uma certa duragio ¢ geralmente sobrevivem aos membros que deixam de participar no mesmo grupo vicinal. A sua existéncia ¢ assegurada por varios anos, quase sempre contando os ‘mesmos elementos ou variando muito pouco. As vezes acontece, como observ ‘mos no Bom Retiro, casos interessantes: as relagdes de meninos de ruta tornam-se atiaades srias entre adultos. © fato € que ex-companheitos de "trocinhas” cres- ceram ¢ se desenvolveram sempre na mesma drea vieinal. O resultado é que hoje, homens feitos, retinem-se do mesmo modo que antigamente, variando apenas as suas preocupagdes (vaio juntos aos teatros, cinemas, jogos de furebol, etc.); mas aqui, como jé salientamos algures, devemos encarar a estabilidade do grupo como lum problema de vizinhanga, Deste modo, podemos verifica, concretamente, que 4 “wrocinha” quase sempre sobrevive & perda de alguns membros ~ mesmo 0 Sob este aspecto, somos levados a outro problema interessante: a accitacio do ‘édvena, do recém-vindo, pela “trocinha’. A melhor titica que 0 novo vizinho pode usar para se aproximar da “trocinha’ consiste em se acamaradar com um membro qualquer do grupo, tanto melhor se for o lider. Naturalmente, o candi- dato tem contra si o sistema de peneinas do grupo. Tudo que cle faz ¢ridicularizado e encarado com um superior desprezo pelos demais, que pejorativamente 0 cha- mam de “bicho-novo". Sua recepgio se faz. com trotes, xingagBes e judiagbes as mais diversas. Entretanto, se conseguir demonstrar que representa uma aquisigio valiosa para o grupo, sua integragao se processafacilmente. O peneiramento, nes- tes casos, ¢ feito tendo em vista a forsa fisica, a habilidade nos jogos e a facilidade de accitar o ambiente formado (nio reagir As xingagées, por exemplo; reagindo, 0 que pode acontecer € ficar © “bicho-novo” com o xingo como apelido). ‘Uma mesma étea de vizinhanga pode conter vérias “trocinhas”, agrupando-se 6s imaturos em qualquer lugar: no meio das ruas, nas calgadas, nos campos, nos terrenos baldios, nos quintais grandes, etc. As meninas, geralmente nio passam das calgadas ou dos quiintais de suas casas (em alguns bairros preferem designar os seus agrupamentos com outras palavras: “erempe” ou “trempinha’) ‘Os meninos t8m em alta dose o significado de propriedade, aceitando todos os membros das “tocinhas” os li nfo determinam qual é esse limite. Mas, entre eles, hd uma espécie de convengio {cita, que impede a invasio da “zona” de outros grupos. Com a determinagio de sua “zona”, as “trocinhas” recebem um nome (o da rua em que esti: ou se hd mais de uma “trocinha’, de duas ruas: a “trocinha” da rua da Graga com Correia de ‘Melo, por exemplo). s das éreas ou “Zonas” de cada uma. E claro que 240 Pro-Posgbes, 15, | (43) jan/abe 2004 Essas “trocinhas” ou grupos infantis mantém relagies entre si (disputas de fu- tebol, etc.) se distinguem em amigas ¢ inimigas. Quando sio rivais, designam- se, reciprocamente, com rermos pejorativos (na rua da Graga as criancas do grupo de brasileiros chamavam os judeus de outro grupo de “gambés”), fazem “guer- ras" entte si, neste caso, para “fazer guerra’, precisam de uma drea desabitada © ‘montanhosa — para se atirarem pedras e poderem fazer as “manobras” titicas ne- cessérias. Por isso, esse costume esté desaparecendo da cidade, Contudo, os meni- nos de “tracinhas" rivais do Bom Retiro tiraram muitas vezes “a diferenga” nos ‘campos da Ponte Grande, perto do Tieté, aonde iam para “guerrear”, deixando porém os “pichotes”. Os “pichotes” sio os de pouca idade (6, 7 anos, ou menos), que podem ser accitos e mesmo tolerados, se respeitarem os demais ¢ se submeterem as “judia- es” dos mais velhos (as quais podem ser até deprimentes, com aproveitamento sexta), © “ndo derem crabalho”. Nos jogos com as equipes das redondezas, eles no sto levados, porque “chatelam”; quando recebem autorizagio para acompa- har o pessoal da “trocinha’, devem carregar o equipamento. Geralmente, sia melhor recebidos ¢ tratados nos grupos infantis femininos. Apesar de nosso estudo nio ter abrangido todas as éreas ecolégicas da capital, acreditamos que, por sua prépria naturera (formam-se nas ruas, etc), as “crocinhas’ io, em sua maior parte, constituidas pelas eriangas pobres da classe média. Como as éreas ecoldgicas nao estio rigidamente determinadas entre nés, constan- temente meninos da classe rica si0 postos em contatos com os outros da classe pobre e média (isso relativamente & posi¢io do pai, ¢ dbvio). No Bom Retiro pudemos, entretanto, observar que os meninos de classe pobre e dos searus mais baixos da classe média se agrupam quase indistintamente, enguanto que os da

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