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O3 UNTUERSTTARTA OW Ok, orronacho DETESTO steed 5 TECA 10 a spnojer0 GtArico TaOoUGAO CHAFCA agus Ar Mara een carfruto t cariTuLo captruLo it capiruLo 1 caPiTuLo V pREFACIO A EDIGAO PREFACIO E AGRADECIMENTOS DA EDIGAO ORIGINAL EM INGLES 1wTRODUGAO Das CIDADANIA, DEMOGRACIA B ESTADO: Geia,Ozs ENTRE CULTURA E POLITICA ‘CULTURA, CIDADANIA E DEMOCRACIA ‘eguenoa LATINO-AMEEIEASS oelina Daw pigerTos socials onruos € neCOCAGDES NO cat Patt era a Sila Teles NOVOS SUJEITOS DE DIREITOS? Sebitd fh EXPLOSAO DA EXPERIENCIA 4 Doothein be nt novo rntelro TC-FOUTICO Sérgio Gregor Baterle 6 a 103 49 185 LO vt cartruto vit cartruto, cartruto 1x captruto x cariTuto xt TNICIDADE, RAGA & GENERO: Cuntena & POLITICA NOS DISCURSOS FE PRATICAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS AMBIGUIDADE E CONTRADIGAO NO. MOVIMENTO POPULAR 1 exrtitycia DA "costZH0 OF OPERKRIOS, Goce no sesaco Jelfey TOS INDIGENAS COMO UM (A DO MOVIMENTO “ADO NA GUATEMALA kay B. Warren (© PROCESSO DE ORGANIZAGAO DA COMUNIDADE NEGRA NA COSTA MERIDIONAL DO PACIFICO Da COLOMBIA Lib Gruso Carlos Rosero Arturo Kscobar DEFOIS DA FESTA Olivia Maria Gomer da Cunba GLOBALIZAGHO, TRANSNACIONALISMO E SOCIEDADE Cit ‘A “GLOBALIZAGAO” DOS FEMINISMOS LATINO-AMERICANOS TENDENCIAS 605 ANOS 50 F DESAMIOS PARA Sonia £. Alvarez A GLOBALIZAGAO DA CULTURA E A NOVA SOCIEDADE € George Viidice POLITICA CIBERCULTURAL Gustavo Lins Ribeiro so 333 465 REPENSANDO AS ESPACI (OVIMENTOS SOCIAIS ‘QuESTOES DE FRONTEINAS, CULTURA E |ADES DOS SOBRE OS AUTORES 335 encantadores, as vezes nem tanto, da preparacio deste livro. 1 cA OP TO u Lo Por fim, queremos agradecer-nos mutuamente pelas muitas | conversas, trilingles, “bi-transdisciplinares* (tanto “virtuai como “reais"), fest culinaria (em especi sessdes de ostras em Sambaqui ¢ os churrascos no Santint pela camaradagem e amizade que ficou cada vez mais forte a medida que o projeto progredia, trazendo novos set ao coleguismo ¢ colaboragio intelectual. inTRODUCKO CULTURAL E 0 POLITICO NOs MOMIMENTOS Sonia E. Alvarez SOCIAS LATINO-AMERICANOS Fvelina Dagnino Arturo Escobar Sonia E. Alvarez Evelina Dagnino Arturo Escobar Ame: a que entramos no novo milénio, que futuro aguarda as sociedades latino-americanas? Niveis sem precedentes de violéncia, pobre ‘criminaglo e exclusio parec que 0 "desempenho” € 0 proprio ccracias da América Latina estio longe mente sobre os possiveis projetos alternativos para que se trava boa parte da hoje. Vamos sustentar que os movimentos soci im papel critico nessa luta. © que est funda puta slo os parimetros da democracia, sto as proprias fronteiras do que deve ser definido como arena pe patticipantes, instituigdes, processos, agenda e campo de arao. Os programas de ajuste econdmico e social, inspirados pelo neoliberalismo, entraram nessa disputa como poderosos ¢ ubiquos competidores. Em resposta A suposta tavel” imposta pelos processos de globalizagio econdmica, s politicas neoliberais introduziram um novo tipo de entre o Estado e a sociedade civil e apresentaram concep¢lo minimalista do Estado e Enquanto a sociedade civil € obrigada a assumir as 1 sabilidades sociais evitadas agora pelo Estado neoliberal em nento, sua capacidade como esfera pi crucial para 0 exercicio da cidadania democritica esté cada vez mais desenfatizada. Nessa concepcio, os cidadaos devem fazer-se por seus proprios esforcos particulares e a cidadania é is equiparada a integrago individual no mercai cada vex concepcio alternativa de cidadania — apresentada por virios dos movimentos discutidos neste volume — vé as lutas democriticas como contendo uma redefinicio nao 56 do sistema politico, como também das préticas econdmicas, sociais e cultu- rais que possam engendrar uma ordem democritica para a sociedace como um todo. Essa concepeio chama nossa atengl0 para uma ampla gama de esferas publicas possiveis onde a idadania pode ser exercida e os interesses da sociedade nto ete representados, mas também fundamentalmente re/ estende para abranger no s6 0 sistema politico, mas também 0 futuro do “desenvolvimento” e a erradicacto de desigualdades sociais tais como as de raca e género, profundamente moldadas praticas culturais e sociais. Essa concepgao ampliada reco- ce ainda que 0 proceso de construcio da democracia no & homogéneo, mas intemamente descontinuo e desigual: esferas ¢ jensdes diferentes t@m ritmos distintos de transformacao, levando listas a afirmar que esse processo é temente “disjuntivo" (Holston, Caldeira, 1999; ver també Hershberg, 1996). Em alguns casos, 08 movimentos sociais io somente conse- suas agendas em politicas ptblicas ¢ expandir ‘como também lutaram de maneira va para redefinir 0 proprio sentido de nogdes convencionais de cidadania, representagao politica e da propria democracia \d0", por exemplo, acarretam o estabelecimento a cultural” — conceito desenvolvido no campo dos estudos culturais que, vamos sustentar, pode lancar uma luz ova sobre os objetivos culturais ¢ politicos dos movimentos sociais na luta contemporanea pelo destino da democracia na América Latina. de uma “pi UM NOVO CONCEITO DO CULTURAL NAS PESQUISAS SOBRE MOVIMENTOS SOCIAIS LATINO-AMERICANOS DA CULTURA A POLITICA CULTURAL Este livro pretende antes de mais nada ser ea relacio entre cultura € p relag4o pode ser explorada produtivamente sondando a natureza das p ‘ou menos clareza e em maior ou menor extensio — por todos ‘05 movimentos sociais e examinando potencial dessa pol idanga social. A nogio inglesa de cultural politics é dificil de traduzic em portugués. Na América cultural” designa normalmente as ido & producio € consu teatro etc. Aqui, utilizamos “p para chamar a atencio para 0 io de politica que essa visi icutivo significa que a cultura entendida como concepeio do mundo, como canjunto de significados que integram priticas sociais, nilo pode ser entendida adequada- mente sem a consideragio das relagdes de poder embu dessas relagdes de poder nao € possi de seu cariter “cultural” ativo, na medida em que expressam, produzem e comunicam significados. Com.a expressio “politica cultural” nos referimos entio 20 proceso pelo qual 0 se tora fato politico. As cigncias sociais convencionais nto tém explorado siste- maticamente as conexdes entre cultura e politica. Aludimo esse fato em trabalhos anteriores (Escobar, Alvarez, 1992; Dagnino, 1994). E importante discutira mudanga chs concep ju de um intenso didlogo interdiseiplinar luigio de fronteiras que ocorreu na dltima década, ido por varias correntes pés-estruturalistas. Em nosss ” anterior, salientamos que o conceito convencional ra em virias disciplinas como estitica — embutida de textos, crengas € artefatos can6nicos — contri bbuiu muito ps as praticas culturais & como um terreno para — e fonte de — pri e Willis (1990) transcenderam essa compreensio estitica para ressaltar como a cultura compreende um proceso coletivo ¢ incessante de producao de significados que molda a experiéncia 1 e configura 5 relagdes sociais. Assim, os estudos de cultura popular afastaram a pesquisa das humanidades da énfase ra", origindria da literatura e das artes, © a apro- sa aproximagio jf fora propiciada pela caracterizagao feita por Raymond Williams da cultura como “o sistema significante pelo qual necessariamente (embora entre outros meios) uma ordem social € comunicada, reproduzida, experimentada € explorada” (1981: 13). Como observam Glenn Jordan ¢ Chris Weedon, "Nese sentido, cultura nfo é uma esfera, mas uma dimensao de todas as instituigdes — econdmicas, sociais € politicas. Cultura & 10 de priticas materiais que 3" (1995: 8) ams é aprofundada Em obra recente, a definig20 de Wil para concluir que ros estudos 4 cultura € entendida a0 mesmo tempo cfnones, arquitetura, mercadorias de produgio em massa € assim por diante. (Nelson, Treichler, Grossberg, 1992: 5) Essa caracterizagio da cultura aponta para priticas e repre sentages concretas como sendo centrais para a cultura, Contudo, na pritica, sua Enfase principal continua nas formas antisticas © textuais. Isso explica, acreditamos, varias criticas aparentemente problemitica, em etnografias “rdpidas” (quickand dirty), @ procminéncia das anilises textuais e a importincia atibuida as ris € a0s paradigmas de recepcio ¢ idade dessas 18 ctiticas — como vamos explicar adiante — é justo dizer que os studs culturais nao deram importincia suficiente aos movi: mentos sociais como aspecto vital da produgao cultural. mente na antro- 2 uma epistemologia ivamente fixa da cultura , simbolos a era vista como pertencendo a um grupo ¢ limitada no tempo € no espaco. Esse paradigma de cultura orginica sofreu golpes significativos com 0 desenvolvimento da antropologia estrutural, interpretativa e aquela orientida pela economia politic: ando-se na hermenéutica € na semiética, a antropologia interpretativa avangou para uma compreensio nao-po: fem parte impulsionada pela metfora das “culturas como texts”, Na metade da década de 1980, um outro deslocamento da nogao de cultura buscou levar em conta o fato de que ‘ninguém pode mais escrever sobre os outros como se fossem objetos ou textos separados" e passou a desenvolver “concepgoes novas da cultura como interativa e hist6rica” (Clifford 1986: 25). Desde entio, a consciéncia erescente da glob: da produgio cultural e econdmica levou os antropélogos a questionar nogdes es de cultura, “nés" homogéneo e “outros” separados, e qualquer ilusio de fronteiras claras entre grupos, 0 eu € o outro (ver Fox, 19915, Gupta, Ferguson, 1992) Um dos aspectos mais dteis da compreensio pos-estrutu- ralista da cultura na antropologia é sua insisténcia na andlise dos e praticas, como te ligads da realidade inha, Kay Warren (neste volume) sustenta que is condigbes materiais so vistas com freqii€ncia como “mais auténomas, reais e basicas do que qualquer outra coisa. ‘Mas € a exploracio” € a resposta comum dos erfticos, por meio da qual eles buscam transmitir uma urgéncia ita que supera as questées culturais, por mais valiosas que sejam.” ‘Warren prossegue sugerindo que as demandas materiais dos movimentos sociais "sio, na pritica, construgdes seletivas icamente apresentadas, transmitidas em campos de relagdes sociais que também definem sua significacao” ¢ defende uma conceituagao alternativa que *confrontaria as questoes culturais, pologia. A antropol realista ¢ a uma co1 social. Nessa 19 (e interesses politicos) inscritas na construgao de politicas aterialistas, assim como as preocupagoes materialistas (e interesses politicos) inscritas nos enquadramentos culturais da politica’. Enquanto os antroplogos tém geralmente tentado as andlises “do simbélico e do material", os avancos do discurso e da representacao tem proporcionado as para exposicoes miitua — e inseparivel — Comaroff, Comaroff, 1991 para um exemplo excelente dessa abordagem) Esse desenvolv traz ligdes titeis para os estudos culturais; na verdade, combina bem com 0 que € percebido como sendo um tema central do campo, a saber, 0 que as metéforas da cultura e textualidade ao mesmo tempo ajudam sar e no conseguem resolver. A questio esti expressa elogiiéncia na exposi¢ao retrospectiva que Stuart H: faz do impacto da “virada lingiifstica” nos estudos culturais. Para Hall, a descoberta da discursividade e da textualidade levou & percepgio da “importincia crucial da linguagem (...) para qualquer estudo da cultura” (1992: 283). Foi assim que ates dos estudos culturais se viram sempre “condu- Contudo, apesar da importincia da metifora do discursivo, para Hall hi sempre algo descentrado em relagao a cultura, a linguagem, a texualidade e a signficagio, que escapa e se evate As tentalvas de ligt-lo, diveta e imediatamente, com outras estruturas (... (Devemos supor quel 2 cultura funcionars sempre através de ides — e, 20 mesmo tempo, que a textualidade vente (..). A no ser que e ai€ que se respeite 0 deslocamento necessirio da cultura e, contudo, se fique sempre tertado pelo seu fracasso em reconciliar-se com outras questoes importantes, com outras quesides que no podem nunca ser pplenamente recuperadas pela textwalidade critica em suas elabo- ragbes, os estudas culturais como projeto, como intervencio, ermanecem incompletas? (1992: 284) Em nossa opinio, o dito de Hall de que cultura e textuali- dade “nunca sao suficientes" refere-se & dificuldade de abordar, por meio da cultura e da textualidade, “outras questes impor- tantes", tais como as estruturas, formagdes ¢ resisténcias que estio inevitavelmente permeadas tura, 0 “algo de ruim 20 1 embaixo" ao qual Hall quer que os estudos culturais retornem, aindo do “ar m a politica no Ambito dos estudos tials, nao somente porque sua formulacio proporciona uum meio de manter as questoes teoricas & mas porque exorta os te6ricos — em particu demais a permanecer no nivel do texto e da politica da repre- sentaglo — a se engajarem no “algo asqueroso li embaixo' como uma questio tanto teérica como politica, Em outras palavras, a tensdo entre o textual e o que Ihe € subjacente, entre representacao ¢ seu fundamento, entre signi- ficados e priticas, entre narrativas e atores sociai, entre discurso € poder, jamais pode ser resolvida no terreno da teoria. Mas 0 “ iente” tem mao dupla Se ha sempre “algo mai n da cultura, algo que nio € bem captado pelo textual/ ursivo, hd também algo mais além do assim chamado mate- algo que € sempre cultural ¢ textual. Veremos a importancia dessa inversiio nos casos dos movimentos sociais dos pobres ¢ marginalizados, para quem 0 demonstrar que st pessoas com dir 4 a recuperar sua dignidade e estatuto de cidadios e até de seres humanos. Em outras palavras, essa tensio € resolvida apenas proviso: mente na prética. Sustentamos que os movimentos sociais S40 tuma arena crucial para a compreensio de como esse entrelaga- mento, talvez precério, mas vital, do cultural e do politico ocorre na pritica, Ademais, acreditamos que a conceituacio 4 investigacio das politicas culturais dos movimentos sociais € uma digressao te6rica promissora que leva em conta a exor- tagao de Hal DA POLITICA CULTURAL A CULTURA POLITICA Apesar de seu compromisso com uma compreensio mais ampla de cultura, boa parte dos estudos culturais, em particular ‘nos Estados Unidos, continua a ser fortemente orientada para o textual. Isso tem a ver com fatores disciplinares, histéricos icionais (Yidice, neste volume). Esse viés penetra também i de politica cultural. Em sua utilizaglo atual — apesar do interesse dos estudiosos da cultura em examinar as relagdes entre priticas culturais e poder e seu compromisso com a transformacao social —, a expressio “politica cultural” refere-se amide a lutas incorpéreas em torno de significados e representagdes, onde o que esté politicamente em jogo para latores sociais concretos €, as vezes, dificil de discern. Concordamos com a definiglo de politica cultural proposta lan e Weedon em seu livro recente sobre o tema: a politica mais am 995: 5-0) la para transformar a sociedade Porém, ao concentrar sua anilise na *concepcao dominante sma”, agora ampliada para ‘a “cultura popular” e os “meio: Jordan e Weedon parecem compartilhar a suposicao de que a ca da representasao — tal como recolhida de formas & luminar as posi¢Ges reais ou potenciais € as estratégias icas de determinados atores socials. Sustentamos que jsar suas intervengées pe E importante enfatizar o fato de que na América Latina de hoje, todas os movimentos sociais poem em pritica uma politica cultural. Seria tentador restringir o conceito de politica cultural Aqueles movimentos que s40 mais claramente culturais. Nos anos 80, essa restriclo resultou numa divisto entre movimento sociais “novos” e “velhos". Os novos eram aqueles para os quais a identidade era importante, aqueles engajacos em *novas formas de fazer politica” € os que contribuiam para formas 2 novas de soci lade. As opgdes favoritas eram os movimentos indigenas, étnicos, ecol6gicos, femininos, homossexuais ¢ de direitos humanos. Ao contririo, os movimentos urbanos, ‘camponeses, operirios € de bairro, entre outros, eram vistos 5 convencionais por necessidades ¢ recursos. O3 im claramente que 0s movimentos de mulheres e outros, também dem em movimento forgas culturais. Em suas lutas continuas contra os projetos dominantes de construgio da nacio, desen- volvimento repressio, os atores populares mobilizam-se colet vvamente com base em conjuntos muito diferentes de significados € objetivos. Dessa forma, as identidades e estratég todos 0s movimentos sociais eso inevitavelmente vinculadas & cultura Nossos colaboradores exploram as maneiras como politicas sais diversas entram em ago quando atores coletivos se que fazem reivindicagées com base na cultura — como no caso do movimento negro colombiano discutide por Libia jar participantes, jeiros discu- ha © a COCET (Coalizao de Operarios, udantes do Istmo) do México, examinada tidos por Ol Camponeses € F: por Jeffrey Rubin. Porém, queremos sublinhar que as politicas culturais sto também postas em agio quando os movimentos intervém em debates pol 1m dar novo significado as interpretagdes priticas politicas lecidas. George Yadice, David Slater e Gustavo Ribeiro, por exemplo, chamam nossa atencio para a *habilidosa guerra de guerrilhas na midia” desencadeada pelos zapatistas no combate 20 neoliberalismo e na promocio da democrati- zagio no México. Sonia Alvarez. enfatiza que as batalhas poli- ticas travadas pelas feministas latino-americanas que em anos recentes penetraram no Estado ou no establishment do desen- volvimento internacional devem ser entendiidas também como lutas para dar novo significado a nocdes predominantes de cidadania, desenvolvimento e democracia. Jean Franco (1998) defende posicio semelhante 20 sublinhar que o feminismo 23 deveria ser descrito como “uma posigao (nao exclusiva das mulheres) que desestabiliza tanto 0 fundamentalismo como as, ovas estruturas opressivas que esto surgindo com o capita- *, e que a confrontacao do feminismo com essas estruturas “envolve mais urgentemente do que nunca a luta pelo poder interpretativo”. A anilise de Sérgio Baierle dos ‘movimentos populares urbanos em Porto Alegre, Brasil, concei- tua-os como “espagos estratégicos onde se debatem concepgoes. Maria Célia Paoli e ‘mesma forma os diferentes modos em tos se engajam simultanea- mente em lutas por direitos € significagées. m 10 afirma Evelina Dagnino, 0 conceito de politica culty nce is dos m sociais pela democratizaglio da sociedade e para destacar as, cagdes menos visiveis € amidde negligenciadas dessas 3s. Ela su: \cdes culturais no so meros *sub-produtos” da luta politica, mas a0 contririo, sto consti tutivas dos esforgos dos movimentos sociais para redefinir 0 sentido e os limites do proprio sistema politico. Jean Franco (1998) observa que as discussdes sobre 0 uso de palavras parecem muitas vezes ccatagto de pi parece ser irrelevante para as lutas “reais”. Contudo, 0 poder de interpretar € a invengio € apropriagao ativa da linguagem slo instruments cruciais para (0s movimentos emergentes que buscam visit Inhecimento para as conceprdes © discursos dominantes. Com efeito, como David Slater sugere em seu artigo, “as lutas sociais podem ser vistas como ‘guerras de interpretaao!”. Nossa definigao de pol al € ativa € relacional Interpretamos politica cultural como a processo posto em ago quando conjuntos de atores sociais moldados por e encar~ nando diferentes significados e priticas culturais entram em conflito uns com as outros, Essa definicto supde que signifi- cados © priticas — em particular aqueles teorizados como is, oposicionais, minoritétios, residuais, emergentes, vos, dissidentes e assim por diante, todos concebidos fonte de processos que devem ser aceitos como isso seja raramente visto como tal é mais um reflexo das definigdes entranhadas do politico, abrigadas nas ticas dominantes, do que uma indicagao da forca a ou relevancia epistemol6gica da pol los sio con’ ictamente, buscam redefinir © poder social. Isto é, quando apresentam concepedes | economia, democracia ou) Falamos de formagdes de politica cultural neste sentido: do de articulagoes discursivas que s¢ of em priticas culturais existentes — nunca puras, sempre hibridas, mas apesar disso, mostrando contrasts significativos em relagio is dominantes — e no contexto de determinadas s histéricas. Evidentemente, 2 pol cm em movimentos sociais da direita ¢ até mesmo dentro Bes estatais; 0s neo-conservadores, por exemplo, 12 politica” por meio da “defesa (ou recriagio de um mundo da vi (Cohen, Arato, 1992: 24). Da mesma forma, Jean Franco (1998) mostra como, Gurante os preparativos para a Quarta Conferéncia Mundial das Mulheres, os movimentos conservadores ¢ funda- 1 0 feminismo ulo aparentemente secundatio, a ‘gener. O artigo de ste volume chama a atengio para os esforeos do neoliberalismo no Chile para reestruturar a cultura tanto como a economia Mas o angulo culturais dos movimentos sociais talvez seja em relacio com seus efeitos sobre a(s) cultura(s) politica(s). Cada sociedade sitos deste livro, defi social particular em cada sociedade do que conta como “pt .ém Slater, 1994a; Lechner, 1987a). Desse modo, 15, reti> a ser consideradas como propriamente politicas (da mesma 25 versalista e individualista” (Mouffe, 1993: 2). Como veremos, as formas dominantes de cultura politica na América Latina ferem um pouco — em alguns casos, talvez de modo signi 0 — dessa definicao. As politicas culturais dos movimentos sociais tentam amitide desafiar ou desestabilizar as culturas politicas dominantes. Na medica em que os objetivos dos movimentos sociais contem- poriineos as vezes vio além de ganhos materiais e institucion percebidos; na medida em que esses movimentos sociais afetam as fronteiras da representacio politica e cultural, bem como 1 pritica social, pondo em questo até o que pode ou nao pode ser considerado politico; finalmente, na medida em que ou pressupdem diferencas culturais — entio iF que © que esti em questio para os movi- de um modo profundo, € uma transformagao da cultura politica dominante na qual se movem e se cor com pretensdes politicas. Se os movi- jendem modificar 0 poder so: abrange campos institucional para a negociacio do poder, entio os movimentos sociais necessariamente enfrentam a questo da cultura politica. Em muitos casos, 0 movimentos sociais nao exigem inclusio, ica dominante, — que encontra los de Dagnino e Paoli e Telles — sugere que esses movimentos podem, as vezes, desempenhar um papel fundacio nado a transformar a prépria ordem politica staca que 0s “novos cidados” que emergem foruns de panticipacao e conselhos populares de Porto ‘Alegre e outras cidades brasileiras questionam radicalmente © modo como o poder deve ser exercido, em vez de tentar meramente “conquisté-lo" as culturais dos movimentos sociais podem ser vistas também como fomentadoras de modernidades alternativas. Como diz Fernando Calderén, alguns movimentos colocam questo de como ser ao mesmo tempo moderno € diferente — ‘como entrar en la modernidad sin dejar de ser indios" (1988: % 225). Eles podem mobilizar construgdes de individuos, direitos, economias © condicdes sociais, que no podem ser definidas estritamente dentro dos paradigmas da modernidade ocidental (ver Slater, 1994a € Warren, neste volume; Dagnino, 19942, 1994b)5 As culturas as da América Latina so muito influenciadas , contudo, se diferenciam delas. Ess nnte expressa nas referéncias recorrentes 2 principios tais como racionalismo, universalismo e individualismo. Porém, na América Li jos combinaram-se 11 e até a controlar a definigao do que conta como politico em sociedades extrema. mente hierarquizadas ¢ injustas. Essa hibridizagio alimentou a andlise sobre a adocio peculiar do como “idéias fora do lugar” (Schwarz, 1988) e, com respi tempos mais modemnos, a andlise das democracias de “fachada” (Whitehead, 1993). Esse liberalismo “fora de lugar” serviu as elites latino-ame- ricanas do século XIX ao mesmo tempo como resposta is pres- 35es internacionais ¢ como meio de manter um poder politico excludente, na medida em que se baseava e coexistia com uma conce} ica, transferida das priticas sociais e p latifindio (Sales, 1994), onde os poderes pessoal, social e politico se superpunham, constituindo uma Unica e mesma realidade. Essa falta de diferenciacio entre o Piiblico e 0 privado — onde nao s6 o piblico é apropriado pelo privado, como as relag6es politicas sio pereebidas como lagdes privadas — toma as relagdes de favor, ismo € o patemalismo, praticas Lém disso, sjudadas por mitos como o da cssas priticas obscureceram a desigualdade a exclusio, Em conseqiiéncia, grupos subalternos, excluidos, passaram a ver a politica como “negécio privado” das elites (como diz Baierle, como *o espaco privado dos doutores”), resultando numa imensa distancia entre sociedade ci politica — até mesmo em momentos em que os mecan dominantes de exclusao deveriam ser aparentemente redefinidos, como, por exemplo, no advento da Repiiblica (Carvalho, 1991). Quando, nas primeiras clécadas do século XX, a urbanizagao € a industrializacio tornaram inevitivel a incorporagao das n essa mesma tradig20 tenha massas, no surpreende qui inspirado 0 novo arranjo politico-cultural predominante: 0 populismo, Tendo de compartilhar seu espaco politico com patticipantes anteriormente exclufdos, as elites latino-ameri mos para uma forma subordinada qual relages personalizadas com icos garantiam 0 controle ¢ a tutela sobre participacto popular heterOnoma. Mais do que a alegada irracionalidade das massas", o que estava por was do mento da lideranca populista — identificada pelos " © salvador — era ainda a légica excluidos como scu “pai” e si dominante do personalismo. Associada a esses novos mecai smos de representacao — em relagio ais quais 0 seus limites (lsfich, Lechner, Moulian, 1986) — us do papel do Estado tornou-se um elemento cru mericanas. Concebido como © promotor de partir de cima e assim, como 0 agente da transformagio social, o ideal de um Estado forte e inter- vencionista, cujas fungdes eram vistas como incluindo a “organizagio" —e, em algumas concepydes, a propti politicas populistas, nacionalistas e desenv suas versbes tanto conservadoras como de esquerda. A di assumida por essa centralidade do Estado na maioria dos projetos politicos inspirou os analistas a falar de um “culto do Estado’, ou estadolatria (Coutinho, 1980; Weffort, 1984). A definicao do que conta como “politico” tinha agora uma referéncia nova e concreta, agravando as dificuldades para © surgimento de novos sujeitos politicamente auténomos e, dessa forma, aumentando a exclusio que 0 populismo pretendia resolver por meio da concessio de direitos poli ticos © sociais € 70 regimes militares em quase toda a regio, numa reagio as tentativas de radicalizar as aliancas populistas ou de explorar alternativas socialistas democriticas. © avtoritarismo exacer- bado tansformou a exclusio politica em eliminaco politic: por meio da repressio estatal e da violencia sistematica 28 Proces mentos burocriticos e tecnocra decisdes ofereceram um fundamento adi inda mais a definicao de politica e seus das basica 10s de tomada de nal para restringir em torno da administragio da as politicas dominantes da América Latina as excegdes de vida curta — no da sociedade. Na verdade, todas estiveram comprometidas, em diferentes formas e graus, com 0 autoritarismo social profundamente entaizado. a organizaglo excludente ino-americanas, décadas — tanto em paises sob regime autoritirio como em nagées formalmente d versbes plurais de uma cul ica que vio do (redestabelecimento da democracia formal liberal. Assim, s redefinigdes emergentes de conceitos como democracia € Cidadania apontam para diregdes que confrontam a cultura autoritéria por meio da atribuigao de novo significado as nogies de direitas, espagos pUblicos ¢ privados, formas de sociabilidade, por dante. Esses processos miiltiplos de re-significagao revelam claramente definigdes alternativas do que conta como pé A RECONCEITUAGAO DO POLITICO NO ESTUDO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS LATINO-AMERICANOS especificas (votar, Fazer campanha ou lobby) que ocorrem em ramente delimitados, tis como parla- la deve ser vista como abrangendo também lutas de poder realizadas em uma ampla gama de espacos cul- ‘uralmente definidos como privados, sociais, econdmicos, nte. © poder, por sua vez, no deve ser entendido como “blocos de estruturas insttucionais, com tarefas pré-estabelecidas (dominar, manipular), ou como meca- rnismos para impor orciem de cima para baixo, mas antes como 2» uma relagio social dlfusa por todos os espacos" (Garcia Canclini, 1988: 474). No entanto, uma concepgao descentrada do poder € da politica no deve desviar nossa atengiio do modo como as movimentos sociais interagem com a sociedade politica e 0 Estado e “nao deve nos levar a ignorar a mancira como 0 poder se sedimenta e se concentra ituigdes © agentes sociais” (475). Desse modo, nossos autores dio a devida atengo as relagdes dos movimentos com os poderes sedimentados de partidos, ins- tituigdes e com 0 Estado, a0 mesmo tempo em que sugerem que 0 exame dessa relagto “nunca é suficiente” para aprender © impacto politico ou 2 significagio dos movimentos sociais.© Como argumenta convincentemente David Slater (neste volume), rmacao de que os movimentos sociais contemporaineos do politico desafiaram ou refizeram as frontei pode significar, por exemplo, vverter 08 dados tradicionais do sistema poli partidos midade ¢ o funcioaamento aparentemente normal seus efeitos na sociedade. Mas também papel de alguns movimentos socias foi o de revelar os significados ocultos do politico encerrados no social sentago, 08 capitulos seguintes transgridem as concepsoes cidadania emocracia, que predominam tanto na ciéncia politica tradi- jonal como em algumas versdes das abordagens que enfatizam seja a mobilizac2o de recursos ou 0 processo politico.” Em vez de avaliar ou medir o “sucesso” dos movimentos sociais principal ou exclusivamente com base no modo como suas demandas sao processadas — ¢ se 0 s10 — no interior da politica de representacao (institucional), nossos autores se empenham em langar nova luz sobre o modo como 0s discursos € priticas dos movimentos sociais podem desestabilizar © sim — pelo menos parcialmente — transformar os di dominantes € as priticas excludentes da “democracia ll americana realmente existente” (Fraser, 1993). Tendo experimentado uma espécie de renascimento nos campos da ciéncia politica e da sociologia em anos recentes cestreitas © reducionistas de politica, cultura p 30 Cinglehart, 1988), 0 conceito de cultura politica buscou eliminar ‘as preconceitos “ocidentalizantes" do passado (Almond, Verba, 1963, 1980). Contudo, ele permanece em larga medida restrito jelas atitudes € crengas sobre aquele Ambito restrito (0 tema politico estritamente delimitado) que 2 ct nante definiu historicamente como propriamente pol aquelas erengas que sustentam ou solapam as regras estabe- lecidas de um determinado *jogo p mentos © avaliagdes mais tempordrias e mutaveis rela com 0 sistema politico. (Diamond, Linz, 1989: 10) valores e disposigoes comportame: te) de compromisso, flex mente para a “manutengao da cemocracia” (12-13). Essas concepgdes de cultura politica tomam o p dado e no enfrentam um aspecto mentos explorado por varios dos capitulos aqu Como observa Slater (19948), com muita fre tico como is dos move Norbert Lechner de que "a andlise das questoes px nnecessariamente a questio de por que uma determinada questio rca. Assim, podemos supor que a cultura politica condi- inagao" (1987a: 8) na e expressa precisamente essa dete como politico e quem — além da “elite democritica” — define as regras do ico, pode ser crucial, sustentamos, para promover culturas politicas alternativas e, poten: Fandar a democracia na Ameé ume) afiema, pee que foi “o fomento de uma cultura anova c hibrida que permitiu 4 COCEI manter seu poder mesmo quando a reestruturacao econdmica neoliberal e a desmobilizacao dos movimentos populares dominavam a ica no resto do México € da América Latina”. 3a ‘Ademais, embora as disposigdes por Diamond e Linz pudessem sem diivid: a democracia representati pouco sobre como padrdes e pritica mais amplos que promovem 0 autoritarismo social e a desigualdade notoria obstruem 0 exercicio da cidadania democritica significativa para cidadiios que nao pertencem a elite (Sales, 1994; Telles, 1994; Oliveira, 1994; Hanchard, 1994). As rigidas, sociais de classe, raga e género que caracterizam as relagdes, sociais latino-americanas impedem que a vasta maioria dos cidadaos de jure imagine e muito menos reivindique pul mente a prerrogativa de ter direitos. Como sustentamos em outro lugar, os movimentos populares, ao lado dos feministas, afro-latino-americanos, de lésbicas © homossexuais, assim como ambientalistas, foram instrumentais na construcao de uma nova concepgao de cidadania democritica, que reivindica direitos na sociedade ¢ no apenas do Estado € que contesta as rigidas hierarquias sociais que ditam lugares fixos na socie- dade para seus (no) cidadios com base em critérios de classe, raga € genero. elas nos dizem arismo social engendra formas de sociabilidade numa ra autortria de exclusio que subjtz 20 conjunto das prticas fundamental para a efetiva democratizagio da sociedade. A consideragio dessa dimensto implica desde ogo uma redefi- nlgio daquilo que € normalmente visto como o terreno da politica e das relagdes de poder a serem transformadas. E Fundamentalmente, significa uma ampliaglo e aprofundamento da concepeio de democracia, de modo a incluir 0 conjunto das priticas sociais e culturals, uma concep¢io de democracla que transcende o nivel institucional formal e se debruca sobre © conjunto das relagoes sociais permeadas pelo autoriiarismo soctal e no apenas pela exclusto politica no sentido esti. (Dagnino, 19942: 104-105) A anilise de Teresa Caldeira (a sair) de como € por que a defesa dos direitos humanos dos criminosos comuns continua a ser vista como “algo ruim e condenavel” pela maioria dos cidadaos no Brasil democritico ilustra pungentemente por que — a luz do constante autoritarismo sécio-cultural — “a ¢ social deveria olhar para além do — .criticas e explorar 0 modo ir sobre as transigdes d como “0s limites da democratizagio estio profundamente i tados nas concep¢des populares do corpo, da punicao € dos direitos individuais". A penetragio das nogdes culturais do “corpo € individuo ilimitados", sustenta Caldeira, impede seriamente a consolidagio dos direitos civis e individuais basicos no Brasil: "Essa nogio € reiterada nio somente como io do poder nas relagdes interpessoais, mas também como uum instrumento para contestar de modo expl ipios da cidadania universal ¢ dos direitos individuais.” rentos de direitos humanos deve har para re-significar e transformar as concep¢Oes culturais dominantes dos direitos e do corpo. No entanto, apesar da atengiio renovada concedida 2 ises politicas recentes, o cultur inspiram a analise (neo) dos te6ricos tradicionais que 03 movimentos sociais € as associagbes civicas desempenhiam, na melhor das hipéteses, um papel secundrio na democratizagio e tem, portanto, concentrado sua atenca0 1a institucionalizagio politica, que é considerada “o fator mais nportante e urgente na consolidacao da democracia" (Diamond, 1994: 15). Em consequiéncia, as discussbes sobre a democratizagio latino-americana concentram-se hoje quase que exclusivamente na estabilidade das instituigdes © processos politicos repre: sentativos formais como, por exemplo, nos “perigos do presi- 1994), na formacio € consolidagio de partidos e sistemas partidarios vidveis (Mainwaring, Scully, 1995), © nos “requisitos da governal lidade" CFiuntington, 1991; Mainwaring, O’Donn 1992; Martins, 1989). Em resumo, as a democracia centram-se no que os cient de “engenharia institucional", requisito para a consolidacao da democracia representativa no Sul das Américas Uma tendéncia recente no estudo dos movimentos sociais latino-americanos parece endossar esse foco exclusive sobre © formalmente institucional (ver Foweraker, 1995). Embora a iceratura mais antiga sobre os movimentos dos anos 70 € 80 louvasse sua suposta abstengao da politica institucional, sua 3 defesa da autonomia absoluta sua énfase na democracia direta, muitas andlises recentes sustentam que esas posturas deram origem a um “etbos de rejcicdo indiscriminada do insti- tucional" (Doimo, 1993; Silva, 1994; Coetho, 1992; Hellman, 1994), que tornava dificil para os movimentos articular com eficacia suas reivindicagdes nas arenas politicas formais. Outros te6ricos destacaram as qualidaces paroquiais, fragmen- trias, dos movimentos e enfatizaram s e de trans- cender o local ¢ engajar-se na realpolitile ornada inevitével pelo eleitoral (Cardoso, 1994, 1988; Silva, 1994; Coelho, 1992). Ainda que as relagdes dos movimentos sociais com os partidos, o Estado com as instituigdes frigeis, litstas, parti- cularistas e amitide corruptas dos regimes civis da América Latina meregam certamente atencio dos estudiosos, essas anilises jenciam com freqdéncia a possibilidade de que arenas as ndo-governamentais ou extra-institucionais — inspi radas ou constnufdas principalmente por movimentos soci possam ser igualmen 1 consolidagao de uma idadania democratica significativa para grupos e classes sociais subalternos. Ao chamar a atengio para as p movimentos sociais € outras dimensdes menos mensurdv fe, As vezes, menos visiveis ou submersas, da ago coletiva contemporinnea (Melucci, 1988), nossos autores oferecer 's da maneira Como os movimentos contribuiram medida protoliberal) se converteram nos pilares da dominacio na América Latina, s varios artigos se cletém numa variedade de debates te6 a luz diferente sobre suas imbricagées com o cultur priticas dos movimentos socials latino-americanos. Entre esses estio os recentes estucas cultu stas © os debates pés-marxistas © pés-est © demo- bem como conceitos correlatos como redes ou “teias” Wimentos sociais, sociedade civil e espacos ou esferas CULTURA E POL{TICA NAS REDES OU TEIAS DE MOVIMENTOS SOCIAIS ‘Uma maneira particularmente frutifera de explorar como as intervengdes politicas dos movimentos sociais se estendem para dentro © para além da sociedad politica e do Estado € dos movimentos sociais (Melucei, 1988, Doimo, 1993; Landim, 1993a; Fernandes, 1994; Scherer-Warren, 1993; Putnam, 1993; Alvarez, 1997). Por Jo, varios dos capitulos seguintes chamam atencio para as praticas culeurais e redes interpessoals da vida cotidiana que sustentam movimentos sociais a0 longo dos fluxos refltxos de mobilizagio ¢ que infundem novos significados culturais nas priticas politicas e na a¢io coletiva. Essas estruturas de significado podem incluir diferentes formas de conscién ivas, por exemplo, & natureza, a vida de bairro “contribufram para a reelaboracao das crencas ¢ praticas culturais locais" s de género e classe [proporcionando} terreno fértil para wando as pessoas para as ruas". A centra- ica cultural clos movimentos encontra eco na discussio de Libia Grueso, Carlos Rosero & Arturo Escobar das lutas afro-colombianas em tomo de natureza ¢ identidade, no tratamento de Sérgio Baierle dos movimentos. urbanos brasileiros e no capitulo de Olivia Gomes da Cunha sobre os movimentos negros brasileiros neste volume. 1988) na modelagem da p Por outro lado, varios capitulos sublinham que 0s movi- mentos sociais nio apenas dependem e se baseiam em redes da vida cotidiana, mas também constroem e configuram novos interpessoais, inter-organizacionais ¢ politico-culturais com outros movimentos, bem como com uma multiplicidade de atores € espacos culturais € institucionais. Esses vinculos UO expandem o aleance cultural e politico dos movimentos para muito além das comunidades locais patios familiares c, alguns de nossos autores sustentam, ajudam a contrabalangar as, supostas propensdes paroquiais, fragmentarias e efémeras dos movimentos. Ao avaliar o impacto dos movimentos sociais sobre pro- cessos mais amplos de mudanca politico-cultural, devemos entender que o alcance dos movimentos sociais se estende para além de suas partes constitutivas Obvias € manifestagdes visiveis de protesto. Como sugere Ana Maria Doimo em seu incisivo estudo sobre o "movimento popular” no Brasil: Em geral, quando estudamos of fenmenos relatives & patt- cipacdo explicitamente politica, tais como partidos, eleigdes, parlamento etc,, sthemos onde procurar dados e instrumentos Nao é este o caso do campo dos movimentos (0 (..) um tal campo baseia-se em relagbes interpes- 108, envolvendo conexdes que vao além de grupos especificos © atravessam ‘ransversalmente insituigSes sociais particulares, tis como a Igrefa catélica, 0 protestantismo — nacional ¢ internacional —, a 2, a8 organizagées nto-governamentais (ONGS), a organizagdes de esquerda, os sindicatos e as partidos politicos, @oimo, 1993: 44) Alvarez sustenta que as demandas, discursos € préticas Pi de muitos dos movimentos atuais estio amplamente espalhadas, as vezes, de mod politico-comuni a Igreja, os meios de comunicago e assim por diante. Schild firma: com suas redes Essas redes no sio apenas responsiveis por sustentar 0 trabalho de organizagoes de base e (..) ONGs, mas estao também enga jadas na produgao de conhecimento, inclusive de categorias que se tormam parte dos repertérios morais usados pelo Estado. ‘Ademais, como demonstram as contribuigdes de Yédice, Slater, Lins Ribeiro ¢ Alvarez, muitas redes de movimentos 6 Jatino-americanos so cada vez mais regionais e transnacionais no seu alcance (ver também Lipschutz, 1992; Keck e Sikkink, 1992; Fernandes, 1994). (0 termo ‘teias de movimento social” em contraste com 0 mais comum “rede") transmite 0 aspecto intrincado € precio dos maltiplos lagos ¢ imbricagdes estabelecidos entre organi: zagdes dos movimentos, participantes individuais € outros atores da sociedade civil € 0 Estado. A metéfora da “t também nos permite imaginar mais vividamente os entrelaga mentos em miltiplas camadas dos atores dos movimentos com os terrenos natural-ambiental, politico-institucional © cultural-discursivo nas quais esto incrustados Em outras palavras, as teias dos movimentos abrangem mais do que suas organizagbes ¢ seus membros ativos; elas incluem participantes ocasionais nos eventos ¢ agdes do movimento ¢ simpatizantes e colaboradores de ONGS, partidos 105, universidades, outras instituicoes culturais e conven- Gionalmente politicas, a Igreja ¢ até o Estado que (20 menos parcialmente) apéia um determinado objetivo do movimento @ ajuda a difundir seus discursos ¢ demandas dentro ¢ contra as instituigSes e culturas politicas dominantes (Landim, 1993a © 1993b). Quando examinamos 0 impacto dos movimentos, devemos entio avaliar a extensio em que suas demandas, discursos ¢ praticas, circulam de modo capilar, como numa teia (por exemplo, como sto utilizados, adotados, apropriados, cooptados ou reconstruidos, conforme o caso), em arenas institucionais ¢ culturais mais amplas. Warren, por exemplo, critica a nogto predominante de que “a medida do sucesso de um movimento social é sua capacidade de conseguir agdes de massa e protestos publicos”, argumentando que nna avaliaga0 de um movimento como o Pan-Mait — baseado em educacio, idioma, reafirmagao cultural e direitos coletivos — devemos considerar que pode nao haver nenhuma smanifestag2o pata contar porque nio se trata de um movimento de massa q ‘Mas haverd geragBes novas de estuda s, professores, agentes de di idosos da comunidade que foram tocados de pelo movimento pa sua produglo eu Devemos levar em conta também como a di discursos dos movimentos sio moldados pelas ins sociais, culturais € politicas importantes que redes ou teias € como os movimentos, por sua vez, modelam, a dinimica e 0 discurso daquelas instituigdes. Schild, por ‘exemplo, observa que “as agéncias governamentais € iniciativas partidirias sem fins lucrativos que trabalham a favor das mulheres contam fortemente com os esforgos de mi cionadas em redes [inspiradas no femir porineo. E Alvarez analisa a absorglo, cacao relativame demandas fem dominantes, organizacdes paral © Estado € 0 establishment do desenvolvimento, OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A REVITALIZAGAO, DA SOCIEDADE CIVIL Tal como a nog de cultura politica, o conceito de sociedade civil testemunhou também um renascimento, significativo, um verdadeiro boom conceitual, nas cincias sociais durante a ia década (Cohen, Arato, 1992: 15; Walzer, 1992; Avritzer, 1, 1988). Anclrew Arato atribut “o notivel ressurgi- ssse conceito” ao fato de que: reformistas taduras, observadas. ‘Latina, para 35 quals proporcionou uma nova compreensio tedrica. Fssas estratégias se baseavam na organizagio auténoma da sociedade ena reconstrugio dos lagos sociais fora do Estado autoriario © a conceituagio de uma esfera pablica independente © separada de todas as formas de comunicagio oficial, controladss pelo Estado ou pelos partidos. (1995: 19) primeiro na Furops oriental e depois na An Com efeito, como diz Alfred Stepan, “a sociedade civil tornou-se a célebridade politica’ de muitas transigées latino american io (Stepan, 1988: 5) € foi uniformemente vista como um ator significativo (embora secundério) na literatura da democratizacao. Em seu artigo neste volume, Yidice sustenta que, sob 0 Estado em processo iberalismo, a sociedade civil “loresceu", 4 sociedade civil tomou-sc “interna i i neste volume), “global” (Lipschutz, 1992; Leis, 1995; Walzer, 1995) e até *planetéria” (Fernandes, 1994 € 1995). Embara os esforcos para delimitar esse conceito variem ‘muito — indo de definigdes abrangentes (em algumas versdes, residuais) que incluem tudo o que 2doé 0 Estado ou o mercado, até concepgdes que restringem a noglo a formas de vida associn- tiva organizadas voltadas para a expressio de interesses da sociedade —, a maioria inclui os movimentos sociais entre seus componentes centrais ¢ mais vitais, Ademais, analistas tanto conservadores como progressistas, tendem em e ativ a louvar 0 potencial democratizador da sociedade escala local, nacional, regional.e global. Nossos colaboradores endossam em geral essa visio posi tiva, na medida em que a sociedade civil constituiu amidide a Gnica esfera disponivel ou a_msi a coniestagio cultural e politica. Porém, eles t @ atengio para ts ressalvas importantes, mas nem sempre exploradas. Primeiro, destacam que a sociedade ci uma familia ou uma “aldeia global” homogéneas € mas um terreno de luta, minado as vezes por relagbes de poder nao-democriticas e pelos problemas constantes de racismo, hetero/sexismo, destruigio ambiental ¢ outras formas de exclusio (Slater, Alvarez, Lins Ribeiro, Schild). Em parti a crescente predominancia das ONGs nos movimentos americanos ¢ sua relagio complexa com movimentos de base local, de um lado, e de outro, com agéncias bilaterais, multila- terais e privadas, fundagdes e ONGs transnacionais com base na América do Norte, so também assinaladas como questOes politicas e te6ricas especialmente complicadas para os movi- mentos da regio atualmente (ver também MacDonald, 1992; Ramos, 1995; Mugoucah, 1995; Rielly, 1994; Walzer, 1992; Lebon, 1993). Lins Ribeiro destaca que as ONGs podem ser de fato um suj tico efetivo Fragmentado, descentrado em um mundo pés-moderno, mas 0 custo da flexibilidade, do prag- matismo € da fragmentago pode muito bem ser o reformismo — sua capacidade de promover mudangas radicais pode enfra- quecer". Alvarez analisa questées de representatividade, legi- timidade e responsabilidade que infestam amitide as ONG feministas ¢, junto com Schild, chama a aten¢io para as maneiras » em que as ONGs par ou “para” em vez de sm as vezes agir como organizag! Wo" governamentais. E Yédice pergunta: mesmo tempo, tomar possivel para o Estado livrar-se do que ado de sua responsabilidade?” segundo lugar, varios dos capitulos deste stem contra 0 aplauso ingénuo as em suas manifestacdes locais, n globais. Slater obser civil foi essencializada em um marco p do bom e do esclarecido”; seu capitulo, assim como os de Yadice, Lins Ribeiro e Alvarez, destaca qu 6 um terreno minado por © poder em que alguns atores podem obter maior acesso a0 poder, bem como acesso diferenciado a recursos materiais, is € politicos. Uma véz que a democratizacao das retagbes a0 nivel micro do lar, do bairro e da el macro das relagdes entre negros e brancos, ricos e pobres — é um objetivo expresso dos movimentos sociais latino-americanos, a sociedade civil deve ser entendida 20 mesmo tempo como © scu “terreno” ¢ um de seus “alvos” privilegiados (ver Cohen, Arato, 1992, esp. Cap. 10). Nesse sentido, ha uma conexto evidente entre a importncia das lutas pela democratizacao no interior da sociedade civil e a politica cultural dos movi- mentos sociais. associaclo comuni mulheres e homen Em terceiro lugar, vitios capitulos examinam como a fronteira entre sociedade civil e Estado fica embacada muitas vezes nas dos movimentos sociais latino-americanos. Schi a frequente “transmigraga0” das ativistas feministas 1s ONG para 0 Estado e vice-versa e chama ainda chilenas atengio para o fato dle que o proprio Estado estrutura relacdes no interior da sociedade civil, afirmando que “essa estruturacio conta com recursos culturais importantes da propria sox civil". E Slater sustenta que hi conexdes entre 0 E: sociedade civil que ‘ou mesmo de uma delimitago entre os dois como entidades completamente aut6nomas (Slater, neste volume) © capitulo de Rubin ilustra 6 modo como as praticas hibridas is também cesafiam amitide as represen- tagdes dicotOmicas de vida piblica e vida doméstica ou privada rr Rubin argumenta que as politicas culturais da COCEI cram freqlientemente postas em pritica nas “zonas intermedia de contomos que eram pouco claros". No mesmo sentido, Diaz-Batriga (1998) sustenta que as colonas que participa dos movimentos urbanos da Cidade do México atam de modo gemelhiante dentro de *fronteiras culturais". Afirma ainda que ‘clas “contestavam e 20 mesmo tempo reforcavam os significados politicos e culturais da subordinacao das mulheres, bem como habitavam um espaco social envolto em ambigiidade, ironia e conflito” (OS MOVIMENTOS SOCIAIS EA TRANS/FORMACAO DO PUBLICO arias concepgdes do piblico — tais como esferas piiblicas, espacos piblicos e contraptiblicos subalternos — foram ecentemente propostas como abordagens titeis para explorar 6 nexo entre cultura e politica nos movimentos socizis « porineos (Habermas, 1987 e 1988; Fraser, 1989 e 1993; Cohen, Arato, 1992; Robbins, 1993; Costa, 1994) e sto retrabalhadas € expostas de varias maneiras nos capitulos que seguem. George Yadice afirma que os estudiosos das Américas fecisam “enfrentar 0 desatio de (re)construir a sociedade ‘em particular, as esferas piblicas em disputa nas quais as priticas culturais sio canalizadas e avaliadas" (1994: 2). Jean Franco (citada em Yiiice, 1994) sugere ainda que devemos ‘examinar “espagos piiblicos” em vez das esferas puiblicas defi- nidas convencionalmente, a fim de identificar zonas de acto que apresentem possibilidades de participacao dos grupos subordinados que usam ¢ se movem nesses espacos. f na re/ apropriagao de espagos publicos tais como centros comerciais, um dos exemplos de Franco, que se torna possivel aos grupos ‘marginais satisfazer necessidades no previstas nos usos conven cionais de tais espagos (Viidice, 1994: 6-7). A anilise que Rubin faz dos quintais familiares € mercados locais como locais importantes para a produgio de significados sobre cultura, politica e participacio; 0 uso pelos ativistas negros colombianos de ambientes fluvias eflorestais; e 0s usos criativos dos zapatistas do ciberespago sio ilustrativos da re/construgio € apro: \Ga0 desses espagos pUblicos pelos mi tos sociai Para apreender © impacto politico-cultural dos movimentos sociais e avaliar suas contribuigdes para minar 0 autoritarismo social ¢ a democratizagio elitista, no € suficiente examinar as interagdes dele parlamentos ¢ outras arenas politicas nacionais e transnacionais). ‘Devemos ampliar nosso olhar para abranger também outros ‘espacos piiblicos — construidos ou apropriados pelos movi- mentos sociais — nos quais politicas culturais sdo postas em se modelam as identidades, demandas e necessidades nas. \cy Fraser argumenta persuasivamente que a anilise bermas da esfera piiblica liberal traz tema premissa normativa subjacente, a saber, que 0 confina- ‘mento institucional da vida pdblica a uma esfera publica daica e totalmente abrangente é um situagio positiva e desejiv. ppasso que a proliferacio de uma multiplicidade de publicos ‘representa um afastamento da democracia, em vez de um avanco fem sua diregio, (1993: 13) Essa ci ica é pat mente relevante no caso da Améri Latina, onde, mesmo em contextos politicos formalmente demo- raticos, as informagées, 0 acesso € a influéncia sobre as esferas governamentais em que se tomam as decisdes politicas que afetam toda a sociedade so restritos a uma fragio mui pequena € privilegiada da populacao € negados as classes © 08 grupos nos. Uma vez que 0s subalternos tém sido historicamente relegados ao estatuto de nao-cidadios na América Latina — sustentam varios de nossos autores — a to das arenas pliblicas, nas quais a exclusto s6cio-cultural, de género, racial € econdmica, € no apenas politica, pode ser contestada e re-significada, deve ser vista também como parte integrante da expat aprofundamento da democracia A proliferagio de *piblicos" alternatives dos movimentos sociais — configurados, sugerem varios de nossos colabora- dores, a panir de redes ou teias politico-comunicativas intra & intermovimentos — é, portanto, positiva para a : no somente porque serve para "pér em xeque © poder do Estado”, ou porque “dd expresso" a estruturalmente pré-ordenados, como diriam Diamond e Linz 2 (989: 35), mas também porque € nesses espacos pablicos alternativos que esses mestnos interesses podem ser continua mente re/construidos. Fraser conceitua esses espacos alterna- tives como “eontrapiblicos subalternos", a fim de assinalar que eles so “arenas discursivas paralelas onde membros dos ‘grupos socials: subordinados inventam e circulam contradis- ‘cursos, de modo a formular interpretacOes oposicionais de ‘suas identidades, scus interesses e necessidades” (Fraser, 1993: 14), A contribuicio dos movimentos sociais para a demo- ‘eqacia latino-americana pode entdo ser encontrada também proliferagao de miltiplas esferas piblicas e nao apenas em ‘seu sucesso no processamento de demandas no interior dos publicos oficiais. Como sustenta Baierle, para além da interesses, esses espacos tornam possivel 0 processament conflitos em toro da consirugio de identidades ¢ a definiga0 de espagos nos quais esses conflitos podem se expressar. Assim a politica incorpora, em seu momento supremo, @ do interesse, que jamais € dado a priori". Para tas sociais dos anos 80 deixaram um legacio importante acs anas 90: elas criaram espacos pit informais e descontinuos, onde pode ocorrer 0 rec dos outros como portadores de dircitos. Paoli e Telles afirmam que os movimentas populares e operdrios ajudara nita os critérias pelos quais as demandas col justica e igualdade podem ser problematizadas ¢ avaliacas. Tal esferas piblicas de representacio, negociacao interlocucio representam um "campo democritico em construgao" que assinala pelo menos a possibilidade de repensar e expandir os parimetros da democracia brasileira realmente existente. Como observamos acima, os pablicos com base em movi- mentos ou inspirados por eles estio marcados por relagdes de poder dlesiguais, Com efeito, em vez de retratar os movimentos sociais como “intrinsecamente virtuosos do ponto de vista co", como escrevem Paoli Teles, varios de nossos capi- exploram questbes cruciais relacionadas com a represen- taglo, a responsabilidade e a democracia intema no interior 3 desses puiblicos alternatives construidos ow inspirados pelos movimentos sociais. Ainda assim, sustentamos que, embora contraditéria, a presenca publica continuada mediante a pro! tem sido um desenvolvimento positivo pai tente na América Latina. Nesse sentido, concordamos com a avaliagao de Fraser de que: licos subalternos nem sempre slo necessariamente guns deles sto explicitamente antidemocriticos e jes com intengdes democriticas ras nem sempre conseguem superar a pratica de seus préprios modos de exclusto € marginalizacio informal. Ainda assim, na medida em que surgem em reagio 2 exclusio no Interior de pablicos dominantes, esses contrapablicos ajudam 2 expandir o espago discursivo. Em pri ‘que eram antes isentos de contestacio serio agora publicamente ‘questionados, Em geral, a proliferagao de contrapUblicos subal- Tica uma ampliagao da contestacao discursiva, uma boa coisa em sociedades estraificadas, (1993: 15) € responsividade, exploradas em varios de nossos ca a crescente imbricagao de piblicos alternativos e oficiais pode, todav € de politicas no interior es da sociedade politica e do Estado. Com efeito, como a pesquisa de Dagnino sobre os militantes de Campinas “dao as costas” a partidos e instituigdes governament contririo, seu estudo revela que, enquanto a grande maioria dos cidadaos brasileiros desconfia dos politicos e considera 6s partidos mecanismos de defesa de interesses particulares, mais de setenta por cento dos que militam em movimentos sociais pertencem ou se identificam fortemente com um partido politico e acreditam que as instituigdes representativas so arenas cruciais para promover a mudanga social Ainda assim, nossos capitulos sugerem que os militantes negros colombianos, as feministas na ONU, os lideres do movimento Pan-Maia e os zapatistas nao estto apenas lutando Por acesso, incorporagio, participaglo ou incluso na “nagio” ou no “sistema politica” em termos pré-definidos pelas culturas politicas dominantes. Como sublinha Dagnino, 0 que também rome esti em jogo para os movimentos sociais de hoje é 0 dit de partcipar na propria definicao do sistema politico, 0 direito de definir aquilo no qual querem ser incluidos. GLOBALIZAGAO, NEOLIBERALISMO E A POLITICA CULTURAL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ‘Ao encerrar, é necessirio levar em considerasao os miiltiplos modos pelos quais a globalizacio e 0 projeto econémico neol bral em yoga em toda a América Latina afetaram a politica cultural dos movimentos sociais em anos recentes. Por um lado, a globalizacio e seu conceito correlato, o transnaciona- lismo (ver 0 capitulo de Lins Ribeiro sobre essa distingto), parecem ter aberto novas possibilidades para os movimentos Sociais — por exemplo, facilitando os esforcos para promover uma politica de democratizagio nao-territorial de questées sglobais, como sustenta Slater. Lins Ribeiro acha que as novas tecnologias de comunicagio, tomaram possivel formas novas de “ativismo p I Yadice observa que embora 4 maioria das visdes da esquerda sobre a globalizacio seja 10 contexto de politicas logias sobre as quais se baseia a globalizacao abriram formas novas de uta progressista ‘nas quais o cultural € uma arena crucial de tut Na Colémbia, as lutas étnicas encontram também na globa- lizago do meio ambiente — em particular, a importancia da conservacao da biodiversidade — uma conjuntura potencial- mente favorivel. Por outro lado, varios colaboradores sugerem que a globali- zaglo e 0 neoliberalismo nao sé intensificaram a desigualdade ‘econémica — de tal forma que um nimero cada vez maior de americanos de ambos os lados do Equador vive em pobreza absoluta, com as do sul privados até da rede de seguranca minima e sempre precéria proporcionadas pelos Estados de mal-estar social do passado —, como redefiniram de modo significativo o terreno politico-cultural no qual os movimentos sociais deve empreender atualmente sui as politicas neoliberais esmagadoras que varreram o continente lem anos recentes parecem, em alguns casos, ter enfraquecido os movimentos populares ¢ abalado as linguagens existentes de protesto, colocando os movimentos a merce de outros agentes asticuladores, de partidos conservadores e narcotrafico a igrejas fundamental ismo transnacional. A ia assumiu novas dimensdes como social e do cultural em muitas regides; classes emerger ligadas a negécios ilicitos e empresas impulsionadas pelo ional ganharam ascendléncia s tas e consu ‘com a mudanga na divi ho que poe 0 peso do ajuste estrutural sobre as mulheres, os no-brancos e os pobres. cultural importante do net poderia chamar de “ajuste social muitos paises de programas so grupos mais claramente excluidos ou de ajuste estrutural a Red de Sol Nacional de Solidariedad) no México, esses programas consti- tuem —sob a curiosa rubrica de “solidariedade” — est de ajuste social que devem acompanhar necessariamente 0 ajuste econdmico (ver Comelius, Craig, Fox, 1994; Graham, , 1994). Podemos, de fato, falar propriamente aqui de “aparatos e praticas de ajuste social” (APAS). Com graus diferentes de alcance, sofisticagio, apoio estatal, ou mesmo cinismo, os varios APAS no s6 tornam manifesta mais uma vez a propensio das classes dominantes da América Latina para experimentar e improvisar com as classes populares — como sugerimos acima em nossa discussdo sobre a cultura ica dominante do século XX —, como evidenciam seu propésito de transformar a base social e cultural da mobi- lizagao. Isso talvez fique mais claro no caso do Chile, onde © processo de refundacao do Estado e da sociedade em termos neoliberais esti mais avancado; com efeito, o FOSIS no tem sido saudado como um modelo para outros pafses latino-americanos (ver Schild neste volume). Como observamos no inicio deste capitulo, © neoliberalismo um concorrente poderoso e ubiquo na disputa contemporinea “6 i ' t } do de cidadania€ pelo projeto de democracia Heo o FOSS funcionam crando nov categoris de clientes ene 0s pobres e introduzindo novos discursos te putiesdones atorlzadores tas como 0 do “deservolv- Fa eal ch eapaciagao para. oauto-desenvolvimento" _ da “auto-ajuda”, da “cidadania ativa” ¢ ‘similares, Esses discursos rete als do que o auto-gerencamento da pobrezt. De {ima maneifa aparentemente foucaultiana (ver o tratamento Hue Widice, Slater Schild dio a0 conceito de “governamenta- haades dé Foucaul), cles parecem Introduzir novas de auto-subjetivacao, formago de imac = disci Ge putcipantes desses programas acabam se vendo nos teos fpdividualizadores € economicistas do mercado. Os APAS vrerin asin -despolfzar a base para a mobilizacdo. Esse Pee falltado as vezes por ONGs profisionalizadas que sre cites caspeatuam como mediadoras entre o Estado e 05 mmovdmentos populares. pelo signil Porém, clevemos ser cautelosos, quando confrontados por esses desenvolvimentos, para evitar 0 catastrofismo. Para comesar, nada assegura que o modelo chileno seré exportado ‘com sucesso pararoutros paises — ou continuard 2 ter éxito no Chile — e no ha garantias de que o efeito da desmobili- zagio seri permanente. Com certeza, formas de resisténcia ‘208 APAS ficardo cada vez mais claras. Schild sustenta que nio podemos prever "que forma a identidade do cidadao ‘mercadi- zado’ de hoje poderd assurnir, ou cm que contextos essa iden- tidade é assumida por diferentes grupos sociais", mas mesmo assim, insiste que “os termos em que a cidacania pode ser adotada, contestada e disputada estio predeterminados” pela ofensiva cultural-econdmica do neoliberalismo. Em contraste, Paoli € Teles sublinham que o neoliberalismo nao é projeto coerente, homogénco ou totalizador; que a 16gi predominante do ajuste estrutural estd longe de ser inevitével, fe que & precisamente nos intersticios gerados por essas contra- digdes que os movimentos sociais articulam as vezes suas s. Contudo, permanece o fato de que 0 neoliberalismo sob as quais a ago coletiva pode acontecer. Em que medida as reformulacdes neoliberais da cidadania eda democracia, bem como a agora dominante concep¢io resirta das poliicas socias encarnada nos novos APAS, produzem reconversdes culturais importantes? Em que medida os grupos populares ¢ outros movimentos sociais serao capazes de Por fim, devemos levantar uma questo relativa & possi dade de que as novas condigées ditadas pela globalizacao eral possam transformar © proprio significado de “movi- © que conta como movimento social est sendo reconfigurado? Os movimentos sociais esto refluindo no contexto aparentemente desmol estrutural © dos APAS? Nao d Alguns de los propdem respostas preliminares a essas tes prementes. Com efeito, € tarefa especialmente urgente investigar as relagdes entre as versdes ne social e a poliica cultural dos mi ‘que esti em jogo estudiasos @ percepcio do mundo do estado atual de nossas tradi conhecimento, Nesta antologia, 0 que tentamos desenvolver € uma indagacio cotetiva que possa nos permitisavaliar simulta- neamente ambos: referénciais teéricos e as questdes politicas ue esto em jogo. (radugio de Pedro Maia Soares, revista pelos autores) NOTAS 4 Uma excegio recente € importante é Darnavsky, Epst Essa ' concentra nos movimentos 5 Estados Unidos e abriga principalmente debates lade" e democracia radical. fas enquanto alguns pedem o abandono de “cultura”, a maioria dos antro- _pOlogoscritcos ainda acredita que tanto o trabalho de campo como 0 estado de cultures 16 — sejam entendidos agora de maneira 5 de até apenas uma década atrés. Na medica em que 2 lum esparo para oexercicio do poder ¢ dads ry Js ogee ‘rarer fan : I ado aca medioda por cisco endo hi discurso que Ee Sin a diferenciagao entre o material no, concepgbes neoconservadoes 0 iopudae dentro dos poltica na historia do Ocidente moderna (Chien, At f por iso que nao concordamos com 3 opnifo amplameae difundida aprofundament parecem estar pteparados para conceder. Da mesma forma, 20 mesmo tempo em que concor- Bo ténvese probleméticas, porexemplo, a hipétese ® BIBLIOGRAFIA ALMOND, Gabriel, VERBA, Sidney. 1963. 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