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1 | Anuerice Lari exisTe?™ Existe uma América Latins? Nao hi dvida que sim. Mas ‘sempre hom aprofundar o sigoificado dessa existéncia 'No plano geogrifico € notésia a unidade di América Latina como fruto de sua continuidade continental. A essa base fisce, prim, nfo corresponde uma estatura sociopol= tica unifcada e nem mesmo uma coexisténca ativa¢ intera~ tuante, Toda a vastdio continental se sompe em nacionalida~ es singulares,algumas delas bem pouco wiveis como quado denteo do qual um pove possa realizar suas porencalidades. Bfetivamente, 2 unidade geogrifica jamais funcionow aqui como fator de unificagio porque 28 distintas implancagdes coloniais das quais nasceram as sociedades ltino-americanas coesiatiram sem conviver, 0 longo dos sécules. Cada uma delas fe relacionava diretamente com a mewpole colonial [Ainda hoje, née, latina-americanos,vivemos como se FBsse~ mos um arquipélago de ilhas que se comunicam por mar © pelo are que, com mais frequéncia, vlkam-re pars fora, para ‘os grandes centros econdmicos mundiais, do que para dentro. [As peoprias fronteiras latino-americanas, correndo 20 lon~ ‘ge da cordilheita desética,ou da selva impenetrive,isolam fais do que comunicamm e raramente possbilitam uma con [No plano linguistico-cultural, nd, 8 latino-americanos, ‘constituimos uma categoria tanto ou tio pouco homogénea ‘como a mundo neobritinico dos povos que falam predomi- rantemente o inglés. Isso pode parecer insuficiente para o: {que falam da América Latina como uma entidade concreta, = Feao eect de um ensao publicitirio publiado originaloente no México (0916 ered, eps Sho Fas (157) ‘uniforme ¢ atuante, esqueceado-se de que dentro dessa ca- tegoriaestio inchuldos, entre outeos, os brasileiro, os mei anos, 08 ttianos ¢ intrusto francesu do Canad, devido 4 sua Uniformidade essencialmente ingusstica de neolainos (Ou seja: povos to diferenclados uns dos outros, come os norte-americanos oso dos australianos e dos “affictnes", por ceremplo, A simples enumerasio mostra amplitude das duas categoriasc sua escassawtiidude classficaéea. Reduzindo a eseala de lama unidade um pouco mais uniforme. Na verdade, bem poco mais homogénea, porque apenas excluiia oF descen- dentes da colonizasio francesa. Continuasiam, dentro dessa categoria, of hrasileios, ob argentinos, os cubanos, os porto= iquenhos,o¢ chilenos, te: Do ponto de vista de cada uma dessus nacionalidades, sus pe6pria subst2ncia nacional tem ‘muito mais singularidade ¢ vigor do que o denominador co- mum que as fir iberoramericanas. ia mais a escala, podevemos distin sguir duas categorias contrastantes. Um contesido luso- tines para ibéricos, encontramos Se redusicmos a american concentrado todo no Brasil ¢ um costeddo bispano-americano que congrega o sestante, As diferensas centre uns ¢ outros sfo pelo menos tho zelevantes como as aque distingem Portugal da Espanha. Como se vé, pouco significativa, por que Fundads numa pequena variagio lin igulsticn que nfo chega a ser obsticulo para a comunicasso, ainda que tendamos a exagers-la com base nurna longa his ‘Grin comum, interatuante, as mutas veres conflitante, % ‘Voltando aotharo conjunto da Américs Latina, observara~ se certs presenga e auséncias que colotem e divesificam ‘6 quadro, Por exemplo, a presenga indigena € notéria na Guatemala e no Aliplano Andino, onde ¢ majositri, © no México, onde os indios se contam aos mises © predomi- rm em certas regides. Nesses casos, & Ho grande a massa de sobreviventes'da populagio indigena original que se in- tegrou As saciedades nacionais com um campesinato etnica- mente diferenciado, que seu destino é se reconstrusem, ama- ‘nha, coma povos uutdnomos. Isso significa que paises como 4 Guatemala, a Bolivia, o Peru ¢ 9 Equador e areas extensas 4e outros como 0 Medico e 2 Colombia estardo sujcitos, nos préximos snot, a profundas convulsbes sociais de carder €-- nico que redefinirio aqueles quadros nacionais ov os recstru~ rurardo como federagbes de povos autaomos ‘Totalmente distinta éa situagio dos demais paises onde 66 se encontrasn mucroctaiae tribe, mergulhadas em vastas sosiedades nacionaisetnicamente homogéness. Nestescatos ‘uma presenga indigena visivel, sea ma Mngua come o guara ni do Paragusi ~ ses, sobretudo, no fenétipe da maiocia da populasio, como ocorre no Brasil, no Chile, na Venezuela clos numa categoria a parte de indo-americanos como al _gotin sugeriu, E improvivel que por essa linka se chegue 2 aleangar uma tipologia explicativa. Todos esses povos tém no aborigine ums de euas matrizes genécicas eculturais, ms sa contribuigio fot de tal forma absorvida que qualquer que tej. destino das populagsesindigenas sobrevivemtes, nto se altraré muito sua conBiguraslo étnica. Em outs palavras 4 miscigenasio, absorgio © europeizasie dos antigos grupos indigenas no seio da populasie nacional estdo completas ou ‘em marcha ¢ tendem a homogencizar ~embora nfo a fundie = todas ab matsizes éeicas, convertendo-as em modos dife- renciadas de part significa que os indios que sobrevivera como tribos nesset io na mesma ctnia nacional. Isso nto palses veaham a desaparecer. Ao contriti, apesar de cada vez mais acultuados, eles sobresiverio diferenciados serig cada vez mais numerosos, ‘Outro componente que diferencia quadro,emnpeestando- Ihe aspectos panticulares, ¢ a presenga do negro aftican ‘que se concentra de forma maciga na costa braslelra de mais colonizagdo © nas dreas de mineragio, © também nas Antithas, onde Goresceu a plantagio agucareiry, Para desas rede, encontram-se diverros bolsies neyo na Venezuela, Colombia, Guiamas, Pera, ¢ enn algumas areas da Ansérica Central. Tamibérn nesse caso, a sbsorsio © asimilagio che- sacar tal ponto que se americanizos esse contingente da mesma forma que os demais, ow tavee de uma forma mais ‘completa que qualquer outro, E certo que eminiscéncias af canas no folelore, na anisica ¢ ma rligio slo palpveis nas reas onde a afludncia negra foi maioe, Mae gun periséncia se explica, prineipalmente, peas condigies de masinalizacio deans populagdes, que em nenhurn cio conatituem blocos = cos inassimilveis © aspirsates& astonomia, uteas inerusoes, ado europeins, come a dos japoneses no Brasil, dos ehineses no Peru, dos indianos nas Aatithas, Igualmente diferenciam algumas éress, emprestande, um 60 bor especial sua cozinha e afirmando-se em algumae outras eferas.O assnalivel nests casos ~ como ocorte tatibém com, 1 nepros = € que estamos em preseasa de contingentes que fazem er si urna marca racial dating com relagdo a0 res to da populasio. Fsse fato tem, absiamente, consequéncias, Principalmente a de nio facilitae 0 reconhecimenta de wma assimilasio ja completa ou que «6 no se completa devido & persisténcia de marcas raciais que permitem segue tratando ‘como afro, nise, chins ou indiano petsose que a6 sto tal em seu Fendtipo, dadas sua sculturagto plena ea completa integrasao no quadro étnico nacional Os antropélogos, particslarmente interesadas nas sin- sgularidades dessas populagses, produziram uma vasa lite- ratura que results, talver de forma excessva, as diferencas Realmente, ¢ possivel elaborarlongas listas de sobrevivéncias cultura que permitem vincular esses aileos as suas matri- 1208 de origem. O certo, porém, é que, aqui também, as seme~ lhangas sio mais significarwas que as difereneas, ja que todos ‘esses contingentes estio plenamente “americanizados”. Nos planos linguistico cultural sao gente de seu pals e até “nos 5 gente” na Mentficso emocional corrente das popiulagées ‘com que conviver. Suas peculiaridades, rendentes talver a is du coms esmaccer apenas o frzem membros diferenci ridade nacional em 11230 de sua remota origem. (© mesme ocorre com 06 componentes de contingences csuropens tito ibéricos chegados em epoca mais recente. Cada jpagio, nem superior nem inferios, no ser nacional, que permite defini= los, restiivamente, come, por exemple, anglo-vragualos, italo-argentinos, teuto-chilenos ow feaneo-brasleiro. Ede sssnala, porém, que todos eles gozam de uma posisa0 saclal sais alt, aleangada em reo de eveneuais vantagens culee- rs econdmicas, nas principalmente de uma maior aceita- ‘to social que oF privilegia em sociedades dominadas pelos tu dees represents uma forma especial de pas brancos “Muito embora acima de todos os farores de diversifieasso sobressuiam of de uniformidade,certas diferengasvisives a cangam, frequentemente, um sentido social discriminate, F ocaso,por exemplo, do paraleisme entre cor da pele e po- breza, que dé lugar a uma estealfcagao sosial de aparencla racial. Assi os contingentes negroseindigenas que iveram de enfrentar enormes obstaculos para ascender da condligao de excravor de praletérios concentraram-se principalmente nas camidas mais pobses da populagio. Além da pobreza — oriunda da superexploragio de que foram ¢ so vitimas pesa sobre eles muita disriminasio, inclusive a proveniente da expectativa generalizada de que continuem ocapando posi- ses subalternas, as quais dificultam sua asceasto a postos mais altos da escala social. Aparentemente, o f2tor causa encontra-se na origem sacial ena presenga de sua marca es ‘igmatéria, quando de fato 36 se explice pelas vicisseudes o processo histérico que os situow na posicto de vitimas, les slo 2 contraparte desprivilegiada dos euro-americanos, Embora constituinds 0 grosso da forga de trabalho ~ ov por Jss0 mesmo, enquanto descendentes de escravos ~, eles si0 tratados com superioridade e descaso, Assim € que a cor da pele, ou certoseragos racials tipicos do negro e do indigena, ‘opetanda como indicadores de rma condigio inferior, can- tinusm sendo om ponto de referéncia para os preconceitos {que pesam sabre ele. ‘Embora presente na Américs Latins, e frequentemente preconecito racial nfo assume aqui o cariter disesiminatéri ¢ islacionista que se observa, por exemplo, not Estados Unidos. Alia discriminagto recs sobre ot detcendentes de aficanos ou indigenas, qualquer que sof a intencidade da marca racial que carreguem, teaden- Ao a exclut-los do cospo social por se considera indesejivel ss mescla com eles. Na Amétiea Latina, o preconceita racial 4 forma muito acentuada, & predominantemente de marca ¢ nto de origem. Ou seja: recak sobre uma pessoa na proporsio de teas trajoeraclil mente diferenciadores © implicitamente incentva a miscige- ‘agao, porque aspira “branquear" toda a populacto. Trata-e, em duvida, de wm preconceito racial, porque a sociedade «6 sudmite os negros ou indigenas como futuros mestigo,recha- sando seu tipo rtcal como ideal do humano. Mas re trata de tam preconceito expecial que discrimina o fenstipo negro © 6 indigens por ado estar ainda dildo 2a populasio snajo- ritariamente mestga,cujo ideal de relagées inter-raciais € a fast. =D. Por cima dis linhas cruzadas de tantos fatores de dife- enciagio ~ 4 origem do colonizador, a presenga ou susén- cia € 0 peso do contingente indigena e african ¢ de outros componentes ~,0 que sobrestti no mundo latino-americano 6 uaidade do produto resltante da expansioibérica sobre 1 América eo seu bem-sucedido procesto de homogeneiza- «40. Cora todos esses contingentes ~ presentes em maior 08 Imenor proporsio em wma ox outa fegito -,edificaram-se sociedades étnico-nadionsis cujas populacdes sio produto do cenveamento e querem continuar fundindo-se. Excetuando os indigenator originrios de alta cvilizagbes ou microetnias tribais que sobreviveram isoladas, em neahum caso encon- ‘amos o8 indiosoriginais; nem os europeus ou asisticos ou africanos fal como eram quando se desprenderam de suas imatizes. Seus descendentes sio neoamericanos,

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