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MARIA GALINDO
1998
emandar reformar, negociar, fazer lobby... Agbes baseadas na ética neoliberal,
‘que faz dos movimentos sociais, em seu montante, entes sem vida; entes secundé-
rios elegitimadores das politicas de dominagao e opressio, criadas sob consensos
forjados sem fundamento € impulsionadas pela légica e por valores patriarcais.
Nossa mo¢ao feminista tem sido outra coisa: interpelar, propor, dialogar,
confrontar, transformar, ndo delegar, desordenar, criar, desacatar. Na busca por
unir todas essas ages e fazer delas um movimento subversivo, uma rebeliéo
conjunta — Iésbicas, indias, prostitutas, divorciadas, deficientes fisicas, desempre-
gadas e qualquer uma origindria das fontes inesgotaveis de identidades que nos
cercam na contemporaneidade —, é que nos fazemos feministas. Partimos do fato
de nos reconhecermos, a nés € & outra, como mulheres habitadas por profundss
contradigGes: reconhecermos, em nosso interior, aliancas autodestrutivas — as
vezes indecifraveis — com a opressao que sofremos. Aliangas que nos fazem enco-
brir essas contradigdes; que as vezes nos tornam suas ctimplices; outras vezes 20S
pabocreait Geos com nossos opressores. Por causa dessas pe
merch eat ‘optamos Pelo feminismo, empenhadas na ética da Re
dever ser absoluto, eae SE eee oo
doulas doge ea ctinho gue nos conduza sempre ede novo ao dion ot
Pirandovenderem as rmite entrar dentro de mim mesma para nao me P
"u corpo nem minha alma,
HISTOR
IAS DAS MULHERES, HISTORIAS FEMINISTAS: ANTOLOGIAPor isso néo nos adaptamos ao fato de que se pretenda, hoje, dentro do pré-
prio feminismo, recolher essas identidades e transformé-las em coisas inertes, em
gma mercadoria cujo valor reside em negocié-las com o opressor para ocupar pos-
fos dentro do sistema.
Institucionalizaséio do feminismo
‘As ONG e suas redes tém sido a forma de organizacéo a partir da qual se
desencadeou a institucionalizagao do feminismo,
B importante entender e repetir que se trata de um processo desenvolvido 20
Jongo do tempo: desde o momento em que, de maneira espontanea, se conformaram
mecanismos de solidariedade com mulheres do Norte ese canalizaram fundos para
levar adiante ades de dentincia, até o momento atual, em que essas estruturas tem
crescido, deixando de lado os valores de solidariedade e de anticolonialismo para se
tornarem organizagdes governamentais, parapartidérias, paraestatais, A fim de que
se entenda do que estamos falando — e deixando aberta a possibilidade de que algu-
mas ONGs no tenham agido das formas descritas a seguir —, quero assinalar, de
maneira sintética e descritiva, algumas caracteristicas dessa institucionalizacao.
1. As tarefas feministas se transformaram em tarefas exclusivamente assalariadas,
sujeitas normatividade institucional dentro de relagdes hierdrquicas e burocriticas.
2, Mantém-se uma rela¢ao de clientela com setores diversos do movimento
de mulheres, em nome dos quais se tornou factivel seu financiamento, criando a
partir dele a figura das beneficidrias e das benfeitoras.
3. Realizam-se a prestaao de contas e avaliacdes em face das instituigées finan-
ceiras internacionais, e no em face 4s mulheres envolvidas nos processos de trabalho.
4, Avalia-se o trabalho — 0 chamado impacto social — em termos de proje-
tos e em circulos fechados (as famosas redes e suas consultoras), em vez de se fazer
a avaliagao em fun¢ao de uma dindmica social e do impacto gerado por ela.
5. Definem-se as teméticas e as prioridades de trabalho a partir do que é finan-
cidvel, e nao do que necessério; por consequéncia, hd uma falta de propositividade,
uma relacao acritica e veladamente colonialista com as instituigées financeiras.
6. Por tiltimo, conformaram-se circulos nacionais e internacionais de legiti-
magio e deslegitimagao (as redes) para 0 controle dos fundos.
Usurpaséio
Embora tenha havido uma luta pelo reconhecimento juridico e politico do
Estado e das organizagées internacionais, as ONGs tém feito um jogo duplo ao
atribuir-se o papel de intermedidrias do movimento de mulheres em seu conjunto.
‘MARIA GALINDO
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