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SUB ere Rrd A Weston Da Rigquez des Capitulo XM] “eG “OS QUE TEM CONTRA OS QUE NAO TEM” Através dos sindicatos os homens que realmente faziam o trabalho de fazer funcionar as estradas de ferro, as mineragies de carvio e ferro, que construiam as grandes eidades, que ‘operavam com as mdquinas nas fébricas — em resumo, a classe dos trabalbadores — foi ds vias de fato com os capitalistas. E nio eram 36 batalhas verbais, Freqtientemente usavam dinamite, bombas, metralhadoras. “J4 pensou? Os homens séo paralos ¢ as maquinas efio caras; muitos supervisores so des- pedides porque forgaram a produgéo de uma maquina delicada, @ nio seriam despedidos se forgassem a produglo de um homem, Pode-se mandar embora um homem ¢ substitui-lo por outro; hé muitos que querem tomar o seu lugar; mas, a nio ser com grandes prejuizes, nfio se pode jogar fora uma méquina e colocar outra no lugar... J& € tempo que o ser humano, em comparaeao com as propriedades, ocupe o 1.° lugar, € no 0 22.” ‘As propriedades estavam em 1.° lugar, 0 ser humano em 29, ssa era uma das razées do conflito. —_ 0s capitalistas estavam interessados em fazer dinheiro — quanto mais, melhor. Comerciante esperto era aquele que pa- gava o menos possivel por aguilo que comprava, ¢ reeebia 0 méximo possivel pelo que vendia, O primeiro passo na estrada que levava ao Iucro era reduzir as despesas. ‘Uma das despesas de produgio era o salério pago aos operdirios. Era portanto do interesse do empregador pagar saldrios tio baixos quanto possivel. Também era do seu inte- resse fazer com que 0 operario produzisse o méximo possivel. Por isso, tentou estender as horas de trabalho ao méximo. A Reyolugéo Industrial tinh colocade 0 operdtio a merce do capitalists. O empregador era dono da fébrica e de todas fag maquinas earas que ali se encontravam. O trabalhador jé nao podia produzir seu proprio alimento e fazer o seu préprio trabalho, J4 néo era o proprietério das ferramentas para pro- ducdo. Tinha que se tornar wm assalariado, na fabrica de outro homem. Se a fébrica eva insalubre, mal iluminada, mal ventilada, sem seguranga e continha méquinas perigosas, ele tinha de trabalhar IM, assim mesmo, Se howvesse muitas horas de trabalho, 08 saldvios fossem tio beixos que néo podia sustentar a si préprio e a sua familia, tinha que trabalhar do mesmo jeito. Nao havia outra alternativa — ou trabalhar ou passar fome. 0 fato de que 0 operatio nao era uma COISA, como carviio ou algodio, mas sim uma pessoa, um ser humano, néo tinha a mexor importancia para aqueles que queriam Iueros, Operdrios, maquinas, matéria-prima, era tudo a mesma coisa para eles. Quanto menos custassem, melhor. Extavam interessados nos Jucros. Os trabathadores agitentaram isso 0 quanto puderam, De- pois, tentaram reagir. O que podiam fazer? ‘Sozinhos, no podiam fazer nada. Organizados em um 96 grupo Dodiam exercer pressdo sobre os empregadores, Agru- param-se e formaram os sindicatos. Que tipo de sindicatos foi que formaram? Organizavam-se segundo as profissdes ou a indtstria? Bram loesis, estaduais, nacionais? Cuidavam dos problemas reais, “aqui e agora”, ou de utopias para o futuro? Estavam satisfeitos com o sistema capitalista ou lutavam para extermind-lo? Nao possivel dar uma resposta simples a essas perguntas. Os sindicstos surgi- ram da necessidade da situagio e tomeram o aspecto mais indieado para agir de acordo.com aguela situagao. Bles nunea se formam a parte do tino de vida que az pessoas tém, do tino de trabalho que fazem para viver. Pode ser que haja um atraso —e as vezes hd mesmo — mas no fim das contas ¢ tipo de organizagio que surge e se desenvolve 6 aguele que foi provo- eado pela conformacao do trabalho. Assim como ha mudangas no desenvolvimento industrial de um pais, também ha mudan- gas nas organizacées de trabalhadores. Taso foi o ate acontecott com os Estados Unidos. A Decla- ragho da Independéncia, que anunciou que os estados se sepa- ravam ¢a Inglaterra, logo foi seguida por varias declaragses, uma apés @ outra, segundo as quais os trabalhadores anuncia- vam que seus interesses eram diferentes dos das classes de 203 empregadores. Assim, em 1817 os impressores de Nova York aminciaram que “esta 6 uma sociedade de impressores diaristas; e como 0 nosso interesse é independente, ¢ de corta forma oposto aos interesses dos empregadores, achamos desaconse- Thdvel que os empregadores tenham qualquer voz ativa ou in- flugneia em nossas deliberagées.” | Era o rompimento com tudo aquilo que vigorava antes. Nos primeiros tempos era muito certo que os empregadores tivessem voz ativa nas deliberagdes dos homens que trabalha- vam para eles, Hra corto porque a distincia que separava 0 chefe do assalariado nao era téo grande. Qs assalariados po- diam facilmente se transformar em chefes. Os chefes traba- Thavam lado a Jado com os trabalhadores, acreditavam nas mesmas coisas, tinham as mesmas idéias, Os seus interesses, tanto sociais como econémicos eram praticamente os mesmos. Enquanto isso fosse assim, o empregador e 0 empregado po- diam pertencer & mesma sociedade. Mas, como em 1817 isso 4 néo era assim, os impressores de Nova York declararam-no abertamente, e expulsaram um dos seus membros que tinha se tornado empregador. ‘De certa forma isto era o que tinha acontecido alguns anos ntes na Europa, com respeito as associagdes de classe, on “earnoragies.” Foi a expansio do mercado a maior causadora da discolugao do sistema Ge associagdes de classes; ¢ foi essa mesma expansio que trouxe alteragoes nos Estados Unidos. ‘A fim de atender as exigdncias de um mercado que se ampliava, no comego do século 19, 0 capitalista-negociante en- tron em cena, Trazia da Inglaterra grandes quentidades de artigos manufaturados baratos, armazenava-os em depésitos ‘que pontilhavam todo o pais, e” vendia-os por pregos menores que qualquer artesfio das diferentes localidades. Pouco a pouco foi retirando os artesios de sua posigio de vendedores, e nic demorou muito j4 estava em posicdo de forei-los a baixar os pregos. Diante desta competigéio, os arlesios tinham de en- contrar um meio de baratear o custo da produgéo. Experi- mentaram baixar os salrios dos operaios; contrataram jovens para fazer os trabalhos especializados, antes que eles atingissem © final do aprendizado; procuraram — ¢ contrataram — ope- Tarios que aceitassem menos que a tabela antiga de salérios. Os operarios xeagiram contra esse corte no seu salério, Os sapateiros, carpinteiros, trabalhadores em cobre, alfaintes © impressores lutavam através de suas sociedades locais. Os interesses dos emprogadores e dos empregadores j4 se dis- tanciavam mais ainda. 204 Os primeiros sindicatos amerieanos, portanto, no foram constituides por operatios de fabricas oprimidos: eram sindi- eatos de operdrios altamente especializados, que foram forga- dos a se associar, em defesa propria, para manter altos os salarios © reduzidas as hotas de trabalho, e para evitar que desaparecessem aa antigas:condigies regulares de trabalho. 0 modo de agir desses sindicatos era o comum, isto & argumen- tagdo coleliva, greve, lojas fechadas, boicote. Uma série de Iutas esparsas dos diversos sindieatos individuais preparou o eaminho para o passo seguinte, que nao demorou a vir. Em 1827, 15 associagées de classe de Filadélfia juntaram- se para formar a Unido das Associagdes Profissionais dos Me- cdinicos, Era a 1* unio de associagio do mundo, em uma 86 cidade, Um ano mais tarde, 0 ano em que Andrew Jackson, “o escolhido pelo povo”, se tornon presidente, foi realizado 0 primeiro congresso de trabalhadores do mundo, em Filacélfia. Foi seguido de outras reuniées de trabalhadores em quase todos 03 estados, e a0 mesmo tempo inieiou-se uma Imprensa traba- Ihista — mais de 50 jornais trabalhistas. Em suas platafermas politicas os trabalhadores pediam a restri¢ao do trabalko in- fantil, a eleigio direta para cargos piblicos, 2 eboligéo da prisio por dividas, o dia de 10 horas de trabalho para todos, una educagdo livre, piiblica © igualitaria (0 movimento Waba- Jhista causou em grande parte a organizagio do sistema de edueagso piblica gratuita nos Estados Unidos.) Os quarenta anos foram uma série de altos e beixos; primeiro, unr perfodo de reacio contra a atividade politica e aumento do niimero de sindicatos; mais centrais urbanas, maior desenvolvimento — e de repente o colapso, com a paralisacio da inddstria, durante 0 pinico de 1837; volta & atividade po- litica e A partieipagao em movimentos humanitarios de todo tipo: sociedades de cooperacdo, reforma agréria, comunidades utépieas, ete.; depois a renovacdio dos negécios, maior expan- sio do mereado, mais transportes e comunieagdes, formagio de unides de operdrios em uma eseala nacional; seguiu-se a crise de 1857 — obstéculo aos empreendimentos ‘industriais e des- truigdo geral dos sindieatos; depois a Guerra Civil — expansio dos negéeios ¢ renovagio dos sindieatos antigos, bem como formagao de novos; restabelecimento da imprensa traba hista —— mais de 100 periédicos eram publicados, didria, semanal ou mensalmente; depois da guerra, tentativas de unir os sindicatos nacionais em uma tiniea federagio duradoura — que foi o primeiro froeasso; depois, finalmente, o éxito. crescimento dos Grandes Negécios depois da Guerra Civil significava que o sindicalismo iria avangar a passos gigan- tescos. Isso tinha de acontecer, porque a expansio industrial trouxe maior concentracao de operarios nas grandes cidades, maiores beneficios nos meios de transporte e eomunicagses, tao essenciais a uma organizagio de Ambito nacional, e condigées que tornavam tio neeessirio um movimento trabalhista, A organizacho das classes trabalhadoras aumentou com © desenvolvimento capitalista, 0 que criou tanto o sentimento de classe como meios fisieos de cooperagio ¢ comunicagio, Ao mesmo tempo, as dificuldades eram grandes; Iutando com a classe trabathadora estava uma classe capitalista, que se tor- nava mais impiedosa & medida que se torrava mais rica, O capital, nos Eatados Unidos, nfo aguardava passivamente en- quanto os trabalhadores se organizavam; estava firme na opo- sigdio. Os Ideres dos sindicatos de trabalhadores nfio concorda- vam, entre si, sobre qua! o meio melhor de combater os capi- telistas, Os Cavaleiros do Trabalho, a Federacio Americana de Trabalhadores ¢ os Trabalhadores Industrials Mundiais abordaram o problema de varies angulos diferentes, A pri- meira dessas organizagdes 0 abordava como sindicalismo de sisténcia ou de “melhoramento”; a segunda, como sindica- smo de negocios; e a terceira ‘como sinditalismo revolu- elondrio. ‘A Nobre Ordem dos Cavaleiros do Trabalho era uma socie- dade seoreta, fundada em Filadélfia em 1869 por um pequeno grupo de cortadores de roupas. O seu lider era Uriah S. Ste- phens, alfaiate, que havia sido preparado para ser ministro religioeo, Uma ves que a sociedade era secreta, tinha a possi- bilidade de prosperar, numa época om que os sindieatos que agiam abertamente estavam em m4 situago por causa da depressio (houve pinico em 1878), ou ainda por causa dos severos ataques dos empregadores. Oy trabalhadores das vidra- ring, fabricas de ferro, impressores, sapateiros e outros que nio feziam parte de sindicatos, formavam novas ramificagées lo- esis dos Cavaleiros do Trabalho. ‘Mas nfo £6 03 operdrios expecializados se tornaram m bros dos Cavaleiros do Trabalho; a organizagao abria suas portag para todos os trabalhadores, pretos ¢ brancos, homens e mulheres, qualificados ou nao. Fazendeiros, e até mesmo alguns empregadores, eram admitidos. Quaiquer pessoa de mais de 18 anos que “trabalhasie a pagamento ou que tivesse recebido pagamento em qualquer ocasiao” poderia se associar. 0s Cavaleiros do Trabalho constituiam uma assoviaggo de tra- balho ampla, & qual até mesmo participantes da classe média podiam pertencer. Emlora nfo fosse acess(vel a todos os da classe miédia, havia algumas exeecdes interessantes: “Nenhu- ma pessoa que venda ou de qualquer modo aufira lueros da venda de bebidas téxieas, seja fabricante, intermediirio ou agente, ou qualquer membre de sua familia, poderd ser aceito como membro desta ordem; nem nenhum advogado, banqueiro, fogador profissional ou corretor seré admitido.”’ Por ser a ‘Ordem dos Cavaleiros um “grande sindieato”, que aceitava tra- balhadores especializades ou nio, geralmente é considerada uma associago industrial. Isso nfo é verdade. Embora nao fosse organizada segunco um esquema artesanal, iambém nfo era organizada em bases industriais. As reuniées locais se fa- ziam entre membros de 2 tipos, os do comérelo e os mistos. Os membros do primeiro tipo geralmente eram os que tinham uma tiniea profisséo; 03 do segundo, qualquer peszoa, indepen- dente da ocupacao. Nao era estabelecida para auxiliar um nico grupo, dentro dos trabalhadores, e sim para unificar todos os trabalhadores. ¥ para que fim? A Nobre Ordem dos Cavalheiros do Tra- balho tinha o tipo de programa que seria de esperar de uma agsociagéio com tal none, Seus lideres anunciavam seu alto propéstto: elevar a clase dos trabalhadores através da orga- nizagio, educagéo e cooperacdo. As instrugées que eada mem- bro novo recebia cram as seguintes: “O trabilho § upbro © sagrado, Delendé-lo da dogradagio; oliminar dolo os males que afetrm 0 corpo, a meats © 44 proprieieden, © gue a0 Sausados pela Ignerincia e ambicko; salvar tabalhecor das gartay dos gg 6m tcl in dos mace «als obs 36 nose apn 9 teacionaraos. que haje ‘enkiwn confito. como ermpreendimento legitimo, ethan anagerate come 9 stl were inst or homers eth 08 sia e AMbigho, cegos pelos proprios Inlerowses, -daspreziia os jaresses Use tuttos eke. vant sbusim ‘dor disetos caqueles que. eles” castiicam como indeforos, Tencionsmos monter & digaidada do trabalho, afirmar a na- breza de todos os que ganbim «pio com 0 suor de seus rostes.. Apola- emos, com toda a lotgt que nos for dada, as leis que trouxerem”harmonia fn‘ interusses dos tsabslhadores e des eapitalistay © também as Tels que ftendam a fazer malt leves 6 labutss dos que tabalbam. Assim, logo no comego os novos membros recebiam sua dose de “melhoria” sentimental, que era a caracteristica dos diseursos ¢ artigos dos lideres dos Cavaleiros. Nao havia de- claragdo de guerra aos capitalistas, nem desafio clamoroso & orden existente, Nem mesmo havie afirmagéo de que oz inte- 207 Fesses dos trabalhadores ¢ dos capitalistas se chocavam. O eredo dos Cavaleiros nao era trabalhadores versus emprega- dores e sim empregadores e trabalhadores juntos querendo © bem da humanidade. Néo havia “nenhum conflito com © empreendimento legitimo”. Somente os egofstas — em outro artigo eles sio identifieados como “o poder monetario” — deviam ser atingidos. A maneira de elevar a dignidade do trabalho era empregé-lo através da “cooperagio, da ordem, pela ordem, para a ordem.” Os Cavaleiros acreditavam nas cooperativas de produtores tentavam organizé-las, Os marcos de seu caminho na reforma social cram: cooperagio, edueagio ¢ organizacao. . ‘Suas aventuras como cooperativas — umas 200 minas, fui- digdes de ferro, fabricas de cobre, de pregos, de calgados, ete, — nid tiveram sucesso; mas educaram muito os trabalhadores americanos, isso sim, sua agitagio em prol de reformas poli- ticas tais como imposto de renda, aboligdo do trabalho infantil, pensées para operdrios, auxilio para os desempregados, paga- ‘mento semanal ¢ em dinheiro legal aos trabalhadores, ‘sezuro social, dia de 8 horas de trabalho, participaggo em estradas de ferro ¢ outros beneficios; e conseguiram éxito, durante al- gum tempo, ao organizarem a associagio trabalhista mais re- presentativa que jf tinha sido eriada na América. Em 1879, ‘Terence V. Powderly ocupou o lugar de Stephens como Grao- ‘Mestre Trabalhador da Ordem, Em 1881 os Cavaleiros des tiram de guardar segredo. Em 1886 a organizacio tinha pas- sado, da agremiacdo inicial de 11 alfaiates, presentes pri- meira Assembléia em Filadéifia, para mais de 700 000 membros em quase todos os Estados Unidos. A principal causa desse erescimento, entretanto, nfo era devida a0 programa sentimental e idealista dos lideres de uma melhoria social. Era devida, principalmente, ao fato de as fileiras de trabalhadores serem ativas — forgavam as greves € 08 boicotes, independentes dos lideres. Ao mesmo tempo que Powderly sonhava lindos sonhos ¢ falava sem eessar na frater- nidade dos homens, as fileiras transformavam 0 lema da Or- dem, “injirla felta’a um, 6 feita a todos”, em aglo concreta. Enquanto Powderly acreditava que “as greves sio deplordveis @ 05 seus efeitos so contrarios aos mais altos interesses da Ordem”, @ dizia_abertamente “estremego ao pensar em greve, com muita razio”, as fileiras da agremiacdo nao estremeciam diante das greves,’20 contrério, tornavam-se cada vez mais agressivas. Se os Hfderes fieassem menos perplexos, se dedi- ‘cassem menos tempo a pregacéo de principio da boa sociedade e mais tempo ao aperfeicoamento dos prineipios da organi- zagio de sindicatos militantes, essa grande concepgao de uma nica © enorme associago abrangendo todos os trabalhadores, especiatizados ou nao, de todos os eredos, nacionalidades, racas, sexos e profissSes, poderia ter sido um sucesso maior ainda do que realmente foi. Do modo como estavam as coisas, quando 0s Cavaleitos do Trabalho tinham sucesso, esse sucesso era obtido apesar de sua constituigio, de sua plataforma, de seua Uideres; quando falhavam, era'mais por eausa de todos esses ratores. © ano de 1886 foi cheio de acontecimentos na histéria dos | trabathadores americanos. Nesse ano a Nobre Ordem dos Ca- valeiros do Trabalho aleangou o miiximo de seu poder — e comegou a declinar. Nesse ano, como conseqiiéncia da Federa- sho dos Sindicatos de Profissionais e Trabalhadores dos Esta- dos Unidos e do Canadé, que datava de 1881, foi criada a Fe- deragio Americana do Trabalho. A Nobre Ordem dos Cavaleiros tinha perdido a posigio, deixando-a para uma organizagio inteiramente oposta quanto As finalidades, plataforma, métodos de arregimentar membros e métodos de luta. 0 sindicalismo de Federagio Americana do Trabalho era totalmente diferente do sindicalismo de melh: dos Cavaleiros, Enquanto que os Cavaleiros ram idealistas — sonhavam com uma utopia que chegaria no futuro, a Federacao era pratica — pensava em condigées melhores para o presente; enquanto que o5 Cavaleiros haviam sido altruistas — coneen- trando-se nos interesses das classes trabalhadoras, tanto espe- cializadas quanto néo-especializadas, a Federagio era egoista — coneentrando-te apenas nos interesses dos trabalhadores es- pecializados que faziam parte da organizagio; enquanto que os Cavaleiros néo tinham uma atitude de negécios — dirigidos pelo humanitério Stephens e pelo oco Powderly, a Federacdo era 86 negécios — dirigida pelo astuto ¢ comum Samuel Gompers. Trés anos antes de ser finalmente criada a Federagio, Adolph Strasser, presidente do Sindieato dos Fabricantes de Cigarros, ¢ fundador da Federacgo, juntamente com Gompers e P. J. MeGuiro, comparecen ao banco das testemunhas diante da Comissio do’ Senado para Revelagoes entre o Capital e 0 Trabalho, Seu testemunho sobre as finalidades da sua orga- nizacio era uma antecipago do que irla sero programa da Federacéo. “Nao temos finalidades estabelecidas. Iremos pro- gredindo dia a dia. Estamos Intando por objetivos imediatos, objetivos que podem ser atingidos em alguns anos.” 208 Os objetivos imediatos pelos quais a Federagéo lutava eram salérios maiores, menos horas de_ trabalho, condigdes melhores. Era muito simples. Embora Gompers tivesse tido suas simpatias pelo socialismo no pasado, estava sempre tendo muito cuidado de nio introdvzir reformas no quadro da Fe- detacdo. A tinica melhoria que iria advir para og trabalha- dores através da Federacio era 2 melhoria decorrente de aa- Mirios maiores, horas reduzidas e melhores condigées, ‘A Federacio era essencialmente uma organizagao de pro- fissionals, uma federagdo que reunia vagamente sindicatos na- cionais e’ internacionais de profissionais (internacionais, por assim dizer, porque tinha algumas filiais no Canada), Era uma teunide de vérios sindicatos separados, cada um composto de trabslhadores especializados, e todos Tuiando para obter maiores salarios, horas reduzidas, eondicdes melhores. Os balhadores nao-especializados quo tinham se reunide aos mi Thares sch a bandeira dos Cavaleiros do Trabalho néo podiam ser admitidos na Federacto, A atitude dos dirigentes da Fe- deracio diante dos trabathadores néo-especialidados, que eram deixados ao abandono, ficou muito bem exemplificada com a afirmagio de um deles, néo hé muito tempo, em 1934: “No queremos admitir como membros os rebotalhos, os que néo prestam para nada, ou aqueles para os quails no possamos pedir melhores salérios e condi¢des, a menos que sejamos for- gados a isso por outras organizagses que se oferecam para admiti-los em qualquer condigao.” Quanto ao critério de admisséo ¢ quanto aos objetivos, enti, a Federagdo era bem diferente dos Cavaleiros do Tra- balho. Havia também uma diferenga importante na estrutura das 2 otganizagdes. “Para compreender inteiramente a estru- tara e funcdo dos Cavaleiros do Trabalho, & necessério ler apenas uma constituigéo. Para compreender bem as fungées € a estruture da Federacio Americana do Trabalho é preciso ler mais de 100 constituigdes. Os Cavaleitos tinham uma sobe- rania; a Federacdo é uma federacio de soberanias.” Enquanto que com os Cavaleiros o poder estava centralizado nos que tinham cargos permanentes na assembléia, na Federagio 0 po- der se centralizava nos dirigentes dos diversos sindicatos nacio- nais de que se compunha a Federagio, Enquanto os sindicatos da Federagio nereditavam que po- diam parlamentar com os empregadores para obter salérios maiores, horas reduzidas e methores condigées, enquanto envida- vam todos os seus esforcos para conseguir acordos pacifica- mente, no hesitavam em luter quando era necessi 210 queriam ter certeza, sempre que possivel, de que estavam en- trando na refreca bem armaios. Sua receita de contribuigdes era sufieientemente grande para que pudessem juntar um fun do consideravel para ser sad quando tinham que recorrer greves ou boicoles. A Feileragio conhecia os fatos reais do sistema de capitalisme; sabia que estava havendo uma luta entre os capitalistas e os trabalhadcres. Mas tinha 03 olhos fixos em objetivos imediatos. Nao teneionava perturbar o sistema, Contentavam-se em continuar nessa relagdo de patrao-eriado quanto aos capitolistas, mas queriam uma parte maior para si mesmo, como eriados, Seu lema eva “uma boa diaria para am bom dia de trabalho”. No “sindicalismo puro e simples”, filosofia de Samuel Gompers, néo havia lugar para a criagio, pela Federagio, de um partide polities que representasse os trabelhadores, A des- peito dos freuiientes esforgos dos membros da Federagio para ‘que a associacdo se transformasse num pertido trabathista, a atitude de Gemper, de trabalhar dentro dos iimites dos partidos politicos j4 existentes, sempre vencia. Na rolitica, a Federa- gio “recompensou os amigos e punia o3 inimigos.” Ja por 4900, qual era a posigéo da Federagio? De um certo ponto de vista, no ara nada bea. Apesar de sen pro- grama pratico de Iutar para obter ganhos imediatos, que era a maior preccupacio da maioria dos trabalhadores americans tinha progredido com muita lentidae. A poderosa Fraternidade da Ferrovias nao tinha se filiado a ela; og trabalhadores néo- especializados néio tinham sido convidados para partieipar de suas fileiras, e portanto estavam desorganizados; e muitos dos trabalhadores, resmos os especializudos que tinham sido con- vidados a entrar como membros, no o fizeram. De um outro ponto de vista, seu progresso fora notivel. # verdade que a porcentagom maior de trabalhadores especi Vizados continuava fora de suas fileiras, mas assim mesmo 03 seus 550-000 membros representavam mais de 8 vezes os 150 000 com que havia comegaco em 1886, Isso ere menos que o total aleancado pelos Cavaleiros do Trabalho no maximo de sua atividade, mes era um tipo de agremiagio diferente — mais daradoura, mais poderosa, com methor disciplina. Sua orge nizagin descentralizada de sindicatos nacionais independentes, seguinde a titica do sindicalismo dos negécios, tinha agilen- tado a experiéucia; num periodo de forte oposigio da parte de uma classe empregadora sem contemplagao, tinha conseguido se manter. ‘Tinh achado wm jeito de fazer 0 que nenhuma organizagic trabaihisla nacional ¢ nfo-seereta tinha conseguido a fazer antes, na histéria americana: passar pela tempestade da depressiio (a de 1893) sem se prejudicar. Para os que a defendiam, simples fato de ela ainda existir era prova de sua atitude correta, Os Trabalhadores Industriais Mundiais, organizados em 1905 tendo por dirigente “Bill Grande” Haywood, defendiam 0 sindicalismo revoluciondrio. Nio acreditavam no método em- pregado pela Federagao para lutar contra o capitalismo. O Preambulo de sua constituiao diz o seguinte: "A clase trabalhadora ea classe de empregadares nto. tém nada em ‘comum. “Nao pode haver paz enquanto « foine © a necessidade grassaren catre o¢ mithdes de trabalhadore, © os pouces que consttuem 2 clase. dos fempregadores possuarn todas as colses bes ca vida, Entie esas 2 classes deve rus ia tg staal dy edo mando rani ‘em una 36 classe, so apossem da terra # das miquines para produgia, fava Sbalt'e scion do nanos. Os sdkatos prouyem ain Gade de cose sree permite um certo grupo de, tabalhadoves ser jogado conta outro pupe ‘a mesma indGstrz, auzihando sim 2 derotaremse tae 20s outros aa, era dos salirios. Além’ disso, os sindicatos.ajudam a. classe ale adores a dat aoe opens ila era de que af clair tabalhadores toon iteretes "Em vee do Teme couserador ‘uma boa diéin por um bom dia. de, trae batho’ devenos imprimir em nossa bandeira as palavras revolucoasnias “abo- Helo do sistema de salério 'E misslo histérca des ‘chsses trabalhadores seabar com o capitalismo,” Os dirigentes dos T. I. M., a0 contrério dos da Federagio, ‘opunham-se @ entrar em ucordo com os capitalistas. Apon- tavam o fato de que, em diversas greves da Federagio, um grupo de profissionais, por exemplo cozinheiros, estaria fa- zendo greve, enquanto 0s garcons do mesmo estabelecimento tinham de continuar trabalhando porgue tinham um acordo com o empregador. Os dirigentes dos T. I. M, afirmavam gue quando um grupo de trabalhadores comecava a greve, todos os trabalhadores desse estabelecimento deveriam apoid-los, indo também & greve, Exam contrarios aos entendimentos com os capitalistas, porque queriam acabar de uma vez. com 0 capita: lismo, No estavam interessados em ganhos imediatos, mas sim na vitéria final e completa do trabalho sobre o capital. Defendiam uma tiniea reunido de todos os trabalhadores, em vez de dividi-los em grupos profissionais. Cobravam contri- buigées tio baixas, que todos os trabalhadores, tanto os espe- cializados como os néo-especializados, podiam ser admitidos como membros. Tinham édio da Federacéo, apenas um pou- quinho menos que da classe capitalists, Os pontos principais de sua plataforma séo mencionados na canefio que cantavam: 21g VAMOS FAZER 0 DIABO de Ralph Chaplin (Com « misica de “Marchando pela Gedegia”) enha conosco, aperivi, funtarae a rebelio; Es estiver descintente, Nenka nes dar sua mo; atemos paresitas, que expulsaemos de nosso cho ‘Com um’ grande sindicato industrial CORO: Harm, fume, vamos fazer @ dbo! iamta, ura, esti & nossa frente Ganhar a emocracia ‘as oficisas © Itberdade para nosta Sindicato tndustial Pee gente Odiamos” seu horvel sistema mais que qualquer mortal. Nao guoremos adapti-lo, queremos reforma total E oso governo se14,. 20 chegarmos a0. finaly ‘Um fracde sindicato industrial! A influéncia dos Trabalhadores Industriais, mesmo quando contava com o mimero maximo de membros, eta muito maior do que parecia. Provavelmente nunca contou com mais de 75000 membros, mas no decorrer de suas atividades influen- ciou centenas de milhares de trabalhadores. Os trabalhadores: desorganizados, os nfio-especializados, os injmeros operdrios mi- gratérios de que se constituiam suas fileiras foram infectados com 0 ardor revoluciondrio dos dirigentes. As greves néo abor- reciam a T. I. M.; pelo contrario, ela as acolhia muito bem. Os seus dirigentes nao temiam nada, tinham magnetisme, mos- travam marcada habilidade para orientar lutas ferozes. No decorrer dessas lutas os operdrios oprimidos recebiam \ da T. I. M. 0 auxilio de que tio desesperadamente necessitavam, Mas 0 programa revolucion4rio da T.1.M., no 1.° quarto do | século 20, nao atraia seguidores permanentes. O governo punia com violéncia os “vacilantes”, como eram chamados os parti- cipantes da unido, durante a Primeira Guerra Mundial; e em 1918 mais de 100'dos seus dirigentes foram atirados & prisio, acusados de conspirar. Cerca de 1924, tinham praticamente cessado de existir. Os sindicalistas, fossem membros dos Cavaleiros do Tra~ balho, da Federscio Americana do Trabalho ou dos ‘Trabalha-, dores Industriais Mundiais, tinham dificuldades. A classe em-\ progadora vin nos sindicatos uma ameaga ao seu poder. Por- | tanto, opunha-se a eles, ¢ fazia uso de todo o meio ao alcance, | honesto ou desonesto, para esmagé-los. Algumas das lutas piores da histéria americana, lutas em que foram destruidos milhares de délares em propriedades, em que vintenas de pessoas foram 213, mortas, foram, em Gltima andlise, resultado de os empregado- rey se recusarem a reconkecer os sindieatos trabulhistas e @ entrar em acordo com eles. Este fato nfo ¢ reconheeido com maior amplitude porque os empregadoves € que controlam as forgas que produzem a opiniio publica —— imprensa, escolas, igreja, ete. Os jornais, em suas publieagies, as escolas com * seus ensinamentos, as igrejas com suas pregagies defentem em goral 0 lado do capitalismo. Além disso, nas stas negecinedes diretas com os trabalha- dores organizados, muitos empregadores fizeram uso de poder econémico, Formavam geus préprios sindicatos, ou associngées de empregadores, para apresentar uma frente unida em opo- sigho aos sindicatos dos trabalhadores; impuuham 0 “juramento rigoroso” (contrato pelo qual o operario se comprometia a nfo ingressar em sindicatos) sob penalidade de perder o emprego; faziam discriminagGes coutra sindicalistas e o8 despediam; usa. vam largamente a lista negra contrs 03 “agitadores”, isto 6 os membros dos sindicatos; empregavam espiées para relatar © que se passava entre os emprezados que tentavam se orga- nizar, e para exterminar os sindicatos; afixavam distintivos em seus homens, convertendo-os em “policias da companhia”, da- vam-lhes bastdes e armas para atacar os grevistas. (Foi essa habilidade em convencer o3 operarios a Intar contra os colegas que levou Jay Gould, famoso eapitalista, a declarar: “Posso eontratar metade da’ classe trabalhadora pra matar a outra metade”.) Os métodos desses emprezadores eram muito efi cazes: os sindicatos passaram um mau bocado, Ficou mais difieil ainda a situagdo para os sindicatos, quando os empregadores deseobriram que 0 que eles néio podiam fazer, através da pressio econmiea direta, podia ser conse- guido através dos tribuanis. Os tribunais faziam as coisas mais espantosas — tio surpreendentes que fariam inveja a um magico. © Congresso, em 1890, tinha posto na cartola legislativa uma lei antitruste. Ora, de repente, vejam! Oz tribunais pu xaram de dentro uma ici antitrabalhista! Vejamos, por ex., @ contagem média, nos iribunais, nos anos de 1892 a 1896: 4 200 Contra 05 tastes 1 4 1 oo Conta os trabalhadores Casos que diziam respeito 4 Lei Sherman, antitruste: Na lista dos casos contra os trabalhadores, sob a Lei Sher- ‘man, neste periodo, estava a greve Pullman, uma das disputas a4 mais famosas nos meios operarios. O Sr. Pullman tinha cons- truido a cidade de Pullman, em Dlinois, para os trabalhadores da Pullman, Era um nome muito adequado (homem que tem influéneia). “As fébricas pertenciam 3 companhia Pullman, os armaréns pertenciam & companhia Pullman, as residéneias pertenciam & companbia Pullman, a escola pertencia a com- panhia, e 0 teatro pertencia & companbia Pullman. Na primavera de 1894 a dirego da companhia despediu cerca de 1/3 de seus trabalhadores e anunciou que iria reduzir de 25 2 40% o8 salérios dos restantes. E o Sr. Pullman dimi- nufu também o aluguel das residéncias? Abaixou os precos nas lojas? Certamente que nfo. Em Maio de 1894 5 opezdrios da Pullman entraram em e Imediatamente a companhia fechou a fabriea e cortou erédito dos operérios nas lojas, Em Junho, muitas das familias de operdzios estavam pastando fome, © Sindieato das Ferrovias Americanss, organizado por Eugene V, Debs, um foguista da estrada de ferro, tentou agir como pacificador, mag a companhia Pullman no queria receber os seus dirigentes. © Sindicato das Ferrovias ent&o ordenou as seus mem- bros que boicotasser todos os vagdes Pullman dos trene em que trabathassem. Em alguns dias os ferrovidrios das estradas que trafegavam a oeste, vindo de Chicago, reevsavam-se a adi- cionar os carros -Pullman as composicdes. Os diretores das ferrovias recusaram-se a desengatar tais earros ¢ despediram 08 que faziam o boicote. Ai o Sindicato das Ferrovias Amerieanas eonvoeou todos os membros para que entressem em greve ¢ os trens foram paralisados. Em todo 0 pafs 0g ferrovidtios tinham se arregi- mentado a Debs, seu porta-bandeira, A greve estava bem orga- nizada, ¢ cada dia mais eficiente. Os trens, em todo recanto do pafs, estavam paralisados. ‘A companhia Pullman nao se encontrava sozinka em sua Juta com o Sindicato das Ferrovias Americanas. A Associagio dos Gerentes Gerais, da qual eram membros 24 ferrovias, jun- tara seus esforcos & companhia Pullman, para combater 0 Sindicato. Debs, no seu apelo aos operérios ferrovidrios para que apoiassem 0 boicote dos carros Pullman, contouthes 0 que havia acontecido: “...Entio as associagies de estradas de ferro, através da Associagio de Gerentes Gerais, vieram em seu auxflio, ¢ em uma série de consideragGes declararam que nfo entrariam em scciedade com Pullman, por assim dizer, e 215 néo o defenderiam em sua tarefa diabélica de levar os préprios operdrios & morte. 0 Sindieato das Ferrovias Americanas acei- tou essa guerra, ¢ assim a disputa agora é entre a unido das estradas de ferro, solidamente ligadas, de um lado, ¢ as forgas operirias de outro...” Tao unidas estavam essas forgas operérias em sua batalha, to eficiente era a greve contra a Associacio dos Gerentes Gerais, uma des maiores fusées de capital dos Estados Unidos, que durante algum tempo parecia que eles iam ganhar. Se tivessem que lutar contra a Associacio sozinha, talvez pudes- sem ter ganho. Mas a combinacdo da Associagio dos Gerentes Gerais com os tribunais e com tropas federais era demais para eles, Os capitalistas apelaram ao presidente Cleveland, pedindo tropas. Hm 4 de Julho de 1804 2 000 soldados do exército dos Estados Unidos avancaram sobre Chicago, John Altgeld, entdo governador de Illinois, imediatamente enviou uma earta de pro- testo ao presidente, dizendo que o Estado de Illinois podia cuidar de seus proprios negécios. Cleveland retrucon que os soldados 14 iam para dar protecio e transportar 0 correio dos Estados Unidos. Depois da chegada das tropas, comegou o barutho, O que havia sido uma greve relativamente pacific, tornou-se uma greve belicosa, Eram jogados tijolos, trens eram virados, os fura-greves eram arrancados de seus postos e agre- didos, a propriedade das ferrovias era queimada, Embora os representantes dos sindicatos civessem implorado aos seus que nao perdessem a calma, pedido que os grevistas até entéo ti- nham atendido, nao havia divida que os membros dos sindi- eatos cram responsiveis por parte da destruigéo. Por outro lado, os grevistas alogavam que grande parte das depredagies tinha sido feita por “agentes provocadores”, homens empre- gados pelos dirigentes das fer-ovias, que queriam deste modo fazer com que os operSrios ficassem mal perante o piblico, E no hé davida que isto tamiém era verdade. De qualquer modo, 2 depredagio e os incéndios continuavam, e foram mor- tas 12 pessoas. O maior responsdvel pelo envio de tropas foi o Sr, Edwin Walker, Era um dos advogaéos da Associagio dos Gerentes Gerais, e 0 promotor geral dos Estados Unidos havia, muito graciosamente, indicado seu nome para conselheiro especial do Governo. O St. Walker descobriu que zodia atender ambos os clientes ao mesmo tempo, com toda facilidade. Mandou busear as tropas. Compareceu diante dos tribu- nais e pode convencer os juizes de que a greve dos ferrovidrios a6 era uma conspiragiio itegal, Ef DESRESPEITO A LEI SHER- MAN. Depois os juizes, a seu pedido, expediram um mandado,“~ ou ordem, proibindo os que tinham cargos publicosde interferir de qualquer forma no trafego dos trens que faziam o comércio interestadual; ou de obrigar e até mesmo persuadir os ope- rarios das ferrovias a n&o desempenharem suas tarefas. Era ‘um mandado para abranger qualquer pessoa, ndo somente Debs e outros representantes de sindicatos, mas “todas ¢ quaisquer outras pessoas”; proibia praticamente qualquer atividade ne- cessfria para continuaglo da greve: mesmo a passeata pacifica era agora considerada crime. E tudo isto baseado na lei que tinha sido elaborada para dominar os trustes! Debs e os outros dirigentes continuaram a desafiar 0 man- dado, No meio de Julho foram detidos por desacato aos tri- bunais. A espinha dorsal da greve havia sido partida. As companhias de estradas de ferro triunfantes recusaram-se a admitir novamente alguns dos grevistas, Foram contratados outros, que se conformaram com ag novas condigGes. Com 0 auxilio do governe ¢ dos tribunais os capitalistas obtiveram uma grande Iria, E haviam ganho mais que uma vit6ria, A greve Pullman Thes mostrou como era eficiente uma arma que ja tinham usudo antes, mas que nunca cuidaram de afiar para que cor- tasse bastante. Agora, iam poli-la em grande estilo, O man- dado havia sido rapido e mortal. De 1895 em diante og capita- lists usnram essa arma com resultados positives, Era um 6timo acaba-greves. - ‘Os empregadores tinham somente que marchar em diregio aos tribunais federais ou estaduais, e persuadir os juizes de que, a no ser que fostem refreadas as greves, iam acontecer coisas terriveis. Suas propriedades iam sofrer danos irrepa- raveis. N&o sé a3 propriedades concretas, como fabricas, ma- quinas, materiais, etc.; mas também a propriedade intangivel, como por exemplo, 0 direito de negociar, boa vontade do piblico para com o empregador e seus produtos, direitos de auferir lucros. Os jufzes se persuadiam com facilidade. Comegou a haver um diltivio de mandados. Proibiam atos que eram crimes (o que poderia ter sido tratado por tribunais criminais comuns) e atos que nfo eram crimes (coisas que os grevistas tinham direito de fazer, pela constituico). Os juizes emitiram man- dados que proibiam os grevistas de fazer passeatas, de se aglo- merar perto dos locais onde havia greve, de distribuir panfle- tos; eram até mesmo proibidos de freqtientar certas igrejas, de rezar ou cantar nas vias piblicas, 27 Nio admira que os trabalhadores tivessem levado anos a conseguir uma lei que limitasse o uso desses mandados para decidix as disputas operdrias. Em 1932, 38 anos depois da greve Pullman, fof aprovada essa lel, a Lei Norris-La Guardia. Pela sua redacdo parecia que iria fancionar, mas os amigos dos trabalhadores nao estavam certos: lembraram-ee de que os tribunais ainda ficavam com o direito de interpretar a lei. E como podiam mesmo, era bom néo ser otimista demais. Lembraram-se de que Sam Gompers havia sido otimista demais em 1914. Nesse ano havia sido aprovada uma nova lei antitruste, que doveria eximir os sindieatos de trabalhadores das disposi¢Ges da Lei Sherman. A Lei Clayton antitruste fol acolhida por Gompers como “a Magna Carta com a qual os trabalhadores sustentardo a retaguarda de sua Iiberdade indus. trial.” Baseava suas esperancas no artigo 6, que dizia em parte: “O trabalho de um ser humano néo & uma comodidade ou objeto de comércio... nem tais organizagées (trabalhistas), ou a participacio nelas, constituirao, ou serdo planejadas para constituir combinagdes ow conspiragdes ilegais que prejudiquem © coméreio, de acordo com as leis antitruste.” 0 entusiamo do Sr. Gompers teve pouea durac&o. A Lei Clayton, segundo a interpretacdo dos tribunais, no realizava 0 que devia. Muito pelo contririo. Houve mais processos con- tra trabalhadores, na vigéneia da Lei Sherman, nos 24 anos que se segufram & aprovagio da Lei Clayton, em 1914, do que nos 24 anos que se seguiram & aprovacao da prépria Sherman, em 1890! Estava-se tornando cada vez mais claro que as leis que deverlam evitar o erescimento dos trustes, segundo a interpre- tagdo dos tribunais, estavam sendo usadas para evitar 0 eres- cimento das organizacSes de trabalho. Muitas vezes acontecia que quando um grupo de empregadores estava sendo processado, a Suprema Corte aplicava a “regra da razio”, e os emprega- dores eram libertados; mas quando um grupo de trabalhadores estava diante dos tribunais, af a Suprema Corte aplicava a regra da falta de razio, e os trabalhadores eram punidos. Era tudo muito esquisito. Foi o que o juiz Brandels achou, em sua célebre opinido discordante, no caso Bedford Stone: “A Lal Shermen weorea no exo Fade Union wen U.S, Sth Congo ition afi de permit gue ov expitaltan Tuncems. puma Gaice corporagao, 50m da indstin do ago doe ieador Unidon, Gomnando 9 mercado com seas Teeurss vasthsimos, “A Le! Shennan vigorou no ciso Estadon Unidoe contra Bis Machine’ Shoe Go... a tim de. permit que os captaistes fund em otra corporagio ratcamente toda maqultaria pera fabrieng8o de cxl= 218, parecer gedos do puis... Sexit zomteente squto eiruaho so 0 Congress, pela mena dito’ de cooperar entro si. unicatente dettando de trabaibar, quando esie fra 0, seo mio dese proiegerein conten ama fusko de empregadores tives ‘opoderesos. "Nao possa scredilar gue 6 Congress fizese iso" Mas esea era uma opinifio discordante. A maioria dos juizes da Suprema Gorte pensava de modo diverso, Na inter- minavel e amarga luta dos “que tinham” contra os “que nao 4i- nham”, og tribunais do pais ficavam do lado des que tinham. 219

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