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O UNIVERSO DAS | IMAGENS TECNICAS Elogio da superficialidade | : an Prefiicio AEscalada da Abstragéio fae é um livro chave para o entendimento de Vilém Flusser. £ nele que se desenvolve a espinha dorsal de sua obra madura, j4 distante cs seus ensaios da fase inicial, cheios de surpreses e sobressaltos, “enbalados sobretudo nos formaatos beves, nos génieroa midisticos, de- pla seunidos em livros, mas som perder na identidade e uma wnida- de, como $e fossem cada um deles um ponto, um gro de ateia, ema pedeinhaoa um ‘eélcule’ (ae sentido de pequena formssao calcérea) infependertes — mas sempre com uma grande ¢ instigante dispersdo deobjetos temas, Foi a fase da Histéria do dizbo e Da religiosidade, dicisiva para a definiggo de um método ¢ um estilo de abordagem que sedemonstrariam essenciais para os mergulhos imais extensos ¢ pro fandos em seus objetos predilotos da fase madura, a imagem, a midia, ov aparatoeda comunieaglo €0 proprio processo da comanicagtio, Es- sencial também 0 género ensaistico que subdivide aspectos, se apro- ima e se afaste de cadaum deles, ensais sproximagées, brinca entre superficie e aprofindeza, joga ¢ inserte, subverte-se subvertendo 0 osjeto.e o othar do leitor © presente livre, que em seu original datilografud om yortugués sera com Seulo principal ‘o clogio da superficialidade’, complements, sorofundae redireciona a sua obra mais conhecida internacionalmen- tea notdvel Filosofa de cata prta, que emi todas 9 outras lingwas se chame apenas Filosofia de fotografia, una ver que se baseiam na versa0 Semi, a rigor uma primeira versio, jé que, ac tocrever a versio brasi- Irira,o autor 4 amplia eexpande, “0 logio da superticialidade” (permiam-me ser fie x Flusser que cava titules mais poéticos e provocativos em portugubs) foi a seqiién- o. Adverténcia* (O cue se pretende buscar por meio das idéias aqui colocadas sio ten dértay que se wanifisiamy sos poutue, nae luggese Wenluas atuds (como fotografia « televisio). Junto com estas iléi, sleangames'a re- aie das fururas imagens eletrbnicas que sintetizam a Sociedade. Do potts de vista conternpordineo, ser uma sociedade estrana com vida radicalmentediferenteda nossa. As categorias atuais de sociedade, po lites e arte sero meras defasagens e © proprio instinto vital, adispo- sigh existencial, id adquitis um. tom nove € exitivo para nés. Nese 80, no se trata cle um hugar distance em algun fitaro inimagindvele jé-otamos prontes para mergulhar nele. Numerosos aspectos destas estranhas formas socials e vitas estto palpavels jf hoje nos nossos ar~ redores ¢ em nés mesmos. Estamos vivendo numa uropia emergente sobre a qual podemos dizer que invade a esstnete do nosso ambiente @ detodos os nostos poros. O que exté acontecendo em wolta de ndse denzo de nésmesmosé fantéstco e todas as utopias antecedentes, po- vas on negativas, estio perdendo as cores perante o que esté emer ggindo, E sobre isso qu vai discatir a ensaio que segue, ‘Jtopia significa “sem chao”, ausncia do lugar onde © bomem po- deri parar. Estainos enfrentando, inseguros, o futuro imediato que sstdemergindo —estamos apenas agartados nas exrutaras, que ato pia produziu. E 0 caso deste ensaio: ele se agarra 4s atuais imagens téericas, ee as “critics”. Neste sentido, apresenta uma continuagdo e lum aprimoramento doargumerto do nosso ensaioantecedente, & fle sfc da eaiva preva. Rado porrjue este ersaio nao quer (pelo menosen primeira instincta) ser lido como wma literature fantisciea facarista, + pefaelo escxo por Vilém Flussee para a edigho alemi de Me Chivercon dor ‘eobichen Hilde. Gottingen, 198t. Traduszo de Eva Ealickova 5 Fill Basie ® ‘mas sim como critica do presente — apesar de vibrar nela 6 sentimen- to penetrante e predominant da inseguranga frente & emergéncia do novo. * Pamtindo das imagens técnicas atuais, podemos reconhecer nelas dduas tendéncias basicas diferentes. Uma indica o sumo da socisdade totalitéria, centralmente programada, dos receptores dis imagens € dos furciondrios das imaens: a outea indica o rumo para a socineadea tclemitica dialogante dos criadores das imagens e dos colecionadotes das imagens. As duas formas de sociedade parecem fentisticas para ‘ns, embori a primeira utopia tenha caracteristicas negativas, a se- ‘gundla positivas. Hoje, sem chivica, ainda temos liberdade de por erm questo ests avaliagio. Mas o que no podemos questionar mais € 0 dominio das imagens téenicas na sociedade furura. Como nie deve ocorrernenhuma catistrofe —o que é ex definitione imprevisivel —en- tio quase certo que as imagens técnicas contentrarao os interesses existenciais dos homens futuros. Justameuie ise nos autoriza © obriga @ denominar 3 socied: emergente como utopia, Ela nfo estard em hugar nealnma nem em-ne= hum tempo, somente em dreas imagindrias, naqquelas areas ems que ‘cuja histGria e geografia se entrelagam. A intengio do ensaio que se segue & captar esta disposigao vital iereal, que eomesou a se conden- ‘sar em imagens t€cnisas: a disposigo vital da “sociedade puramente informacional Este preficio apelativo, como na meioria dos cases, fel escri depois do lisro terminado, Ele coincide, de certo modo, ainda com experiéncias preocupagtes da recente vieem para 0 pais dos nose sos filhos e netos. Por isso & necessirio um aviso: nio se deve esperar deste ensaio respostas, porém perguntas, embora as perguntas sejam ‘mascaradas como respostas. Em outras palavras: este ensaio ro tenta propor qualquer tipo de sclugie an problems eebogado, porém busca, criticamente, pérem quesido as tendéncias que se entontram nos seus fandamentos. 1, Abstrair ‘Semos testemunhas, colaboradores ¢ vitimas de revolugdo cultural evjo ambito apenas adivinhamos. Um dos sinomas desa revolugdo Ga cmergéncia das imagens téenicas em nosso torno. Forografias, fil- mis, imagens de Tv, de video ¢ dos terminais de computador assumem ‘o papel de portadores de informag#o outrora desempenhado por textos lireares. Nao mais vivenciamos, conhecemos e valorizamos ¢ mundo gragas a linhas escritas, mas agora gragas a superficies imaginadas. Como a estrutura da mediagao inftui sobre a mensagem, hi mutag30 sanossevinéneia, nosso conhecimento. nosos valores. 0 mundonso seapresenta mais enquanto linha, processo, acantecimenta, mas en~ manto plano, cena, contexto ~ como era o caso na pré-histéria € como ainda 60 caso pata iletrados. No entanto, 0 presente enscio procurard demonsirar que ndo se trata de retorno a situacio pré-alfabética mas deavango rumo @ situagio nova, pds-histérica, sucessora da histéria 6 ds eserita Qfosss de: a novns imagens nfo oeupem 0 mesmo nivel ortalégico das imagens tradicionsis, porque slo fenémenos serm pa- niielo no pessado, As imagens tradicionais slo superficies abstraidas dd volumes, enguanto as imagens técnicas «do superficies construldas Sn pontos, De maneira que, 40 recorrertmos a tais imagens, no €s- ‘ais etomando da unidimensioalidade para a biimensionalidade, ‘mis ney preciplainds da unidimersionalidade para © abismo da eero- dinensionalidade. Nao se trata de volta do processo para a cena, mas sim de queda do provesso rumo a0 vacuo des fianeg) A superficialida- de que se pretende elogiar é a das superficies que se condensam sobre iteabismo. © animal eo “homem natural” (ta contradicei in adiecre) encon- tr1m-¢e mergulhades no &Spago-tempoy no mundo de volumes que s¢ atroximam e se afastam. © homem, 20 contririo do animal, possui 5 mos com as quais podle segurar cs volumes, pode fazer com que pa rem, Poressa “manipulagdo” chomem abstrai o tempo e destarte trans- forma o mundo em “circunsténcia". Os objetos abstrates que surgem em torno do homem podem er modificadas, “resolvidos" (“objeto” e “problema” s€0 sindnimos). A circunstancie abstrata, objetiva, proble- mitica, pode ser “informada” e esultaré em Vénus de Nillendorf, em facade silex,em ‘cultura’, A manipulacdo é 0 gesto primordial; gracas ele o homem abstrei o tempo do mundo concreto ¢ transforma a si priprio em ente abstraidor, sto é, em bomem propriamente dito. Enteetanto, as mos niio manipulam cegamente: elas estio sob 0 controle dos olhos. A coordenagao das maos com cs othos, da praxis coma teoria, é um dos temas da existéncia humana, Milhdes de anos se passiram até que tivéssemos aprendido a olhar primeiro e manipular em seguida, a fazer imagens que servissem de modelos para uma ago subseqiliente, As imagens (por exemple, as de Lascaux) fixam visdes: a vido da circunsténcia. Os olhos perceber as superficies dos volu- mes. As imagens abstraem, portanto, a profundidade da circunstincia a fxam em plaros, transformam a circunstancia em cena. A visto & ‘9 segundo gesto a abstraic (abstrai a profundidade da cireunstdincia); gracas a ele o homem transforma asi proprio em kama sapiens, ou seja, em ente que age conforme projeto, A circanstancia imaginada, a cena, representa a circunstincia pal- pavel. As mios doravante, devidamente orientades pelas imagens, agem sobre a citcunstincia. Mas essa mediagdo entre homem e cir~ cunstdineia palpével, propésico das imagens, comporta ambigitidade, ‘As imagens,podem eulgstuir-ee pela circunsténcia a ser por olay xe- pithtiniads, podem tomhat-se oputas-e welts atesstnne imundei pals wel, rhein: pede apie enn mney das ineagen Cnegn). Wein dbsralldnins ke pessatani-aié qi Hydstemis gpstiicldé-atoensy trae» fotos) Smagens, «caplet arraubabdons osdedasc ele thenitos da superficie das tnageas ee atinha We atiny de Cente, we gis ivdsseinsajradidra saggaroeecidy da conseaty lmapinado ea wenlior os eleimenetcoti #8 inhen, ntoenaenay cetiax “hemelveie” Coos dois sentidos do terme), a desentolar e desenvolver as cenas em pro- cesios, vale dizer, a excrever textos ea “conceber 0 imaginado”. Con- sediientemente, 2 conceituagdo é o terceiro geste abstraidor (absteai a largura da superficie); gragas @ ele o homem transforma a si proprio emhomem bistécico,em ator que coneebe oimaginado. ‘Tentos sio séries de conceitos, abacns, colares. Os fies que orde- nan 08 conceitos (por exemplo, a sintaxe, as regras matematicas e 6- gies) slo frutos de convengdo. Os textos representam cenas imagi- nadas assim como as cenas representam a circunstancia palpivel. © ‘universo mediado pelos textos, tal universo contavel, é ordenado con- forne os fics do texto, E mais de tr¢s mil anos se passacam até que sivissernos “descoberto” este fato, até que sivéssemos aprendido que a exdem “descobert no universo pelas ciéacias da natureza é proje~ ic da linearidade ldgico-matematica dos sens textos, € que 0 pensa~ ‘esto tientiico concebe conforme a esteutura dos seus textos assim cono o pensamento pré-histérico imaginave conforme a estrurura das ca a suiS imagens, Essa conscientizaclo, recente, faz com que se coffianga nos fics concutores. As pedrinhas dos colares se pbem a ro- lag soltas dos fis tomades podres, ¢ a formar amantoados caéticos de particulas, de quanta UCBits, de pontos zero-dimersionals. Tais pe- drnhas soltas nlo sii manipuliveis (nfo sdo acessfveis &s maos) nem imagindveis (ndo sdo acessive's aos olhos) e nem concebtveis (nfo sao avissfveis aos dedos). Mas so calculéveis (de calewus = pedrinha), Porianto tateveis pelas pontas de dedos munidas de teclas.E, uma vez ‘eaculadas, pode ser reegrupadas em mosaicos, podem ser “compu tala” formando onto linhos serundésiag (cnrvag projetadas),plangs Stowidries Guingene taeatied), walunies eons abogeaisls: Disggrisio proedise i oe Soeur et Owiinsciacinagennsteriins. Pili Flavor gancho sobre o qual se possa pendurar o problema das tecno-imagens, Enquanto modelo geral, 0 telato proposto é inaceitivel,e 0 ¢ sobretudo por sva linearidade: “mifo-clho-ledo-ponta de dedo”. Qu “objetivae io do mundo e subjetizagao do homem” ~ Simaginagio do mundo ritualizagio do ato” —“historicizago do mundo e aunoconsciéneia do “desintegragio do mundo e existencializacZo da conseiéneia Ou ainda; “tridimensionalidade/bidimensionalidade /unidi- mensionalidade/zerodimensionalidade”. Nao foi decerto assim, linear ‘monte, que o homem se efastou, aliensdo, do mundo conereta, Os quatro passos rumo a abitragio, sugeridos acima, nfo foram necessariamente tomades um apés 0 outro. Datei um exemplo, muito revelador da nossa prépria situagio, de como degraus podem ser pus lados, Demdcrio esti localizado na passagem da imagem para o tex: to, da magia para o ato concebido. Os fragmentos das suas escritas que se conservaram encontram-s ‘entre os primeiros textos escritos. No entanto, em tais esctitos Dembcrito nao fala do universo hisirico ‘due estava surginda em torn Ala, darquele universe me qual Sealy fui” e no qual “jamais mergulhamos duas vezes no mesmo rio”. Fala, pelo contrério daquele universo do céleulo e da computagao que esté surgindy agora em torno de nés, no qual os éomos caem em linhas patalelas das quais podem divergir minimamente lina linamed) pata se encontrarem acidentalmente, ¢ no qual todas as coisas surgem por aci- dente. Destarte Demécrito catia por cima da histéeigteds, ends somos Dritielra gerapan que pode-viventeiaty que peters rnGcrito apenas imaginava e-cdnoshit oa Os quatre pasos rumo a abstregdo, superidos acima, ndo formam série ininterrepta: foram sempre theesebmpices: por pasos de valta piri © ronetero, 0 propésito de toda abstragio & 0 de tomar distancia do concrsto para pacder agarniclo methor, A milo segura volumes para poder snanipslé-lo, oolhi-contempla supeifictes para poder imaginse volumes, o dedo concebe para poder imaginar,« a poma de ded cal- salaparappoder conceber ‘ettiler pour mieuce tc intido é progredis, mits regrediy,& - De maneire quea histéria da cultura no ésé- riede progressos, mas dariga em torno do conereto, No decorrer de tal daaga tornou-se sempre mais dificil, paradoxalmemte, 0 retorno para o-eoncreto, Tal conscientizagao do absurdo da abstraglo earacteriza 0 cima do tltimo estagio (endgame) no qual estatios. (© modelo linear da histéris da cultura acima proposto néo £0 mo- ely mais adequado ~ no entanto, £ um modelo tril para o propésito peseguido aqui. Permite a distingio entre « ges produtor das ima- ers tradicionaise o que produz as tecno-imagens. Mostraque se trata ée dois gestos opostes. A imagem tradicional é produzida por gesto {qué absirai z profundidade da circunstancia, isto é, por gesto que vai amo ao sbsteato. A teeno-imagem ¢ produida por gexto do soncee vaido abstearo rumo ao conereto, E como 0 gesto produtor conle~ re significado & imagem, o.modelo sugere que o significado des ima gens tradicionais ¢ 0 oposto do significado das tecno-imagens, Este capitulo procura descrever 0 gesto produtor das imagens tradicionais, einuiai o caphuly segulite peucutard fiver Ourry ranto quENEO HO pontos para formate Superfcies, isto 6, por weso que _tes0 produtor das tecno-imagens; ambos os capitulosse apoiam sobre omodels proposto. © futuro produtor de imagem tradicional esta afasiado da eizcurs- tinsia objeriva pela distancia do comprimento do seu brago. Sua mio ‘stendida fixou a circanstincia em torno dele, A circunstincia é seu objeso, ¢ ele proprto-esujelto. A divisao abstraidora entre objeto-e sa- Jett, fea hé miles de anoointiis, 5 do mais © perturbe. Assume-e cone “dado”. O que o faire pendator dle imagem tradicional deci- deiazer € dit um pasio para trés de sua circunseineia objetiva, a fim desupervisionécla, De maneica que © produmor da imagem recua para Aecero da ssa subjetividade.. partir da nova distancia agota tomada, a citewstdncia nfo & mats palpavel a titlo nfo waleanga mals, Delxa dls ver “masiesta". B agora apenas apatence, A clrounstincla passa a 84 mais “ear dianteda mo" Gerk nia), mae om a “purceer setae” (toketinen), Isro porque os olhos pervebem apenas reflexos de superfi« ‘ies, as quals 06 ids “sebem” que podem ser enganosas. Com esse Canines ingens teas 8 lem Fuser 20 movimento para trés, 0 futuro produtor de imagens penetra a divida ‘quanto & realidade do mundo objetivo Mas, emboraos objetivosda ciscunstnsia se tenhatn transformado ‘em meros ""fendmenos”, o recuo permite que se desvendem relagdes enue fendmenos antes insuspeitados. A circunstancia se transforma 1, ern cena, Tal mundivisdo efnica deve servir ntexto relecior dé modelo pata Fintna manipulagio da mnnda, © mundo deve ser “informado” segundo tal mundividnei, segundo tal “ideologia”. Mas toda mundivisto€ fuga, sujeta av esquecimento,e portanto no merecedora de confianga enquanto modelo. E,pior ainda, toda mun- divisdo & privada e inacessivel a outros. O desaffo langado ao futuro produtor de imagens é de fixar sua mundivisio, e ode torné-l pabli- camente acessive, a fim de que possa cervir de mapa, Para fixar algo, para seguri-lo, é preciso recorrer-se As mos, 208 64gos que agarram, Demaneira que o produtor de imagem se vé abri- gado a fazer gestos manuais jamais executados antes, Suas maos néo mais se dirigem contra objetos, no mais “trabalham", mas agora se di- rigem contra superficies a fim de informé-las. Tal ato invertido contra a tendéncia das mlos € de tal complexidade que provora no peodutor de imagens nivel de consciéncia novo: 0 nivel “imaginative”. f facil des- crever-se 0 aspecto visivel, “externa”, do resto, por exemplo.o movi- mento de mo que manipula pincel, Mas tal descrigdo seria insatisfat6- sa, porque o gesto visivel ido passade exteriorizagio de tens interna que se apodera doprodutor todo. A tensio do processo imaginative, do qual o produtor de imagens é portador, faz com que a visdo dassuperii- ‘ies daquelas imagens as transforiae em sfmbolos e depois as-ixe sobre | ‘outras superficies ~ ors, isso & demasiado complexo pata poder ser elu- cidado. Devem ‘nos contentar com a eluctdagao do inpue © do-cumpur | ti imaginagae, deixando a ar6pria imaginagio como “caixa pret" Do lado inpue podemos ebservar que o gesto pr dutor de imagens. | fo se nutre apenas com as visdes que o predator tem da cirewnstin~ j ia, mas igualmente com a visio que o produtor tem de imagens feitas cortentera das imagens de determinada sociedace, porque toda ima- gemé resultado de codificaydo simbélica fundada sobre c6digo estabe- lecido, Por certo: determinada imagem pode propor simbolos novos, ‘mas estes sera decifriveis apenas contra o fundo “redundante” do c6dgo estabelecido. Imagem desligada da tradigdo seria indecifravel, serit “ruido”, Mas, ao inseris-se na cortentera da tradigdo, toda ima- gem propele por sua vee a wadiglo mumo.a novas imagens. Isto é: toda imagem contribui paraque a mundivisio da sociedade se alter ste fato € observvel do lado opus. As novas imagens nio so apenas modelos para faruros produrores de imagens, mas so, mais sjgrficativamente, modelos para a futura experifncia, para a valora~ ‘gio para 0 conhecimento e para'a ago ds sociedade. Com toda ima~ gem nova o universo imaginrio dasociedade é transformado, « 0 po- derda imaginaglo faz com que a rigidex da circunstancia, anterior & profugdo de imagens, sejasubstituida por fluidez e maleabilidade. Mas ndo se conclua de tal uidex.que ha *histéria da imaginagao ¢ dasimagens’. Por certo, n6s, os observadores histérisos, somos leva- dosa ver na constante modificagio das imagens pré-histérieas, desde os ioures em Lascaur até 05 rourbs egipielanos, desenvolvimento li- near ¢ processo, Mas semelhante visio allo corresponde & experiéncia dos propel : énda histérica, nfo se trata de procuzir imagens “novas” que enri- rata-se, pelo contritio, de fazedores de iraagens. Para eles, desprovides de consei- quegam o cédigo simbélico que os mut tcniomitr da forma mais fel possivel o c6digo mayico-mitieo do qual participa. Por certo, 0s produtores de imagens sabem perfeitament® (que toda visio € subjetive e privada, ¢ que suas imagens difecern das | Preedentes, mas assamem que eal subjetividade 6 privacidade e, ela } i Pripria, remuhtado do cédigo de mitos, o qual, por sua vet, aisumer | ifhurdvel e eterno, A consciéneia imaginativa nto pode coneeber de-: senvolvimento linear, apenas 0 retorno eterno. O geste produtor de ‘imagens tradicionais é gesto peé-histérieo, magia a servigo demito. Se considerarmes os lads input e czzput da imaginaglo, podemos Coupreender'o significado das imagens. So elas superficies que Axara CO wnirea dos imagens réenitas 22 publicam visdes da circunstncia passedss pelo crivo de um mito, Sig- nificam cizcunsténcia simbolizada por mito, E 0 fazem ao abstrairem da cincunstincia a sua profundidade. So elas mapas miticos do mundo. 1B} enquantor madelos de agao, fazem com quea sociedede se oriente no ssundo segundlo simbolos miticos, isto é, que aja magicamente, Pois, como o capitulo seguinte vai procurar mostrar, tal imagina- fo produtora de imagens tradicionais é diametralmente opostaa ima- inaglo produtora de tecno-imagens. De fato, a oposiglo é de tal or- dem que parece fonte de confuséo chamar as duas pelo mesmo termo, ‘Talvez devamos inventar termo novo pata designar essa nova capa dade que esté sascendo, omergindo da consciincis histérica ¢ inodii- ccando nosso estar-no-mandb 2. Concretizar Segundo 0 modelo da histéria da cultura proposto acme, estariamos astistindo & emergéncia do wniverso zerodimensional de poatos ¢ & energéncia de nivel de consciéncia “pés-histérico”, nivel este ainda ‘nip formulivel. Os fios condutores que ordenam o universo em pro- ceisos € os conceitos em juizos estariam se desintegrando “esponta- neimente”, ¢ no por terem sido cortados. Estariam sé desintegrando precisamente por termos nos agarsados « eles © por ermos permitido fades que nos guiem. Ao termos seymido tals fics atéo niicleo do uni- ‘verso, ertamos descoberto que, nesse nticleo, os processos (causais € ‘outros) se desiniegram ¢ os colares se desfazem em particulas soltas. E20 termos seguido ais fios até o ntileo do nosso pensimento con- cetual, terfamos descoberto que as catetas do discurso logieo se de~ sintogram em bits, em proposigbes calculéveis. Pols é presisamente tal desinvegragio “espontdines” da linearidade que nos obriga a ousarmos oko rumo a um nivel novo. De fato, salto ¢ ousado, Porque a desintegragio das ondas em sitas, dos juizos em bits © das agtes em(artomas Aesvenda © abismo do niaéa. Os pontos nos quais tudo se desintegra nio tém dimensdo, Si imensurdveis. Entre ts pontos, inter valos se abyem. Nao se pode Ver em tal universo vazio com conseiéneia destarte desintegrada, B precio que obriguemas os pontos a se juntitem, que os intezre- mos, que tapemos os intervalos, a fim de concretizarmos tal univer~ s& etal conscigncia radiealmente abstratos. Por certo, © problema da integragdo de infinitesimais ¢ da superagdo de difetenciais parece ter sito resolvido jf no século xvit, Mas para os inventores do zélculo o problema era metodalégico, formal, ¢ para nésé probleme exstensial, Gaestéo de vide ou morte. A hipétese aqui avangada é que as imagens Xcnicas sao uma das respostas ao problema, 3 24 Vin Por ‘| alidades concretizades e ornedas visiveis. As imagens teenicas io tentativas de juntaros elementos pontuais lem nosso tomno ¢ em nossa consciénecia de modo a formarem super- ficies ¢ desarte taparem os intervalos, Tentativas para transferir os {orons, elétiotis'e bits de informagzo para uma imagem: Isto no é vid. vel para mics, olhos ou ded, jé que this elementos nfo s8o nem pal- péveis, aem visiveis, nem concebiveis. Logo, ¢ preciso se inventarem aparelhios que possam juntas “auromaticamente” tais elementos pontu- ais, que possam imaginar o para nés inimaginavel. E€ preciso que tais aparelhos sejam por née dirigiveis gragas a tecas, a fim de podermos leviclos a imaginarem, A invengio desses aparelhios deve preveder « produgto das noves imagens, (Os aparelhos, no sendo humanos, ni se véem obrigados a que- rer apalpar, visualizar ou conceber os pontos. Pata cles, os pontes so ‘eras virtuslidades para o sev funcionamento, © problema ontolégico ” dos portos no se pie. Os aparelhos funcionam esrupidamente, por- «que funcionam dentro do campo de taisvirtalidades. © quepars nés, oshomens, ¢1a0diftet de lutaylas, pus eaciuplo, ocanpe mageétice do qual se removeram as limalhas de ferro, para eles nfio passa de fun- Gionamento programado, Por exemplo: eles cegamente transformam em fotografia o efeita dos fétons sobre as moléculas de niteato de prata. Foram programados pare fazé-lo. Pois é isto aimagem técnica: virtu-_ (© importante para a compreensso da produsao das imagens seni casé que seprocessa no campo das virtualidades. Os elementos pont iso slo, em si, “algo”, mas apenas chlo no qual algo pode surgir ‘cidentalmente, © “material” do qual 0 universo emergente se com- pe é a virtualidade. E no apenas o universo, também nés somos Fe tos de virtualidede, 1 ore made on suck suuff dreams are made on. Mas ‘quem diz “virtual”, diz “possivel”. Os dois horizantes do virtual sto “necessério” ¢ “impossivel”. Tais dois horizontes se desenhama contra aay cegides do “provével” c “improvivel”, das qual sto precisamente oclimites. A “mathesis” do universo emergente ¢ da consciénciasme:- xente € 0 célculo de probabilidades. No mais fazer eontas ¢ contos, snascalcular probabiidades, Os termos verdad” “alsidade” pas- sama designst Listes inalcangévele. A distingo ontoligie a ser feta 4 uqacla que te dé entre 0 mais ou ¢ menos provével. E no apenas a vpntelgiea, mas iqualmentea ética ea estética: nada adianta perguntar se atimagenstéenicas sfo foticias, mas apenas 0 quanto soprovaveis. quanto menos provives lo, tanto mals se mostram informatias, (Os termos “provivel” e"improvavel” ligem-seintimamentea “in- fovmnagdo”, a qual pode ser definida enquanto sisagio pouco provi ‘vel O universo pontual emergente tende, de acordo com o segundo priripio da termodindavies, para smagées mais e mais provivels. Os tuexames de pontos tendem a se distribuir yetupre maisuniformemente, aeG que peream toda “forma”. O universo tende ase desinforma, ese “ikino estagi, 2 “morte térmica", pode ser ealculado com probebili- dade tio grande que se aproximna da necessidade (da exter), Bate &0 novo significado do termo “veidade”: atendéneis do universo samo & desiforimagio pode ser caleulada com probabilidede téo grandeque tal deenfarmagin definitiva pode se tida por informagio “verdadeira”. Por enquanto ainda nfo estamos i, ¢, pelo contrétio, podemas cb- seat que situagSes pouco provitvels etao surgind 20 universo. Por cexunplo: espirais,céllas vivas, oétebeos humanos. Tals simagbes in- fonmativas surgem aocaso, Ino sugeres seguint hipSsese curiosa: se dispuséssemos de computador suficientemente podeross, poderiamos, extese, “funead” (calealae antecipadamente) todas assituagbes poxco provveis que sutgitam, esto surgindo e surgicdo desde 0 Aig Bong aué a “morte térmica”. A dificuldade para construirmos tal computa denies «ve devem acidentalmente coincidir para que tas situagdes pouco pro- vveis, como nebulosas ou ofiebros humanos, emerjem. A difeuidade na quantidade literalmente inacreditavel das vitualidades 84 no fato de que o nosto computador deverd conter na sua meméria tio apenas todo 0 programa contido no Big Bang, mas igualmente to- dos os erros contidos em tal programa, de maneira que o nosso compu telor deveria ser maior que ouniverso. E, além disto, necessiarfamos de “ietacomputador” ainda maior qué pudesse “fururar” osernus no (O uninerso daiagene demas 8 ile Fes 26 programa do computador futurador do universo. Tal metacomputador poderia firurar ndo apenas as situagbes pouco provaveis no universolé fora, mas inclusive o presente texto em vies de ser composto. De forma que poderia, de alguma forma, “autofuturarise”. Eis um-exemplo-do abismo para o qual a consciéncia nova, calculadora e computadora, se esth precipitando, Tais especulagtes desvairadas (de “eepeculasio jogo de ee. péthos) permitem, no entanto, compreendermos melhor 0 propésito com o qual os aparelhos produtores de imagers foram inventados: née apenas a fim de toraarem visiveis virwalidades, mas jgualmente para coniputarem tais virtualidades em situagSes pouco provaveis. A saber: rn imagens, Os sparelhos sa0 programados para transformar possibi- lidades invisiveis em improbabilidade visiveis. Em outros termos: os } aparelhos eontém programas quese opSem a tendéncia universal amo & entropia. Isto acontece porque os aparelhos sdo produtos humanos € © home é ente engajado contra a esttipida tendéncia do universo a desintormar-se. © homem é ente que, desde que estendeu a sua mzo contra o mando, procura preservar as informagoes herdadas e edqui- rida, ¢ ainda criar informagées novas, Bata é a us resposta & “morte térmica”, ou, mais exatamente, & morte. “Informar!” é a resposta que ‘© homem langa contra a morte, Pois€de tal busca da imortalidade que_ nasceram, entre outras coisas, os aparelhos produtores de imagens, propésito dos aparelhos € 0 de criar, preservar e transmitir informa ‘ges. Nesse sentido, as imagens técnicas sio represas de informagao.a servigo da nosse imortalidade, a Hi, no entaato, euriosa contendigio, eariosa dialétia interna, ema | tal emprecndimento. Os aparethes sto programiados pata criarem 5 | tuagties ponco provévels, a saber, imagens, Pois isto implica que tals imagens esto inscrisas nos seus progeamas enquanso vitcualidades, © | "qAt, quanto mais se desenvolam tais progeamas, tanto mals se torma provivel a walizaghe das imagens, Em outros temas: podemos cons tnir computador capa de futvirat todas as imagens a seem produai- ddas pelos apatelhis “ao aeaso™ (ito 6 ne decorrer da seu funiona | | mexto) ¢ tal computador nem seria “metafisico”, como 0 € 0 caso do conputedor fururador do universo. O que significa dizer o seguinte: 3s imagens produzidas por aparelhos so pouco provéveis do ponto de isa do universe do qual sio computadas (por serem imagens), mas dovonto de vista do programa dos aparelhios sao elas maise mais pro- ‘yaxeis. “Informam” 0 universe, mes “informam" sempre menos 0 1e~ c proceso forogréficorre~ ‘ard, no entamo, que 0 gests do fortgrafo se désenwolve. por assim diet no “interior” do programa doseu-aparelho. Pode forigratar ape- vat imagens que constam de programe do veut aparelho. Por ceils. 9 | ‘ipiecho faz a que © fardgeafo quer que fign, mas o Poesgralh Page apenas queree'e quo 0 apiarelbio pods fazer: De smanira que no apenes | Sanbrere da imagens eons Vilim Blawer | ago previsives, provéveis, Procisamente, al contiadigio inerente "as imagens técnicas desafia os produtores das imagens. O seu desafo ‘ogesto mes a propria imencio do forSgralo sie programados. Todas as imagens que o for6grafo produa 8 calculou o programa do aparelho, Sao imagens “provaveis’, > tados com 0 propésito de informarem, mas que acabam produzindo si- 0 de faver imagens qui sejam pouco provaveis do ponto de vista da programa dos aparelhos. © seu desalio €o de agix contra o programa, Thos no “interior” do préprio programa. Por certo, sem bs ‘aparelhos programados as imagens téenicas nao podem ser prodatives, porque o “material” com o qual os aparelhos funcionam (os elemen- 108 pontiais) sfo humanamente inagaredveis, inimagindvels « incon cebiveis. Mas, tals como programades, os aparelhos nfo servem para produzir imagens informativas. &, pois, preciso utilizar os aparelhos contra seus programas. & preciso lutar contra. sus automaticidade, ‘© gesto produtor de imagens técnicas se revela, entdo, como gesto composto de duas feses. Na primeira fase sao inventados e programa dos aparelhos. Na cogunda, os aparelhos so invértidos contre o set progtama. A primeira fise & executada por cientiscas e téonicos, a se- gunda pelos produtores das imagens propriamente ditos. Trata-se pois, de gesto invertido contra si prdprio, de gesto que flustra 9 supremo pecado, segundo a Igreja CatSlica: cor dversum se jpsum. As imagens ‘técnicas sio resultados de luta dramética ¢ “pecaminosa’. Em toda jmagem téenice € possivel descobeir-se tal colaborugto e Tata entre o progeamador of liherdude informacors Nesta alture do argumento tornou-se possivel descrever o gesto produtor de tecno-imagens. Trata-se de geste programadore des-pro- gramador, gracas ao qual elementos pontuais stio compucados para formarem imagens informativas. O geste & executado por aparelhos ‘munidios de teclas que so acionadas por pontas de dedos. A estrutura do gests éade junta: elementos pontuais para se formasem superficies: & gesto que parte do abstrato ¢ visa o concreto. Vise avangarela veradi- em tes, futurdvels pare quem» Tmagets técnices sio pois produtos de-aparethos que foram inven= | i ; spensionalidade até bidimersionalidede, da “estrutura profunda” até seuperficialidade. O gesto nfo pode aleangar sua meta, porque para febriear superficie 1 partic de pontos seria preciso uma infinidade de vjitos: De modo que as imagens téenicas nao sio superficiesefeivas, wéenicas enganem 0 olho para que o olho nfo peresha os intervalos, sto some oeil geste produtce de imagens técnicas se divige rumo & superficie partis de pontos, O gesto produror de imagens tradicionaisse dirige ‘imo a supertisie a partir de volumes. © primeiro concretiza, ¢ se~ gundo absirai pianos, © primeira surge de céleulo, o segundo da ce~ cunstincia palpivel. Logo, as imagens sécnieas eignificam (4pontam) rogramas calenlados, eas imagens tradicionais significa (pontam) nas, Decifrar imagens técnicas implica revelar 0 programa do qual e on rao qual surgiram. Decifearimagens tradicionais implica revelar visto do produtor, sua “ideologia”. ‘No entanto, decifras imagens t€cnicas € tereta difiel. Horque as inagens técnicas pretendem que clas, tambéra, significam cenas. © ‘ue a significam “melhoe” (mais fielmente) que imagens tradicionais. As imagens técnicas prelendem que produzem cenas ponto par pento, ‘Que ndo passam de superficies sobre as quais as cenas significadas por das deixaram seus trages ponto por ponto. As imagers téenieas es- condem @ ocukam 0 célcuilo (e, em consegiiéncia, a codificaszo) que {© processou no interior dos aperelhos que as produairam. A sarefe 4a ceticw de imagens t€enicas € pois precisamente a de des-oeultar os 1rogramas par detec doe imagens. A luta entre ns programas mostra & intencdo produtora humana, Se ndo conseguimos aquele deciframen- "0,8 imagens téenicas se tomarto opacas € dardo origem anova ido- atria, a idolatria mais dense que a das imagens tradicionais antes da ‘avengdo da escrita Be modo que a recepgao las imagens técricas exige de nés cons i a nce Hai GA ent ee Sage || ‘Amento mégioo-ritval que provocam. O novo nivel de conseiéncia, | / O enivere das imagens eicas produror de tecno-itnagens, exige nivel correspondene no-receptor da: imagem, Neste ponto do argumento & preciso abendonarmos « made. + lordahistéria da cultiira que serviu até aqui para locélizarmos a posi. ‘gio dis imagens técnicas ne cultura, © tenvarmos captar, “Fonomeno~ logicamente”, a’maneita pela qual estamos atualmente no raundo, £ . Tatear precio ventur eaptar como nox movimentamnos amalmence no mundo, pata padernios compreender como.zemamos consciéacia do mundo donde mesmos. j 0 mundo, desintegrado em elementos pontuats pela decompasigga dos solar a se vivensidyes steels Emote esedfatnion hi rast, habitnadides maandjarceciag, ee ioqios Tonge Ge capmratossa mantra dessiac-ne-Hiuivin, angsse for aomenciscanepeeaneiads teekeeonsspontas duenctsdstedns. As teslatestity om ted pant. [ncertulgionesilaminam sm quavte.com sipider:de reHinpegie, cabas seiabiver imedixtanaente,ao.aperrarmes, isi BSR, 9 motor dé-sanme se pBe a Funcidnar instantoneamense:e vinarosa chive, « cher lotogréfita toma fetogratias logo queape ‘amos a:sua tesla, 8 puinieita cola econstatarié que reclus geantven [ mun tipo erage tundlido por divsensiien-que norenrsespondem al medio do wempo cevidianc, on seja:st# tachieserovimentar to uni-} setsactnfime dos ponees, no unirerso-de Iofiniamente pequeno. Sicf slasdigpashtivns'que traders 0 Infisitamente-peqiveso pata A regio a ‘a Gualie homei ¢ a aiedida dé vodss‘ascoisas. Nocentantor.2s: teres : 4 teedvzersdtioapenas do tions pata o humane, tambemde tnfime pare " ogigantesco . Ao apertarmos um botdo, anontainlias expledém, e, 90 spertar o hotds vermelbo, © presidente americano pode terminar com a ‘ida himana na Terra. Ao aperiarmos teclas estamos destnainds © fa- ‘oso sandwich que estrutura o nosso mundo em trés niveis: das dimen=- ses nucleares, das dimensies humanas e das dimensées césmicas. AS pontas dos nossos dedos sto feiticeiras que embaralliam 0 universo. Em muitas casos, a8 teclas ndo 840 botdes isolados, mas former teclados. Se escolho determinada tecla no teclade do meu televisor, f E aioe File Flues 32 ‘ine de sscrers ol en ‘thagla, ¢ isto: a despeito da relativa: ‘ranspartneis da maquina que me serve para cserever's p(escite texto: ‘Estgut, a6 faxé-lo, desoadacanda 06 mieus-pensartentes em palacras, 48 palivras em letras, e estou escolhendo tecles que fazer comn que a8 letras se.teintegrem ein palavras, © as palavras em pensamentos, Es- * € “computando” os meus pensamentos. Narealidadte, or certo, a2 leas impressas na Colle de papel comtinusm soltas, ¢ hi tou “caleulando! intervalos entre elas. Mas consegni o milagre do ter produsido texto discursivo, ndo obstante. Os procutores de imayens técticus fazer 0 ‘mesmo no nivel no da linha, mas do plano. © geste de eserever com maquina é gesto transsarente. Passo ob- servarcomo a tecta levanta mecanicamente determinadgalavanca que vel denpetinie « letin covailitde auine fille. 10350 observer como 0 roloda maquina avanca para dar hugar A'lotra seguinte. No caso da produgdo deimagens, o gesto no transpareme: Ao apértardetermi ‘ada tecla estou iniiands pracesso complete no interiorda caixapreta doaparelho, & que aparelhos ni so maquinas, explicdveis mecanica- ‘ence. No entanto, o milagre do céleulo e da compurago, inserits ex feclas, 4 fandamontalmerte 0 inesino, (Quem liz “tatear”, es dizenca que algo semove eegamente com a esperanga de encontrar algo, como ue por actlente. “Twear” é 0 méiodo heuristic da pesquisa. E, com eftita, & gragas a tal mifeade ‘que chimpanaés ou word processors “escrevers”. Se chimpazés ou word Processors tawaren 0 tecledo da minha méquina por tempo suficiente- mente longo (provavelmente da ordem de bilhdes de anos), scabaro or escrever necessariamente 0 mestao texts que estou eerevenda, © 9 fardo por acaso, No eitanto, o fo incontestavel & que nde vivencio ‘om tetear como movitnenta cego. Pelo cotittério, estou convencido de que escolho as minhas teclas livremente. Dispoako, ao escrever, 2% soubor dey alecnattvas, eapenvonsdhee tals “universe devee = loinativas por d#th0 déliherads, nto 20 acasa, Ings diftcersa -Sexistensia?” entree, os chimpanaiése os wohdphidésines A tal “digs rade hamana’’ sera pols a xapadeiaaivdletalarin o tempo necesi- ££ pata & produgdo do piesette texte das dimensGes astrendmnicasdo atiso par dinsensdes humanas:'em vex de urn bilhdo de ands, eu poduzo em meses. ‘Tal “dignidade” pode ser formmulada assim: o chimpaneé dncen- tse imerso no jogo cbgo do acaso e da necessidade, enquanto exo *vanscende” ao dirigit minha tntengo por cima da maquina de es- crever rummo ao vexto a ser estrito. Todavia, nfo pretends entrar no platano filosifico que ceres 0 soneceita “intengao", esta capacidade de poisar por cima do dado em dizesa0-de um dever-ser: restringirei mi- nha deserigdo a0 dado. © fato & ques chimparseé acabard prodasinéo oveu texto letra por letra, ponta pee ponto. O problema da “digaida- debumana” tome da perguata: poderei ou nfo, aoler este tex 19, descobrir nele una intencionalidade, e na uma sutometicidade? ssibs ertérios que me permitem, novtexto escrito, constatar que ele Lbifeito ndo 30 acaao, mas detiberadamente? Oioblema do de distinguir eneve a inteligéecta artifeial oa hu- mana, Chimpanzés s20 raros ¢ lentos, € poucos sero seus textos. 0 mesmo ado vale para word processors. F-neles, melhor que'em chimpan- 2s, descubzo o problema do tarear sego. © “universordas 4s tarias” é ‘stsado por ambos, chimpanzés ¢ word processors, cowo se fosse jogo edadox: “alestoriamente””, Treta~se pois de um tateardiigido, "pra Beanado”, pels ecin.O rer € cago, mas ditigido, No caso do wosd Protessor, a divecao de tavear, © programa, foi deliberada por téenicos Pragramadotes, For isto 0s word provessow produzem textos mals fapl- Gariente quechimpanaés, em cujo caso acrigem do programa é menos evilemte, Eno meu caso? Comparemos o tatcar do chimpanzé com 9 de um estenotpisia. Attbos tate aunamaticamente: A dikeonga & qu ba chimipanabe isiGem de programa muito amplo (toda combinagio das 45 lertas € i e 2 ili Plewer “permitida”) » ov estenciipionis dispdem de progeamamuito restit (poder ganas. combinat ay 4 letras segunil deremiinados zaodeliy B88 288% caplando). Estamos rencadoss algae que chimpanée st ais livres. que. esteslotipisias, Mas que liberdade-é esia? E a minhas prépria lberdade ao-cocrever este texio? Estaria loealizada ¢mn quais ‘ie oi atte o chimpand e o:eetenotiplata? No é portals aqua HEAOS qpesalvaremnos a tal da “dignidade hamane” ‘Ae tatearem as eclas, os chimpanzés, 08 estenotipistas e eu estamos: spertando dispositivos produzidos por homens. Homens que fixaram a8 letras do alfabeto latino, ciftas ardbicas ¢ alguns simbolos légicos nas! pontes de determinadas alavaricas. No seu contexto original tais ele tentoe pontuai signifcaram wm discurso. Os homens produtores das teclas arrancaram tais elementos do seu contexto aleularam o diseur= $0) pra que chimpanzés, estenotipistas ¢ eu 0s possamos recomputar ‘em discuso, Tuda o que estes trés computadores escrevem pode ser “faturado", esté inscrito no programa da mAquina de escrever e, do: pontode vista dos produtores da maquina de escrever,a diferena entre 9» trés computadores & desprezivel, A tal da “dignidade humana” nfo seencontra, poi, no ate de apertarteclas, mas simno ée produziraste- * analivade, comin réena iid a0 regresse Hafiito, Qs pigtaimednees Go, pdr sud tea, programados. Por exemplorigntezngvanto.o chien ie ub ears exinevonts @ mAguizaaemos ecto des joo aleatieid com inosmayse genérica, sano gemedcametive pro gratsedos. Ambos suxgimos 20 scaso, Noxprogtaa gentrige histnan, estaanserita uinvengiiode teclas como una dav suas virtualidede, ame: ma das Virtinlidades 0 e realtentetn ecessartumeme ao scuso: Segun- do ncritioa cultural em voga devemos pmeurar por programador por deirés dos dois programas (meue do chimpanzé) para responsabilizé- Jo pelos textos que os dois estamos escrevendo? Por certo: € possivel fazé-lo. Em tal caso, no entanto, cairemos no abismo de um curioso determinismo das coincidéncias, dererminismo este de feigao orien- taligance, © teclado da miquina de escrever se revelard como inscrito em aligum destino cege. Mas quem nfo admitir tal programador cago transcendente deverd recusar este tipo deeriica dx culrura, ‘Ao escrever 0 presente texto, tenho a sensagio existencial indis- fargivel de liberdade. Nao poss> negar que minhas teclas so dispo- sitivos para juntar elementos pontuais segundo 0 principio do acaso # da necessidede, , « despeito disto, me sino livte, Embora 0 mew clas, Nao eu, mas o seu programadar, 6 inventor da miquina, é livse. ‘Tal argumento é radicalmente inaceitavel. Escolhi exemplo (@ da maquina de escrever) para mostrar quéo absurdo é um argumeato tatcar sobre teclas me convide # determminisio aleatéxio, minha sen- Sago existencial recusa tal determinismo. Com efeito, recusa-o tio Wiolentamente, que sou levado @ afirmar que raras vezes me sirto tio livre do que quando aperto teclas. Prefiro morrer a estar privado das ‘minhas teclas. Scribere necesse est, vevere non ests Ao apertar as teclas da Mina méquina, toda a minha eristéncia se concentra sobre as pontas soxmeus deros, estau'no.simnde porintermédio das potas dessmeus Fedo Devo, aoinventordasteclas eav-produtordaméqita, 6a fal thaliberdade. Geapasacles, todaia antalss “imerlocitlads” ful cum gs {is pare melas su toncertiae-« depots Out ratao\a0 espacoigibleo, ‘lm de deatte, De ranticaqie-zportar reas é pate URS zen ‘ publicagio, de Rberdade poliiet-no séntidaexato «0 ee Me Capenas sensagac tminhat € a sensagia ae todos oe apentaderes de: 2 Slt, inclusive des peadntores de teono-imnagens: como esse, Seria absurdo querer responsabilizar 0 inventor ou o pro- dutor da maquina de escrever pelo texto que estou escrevendo, Infe- Tamente, © exemplo que eseolhi no € tipico para a stuagio aa qual ‘es encomiramos apertaado teslas. Nao jarexe ser te absurdo querer responsabilizar os invettores e prodorores da rw-au de sompicadaree pelo ue thivayarethos procdunem. Ao esguther'a mnéquins de escrevet ovine exerplo, vise derrubar todautria critica da cultura atvelmente ‘om vogar eepontabillizar 0 progiamadaces pela situagto cultural na qual:nes percebersos, ‘Tolstedn da critica euleural para trés da otia ima so programa, @ para teks do programs mime ap progtemador, se revelard, quando evr dasiagene dei = Vile Blase ermitam que recorra mais uma vez 20 modelo da histOria da cul- tura que propus ne initio deste ensaio. © primiro geste, gragas a0 qual ohomem se tornov sujeito do nundo, era 0 da mo estendida. O segundo era 0 da visdo reveladora dedoitextos. © terceiro era o'da dk plicagzo conecitual de visdes, estabclacedora de processes. E o quarto: gesto, aquele que liberao homem para a criaglo, ¢ 0 de apertar teclas. Aatual revolucdo cultural seria, de tal ponto de vista, a submissio da mio, do otho e do dedo a ponta do dedo: a submissio do trabalho, da ideologia e da teorla & riagdo livre. Gracas & revolugio cultura! atual estariamosnosemtancipande da histéria, e semelhanteemancipagie se rmanifestaria pelo nosso taser sobre teelas Sem divide: a nossa experiéncia coridlana com veclas vai tomnar rl- dliculo este entusiasino pelo poder libertador inevente ae reclas. 8 que a malotia dastectas ein nosso tornondoé dotipo “publicador” ¢ “criador” acima considerado: Se eu tivesse restrito o ren entusiasm a teclas do tipo maquina de esevever, piano, camera fiimiea ou até mesmo comps tador, ainda seria acciravel o mev entusiasmo. Masa maioria das teclas em nosso torno €é do tipo aparelho de televistio, maquina de lavar roupa ou abayjour em cima da minha escrivaninha. £ diffcil enrusiasmar-se por taltipe de tecla, a ndo serem publisidades que vendem maquinas de Javat roupa. Tais teclas, longe de entusiasmarem, levam & sensagao de estarmos agindo de maneira programada, a qual é precisamentea fonte dacritica da cukuracontra a qual argumentei mais acima. Estamos em situagdo caracterizada por dois tipos de teelas. © pri meiroemite, o segundo tecebe, O primeiro publicao privado, osegun- do privatiza © paiblico, F ambos 05 tipos estéo sincronizades, Alguém aaperta yecla na central elétrica-e publica corrence elétrica, ¢ eu aperto tecla no aberjour e privatize tal reente publicada, Alguém aperts te- clas ememissora de Te publica imagens privadas,e eu aperto tecla no apsrelho tv e privatizo tais imagens publicadas. No entanio: ao-assim distinguir entre dois tipos de teclas, descobtimos que a sincronizagio enite ambos os tipos torna problemétiva adisting&o entre o piblico eo privade. Em que sentido é “privada” a corrente eléteica ou a imagem der antes de ser emitida,j@ que ambas se encontram em aparelhos? Em que sentidasto elas *publicadas” pelo aperto datecta,a menos que iecidamos chamar ce “reptiblica” o campo elettomagnérico dentro do aqui'viosendo langedas? Emgueseinido &“prvade" o page noqual ‘you apertando #8 minhas teclas recepsoras, jé que tal epago eotd pre- xammente aberto a todas essas emisedies invasoras? As teclassineroni- zdas barraram 0s limites entre o pitblico ¢ 0 privado ¢ nos cbrigam a substituir tnis cxtegorias bistdrieas por outras, ‘A destraicdo da politica e da privacidade perpetrada peas teclas sugere que a distinglo entre teclas emissoras e teclas receptoras & st- perficisl e nfo pode ser cofinitiva, Sugere também que estamos ns fase eum tear ainds imperitite sobse as teclas. Com efeito, assistimos fs primoises tentativas de suparayto’ da distingto entre dois tipos de teclas, AS seclas ndo ser8o mais sineronizadas, mas Higadas entre si com elos reversiveis. Gragas a tals elos (por exemplo, echos), toca te- cla seri, em futuro no muito distante, ligads a todus as tees. Poderé receber de todas as teclas e emitic rumo a todas as teclas. De maneira que a méquina de escrever nao passa de antepassado primitivo de um ‘elewrier dialogico, enquanto a méquina de lavar roupa de antepassa: do primitivo nfo passa de um sistema de feed-back entre © produtor de miquinas ea dona de casa. Em tal situegdo aperfeigoada do tatear, zo muito distante, todos tateardo em concerte com todos. Por certo, MelLuban esté enganado, Isto no pode ser chamado de “aldeia césmi- 2", na qual todos publicam 0 seu privado e privatiram o piilico pro- posto por todas as privacidades. isto nao € possivel onde nao mis hi privado a ser publicado ¢ onde no mieis hd praga publica na qual seria possivel publicar-se o privado. Mas, embora o fururo nio nos reserve “ldeia”, reserva-nos forma até agora insuspeita de Siberdade, Esiaremos cercados de teclas que ora recebem, ora emitem, centre 4 quais escolheremos as que deliberamos. No "votaremos” (0 voto 2 eleigio ni sf liberdade deliherada, mas apenas liberdade de es- colha), A liberdade do voto, essa liherdade “historica”, nao cera mais sentido, Deliberaremas as teclas aserem apertalas em angle de infor univer das imagenesienicar 3 Vili Passer magia a ser produtida. “Informaremos". A “sociedade informética” dlesse Futuro nao maito distante sera sociedade composca por tateado- ze de teclis em busca de informagao nova, E isto, precisamente por _ Se sociedsde programada para tatear sobre teclas. A forma aé agora insospeita de liberdade seré a da deliberagio no interior de um pio rama, Pois dizer iso é um terspo articular ucopia¢ utopia negativa, porque tal forma insuspeita de liberdade pode perfeitamente virar dia Jerleamente escravidao to total ¢ totalitéria que ninguém masse res- sentird de fala de tikerdade, Bis come estamos no mundo: tateamos, aspontas dos nosses dedos se condensa futuro simultaneamenteater~ radore incbriamte, Os produrores de imagens téonicastateiam, Condensam, nas pon tas.dos seus detios, imagens, As teclas que apertam fazemi com que ‘parelbos juncem elementos pontuais para os transformar em imagens. 4 ‘Tals imagens nfo sfo-aupesficies eletivas, mas superticies imaginadas, S2 imagens iinaginadlas. © capitulo seguinte procuicaré compreendet tal imaginagio em segundo gran, tal feema de imaginagin inimaging vel antes da invengio de aparelhos. tecias, 4.Imaginar : ‘so observarmos fotografia sob lupa, veremos gros. Ao nos aproxi- maimos de tlevivur, veremos pontos, Ao obser varios a produgac de imagens sobre tela de computador, veremas come os pomios s# orga~ nizam em planos, Em todas as imagens técnicas observamos que sia pontos compatados..A fim de vetmos isto, é preciso abservarmos tais imagens, Sob olhar superficial, as imagens cécnicas parecem planos, masse dissolvem, deixam de ser imagens, quando observadas. © problema¢ o da distancia entre 0 espectador ea imagem. De distincia determinada as imagens tfenieas sio imagens de cenos, De ‘outra dist@ncia sé elas tragos de determinados elementos pontuais (tons, elétrons), enquanto sob visio “superficial” se mostram como superficies significativas. Sob “leitura préxima” (close reading), reve lam-se sintomas de perticulas. Embora semelhanze diferenga da. “ni vel ontolgico” enquamo fungio da obsecvacao possasser afirmada te todo fendmeno (Chave obsérvada sob microssépio eleirénico deixa de ser chave e passa a ser conjunto de molécuilas), no esso das imagens ‘écnicas tal diferenca é da esséncia mesma do fenémeno observado. ‘As imagens técnitas, 20 contrévio das chayes, exigem que delibere- cia quanto 2 elas, exigem “superficialidade”, mos determinada dis Exetmplo: nos cinemas anteriores & atual “perfeigdo das imagens”, 08 espectadores preferiam ax poleronas mais afastadas da icla Ao nivel ontoiégica da observagao préxima, as imagens téenicas Sio vistas enquanto rastros de processos eletromagnéticos ou quimi~ 0s em ambiente sensfvel. Sob essa leitusa um quimico pode “ler” em fotografia dada quais «5 reagdes provocedas por determinados fStons ‘em determintias molécules de nitrato de prata, enquanto um fisico ede “ler” em imagem relevisionada quais as reagBes provocadas por determinados elétrons em determinada vélvala cat6diea. Sob tal lei- FS Flom Pheer tura, forografias © imagens televisionadas ocupam o nivel ontclégieo de cimaras de Wilson ede contadores Geiger:tornamn visiveis proces. bos que seriam invistvels sem esses dispositivos. O nivel ontologico o lage reading coloca problema epistemolégica de primeira graideza Serio os processos destarte tornados visiveis “imagens objetivas” de tals procesios, ou serdo eles infectados pelo dispositive que os torncu vibiveis? Em outros termos: a observaglo préxima infui ow nfo no fenémeno abservado? E 0 proprio olho humano, temado como dispo- sitivo de observagdo proxima, nao seria ele também um compe Cell neste sentido? Esta problemética, prépria do nivel ontologico de leitura préxima, adquire, a0 nivel ontolégico da letura superficial des itnagens weni- ‘cas, coloragio curiosamente perturbadora, porque tal problematica se articula em terms que sao importantes também a0 nivel superficial, ‘mes que 18m, era tal nivel, significado inteieamente diferente. Quando is), | Ao isam ntermanampsme sentide através dasgnel scespiortetuna gem técnicsflaem “irmaseiy’: quando eles falum no problema epiere moligico di objetividade da “imagem”, nfo usim c temo no mestab sentido através co qual.o receptor da'imagem fala no problema da “ob- fetividade da imagem recebids”. O8 quiimioas « os fisicos, ao falacem sobre imagens téznicas, esto engejados em discueso inteiranccnte in «@ fisicoe o quitrico falan em “imagem” (processos tornados vi proprinde on d6 reteptcrdas imagens, embora recceratn age siesinos ‘ernios. Nada ditem que tenha referéncia Sé expetidncia, aes valores | ¢ aos ccuhesimentos que nos proporcionan as imagens réenieas ito relevisor ou ni sala de cineme. Toda a evise é perturbadora, porque | no podemos desprezar o que os fisicos ¢ 0s quimices nos dizetn, Néo ppodemos “par enue parenteses” 0 nivel ontol6gico da leinara préxima, como 0 podemos fazer no case da chave, Porque é aes fisieose qu: 60s que deveros a5 imagens técnicas que estamos recebendo, Dou wit exemmplo do problema, A mesa sobse a qual escrevo este texte rifo passa, sob leiura proximay de enxame'de particulas que gi- ram no vazio, Sei disto porque o aprendi na escola, De maneira que, se minha méquina de escrever de repente atravessasse a minha meva, jsto nfo Seria “milagre”, mas apenas acontecimento muito pouco pro~ -vivel. Mas este meu saber em nada me perturba. Tenho confianga ab- sola na solidez dt minha mesa, porque minh mesa fi fabricada por carpinteico para ser s6lida, € 0s fisicos com suas particalas que gira no vasio vieram depois, a fim de observar a mesa mais de perto. No entaito, infelizmente nio posso ter amesma confianga quando se teata da 6pera Cost fan saete que via TV ontem, porque foram os fisieos com suas particulas que giram no vazio que afabricara, e porque a fabri- ‘earam précisamente com tais particulas que giram no vazio. De modo que estou obrigado a considerar 0 discurso dos fisicos zo considerat 4 vivéncta com Cosi fon ratte. Tal impossibilidade de eliminar a vacuida- de do discurso “cientifico-téenico” da vivéncia conereta mozactiane 2aracteriza as tecno-imagens. Sao imagens imaginadas. NZo tio como smagens tradicionais, ou como chaves, oucomo mesas. Io permite precisat um pouco o significado do termo “imaginar® ‘on.telagao ap quel pretend sigatticado diferente do. geralmentd em 180. No significade coment, “imagino”™ que a.mesa é séiide-quendo ‘realm do “teatnsente” vi wages de elétrons. Pols sugira que tal significado me” & varia, @ “imaginal” que onterm vi Cobl fer tuce quan- ‘ortente hilo considera que se trata ve duas imaginagSes interamente Aferentes © incompardvmis. No case da mesa estou come que tendo ' covtas 2 todis-as explicagdvs abstratas, para me-ater ao contieto. Mo esto de Cav fan tute estou como que farendo esfoteo paracons eller 6 abstrato, A experidnicis mozattisns & eonsrets, ndo por ven usar a abstragio, mas por “imaitiae” que a abstragan & concrenn. A ‘Speriénis mozartiana & abstrago coneretizada, Sugivo pois que 0 ‘ermo “imaginas” significa a capacidade de conctetizar 0 abstraio, ¢ ‘He tal capacidadle ¢ novaquey que foi apenas com a invendio de spa ‘lhos proiutores de tceno-imagens que edquirimos tat capacidides SHe.as geragdes anteriores nfo podiam seq imaginar oquee ieume “‘maginar” significa; que estamos vivendo em mundo imaginéeio, no mundo das foregrafas, dos filmes, do video, de hologramas, muado ia | Vilim Poser sadicalmente inimeginivel paraas geragdes precedentes; que esta nos- sa imaginago ao quadrado (“imaginagdo"), essa nossa capacidade de clharo universe pontual de distincia superficial aim de torné-lo con- creto, é emergéncia de nivel de conseiéneia novo. Elogio da superfcialidade, ‘Tal conseitneis nova, tal imaginagio nova, implica curiosa des- confiznca do nivel ontolégico “profando"e curiosn despreza por ele As explicagdies cientificas e as técnicas delas decorremtes so por certo indispenséveis paca que possamos imaginar imagens. Aparelhos 0 indispenséveis pars imaginarmos. Mas, nf obstante, no so “inte- ressantes”. A visto prétima, “profunda”, revela banalidade. Ea visio superficial que é a aventurosa, Fisico que tivesse “ido” a épera Che fi mete ontern vetia vevelalo tragos do jogo estipide do acato « da necessidace, da estrarura profiinda daquele uaiverso banal a partir do qual ¢ aparelho compuion as imagens. Mas es, que olheitais imagens superfcialmente vivensie beleza, © fisica teria proposto » problema aa verdad e x falsicace das smagens de ontem ¢ teria destarte levan- tado, mais ume ver, a questio banal da relagio enice apar€ucia e rea dade, Masen, em minha nova superficialidade, tome! a minha vivéne do belo como 0 “reat” — logo, ¢ problema do verdadleiro e falso no tinha mais sentido, Pois € isto © novo nessa conseiéncia, nessa ima- ginagdo emergente: que 08 discursos da ciéncia e da téenica, embora assumidamence indlspensiveis, sio doravante tidos como banalidedes, e que aaventusa € buscadla alhures. Devo a experiéncia do belo que tive ontem a pessoas que pata mim = invaginaram. Chamemo-las “os imaginadores”. O que acantecen fol isto: os imaginadores apertaram determinadas teclas em determinados aparelhos, tais aparelhos emiticam determinados elétvons para dentro do campo eletromagnético, eu apertei determinadatecla no meutelevi- sor € oselé:tons entéo apareceram na minka tela. No entanto, essa des- crigio “fenomenolégica” do acontecimento de ontem € inteiremente falha, porque necessariamente despreaa pracessos que se passaram no interior das caicas pretas dosaparelhos, fé que tais processos so feno- manologicamente inacessiveis, Ora, anovs superficiaidade desiste da tprefade elacidar a pretidio das csixds; ela relega, com leve desprezo, a sarefaacs fisicos e éenicos que inventaram efabricaram os aparelhos. “s nova’ superfieialidade se interessa pelo dpi ¢ pelo output das caixas petas, se interesa pla intensio dos imaginadores ao apertarem as te- las e por sninka prépria experidncia ao receber as imagens. Dor certnas imaginadores, ao apertarem as nas reclas, eram mo~ tivados por incenghes compatévels ds que me motivam 20 apertar a8 sminhas teclas para escrever este texto, De maneira que tudo que falei sobre chimpanzés, nord processors « estenotipistes se aplice também 20s imaginadores. No entanto, a situagio dos imaginadores nao @ 2 mi- nha. Eu possuc a minka méquina e de alguma man 1 transeendo, Quanto a cles, seus gestoe ocartern no interior de aparelhns camplexos queostramcendem, De maneita que as minhas inteagdes ultrapassam améquina, enrquanto as inten25es dos imaginadores visam o-wparelho, Eu, ac eserever, concebe “por cima” da miquina, e eles, a0 imagina~ rem, imaginam "de denteo” do aparelto, cxerizam tal difereny Duas coisas jagloudores dispoem os de teclas que provoearto prosestos inconcebiveis para o7 imaginado- io produzidas automaticamente. tes, €a8 imagens que imaginaram s ‘Ao contrério do eseriba, os imaginadores no tém visto profindada- quilo que fazem, e nem precisam ce tal visio profunds, Foramemanci- pados de toda profundidede pelos aparelhos, e portanto libertados para a superficialidade, © escriba esta obrigado a interessar-se por letras, pelas vegras que ordenam tais letmas, e sue “criatividede” consiste, em ands parse, no enforgo de mansiay tain regrar ortogrdfican, gramari «ais, fonéticas, ritmicas, légicas, a im de producir texto informativo. © imaginadlor pode desprezar os pontos e as regras que ordenam tais Pontos em imagens. © aparelho faz tudo isto automaticamente. Tudo {que o imaginadr precisa fazer é imaginar as imagens e cbrigr 0 apa- eho a produziclas. é condenado & supssficislidade pela opacidade do © imaginador aparelho e, ao mesmo tempo, emancipado da superficialidede pela Ouniveradas imagens nies Vien Fuser z opacidade clo mesmo aparelho. Essa superficilidade se revela de po- der imaginatio ¢ imagintstico jamzis sonhado antes. Ao apertar suas teclas, o.imaginador visa imagens jamais vistas antericrmente, por «exemplo aspectos nunca revelados de Gost fax eure, Q imaginador visa “informan” Cosi fan carte ¢ informar-nos a respeito de Cosi fan tutte, § Para faz8-lo, 0 imaginador deve ter acesso 40 teatro que apresenta a ‘opera, € tal avesso deve the permitir introduzir no teatro toda a sua aparelhagem complexe. Como semelliante encont¢e do aparelho com ‘teatro é proceso complicado ecustose, alguém deve terantecipeda- imente progtamade 0 encontro, ¢ este alguém deve ter tido interesse para programé-lo (ainda falarei, nese ensaio, do interesse qué tora a imaginasio possivel). Facultado o acesso, 0 imiaginador aperia teclas Je" automaticamente as cenas no (que fizem com que o aparelho “e palco em elementos pontuais, para em seguida re-computi-los em su- perficies eparentes. No entanto, no cursa desse céleulo, o imaginador faz com qué aparelho apalpe a cena seguindo caminhos pretendidos pelo imaginador, ora se aproximando, ora seafestando, ora focalizan- 4 do detalhes invisivels para 0 espectacor teatral (gestos e expresses faciais doc stores), ora focalizande acena toda de Angulosinacessivels pata os espectedores. Destarte acena adquive earéter dinimicoe uu ante, ¢, segundo a imaginaglo do imaginador, se transforma de “fato” fm série de imagens-miniacuras. © imaginador reeria Mozart. Oresultadlo de tal poderimeginistico, aparecendo na minbs tela de +77, na minha sala de estar, é surpreendente, abaludor, improvével (ou qualquer dos sindnimes de * fo qne receho 2a minha zala & épera mosartiana traduaida cin mGsice de cimera, ou seja, pera miniaturizada; o que recebo é aspecto da obra operistica mozartiana que estava implicito na obra por intengio de Mozart, mas que 0 proprio Mozare jamais péde tornar explicito por falta de aparelho adequado. A imaginagio do imaginador abriu para rim, tornotl imaginavel para mim, todo um universo novo: o universo de épera minieturicada, Doravante essa nova Flordeligi, nunca sus- peitada por mim, fard parte da minha experiéneia concreta. nformativo” que escolhamos). Porque | oe Louvor da superficalidade Tal considerasao do inpur © do ourpue das eaixa preta do aparelio permite localiza o nivel omolégico 4o‘qual as consciéncise do imagi- nador e minka se assentam ao receber suasimagens. Lele o lugar onde ouniverso calculado e computado comesa a emergir seb a forma de ai, perficies imaginérias eimaginadas. # eleo lugar onde se vai formando suse copsstral pare cnwubtis 0 untverso vazio das partieulas como capa envolvente. Essa nova conte cia imaginisica vai vivenciar, conce- bere valorar precisamente tal aura especital enquanto mundo concve- to. A conseiéncia imaginistica do imaginadore do receptor das tecno- imagens vé-se no extrema limite da abstrasio, ¢, por isto mesmo, ela pode vivenciévlo concretamente. Gragas a foros, a filmes, a vileo, a jogos de computador, podemos, mais uma ver, ter experiéncias con= stata 6 agie conerstamente. Redefinamos “imaginas" no significado aqui preteniido: imaginae éfazec com que apareltos inunidos de teelas onmputers 0 slemenion ontuais do universo para formarem imagens ¢ destarte, permitirem ‘ue vivamnos eajamos concretamente em mundo tornado impalgavel, ‘nconcebivel © inimagingvel por abstracio desvairada. A defiaigdo ‘isn captara sitwayao naqual estamos; Capraro clima espectral do nos- $0 mundo; mostrar como tendemos atwalmente a desprezar toda “ex Plicagio proflunda” ea prefer “supercialidade empolgante", mostrar © quanto critécios histéricos do tivo “verdadeira e falso”, “dado « fei 10", “eutéatico e artificial”, “eal e aparente”, nao se aplicam mais 20 ‘sso mundo, Em suma:a definigio de "imaginar” foi formulada para ‘eseular a tevolugao epistemologic, éico-poltia ¢esttia pela qual Ssamos pessando, Para articular a nova seasagéo vital emergente A definigio faz 6 elogio da superficialidade, © fato de vivermos em meio imaginério e de tomarmos tal meio Somo mundo concreto & dificil de ser digerido: A medida em que as “miagens tEenicas vio formando 0 nosso ambiente vital sempre de ma- reira mais acentuads, o & Accignela ea técnice, estes triunfos ocidentais, destruiram para n68 (0 vai se tomnando sempre mais indigesto Vite Blaser a solider do mundo, para depois recompata-lo sob a forma de aura imaginistica e imagindria de superficies aparentes, De maneira que a cignciae a técnica resultaram em séries superpostas de véusde mayae ‘em conscienciasinaginistica que em nada parece se distinguir da cons cigncia de que nos falam os textos hindus e budlistas. © indigerivel e indigesto em tudo isto € que a correnteza majestosi de toda a histéria ocidental parece querer se voltar atualmente para o oceano intemmporal ¢ imével do Oriente Extreme. Ha numerosos indicios de que semelhante visio suicide da sinus 0 € correra, No entanto, a imaginagio de que ataalmente dispomos ‘emergiu como catdgio final de evolugis a partir do conceito rumo 20 cfleulo e & computasio, e emergiu como superagao de toda essa evo lugio. Nao se trata pois, para nés, como se trata para os oriemtais, de rasgar 0s véus das superficles para mergulhar no nada que encobrem, ‘Trata-se, para n6s, de imaginar sempre mais densamente, a fim de «- carpatnos zo abismo do nada. Os nossos véus no encobrem © nada, sas a0 9 nosoa rezpocta ao nada, Pos mais que ce ascemelhem 0s nos s0s véus 20s orientais, convidam a engajamento oposto, Nao rasié-los, mas teoé-los, Nao les dae as costas pare encarar a nada, mas dat as costas ao nada para orientar-se no universo dos:véus a fim de poder tornd-lo mais densa. A tarefa de orientagio no uriverso das imagens técnicas se decliea o capitulo seguinte (como, aliés,o easaic todo) 5, Apontar ‘As pontas dos dedos nfo apenas tateiam, mas podem também apontar algo. Podem mostrar em diregdo a algo, designar algo, sem necessa- |. designam, sig nificam, Néo pretend, porém, entrar na problemética implicita nos ermos “designagao” e “significado”. Assumizei que os discursos da ramente ter que tovar raquilo que destarte ago semamtica, da semiética ¢ da semiologia sf de conhecimento pal. co, ¢ procurarei me aproveitar, a minha maneira, dos conhecimentos claborados por esses discursos. Mas, de passagem, quero sugerit que o interesse atual por tais disciplinas € prova do quanto estamos co- rmegardo a dar-nos conta da importéncia das pontas dos dedos para a nosso estar-no-mundo emergente. O que pretendo aqui € formular « seguinte pergunta: o que os imayjnialaces das insagens enieas (@eus ‘éparelhos) fazem, para que suas imagens signifiquem, eo que signifi- cam tals imagens? Como os tragos de frons, de eltrons e de demais particulas adquirem significado, e qual €este significado? Como pro- céssos quimicos em superficie fotogréfica passam a significar “casa”, como tragos de elétrons em tela de computador passenn a significar “avid a ser construido” (se € que tas imagens de fao significa o que ‘spacentemente significam) ? A primeira vista, @ pergunta foi mal formalada, porque parece que frografias ¢ imagens de computador sio imagens tao diferentes umas as outras que exigem perguntas diferentes. No caso da fotografia, do flme,do video, da tv e de “seprodu <” compardveis, a pergunta de- vetia demandar como os imaginadores e aparelhos reproduzem 0 que ‘mostram, No caso de imagens de computedor ¢ em outeus situagées de “produgao" de imagem, « pergunta deveria demandar como os ima- ginadores ¢ aparelhos produzem o que mostram. A primelta vite, casa é “real” e 0 aviao, forografiada casa significa algo “cf dentzo” aT apenas “possivel”; 2 casa foi “descoberta” ¢ 0 avio, “inventado’s a casa éde alguma formaa “causa” da fotografia eo avito aser produzi- o,0 “efeito” darimagem. No entanto, ao tentarms destarte distinguic sentre-“reprodugiies” e “produgdes";entee imagem “‘documienténis? “imagem-modelo”, nos deparamos com algumas dificuliades. Sem diivida: © lugar ontolégico da casa ¢ diferente de lugar do avifoa serproduzida, embara tal diferenga, ela rambéra, possa ser dice cutida. Serd que tem sentido dizer que acass @ “seal” e 0 avido nio.0 6, }8 que podemos ver ambos da mesma forma na tela? Seré que tem sentido dizer que 2 casa é a “causa” da fotografia? Sera que podemos distinguir nitidamente entre inveng&o ¢ descoberca? Mas tis pergun- tas “profuundas” (quer zenham resposta, quer nao} no tocam direra- mente a pergunta “superficial” aqui levantada: como distinguiv entze imagens que reproduzem e imagens que produzem? Na fabricagio da fotografia da casa esta implicada a imaginagao do imaginador, tanto quanto 6 est na fabricagio da imagem computada. 0 fordgrafo x20 “descobriu” a casa, ele a “inventou” A casa nfo 6a causa da forografia como o é a pata do cachorro para o trago na neve: o forégrafo « comou como pretexto, ¢ a casa mostrada na forografia €0 efeito dese geso. Qiranto ac avido a ser produido, ele nfo passa dereprodusio de algu- sma visio contemplada pelosimaginadores — exatamente como na situ= ago dacasa. O que nos sugere que querer distinguir entre eeprodugio € produgdo no caso das imagens técnicas nao € tarefa fil. Mes podlemos tentar distinguir entre os varios tipos de imagem té nica de um pomto de vista diferente deste. Quando contemplo forogra- ioproinasii zo vé-las apenas gragas a aparelhos. Logo, "seprodugSes’ e “produ gfes” implicam imagens radicalmente diferentes, Entretanto, um ins- canie de reflexdo problematiza também este rétodo de distinguir entre tipéstde imager. Hé fxoprafi, imagens Alcs, tlevsionadas oude video que me prozorcionam a sensagao do jamais visto, da suxpresa, do arrebatamento, em Suma: imagens “informativas”, A maicria das ima~ gene computadas tho moctalmente tediosa quanto a maicria dae imax gens “reprodutivas”, porque sio imagens “redundant que posso distingvir, isto sim, entre imagens informativas.e imagens "De maneira redundantes, mas tal distingao corta diametralmente es varias técnicas das quais as imagens se originam, No entanto, hi a prépria técnica da imaginagao pode ser sarpreendente, arrebatadora, se a técnica de com- ‘icas de foto ou puter imagens é mais “nove", menos habitual, queas i filme. Por isto, somoslevados a erer que imagens compatadas sio mais “interessantes”, como as fotos ¢ 05 filmes eram nos seus primérdios ~ quando na realidade devemos as imagens que estamos contemplando sempre a determinadas técnicas, novas ou velhas, e jamais poderiamos vera “mesma” imagem sem auxilio de aparelho, De maneira que nfo tem sentido querer distinguir entre imagens do tipo “foro” e imagens do tipo “tela de computador”; logo, a pergunta que formulei no primei- 10 parégrafo deste capitulo foi bem forrmulads. ‘A pergunta consiste de duas partes distintas, Ela demanda primeiro “como” as imagens significam e, depois, “o que” significam. Deman- da primeiro como as pontas dos dedos se posicionam para apontar ¢, depois, 0 que é aquilo que apontam. Se abordarmos as imagens téeni- 50 Chortem histbrico,informarlo por textos'e com consciBncia esérie turada “linearmente” por textos, vive em universo queexige ser “ido”: “narara lbellum". O universo se-apresentay 20, homer fistérico, en~ ‘quanto -séries de sinais codificados que precisam sérdecittades (expli- 4 cados, interpretadas). O resultado de vais explicagbes einterpretaghes, detais “discursos.cientificos", €0 dominio do homem histérico sobre o smundo-reeto, Paras hornets histérica, o munde einite wile uni quadi- tidade enorme de sinais (de vetores de significade) que o homem apa aha para otdenar segundo os fos que codificam os sinais (por exemplo, segurdo 2s tais leis da natureza}, Para poder apanhar ¢ ordenar os si- nais provindos do mundo, « homem precisa assumir determinada pos- tura iante de mundo: adacquatio invellecs ad rem, © homem precisa inclinar-se sobre o mundo-tento a fim de poder decifra-to, Tal postura deinclinagdo, tal postura reverencial perante o mundo , s¢ vista feno- menologicamente, a maneira como o horem histérico est4 no mundo. Depois da decomposigdo do universo em elementos poatuais (e de pois da decomposigio da consciéncia em bits de fnformacio), essa pos- tara histérica se torou “inoperante”: como os ios ordenadores dos sinais em edcligos as desintegraram, 0 universo perden o seu carter de fexto, rornou-se ilegivel. Nada hé a explicar e @interpretar em mundo quee thrido emite nada significamnlo, nfo sto “wetaree de significado”. O aque consiste de-particulas soltas. Em outcos termos: os “sistas” mundo se afiguea como conjunito absurdo, ¢ a existéncia absurdamente jog emtal mund> absurdo procure em vaoater-se aalgo, Demanei- sa queinclinar-se sobre perante o mundo € postura “inadequed", "Tal decepgao com a atitude interpretadora (com explieagdes “pro- fundas" depois da constaragio de que nada he “por detrés" dos sinzis) faz com que 0 homem pés-histérico ae levante. Ble se pOe-se de pé © estende 0 brago rumo ao mundo, a fim de aponté-lo ecm as pontas dos dedos. Um dos resultades desse erigir-se face a0 mundo sdo as ima- gens técnicas, essesdedos indicadotes. Sugizo que tal exguer-se do ho- mem atual contra omundo, que tal exes, € tio redical e revolucioné- ris quanto o era a exegGo dos nossos antepassados animalescos, a qual reson fos Ema poor ny ln. Svea designed sportam doravante a partir do-homem rut we mundo. Todos os si- ns, Signos,flechas de trinsito, apontars;doravante, “de dentro para ora”, a fim de dav significado, de significas, de codificar o ambience absurdio, em suma,a fim de “dar signicad abssrdaem: ‘mundo absurdo, Em conseqiiéacia,a resposta& pergunta “como'sighi- sicam as imagens éenlcas!” escabelece:as imagens tésnicas sigatficam a existéncl apontando na diseeao do ada insignificante é fora. Todas seas foros, esses filmes, 7v, video e imagens compatadas sio significatives preci samente porque o mundo apontade por las é insignificante Deduz-se que, se quisermos decifrar as imagens tenicas, comete- mos um erro ao snalisarmos apenas 0 que as imagens mostram. Nio € analisando a casa fotografada ou 0 avito mastrado em tela de compu- rador que descobriremos o significado das imagens. Casa e avito 80 passam de signifcade “aparente” © “pretencido” de sais imagens. Nas imagens réenieas.o que conta afa fn &gnificads, mae a Gggnifenara ‘seu “sentido” &a direciio pata @ qual apontam. Par certo, podemnos continuar “explicando” as imagens — por exernplo, dlzendo que a casa €acausa” da formgrafia eo avido, 0 “eleito” da imagem. Mas taisex- plicagbes “ptofiindas” (cua vacuidade diseutimos em pardgraf ante~ riot) sto pouco interessanies. © importante ¢ que as imagens técnicas silo projegdes que projetam significados de dentro para fora, © que € recisamente isto.o.seu “sentido” (inn, meaning) Quem 180 pardigrafo prevellente de maneira apressada poder con- luir que estou advagando curiaso idealismo, 0 “idealismo dos apare~ thos", que estou dizendo que os aparelhios produtores de imagens esto produzindo avides e casas, que a “idéia” por deteds dos aparelhes & “real”, que case ¢ avido so “aparentes”. Pois terd lido errado: estou Gizendo o exars contdeio disto. Estou dizendo que explieagbes “pro fuundas” do tipo “ideslismo” « “realismo” nao interessam mais: Que, ara a nova superficialidade (para foros, filmes, imagens compatades), © eterno problema (“eterno” porque mal formulade) do *idealismo” ¢ do “tealismo” no tem sentido. Estou dizerdo, simples e superficial- Ounivese das tmegens tnisas | j Film Bhs ‘mente, que fotografes s20 projegées de cosas ¢ que imagens compu. tadas sta projegdes de avides sobre superficies, e que tals superticies ‘nade encobrem (elas encobrem o nada). “Nada” hd de “veal” ou “ide- al” nist, ©.que hi é projeto conferindo significado, O que tal discus: sfo ‘profanda” ilustra, no ontanto, éa rremenda dificuldade de quenos | ressentimos > emergit da profundidade para a superficialidade. Mas I outra cbjecio, mais perturbadora ainda, contsaa minha ten- tativa de analisar “como” as imagens técnicas significam. A saber: as imagens tradicionais nio fariam da mesma maneira? Nao sio, elas tam- bém, vetores de significado que apontam para fora, mmo ao mundo? Ent ny haveria nada de radicalmente novo mas tecno-imagens? A objeso nto provede, As imagens tradielonaiasdo eepcthos que refciem | 08 vetores de significado que apanharam do mundo, como o fiz a fe» cha de transite que diz “Roma. Alguém esteve em Roma, avangou até esta encruzilhada, inverteu o seu olhar ecodificou esta fecha, E quem seguir na diresio apontada pele fecha chegard, com algguma sorte, a Rume. De fons que o sentido da fecha e des imagens tredicionais) & Roma, Mas as imagens técnicas nada zefletem, Naosdoespelhos, Quem as produziu jamais esteve em Roma, pels simples raxio de que lé fora ‘io hd nada. Quem seguir a fecha “Roma” jemais chegaré a Roma ou ‘parte alguma, Ainda que as imagens tradicionais eas teenicas tenham omesmo sgnificado (“Roma”), elas tém sentido diferente. O “sentido” ds innagens tradicionats & chegas (orientar-se no mundo) eo “sentido” das imagens técnieas é 0 de seguir a feche (dat sentido), Por certo: os “explicadozes profundes” podem tcimar ¢ dizer que as imagens téenieas, sto, elas também, espelhos, e que s8o espelhos “melhores”. Os aparelhos que as produzem apankam sinais provindos de roundo (fotens, eétsens) ¢ 08 refletem em farmade vetores desigri- ficado. Mas tais sinais apanhados pelos aparelios no dignificara nada que posse ser refletida, NO so * inais", mas apeni natéri-primaa partir da qual as imagens serio produsidas, Nao se rata de wefexdo, de especulagao sobre vetores de significado: tata-se de prodgéo de yero- tes. Nio se trata de apanhar o significado do mundo para tomnielo vie steal porreflesdo:trat-se de confern signified a0 inighificante. Or spatelhos no S20 refletores, mas preetores, N2o ‘explicam” o mundo, co 0 fae 35 nagenstradisionas, mas informa” © mundo, [Nese ponto doargumento ji nor encontamosna segunda parte da pergunte formolada no primeiro paragrefo: “o que €” que as imagens (ecolea BEWRGANP Para poche perpemles, devenes maior ase es ana snve: Non nen a flaca "Rca Bo dtl pet daponrarumo ao que ea aponta, mas devemos sim recuse 33 longo da fecha rumo 20 departamento de trdnsito quea construi. ique a fle- chaparte de dentro, é no departamento de tinsizo, nos aparelhos exes imaginadoret que devemos procurar pelo significado, Nao analisan- do acasa mostrads na fotografia, mes analisando a cAmera fotogréfica eaintengdo do fotogrefo que a decifrarmos. E ainot deparames com nova dificuldade. E obvio queo departamento de transito, acimera eo forSgrafo tém porintenso que a sua imager signifique “Roma” ou “case”, que exe €o seu significado intentado. Mas semelhante significado nio coincide com 0 “sentido” (devemos, na decodificagao aqui implicada, distin- guiz entre “significado intentado” ¢ “sentido”, entee significance and meaning). O departamento de transito “quer” que sigamos determina~ dacestrada: ese € 0 sentido da lecha, O fordgrafo ea cdmers “querem” provocar em nds determinadas vivencias, determinados conhecimen- tos, determinados valores ¢ determinado comportamento. A imagem computala do avito a ser febricado “quer” provocar em determinados engenheicos determinedos gestos que resultem em avito efttivamene fabricado: este € 0 sentido das teeno-imagens. O pretenso significado das imagens técnicas no passa de imperstivo a ser obedeciéo. Talim perativo, tal ponta de tedo que apoata 6 carsinbo a ser seguido, é *o Geas imagens téeniess significa”, Em termos mais adequados: as imagens técnicas significam pro- Bramas, S40 projegSes que partem de programas e visam programmer 09 seus recepiores. As cenas mostradas pelas imagens téenicas sho mé todos dle como. programar a seciedade. Nao adianta, para 0 decifta- Osniverodae image tna is Fide soe x mento das imagens téonicas, analisar tas cenas em fungio do mundo 1d fora, Nao adianta perguntar se a casa forografada esté “ realmente” ford. ow se é falsa. Néo adianta'peéguntar se a barslha moseada na TV $# passou “realmente” on se foi encenaca. Nao adianta perguntar Se 0 avido a ser construidoé ou nio realizével, This perguntas nio sto “boas” porque a imagem ao permite que sejasn respondidas, As ce- 38 mostradas devem ser analisadas em funsio do programa a partir do qual foram projerades, Ora, isto exige critérios noves, nido mais do tipo “verdadero ou falso” ou do tipo “belo ou fio", mas do tipo “informative ou redundants". A razio é que o significado das imagens téenieas € de espécie jamais vista antes da invenco dos aparelhos. As imagens téonicas significam programas inscritos nos aparelhos Produtores e mangjados por imaginadores, eles também “programa: des" pare manejé-los. Por detrés de todos estes progeamas co-im- Plicados # conflitivos reside a intenylo de confecir significado a um universo absurdo, de dar sentido a uma vida em universo. abaucdo, As imagens técnicas sZo fechas de trdnsito que apoatamn caminhae rumo ao nada, fim dedarrumo a vidas no proprio tada. E estamos seguindo cegamenve, im sinlagio mais mais dominada por tecan- Imagens. Vivenciamos, conhecemos, valoraies € agimos cegemeote em frmgao dels —a menos que decifremos o gue tais imperatives, tis dedos imperativos estendidos significara: a menos que descubramos os seus programas. 6. Circular ‘As imagens técnicas #80 sio espelhos, mas projetores: projetam sen- tide sobre euperficies, tais projesdes devern constituir-se em proje- tos vitals para os seus espectadores, A. gente deve seguir os projetcs, Destarte surge estrutura social nova, a da “sociedade informatica”, 2 qual ordena ss pessoas em torno de imagens. Essa nova estrutuca exi- ge novo enfoque sactol6gico e novos crtérios. A scciologis “clésic enfoca © homem, com suas necessidades, desejos, sentimentos e co- hecimentos, Gomo 0 pom de partida das andlises da sociedade. A sociologia furara parti da imagem récnica edo projet dela imanen- te. A sociologia clissics trabalha com critérios que lhe permitem clas- sificar a sociedade em grupos do tipo “familia”, “povo” ou “classe”. Acsceiologia utara eleborerd erisérios que Ihe permitem classifica a sociedade:segandle tipos de imagens, por exemplo, em “telespectado- +89", “jogaclores com compuradores” ou “piiblico de cinema”, Para a Sociologia cléssica os objetos culusai (mssas, casas, carros) sie explic ‘iiveis em funedo dos homens que os produzem que os-consomem. A Sociologia futuca explicars os homens em fungdo dos objetos eulturais (Glmes, programas de rv e de comparadares) que os programam. A ‘unum critica da cultura tera de inverter-o enfoque e os eritétios da critica precedente, “cldssica”, “humanista’, desloeando 0 homem do Centro do seu campo de visdo e empurrando-o para o horizonce—e 0 ‘ard precisamente s¢ estiver engujada na preservagio ¢ na propagagze (a liberdade eda dignidade hurmanas, Se enfocarmos 4 sociedade emergente desta forma, consiataremos iimediatamente queas imagens téenicas nio juntam pessoas em seu tor 0, mias sim que espalliam a sociedade. Dicigemse elas a0 individuo tolitrio «0 akangam nos seus cantos mais intimos ¢ escondlides. A ‘nica excegio dessa nova regra sociolégicaé filme, porque ele reine ili Phaser gua frente arupov agiomeratios em caverns obscures chiamatas “el. nemas”, Seno fiturs 0 videovierasubstitsir oflme, adindinicasocial = clicsita’'Se iiverteté totalmente gente nfo nial ssieé do. privada 6 46 pablo wird de infarman-be; mas ser empncsadadelandiana- gens tlenicas axé 0 aiais’privado dos privadasa fi de-sed tnftxmiats, Em talaperioe ein talléngiiitiace sociedad espalluda ser dosavante pinygrastiale wsivectinn aceahess, « valitinue, edapirapertando te. uss, © telnsite sot, acireolagio, serf o oposta do prevalecente tes sociedadas anteriores, A suciedade espalhede:ndo-formacéamontoada | cxdtico de pardeutes iilividnals, ras sevé tina sociedade antint pore tod individuo estars higatlo'e todas-cs demratsindividios do ‘mundo fitcito siranés da insagem xéeniea que. eetiiproptanisedo, A que tal enagidis a8 line @ sados os indlitluos indiseintamenite © ca smesina forma.A sdidle dosindivieheo 180 popes de nna tes Fares ca viedlalna *sowiseide infoomética’ a outra fice & a su manifeseagso cosmopolita. OueMotuban chascou, dermarsinotimiste, de “aldea césmica”, sera uma massa de individuos solitarsos unidos entre st pelt identidace cdsmicados progratnas {No entanto, tal visio da cociadade informvitioa nfo agarra, a meu ‘ver, 0 nticleo desse sociedade emergente. Por iss0, ptoponho que a ante seja tema do capitulo seguinte, e que seja conside- soliddo massif rado primeiro 0 movimento circular entre a imagem e o homem, sem ‘oqual a dispersdo da sociedade nao & compreensivel, Tal movimento circular, tl feed-back, gragas ao qual is imagens alimentarn os homens para sorem por elesealimentadas ¢ pars engordarem sempre mais du- zante 0 procesto, forma centeo mesmo da furura sociedade, um cea- il andlive. A dificuldade reside no fato de que o tanska 0 de di *{magem-homem’ inverte © “estar-no-mundo” como 0 conhecemos ‘Vejamos exemplo, aparentemente inéeuo, de tal difieuldade, Cientisa brasileiro, amige meu, vé em noite avangads, em Si0 Paulo, programa de rv de um jogo de futebel em Téquio, dispurado entre clube de Hamburgo contra um clube de Porto Alegre, © me «s- reve carta a respeto. Ele escreve porque esté perturbado pele entu- siemo que dele se apossoit qaardo, fa de Porto Alegze:fee-ogél decisive, Ets: vagssombsas-projetadas pelos jogadojes a) rorrogactio dorjnge, o dube agle caleular contotimento ‘de-vonstaar come arty equal meinmigo “sormalmsite™ alo.ache entutiasnan, Mei aerigo \geftca “horrnalnionte” apgude} ck poder diagnasticar que seu entu- sitsmo foiprovocadoppelo eniusizsmodasjogaderes, que ado. Mas:xe dlvi-lo sabe perlbeamente que cureas Eases além dow jogadoresostto implicados. Bisporque, indo o pregatan, anew ansiga saiig-case paraice er 26 Rates votamasdo sou jardim, alga, come Aeidiz, "paindvel”, eis porguie'ine escreve ‘Oexeraplo rem mumerdsestaspeeres, oaseyeolherel apenazs ta ‘so iniediaramente petrinentysbliciaaaqui peneguido: (2) Oxjopedo- resantugionnados eentuslasmanieseram beasilezos, o que mabifzou fem meu amigo ideologia arcaica “normalmente” recalcada (patrio- tera tismo}, € tal mobilizasao estava precisamente “no programa”. () A tentativa de explicar cientficamente a imagem deu certo (met amigo conseguiu ler a imagem “astronomicamente”), mas tal explicago ndo infin sobre o efeito da imagem, era “eritica inoperante”. (3) & viven= sia tinha algo de espectrat (embaralhou espago e tempo) e sbsorveu meu amigo em universo "normalmente” desprezivel, de mode queeste ee refugiou ein universe mais *palpiivel”. (4) Na soli 0 da sua casa oturna men amigo se sentiu isolado, de maneira que teve o impulso ct telefonar-me imediatamente de Sdo Paulo para Franca a fim de re~ fagiar-se em formasocial nfo tocada por imagens. (2) Men amigo pretendew que seu entusiasmo se deve a0 entu- slasmo dos jogadores e que estes Se entusiasmaram por lutarem pela Vit6tis, pela vieiria do seu clube ¢ do seu pais, ¢ (essuinidaments) pelo Frémio que ganhariam. Mas essa crea do enrasiasmo do mew amni~ 86, uma “critica histériea”, ndo pode ser corteta, ou pelo menos nile deve ser adequada, Os jogadores sibiam que o jogo seria irradiado 1d age ener Vili Bieser para Porto Alegre e que suas mulheres e seus amigos irlam assisti-o, Em parte, fl sto que os enthisidsmou. Sabiam também que seria feita uma fita de-video a se: mosteada ent cinemas brasileiros, alemfiese no resto do muirdo. Em parte, isto também os entusiasmou: eles sabiam que essa fta pode ser repetida varias vexes (@m tese, eternamente), Em parte, isto igualmente os entusiasmou, mas talvez nfo tant quanto seu ainigo penes. Talver a8 eparacores de wv tivaxsem escolhide os momentos que correspondessem ao programa “entusiasmo” € oculta- do os momentos inconvenientes; talvez 0 entusiasmo toda tenha sido *criado” por operadores; talvez os jogadores nem tenhem estado em Téquioe 0.que o meu amigo viu era tio-somente uma fita moniada; talyer 08 jogadores brasileiros tenham feito o gol decisive no progra- ina brasileixo, enquanw os jogedores alemaes fasiam um outs gol de- cisive no programa hamburguense; talves 0 gol fosse brasileico nos dois programas, porque a “vitéria” estaria no programa brasileiro, e ‘quanto “derrota” funciona melhor em programs alem#o, cam ideolo- gia recalcada diferente. Bem, todas estas perguntas so fiteis, porque a imagem nao permite que elas sejam respondidas, A Yinica certeza que podemos ter ¢ que meu amigo se entuslasmou conform o programs queria que ele se entuslasmasse. Admitamos que os jogadores estivessem efesivamente em Téquio fe que efetivamente se entusiasmaram (embora haja sizes que nos im- pedem de ter tanta confianga naquilo que as imagens mostram). Em tal caso, devemos admitir também que os jogadores se entusiasmaram em fungi da imagem tanto quanto 0 meu amigo. Se tivessem jogada som cAmeras presents, sen enitisiaemo tetia side outro. Ratasiasma~ xam-se parqueevam yistosse enrusiasmand, Por eerto, sresizamente; Viswvain vitéxia, ea visavam por idedlogias tio arcaieas quanto o-€ 2 jleologia iichitizada em mip amigo. Mas 6 que cevus aqui € gue se en- ‘tusiaeraaram por serenn vistos em forma le imagens. O set jggo,ape- renteinenie o futebol, eva na realidade o jago da 1¥ na quala proprianients jogedores, mas sien pegas. E.os operadores tary erain (ote sua vez cutras pees np iveta-jogo dos programas de rv do mundo: cam, ssemelhante meta-jogo, por sua vez, também €uma peca no meta-jogo dos interesses comerciais, politicos e culturais japoneses —e assim por diante, de meta-jogp em meta-jogo, em regressdo infinite. Logo,o que eniusiasmou o meuamigo em sua noite pailista nao éra “acontecimen- to hist5rico” que visasse modificer o mundo (ganher campeonate) mas sim “cspeticulo” visando progeamar espectadores. Pois a invertdo de biotéria em expeticulo ede evento em programa é precisamente 0 sen~ ilo di cosa toda, constati-lo tia sido a “eriticacorreta” ‘A inversdo de histéria em espeticule nao é tao evidente neste ‘exemplo quanto em outros, or exemplo, nos casos em quie casennen- 10S, Saques, revoluget out suicidios slo feitos em fungiw da present de cameras, Isto & “pés-histOria” no significado exato do tera, Os 2108 lifo mais we dirigem contra.o amanda a fim de modified-lo, mse dm contea a imagem, a fim de modifi imagem. Iso €0 fim da hiscoria, porque a rigor nada mais acontece, porque tudo & doravante espeticulo etersamente repetivel. A.reta da 8 programar o reeeptat da hist6ria se transforma no circule do eterno retorno. AS imagens pas- sam aser es barragens que acumalam eventos a fim de record-los em obsticulos repetitivos, isto , em programas, Nao estamos mais mer lhacios na correnceaa histérica, mas sim nos quedamos Sentados, so lirics, face as imagens que nos mostram programas; tais programas extranhamente nos entusiasmam, em ver de nos causar tédio insupor tivel. Tentarei analisar a razao disto um pouco mais tarde. Os aspectos (2), (3) # (4) do exemplo escolhido itustram a nossa di- Fouldade em emergirmos da histbria para o espetéculo, da linearidade ata ssuperficilidide eopecteal ecirealar. A critica cientifica dasima- fens, fete por:men amigo, eta rao certa quanto inadequadia, porque de compaccts aimigentcom uma cena “ld fOniyem verde compari-ta com oprogianerueapeajermva Na situate stualadexplicagdes ck tices contin: contetss x indispensavels,-mas alo sie adequadias as as que as imagens nis proporcionans, ‘Panyporien seria aikegns- propo: nip oe sivnc tia a Go mt amigo wai so na ‘an didlog. Vile Plaser e do que flores palpdveis ou do que amizades. A imagem ji porta men. sagens relat s-# lores ¢ amigos, e mensagens imperativas (poique apelam a ideclogias infra-conscientes), A flor © amizade nfo podem goncprrer.com essa concreticidade infra-censcitnte (e eretina). Nao podemos nos ater A flor © # amizade para escaparmos & imagem. Nao podemos escepar solido massificante, recorzendo “apenas” a oes ou a amigos. Destarte 0 exemplo excolhido, com toda a sua apacente inocéneia, ilustra como lutarnos atuslmente contva.a nova forma dé se tar no mundo, come no nosso fntimo se treva'umna guerra civil entre forma velha ea forma nova, ¢ como a forma velha esté condenada a ser vencida pela nova, A nose igo fase imagens & esta as imagens projetam sens tidos sobre nés porque elas sto modelos para o newso comportemento. Devernos entusiasmar-nos, para em seguida codificar nosso entusias- io em determinadas gestos. Os modelos funcionam porque mobili- zam em nés tendéncias recalcadas, e porque paralisarn as nossas facul= ‘dadesoriticas ¢ adermevein a nossa consciéncia, Passamos a vivexciar, ‘Vilorsé, conbecer< agir como sondsnbulos:ox como fentoches. Quant- do conseguitnos mobili an’nossae faculdades ctitieds a fim de nos exianciparmos ta hipnose, as nossas eriicas tis stingent a wiveasta concreia. © nosso comportamento sonmbille @-ainadequagao da eri Hea tradicional aursentam em 168.8 sensagto do espectsal que acom~ pottha-ovuniverso das imagens. Nostos gestos passam dotavante 18 spetias a se constitu como neagies as imagens, mas pessamnadicigir- stigudmente ramos imagens. As imagens passam aver osnososin= ‘terlocutores, os paiseiros na solidae a qual nos condesacam. Quando Osnossos gestos visatn aparenitemente 0 manda (ganbar campeonato, fazer revolucio, comprar miquina de lavar toupa), dirigem-se efeti- vamenie ds imagens, sio respostas &s imagens. Nossas rec gestae apa Fentes so efetivamente espeaculares, Asimagensapanham os noss0s Betos grapas.a determinadosaparelhos (cdimeras, marketing, pesquisas de “opinido pilblica”) © os transcodificam em programas: nuttem-se de gestos que elas préprias provocaram, Enea circalagéo entre a imax inant se see o homem forma um circulo de aperfeigoamento automatico, As ee egg vayensse tcrnam sempre mais “fis? (nogiram como nos comporta- i mais “féis® as imagens nos efetivamente) ¢ nSs nos tomamos semi iomporamo-nosefetivamente confosne’é Programa). 4 croulagdo entre a imagem eo homem parece ser am circuit fecha. Quesemos efaremon 0 que av imagans querem ¢fazem, es imagens querem ¢ fazer 0 que nos queremos e fazemos. Efetivamen- te, podemd’s vivenciar desde jé ¢ em toda parte tal civeuito feeliado. Imagens mostram méquinas de lavar soupa, as quais querem qute as. queiramos, e nésas queremos e quetenios tembém que-as imagens as mostrem, Intagens mostram partidos politicos, os quais querem que escolhamos entre eles, ¢ nds queremos escolher e queremios também, ‘que as imagens o: mosizem, Imagens mosteam determinados compor- qmnentos (amorosos, consumidores) os quais quetem que sigamos, & bs quieremos segui-los e queremos também que as imagens ¢s'mos~ trem, No enianto, 0 citeuito fechado nfo pode ser efetivamente fecha~ sistent echado; B, de fato, podemos observar quats as fomtes qué ali smentamacirculagio aparentemente fecheds. ‘A clteuloge ent at ftoagene « més & aimentads pelos disenrsos da cide, da Benoa, da arte e, sobrexado, da potlica, ist 4, pelos slscursos da histria em vias de ser supenida, Esses Gacnrsos ame lava quantidade enorme’de informasdo:no decorrér dos dltimos 8 rail anos e contimianr peoduzisée informagio cam velacidade-acele- saéa, enboreio se infant mais contre fariro, miss ne dinegao das imagens. As imagens sugam semelhantes discursos, © tl suxto.os torna mais ¢ mais precipitados: Os enunciados cientificos se superam tuns 2osoutros rapidament, as técnicas se aperfeigoam anualmente, os estlosatisteos s80 ultrapassados no momento em que aparecem, 08 eventos politicos alteram cordianamente toda cena, Tudo se presiita rumo as imagens para ser fotografado, flmado e videoteipade 0 mais rapidamnente possivela fim de ser recodificado de discurso em proges- ima, Jamais no passado houve tanta “histris” como atualmenté, e¢is@ do. Deve ser “alimentads” de fire paca ne cate ext enndpla, ein. O waivers agin wera sazdo por que os programas nao so tediosos, mas mosttam toda noite coisas novas. Eis porque nos entusiasmam, No entanto, essa “hist6ria” nossa, essa hist6ria inflada, ndo éhistd- sia-verdaileira, Neo € mais resultado de gesto que visusse modificar'o mundo, no émais expresso de liberdade, mas sim resulrado de pesto (que visa imagem. “progresso” atual acelecado-ndo é mais progresso sumo ao futuro mas sim queds, como no céso de tio que se precipita fm cataratas 40 eacontrar ume barrayem, As imagens se nutrem de ‘pseudo-hist6ria espetecular € & por isto que néio.caem em entropia, mms entusiasniam. As fontes da histGria, correspondiemtes & decisto livre de mucdat 6 mundo, esto secando, ¢ as cascatas atuais de eventes sio a passagem a histGria para a pOschistéria. Por mais gigantesco que seja.o rio da historia, ele se esgotard mais cedo ou mais tarde, Catéstrofes termo- sucleares ndo so necessétias para acstbar com a historia, j& que ela acabaré automaticamente, Uma ver absorvida 2 historia toda pelas imagens, uma vez transcodificada a hist6ria em programa, a circula- fo entre imagem ¢ homemygairs efetivamente em enttopia, e 9 manto do tédio mortal se espalhiard sobre a sociedade. Ha, desde jf, sintomas que sugerem que tal esgoramento da histériase dard cedo, endo tarde. Desde jé 2 nossa cobica de sensagdes (quetemos imagens novas toda noite) sugere que o tédio comega a se manifestar, e que © proprio pro- gresso precipitado se vai tornando tedioco. A sirculaglo entre imagem © homem que ameaga cai em entro- pia, tal inversa0 do nosso estar-no-mundo ¢m estar-face-d-imagem, conetimi, conforme entio, cniiclee mesmo da sociedade infoemética etictzfinte, Grelo que cal citculagiioy xa qual cabs A vagen @ papel ative exo'tomem & payiel mative, &predisamente a signifvada que teame “speieddeinforsictica’” proteride. O-atzalisolamentis dO inte ‘viduo. ¢ ucatisal massificagaa, esses sintomes evidennds ile sockeelede ent tite, no-passam,amen ver, do cennegiifatias dessa siecelagto ‘Gara enere treagem e lim, gragas & qual acimagem programe o ‘Thomom para Yule este sepoograime.s imager, Cols que é samette de r pois de termos nos conscientizado dessa situasdo espectral que pode- rns passar a considerar a transformago da sociedade em areia, uma areia composta de graos isclados que formam dunas movedigass que podemos considerar tal dispersao e diversaoida sociedade; que pode- mos considerar o atual divertimento. lata Einhore isa ‘nad Sta sempre eviderne: Sao, tomas elds, Superficies “terminals”, su= pecficies nas quais terminam raios. No caso da tv, o fato é evidence: deverminada “gallo” de determinado “tamo” de determinado centro inradiador termina na tela. Mas focos, Slmes, videos, teks de compu- tador, em suma, todas as imagens técnicas, zevelam a mesma estrutura “terminal”, se analisadas. Por certo, no caso da 1Ve do filme aimagem tomminal é idéntica & imagem irvadiada, ¢ no caso das demais imagens isto no & verde. Fotos so feitss em qualquer lugar intermediirio entre emissor e receptor (se por “smissox” entendemos o programa dor da cdmers, e por “receptor” 0 observador da fotografia), enquanto imagens de computador sfo feitss pelo préprio receptor da imagem. importante raimagem téenica nio €o que ela mostra, mas como foi programada No entanta, isso em nade afeta a estrutura irradiadora: Gar Gs capinalos prevedentes), Os centros Wradiadoves de imagens be sifcronizam entie Si, por enquanto de maneira algo frouxa, mas que se toma poucoa pouco maiseficente, gragas a satéites e gadgets equiva lentes, Donde, temos que toda imagem téonica é terminal de um raio que parte de feixes de raios sincronizados, ‘A eirutura da sociedade emeigemte (da sociedade informatica) € 4 de feines sincroniiados (“Tnscistus™). Os centro insadiadores dos {ies ccupam a centro da soniedecle (contsa percialmente invistusl ¢ inacessivel sos homens) e os homens esto sentedas, cada qual por si, face ans terminais dos felxes, a contemplar imagens, Essa esteutura so~ ial, emergente, irrompe através das formas sociais precedertes; que se desimegram ¢, “atidentalmence", caem em todas-as dizegBes, como submarino que irrompe através da calor polar e faz.com que 0 gel se desintegee om blocos, Nés, os obtervadores, erdemos 4 prastar ater- Be Ville Pei so nos estalos do gelo € nos blacos se desintegrando, em vex de nos ‘concertrarmosno submarino emergente. Bis arazio por que tendemos a falar em “decadéncia” da soviedade, em ver de falarmos em “emer- igéncia da sotiedade, Tendemos w denuneiar'a decadéncia da familia, da classe, do povo (@ decadércia do tecido social) cm vex de tentarmos captar 0 novo que surge. F, quando nbs engajamospoliticamente, ten demos a chitar cavélos mortos “machismo”, "Inta de classe”, “nacio- nnalismo”), em vez de analisarmos crticamente a nova estrutura. A sociedade decadente nos intetessa mais que a nova porque a formas sociais em desintegracao sao “sagradas” (sto &: tradicionais, costuniciras). A familia, com seus legos entie esposcs, © entre pas e filhos, represenca “valores”. Quando se desintegra, tais “valores” so ameagedos, Eis por que nos interessem as testativas atuais para “salvara familia” (familia aleerntiva). Mas tas tertativas, por “revo~ lucionérias" que paregam ser (por exemplo, dois homens, quatro mu- heres, sete criangas), so na realidade reacionirias, j& que se opSema soudnete emergente (av cond censte), © quenos deverta tmeressar satis so os grupos emergentes, por exemplo, nos cinemat. Revol clondria o astentativas de modificartais grupos (por exemplo, per- mitindo 20 pablo que modifiqueo filme) enfio as que visam “salvar” @ famifliou © povo. Mastendemos a mengsprezar as tentativas verde cinema nao & “coisa deitainente revoluciondrias, porque pablico ex ‘No captamos os “valores” que movem, na arualidade, os sagra verdadeicos revahucionétios. A revolugdo eulrural atual, a que vai acabar com as formas sages das, €veyeolagao "técnica", do polities, ¢ Ziswa quemvs confide, Mas ‘o-mesmo pode ser afrmado a respeito de rodas.as revolugées culturais precedentes. A revolugtc neclitica, por exemplo, surge a partir de no- ‘vas téenicas da pecuiria ¢ da agricultura, ¢a revolugGo industriel sux- ge x partir de novas iéenicas apoiadas em teorias, Ambas as revolugdes, acebaram com 0 quo se tina previamente por sagrado, Os sevoli- cionérios “politicos” vieram depcis dos “técnicos" para injetar “valo- es", para “Sacralizar” as formas sociais emergentes. Por exemplo, os fundadores das teligiées neoliticas, os jacobinos e os bolchevistas. Os verdadeiros revoluciondrios eram os “inventores” da vaca eda mé- TR ae A.Seguinte tmagem da exishela humana livre se impde: 0 “e n6-de informagser afuentes, efuentes ¢ armazenedas sobre estrutura etebeal Wetitticamente programads, 8 este inserido em rede cujos ag Hilsportiis informagdes de Tei\para “eu”, A liberdade do “eu” reside nz sua capacidede de simetizar as informagDes pare que estas” resultera em informagtes novas. A hase da liherdade €0 acase que fou Soin que piseinnniante sete Abele: selenide penetrate acon asta inlormagdes, mis sua tendncls é.deliberads: via iniortmagdo nova, visa o impossivel, vist daventira, Tal intagem se impde, no-epenss por considereedes neuro-fbiolégieas, mas, sobrewdo, porque coinci- decom sanilise frnomenclégica da existéncia humans, e com anossa sensagdi atuel do nosso estar-no-mundo, ‘A rede informition da qual tomes oe nde ee aprqsenteicerm wna et ‘pécis de supercérebro somposte de ofreheos, ouxma espécie de soper- mente compesta de mantes. A sociedade informébica, por sua'ver, se presenta como construgio deliberada de tal sipercétebro e tal super- mente. O resultado dessa consirugdo deliberada € um super-eérebro sumamente pobre € uma supermente sumamente tols, Isto acontece porque a sociedade inibemética é supercérebro controlado a partie de ‘um centto, quando 0 cérebra humano 6 na verdadedirigida por engre- nage complexa de fungdes disperses e mutuamente substinaive's. En- quanto asociedade infoeméticaé supermente controlada por emissores centvais, a mente humana é dirigida por engrenagem de pensamencos, desejos ¢ vivencias disperses pela mente toda, A sociedade informatica supercérebro ¢ mpermente infra-humanos. Bm vez de revelacse e possibilinar apeoduye de novas infoemagSeq; de aventueas, de Sempra vivel, ela produz kitsch, comportamenta rob, cultura de massa, tédio, entropia, Trata-se de sociedade que nilo permite « iberdade, No entanta, » sociedade informatica, embora produto de conhe~ cimento primitive ¢ parcialmente errado dos processes mentais, pode ser reformulada & base de conhecimentos wm pouco mais sofisticados. A telemftica permite que os nbs que perfavem 2 sociedade 5 trans- formem efet ivamente em lugares de produgin da imprevisivel, em lux Onniverseiles inagen deicas Pili Borer sires da liherdade. Ela permite que todos ot participantel da socie- dade sejam “artistas livres”, Nesse caso, a Sociedade se transformaria efetivamente em supercérebro e supermente humanos. Ora, como se- melhante sociedade representatia salto da mente pata nivel novo, os processos mentais setiatn outros: seriam processos consciontes de si piOprios, conscientes do método dial6gico da liberdade, conscientes dda eseratégin do jogo da Ttberdde, ultounidy v wowo core “nandete- prima” das decisGes delihercdas em didlogo.com os ouiros. A existén- Ga humans teria mudado: de homo fader passariamnos a home ludlens. Essa visio de sociedade wsépica permitinds existénsia livee flste ‘quanto mudou 0 nosso concelte de “liberdade”, Pata a5 ideologias, re", isto 8, ipersonalidade”, “identida- liberals, como para as judaico-cristas, ¢ homem “nagce dotade de um niclee (Meopirito”, “alma”, % de" ete), mticleo este que délibera. Para essas ideologias a sociedade ideal permite atal nicles quese realize. Enteetanto, taisideclogias no sip mis sustentdvels, Stbemos hoje que nascemos geneticamente de- tenminados, e que nossas deliberagbes so feitas néo apenas com, ms também em acordo com as informagoes recebidas (por exemplo, por parte da mie nes primeiros meses da vida), ¢ que no temos nenhuma escolha entre as informagdes que recebemos quando nascemos. Sabe- ‘mos que nfo “nascemos livres" e que nfo hé nenbum niicleo escondido no interior da nossa mente. Sabemas que somos um nd de informagSes © que, quando 0s fios que formam 0 n6 chamado “eu” so desfeites (“redugdo eidética”), nada resta, Sabemos igualmente que a n6 que so- mos é tinico, diferente de todos os outros, mas que 0 assim por acuse, que tal acaso permite que em cada nése produzam informagdes noves iferentes de todas.as oatras informagéesproduzidas alhures na rede, possibilicade nica ein- subdstituivel que tenho para langar informapes noves contra. estipida e Pais €isto 0 novo significado de “liberdade’ centropia lé ora, possibilidade esta que realizo com 0s outros. Neste ponto da reflexdo somos tomados da sersagao de vertigem ddeque falei ao comegar a reflevir sobre a lberdade: & como se estivés- semos nos precipitando rumoao abistno. A visio da sociedade utépica erty i aque permite liberdade & visko “sobre” asociedade, O seu ponto de vie ta “translende” a sociedade, © “mistéric € isto. Quando conhego as ungbés do eérebro, &¢ meu cérebro que xs conhece. Quando critico a riinha mente, émmha mente que a critics, Quando conhego a socieda- de enquento supereérebro, & meu cérebro, parte do supercérebro, que, a conhce. Quando vio supermente soci telemiles),dau Inende sec parte, # snnhis monte que w view, PURE al yard nun wo abismo do:nada que se esconde em mim que levoui Hussetl a fazer a tal “edugde manscendental”, © que levou Buber a crer ema Deus, Seme- lhante queda nfo pode ser simplesmente “posta entre parénteses” en- quatio “metafisia negativa”, porque € a parti da absteago rumo ao siad que surgi todo esse unjverso abstrato da calealo eda computa lo. Logp, cabe finalmente& telemética permitirque'a al supermente Inurana se seaize. ‘Aa camegarmos destarte'a nos precipitar rame ao abismo do muin= do lé fora, e cumoao abismo do eu cé-dentro, questo, os dois, 0 mes- mo abismo da abstragio derradeira, estamos comecando a conquis- tara liberdade, Ito é, estamos eomegando a negar 0 abismo. Estamos produzir ‘pond 20 nada lé fore © ae nada cf dentro © nosso poder algo. Estamos comecandlo a tecer imagens com os pontos do nada i fora, ¢ a tecer redes informativas com os bits de informagio do nada ccd dentro, Tais tecidas sto a nossa resposta ap abiamo, porque nds os encobrimos com eles. A sociedade tslemitica, essa sociedade de gen- te livre que produs informagdes imagisticas e imaginarias em dislogp dsnico, sexé superficie imaginévia que Autuerd sobee 0 abismo—s perficie cheia de hurasos pelos quais 0 nada penerearé, mas superficie no obstante, Esta nossa liberdade: opormos ao conereto estiipido do nada da morte a rede frégil eimagindvia da liberdade. [A deliberagio de opor-se ao nada pela produsio de infortagdes €. engejamento do “artista”. No instante mesmo em que a decislo éromada, a vertigem da queda rumo ao abismo se substitu por ou- tra yortigemsa da aventura do imprevisto, de improvavel. A sovieds- atornacse & rede na qual a vertigem da queda se de urbpiea telerna ‘aiden Seager teat i 5 i : ile Plower transforma em vertigen: da aventura. Os participantes dessa sociedade apestario as suas teclas como as apertam atualmente 0s estritores, 95 pianiscas, os “imaginadores”. Hoje, por certo,a telemética fiz com que apertemos as teclascomo chimpanzés, funtidndrios ow word provessoct. Mas basta que recuemos o suficiente rumo ao abismo da distancia erftl- ca para podermos de 1d voltas-nos contra esses yadgees todes € subme- té-1o¢ noses liberdade, Basta que tenhamos a vivéncia do “mistério” aque se esconde em tude para podermos fazer uso da nossa liberdade, Esta éa revolugio que muderé oatual supercérebro infra-humano em campo de iberdade, ‘A futura sociedade prodatorz das imagens que encobrem 0 abismo sera sociedade deliberadla, artificial: obra de arte, Nada haverd nela de “organico”, de “natural”, de “espontines”, de tudo 0 que deva a sia rigem ao acaso, porque sevé saciedade engajada contra 0 acaso ¢ ema prol do deliberado improvavel. Em conseqiténcia, essa sociedsde ne- gird a profundidade e elogiard a superficialidade. © seu instrumento rio serd a pa que escava, mas sim o tear que combina fios. Nao sera sociedade interessada em teorias, mas em estratégias. As regras que a otdenario serdo regras de jogo, ¢ no imperatives (leis, deeretos). O jogo dessa sociedade ser4 0 da troca de informagies, eseu propésito, & produsio de informag6es novas (de imagens jamais vistas). Seré “jogo aberto”, isto é, joge que modifica suas proprias regras em todo lance. (Os seus perticipantes, os jogadores com informagies, sera livres pre~ cisamente por se submeterem a regras que visam modificar com cada lance. Eis precisamente ume das definigGes de “arie”: am fazer limtia- do por regras que sio modificadas pelo fazer mesmo, Por certo, tudo que acabo de escrever & produto da vertigem da produgio artistica enquanto oposta & vertigem do abismo, Mas essa ‘visto vertiginosa da sociedade ¢ da existincia furaras, aberta pela ze flextic vertiginosa em torno dos gadgetr da telemiética, ado & necessa- siamente visio desvaireda. Todes as virtualidades para a realizagao de Juma aupeumente piodutors de imagens imprevietvels encontram-ce de {ato jé reunidas. © que falta “apenas” éatal deliberagio que transfor- me o supercérebro telemético em "hardware" para supome da super- ‘mente, Esta constatago, por 4 s6, ilustra a aventura que estamos vi- vendo, ¢ destacaque semelhane aventura é a nossa resposta a0 abismo que se absriuem nosso torno em tofno dos nossos eus. Di ati 22. Criar (© captulo anterior watou da produgio hicida de informagdes, da wo- pia de sociedade composta de artistas, Ao fazé-10, 0 capitulo procurou dissipar a aura mitice do “ato eriadox” que encobre o fenémeno “axe”, No entanto, tal desmiificagao dessacralinadora corre o perigo de pes der de vista o entusiasmo que acomparha todo auténtico engajamento em prol da produgao de situagdes jamais doravante vistas, ou seja, © engajamento em prol da “aventura”. Eis porque procuracei, neste ca~ piulo, abordar mais uma vez o problema da criatividade, mas desta ‘ves de um Angulo ligeiramente diferente, Perguntarei qual sentido rem falar-se em criatividade no caso da preducio ecletiva de informa erernamente reproduniveis. como 0 sero dentro em breve todas as fo- tografas, filmes, videos ¢, sobretudo, as imagens sintetizadas por gru- pos gragas a computadores, (O capitulo anterior avangou a hipétese segundo & qual as informa- {02s futures serio produto de diélogos por intermédio de instrumen- tes técnieos, come compitudores © cabos. Simulkaneamente torna-se ébvio que as iniormacées destarte elaboradas sio superticies aparen- tes, sem suporte material, que podem ser copiadas automaticemente e {guardadas em memérias praticamente eternas, Essa situego, na qual 0 individuo apenas participa sem poderartogar-se o diteito deantoria, parece sugerir que o termo “criatividade” (no sentido de produgao de “obra” individual) perdea todo sentido. Sugerirei que € possivel sal- var-te a conceito da eristividade na stutagio emergente, embora ele ddeva ser radicalmente reformulado. A palavra “cSpia" € latina e significa originalmente “abundancia”, demaneica que “copiar” significa no fundo: “tornar supésfiuo, redun- dante”. Ja que Superabundante € supésfluo significam, por sua ver, © posto de “informacao”, “copiar” “desinformar” mostrazn-se cer- 101

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