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Mitologias Juri Cultura Juridica Européia Sintte de um Milenio Historia do Tributo no Brasil Direito Penal n: © Direito dos Letrados no Império Portugués Discurso sobre o Discurso (ate e Eat na Calas Jurisica da Expona Liberal Historia do Direito Moderna Antropologia Juridica e Simbolismo Religioso Pallas Aten, Miguel Areanjo, Xango jl E & 3 Paolo Gr AY Etcetera e om tuna Cen Cert CE BcxeCaett eres ‘snore milo buxando cor PAOD GROSS fener de ‘ss do Dom Universe de rene mel aes dos Unt t dover hore enue ple Selialm, Astana de Gaon, Hine do Perse Joico ‘emacs ae Paolo Grossi Mitologias juridicas da modernidade Tradugio de Amo Dal Ri finior - BOITEUX ovianépolis ‘ee neem Snare ap Oni Si i rvyonanonchovorx Sicuiit aime Rot lee imeenat Cache Eat ul im a Be Ams ae Ff tee Mom Le ol Os ian SE Ait ae Rodin cama SSS fighe de he ba ome Diagram Stu gram Ae Vea {5 Sas cinco ei sw DB Tones Sse “Cus de PCr Mero yD” de prea do 8 Unive Fee Go fas Grande dal “tay comme cemiecings neon eset ‘euprnicEstondeiroe” ‘As de Tonos, inl rine ‘io Rosouton nant pope PREFACIO| Priblico aqui, igades por algumas nota introdutsrias ni- lai esobretudlo por um mesmo tema de fundo, quatro en- sale que tém por tarfa denuinciarem vor alts, perante wm pablco mais amplo do que os poucoshistoriadores do direi- to de sempre, simplismos e mitlogias que constituem uma pesada hipoteca sobre a cansciénca do jist italiano ¢ eve opeu (ao menos na Eusopa continental). Ensaios que tem por taofa pedir uma refleio mais vigilante e mais contun- lente sobre um aetinmilo de nogiese princpies fundamen- tas da cvilizagio juntica moderna, considerados patrimenio supremo e indiscutivel para a atualdade e para o aman O historiador do direto vem, dese modo, trar a paz dos juvisias continentas, que mais parece uma sonolenta lmobilidade. Seria interessante se esa obra servisse como uma contibuigi minima para a aquisicio de uma cons- ciéncia culturalmente mats complexa, 0 destinatrioprivilgiado dest lio 6, portant, ojuis- ta que se encontra em fase de formacio. Em particular, 0 cstudante da faculdade de dirito Proto Gnoes ‘Cite in Chan la, Epona de 2001 SUMARIO Preto. - 7 LUMLIVRO, ASUA INDOLE, ASUAMENSAGEM 1. Asmitlogiasjuridis da mademidadeeopapel do Istoradordodireto =) 2. Compresnsi histoire instrament comparatives 18 1 Umacennsobreeranteido er) 1 JUSTICACOMOLEIOULEICOMOTUSTICA? OxsavacoesneuM sex TER BETS 1. Diretoeteientremedinsstemodemo a 8 2. Ardem juridica na perpeciva diel 2 1 Ossinne do "moderna" estatldade do dietoe transgaragh d9 ee enh 44 Umitinesiio"tnodema” do diet el val 1 ALEMDASMITOLOGIASJUIUDICASDA MODERNIDADE 1. Mili juin comoestratgia wercedorara maderidade 49 2. Protomodemodadirstorenmplexdade do universo. {Ui ven oe 3. Redes madera una vio poesia do dre. 4. Indovecuperaracompexidade'a deseberta da rete 55 8 camoordenmenta ee a 5. Em dregs novasfundamentagies par posiieidade GRD nnn 68 6: Inerpretaie-apicagsoenovasfonetasdapostividade ie eee 7 7. Em dogo ao declinio da mitalogl juris pssumnista 78 (CObIGOS. ALGUMASCONCLUSOES -ENTREUM MILENTOEOUTRO. 1. OCétigoe oseusigniticadona modemdode| andi nm 87 2 OCétigoeeselementos que histoncamenteocaratezam 98 5 OCédigohae algumasconsideragies dohistorndor do Airs =< ne ASMUITASVIDASDOJACOBINISMOJURIDICO (oven a Catta ce Nie” Peg 9° Coser Born” asta ease DS ERO) CO papeerticodoistrador do dirsto no dislgacom a fetdioododiretovigent nm 3 2 Umacoda mademidadesboltzagb emia n= 125 3. Umestlanimentoindspensivelsignfeadosemensagens ajpeobinimofurion ez 4A “tedugio aeabina da compleniade soil 130 5. AvCarfade Nie” comoa dima eat" de diets yn 13S 6 Allusode umaredugsodo dretoemum pedacode papa 127, 27, Bose caracterisicondividualismo: individ camo Indubitvel protagonists “ 10 8 Oindividuo insular. ae 5 Oinsufcente projet de dimensiocoleiva dosvjeto mo tecido fda "Carta sina de comin pS 1S 0A exigncia de umn egate:conea a monapolizagioestatal da linens pole asoidade intermedia como a 16 11 Oinsoficene projlo de dimeneto socal doje ns 131 Refetncos bibliog. oS UM LIVRO, A SUA INDOLE, SUA MENSAGEM, Algumas nota introdutérins 1 As tlie juries da modemidade 9 papel do his do Ae" 2:Compreensto hatonogri tunis corpse 1, As mitologiasjuridicas da modemidade e o papel do Iistoriador do direito Acredito piamente ~eserevi muitas veres nos wltimas tempos, tomando-me quase monstono ~ que um dos papi, ecertamente nao 0 ultimo, do istoriador do direit junta 20 ‘operador do dirt positivo sjaodeservircomosaconscién- cia etica, revelando como complexe 0 que na sua Visio unilineae poderia parecer simples, rompend as suas convice es erica, relativizand certeas consideradas abso, insinuando duvidas sobre lugares comuns reeeidos sem ma adequada confimagio cultural. O Ristoriador também pode ‘sconder-se no outro papel, ode erudite conhocedor do pas sado proximo e remoto, Papel que no hesito em considerar em relaglo a0 primeizo ~nobre mas menor e, no fund, 2 ‘val se pode renunciaz, {A presente obra tem por objetivo correspander a est i tha eerteza, oferecendo alguns instrumentos de desmitifs ‘camentehistorogeica, compreensio mediante a compara- Go. O que, no nosso cas, tatando-se de objetosinchados © dleformados por uma propaganda bissecular, pode signifi reduzir a proporgdes mais modesias criaturas consderadas ‘como giganteseas na consciénca comum. Mas, wea bem ‘esse recuzir no significa avaliagio negativa fita com espi- "to maniquew; neste aso, rede significa neconduzieo fe -némeno a5 suas reais dimensdes Wistircas. ‘Uma adverténcia similar me ver espantaneamente quan do eserevo, pensando na avaliagso tendenciosa a qual foi submetida tuma obra que escrev sintetizando a experincia juridica medieval, maliciosamente arbitraramente rece 4a como apologia filosmedievalista por um eritco que fzia «a prevencio a sua lente perfeita, 3, Um aceno sobre 0 conteido ‘A obra & composta por quatro comunicagées elabora- das para quatro acasides diferentes, mas intrligadas por uum duplo aspect Em primesro haga, pelo tema, que ¢ unitrio e que con- siste, como jf tinhamos advertido, em wma tentativa de ‘eviso critica de ais fundamentos da modernidade jar ica, aceitos de win modo submisso como wma doggndtica meta-temporal e ainda muito absolutizada na mente do jurista contemporineo Em segundo ugar, porgue todas as ts comunicages i> veram como destnatério um pablico que nio era composto por specialists, sendo que o autor teve de se empenhar para tomar o seu discurso mais elementar¢, portanto, mais com preensivel, pando © tecnicismo que Freqientemente obs- ca os eseritos dos jurists As tris comunicacbes so, na consecugio,no interior des- sa obra + uaa conferéneiaproferida na Universidade de Pisa, para ‘os estudantes do primeira ano da Faculdade de Diveito: 0 "discuss oficial” proterido na oeasiso em que fi entre gue o Prémio Intemacional Duque de Amalfi exo ilo inspirou essa obra; 2 conferéncia de conclusio proferida em wm congresso em Florenga, sobre a codiieagior 2 conferincia ministrada em Rimini, no "Meeting per emiciaa trai popali”, por ocasiso do Encantza que tina pportema Sti diss, Europa giacobina esses, somente o discusso em Amalf foi trancrito no seu texto original. Os demais foram modificados para serem sudaptados & presente coletines. Em todos esses ensaos,o martcla bate sobre o meso pro- fando e penetrantssimo prego & natural que exist tanh ‘bém, a0 lango da obra, epetigiese insisténcias. Vales para indiar ao leitor os pomtos que 0 autor considerou essenciais ©, portant, rolevantes ecentrais & sua atengSo. I JUSTICA COMO LEI OU LEI COMO JUSTICA? CObservaées de um historiador do direito* Sern ee mone ech oan Soret omsany commence a ppeciva medieval. ~ 3 Ossi do *modero” etatalnde do dre © Aeratiunto da lt Um Sine mcr do de a A. Direito¢ le entre medieval e moderno ‘Uma clrenstincia que sempre me alarmou profunda- mente, 20 menos desde o perodo em que era estudante na faculdade de direito, 6a teimosa desconfianca que 0 ho ‘mem do povo,o homem comum, tem no que diz respeito 20 lidade econdies do capitalismo mado, pide escrever em ‘wm fortunado liveo, significativamente dedicado ao “Deekinio do direita™> ‘quando poder politico maniesta-se em leis que nto ‘sto mais aexpressdodo dreilo,asociedade encontrs- seem perigo™ Hoje, 0 juristaolha de manera mais desencantada, mais critica as conquistas que a modemidade jaricy pretends ¢, hd algum tempo, ests reslizando a revisio de muitas cot lusdes que uma estratégin peruasivatinha elevado a eate goria dos fundamentos dogmticos. Vstos através de wma Jie juridica mas vigilante e mals penetante, estes magnifi- ns efcios vazios erguidos pela cultura moderna (li, lega- lidade, segurancajusidica) pareceriam merecedones de so om guardados, mas precisando de conteidas adequaides, «que fossem apropriads a legitimé-los no somente do panto de vista formal Ohistoriador do dircito, gras a0 seu conhecimento es pecifico, evocando e comparando clinas diferentes, pade dar ‘uma contibuigio fundamental a essa importante obra de rlativizago: pode fungir -como estou zepetndo insistente- mente nos iimos anas ~ como conseiénca erica de ques se dedica a0 dirito positivo; pede contribuir para que esse vivao presentee vigentona sua historieidade, sendo um ponto ee ee EDI io pap fem uma grande linha histérca que masce no passado, que ro € destinada 8 exaustao no hoje, mas, a0 contro, proje- ta-se no futuro, Deste modo, 0 historiador paradoxalmente transformarse na garantia do futueo para quem constant mente se dedica 20 dieito positive, submetida 20 risa de ‘um imobilsmo intra i ALEM DAS MITOLOGIAS JURIDICAS DA MODERNIDADE* Prine Ouge Sei, cs poten po ‘pen tin Sorta do ot a oe SSR ntctmmerccge ean erate See aie open ee 2 lg ican et eto mma —2 dir mr avn ite {Goa nos fardmeningbes pra a postive de to — 6. Ine ‘Stocco «nots rete da pote do dete. 7 Em (Sago an deli da mig res pln 1. Mitologia juridica como estratégia vencedora na rmadernidade PParece quase 0 aproximar-se de dois opostos quando como se faz no titulo dessa conferéncia ~ sto colocadas sina ‘0 lado da outra as expressoes “mitologia” ¢ “modern dade". Na conseiénciacomum, de fato, 0 apelo 29 moderna levoea um tempo percorrido © dominado pelo vitorioso desmantelamento de antigas mitificagies sedimentadas ¢ enraizadas no costume gragas 8 duas conguistas do pro sresso humano: a secularizagio e a consogilente posse de cevidentes verdadescientifieas. Tendo sido finalmente exila- » Reese soles op gs STTERRAND Le op _rmnent Pr Po, 1 Le Conse Cotton ee pr pes ‘Aenwnee: Pes Unto 9h mtn. dove fat-o com a consciénca sempre viva de que aguas ‘ategorias dio forma e figura a um saber encarnado, 2 uma histona viva, Resumindo, dovem se uatar sempre de eatego- riss ordenantes, que pescam na realidade, que nao flutwam. sobre o real, como acontece com todo fendimeno autentica- mente endo iticiamenteondenante Sere dever ser necesst- lament se confundem,condonando as torias puras a fea om entre os admiriveis exereicos rericos de engenho- stisimos jurists. Gustavo Zagrebelsky tem ra2%o quando alguns anos ~ afirmava categoricamente: "a idéia de diteito que atual: sent implica o Estado constitucional no entrou plenamente no ar que os juristasresprasy"™. Uma velha ida de legai- ade, legal formal, deve substituinse ¢ cada ver mais ve ser substitua, por uma legalidade diferente, ue no final eve plenamente em consideragio os dois niveis de loge lidade em que se atculam os ordenamentos modemos, ot sein para nas entender - 0 dos Cdigas @ 0 constitcio- nal, senda que esse segundo expressa a sociedade nos valo- res que ela leva consigoe ndo somente a cristaizacio bastan- te pobre que se tradur no Estaco-aparelho, ‘Deve ser superacia a dia de que 0 dimsit feito median: te leis e que somente legislador ¢ Jusprodutor,capaz de transformar tudo em dieito, uase como um Midas dos n0s- sos dias. Quanias vezes 08 produtos normativos fbricados me i ioe i sit Oph pelos legisadores modernas se mostram longe do sr dito! ‘A hipertofia ea hipervalorizagio da lei custarsan muita caro sociedade e a cultura da Europa continental, assim como as zonas do mundo que essa condiciona. Alves de tum prisma desse tipo, falowse de “descodificagio" e até mesmo de desegifiagio". A exigincia € uma. somente ume: relia a lei do papel ttalittio e socalmente insuportével ‘que a idade barguesa Ihe concede. Somente um louco poderia pensar em prescindir da pre senga de normas imperativas gerais ou! mesmo de Cédigos (© que nto procsamos, 20 invés, é do instrumento pemicioso quese constitu em lise Céigas que com a mina de uma pormenorizaca regulamentagio da vida econbanien ¢ social, ‘orem 0 rsco de permanecer lea morta no momento se guint § promalgagio, or serem rejitados pea comanida- de dos wtonts ou, pir ainda, terminam por amondagar 35, comunidades, impedindo-as de se expressarem segundo ode ‘senvolvimento do costume ¢ a evolugh das raldades eco namicase das ofdens soci ‘A rapidez da transformacio contemporinea exalta, em todas as sas manifestagies, tm primado da privis. Quantos Instittos, sobrotudo no dieito dos negécios, so intuidos, Jnventados, modelados na pritica coidiana,enquanto 0 e- sislador nacional ou comunitvi limta-s a intervir tardia- mente, apropriando-se do que 0 uso [é tina consolidadot 0 futuro direito econdimico tende a ter um vulto genetica- mente extralegisativo, com uma forte cantsbuigio ofereci- a pela teflexdo cinta, Ese assste a “atores molifca- dos ptolagonistas do processojuridico”, a “diferentes mor dalidactes de produgio ede funcionamenta das regr0s jr lcas™, ama exesconte privatizagio da producio jurdi- «evita centros manopoiicos (ou sea, produtores dese _gras juridicas pontuslmente observadas pelos individsos) jf esto inseridos em miileos socais, ecandmicas e cults ris muito distantes dos Estados™ [Essa ¢ uma panorimica que me sino grato de mostrar qui, na Civitas Amalitana, na sede do sou municipio, nes ‘extraordinia fora juridica medieval, onde mercadorese na ‘vegadores destemidos participaram da criag30, mesmo sen do pobres de leis ede edncas, mas fortes na prépriaeapac- dade de escuta das forcas ceondamieas¢conflando quase uni- ‘camentena sensibilidade ena intigho do diveto comercial © marking da koiné mediterrinen da idace més” io jut FERRATESE Lehto ‘eter WCNC ness lit mae elm rte eS jth ke so um cODIGos: ALGUMAS CONCLUSOES ENTRE UM MILENIO E OUTRO* Tae do ed a Cog “Cal — Ua fie ‘ie mens Con" Ua eb fol de mt) wee om ‘ornate © oreo coe ptm compere oun ‘stan i) soos do Cargo orn ‘reamenie qe Nntcnmene ocean 3 0 Cog hag Ion omnseren do hexane 1, 0 Cédigo ¢o seu significado na modernidade juriica Com historiador do ditto sintorme no deverde comesae ‘esas anolaes diviindo com voots uma preocupagio. Uma rage nunca foi tia marcada par uma intrinseca poise como acontoce no caso da nogio de Cédigo: 0 voesbulo unit fio permite aproximar © Cédigo Hermogeniano!, 0 Céigo Justiniano’, CAdigo Napoletinien e todas os demais Cid 0s, cada ver mais feqientes na pris contemparines, que ‘ouvimos mencionar nas vérias conferéncas, em particular nas proferidas pels estudiosos do dieito positive (Cigo dasjor- nalistas, dos consumidores, dos segures, dos principios, das egeas, Cédigo comum exropen das contratos, ¢ assim por iant);0 voedbulo urtiro, tendo como denominador comm 2 tendéncia a estabi ar 0 instive, © que carateriza toda "Tacit mcg (des Hermopein) iar do itw i aro nn win an * aE aes a TS ‘ere nan cfc, através do engana que & pico de cesta impass veis persisténias levcns, mistura @ associa realidades pro- famdamente diferentes por origem e por fango,gorand con fasdes © equvoceseultwralmente permiciosos. © historiador do diteit, cumprinda o seu mer fundamental, que & 0 de comparat,relaivizar,diferenciae,sente a armaditha que se constitu no Kxco,profre abandonaro simularo univ € air na realidade histrica que é a0 contévio, substancal- ‘ante marcada por insansveis descontinidades. Deve ser salientada com vigor ao menos sma dupla descontnuidade:aquela entre 0 “Cédigo do consumidor” de {que hoje se fata (para dar um exemplo) e © que para ns, historiadores do dirlto, 60 Cédigo; entre esse timo © os -itos Cédigos da qual estava zepleta ~ por exemplo ~ a Antigidade clissca. Os ténues elementos associados ~ que existem no deve enfraguecer a abso pica bist flea daquela escolha fundamental da civlizagiojuridica rmavlera que péde se definir completamente entre os cules XVII eX1X na Europa continent escalhidando por esta ou. ‘quela politica contingent, mas ts radical a ponto de se colacar como marco fronteirgo na histGra jusidia ociden- tal, assnalando um “antes” e um “depois” caracterizados por uma fatiina descontinuidade, escolha que permite aos EEaeteseemesmess ome historiadores falar corretamente de "Cédigo simbolo", "C6 digo mito’, de “forma Célgo", de “idéia de Céaligo"™. Em outas palavias, para o histriador do dinsito, podem cexistir existem muitos "C6digos”, para es quais pode ser convencional e inécvo 0 empreyo de um vooibulo uti, mas, somente um é 9 Cédigo, que irompe em um determina do momento hisreo, fato de uma aaténtica revalugio cule tural que bate em chee devasa os fundamentas consoida- ‘dos do univers juridico; justo por essa sun carga ineisiva, justo por sor tambéan esobrotudo uma faa, © Cadgo pode solrer uma transposigio,¢, a pattr do plano terestre das Fontes comune de ditt, vie a encaar um mito €um simbo 1a. Porque, de fat, o Cédigo quer ser um ato de uptura com © pasado: no se trata de uma fonte nova ou de um nove raxlo de conceber e confeccionar com profundidade ¢ am plitude a vel ‘mado novo de conesber a producio do dreito,e, desse modo, 0 inteiro problema das fones, assim como o problema pri fio da conexto entre orem juriica e poder politico. a ordonnance eal: rata-se, ao contrévo, le um Fez bem 0 amigo Halpérin 20 nos oferecer, entre vias imagens signiicativas, a de Napoloi T quando esse reeitava * Gichetatc, TlleAvoell Sor, vok ss,ominanine a ate epee ep 0 volho droit coutuner nessa, fol testemnhada a pees ‘0 do primeiro” autantico codiieador da histriajurica européia — de romper com o passada por aquila que o passa do representava sob 0 aspecto da visio do “jurldico” da posigio do “jurico" no “secial” e no “politico”. Sob esse perfil, © “Cédigo” expresca a forte mentalidade fojada no grande laboratrioiluminista ese encontra = enquanto tal — em aspera polémica com o pasado, ‘Cam esse ecarecimento, que deve sr feito: 6 vio que se ciniswemes o tecido do primiro verdadeiro Cédig, 0 Code civil ¢ ainda mais se olhdssemos 0 seus trablhosprepaeats- tos, poeriameos constalar a ft continvidade de instiutos ‘cunhados e aplicades na imemorivel prix consuetudiniis, (Os redatores, primero ene cles Postale, eram homens nas dose edueadas sb o Antigo Regime, assim coma nfo sr Dreende o fat de esses Serem portadores, nas sus subconsci encias, le noses, costumes, esquemas tenis, enrazados na ‘experiencia da sociedade frances ¢, portato, actos e vivie dos na vida entidina, Isso eu daria por certo, considerando ‘que a hisvia munca realize salts improvisados, eo Futuro sempre tem um vullo antigo. O gue conta € 0 que emerge eo 1 Tarde pci can oe dears ase Sin © Gag mn! agente dt ar ysis se ‘mag sua io en se ela + Bie aes em et ‘completo delinear de wma mentalidade energicamente nova {que investe 0 coragio da orem jardica, on sa, 0 modo de ‘conceber ¢ de realizar a produ do diteto, Neste panto ‘que é uma nogio crucial sobre a qual se edifca 0 jridco _concepgiusesolugbes esto em wa polémica frontal A produgio acontecia no mundo pré-revolucionsrio ata v6 de teds elementos bisicos que a caractrizavam, ‘a transhordante, ow soa, sega sem tentarobrigar © advir da sociedade a se manter dentro de margens muito vinculantes: a opinides dos doutores acumulavamse urna apés a outra,formavamse opinides comns, mais que eo _muné, comunissimas’,entesourizantes naquelas confsas coleitas das séculos XVIL ¢ XVI, que foreeiam aos pit ‘080 Suporte para as pretenses processus a8 sentengas © acumulavam wma apss a outta, send que os Tribunals mais slusrestinham a sorte de poder imprimi-las naquelas enor Seed sr ie era neni oncom Spero eno ramen mie Strona ris tac ot SxmeeNihicnaca atmeac om ns cole sobre as quaisteve © mérito de ter chamado a longio ~ nico entre nds - 0 caro amigo Gino Gola” Era pluralists, sea, estava em conexdo com a socoda ‘dee com as sas forcas phasis, expressando-as sem particu: lavizagdes artificialmente construias ra, conseentemente,extra-estatal, ou seja ~excetu nd as zanas que se encontravam em intima relags0 com, ‘0 exercicio da soberania -, no registrava a vor do poder politico contingente, conservando-se de um indefetivel con- dicionamento. Em um ensaio bastante consciente, 0 ‘romanista-civlista Filippo Vassallladvertia, em 1951, ue o diteto civil, o direito das relagbescotidanas entre os ind ‘duos, tinha tida até a Idade do Cédigo a conotacio de ‘uma intima extea-estataidade, encontrando a sua fonte nos. {ndividuos, nos costumes instituides e observads pelos in ividuos, sucessivamente reduzidas em esquemas téenicos pela classe dos jurists Trude isso vem apagado pela obstinacio codifcadora, no sendo por acaso que Napoleia queria realizar, com 0 Code cioil, a primeira etapa de wma codifieagio totaizante. Uma drcunstincia nada banal, ov melhor, um gesto de suprema ‘et ea. sen dt th ees oe feet crenata dana pe coragem, em que o nove Priacpe ps revolucionsrio uss va, segurisimo desi mesmo, legisla em um terreno dif, 9 razio civil ultapassando os limites onde os legsladores do passado tinham parado, mesmo os de Las XIV, que com as suas grandes Ordonnanees tinham realizado una primeira cexperiéncia de redugso de boa parte do dirito a um corpo de leis soboranas” © que Las considera que fosee melhor continuar regilamentad por costumes imemordveis,sedi- _mentados em um longo process agora em 1804~Napoleto aprisiona nos 2261 artigos do Coe civil, one todo o dieita cvilpassa a ser previst,onde exstem rgras minscosas pasa «ada instituto (que feqientemente enconta até mesmo a sua Aefinisio,elaborada pelo prépro legisladon. “Tudo iso horsorza a velha Iisa transbordante, ria aver- so para aquee colocar-se nas mins da histri, mesmo asim- ples histénia de todos os as, que foo tago marcante da or em jurdica tradicional A hstriidade do direito nfo sats- faz 0 novo Principe, ou melhor, mostra-se ele no seu aepesto repugnante le complexidade desordenada e confusa, (0 Cédtigo revelaplenamente a sua filiagio a0 Iuminismo. ‘© Principe, individuo modelo, modelo donovo syjeitoliberta « fortifcado pelo humanism seculrizador, tem condigges de ler 4 natureza das coisas, decifé-la e reproduzt-la em (Goo den cmc, oc avo el). rnonmas que podem ser legitimamente pensadas como un- ‘vermis ¢eternas, coma se fossem a tradugio em regras soci is daquela harmonin geométrica que rege © mando. Aquise manifesta a fundamentacao jusnaturalists, que reveste de Uicdade a certeza de que 0 Cig se fax portador, if ave quando se toma possivel ler a natureza das coisas, a veia ica passa aver certa, mesmo se no fund no existe mais 0 ‘Deus-pessoa da tadigSo cist, mas, no see lugar, uma vaga dlivindade panteisticamentevishimbrada; dese modo, passa a ser certa a mitifiagio. Nao é errado falar de eatecsmo, do Céaigo coma catscismo. Filho do jusnaturalismo iluminist, 0 Cédigo leva consi- 0, bem penetrado na sua estrutua dssea, a mayea da gran- ‘de antitese jusnaturalista, a mais grave e pesada anttese da histésia do dieito moderno. No nova cultura secular, @ conviegio na expacklade do novo sujeito de ler a natura das coisas pasta a ser acompanhada por um problema que a velha cultura medieval e pés-medieval péde ignorar: quem poss legitimidade para ler a natureza das coisas dessa extrairregras normativas? A nada serve o antigo leit, tin co e necessrio, a Igtejn Romana, & condenada a0 sétio das superstiges ¢climinada da categoria das possveis fntes de dlireit, Ese leit deve obrigatoriamentese Prineip,o qual, pss ter sido gratificado no dmbito da Reforma religiosa com ‘0 camando das Igrejas Nacionais,vé-se, agora, honeado e ‘onerado, com uma ova misio intizamente temporal Pressuposto desta gratifiasso 6 sa ideslzagSo: 0 Prin- pe & 20 contro do juiz © do dostor, uma figura acina das paises das mesquinhario ligadas aos casos partcula- res e, por isso, fem condigies de fazer uma leitura serena ¢ ‘objetiva. Quem nio records, a propésit, os escrits, a0 me mo tempo contundenteseingénuos, de Muratori ot de Becca: ria? Como antes fez Reforma religioss, também cultura jusnaturalist,imersa no nove mundo seculavizado, press ‘va de um vigoroso gancho no temporal, e iss fo oferecido pelo novo suite politic, vigoraso i protagonista do cand io europen transalpino, 0 Estado. E toma forma um feséme- ‘no que podria, & primeira vista, mostrar-se como wna com peta antitese em relagio ao que dissemos algumas linhas acim, sobre uma harmonia de geometriasetemas ewniver- salsa estatizagio do dirt, tamibém do direto civil, © mais iii a ser cantrolado nas malas do poder © jusnatucaismo vem a desembocar no mais aguda positivisma juriieo, eo Céligo, mesmo se portadar de valo- ton de te tradi Se st ane as ps ‘eso we det comune of plans se Povo ornerse co tse pao tunincat s alit st pon cli meted pls ie pes ‘Sot comm gs no as XU nc nner do aio rans res universais, & redzido 4 vor do soberano nacional, ei positiva desse ou daquele Estado. [Na Franga a primeira grande codifeag, a napolednic, chhega ao resultado final de um longo itinerdro histérico, quando direitos entific nal ou sj, na expressio dla vontade autoitria do Principe; um itinerstio dif que, ainda no final do século XVI, Jean Bodin, centsta potico de ‘consistente formagio juriica, visnaizanodissidioentredroit, loi", entre diteto ¢ Te, ou, para melhor explica, entre a prinis consuetudinéria tradicional, compenctiada de equ ade, ea vontade potestativa do Principe; um dissidio conti rondo feito de Intase de resisténcins, mas que, lentamente, marca a progressva vitvin de uma monarguia sempre mais, cempenhada esatsfeita na sua dimensto logislativa. O dei to famods ~ para usar uma expresso do léxico de Bodin ~é, ‘comopassar do tempo, sempremais/oie sempre menas droit A iia de Cstigo, tendo sido depesta a sua projegio ori- tinal e natural vollada @ ma ordem universal, movtifica-se espiritualmente e potencia-seefetivamente, exprestando a ‘ordem juridice de tm Estado delimitado em termes tempo- ris expaciais, O Codigo insere-e plenamente no paroxis- ‘ho legislative que escorre nas Vlas do séeulo XVIII e que se ‘manifesta plenamente na inistentes proclamagies das de claragies consttucionaisrevolucionsias e pés-revolucion’- ‘RG sas te Rpg skeet 7. ep ras: em que, mal se retra © maximalismo retsrco, emerge ‘com toda asin rudeza sma fra eid estratégia politica A Adealizagio do Principe provoca a necssiriaidealizagio dla sa vontade soberanae, consoqientemente,aerstalizagio ‘ormativa ma lei. Aquela que & simplesmente a vox do poder recebe um higae seguro no mais sere sactiro da conscién- zado na histri jariicn ocidental.Sinal de que o prjoto se ‘ishuava tabs com esratgiacom a exiglncia de um eon trolesigoraso no ingresso dos fatosnacidadela do dreito. A foctuaidade comesaré ser discatida na Ria ~ aps ruitas dificuldades - no final do séeulo XIX por civilistas Ihereges € se conteapors, enti fra harmonia de muse que caracterizava 0 Cégo Civil, um “Cdigo privade soci a em que os suites sio pares € empregados, rcos e po- bres, sibs ¢ignorantes ex sua, homens de came #083; «também comegars a se diseutda, sempre no final do seu To XIX, na legislgio especial ~ antes muito eseassa que logo st intensificars com o objetivo de remesliar as muitas necesi- dades emergentes®,e,finalmente, na legisla cexcepcional srgida com a Primeita Guerra Mondial, que se transforma em uma corda no pescogo para o organismo :arefito dos sueitos¢ 435 relagbes do direito burguts, especial e Abstrag e igualdadeformal foram, talver, asarmas mais afiadas da geande botalha burguesa, armas 8 aparentomen- te desinteressadas, sé aparentemente em beneliio e para a protegia de todos. Avs mens ahunos da disciplina de Histrla do diet modemo, nunca doixo de ler uma frase rtirada domagnifico tomance "Leys rouge”, de Anatole France, uma frase que acumula em sium dignsticohistorograficamente _agudssimo; 0 grande romancistaassinala com pongente sar ‘casmo “la mnjestense alt des os, interitenrcke come aupauore de coucher sous le pons, de mendier dans ies reset de ler du pain"; conclu, mal conseguinde escondor 2 20m- ‘aris: “lle dews, sous le nom d'égalite, empive del rchesse™, ase dseusso sobre a abstagio como principio estatégi- ‘come permite realizar alguns comentérios sobre 0 que Paolo Cappellini dizia acerca da incommicablidade do Codigo, sii wt ns oc Tinocle nats sn natalie guem's emp o ‘sire penises nt rte oe sat ogee 9 jet gus car i oy in poe ae ti ds poe de mn arn ce rab” oar = fahEar Some digne io ge ah B verdade, o Cédigo sofe de incomunienbiidade oan da, de grandes dificuldades ao comunicar si mesmo 8 gene rlidade. so por um motive fundamental: o Cédigo, como sesultado de sma monopoliragio da produgio juridica por parte do poder politico, €o instrumento de um Estado ronoclaste (uso constantemtente essa expresso felizmente canhada por Massima Severo Giannini, um importante pen- dor italiano do dircito piblico falecido no inicio do ano 2000); 6 o insrumento de um Estado centalizador que se ‘express em uma lingua nacional, ela, terri, que tents ‘se mantero mais distant pessivel de todo tipo de ecalismes veeneiles, os dnicos verdaderamenteagradveise compe- censiveis & masa popular ‘Seo Cédigo fala a alguém, esse alguém é 3 burguesia que fez a Revalugio © que finaimentereaios a sua pluvisseculie asptaclo a propriedade livre da tera ea sua livre eiculagio; © Céadigo francis é tomado por uma realizagio desse tipo, 3 ser desenhada, ainda, em 1804, ow sj, um protagonismo da terra ~sobretudo da tera rural ~ camo objeto possivel de pro- prledade, que era substancialmentedesmentio por uma sti cio econémics em plena evolugfo,valorzando cada vez mais decididamente outzas fonts de viqueza; nio estava errado Pollgvino Rass, que, da hi pouco, teria slientado 0 ata da consciénciaecondmica dos codifcadores napoli". Ria alr or tn itr one reget Pixie ptm oe os er (© Céaigo fla so coragio dos proprietirios, &sobretudo a Joi tuteladora e trangdilizadora da classe dos propretirios, de um pequeno munde dominado pelo “ter” e que sonha em investir as préprias poupaneas em aquisgées fundirias (ou ja, 0 poqueno mundo da grande comédie balzaguiana). & por isso que, a0 lado da lei do Estado, diniea concessio Plucalista, mas, ao contro, bem fechada no interior de wm, surdo monismo ideoligico, 6 admitida como inca lei con ‘corrente 0 instramento principe da autonomia dos individ 05, ou sj, 0 contrat E por isso que o Cédigo = mais do «qe 808 utentes,entendidos sempre como desinattios pas vos ~ fala 808 julzes, ou ja, aos oftivosaplicadores mas qs mos passa a ser entregue a tranquilitas odin -Mesano existndo a hipitese de uma lei dos individuos a le pales, o Cigo pormancce inserido em uma dimensio starts, Recentemente foi medida a respeitabiidade da fonte “Oéaigo" em refertncla 208 contidos, mas o subs- tancial autortarismo ests em outro hagar, na exigéneia centealizadora do Estado monoclasse, no seu conseqiente panlegaismo, na miifiagio do legilador que surge quase como um Zeus fulminante do Olimpo,aniscentee onipoten te, na mitifcagso do momento de produgio do direito como momento de revelagio da vontade do legislador. Fé um agi ota 1 Cp saat“ eno ote autortarsmo que intensifin »incomunicabiidade entre Caio esoiedade civil, qu, a espelto das incesontes teansformagies socionondaias, 0 Cédig inevitavelmente ermanece un psago de papel cada ver mais velho © cada ver mais lena, Vento ¢ ui outro ponto fundamental sore o qual pe sam as ries jsnaturalistas do Cig, o pont qe hs pas co ndisvamos. legolata lumina mobili o dirt no ‘momento da producto; al procedimento chegs & exaustio com a revasio (dovese rast com ee tro tole) de uma vonade supremu, send que o momento de ierpee tasio eaplicagio permancceestranho a esse, Tabor 3 ke na falado mula pouco disso no nosso cangreso, come sl to Ligh Loman Vala © proeadimento de nomatizacioconcluise no momen to.em ques noma vem produzid; coclitse eextingiese © resto canta poueo, porque & norma jriieaé aquels abs tratament confcconada pel eiladr. certo que em se sida scontece 9 momento da sua apicaio, ou se, da vida ds norma em conto com a vs dos sents, mas sem daz ‘enfuma contabuigbo ama realdade que nasce epeems- ece compacta e rigid, impermesvel Nt sca mentalidade étipicamenteiuminista, no somen te peculiar aos entusiasmados Nomens do séulo XIX, tio mpregnados do postvismo jure elu ~0conesemos nas profundezas da alma do juista europex. continental e, mesmo com tudo 0 que aeanteces na expeiénia« Gente camente a0 longo do fertilissimo séeulo XX, all permanece, {ntaea,seguramente revestindo 0 subeonsciente, mas encon- ‘wand também wm pleno aceite por parte da sa consign cia paca, Perdua,intacta, a aitede de Seida hostiidade fem relagio & interpretago~ toda interpretagdo que no seja 1 autntica ~ muito bem expressa por Cesare Beccata em -memorives estos da leratata judi italiana” ‘Mas Beceara est all, no seu nicho do seo XVII, ef «az ao expressévlo e, portanto, merecende a nossa com ppreensio historiogrfica, Merece una compreensio ine- nor a reoigio da historicdade da norma, de toda norms, ‘mesmo da legslativa, no incontastado domvnio que tem sobre a alma dos juistas A idéia dle Cédigo, ou sea, de wma goometia de regras abstratas, simples, nears, conceitualmente no concede a ‘possibilidade de uma ineidéncia do momento de aplicagio, A deologiajuridica pot-lminista fica profandamente per torbada com a visio de uma norma que vive alén da sua producto eclasticamente modifica, segundo o se pereur- 80, qe continuamente se reprodz recebendo as mensagens los diferntes terrenas histricos por onde passa. por sso que, nessa, a interpretagio assume a sinica veste que Ihe & possvel, de exegese: a norma deve ser somenteexplicads, no _nSximo penetrando no interior do cérebro do Zeus legik- or (procedimento desdenhosamente rjetada pelo ortodo- xo Beccara) para adentrareescarecer a sua soberana inet 0. Rejeita a Iistoricidade da lei porque ess infligca uma Jesto mortal estatéga que se oncle no poet uminista, Seconsideramos os fides mais inovadores~etaxbéin mais fecundes ~ do nosso sécilo XX, pode-se observar que esse Ai itinertio (ainda hoje nao concluido) ests buscand uma valovizagao cada vez maior do momento de interpeetagio, da sua recuperasio no interior do procedimento de prod «80 da norma como mamento essencal dese mesmo proce dlimento, o tinio que pode fazer da norma abstata ma re 1a de existencia cotidiana {A experincia do século XIX francés deveria ser uma ad verténcia. A cléncia reduz-se a exegese™, uma corte de laboriosisimosefecundisimos operadores que trabalhavam, satisfitas na soma da codificagio. © colega Rémy, de wm, ‘mado brithante teceu um elogio™ a eles, e & seguramente Aig de consideragio a inteligénciaesclareida e documen- tada deles, manifestada em comentiros limpidissimos, Po ém, eu no poderia assnar © mesmo eloglo: porgue entre les dominava uma psicologia substancialmente passiva em relagdo a0 texto narmativo, uma concepaio que tinimiza 0 ws Bo ce cy Xa a Silo ‘EES euiitewtin podem ao tr tren tae Se ‘Seponaman cise mesa sa ERI nt fe Pare tne cs Dic had ‘Sane igs fee eondr copra emer Spc {celts pin ects pe Uns res cn en cn ctonennt rere orp Tenoscrine meio titel ws ee honest se deum ee esto de tore foa sum eu anon oad ox ns prt om pcs es Geueansesmbecoar ards malate tot me eed" Siw em ne oe csv Sa to nm or po do Pee Gone e Coa, been cng sp tae ee psa eats nonce a ee ped Enynme tty, usar te rade noe arena por si mesmas no so edificantes, mas permitem 208 juizes franeeses consteuir apesar do texto Isso, devido a0 fato de o Cdigo terse tornado um texto, ‘um texto em um pedago de papel. Ness contexto no posso disor de citar dois grandes civlisinsfranceses que ive» soe. te de poder estudar profundamente”: Raymond Salelles © Francois Gény.Estamos.nos times vine anos do séeulo XIX; cles io o testemnnho co que hs poco ex disse sera crucif- ‘cagio de um jurist socialmentesensvele culturalmente cons: lente; Gény ¢ Sails, intolerant com um dizit ident cdo € cristalizado em um texto, orientam as sas reflexes tentando evitara separagio fuanesta entre a cota juridiea e 1 subjacent finfa socal e esonémica, uma linfs que, poe na trea, 6 mutabilssima, Entre nds na Ilia, devese obrigatoriamente recordar 3 figura de Tullio Ascareli apaixonado por um same do direto privada imerso na prea econdmicn, como é dieto comer ‘al, © que tentos, no convulsionado momento que tveas imediatamente apés 2 Segunda Guerra Mundial, armonizar formas e pris inventando categorias de interretago sob 9 ‘ide de wm diagnéstico despudorado do dircito vivo" peered tm etre 3. 0 Cédigo hoje: algumas consideragBes do historiador do direito Felou-se, nesse congresto, do pastado, mas também do presente, assim com nto faltaram olkares para o tuo. O historiadorsente-se “em casa” no sulco dessa longa lina que chega a0 “hoje” e o ultrapass e tom, provavelmente, algo fandamentado a dizer. Atsalmente ainda se fala de Céstigos e de codifieasses: somente hi pouco tempo pode-se ter 0 tnico model ideo _gicamente cocrente de Cédigo civil wealizado em um Estado de rgime comunisa, 0 da Repsblica Democritica Alem, ‘que hoje interssa somente a0 historiador do dieito, mas que epmesenta uma experiénca cultural e ecnicamente de rele- ‘0% hoje reflonesce~sendo abjeta de excesivase aguas eres vaziasdiscwssies ~ 0 projeto de um "Cédigo comum cearopen de direito privado"™. esse ponto, toma-se legitima uma pergunta: a idéia de Cédigo ainda ¢ atval? Ou se tata, mesmo nese caso, da raldigio misonesta dos jurists sempre apegados a mode los pastados e sempre tardios e avesss a suporlos? [Neste context, impem-se algumas consideracies, ‘A primeira conceme& rapide da tansformasio social na ivlizgio modems. A wansformacio de ontem era extrema ‘eae BP Cas Rec Geto in Cae, ‘oder eae BOSANE Meet An) tig aap a po tram Cte” Pet Tem Uns ep 3. ‘mente lentae podia prestarse, também, a ser ondenada em categorias nao elistica, enguanto hoje mesma rapide fre {qlentementeobrigaolegilador a uma aivdade febri, oxi ficando 0 conteida de ma norma logo apts tla procuzido Peso em nés,na Ilia ( 0 digo somente para os amigos no itlianos), 9 recentissimo Cédigo de processo penal, sm Co digo que eu ~secament, mas no inconseqientemente tomo a iberdade de qualifcar como "redigilo em verss", um texto abstratamente respitadlssimo, mas inadequado para ordenar ‘uma prix criminal que se enconta em um famltuada eal smante cescimento, que foi apresentado no sei quantas vezes apesar do breve period de vigéncn ‘A segunda eoncerne & complenade da civilizagio con: temporines. Se & verdade gue a codificasSo inaigurada em 1804 fo uma tenativa de reducio da complexidade, tam- bbém verdade que se tratava de urna complexidade reduasvel (oresmo se, no fina, a tentativa nto chegou peeetamente 30 seu objetivo € © Cédigo abou por nascer “velho") Hoje, @ -stuagio é inacreditavelmente diferent, com frontsitas das dimensées econtimica ¢teenolbgiess que continamente aa amese, modifieam-se,complicam-se. Os pontos salientados ‘por Redoti no que diz respite 8 evalugso teenaligics confr- ‘mam queatual complexdade dificiment pode ser edie A terceira consideragio conceme 2 tensio voltada 3 “universalizagio (itencionalmente, omito-me de pronunei aro termo correntissimo de globakizago, que evaca demasi- adamente 0 desagradvel espectra do imperialism econ rico norte-americano ¢ das suas vorazes sultinacionais) [io existe divides quanto ao fto deo panorama geal ter vaviai tito em relagfo 8 velha paisagem estatal iner- estat, colocando em dificuldade 6 Cédigo que, mesmo se stulhado de instanciasorigindrase veins jusnaturaistas, his toricamente se torou lei nacional ¢nela se dentfico Fim, uma siltime consideragSo, sobre © que, talve ti ‘véssemos que reflts mais profundamente, Palouse de Co- igo-Consttuigo. Verissimo! De fato, no existe divida que, quando nasce, 0 Cdigo encarnou a auténtica Constituigio do Estado bungués,jé que, tendo as primeiras “cartas dos iret” se revestido de um carter losfic-politic,coube ao Citgo civil emunciar eg jridicas que disciplinassem ‘os insitutos fortemente “constituconais” da propriedade individual e do conteato, Na longa estrada percorsida apés 1804, 0 Céaigo vin multiplicaremse os niveis de legalidade, primeira - ne século XIX a legisagio especial ou excepcio- naldo legisador ordinirio, que, porém, limitavasearespon= der quesides contingentes que o Cédigo abstato no tinha conseguido responder, aps ~ no séeulo XX ~ as Constitai- es, que a ess altura tinham se tomado verdadeiras or dens sormativas, mas, a0 mesmo tempo, ordens concretis simas onde podia ser envertado de modo imediato © des- fa om gg teen tens ie ‘nan mend ep cen oe ‘Sorgen nu EMRARESE ME Op op coberto © mundo dos valores, fazendo com que essas se tor. assem portadoras de um harmonioso sistema de valores. E Justamente-mesmose bastante atrasada~adotina evista italiana colocou-se 0 problema da reagio entre © que i ‘nha tomado-se dois niveis de lgalidade, a legalidade consti> tuconale a Tegalidade do Céaigo" Impoe-se uma resposta para a pergunta que acima for. mulamos: a iia de Cédigo &atual? Ness easo, qual papel podemos dar hoje para o futuro de Citgo? [Nio 6 tarefa do historiador fazer propostas operativas: ‘potim,o hstorador pode ular a sun consciéncin tendo 0 ‘sentido da linha histrica para incetivar 0 expo extico do observadoreprojetador do presente, Hi pouco tempo Salvatore ‘Tondo, a propésito da ler mereeoria, ivocada muita vez esse nose rave forenting,salientava a sua féna capacidade de 0 Céigo ondenar convenientomente essa ralidade emer iene. Eu teria mais dividas a respeito. Perguntamo-nos, retoricamente, tendo por objetivo somenteesclarecer melhor 0 discurso, 0 que entendemos quando fazemos uso de um sinlagma desse tipo. Simplifeando e reduzindo 20 maximo, so as invengSes da pris que em wm novo endri econdeni= 0 ¢teenlgico precisam sempre de instrumentos novos; le mereatoria & 0 conjunto das invengaes realizadas com, criatividade e bom senso pelos homens de noyéeios nas pragae ‘mereantis, nos portos, ns mereados fnanceirs. ‘sce Rope 2 | lan ots (s glosadoresfalavam, no século XI, dos nove negotia, cembaragadirimos sobre como poder inseit nos esquemas ‘ordenantes do Corpus ius justniano todos esses casos que, raguele momento, eram “zero-quilmeteo" plo, todos os casos comercinis ede navegagio ~ fervthantes€ invasivosna grande koiné mediterrines, Ma lesestvam cor~ victos ~mesmo tendo de forcar e superar as categorias lis ‘como, porcxom- cas ~de que deveriam aproprinese dessa siqueza consuetud- nia que a potente classe mescantil solicit e apoinva™ Estamos em uma situag20 muito semelhante a deles: uma rikis que continuamente forma insltutos moves e continua mente os supera, massncrando-os 0 eiando noves, em uma ‘corsa earacerizada por uma extrema ropidez. Para essoscriaturas elistcas © mutivels, a codifieagio ‘corte orisca de tomarse um revestimento sigido demas, com 6 llerior sco de um envelhecimento precoce do texto normative e de uma pris que continua a galopar segundo os fates, prescindindo das inadequadas regras autoririas, Atwalment, perante uma transformaco répida e wma complexidade pouco décil esta 30 Cédigo, na minha opi ido, possbilidade dese oferecercomoruma espécie degra se mola, Roots nos falava de um Cédigo dos princi «=, Provavelmente eu eee no estamos muito distantes um. porcine A ‘ice cde europa" purus se oes ne do outro, Acredito que o legisador pretende realizar ui IngerGncia excesiva no mundo mocero através de uma a rogante monopolizagio do fenémeno jurdico; infezment, fazendo isto, também demanstron 9 quanto ¢impotente. O amigo Sehiavone foi prusente a0 canvidar para a ina tguragio do nosso Congresso o respeitabilssimo Presidente dda Camara dos Deputados da Reptblics Italia, Luciano Violante (que, por profsSo, também & um frit} «fi elo aqiente a confissfo que est fez, sobre a lentidio do legslador italiano e sobre a incapacidade deste para corresponder 3s solicitages de uma sociedade civil extremamente complesa, hoje também extremamente complexa no que se reere 20 ‘rescimento ripido da sua organiza tecnolgica. Violate ‘alow pudicamente de lento, eu, com mais brutalidade, ‘mas nio sem motivos,prefio falar de impoténcin Acredito ser necesstio, perante essa realidade alarman- te, repensar o sistema formal das Fontes, também para toms To mais consoante ao projeto © a0 desenho da nossa cata constiucional: erepensarprincpalmente o papel dale qe, ane parece, posta ser o de fomecer algumas molduras rele= ‘antes para 0 desenvolvimento da vida juridia claro que o Bstado nio pode abdicar da fxagto de Ik has fundamentais, mas também é caro que se impe wma Aestogitieagto, abandonanla a desconfiangailuminista do socal ereazando um sutntico pluralism jaridico, onde 08 individuos seam os protagonisasativas da organizacto ju- ridica do mesmo modo que acontoce nas transformagies so- ciais, Somente dessa forma seré possvel preencher 0 fosso {que atualente constatamos com amargura Retomando ao nossa tema dos Céigose,conclsindo 6 sas consideraqBes fais, também & claro que os Céaligos que ‘construiremos seguindo wma linha oparativa desse tipo nio terdo e nem poderio ter 0 valor do Code coil e dos grandes Cédigos do século XIX, vozes constitucionais do Estado smonopolizador, fontes de fontes por serem emanacio da ‘nica potestade nomopoitia, o Parlameato; fontes que for- _malimentecondicionasn todos os gos aplcadores na ing rua pretensio de oferecer um sistema normative tendencialmente exaustivo, Uma dupla descontinnidade delineinse perante 08 nos 08 olhos. Nio existe somente a histéria descontinua que liga esses Cdigos com 0 Antigo Regime. Uma outra descont- rudade delineia-e: a que se encontra entre 0s Cédigos do lanediata futuro ea iin de Cio, assim como essa se afi so no silo das efiazes sugestes uministas. Vv AS MUITAS VIDAS DO JACOBINISMO JURIDICO * (ou seja:a “Carla de Nice” 0 Pojto de *Constitugio Européia”e as satisfies ‘de um historador do diteto) ‘toe tr Gamera tongs) 1.0 pepteaiea do higradr da dt riage cio esin da he gente 2 Umrao dorms ateongo ne Un excrement tdapenavasieadas mansngene do iin rn" rd cmp Lin edad deo eum peo de papel 7. Laas ects Inadoovusco ndaed parce 0 net foo inels 5, Onset rood dimen tad ne eid da "Cros um sl de Snide ovum = 3 eo inc de mega ents monpolnie tint dans policy $acleade beads com stenontnle itn, 11-0 ‘he proto de dena al sue, 10 papel ettico do historiador do dreto no 0 extudioro do direito vigente logo com (© jurist ¢ lguém em busca de ordem, 1m teelso de ‘ordem, ponque oditita é essencialmente ciénca ondenadors; cle esforga-se para identifiare indica as linhas da ordem que seencontram invisiveis, mas reais, abaixo do deserdenado confit das coisas $8 que estas coisas, para o just, nto ‘fo os elomentas da natureza edsmica, um eo-acervo de crs laiscaracterizado por wna substancial imobildade; #0, a0 salutas ~ ol justamenteojacobinismo, que aqui nos interes enquanto fbria de um projetojuvdico. Intoressa-nos por- quem projet deste tipo cancrtizaw-se em um discutso que chogow quaseintato até ns, com uma capacidade extraor- indvin de ter muta vides nos diferentes comextoshisti- cas que se sucederam nos iltimos duzentos anos, diserso que — neste seu perdurare neste seu radica-se em erengas = constitu constitu wn obsticulo para a livre adequacio Ao dieito 208 sinais dos tempos Jacobinismo juridico ~ para compreender o pleno signifi ‘ado desta conferéncia,seré proveitoso partir de ama pre- tissa que esclarega em quis conchisdes essenciais 6 ientificivel a sua mensagem Exist idéia central de um Estado, que tem por vocagio tuansformar a sociedad e modelar 0 pove e que, consequen- temente, € pensedo e desejado como Estado forte, centralizador. Somam-se, ademais, dois comportamentos ‘complementaes: a desconfinga do "socal", em eujo cere circula rastejante um costume que, para a autoridade, € sncontolvel, mas também peemeivel por forgas desviantes (como, por exemplo, os “exeersveis”infaxos eeligiosos); 2 conflang ¢,consesienterente, completo crédito 80 “palit <0" (entendido no morta mais restrito exchsive) que tem ‘or tarefavigite permanentemente a sociedad civil, através dle ima clase de profissionais organizados em uma comun dade ideolagicamente bem fechada (0 partido)” {As conseincis sio pesadisimas mesmo no plano juris dic. A visio érigorosamenteestaait, ou sea, mania, re 7 li ni gu dens ene ene URE, Fat ‘SEGA incon Daa ear See Ron ice Tatiana tah The eck eatin 2d Sade et ocean es cecal ereneoa tid Gheaes Casal scr Meter, nde: CH Beck Ve vendo ua sinico produtor de dieito: o apareho estatal. No centro deste, 2 assembldis das representantes, onipotente, _qve nessa 9 conc ese resume 0 problema da saberania do pora, este line, rediz a serie como coro que, na fundo, aplause, sem nenhuma capacidade operatva diet; ma as sombléia que pretende agirnio 55 em nome do povo, mas, também, no lagar do pove,o qual se enconta completamente desprovido de poderes de controle ede censura Eo dieito se resume 8 le nia fontes que, na preter ‘so jneobina, expressariam a vontade geral: grag 8 sua ge neraldade e abstagio, a leis poderiam obter 0 resultado de ‘uma projegiojuridis compactamenteuniforme, os cidadaes, por se tumo,seriam ~ no plano jusdico ~ considerados to dos abstratamente gua, concebidos como individos abs- tuatos, malgrado as misérias © os grilles das situagSes con cretas em que vivern, (0 Estado jacbino no € nem anénimo, nem nestor 0 melhor, como fonte de civlizacio ede progress, é portador e prinipios', defensor de uma determinada ortodoxia, no pode deixar de tender proclamacio de verdades indisut veis e,consegiientemente, de reas absolutas no pode del- sar de propor.se ~ como se mencionava mais acima ~ come fica laboratério mitoligico, fibrin de conchisdes que de vem ser acreitadas eo erticamente examinadas. 1 Re oe aii dat ps naga tpl eat ome 3 ent et Somer oy 8 4. A *reducio” jacobina da complexidade social [No coragso deste eio de crengas uridica ests vinculo estrito¢ exelusivo ene Estado e vontade geral, entee a vor {ade normativa da Estado, ai, 9 vontede gern: somente 9 primeire pode expressila, somente A segunda 6 concede manifesta Em outros termes, a decidida virada jacobina ~ que no ‘nase improvisadaments, mas recall com fidelidade (ein tensifica) ideais e convigBes que ha tempo iteulavam em todo iuinism juridico’ —d consisténcia hisriea a das escolhas funcamentais, uma conseqigneis da outta: 0 sts do como nico produtorde dicta let como sua inca fre te. Deste mado, toma corpo defini o axioma que imbiliza 25 Fontes do ditto em sma escalahierérquica (axoma que {oi muito bem recebide) e que, substancialmente, desvitaliza todas, menos aquels inserida no primeira e supremo degra, Fstotalidade elegalidade do direto, que positivisma rldico do século XIX reece eapliars com rigor, projetan- do uma clara tendéncia a transformarse em estaolatria € legolatia, com os perveras resultados que se enconiram em toda a histriajuridica madema. A lei vinha a assamir uma ‘virtue, om certo sentido, taumatirgca, Passova a sero nse teumento capa de transformar as desordenadas relagies sais em rograsjridins merocedoras de ser observadas por parte dos sites. Olegislador,sofrendo um processo de fr te iealiengio, apresentavarse como uma espécie de moder ‘no rei Midas, acima das paises humana com o oar cons tantomente voltado & flicidade publica’; ea atengio se des locava, de modo arrscado, do contetido & forma da lei © importante era que 0 to normative proviesse de um deter sminado sujito —aqueleinvestido pelo poder supremo da s0 berania ~ com a nia garantia do respeito 2 um cero pro cesso © a ima adequoda publicidade, 0 elogio da lei consistiasobretudo no elogio da norma, cota e clara, fcando absorvido 0 problema do seu contetdo em uma confiang imitada no legslador, uma confianca que logo se revelaria mal depostada, como tera demonsteado com elogiéncia © 1so € 0 abuso do intrumento legslativo Jeito mio 56 peas dits demacracins burguesas, como tam- bém pels regimes totalitrios do séeulo XX. ‘Tratousse de wma operagio drasticamente redutiva: 0 univers sicio-poitio juriico passava a sor reduzido a dois protagonists, Estado e indviduo, com a amulagdo quase que total da sua complesa avticulagio. Inciava-se a realizagio da grande promesta contida na mais autentica mensagem stuminists; a sociedade passavaa ser eduzida a uma pureza de lnhas. Transferirse'ia para ela a pureza de linhas geo" miétrcas que os novos estucliosos das ciéncins natura cen- tifcavam, dia apés dia, de modo sempre mais evidente, aba xo da emaranhada naturezafisiea, Redugio da velha com plexidade sécio-polticorurica em uma estrutura simples, ‘mais simples possivel,seguida de apressada identiieagio da complexidade como eadtica desordem ¢ da simplicidade cm linearidade e essenclidade. Foresca, deste modo, uma smentalidade que tinh como pana de fundo o horror eo des prezo em relagio a veha complexidade Esquecia-se de um aspecto bastante relevant: aquels com plexidade significava historia viva e cotdianamente viva, signifcava historcidade de prinipios,regras,institugdes, a ova ofdem, por sa vez, astimia sempre mais a figura de tum modelo abstato catapultado na cotidianidade ‘Uma opcio clara parecia guiar © novo modelo jurdico, ‘um modelo que deveriasubordinar @ multformidade da ex- periéncia: generalidade e absteagio.O diseito, justamente por s0rconesbido como abstrat,facilmente se tornava um sste ‘ma tunitéio eeoeronte, espelho e cimento da unidade polit ca do Estado, Tal fendmeno representavs, também, maior risco pata wma dimensio da saciedade naturalmente vvocacionada a uma funcio essencialmonte ordenador 0 sco de tornar-se uma substancal mitificagio, ‘A abstragio ea generalidade das regrs juriicas permiti- am atingir como resultado positivo uma eoerénciaracional, ‘nas conlinham em so risco de vira ser a vulgar “folha de sssexrstnisto comes ES os Figo que oclta as misévias as vergonhas com a5 vais, ine ‘itowelments,&teida a hisieiaeotidiana de um povo;miséri- as. verganhas que continstvam a subsite, ndo obstante © xorcismo epresentada pelos ecificios geométicnsconstuides Sobre as fundagSes de um indiviuoabstrato e de um sueito ‘stataligualmonteabstrato por scr deseado e pensado intacto em zelagio 3s contaminagdes da histviidade facta ire of leitores pode vir a lorescer uma suspeit: quer- se, talvez, rept hoje wm inndmisivel elogio do antigo reg ine prnevolucionstio? Absolutamente no, mesmo porque seria ridiculamente ant-hstérco e consitiria um pecado cultural bastante grave, ainda mais vindo da boea de um os- tudioso da hiséria do dieito (© antigo tegine sistema intimamente estamental,nSo.era 6 politcamente castico, como ex, outros, socialmente percrricdo por grandes ingiidades. Bra, porém, euto de uma tradigio histérica mienar, entamente sedimentada através ‘do costume ~ 0 uso imemorive -, poderoso instrumento de decantagio e de assimilgio. Tratava-se de uma sociedade desigual em que cada um tina o se hago, profandamente pervers, diga-se, porquanto previa a existéncia do nabre e do plebe, do rico e do pobre ~ porque, enfin, pobre era nesta previsto como pobre. CCombuco, nesta previo impiedose,existia a contempla- io desencantada de um sujeito de carne e ass, wm sujlto que a conscnciacoetiva contemplava como tale, desta fe 1, incluia-o no vente da socedade, providenciando alguma tutela clomentar mesmo que seguramente insuficiente, Os privilesia pauperur, bem conhecids dos histriadones doc tito, s80 0 resultado joriico desta contemplagso, Pouco, ‘nil pouco, para lava a mancha de wma niga eadigto essencial que permanece, mas talvezalguma coisa a mas do que aqua proviso de somente projetosabstatos, por sorte todas iguas, mas iguaiswnicomente em uum mundo teéico ieresl,em que no exstiam vestigios do pobee, como se por ‘encanto ~ tvessem sido apagadas as miseras condigdes © as privagdes da sua vida cotidiana Quando, logo apés 0 deflagrar da Revolgfo,o inglés Edmund Buske eserevew algumas piginas polémicas que se tomaram famosas, contra os eventos © projelos que amar ureciam em Pars’, 8s vezes as suas avaliagBes foram 20 cenconto de uma uniateralidade partdarista, © que 88 tot ‘ava mut diseutiveis mas, certamente 6 inegave seu acet= to quanto estigmatizagio enorme redngio da complexi- dade hstriea que se estava reaizando por de tis da opg80 pela abstracio. Br, de fato, uma rejegSo global de tado 0 pastado, mas também da riqueza que podeva estar contida fem sua eventual heranga; era aleangae uma meta falaz, que 2 simplicidade cativante do novo projeto exorcizava 86 ominalmente atualidade da vida social 7 Ferme pein te eatin Fri Ono Ord acy es oe Boman ue nee oom at 5. A-*Catta de Nice” como a sltima “carta” de direitos Todo esse reducionismo - que antes de tudo é jusnaturalista e posteriormente iluminista, para depois tencarar de modo particularmente intenso no projeto Jncobino e chogar bastante intacto até ontem ~ deve estar bem presente como premissa de um discurso que quer ava~ liar a “Carta dos direitos fundamentais da Uniao Européia” aprovada no final de 2000 pelo Parlamento Europes e pels CComissio, subserita¢ proclamada na sessio de Nic, de 7 de dezembro de 2000, por parte dos respectivos Presidentes, ce que se tornou, agora, parte intoprante do projeto de Cons Lituigho Européia, ‘Tentaremos explicar bem a rlagdo, ou melhor, a estreta cameo qe hé poco fot indica, A-*Carta de Nice” 6 wma “east: afirmagio dbvia que quer, entretant,salientar a artiiialidade de ma redagio dominada pela idéi-condutors que se fundamenta na pos- sSibilidade e na oportunidade de identificar algumas situa es subjetivasessenciais por parte de uma Comisso de es pecialistas revstida de poderes demitingicos: com o sco de uma provavel separaglo entre refinado peojetoelaborada por intelectuais de grande porte 28 que floresceram na experiénca cotidiana da vida hist as aspirages, as exiginei- cada Unido. Em outtas palavras, isco & de uma separagio forte entre uma catalogacio teoricamente prezsvel (¢, por ss, imével) eo context histrica, A cinicasalvagho que se deve objtivamente salienta, ow Sei, 0 nic pancho ao contexto, consis na repo ~ fits pela Comisssoredatoradediversasaquisgbesrealizadas pelo Tribunal de justia da Unido, quando este timo ~ empiri ceamente —aproveitand as ocasiesoferecidas pelos casos ine ividualoentelevados a sun aenglo, mas fszerdo refeéncia constant as “trades canstitcionais comuns”, chegou, passo apes passo, no sulco de uma experincia viva, & identificagao judi dos diets. ‘A opto por uma “Carta” reproduz hoje a vel descon- Fang shministae jaccbina em relago ao estamento dos jue tists e a0 juz apicader, assim como a velha confianga na politica”, 0 velho eto da artodoxia que somente um texto «em um pedago de papel pode plonamente garantir. Mas com ‘6m roforgar que o Tribunal, sablamente, jf havia tagado a tsteada mest, sem proclamagies e enfatizagoes, na kuumil- dace de contato imedito com 0 ditto viv. CContemsplando 0 passado de uma caplaee efcaz cons tag Jentamente edifcada, mas se projtando também em izogio ao presente ea0 futuro, um inleracionaisa-comen> farista do valoe de Antonio Tizzano, em wma recentssina ceasifo congressual da qual participsvamos, no tergirversou, 0 sntetizar através de claras nolas 0 seu pensamento com lum trocaditho eficazmente feliz: “mais Corte do que Car 12°, quetendo, por um lado, salientar grande papel de- sempenhago pelo supremo drgio judicieio comunitirio @ também a substancil eIntente contibuigso d parte dura doura da “Carta peetendendo, por outro, expressar 0 pe sar pelo fato de que no se continuasse na estrada ~ nem. ipida, nem vistosa, mas segura e bem fandamentada ~ de sama fhagojudicira dos direitos COptowse, a0 contrério, por uma "Carta", © que nos relangon a tradigio jusnaturaistae do século XVI Tanto & verade que este docsmento de Nice nos fi proposto como 0 iilimo elo de uma plurissecular cadeia, Com uma ponta Aeclaradarsentepokimica, quisemas chara, em recente fe- flex sobre ela, a “slime Carta de dzeitos”, uma qualific ‘80 que, parecendo-ns absolutamente apropriad, reprodux -imos a0 inital ete pit" 6. A ilusio de uma reducSo do direito em um pedaco de papel A redugio do dzeto ey “Cartas” em fexos~enfim —em pedacos de papel, &aspecto peculiar da histéria do dreto sodemo no set momento de plena maturidade. emer intd a —— Heed cee See ccccnrom Se iearemnene teres et de pin Poor 1 também uma suprema shasio, a ser entendida sob a fide de um comportamento otimista e, 20 mesmo tempo, pessimista. Expressa a contianga em poder fixar ~talver 0 tomar-se juridico. Expressa a desconfianga 1a formagio espontinea do dieeito, com a conseqienteexi- para sempre s@ncia de que sja contolado pela “politica”, ox ~ até mes- mo -, de que sea monopatizado pelo Estado, Como jédis- semas, ¢ conwém aqui repetir, por um lado se trata de um redlucionismo ingénuo e pretensioso, por outro, de pritica sabiamente estatigica, que encontrou na vor jacobina sua ‘expresso mais Kimpida e eid © Cadigo, os Cédigas, com o qual constelada a Wade ‘Moderna a partie des primeiras anos do séeulo XIX, so a _manifestagio mais plena de tal mania redutiva. Too odire- to pode e deve ser reduzido as piginas de tim sucinto Hive ‘ho, aprisionado em uma rede de regrinhas chamadas art- 0s (ou pargrafos), em que clarament sf fxadosprinepi- ‘ ecomandos to odieito, mesmo oditeito vil que orde- ‘a a vida cotdiana dos privados, No ano 200, a nossa "Casta de Nice” tamisém senses nesta linha. Esta ensjeces o patriménia vivo que provinka dda expevitnein do Tribunal, imobilizou-o como que numa ‘atalogagio, emperot-o com abstragio, fxando-o em una Declaragio, Mas oconjunto des direitos fundamentais— para © sueito— no uma decoragio extema, é ao contetio, go rantia essenca ou sea, vivida na lita colina © que se tomou tutela efetiva. Fem suma, © exercfcio que o torna Positivo e palpével. Conseqientemente, é natural que, na histéria da Unito, Fosse justamente no momento de aplicae ‘este conjunto que surgisse tal problema, que dele se decuzis- st a sua fxagio, som fosilizé-o mas, a0 contri, estando plenamentedispontvel pary revises, acréscimos,intensif cages, como & proprio da floxivel prixis ui AApés a Cipula de Teselinic, 3 “Carta” fo inserida mam, projeto de carta constitacional mais vaso, entetanta ma, pergunta se impe: a "Carta" est em sintonia conn as tradi= ‘es constitucionascomns, em elagio a quais 0 Tribunal de Justigativera tio prezivel sensiblidade? Ow se corre 0 risco de termos uma separagio entre Consituigfo formal & Constituigko material da Europa? ‘Acteitamos que ainda hoje se deva levar em considers ‘Glo @ advertincia, vetha, mas ndo envelhecida, que Santi Romano, quase cem anos ats, consideravae no dever de fazer a respoito das primeiras carta constitucionais, Uma adverténcs, mas também ta diatribe casts o comport mento aero, de baixa apologéica da absoluta maioria dos constituconalistas, seguramente ancorada na deferéncia @ Ingares comuns. Aos olhos demitficadores do geande jurists selano, esss se apresentavam mais como simples “enunei- aes, simples “indices além de tudo nfo completa, de wn digo inginitamente mais ample", oando no “catecsmos” 28 serem postas A veneragio publics. Emergia forte, deste FTRORAR Gil ia mer la Sas ‘mexlo, o problema de elaionamento ente estas pants que floressinm e o continente submerso que a6 mesmas pontas deixavam privado © mal entrevista 7. Eo seu caracterstco individualism: 0 individuo como indubitivel protagonista Também em tim outro aspeeto, a "Casta de Nice” mostra sua herang iluministae ipica do séeulo XVIII no carate= istic individuaiamo que a domina. No texto se faz mengio 9 indivdo, com tim estribitho monotonamente rcorrente: “Todo individvo(..)"® Nao fagamos, no entanto, quastes ‘ominalstas, até porgue a terminologia no & a mesma nas redagis das vivias lnguas (0 aspecta individualist toma-se evidente pelo modo de ‘conceber 0 sujito em exame, Tatas, claramente, de um, Individuo iolado, presente de wm modo vigoraso em todas 8 “Cartas” dos séelos XVII e XIX. Um individue abstato, uj adjetivo& portador perfito do preciso significado cont- do na expresso latina abs-tracts, ou sea, extrafdo do seu contexto hisirio,isolado da sua carmalidade histvica re- presentada sobretudo pela sua sociabilidade “Um homem abstrato, que no exista om mentum gar’ segundo 0 profundo esclarecimento fornecide por Hanah, Arend”. Um homem de pouca humanidade, uma espécie Fate es ig Ge “Ces “Op a.) Ob Ta. "Sin en tr Ml es de robd que existe somente naquele paraiso artificial jusnatualista ~nem céu, nem terra, mas ruvem Rshsante — ‘um individuo ~om sua ~ sem tera sem oS, ‘Um individuo que nao ¢ pessoa, jf que pata se ter uma “pessoa” & necessieo que esta se encontre inserida em im feixe de elagies, que sj um sijelo que se relaciona coms ou tes, suetocomuitario por ser vocacionado 3 familia, grea Joel e universal, corporagio e também ao sndcat, 30 par tido, 4 comunidade politica local, nacional intemacional Ete individu, que encontrao prio cha entre as o- bras da modemidade, érelidade anda, qualitativamente anénima, marcado prevalentemente por um apéndice que & ‘extern acl masque the forneceuma insubstitavel nkegrag50, Insinuando-se na sua identdade e desempenhando, deste ‘modo, um papel exorbiante e desnatralizador ~ exotamente esnatualizador por ser exorbitante = ou sea, 0 tr. A dicotomia fundamental sobre a qual se artical a civil ago lorguesn, que toma vulto sempre mais definido com 0 progreir da ordem econdmica capitalists, basein-se na dis- lingio entre quem tem e quem nfo tem, Para a cvilizagio do ter, isto basta, porque tanto mais se é, quanto mais se fem, com uma mescla © quase fusto entre das dimensées que, por si mesmas,sio tio distantes. propriedade nio € so- mente fonte de riquera, de bemvestar © também de pages sofre uma elovagio nunea antes conhecida, entia de modo prepotente no euidadeso campo da moral, tomnase até mes- ‘mo instrumento de edificago, saralizandose. Vern & men ‘te, em um primero momento o genial, ainda que unateral, ‘ensalo weberiano sobre o exo entre ética protestantee eps sito capitalist’, Mas, para mim, juista, também a descon- tartan introduto que o evista fants do séeuo XDX Jean Baptista Proudhon, elabora para a sua obra extremamente twenica~0 Trité du domaine de propriété-,em que propricd {dee virude so indissoluvelmente igadas io seri, contudo, a maior on menor quantidade de patrimeinio que tars menos anim 0 sets, malrad 08 csforgas da maliplice reflexto buses (floss, poiica, jiridica) O individuo & ¢ permaneceespintalmentee soci: mente andnimo. B este o protagonist da “Carta de Nice”, mes mo que frmalmente despide do peso patron, ‘Surge, eno, uma suspeita legtima: que este documento do ano 2000 here ¢ reproduza com fdelidade a dimensio econ’ rica que seguramente era elemento relevane (as nb 0 in portamento que nao se esgota no projeto utépico do sduminismo poliic-juridico ena imediagio da fogueia re- volucionsria. Trata-se de uma constante de pensamento & de ago, de enunciagbes erie ¢ comandos legislativos que 1m suas préprias rzes na mais genusna mitologia indivi dualista,E portanto, tadigio de dificil extingo, que se vin

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