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PCE Te UTA Cr ES da LINGUISTICA CASE OU CCE eeu cli) ee eet ey recone tera een re ceteris ee ee ey eer ener ee reer Parr ere er: ee er ee eee ee ee Coreen enn ecient et ram responder uma necessidade rica: dar uma visdo ample Semen errr rs ee ee re tee eee ee eee a Ce ee ret een wr eee ae ed leanne eiperen peta pester se ener Fe et Tae ee eee) Serica os See ee en cre ene ace ay See eet tet oo & {iil As grandes teorias da Lingiiistica Curae eet orca Hepes paises Marie-Anne PAVEAU eta Georges-Elia SARFATI AS GRANDES TEORIAS DA LINGUISTIC: rel da gramética comparada & pragmédtica ee tru ; Equipe de Tradugio: pe ape Rositio Gregolin coord.) Vanice Sargentini, Cleudemar Femandes mento Carlos Piovezani Filho, Luzmara Cursino, Nilton Milanez 2006 ‘Titulo original: Les grandes théories de la linguistique ‘Armand Colin/VUEF, 2003, Coordenagio Editorial Exitora Claraluz Diagramagio / Revi Maira Valencise Elaboragio de Capa { A Sylviane Deze Dez Multimeios “O passo mais dificil no estudo da Jinguagem é 0 primeiro” (Leonard Impress e Acabamento Bloomfield), Suprema Gritica ( Para Claudine “A linguistica conduz ao mais belo resultado de toda ciéncia, que é 0 de Vigarao grande todo a partes Ficha Catalgrifcaelaborads pla Biblioteca doICMCUSP aparentemente mais fragmentias” P272g Paveau, Marie-Anne. t (Gaston Pairs). ‘As grandes terias da linguistic : da gramtica compara- dda. pragmatica / Marie-Anne Paveau, Georges-Elia Sarfati; ‘Trad. MR. Gregolin etal. - S4o Carlos: Claraluz, 2006, 272 p.;26em. ISBN 85-88638-13-4 1. Linguistica ~ Século XX. 2. LingUstica~ Teoria. 3. Linguistica Aspectos epistemol6gicos. I. Sarfati, Georges-Elia I. Gregolin, Maria do Rosso, tad, IL. Sargentini, Vanice Oliveira, tad, IV, Fernandes, Cleudemar Alves, trad. ¥, Titulo, © Editora Claraluz ‘Rua Rafael de Abreu Sampaio Vidal, 1217 ‘Si Carlos ~ SP 13560-390 Fone/Fax (16) 33748332 ‘www.editoraclaraluz.com.br SUMARIO Introdugio 7 Capitulo A gramatica comparada Capinlo2 A evolugio da gramitica comparada 25 Capitulo 3A recepgo francesa da gramitica comparada 43 Capitulo 4K de Saussure: a teorizagio da lingtiistica moderna 63 Capitulo 5A recepgao franc6fona do CLG: estruturalismos 85 Capitulo 6 Os estruturalismos funcionais 15 Capitulo 7 As teorias funcionalistas 135 Capitulo 8 Formalismos: do descritivismo ao gerativismo 147 Capitulo 9 As lingiisticas enunciativas 3 Capitulo 10 As lingiiisticas discursivas 191 Capitulo 11. As teorias pragmaticas as| Conclusio Py Bibliografia 200] indice de autores 261 indice 265 INTRODUCAO, Segundo as representagies usuais, a lingisica nasceu com Saussure e 0 Curso de lingsticageral (CLG). Essa posigo define 2 doxa da disciplina conferindo- the, ao mesmo tempo, sua sparentc homogeneidade mas também limites frequentemente restitivos Neste livro,tentamos, de nossa part, primeiro dar uma visio eoerente das concepgoes linguisticas do século XIX que integre as prinipais cesuras te6ricas por meio das quai, a partir deento,reunem-se as condigBes de desepvolvimento ulterior da cigncia da linguagem do séeulo XX. Com efit, 2 apresentagio das grandes etapas do pensamento lingistico entre 1800 1900 possibilita uma melhor compreensio das, conceituagées contemporneas. E por isso que esta obra pretende ser um panorama das teoraslinghistias, desde a gramitica comparada (a partir do século XIX) até 0s {questionamentos tedricos mais recentes. Esta obra procura responder a uma tiple exig&ncia: pedagéica, histrica © epistemoldgica. __ Uma exigéncia pedagdgica: 0 livro prope aos estudantes de ciéncias| hhumanas, mas também aos seus profesores, a primeira simtese global das grandes teorias lingifstcas apoiada na mobilizagio dos grandes quadros conceituais que balizam a formagio da disciplina. Isso implica certas escolhas por parte dos autores, cujocsforgo de esclarecimento no visa a uma resttuiglo exaustiva dos conhecimentos teéricos, mas prioitariamente uma melhor transmissio dos saberes lingtisticos; ‘Uma exigénea historia: trata-se de da ao leitor uma visio de conjunto, geral ¢ dinmica, que evite, 0 quanto possivel, os posicionamentos redutores dogmaticos;, Uma exigéncia epistemoligica: esta obra pretende contribuir para uma ‘melhor compreensio da dseipina linguistica, de suas fundagGes, de seus bastdores te6ricos e de sua evolugoes. Esta obra comporta onze capitulos, construidos e organizados segundo uma perspectiva que responde, tanto quanto possivel, # uma progressao histérica ‘rcocupada em resi as filiages. Em cada caso, nosso interesse fundamental fi 0 de respeitar, ao mesmo tempo, a singularidade das teorias e suas determinagBes conceituais¢ histéricas. capitulo 1 expe, em suas principais aticulagées, as condighes as quais a cemergéncia da gramética comparada continua indissoluvelmente ligada, nos dois ‘grandes momentos do primeito comparatismo (essencialmente morfoldgico) ede sua versio historicsta, instaurando, a partir desse momento, as perspectivas do desenvolvimento da lngbistca ‘capitulo 2 toma como principais objetos os temas da reagdo neogramstica aos excessos do comparatismo especulativo das origens. Ele evoca com preciso a nova orientagao tebrica ~notadamente ligada 3 elaboragio, assim como critica, do ‘conceito de lei fonética ~ fnaliza com a exposigio da reflexio inovadora de Whitney. ‘O-capitulo 3 privilegia as perspectivas segundo as quais a escola lingistica francesa, pouco pouco, fez suas as interrogagies formuladas em outros paises. quer se tratem da construgdo de domiaios especitios (romanisticos, dalectolgicos), da emergéncia de orientagdestesreas até entio inéditas(paricularmente as teorias da semantca nascent), ou ainda da singulardade de uma eflexdo fundamental tocante as condigdes de uma ciacia da linguagem (Henry) ~ tanto quanto de momentos eruciais que acompanham as elaboragbes do primero modelo lingistico completo (eile. © capitulo 4 considera 2 dimensio da ruptura térica promovids pelo pensamento de Saussure a partir das conceituagdesdistntvas dos ensinamentos do Curso de Linistica Geral: desde acaractrizayi de um método prio no qual se desenvolve a autonomizagio da ingstie até formula das divisbstericas eda concepsio sistematica de seu objeto, lingua © capitulo §analisa © CLG, visto agora da perspectiva da posterdade, ou Seja,avaliado a partir de suas incidéncias sobre tés pensamentos linguistios que renvindicam explitamentadenominagdo de “estuturlista-E 0 caso respecivamente «a alterativaaberta pea estilistica (Bally), ou, mais fielmente avez, de duas outas imterpretagdes que constituem a psicomecdnica (Guillaume) e &sintaxe estrutural (Teste O capitulo 6 expse, com detae, a implicagdes da interpreta estrtual- funcionalsta do CLG: desde a comtibuigé fundadora do Circulo de Praga (marcada pelos trabalhos de Troubetskot¢ Jakobson). até as eonceituagoes, decisvas para a semistica, do Cieulo de Copenhague eins). © eapitulo 7 especitica as lias da letura funcionalista da contibuigio saussureana. Ele mostra notadamente a particularidade de uma orientagao que, ‘ordenadaa partir do mesmo ponto de prtida, diversifica-segraga tres tenativas de reconstrugio da cigncia ingistca (Martine, Halliday, Jakobson). © capitulo 8 expaeas prncipais opie tesricas da interpreta formalist, marcando segundo quais linhas de progressio os prineipais protagonisas desta ‘orienta situam-se em relago so postulado dinimico (Bloomfield, Haris, ike, Gros, Chomsky) O capitulo 9 intiramenteconsagrado as teorizagbes que, provindas de Bally ede Bakhtin, tentam pensar as mecanismos da discursivizago,abrindo areflexio linguistca a probiemitica da enunciagdo, integrando, segundo Enfases diversas, a questo das regulagdes do discuso e do lugar que nele ocupa o sujetofalante Benveniste, Dueot, Cull). (capitulo 10 dencia, com precisio posivl, um dominio no qual ciéncia da inguagem tena utrpassaros limites de uma lingistia resttasmente aos obetos rorfossintiicos. TEs importantes linha de pesquisa respondem a esta exigencia, ‘cada uma aseu modo, com um programa tesrco orginal: alingustca textual (Adam), a andlise do diseuso (Maingueneau), a semintica de textos (Raster © capitulo 11 considera a originaldade da peespecivapragmtica sob vtios pontos de vista: sua origem filosfica (Austin, Grice), sua relagdo com a retGrica contemporinea (Perelman), sua contribuigdo & lingistica (Duero), ou ainda sua ‘etomada sob a 6tica cognitvista (Sperber Wilson), enfim da generalizagio de suas abordagens no quadro de uma semistica compreensiva (Escola de Palo Alto) Capitulo 1 A gramatica comparada 1 AS ORIGENS Esta denominagio consagrada pelo uso designa tradicionalmente os desenvolvimentos da lingiistca durante o século XIX, especificamente no , periodo que vai de 1810 a 1875 Elarecobre, de fato, dois miomentos distintos da disciplina que, para defini suas especificidades, convém expé-los separadamente. Estritamente falando, 4 gramatica comparada conceme tanto a um dominio de estudos quanto a uma ‘rientagdo da lingtistica que consistiu em estabelecer as igagGes de parentesco existentes entre dois ou varios idiomas separados no tempo e, mais freqiientemente, no espago. Foi somente a partir de 1860, aproximadamente, que @ gramética comparada orientou-se para a lingiistica histérica, com 0 programa explicitode reconstituir com detalhe o intervalo eas linhas de evolugao, inacessiveis, que, em principio, ligam numa relagao de dependéncia (ou de filiagio”) uma lingua B — atual ou tardiva ~ a uma lingua A que Ihe é cronologicamente ¢ culturalmente anterior. LLAimpulsio ‘A abertura do que serd o principal canteiro cientifico do século XIX em rmatéria de reflexo e de pesquisa sobre a linguagem e sobre as linguas & atribuida a “descoberta” da lingua brahmi (sinscrito) por eruditos e tradutores ingleses, no final do século XVI |W. Jones (1746 — 1794), promotor da Sociedade Asidtica (1784) einiciador dos estudos sobre o sinscrito, destaca a importincia dessa descoberta. Ele, sm efeito, evidenciou 0 fato de que o sinscrito, olatim e o grego apresentam finidades tanto nas raizes dos verbos quanto nas formas gramaticais, que ‘nao podiam ser atribuidas somente ao acaso; afinidades tais que nenhum fil6logo saberia thes examinar, mesmo superficialmente, sem ser convencido de que essas linguas derivam de uma origem comum, que talvez. nem exista mais (apud LYONS, 1970, p. 22) Essa mesma constatagao, recuperada por numerosos estudiosos, esté na corigem de um desenvolvimento imprevisivel dos conhecimentos'sobre a linguagem e a formagao de linguas. 1.2. Os precedentes Embora andlise de semelhanga (snscrto/grego/latim)tenha sido decisiva para a abertura de um setoreientifico imenso ~ 0 dominio dos estudos indo- cconvém lembrar que o tipo de curiosidade intelectual suscitado por esse dominio ndo foi nem o tnico nem o primeiro em seu género. No decottet dos séculos XVI e XVIII, com efeito, virias iniciativas tao notéveis quanto ambiciosas jf haviam sido eoncebidas e lograram resultados consideraveis. A perspectiva comparatista despertara a atengao de certos gramaticos; pot exemplo, H. W. Ludolf (1624 ~ 1704) provou de maneira conclusiva a proximidade e a continuidade existente entre o etiope e o amharique. G. W. Leibniz (1646 1716), paralelamente a seus trabalhos de matemitico, encorajou 4 constituigdo de uma vasta enciclopédia de linguas faladas nas fronteiras do Império Russo. Essas iniciativas, bastante diferentes, mas parcialmente plenas do novo espitito enciclopédico, definiam, com uma certa ordem, orientagoes ‘minuciosas de pesquisa. A idéia segundo a qual existriam ligagGies histicas entre diferentes grupos de linguas advém, muito mais, é verdade, da intuigao que da certeza cientfica rigorosamente fundada. Mas algumas observagoes Préticas ja estfo formuladas, e por mais que nao se possa falar propriamente ‘de um programa de pesquisa, os intelectuais de eno dispsem de provas iniciais tangiveise, sobretudo, de um verdadero horizonte de trabalho. Novas iniciativas Juntam-se as primeiras. Em 1756, A. Turgot redige para a Encyclopédie! um artigo fundamental (“Etimologia”) que seri objeto de reflexio para os primeiros ‘comparatistas (em particular odinamarqués R. Rask). Olinguista J.C Adelung (1732 ~ 1806) ~ eujo Dictionnaire? assim como os trabalhos de gramética contribuem para a normatizagao da lingua aleusi ~ pretend redigin, de um ‘outro ponto de vista, um tratado completo das linguas entao conhecidas.A obra initulada Michridates (em referéncia ao soberano poliglota da antiguidade grega) € lancada postumamente, mas inacabada, jé que sew autor nao pode Uultrapassar o tratamento das linguas asiticas. O empreendimento de Adelung deve ser aqui mencionado em razio da idéia que essa conduta inspira, Na falta de umaparelho filol6gico sufcientementeestavel ~em fungao da insuficigncia do saber filoldgico de seu tempo —0 autor fundamenta-se engenhosamente no Leritério empirico da proximidade geogrifica das linguas descritas para sustentar a hip6tese de seu provavel parentesco. Na mesma época, P. S. Pallas (1741 — 1811) publica em Sio Petersburgo, em latim, um Vocabulaire comparé des langues du monde (1786 — 1789), Fundamentando-se nessa obra, da qual ele prope uma andlise aprofundada, C. J. Kraus afirma que a coniribuigdo de Pallas constitu’ uma orientagao muito confidvel. Para fazer progredit sensivelmente a ciéncia das linguas, ele continuaré a aprofundar a pesquisa sobre a repartigao geogrifica da linguas,interessando-se também, de maneira detalhada, pela sua organizaeao fonétca, morfol6gica, semantica. Lembramos {que & nesse ponto da histria que intervém a descoberta do sinscrito (1784) INT: Trata-se da enciclopédia francesa intitulada Encyclopédie ou Dictionnaire Raizonné des Seiences, des Arts et des Métirs de Diderot ede D’Alembert (1756). 2 ADELUNG J.C, Ditionnaire grammatial et ertique, Leivig, 1774 -1786, 5 vol © comego dos estudos indo-europeus. Antes de considerar as grandes etapas dessa disciplina, é necessério precisar que o estudo dos parentescos linguisticos foi, primeiramente, devido aos linguistas que trabalhavam fora do dominio indo- ceuropeu, tais como: P. Sanovies, autor de uma Démonstration que le hongrois et le lapon sont une seule et méme langue (1770), ou 8. Gyamathi, autor de uma Démonstration de laffinité linguistique du hongrois et du finnois (1799), 1.3.0 método comparativo ‘Como destaca G Bergougnioux: A ingistca constitui-se como cineia a partir da momento no qual a descrigio {de uma lingua (sua forma fonética, sua organizagio sintatica, seu semantismo) ‘io foi mais efetuada por uma andlise interna, imanente, mas pela comparaca0 ‘com diferentes linguas. (1994, p 123) ‘O-comparativismo lingUfstico, assim definido em seu principio, pode ser resumido a duas orientagGes fundamentais.A parti da constatagdo da analogia notével indicada pela aproximagao do sinserito, do latim e do grego (num primeiro momento) e depois do snscrito com um grande nimero de linguas, européias (antigas e modernas),(os primeiros comparatistas levantaram a hipotese de que existia entre estas lingnas diferentes tipos de afinidades " (parentesco”) as quais era preciso verificar segundo as seguintes perspectivas — de que as linguas (da India & Escandinivia) sio procedentes por “heranga” das ransformagées de uma mesma lingua-tronco (“oindo-europeu”)

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