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if ate: 8: 77 : Ades 4 14) ANOS 1850: VARNHAGEN O elogio da colonizagao portuguesa mhagen, “Herédoto do Brasil” Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-78) é considerado 0 “H,_ 0 brasileiro”, portanto, o fundador da histéria do Brasil, mesn,, antes dele, entre outros, Pero de Magalhies Gindavo, frei Vicer,, Salvador, Sebastiéo da Rocha Pita, Robert Southey esereveram, ry. vamente, Histéria da provincia de Santa Cruz (1576), Historia 4, il (1627), Historia da América portuguesa (1730), Histéria do Bray 1810). Southey disputa com Varnhagen, sem nunca ter estado il, aquele titulo historiogrifico, Ele pintou em sua Histéria do By, um quadro sombrio quanto as possibilidades fururas da colonizag, lercial portuguesa no Brasil: degencragio dos costumes, da religi, moral, causada pela escravidio € pela falta de agricultura — mix, fome, turbuléncias, crimes, doengas. Varnhagen € 0s nativistas ¢ IB se revoltaram contra esta apreciagio negativa de Southey em », § colonizagao portuguesa ¢ ao futuro da jovem nagao. Para este, lonizagio portuguesa teria sido um enorme feito, ¢ © futuro est, to ao sucesso da nova nacio (Dias, 1974:237). Foi somente nos anos 1850, com Varnhagen, que surgitt & oby t6ria do Brasil independente mais completa, confidvel, docume, critica, com posigées explicitas: a Méstéria geral do Brasil, que s 4s obras mencionadas anceriormenye sem, no entanto, torné-h, Wvels. A sua Histéria geral do Brdsit refletia uma preocupaci, tno Brasil com a histéria, com a dotumentagio sobte 0 passag If, que o recém-fundado Insticuto Histérico ¢ Geogrifico Bras, sentava. A Histéria geral do Brasil foi possivel pOrque as con histéricas do Brasil, 0 processo da independéncia politica ¢ ; Icio do Estado nacional amadureceram nos anos 1850. E fi 24 [AS WDENTIDADES OO. Biiiieerior dease procesto sede que Overt outta condigio favo- jvel ao surgimento da obra de Vamhagsn: & institucionalizagio da re- flexao ¢ da pesquisa historicas no IHGB. A independéncia politica con- solidada, ¢ reprimidas as luras ineernas geradas por ela, o Brasil possuls fim perfil do qual ainda nao romana gonhecimento. Nos anos 1850, Vacnhagen desenhard 0 perfil do Brasil independente, ofereceré 4 nova agéo um passado, a partir do qual claborard um fururo Varnhagen era filho de um oficial aleméo, engenheiro metalirgi- Baal, € de uma portuguest, Em sua obras ele faz facompanhar o seu niome das ‘qedenciais “visconde do Porto Seguro & Thatural de Sorocaba”. Entretantoy cst paulista nobre morou pouco PO Brasil. Ele residiu em Portugal desde os s=i8 200 de idade. Sua forma- «ao, em Lisboa, foi mais militar wecaiea e marematica, Mas esrudou Também paleografia, diplomética ¢ ‘economia politica. Comhece-se pour co, no entanto, da sua formagio intelectual. O que se sabe € que apre- Chava frequentar os arquivos dos lugatcs Pt ‘onde passava, 08 arquivos pidblicos, essa novidade do *sealo XIX. Capistrano de Abreu afirms no 'Neeroligio de Varnhagen que © deaconhecido o atrata. Diante de doc ‘mentos corroidos, esquecidos, ddesorganizados, cle se sentia desafiado. Parecia um “bandelrance em busca da verdade: bravo, destemido, persis: rare vigoroso", Embora renha tido alguns formagio cm paleografia € ton diplomatic, quanto 3 hiscéra cle er. obretudo um autodidata. Ra- Gcangeiros em sua cortespondéncin afm A. Ce edo com a esegese documenta paFeee VE 0 sets pensamento co que trabalhara no ramente cita autores es ppabrava, mas a sila PreocuP ee influtncia de Ranke. Avinflutads alert sobr Har eg Gore sambémn. em viruade de sit One parerna. Ele estava Te adaptado a producio histrica de sua “pot Nao s6 estavg atuali- pioneixos’da pes ado como que se fazia na Europa, come foi um dos Yo método critico que o século XIX redescobriu ¢ Mn anke, Varnhagen € um historiador pico do Gquisa arquivistica © aprimorou. Tanto av século XIX (Canabrava, 1971; Odilia, 1979). Fle pode ser considerado, de fare, 0 “Plerédoro do Brasil”, pols angeiros, onde foi o inicador da pesquisa metédiea nos ara str Grcontrou e elabordt intimerot documentos felativos 20 Brasil. Tendo prado sempre no exterior se sencia Um txilado, dominado que sem pre esteve pla studade clo Brac, Capistrano, ainda no Neerolégie, © Considers gagide por om patiotismo profundo, quando s© empenhou ANOS 1850; VARNHAGEN, 25 obstinadamente na i periopieniens bni da histéria patria, uma histéria complet: a. todo lugar em que en tri, dew dened hoe Slane rien tas ip cienine. Aiea Gao ceae sing ere a Balch I otolmbnaibeeer i a cecal . rrasileiro, Ele quis pio, ge he pris dae ee gue he gaan dade. Aristocrata, 0 viscon- a le profunda fidel cee Is rugs dees pe sans ated Se |. contra d. Mi- guel. Seu ai e mor pelo Brasil i dade a familia real ay ey portanto, com a sua fideli- foe saa iy Gar eeralce» ae eae |, € a representou em diversos paises da América Lati Témbia, Equador, een een eal ndinecs Ge apis a sua morte, foi enero Renn Renee ae plilens ¢ sir entinecivozern GatdenbaclOddiesI9T).ONT sey GI Varnhagen, o Instituto Hi Me ito Histori if Brasileiro (IHGB) e Karl Pl meant raaiees O imperador foi bases fo 0 proetor de Vamhagen,ofecendorhe o ico, _aue fi de ums impor cpl ae eee Bots been. ‘Acé 1931-33, 0 IHGB exercerd uma ace é me nen eas historicos do Brasil. O pees ee ee eas Suet eS ee rene a be Bee guna no passdb referencias emt hia me re ae ah he eee ce eee k en uma histéria biografica, onic er 26 [AS IDENTIOADES 00 BRASH © novo pals precisava reconecer-se geogrifica « hristoricamente. 0 projeto do IHGB era geogréficn ¢ histérico. ‘Geogrifico, teria a tare Fr de sitwar as cidades, vila, Tios seas, portos, planicies de conhecer € ngpandecer a naurcza braieira su cu cima, mat riquezas mine- lefinir os limites do territério. Historic, deveria tals, flora ¢ fauna; de ds Memizar os fatos memoriveis da patria ¢ salvar do ‘esquecimento 08 N0- srr ox seus melhores filhos. Para isso; deveria coletar ¢ publicar 0s do- mre enoe reerantes para 2 historia do Brasil, incentiat 08 ‘studs his- téticos, manter felagGes com as instituigoes conggnetes do exterior, espe- veflantnre com a instiuigSo que foi o eeu rmodelo, 0 Institut Historique SF paris, Desde entio, 0. Brasil procurow o¢ franceses 20h referencia frrelectual. © THGB seré o lugar privilegiado da produgio histériea du- tanee o século XIX, lugar que condicionard as reconstrugées historicas, te interpretagbes, as visbes do Brasil ¢ da questéo nacional. A Fy independente, portanto, precisava da histris ¢ dos histo- adores para se oferecer uum passado ¢ abri-s¢ fre fucuro, © primeiro sor ¢ Fandamental,cuja ida surgi no scio da Sociedade Auxiliadora a scatia Nacional (San), ctiada em 1827, marcada pelo espirito ilu- swiniata © que se propunha # incentvar © progres © © desenvolvimento ‘prasileiros, foi a fundagio do THGB. A partir dai, multiplicaram-se 0° 2 rail bascados nas inverpretagees do pasado brasileiro, BO IEIGB, em 1840, estabelcceu um prémio para duet elaborasse © me- thor plano para a escrita da hiswia do Brasil, © texto premiado foi rt eianice e viajante alemio Karl Philipp von Mardin. Na sua mono- grafia inctulada “Como se deve escrever @ hhistéria do Brasil”, publicada Brepevita do THGB, em 1845, Von Matis definis =f linhas mestras de tiny projeto histérico capaz de garanti wma identidade 20 Brasil. Surgiv to seu projeto aiinterpriagto do Brasil, do princi Brasil-naci, que s¢ oe anfou profundamente nas efits © na popula brasileira. Von Mar fius langou os alicerces do mito da democracia racial brasileira. Dara cle, @ Jdentidade brasileira deveria ser buscada no que mais singulariza © Bra- sil: a mescla de racas (Barata, 1974). No essencig, 2 histdria do Brasil seré 2 hisérs de um ramo dos portuguese, pois 0 portugués Foi o onquistador ¢ senhor, ee deu 6 &* projetos jagio.. 1839. 2 Ver sobre a 3 Op. cit ANOS. 1850; VARNHAGEN rantias morais ¢ fisicas a0 il i i ‘ Brasil, Poor foi o inventor ¢ motor es encial do Wentureiro, no Brasil, se seni livre . i td , se sentiu livre da sua obedié pesalieiaase nada tinha acima de si, € avangou para a aan \eerior, : : ane i ass historiador devers transportar 0 letor a Pie ic canon reenlocecsechFleco barnes gcse. os, escravos € familia. Devers mostrar a ago da I >i is pee eat strucio naval ¢ areca Mostrar; ainda, como sacle ee eee mostrar fundamentalmente a vida eo toe 4s demais ragas, 0 historiador flantpico, cee phates pee deinar de abordétas. Devers de- arenes i q as etiépica e indigena reagiram positivamente ora aya Von Martius dari al é Jguma énfase a histéria dos negro, cle seré breve, oferecendo sae sae € een ee as questoes, A questio principal, quanto ao ne ee eae ta: o Brasil teria tido um desenvolvimento diferent Soe eae os escravos? Ao historiador, de responder se ae ke a tpn sre are been arate es sposta negativa, isto é, “foi pior”, até a chegada de Casa Pens 1933. Gilberto. Freyre_ responders a ae ius de forma diferente dos historiad ee, | etaleermararensmierrincermeeires = do IHGB. De certa forma, ele perte eee che bear nce a esse grupo, pois par- et is et iiss ewiddennes bora privilegiando a raga ic “ paeagus peeves ee in ee historiador. do Brasil id cel open gaa fe econ Ir a rv ades coool ey cls te etter ental eee ete one dag ragas ¢ da extensio territorial, 0 : enfucivar a unidade. A diférenga, le devers dar nto comum. Como a extensio terrifofial dificulta essa ae : que se fagam hiswrias regionais que garantam um eto nc " ae be xemplo: as histras de Sio Paulo, Minas Genie ‘Coils oe i or aldey Bat Atnatsede tele ras da Bahia, Pernambuco, Cearé convergem igualmente rs yorntioaoes 20 BRASIL 28 7 ‘Assim, as seins regionals mais amps diminuiriam as diferensas lo- eae cae tenderia progessivaments 2 8 histéria nacional. ara escrever essa historia do Brasienacio, 0 historiador devers fares 0 que Von Martius provon dus °° possvel fazer: viaae pelo Brae ‘iL conhecer as provinelas, par Wye por aconselhar a admninisteasio ¢ se yma melhor visto global do Brasil, Em cada provincia cle enol Tureza, outros homens, OUTAS paixdes, outras necessida- Mes, que trarard de conectaty funee AAs provincias criam exerebtiPos sas das outras, alimentando eipatas reeiprocas, afastand> pelo eonecito. Ao historiador, de gonhect-las melhor € reuni to deverd ser patridtico, despertando 0 amor 20 Brasil. Em sua defesa ‘esto, precisard lutar conta & descon- fo Brasil unido, mondrquico> Fanga entre as provincia cont & fagmentacio do rerrcario © 8 46 ‘rari outra nat independente precisava, 0 A ce paallas precisavam pare Ievat adiante a nova ‘340-60, Uma histSia que reaizasse om elogio do Bra- Mao peando aisante © Hepente, Gur pressasse uma ‘confianga incon dentes. Uma his- Jes, contradighes, exclusdes, téria que nao falasse de tenses, separag pois urna histéria assim levaria 0 Bra conflitos, rebelides, nsatisfagbes» Sra guerea civil & fragmentaéos Me abortaria © Brasil que tucava fara se consttuir como podetons aca, O que Von Martins tinha cl Borado nfo era uma tal histéria Mind, mas somente o seu projet. INS tie proprio se recusara 2 evar sence, Com certeza, apoe avaliat oe dade do trabalho a fazer Fall portanto, 0 historiador bras Tego que poderia realizar tl projet “Je histéria do Brasil. Varnhagen tomar para sivesta rarefa © S© tornar 0 primeiro grande “inventor do ‘Bexil foram validas em sua €P- Brasil”. As sinteses anteriores sobre © cae continuavam ¢ continuario vinda vilidas. Mas a grande sintese do Brasil do século XIX seri a de ‘Varnhagen. de que 0 Brasil reeém sejas de que as nagio, nos anos Mil’ dos seus herdis portugweses dicional em seus deseens Varnhagen e’seus Criticos xe sobre a sua Histdria geal do res. J. H. Rodrigues ncompard- ‘As avaliagbes fcitas posteriorme Brasil, publicada entre 1854 € 1857, sio discordant ar gedro mais bistoriador da su epoca € ainda hoje i vyel pela vastidio da v astidio da ob a. ra, pelos fatos que revel . ee deferedinagton palaces enna en pal Aaves dio, Reus reaped : are rato ite eee le vista nacional, : cle se pa ae ; pds sab o | oe Dra (Rodsigues 1967). P - Piet alee reer acumen ace ara A. Canabrava, 2 sua Hn, om e's da hist bras do séulo XIX Su “no aelinG, que the dea com orgulho, abasteceu-se de valic . eee dcaieattoninadaen aateab Ase, Se eo seals XOX Seu prnsonenes ene Paina hlnoseto #0 pensamento do ies panuneny wae: F ciballiexds ie ogee. TGS e sie: Nee ee oo oe eae ete hatte & eens Ee | fo indigena, cle a consider f Mas, sper ce a udows M THGB ele era Sutin prio inateuto (Campos, 1983), silb'0 maior expen do N. Odilia discord: liscorda das avaliagé: ic G6es anteriores. P: ase foi escrta num estilo Tinelto rons cope enaans is tenses ¢ opgbes. Varnhay ia: ees Odd, oo : i lig re sl Cl ae 2 a flora: drido ¢ distante. As anilises Be tteeatics uperficiais, transformando Varna, a ee ie 1 € seu trabalho de historiador ¢ el todo de i aes Cel, o interne da Icitura da sua obra oe on = m autor superado ni Time, ma ea nio sé imitago ie ssa do coe € outra, hoje. feet as en om stemunho valioso de eles Heslegi Hace. Bi eget lee deur tne Ele trea + Heologla Bins lominagio social - brasileira (Odilia, 1979). rene Aej Ajovem na- Tah Pie pone penne Odilia se as obras hi is rosea ras histdricas que su- ee ae mbém mais do que ceste i Pees ne oe podia fazer“entio. Co Soest renee e . Como todas sio mar- projet de per edo re eels peiabeas dotnet i codes dates, co sins mince ti i, etn ot Bers rene eases pee chee Spee ed pease |. Algumas sio_superiores et VARNHG AGEN 31 por screm paradigmiticas, modclos superiores da consciéncia © da his- téria que entio se fazia, Varnhagen tem este valor de modelo. Ent tanto, logo depois, em seu texto introdutério a uma bem organizada ; a obra compilagio de Varnhagen, Odilia relativiea a avaliagio que havia feito r fs 4 influéncia que antes a0 afitmar que os scus temas serio constantes na historiografia 8 ass oy. brasileira até os anos 1930: a organizagio do Estado, seu papel na es- trutura social, a centralizagio do poder politico, a miscigenasio. uma visio de € até mesmo sua histéria do século XVIII, deixou a descjar; seu estilo tende mais 3 crdnica, faltando-lhe a intuigio, 0 espitito de conjunto, perde uniformizou a histéria do Bras \do-se em acontecimentos irrelevant nnando-a sempre igual, repetitiva, nio percebendo o ritmo especi cada época; era irascivel, matando moscas 4 pedradas; nio tinha o espi Fito plistico ¢ simpitico, compreensivo, que © tornasse confidente dos homens ¢ dos acontecimentos de que tatava; era resistente aos movi mentos populares, rebelides € outros problemas maiores. Mas, apesst dessas fortes restrigdes, Capistrano afirma que € dificil exagerar os ser vigos prestados por Varnhagen 4 histéria nacional assim como os esfor gos que fez para clevar-lhe 0 tipo. Apesar de tudo, Capistrano conside ra que a sua obra se impde a0 nosso respeito, exige a nossa gratidio ¢ mostra um grande progresso na mancita de conceber a histéria patria Capistrano lamenta que Varnhagen nio tenha conhecido a socio logia que surgia entio, © que o impediu de ver o Brasil como um coilo soliditio ¢ coctente. Ele s6 péde descobrir ¢ dominar documentos, 1 constituir fatos, mas nio pode produzir gencralizagoes, formular una teoria que petmitisse a sua compreensio. Nio péde descobrir.duas ou tués leis basilares que oferecessem um Brasil integeal, total. Capistrano cita Comte ¢ Spencer ¢ descja que aparesa este socidlogo que cleve edificio da tcoria do Brasil a partir dos elementos reunidos por Var tnhagen, oferecendo as leis de consenso que constituem a racionalidade da civilizagao bypsileira. Esse comentirio de Capistrano € francamente positivista, ¢ ele préprio, depois, recuard ¢ nao proporé mais uma tal teoria do Brasil. Capistrano conclui enfaticamente sua avaliagio dy Histéria geral do Bras: a bolos! é preciso reconhecer nele © mes tre da hedge do Brasil” (Abreu, 1975a), branca brancas que fi histéria que os izeram a ANOS 1650: VARNHAGEN -ns toENMIOADES DO ORASIL 2 ¢ nio-catélico. O que sgn doen ee ara isso. no hesitard et i rea a acr porcagués © para iso, nio. TN defen i Seeepinis.0 veu lado brasileiro. Esse Brasil porte sar ou © novo Estado, pela Coroa. ives brancas, pelo Ss = ee sae da colénia. A pile g.que’e Cares Fe nas interion E€ porouewemisinges ae Bore oar nail independene queria, porane®: COMKNIS 4 ida © Bail intern cao) portuguese. cra) vista come : tugal, pois colonizagio we ecligito cris commara sf ilizagio européia, 4 TB ou 0 ee Tanada ¢ desconhecida. aah arian eeaaiee na ee cca. O Bes porn, Fie do Bras, qv gerd ov mestre dessa histrit Jo Oi ee See cginidade Aas al eo is porrugueses © brasileiros bres. em Dror tans dos eh aa maton pbs arplebe — Indios tr adora do Brasil grande stavi uma — seria pee prages Brasil quet seis ee vaca, entravava 0 se. Putian potencia mundial. A Historie £°%, 6, Scie na ‘as elites brasileiras beast rometeram ete ee rsonagens qu pues m eionieventnt ie Pe itos clitistas no pana, root OF SE cyl. SS PR ae ‘ee ‘Os movimentos sociai sg brava. i Varnhagen arin cestamente COST uma ver mais ped prios recuss0s ao socorro, da providénciay = & jdéia de independén Tresla adiante pela propria familia ia A independéncia do Brasil £1 rg. fol fica contra x fami rel pela propria fi tama situagio to cuTiOss © inesperada que 56 & Vi defendia a idéia de wm Fei 4 nao tivesse sido muito ‘estranha: vail real portugues! E sarc. pode fazer compresndtD; ole emynido dg, Brasil ¢ Porcugal ‘Os brasileiros: moderados cra, favoriveis Varaagen também preferia ral sus Mas as el 2 essa Tiga abe | discordincia, separatismo, mas prego. Ele apaga as tensGes e considera a ”7 esas queriam que o Brasil ne . srasil retornasse 4 condi¢io 6 le independéncia se radialzou. E no in an seni aS F ipe portugués que lid mite ipagio politica do Brasil, lutando Saas featrueeiec Bites 8 seus préprios stiditos + por um outro fo povo, um outro pais, um outro projeto d utro projeto de 4 Monarquia, qui ees a rae unidade e o cristianismo. Divisi ed a ae cee, para o pte ag , 0 Brasil deve a lideranca da sua i den © Brasil deve a consolidagio da eae 3 eee . O patriotis- Varnhagen defende a presenga port Peas prigueel oan wie W ss da ivo com os seus erros ¢ des- smo. A indey ia ni Bh one nao foi prejudicial porque garanti age ee Tat Pogies Neder speu_o passado, Gediamast O Fs - Wes rasil_ continuava Reed cai gece snd por cima independente! A nagio brasi ee ae pelo Estado imperial horidade ind hi encia nao foi problem: Bs compose: si SEE dao i negied © iro sera construido sobi sen eee ge Beek aan (over erage eet seen fear eae: Seem ete Bh is eto peers See eee ee oe Sepa ea pemer ete : a nservantismo, a continuidac ad pect oxime moni. 8 eee lea lucas sangrentas. Darci fe sion ec om er ane vit, he erie te esis pelo menos est¢ mérito: evitar i‘ 0 foi um processo violentg,* id ees ntg, suprimindo toda 2 screplin- ispchsivel 3 consolidagso aoe sa a unidade nacional um valor jis senfio seria sléncia do Estas seria a fragmentacio, com uma viokincia fa a ira, Varnhagen também co m do Brasil (Odilia, 1979; Ribeiro, 1995), Varnhagen e a “Verdade Histérica” Varnhagen quis produzir a “verdade histérica” do Brasil com uma “hist6ria cientifica”, isto é documentada conforme o método, afastando © lenditio € 0 maravilhoso ¢ evitando os julzos de valor. Sua hist pretende que scja movida pelo amor 3 verdade ¢, assim como Ranke, ele {quis narrar os eventos tal como se passiram. A verdade, afitma cle, é al- cangada ao se reunir 0 maior numero de testemunhos, acareando-os en- tre si € com certos fatos jd estabelecidos. Ele procurou restringir-se aos documentos oficiais, interpretando-os com © devido critério, esmerando- se em ser conciso € exato, sem se emaranhar em pormenores que sc con tradigam, que escapam apés lidos ¢ nada ensinam. O bom critério é 0 que aprecia devidamente os fatos apurando deles a “verdade”. Afirma en- faticamente que sempre hi de dizer a verdade, segundo a sua conscié ia, mesmo que Ihe cause dissabores, O dissabor maior para 0 historia- dor é capivular covardemente contra as proprias convieyies. A verdade s6 uma ¢ hé de triunfar em vista dos documentos. A missio do historia- dor nio é adular, lisonjear a ninguém. Ele afirma preferir desagradar pu- blicando a verdade a ser aplaudido faltando a cla. Talver Varnhagen possua ainda uma concepcio clissica da verda- de histérica ¢ do tempo histérico ou entio ele usa a concepcio moder- na para salvar aquela (Araijo, 1988). Na medida em que defende faz uso do método critica, em que reivindica a objetividade, a imparcial- dade, ele € moderno. Isto é desconfia da meméria ¢ da tradigzo. Mas ‘na medida em que é um historiador do império portugués ¢ defensor da continuidade do passado colonial no futuro do Brasil, é um defen- sor da tradicio ¢ da verdade clissica. O futuro do Brasil deve ser ou © mesmo pasado ou a melhoria do passado. A linearidade nfo répresen taria uma ruptura com 0 pasado e o predominio do futuro sobre 0 presente. A linearidade é sé um melhoramento do passado. A idéia de “progresso” € mais aplicivel nesse contexto. Varnhagen € um progtes- sista, gradualista, um defensor da continuidade do passado no futuro Reivindica a verdade objetiva quando esse passado se vé ameagado pela modernidade, confra a linearidade como revolugio. Varnhagen seria um iluminista pré-revolucionsrio: progres gradualista, O passado resolveria os seus problemas sem necessidade de ruptura. A vetdade moderna, que se bascia na diivida e na eritica do- cumental, rta-se nele uma verdade clissica, baseada em valores éti- ista € § A critica documental, 1850: vatnacen I, moderna, leva § 49 ‘gica, para que ele espera” € orientado por sobretudo ividualista politico-admi- € Pl as wentipaots ANOS 1930: GILBERTO FREYRE oO reelogio da colonizagao portuguesa mnhagen go de conjunto. Varnbags apreensio: nao se tem uma visio Sa juiao da comprinar aquilo que & 0 essencial da carta do histor parece no dominat tho, petodina,criar rtmos que Facil jrtar € recorta A pee da vida social nie ea commen com gu oa ila weenie Iguns crv é ncipal falha de Varnhagen: san gral do Brasil & a princi Mod ral da et ee por exemplo, também considera = a ae a oe lc we Varnhagen organiza & sual 10§ Pa periodiasio Fl aims qi Vis privet © spe de aio ahs ue conseguit foi confundi ert ve assim: onter, a sw yporineo, que também narra o que eS sil. Capi tea aia gu Wahagen no ams Cor ano cons tran afr ae imterpreagio. do. Brasil, Capitan von que aia Mero ico, figiio, dealhado, as ineDM PN ao tant WD ds 4 uma periodizacio bem-fei fal lhe a isto de coum, que sf wm Pan aconteimet™ alu lhe Mmeae em dexales sem importanca, €m SANE TTY cy ofertas eoquectels. Para cena COTTE © Ae ne personagens © na periodizagao da histéria do Bras” no propord wma, peso SG is rajunto. Varnhagen i) ee pice freed uma vio de conjunto, Varios soube dissing’ Tino, o erro fundamental da sua ODF LNT te pe eas de higtria sio inevitavelmente incooT Meamo se tous as que nio é um problema ncontorndvel para © p Tacunares, 0 que nao € rial so, a de Varnhagen, tal aque sabe ise ido produaila geral ¢ complet lgiamess «ne , Neovarnhageniano, Conservador e... Genial! Gonologia midda, aati to de Mello Freyre, autor de Casa grande & seneale, publi- Re 2d tina obra vasia © volumanny na qual se deracam ides & mocambos (1936) © Ordem & progreso (1959), per- 1, nasces em 1900 e faleceu em 1987, Casa grande & senca- a de interpretagio do Brasil mais conhecida no pais mais tr Bieditada no exterior. Freyre posi oils os titulo, prémios € eadémicas de quase todas as grandes universidades do mundo, 0 Ilo se cansa de lembrar ¢ recitar. Als, ele tem toda razio de desse fao, pois as grandes universidades do mundo nao dis- ais suas béngios irresponsavelmente, sem rigotosos critérios. E por ser tio bem-sucedido © s¢ of € muito simpitico © elegance har de sé-lo, como é co- i a ob reconhecida como historiador Incia superior da ciéncia social pelos mais importantes cientis- slo mundo: L. Febvre, F Braudel, R. Barthes ¢ outros. Entre mais aceitou ser classficado como um “especialista” das cién- 4. antropdlogo, socidlogo ou historiador, ¢ sempre se apresen- esctitor ou ensaista (Freyre, 1968). O que nio limitou, no das cigncias sociais, a repercussdo ¢ 0 aleance da sua obra, que sio [Pelas inovagdes metodolégicas, pela flexibilidade ¢ beleza do tex- Driginal, reunindo literatura e ciésdia,social (Motta, 1981; Briggs, Iver, seja-o mais genuamente P AG uma compilagio dos comentétios de alguns dos seus analistas a fim de oferecer uma idé da dimensto da sua fo interior das i sociais. Para a maioria deles, Freyre Fa andlise racionalmente conduzida uma forte quantidade de € subjetividade. E um texto de ciéncia social qualitative, que See ee ee ee INOS 1930, Guataro Hevee incomoda a ciéncia social preocupada com a quantificagio: ele conclui muito além dos dados que oferece, dados que, para Leite, jd sio mal medidos ¢ mal controlados (Leite, 1983). O que ele produziu foi una espécie de auto-antropologia da cultura na qual nasceu, a nordestino brasileira. Como um romancista, nio se colocou fora do seu préprio ob: a Quis sio as jeto, jf que este objeto faz parte da sua vida e conscigncia, Sua eserica ¢ sias referencias ted 5 tético- expressio uma grande margem da formow? A sua fo ameticano batisia de de Baylor, metodolépicas? rmasio € basicamente hare oe © com Recife, onde se tor 918-; feNte norte-ameticana: no OU protestante; na Uni } ¢ na Universidade de Colin, 993). Costa Lima Pesquisa histérica brasi- historicismo de Dilthey, fontes alcmis, Segundo ‘encarnada, comprometidas cla ttaz histéria até entio muda, nao refletida e explicitada, Seu texto € cientifi co € politico, O scu estilo é oral, coloquial, como uma conversa infor mal entre © presente ¢ 0 passado. Ele fala do Brasil a partir de dentro ¢ nko como de um objeto natural. Sew pertencimento 20 set objeto di a0 seu texto uma impressio de autenticidade, de verdade imediata e inte rior. Ele parece ter uma visio do passado. Freyre parece experimentar 0 vivido que desereve. Seus analistas comparam 0 seu estilo ao de Proust sido, uma visita tea rar-se em Proust, « levou a uma introspecgio meticulosa € emocionada do pa lista a0 vivido passado. Ele préprio declarou ins mistetioso, por ser familiar, 0 indizivel, por ser intimo, Freyre © revels ¢ expressa. O Brasil colonial aparece vivo, revivido © em toda a sua com plexa contraditoriedade (Merquior, 1981; Duvignaud, 1981). ‘Talver 0 que mais inquicte os leitores mais resistentes a0 fasel ninde & senzala, afirma Motta, seja essa percepgio do da petsonalidade”. Com de espirito ibéticos, as ex sua formagao americana é «6 Franz Boas. E, nio de Casa vivido de forma poliédrica, sem nenhuma determinagio em til tincia (Motta, 1981). Casa grande. € como um “livro-onitico", ath vessado de associagées, de deslocamentos, condensagées ¢ tropos «liver s0s, fruto de uma profunda intuisio-imaginagio do Brasil. Freyre quit demonstrar que houve uma solugio brasileira para um acordo entre dh fercntes tipos de vivencia, diferentes padres culturais. No Brasil, tla amento para um profundo dessjusta mento. Freyre é um autor criativo, sensivel a0 cheiro, & cot, a0 rida, € a0 choro. O pasado colonial brasileite ¢ havido um bem-sucedido aju a0 amor € a0 dio, a0 +s percebido com o seu cheiro ¢ prazer de viver. Ele penetrou no seu (@ ido social ¢ expressou 0 inconsciente da vida coletiva, a sua cotidiat dade afetiva. Ele produziu uma radiografia do passado interno brasilel ro, afirma Merquior. Contudo, “radiografia”, talvez, seja uma me ra naturalita demais. O que cle produziu foi uma revivéncia, win recriagiagJe” nosso passado em seu espitito © no espitito do leitor, Pay de Dilthey, Ee wt Potato, ndo no sentido de Po a Bea Propée uma abordagem empatica dates histétia sociolégica, Seu ob. nder a vida em seu intction dionisiaca ¢ nao intelectua- “mos inconciliéveis. A interpene- ANOS 1930: GulaEeTO reeves 55 54 3 HOENTIOADES DO BRASIL twagio de seus tipos inconciliéveis se faz pelo simbolo &: Case gral . tio se mistura a realidade, © a & senzala”, Sobrados & mocambos, Ordem & progres. Ko forrwilar ih ER alae ree i ve 4 © conhecimento do Brasil se torna quase meditinicn I). Hle incorpora o passado; 0 sujeito que conhece coincide conhecido. Para Barbu, Freyre possui o dom de ver os dois AO mesmo tempo, o lado apurente ¢ 0 ludo aculte: perecbe o complexidade, unifca e harmoniza a divergencia es tne Prefaciando a tradusio francesa, que Casa grand.» niv ¢ sé um enorme painel do passado, nascido le una me futuro, Fle nio oferece respostas fortes, mas nos convida a pos ideais cle se aproxima de Weber; ao interpenetri-los, aproximaye de Simmel. Para aprender a interconexio dos tipos, ele estudou 0 oh tidiano, um campo de pesquisa social entio original, inovador. De senvolveu uma sociologia genética ou uma sociologia histérica yi ia ¢ em seu desenvoly mostra as instiruigdes em suas formas de convivén mento no tempo (Bastos, 1986). Sua abordagem ¢ histérica, nio-evoluiiy nista, nio-progressista: ele & antiluminista como 0s neokantistas alem\ A histria néo é linear © no realiea a razio: a historia se reve iasiparcilnes, ern iibde haSiaS capaci 8 questio maior do século XX: ¢ possivel uma dimes evilza, ‘Alguns analistas de Freyre entusiasmam-se quando fazem 0 fodos possam encontrar a sua patria cultural? Para Braudel, clogio: ele é descrito entéo como um mistico sensual, um espirito enca ft tradusio italiana, o estilo de Freyre ¢ 0 de uma “se tet concreto, fico, evando-nos a viajar, com a sus lingua, nado (Marias, 1981). Os misticos castos 0 consideram obsceno, roti ,, € queimaram a sua obra em praca piblica. Em nome da sus ¢ Iiresscivel por luxuriantes paisagens tropicais.* Enfim se se (Chacon, 1993), Para FH. Cardoso, Freyre € mais do que ui Ha todas essas avaliagdes apologeticas feitas por seus ilustres ientista ow mesmo um esctitor: € um verdadeiro criador. Os resultady sarunde ¢> senzala pode set considerada a obra de uin bras que alcangou estio além do instrumental metodolégico de que dis benial nha (Cardoso, 1993). Alguns se referem & idéia de uma radiografia Brasil, jf mencionada acima, que nos parece naturalista demais © (al jequada, Como historiador, 0 que Freyre fex foi uma tansponiy uma transferéncia de si mesmo ao pasado brasileiro, para revive-lo «i ticamente, em sua intimidade, em seu espitito, Sua histdria criativa d Besil despreza tudo da histéria polldooateninseathes-nitiar por dl dginal Imultitecal nee Rata, O Brasil visto como uma vida rotineira, onde se sente melhor o cariter de um povo. Sua obit 1994). Na sus Hee trépicos, obra do genio portugués uma aventura de sensibilidade. O pasado € reposto no presente, cit Depriesia cle papa aie paleo € a casa gran- uma realidade viva que sustenta € contrast com o presente (Duy Mthiidede da coldsia 4 naggo, O ben naud, 1981; Kujawski, 1981). Billo do Brasil das clive cm os livro genial de Freyre Ele descobrit, junto com os franceses dos Armates, a historia do ¢ uso-brasiliras criaram no camel ae apa mundo tidiano, a histéria das mentalidades coletivas, a renovagio das fontes i Aue Ihe hava feito, Varnhaten noe anc © clogio ¢ pesquisa histérica: rcccitas culinérias, livros de etiquetas, forogratias, Myre © Gard em our seers 1850. E cao, nos tas, expresses religiosas, brinquedos ¢ brincadciras infantis, canti Babess; com visa ore cock ceae ee & inecectl roda, hist6rias infantis, relatos de viajances estrangeiros, autobiogaias, He confirmava Varnhagets “Teche ne none fissdes individhais, didrios intimos, lendas, folclore, periédicos... Uo BOW 8 colonizacse Leaders 2 honestidade negligenciar ou dipensar as fontes instituicionais, oficiais, estatas. Sev fli as obsteuon enormes gee oe en da documentagio era sem preconceito ¢ exclusdes, (Barbu, 1981; Ch con, 1993; Skidmore, 1994), Nas novas fontes ¢ no novo olhar Is 1993, © © & senzala é uma obra neovarnhagenia agi portuguesa, € uma just 6 senzala, O zagio do Brasil pelo curopeu — s6 a casa grande © a obrigado pelo tegime do trabalho eseravo” (Freyre, 1933), € fetna, se as negras ¢ mulatas sio tao lindas ¢ sensuais, lo nao € o grande problema do Brasil, o latifiindio ¢ 2 foram ettos, obsticulos, problemas: foram opgoes vorne- Miram possivel o sucesso do Portugués nos trépicos. % portanto, vai mais longe e fundo na defesa da coloniza- had avidio a sua obra grand no Brasil. Mesmo com a presenga negra, © muito gra- tugueses de sare mane — ¢ as circunstincias exigiram o escravih & colonizagio pttogness ba um re vagal ba 4 xccia ota aes Sr ada am pavinapavonceren ot) an He em reeras. E como se 0 seu elogo fos fet plema principio, @ oe — Piura onlonial, vio © negro, Del se Diferente a Varohage, ee (© pensava mais ondeu mais oe ea daté abs, dus Aa mos ricias, mas em termos culturais. Nessa perspectiva, mornes delim em rego 20 Tada le cae ire otal fem? prsens aiany Plo conti, a presen Fev) ca tataiio sedeneiso, Teila sido mesmo um crime tranipil Fetizow, abrilhantou a obra portugucsa. A mesticagem ie) iste ee de, e inclusive Varnhag sido © grande feito portugués € o que toon poseivel a tar ¢ escravizar 0 negro? Para alguns, ele responde, ¢ Beye con dau européia nos trépicos. Nos anos 1850, quando Varnhagen menconalo por ele, foi um eto sia Ms teresa q janso egtimacio da coloniagao, © Brasil passava de cold colonizadotes portugueses, ninguém nos diss. 7 lefendeu a continuidade colonial da nagio que se defesa dos os ies perspire asa oy seers: € ele fede pid a c ls nial dans do. que se Sure SO Ae en St Varnhagen, cle reconhed f ¥e queria consolidar. Foi mais brando em seu clogio, se é do 0 colonizador portugués we tatifundiirio dessa colonizagio, line consideri-lo brando. Em relagio a Freyre, ele pode ser cttcando o cake sean ¢ latin cha detaara spear bie fur ara oe a esa contiuldade colonia ta nio se ter adotado o sistem = 10s 1930, faz o seu reelogio na dh (© Brasil teria atraido. mais ger nus. Com doagdes pequenas, 7 - pbs a servidio com o negro, sugetindo ter uma resistencia cravidio do que ao préprio negro, Varnhagen, portanto, mesmo sendo um dos primeiros 4 defensores da colonizagto portguess lamentava que els tives ser linda esravisua, Mas etn discondincia nfo separa ro ‘Varnhagen. Se este nao accitava a escravidio, era sobretudo porgue implicava a prensa negra no Brasil, em missigenagio, em lei gio para a raca brasileira, que cle descjava que fosse 4 bul Para cle, a colonizagio portugues teria sido ainda mais bem se nio tivesse tido que contar com a presenga negra, Varn agen lang ‘ ta 0 que a esravidio representou em tems ris: a preseia ll na no Brasil. © latifiindio ¢ a escravidao seriam m: ache «om cxavo fose 0 indi, que a pscudofilancropa jesutica impediu. O ele nao aprecia € a negretia que enche as cidades © engenhos brasil a Capistrano ros. Freyre é mais radical em seu apoio as opgées pelo lat sls ‘a escravidao porque ele aceitou ¢ valorizou a presenga negra no Bras a © negro sé trouxe vantagens, se sua cultura é riquissima, se sua comp jo. Seu reelogio do Freyte até supera Varnhagen nesse elogio. Seu reclogio doi do é uma exaltagio, uma idealizago. Para cle, € injusto acusar 04 sagem da nagio-colo- moderna, transisio que ele recusa. Ele opta pelo passado ¢ wm sua ansia de descrevé-lo como “o melhor tempo do Bra- it contradigio, tensio, problemas, obstéculo, dificuldade. Marnhagen fer a sua defesa da colonizagio portuguesa ¢ da le da sua obra pelo Brasil, ele nao tinha opositores concre- 4 poderosos, pois a dinastia que governava © Brasil-coldnia Mt que governava o Brasil-nacio, Ele descreve ¢ defende win continuava, que supetou rebelides, separatismos, e que se # se consolidou. A defesa de Freyre foi feita no momento de WE aquele “mundo que o portugues criou” naufragando, con- todo lado, € © surgimento de um nove Brasil. Ele, enta 45 20 novo € se lembra com deleite, com paixio, ivas, do Brasil das elites pactiareais, sem censu- fanto, alguns analistas o colocam na mesma linha de inter- ‘to Brasil de Capistrano de Abreu. Para Astrogildo Pereira, Ii- ay weerenis oe ee eer 58 Feeyre tomava por protagonistas da hi » Freyte con a ma finha de Capistrano de Al Je Também em Capistrano @ der comunist™ 18s OR ee dor por uum dos autOF Tyra” substituiu © de “ra ; ges eito de “cules rafia. Em seus Capitudos de bistéria colonial ram a nossa Aas a massa an sta, embora muito sofisticado, Capistrano. rompers inha varnhageniana de interpretagio do Brasil ¢ iniciard uma Io-aristocratica, Ius6foba, antiescr: i"; seus estudos indigenas Fe ista, anticolonizadora, an- |, emancipacionista, mestiga-popular, nacionalista. Freyre liga- intagio de Capistrano? Sim, mas nao quanto ao essencial ao essencial, Freyre € ainda um “descobridor do Brasil”. Ele Mentificado as forgas conservadoras da politica brasileira. Seus diletos: a nobreza da vida dos senhores de engenho, a alegria wos, a delicia da cozinha tradicional, os males ¢ decadéncias so do século XX. Ele dispe de uma teoria inovadora, mas conservar a realidade brasileira. Leite o define como um in- de direita, accito pelos grupos do poder que se veem enobr Hegitimados pelas suas teses, apresentadas de forma sedutora, te (Leite, 1983). wx storia socal ¢ dos costumes ¢, pela primeita ver import “ande a semala (Rodrigues, 1965). Capistrano teria ce a casa BF cipado alg rma, Tete © or © escrve. 4 san 25 EE ep, etrtanto, mas cxico em relag ed Capisce Ei Ge Treye: 0 mestico tinha vido difieil, er visto mocracia FF possibiltado de ocupar cerios postos. Os ae ondens sacras, por exemplo, Ter um padie 08 vewnas de Freyre: a esctavidsio doméstica com 4 a © cariter carinhoso, doce € alegre do negro ain aversio € nao podiah™ milia era 4 com o cer Quando de social 8 o Brasil or einen sua sensualidade otimismo lancavam para aliviar 0 peso me” Capistrano. Cantavam ¢ dangavam p ro, afiema trabalho dt prova de um sungue limpo. Mas, retorna a tese de Hiyy a sua condisio 400 0, os mulatos souberam melhorar a Foe talento € audicia, jam Tonge... Mas a dificil mobil a inga 20s mulator. Os negros permaneciam ext seu inferno. No entanto, com 2 sua alegria nati © 08 Marxistas pensamento social marxista brasileiro vai se opor vigorosamen: imal, sofriam bem o cai ne, por essa razio. F. Fernandes ¢ sua equipe de pesquisado- Produzirdo nos anos 1960-70, pensarao o Brasil com os con- ulado “ éria colovial, intitu tulos de 45 classe social” ¢ “lura de classes” ¢ vio se opor & visio idilica do = ynial produzida por Freyre. Mota compilou as ps PZ aveipala em sua temitica enlpla ¢ ong Of & senzala © tico-admin® es ys, paulistas, min ae vida das mulheres, negros, Mestigos: P dagem (nti “Tre capitulo final € um esbogo de isi ros, gti ode pré-projeto de Casa grande & senzala “— se Freyre ¢ Capi uma esPeCP crams sustentivel esta Iitura que associa Frey sl cons" Pe legrar 0 coracio. Sabretudo no 11° eapftulo de (4 waro ¢ alegrar és séculos depois”, Casa gr pais criti stas a ele. Estes 0 consideram um intelectual orginico das oli- dominantes em crise. Freyte teria claborado uma visio senho- Brasil, relatando a saga da oligarquia rural, desnudando lirica- @ sua vida intima. 0 do Brasil, as clites luso- sio apresentadas como civilizadoras, produtoras do progres floras da razio histérica brasileira. Para apresenci-las assi sqrativa ou biogréfica, mas cultural ¢ psicoldgica, un a Em sua vi vente em alguns aspectos tematicos ¢ metodolégicos, 1 Se uma mesma lin} trano, MAS mentor precedentes que os colocar em ima Nest i ; dos. 08 Ee do Brasil parecem-nos corretos, Entretanto, ni | de imcerP Fes iyos um abismo: Freyre prossegue 0 caminho inaufill dois vislur™nagen na defera do pasado colonial brasileira: sui in do por Var Ril € continuista, conservadora, passesta, lus. § é um olhar “brane presage 5, gscravisa, colonizadora. Seu olhar é um olf triarcalis™™” 7 as agudas contradighes reais, que caracter elagbes sociais entre senhores e escravos. © mundo que o por- tfiow € aprescntado como harménico, equilibrado, democrit ¢ classes diferentes ¢ em Juta viviam harmonizadas em uma genuinamente brasileira". Casd gyind seria uma obra de um Repiiblica Velha, um esforso de,compreensio da realidade bra- lizado por uma elite que vinha perdendo poder. E uma bus- ypo perdido, uma volta as rafzes para reencontrar © poder ¢ a idos. © tom é de perda, de nostalgia, de saudade. Construin- acon, 1993 5 pad CH & 60 ‘do uma histéria do Brasil em termos de continuidade, Preyre valoriza Eb. que “leva ida coldnia a0 século XX nos {gua ao moinho das elites” (Mora, 1978). Os , 1978). Os marxistas se ds colonizadores que prolongo seus, sucessores, #8 eae rage As relagoes de dominasi rem discutir a agéo que constr amano ram wale a si me ee ni iene eons OD acetereadan, quando foram violentas crus: 8 atingiria © ig et efi , (6 ae ro, pois suas rensbes S80 harm herdicolonizador (Mota, 1978). Conservador, ele € otimista ao passado € pessimista em relagio 20 futuro. ‘Vamhagen era otimista em relagio 20 pasado ¢ a0 futuro — sc fyo em uma fase clogio foi enfitico, porém mas ssereno € critica, pois fei Me consolidagio do poder oligarquice Freyre fari 0 seu reclogio < vo pelo passado se radiealiza € cle se rorna menos WP jtico. $6 € eritico em relagio a0 fururo que se anuncia ¢ que ele de finitivamente recusa. Ao Ser ‘menos critico em relagao 20 pasado, tor fe paradoxalmente revohucionsrie ve integra os exctuldos do pass? Tete sua visio do Brasil, Os megros O% indios, a miscigenagi0, 0° te serps pobres, a cultura populst; que inteB de fato 2 sociedade bre Fado futuro, ele os integra idealisticamenss PS im fixe tem saudade até dos seus males ¢ pena crise: sa oP nae sileira ser4 uma tare! jado, © olhar conservador © Mcnoniosamente. A experiencia da finieude torna 08 Pe artrandos, os seus oprimidos de ences eles 08 ‘amizade € rernura. isadores do Cebrap, imeira opoe ‘os vé mais derosos de ontem mai vyéem, agora, com dogura, com Nessa. polémiea Freyre. Fernandes Poor aparecem dus dispuas: urna eH © outra politica. A pr apatipas ¢ hstoricistas: 0 mover da hhiswria nao sio as idéias, nfo 510 marmentaidadeseoletivas, mas a Tata ide classes, as classes em Tura nt 2 ee da produsio./A visio culruralsta ¢ 7% “Jomo interclassista, 1 cravo sujeito dentro d vista consensual”. Nos sinos 1960-70, argumentou-se contra 3 ese aitidao brasileira com telagio 3 americans ‘Nova tese: ura contra a stia coisificagio so al ¢ até subjetiva. Nos anos 1980-90, olta-se a Freyre: a eseravidio era consensual, o eseravo mancinha 3 Sit subjerividade auténoma € ai Sherategicamente acommodanido-se 20 SC va, procurando obtet_ yancagens vndividuais. Sua forma de resist « rng agao adaptadora”. O escravo € pmencemente décil ou € G6 ulicioeamente © reste encontrando neios de manipular as regras roan coal a seu favor (Gorendes, 1990: Queiroz, 1987)- Tenfim, com relagio no s6 a0 tems escravidio mas 20s mais & senzala & comumene con Brasil, Casa grande Tivros produzides na década de isica do Brasil (1933). de Caio Sérgio Buarque de Holanda re os *redescobridores importantes temas do iderado. um dos trés mais imporrantcs 1930 -—- os outros dois sto Evolucto pe Prado Jes ¢ Ratzer do Brasil (1986) de (Candido, 1976). Mora curiosamente © situa ent Ce easil®, Na sya periodiaagio; até far ventido, Na nossa perspectiv’ cle representa, vtmva continuidade da visio dos “descabri ores do Brasil”, isto & Jogio da colonizagio pon ‘a, reyre € neovarnhageniano, ‘Quanto ao aspecto 66"! a contririo, ele faz um reel neste aspect. © ‘cormetodoligico, ele & ourra li ee ie ee outra linguagem, outra hi > isto , a0 projeto Sido Brad que ke lv do pad Eo ies ihdde «aoa d Ba Bais secre do tempo histérico bra thin ce € s mesma \ renova, revigorada: a legitimaga mad ts sgpen ate Be adbcs ssondy oxo permgaivedoe ex Wom, rtugués criou nos trépicos. Grande & Senzala: Pressupostos e Teses Cisiderainos sg Cimon que Gut ge & sae pote 1 mais preciso, menos real alice 5 ae eee Bos eran Sins analistas si0 indulge © oor alguna Hho, ft oo ics Mie ie eke! ae Toke, BiBatzental fl que nfo porn ser dsr de forma cara ¢ dina. sabale nce eon isi a epee amos arama de mors amo numa sonia, A mk : de mos, formas, cores, eso, mans intigso pl prfunds, unifendora de cin aoceuss répida € subitamente, Misticos, politicos, seats? I jams tndoléoeis oriental. Por ser amirn, 0 poreac es los colonizadores europeus dhsiicacs miscigenada, cujos vi- Wista. Foi esta que des- A relacio se- € trouxe més conseqiié : seqtiéncias em si, é 36 um bem. : rivo € doentia, sadomasoquista, miscigenasio, Mas esta, Mivera ua gusta com motivages racine Heat a oro eos sun Com 0 seu apartheid lharan, Medare a sil, mais seriament uma hi lla de assimilasao racial (Skidmore, 1904, On ee le multirracial foi possivel, portanto, pelas predisposigées Niele. Este foi um colonizador so mével, adapeivel, sem orgu. Hosa quanto a sua miscibili ircularam pelos continentes, inando vastos territérios. © a sua vit6ria, Se nao, nio se docnte © sem gente podetia coloni. zat o Brasil, a Africa ¢ a Asia. Foi este seu “cariter democritico” que permitiu a confraternizagio das trés racas constituidoras do Brasil. Eles foram os homens ideais para a colonizagio tropical. E.criaram © ho- mem ideal para viver nos t6picos: © mestigo-brasileiro, um homem bbranco com sangue negro ¢ indio. A terccira tese responder A pergunta: Qual serd o paleo, a sede, 0 lugar central em que se dard este encontro feliz. entre as trés racas, sob a ideranga do portugués? Esta confraternizagio ocorrerd na casa grande que no se separa da senzala, mas a indlui, Ela € uma construgio tipicamente brasileira, cortespondendo a0 novo ambiente fisico ¢ 4 nova atividade portuguess a monocultura escravista. © portugués, entio, tornou-se luso-brasileiro, © fundador de uma nova ordem econdmico-social, o ctiador de um novo tipo de habitacio, que seria © simbolo da nova civilizagéo. A casa grande, complecada pela senzala, representa todo um sistema econdm co-social ¢ politico: a monocultura escravista, 0 patriarcalismo catdlico © poligamo, Foi ali que se estabeleceu © novo dono do Brasil. Apesar de suas predisposigées fiwvoriveis, o portugués softeu com as dificuldades impostas pelo novo ambiente, No Brasil selvagem, tudo era desequili brio, excessos € deficigncias. © solo excelente ou péssimo, os rios cheios ‘ou secos. A América tropical nio oferece uma vida/fécil. Nas semences, casas, animais, livros, papéis, obras de arte, em tudo se metem larvas, vermes, insetos, roendo, esfuracando, corrompendo... Foi em tais condi- qBes tio desfavoriveis que se excrceu o esforgo colonizador dos porn gueses nos trépicos. Foi uma vitérial Antes dessa vitdria, 0 dominio eu Topeu nos trépicos $6 se realizava por feitorias e extragio da riqueza mi neral, O colonizadot portugués foi o primeiro a criar uma civilizasio baseada na exploracio local da riqueza. Criou-se uma “coldnia de plan tagio”, caracterizada pela base agricola ¢ pela permanéncia do colono na terra, Os portugueses iniciaram uma colonizagio nova: a exploragio riqueza vegetal pelo capital e esforgo do particular © com 0 aproveita mento dos nativos, sobretudo da mulher, para o trabalho ¢ a formagao da familia [A sociedade colonial desenvolveu-se patriarcal e atistocraticamen. te, 4 sombra flas plantagdes de cana-de-agticar, em casas grandes de tai pa e cal, Nao foram aventureiros. Vieram, venceram, ficaram € coloni zaram, Sérgio Buarque de Holanda, logo depois, em 1936, terd uma = Portuguesa: feita por aventureiro: a terra em busca de riqueza fieil e oie ic Freyre A colonizacio. portuguesa nio a familia real, mas da cotajosa familia ma distincia significativa entre Freyre ¢ vieram, venceram e arruinaram Pida. Nao € 0 ponto de vista d foi obra do Estado, da Coroa, rural particular. Aqui aparece us primeiros europeus luc se estabeleceram de fato em colnias, vendende o que possii Jue possuiam ‘ha metrépole ¢ transplantando-se Be mes «tun com familia © cabedais para os trdpi- erate finham liberdade de agio. A organizacéo colonial eficl coy dew, mas sucedeu 0 cedeu 0 desenvolvimento da colonizacio feta pele Foi a iniciatva particular © no a oficial que promovew a joveu a mistura 4 exctavidio, tomando possivel so- fe, © que setia impossivel para me tet impos a iniciativa oficial. A colonizagio por. ; c pelo dominio exclusive da familia ee coloniagio portuguesa foi o individuo ¢ a sua fami om vos < produtiva, semeando 0 solo ¢ desbravando 0 tettitério, A four s A Forsa » constituindo-se na aristocracia rural Sobre cla o rei reina sem governan. A casa Fla vencew a Igreja em seus impulsos de ser 2 genbor de engenho ficou dominando q i‘ verdadeiro dono do Brasil, mai vice-teis ¢ bispos. Era o dono das terras e da pra oa A diferenga entre Varnhagen ¢ Freyi : pas datas dar sus obras em 1850, Varohagee fares, ainda portuguesa do Brasil, enfatizando a oe aa ‘aldo a agio da familia rural, formula uma vi brasileira do Brasil, a visio das ‘cites descend br. res, que’ admiram e reverenciam a mé cksitiension oe r 4 méméria daqueles que criaram es undo vee tdpcos para chs. Hi timbém una dite ce Bic esencial: nos anos 1850, predominava uma histria politico ad, aio da familia real ministrativa e biogrética, valorizando as ages ¢ documentos oficais; nos anos 1930, aparece uma “histéria nova", econdmico-social-mental, que valoriza as iniciativas coletivas, anénimas, inconscientes, nio-oficiais, re- vveladas por uma documentagio macica, miltipla, interdisciplinas, Freyre & um dos pioneitos dessa nova histéria (Burke, 1991). F Para Freyre, 0 estudo da vida doméstica da familia rural luso-brasi- leira como que nos completa, a nés luso-brasileios: € um meio de pro- curar 0 tempo perdido, um meio de nos sentirmos nos outros, nos que vieram antes de nés, © passado familiar do colonizador portugués ¢ um passado que se estuda tocando em nervos, um passado que emenda com a vida de cada um, uma aventura da sensibilidade, ¢ nio somente um csforgo de pesquisa cm arquivos. Nio ¢ facil penetrar na intimidade do pasado, surpreendé-lo em suas tendéncias, no seu -vontade casero, em sua espontancidade e expresses mais sinceras. Nao hi muitas fontes. As melhores, 0 confessionério as tomou desnecessérias ¢ as engoliu. Freyre no se deixaré limitar, no emtanto, pela falta de fontes. Ele tomari como fonre tudo o que o homem colonial brasileiro produziu, acreditou, pen- sou, cantou, rezou, pintou, brincou, falou, construiu, comeu, adoeceu, Inco, defende, explo, plano esravizow. A Case gunde oven Ja foi, portanto, o centro da histéria colonial brasileira, foi um verdadei- to “palécio rural” — ali morou o seu yerdadeiro sujcitg, o senhor pa- triarcal, cercado de sua familia cxtensa legitima e ilegitima, seus escravos domésticos, seus agregados, sua capela, sua plantacio e escravos, sobre os quais exercia um poder absoluto, sem apelo. i - |A quarta tese responders & pergunta: A miscigenaydo que estd ne “ieee Vd colonizagda portopecsa do Bri, ropa Bs prelimi: pice Uaaeas enc hisricas do prtguts foi um bem ow mal’ A mis genagao degenerou 95 bnasieves, tornandovos inferior, inapeas, doente, ‘ou nao? Se ela trouxe a democracia racial, & confiaternizagao entre as ra as, ela trowxe também o debilitamento da raga brasileira? Para Freyre, os males profundos que tém comprometido a robus- tex € a eficiéncia da populagao brasileira, que sio atribuidos & miscige- nagio, na verdade devem-se 4 monocultura latfundidria. Faltou o st- primento de viveres frescos, que tornou a populacio mal nutrida, co- mendo somente pte seco farina de mandiocs. hiponutigio tem como consequénchs problemas de decadénci ou inferividade de, ra gas: diminuigéo da estatura, do peso, do trax, insuficiéncias endéeri- baal nas, Além da hiponuttiggo, outro mal que aferou a satide brasileira foi a siflis. A colonizagéo pattiarcal do Brasil explica-se menos em termos de raga e religiio © mais em termos econémicos, culturais ¢ afetivos, A Sociologia que fala de manchas da mestigagem ¢ dos efeitos amolecedo- tes do clima nao vé a escassez de alimentos, a pobreza nuttitiva da ali “mentagio disponivel hi cinco séculos, a itregularidade no abastecimen- to ea falta de higiene na conservacio ¢ distribuigio, Além da desnutri- “lo, 0 alcoolismo ¢ a falta de infra-estrutura que adoecem. Senhores ¢ ravos ainda comem, embora mal. Mas, matutos, caipiras, caboclos, ttancjos pobres, que sio milhdes, comerio algo? A dieta preciria, po- He, os jejuns religiosos, enfraquecem ¢ adoecem a populagio. O Bra- dos trés séculos coloniais, dominado pela monocultura latifundid- , foi terra de alimentaao incerta ¢ vida diffcil. O povo brasileiro é dos povos mais desprestigiados na sua eugenia c mais comprometi- 8 na sua capacidade econémica pela deficiéncia de alimento, E um © perturbado em seu vigor fisico © na sua higiene por um pernicio- conjunto de influéncias econémico-sociais. Quanto a miscigenagio que formou o brasileiro, ela foi vantajo- Criou © tipo ideal do homem moderno para os «répicos, um euro- com sangue de negro ou indio. Mas cla teve um efeito colateral deteriorou a raga brasileira e que, por estar ligado a ela, é atribut- a ela, esta detcrioragio. A vantagem da miscigenacao associa-se a tagem da sifilizagio. A miscigenagio no é culpada pela sifil Ela, pelo contririo, produziu belos exemplares humanos. Depoi ma nutricio, talvez a sifilis tenha sido a influéncia social mais de- dora da plistica do mestigo brasileiro. Portanto, se o brasileiro de uma inferioridade fisica, nio se deve atribui-la a raga ou fa de ragas, mas 4 desnutrigao ¢ a sifilis, além de outros vicios: ismo, comer terra... Sio razées hist6ricas, portanto, corrigiveis, ¢ razdes bioldgicas, irrecottiveis, Enrretanto, apcsar de recusar © conceito de “raga” ¢ 0 “determi- racial”, diferentemente de Boas, para quem o conceito de cultu- aboliu o de rasa, Freyre continuow usando © conceito de raga, mes- Privilegiando o de cultura. Costa Lima apontou para essa ambigii- de Freyre, que 0 torna ainda mais préximo do. pensamento leito tradicional de Varnhagen, apesar das suas inovagdes. Afinal, € uma etnia ou uma cultura, ou ambas? Freyre mistura meio, raga € cultura. Seu regime de causalidade & impreciso, afirma Costa Li- ma. Ora € 0 fator étnico, a mestigagem, ora é a posigio geogrifica de Portugal, ora é a convivéncia/guerra entre portugueses ¢ mugulmanos que sio apresentados como responsiveis pelo cariver vago-impreciso do portugues. O sucesso portugués no Brasil ora se deveu } sua etnia, ort ao clima, ora 4 tolerincia cultural. © portugués tem sangue mouro, se- ita... HA até quem encontre em Freyre teses racistas, anti-semitas, por cxemplo. Enfim, Freyre no descartou 0 conceito de “raga”, embora dedare té-lo feito. Em Case grande & senzala, a8 ragas apresentam “es- pecializagies psicoldgicas @ aptidoes distintas’. Freyre nao. absorveu completamente Boas, conclui Costa Lima, Na medida em que ainda raciocina com 0 conceito de raga, cle se inscre de maneira limitada no historicismo alemio ¢ se afasta bastante do historicismo de $. B. de Holanda. Costa Lima diminui, assim, aleance da renovacio ¢ origi nalidade da interpretagio do Brasil de Freyre, que se acreditava inteira ‘mente culturalista e sem nenhuma referéncia & raga, Costa Lima se es- panta, © com razio, com 0 fato dos seus analistas nio terem dado atengio a esse aspecto do pensamento de Freyre, que aparece com muita evidéncia cm seu texto, Ele nio estaria tio longe de Vardhagen ¢O. Vianna, afinal! E, quanto ao essencial, ¢ essa também a nossa vi- sio de Freyre que, sem desvalorizar as suas intuigbes € inovagdes ge- niais, estamos tentando demonstrat. Entretanto, R. Benzaquen de Aratio procura também valorizar ¢ restaurar a originalidade de Freyre ao afirmar que ele usa 0 conceito de raga de forma peculiar. Ele trabalharia com um conceito neolamarkia- no de raga, que se bascia na aptidio dos seres. humanos para se adapta- rem as mais diferentes condigées ambientais ¢ para incorporarem ¢ transmitirem as caracteristicas adquitidas na interag2o com 0 meio. Nes- ta perspectiva, 0 eoneeito de raga ¢ histérico — uma cultura é um cor- po marcado pelo meio geogrifico. A raga € mais efeito do que causa Hi uma diversidade cultural ¢ racial marcada pelo meio. Benzaquen de Aratijo concorda com Costa Lima quando este afitma que a imprecisio no uso do conceito de raga revela © prdprio estilo de Freyre: ele nio se submete a conceigos. A denincia de sua imprecisio deve ser mantida, confirma Benzaquen, mas quanto ao conceito de raga é preciso incluir este seu esforgo de precisio (Aratjo, 1994). Apesar disso, Freyre se i nal brasicroracita, de Varnhasea se Seram 4 superacio do problema racial pelo be so. Do ponto de vista norte-americars ‘ua, pois raga nao ¢ definida pelo fondu individuo. Os braslcitos podetiamn se torn apugaria 4 sua ascendéncia negra ¢ indige a ‘i mestigagem © a sua conseqiiéncia rail é “moreno”, mestiso de brince/n i po, longs de estar condenad 20 ee rE ee rizonte de espera aberto por csta sua originalidade n° SH A quinra tese ? ee os ~ a — Para este povo miscigenado, ul Mais adequade? A democraca racial baling poder cor, Pettiea Iaceie aca coolest Mal brine poderia camsponden eda do pensamento tradicio- a, quando estes. propu- anqueamento da popula- sta seria uma solugao.inge- ipo mas pela ascendéncia do iar todos brancos — ‘isto nao na (Skidmore, 1994). Freyre Freyre oferece uma fesposta ambigua a esta questio, Bigua ou “anfibia” toda a sua reflexio sobre Brasil. Pe rt tao 01 lado, a ese estupro: 0 senhor conquis- ice ene atmado’ de’ spac e tego, que invade e domi lee, “xrcrminando © escravizando os homens e violentando ny ; iolentando as bem no seu 0 nhor, inebriado, transtornado de Aricent aaa ee todo 0 poder sobre oz2-€ 0s homens que ele conquistou, o senhor sidico. é tho oe ea le pre- lo © sew poder, realizando-o sem “€ravo, um escrs invertic is a SE gre ines, ara satfize 20 proprio escravel d is afiodisiaco do que © lazer eo pod on ih ie © lize © 0 poden © poctugués omou um femeiro, posuls uma “genta violent’, ¢ inher eS Parceiro em suas fantasias. O papel do i submissio encontraria um inconfessado prazer. A relagio senhor/escra vo ¢ ama relagio sadomasoquista, isto é, uma relagao de prazer sexual € até afetuosa, com violéncia, Nessa relagio ve desfaz o sonho da democracia politica, prometi da pela miscigenagio. Essa relagio teria passado i esfera politic, Freyre aifema que o chamado “povo brasileiro”, © mestigo filho daquela rela Gao sadomasoquista, aprecia o mandonismo, gosta do dono bravo, do Seehor completamente em seu papel. No intimo, ele afirma, © que gross do povo brasileiro ainda goza ¢ a pressio sobre ele de um xo verno masculo ¢ corajosamente autocratico. Até os mértires revolucio: vritios brasileiros n40 quetem de fato transformar o Brasil, salvar 2 sua popuilagio daquela relagio perversa. Eles pertencem aquela relagio © 0 fue querem é ter o prazet de sofret, de ser vitimas, de se sactf ammo Jesus Cristo, 0 herdi-vitima que todo brasileiro quer imitar. Por fantovo regime politico mais adequado a este povo nascido daquela te lagio é a ditadura vigorosa, miscula ¢ eorajosil O ditador serd alam da, idolarrado, amado, ¢ quanto mais sever mais prazer tari a ets populagio filha do prazer-com-violéncia Por outro lado, o regime politico mais adequado 2 poyfulasio bre sileira mestiga € 0 que j& predomina desde o inicio da colonizagio: « ‘A miscigenagio se deu entre senhor © escra democracia racial ¢ soci No, o que ele considera uma demonstracio da suavidade do escr beuileivo ¢ até do espitito radicalmente democritico do portugués, A colonizagéo européia no se deu somente no sentido da europeizasio. A fuiltura européia assimilon a indigena ¢ 2 afticana. O portugués vencs Gor deixourse civilizar pelos vencidos, como 0s turcos vitoriosos pelos jregos vencidos. Por suas predisposiges ji mencionadas, 0 porugues aro ve encastelou orgulhosa € aristocraticamente, separando-se das ou fens ragas e culturas. Ele no tinha nenhum orgulho de raga..Os negros teagiram sobre.a dominagao branca, ¢ a sua cultura foi “cvilizadors” 4 emeedor, Do ponto de vista alimentar, por exemplo, a influéncia do Sfricano foi a mais positiva. Sua dicta era mais equilibrada — era abur- stante em milho, toucinho ¢ feljio. Foi o elemento mais bem nutrido eram dela uma . ieee que os europeus conheciaam. Entre nés, a profunda confraternizagao. de valores € senti mentos. A rel catélica foi um ponto de encontro entre as duas culturas © ransponivel barrcira. Um cristiavfismo mais ort fae pea the L cristiantismo mais ortexdoxo seria in- ptivel com a iberdade religioss dor negros. Freyre distingue 0 cs do cito do escravo doméstico: este teve uma assi anh ] éncia moral © rcligioss que frou aquele. Os da casa eram batzados, alguns 6 Cant Tare, ¢ mulheres brancas amamentavam filhos de negras mortss. no ‘brasilcira, para Freyre, foi desde 0 inicio a fue mais harmoniosamente se consticuin, quanto 3s relagdes de raga, see nie umn ambiente de quase reciprocidade cultural, de troca de snloree, no méximo de contemporizagio da cultura adventicia com 2 nativa, do conquistador com 0 conquistado. mulher reoém-batizada foi romada como cspota e mic de familia ¢ touxe para a vida domestica tradigdes, expe-

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