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RELATÓRIO DAS VISITAS TÉCNICAS NO CENTRO DE ATENÇÃO

PSICOSSOCIAL II (CAPS II) DE AÇAILÂNDIA-MA

1
Gabrielly Silva dos Santos¹; Ronebes Carneiro dos Santos²; Maria dos
Remédios Brito Viana³.

RESUMO

O presente artigo teve como objetivo relatar a experiência dos acadêmicos de


Psicologia com as características de estrutura física, a psicóloga e usuários do
CAPS II da cidade de Açailândia - Ma, descrevendo, a partir de encontros, as
percepções e emoções vivenciadas em relação aos serviços prestados pela
instituição, relacionando aos objetivos propostos pela instituição CAPS e o
Movimento de Reforma Psiquiátrica. Os resultados mostram que o cuidado para
estes profissionais abrange aspectos que vão além do biológico, incluindo também a
família e a sociedade, ou seja, a satisfação dessas pessoas com o serviço,
demonstrando um cuidado a esses usuários que busca acolhê-los e permitindo uma
reinserção social, oferecendo-lhes suporte para que possam atuar em sua
comunidade com liberdade, dignidade, respeito e autonomia. Compreende a
reabilitação psicossocial como o centro do cuidado.

Palavras-chave: CAPS; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica; Centro de Atenção


Psi’cossocial; Cuidado.

1. INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Psicologia pelo Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão. E-mail:
Gaby.santos@hotmail.com
² Graduando em Psicologia pelo Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão. E-mail:
ronebes@hotmail.com
³ Prof.ª Esp. da disciplina de Políticas Públicas e Avaliação de Programas Sociais do instituto de
Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/UNISULMA - remedinhaviana@yahoo.com.br
A constituição dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se insere dentro
das políticas públicas atuais em saúde mental que privilegiam os usuários, para um
novo modelo dirigido para a assistência a partir de cuidados em âmbito extra-
hospitalar e redução de leitos nos hospitais psiquiátricos. Para fins de compreensão
quanto à unidade em questão, isto é, Centro de Atenção Psicossocial, o ministério
da Saúde, através de um manual explicita que: É um serviço de saúde aberto e
comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é um lugar de referência e
tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses
graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua
permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e
promotor de vida. O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua
área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social
dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É um serviço de atendimento de
saúde mental criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos
(BRASIL, 2004).
Porém antes, a proposta de realizar um tratamento voltado para os portadores
de transtornos mentais esbarra numa grande dificuldade no cuidado desses
pacientes portadores desse transtorno mental, pois não havia profissionais que
zelasse pelo bem estar desse paciente e eles era vistos como alguém que não
merecia viver em sociedade, com isso cada vez mais se procurava os hospícios
para jogar os portadores de necessitados como se esses locais fossem depósitos de
seres humanos. Por sua vez era comum a família também praticar essa atitude que
reflete na ausência de um cuidador responsável pelo acompanhamento destes
pacientes.
Só na década de 70, o movimento da Reforma Psiquiátrica iniciou no Brasil,
baseado no modelo de Reforma Psiquiátrica Italiano. Buscava a criação de serviços
substitutivos que fossem efetivos no cuidado com os usuários de saúde mental, pois,
esses tinham como única opção de tratamento os manicômios onde ficavam
trancados, eram torturados e submetidos a tratamentos que violavam seus direitos
humanos, além de serem "apartados" da sociedade por serem vistos como ameaça.
Desta forma, sob este novo olhar, surgem os serviços substitutivos ao hospital
psiquiátrico, que se constituem em uma rede de atenção à saúde mental. Esta rede
é constituída tanto pela atenção básica em saúde, como as unidades básicas de
saúde, quanto pelos serviços especializados, incluindo ambulatórios de saúde
mental, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), hospital-dia, serviços de
urgência e emergência psiquiátricas, leito ou unidade em hospital geral e serviços
residenciais terapêuticos.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) vem com a proposta de ser um
serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é um
lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais,
psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência
justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário,
personalizado e promotor de vida.
O objetivo do CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de
cobertura, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários
pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços
familiares e comunitários” (BRASIL, 2004).

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os CAPS surgiram a partir da reforma psiquiátrica dos anos 70, onde


possibilitou a entrada de serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico, a fim de
encarar a melhora do sujeito portador de transtorno com uma visão de reabilitá-lo
psicossocialmente. É interessante apontar que o manicômio era a única opção de
tratamento do sofrimento psíquico, ou o único lugar que se podia levar essa ser
humano com transtorno para se ver livre em alguns caso, e que não era priorizado
trabalhar a doença em detrimento à pessoa. Vale ressaltar que o CAPS tem como
missão emancipar o sujeito, desenvolver relações entre ele e sociedade, criar um
trabalho interdisciplinar com outras instituições que disponibilizem recursos no viés
da saúde mental e também inserir a família na reabilitação do indivíduo.
(MARTINHAGO E OLIVEIRA, 2012).
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das Unidades de Acolhimento
(UAs), pontos de atenção que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
instituída pela Portaria MS/GM nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011 (BRASIL,
2011). A finalidade do documento é orientar os gestores locais, as equipes dos
CAPS e das UAs e os demais atores implicados na elaboração de projetos de
construção, reforma e ampliação dos espaços desses dispositivos da atenção
psicossocial. Considerando que as estruturas físicas e os ambientes dos pontos de
atenção constituem base operacional fundamental para a garantia da qualidade do
cuidado e das relações usuários-equipes-territórios, Para isso existe um Manual que
visa contribuir para a expansão, a sustentabilidade e o fortalecimento da
implementação das RAPS nos territórios locais no processo de consolidação da
reforma psiquiátrica em curso no Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com os
princípios da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 (BRASIL, 2004).
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nas suas diferentes modalidades
são pontos de atenção estratégicos da RAPS: serviços de saúde de caráter aberto
e comunitário constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica
interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento
ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de
álcool e outras drogas, em sua área territorial, sejam em situações de crise ou nos
processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar.
Os caps vem com essa proposta de estabelecer que os portadores de
transtorno mental também podem ser inseridos em sociedade e não exclui-los como
reafirma Mielke et al (2009), que o caps é de reinserir o sujeito na sociedade a fim
de que ele volte às suas atividades diárias, ao seu convívio com a família e
sociedade e viva de forma mais natural possível, mesmo sendo portador de um
transtorno mental.

2.1 MODALIDADES:

CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais


graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas,
atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes.
CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos
mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias
psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil
habitantes.
CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos
mentais graves e   persistentes, inclusive pelo uso de substâncias
psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil
habitantes.
CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias,
especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende
cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e
observação; todas faixas etárias; transtornos mentais graves e
persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende
cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de
acolhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas faixas
etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e
ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.

2.2 SE O SEU MUNICÍPIO NÃO TEM CAPS, PROCURE A ATENÇÃO BÁSICA.

No Brasil, a atenção básica (AB) é desenvolvida com alto grau de


descentralização, capilaridade e próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato
preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e o centro de comunicação
com toda a rede de Atenção à Saúde. Por isso, é fundamental que ela se oriente
pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do
cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da
equidade e da participação social.
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados pelo Ministério
da Saúde em 2008 com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica no
Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a
resolutividade, a abrangência e o alvo das ações.
A Estratégia Consultório na Rua foi instituída pela Política Nacional de Atenção
Básica, em 2011, e visa ampliar o acesso da população em situação de rua aos
serviços de saúde, ofertando, de maneira mais oportuna, atenção integral à saúde
para esse grupo populacional, o qual se encontra em condições de vulnerabilidade e
com os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados.

2.3 LEGISLAÇÃO

1. Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2005 – Estabelece as


modalidades de CAPS e equipe mínima.
2. Portaria nº 245, de 17 de fevereiro de 2005 – Destina incentivo
financeiro para implantação de CAPS.
3. Portaria nº 3.089, de 23 de dezembro de 2011 (republicada) – Dispõe
sobre o financiamento dos CAPS – custeio. 
4. Portaria nº 130, de 26 de janeiro de 2012 (republicada) – Redefine o
CAPS AD III e os incentivos financeiros
5. Portaria nº 854, de 22 de agosto de 2012 – Alteração tabela de
procedimentos dos CAPS
6. Nota técnica sobre Portaria 854, de 22 de agosto de 2012 – Informações
sobre preenchimento dos novos procedimentos dos CAPS 
7. Portaria nº 1.966, de 10 de setembro de 2013 – Altera custeio dos CAPS
24h (CAPS III e CAPS ad III ). 
2.4 LEGISLAÇÃO CONSTRUÇÃO CAPS & UA

 Portaria nº 615, de 15 de abril de 2013 - Dispõe sobre o incentivo


financeiro de investimento para construção de Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) e Unidades de Acolhimento, em conformidade com a
Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
 Portaria nº 2.495, de 23 de outubro de 2013 - Divulga a 1ª lista do
processo de seleção de propostas apresentadas para Construção de
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS AD III) e Unidades de
Acolhimento (UA)
 Portaria nº 3.168, de 20 de dezembro de 2013 - Divulga a 2ª lista do
processo de seleção de propostas apresentadas para Construção de
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS AD III) e Unidades de
Acolhimento (UA) 
 Portaria nº 3.402, de 30 de dezembro de 2013 – Divulga lista do
processo de seleção de propostas apresentadas para Construção de
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nos Municípios pela Unidade
Federativa Estadual com recursos de Emendas Parlamentares
 Portaria nº 2.939 de 26 de dezembro de 2016 - Publica propostas de
construção de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidade de
Acolhimento (UA), canceladas no âmbito da Rede de Atenção
Psicossocial- RAPS.

O CAPS foi criado para organizar a rede municipal de atenção às pessoas com
transtornos mentais. São instituições brasileiras que substituem os hospitais
psiquiátricos. Os CAPS proporcionaram a Reforma Psiquiátrica, instituição
juntamente com os Núcleos de Assistência Psicossocial (NAPS), através da portaria/
SNAS número 224-29 de janeiro de 1992, são unidades de saúde locais
regionalizadas que contam com uma população em situação de risco que oferecem
atendimentos entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois
turnos de 4 horas por equipe multiprofissional, constituindo-se também em porta de
entrada da rede de serviços para as ações relativas à saúde mental.

3. CAPS II – AÇAILÂNDIA-MA

O Caps II de Açailândia também trabalha com o intuito de fortalecer as políticas


públicas voltadas para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). O novo prédio
construído com as normas seguindo os requisitos do Ministério da Saúde, em
substituição do antigo local que não atendia esses requisitos, por se tratar de uma
casa veio para dar um melhor conforto para profissionais, colaboradores e
pacientes, avançando cada vez mais na área da saúde mental. 
A unidade está equipada com novo mobiliário, amplo espaço de convivência e
atendimento diário de 8h às 17h. O equipamento dispõe de salas de acolhimento,
enfermagem, Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC), além de sala para reuniões
em grupo, sala de artesanato, biblioteca e consultório. Com perfil de atendimento
voltado para as pessoas com problemas relacionados transtorno mental e
comunidade que precisa do seu atendimento, essa políticas pública conta com uma
equipe multiprofissional completa, formada por médicos, psicólogo, enfermeiro,
terapeuta ocupacional, técnico de enfermagem, assistente social, educador físico,
entre outros profissionais que auxiliam o acompanhamento desses usuários.
Entre os serviços ofertados estão acolhimento, atendimento clínico e
psicológico, apoio individual e coletivo, troca de experiências, dinâmicas e atividades
lúdicas com grupos de arte, música, família, relaxamento, redução de danos,
terapêuticos, educação e saúde, imagem e cidadania, entre outros (PMA-ASCON,
2019).
 
4. METODOLOGIA

O presente relatório, referente á visita realizada ao CAPS (Centro de Atenção


Psicossocial) localizado na Av. Adelino Andrade, quadra 08 lote 09 - Ouro Verde em
Açailândia, Estado do Maranhão, Esse trabalho de campo consistiu prioritariamente
na observação sistemática do cotidiano do CAPS II e na conversa com Psicólogo,
profissionail do setor e usuários dos serviços. As observações foram realizadas
entre os meses de agosto de 2019 e novembro de 2019.
Nossa participação consistiu da presença e observação, que foi prejudicada,
pela troca do gestor municipal e consecutivamente a coordenação do CAPS. Mas a
que participamos foi super proveitoso o contato com os usuários e profissionais,
onde os usuários estava confeccionando, outros pintando e os acadêmicos
orientando e sendo supervisionado pelo artesão a propota solicitada. No de intervalo
da oficina, foi quando partilhávamos de conversas e diálogos informais com alguns
funcionários, em particular com o artesão Rafael Moderno que explicou que os
usuários necessita de atenção. Além desses momentos referentes ao artesanato, foi
possível acompanhar algumas propostas de ações externas, como passeios ao um
balneário, bem como alguns eventos comemorativos (setembro amarelo - mês
referente ao combate ao suicídio), dentro e fora dos CAPS. Por fim, foi propomos
uma roda de conversa com os usuários e técnicos dos serviços (mais uma vez
esbaramos na burocracia da troca de coordenação), o técnicos disse que
poderíamos fazer mas, a coordenadora havia sido desligada da coordenação e
deveríamos esperar o próximo coordenador. Foi possível observar que promoção da
reflexão e discussão sobre um determinado tema que era lançado aos usuários, os
mesmo prontamente colocava suas opiniões, alguns até de forma coesa. Trazendo a
importância do que não era só transmitir informações/conclusões, interessava
provocar discussões sobre questões pontuais.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nossas observações do cotidiano dos usuários nos CAPS indicaram a falta de


práticas de ajuda e/ou suporte mútuo entre os usuários. As poucas observações por
nos obtidas se deram de forma bastante pontual, geralmente no momento das
atividades de artesanato, onde alguns usuários apresentava determinada dificuldade
de realizar uma tarefa sozinho. Na tentativa de compreender este fenômeno,
percebemos que a dinâmica dos serviços, em particular a heterogestão das
atividades e a concepção de terapêutico-clínica que norteia profissionais e serviços,
tende a barrar possíveis articulações entre os usuários, dificultando atitudes de
ajuda mútua e empoderamento.
Essa observação também possibilitou a uma reflexão do modo como
funcionava o CAPS. Alguns funcionários relataram que a equipe encontra
dificuldades para encaminhar os usuários para outros níveis de atenção à saúde,
sinalizando que grande parte da população que está em sofrimento psíquico pode
ser acompanhada na atenção básica. No entanto, como foi possível perceber, a rede
básica de saúde, no município em questão, ainda apresenta dificuldades para
acolher e responsabilizar-se pelo acompanhamento dos usuários em sofrimento. Por
isso, aponta-se que, nessa rede de saúde, existe, de certa maneira, uma
desarticulação entre os serviços, situação que, a nosso ver, contribui para a
desorganização dos processos de trabalho desse CAPS. Enfim, um cenário em que
o cuidado em saúde mental apresenta-se mesmo tendo algumas melhoria no que
diz respeito a sair do ambiente de acolhimento, fica muito limitado aos muros do
CAPS, sendo esse panorama preocupante, visto que o movimento de
desinstitucionalização psiquiátrica preconiza justamente a descentralização da
atenção em saúde mental. Diante disso, ressalta-se o papel estratégico dos CAPS
nesse processo de articulação das redes de saúde. Nesse sentido, é importante
lembrar que alguns trabalhadores em conversar informal sinalizaram que o CAPS
precisa estar mais próximo de outros serviços de saúde. A implantação da estratégia
de matriciamento foi relatada como uma alternativa para o enfrentamento das
dificuldades apontadas no decorrer da observação. Por tudo isso, entende-se que,
para se prosseguir avançando no processo de Reforma Psiquiátrica, mostra-se
necessário investir na construção e na organização de redes de Acolhimento em
saúde mental. Por fim, percebeu-se que, diante desse contexto, mostra-se
fundamental problematizar a construção de redes de atenção em saúde mental, o
que pode implicar na exigência de maior quantidade de serviços que ofereçam
assistência a sujeitos em sofrimento psíquico, mas que requer, impreterivelmente, a
ativação de redes de diálogo entre os serviços de saúde. Todavia, entende-se que
essas “redes” nunca estarão “prontas”; precisam ser construídas e, principalmente,
cuidadas cotidianamente. Assim sendo, é imprescindível levar em conta que a
Reforma Psiquiátrica consiste no rompimento de lógicas hegemônicas de produzir
saúde e que, portanto, essa quebra exige, de fato, a ruptura de um paradigma, e isto
não acontecerá espontaneamente e nem instantaneamente.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo se propôs a discutir através da observação, já que, infelizmente por


vários fatores, extra gestão, tempo psicóloga e acadêmicos, trocas de hararios,
pacientes que não eram buscados para atividades do dia, entre outros. Por essa
razão não colocamos em prática o trabalho como havíamos proposto, mas mesmos
com essas dificuldades conseguimos ainda promover a imobilidade e a
desarticulação dos usuários, dificultando práticas de ajuda ou suporte mútuo entre
eles. Nesse sentido, procuramos apontar como a gestão que assumiu a
coordenação, dos serviços que a equipe de acadêmicos poderia contemplar e a
colaboração juntamente com a psicóloga Silvana as atividades que seria terapêutico
ou esculta no CAPS, com a perspectiva de se articularem a fim de aproximar o
contato entre os usuários, bem como seu empoderamento. Ao apostar nos
encontros entre os usuários de serviços de saúde mental, defendemos aqui a
potência contida na loucura, historicamente despotencializada por diversas
instituições.
Em última análise, trata-se de acreditar no ser humano, e em sua capacidade
de se apropriar de sua vida, vencendo obstáculos, transpondo limites, atualizando
forças a favor da expansão de possibilidades, de vida. Acreditar no encontro entre
“potências”, entre sujeitos, entre “loucos”. Não nas condições em que se efetivam
atualmente, no interior (ou fora) dos serviços, sob relações de tutela, mas em
circunstâncias nas quais haja maior possibilidade para a atualização de seus fluxos
de potência, fluxos instituintes. O CAPS ora visitado se mostra, no presente
momento, espaços de conforto e ao memos tempo de anulação da potência dos
coletivos de usuários. Enquanto essa for a realidade da atenção em saúde mental,
dificilmente conseguiremos relações potentes com a loucura, relações que atuem a
favor da desinstitucionalização da loucura, bem como avanços nas dimensões
culturais e de cidadania, referentes ao processo de reforma psiquiátrica brasileira.
Mudar essa realidade é tarefa não só de políticas públicas, mas de atitudes
cotidianas, de nós todos, para com o outro, quem quer que seja esse outro.
Ao refletir sobre o conflito de forças presentes no interior de serviços
substitutivos, devemos estar atentos a o que esse tipo de funcionamento tem a nos
dizer, não só no nível individual, da ruptura que cada usuário provoca em nossas
vidas, mas da capacidade que a loucura tem de pôr em cheque nossos dispositivos,
engrenagens, instituições etc., e de como tornar essas mesmas instituições mais
potentes.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Atenção Especializada e Temática. Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de
Acolhimento como lugares da atenção psicossocial nos territórios : orientações para
elaboração de projetos de construção, reforma e ampliação de CAPS e de UA /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Especializada e Temática. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. Disponível no link
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/centros_atencao_psicossocial _
unidades_acolhimento.pdf

BRASIL, Ministério da Saúde - Manual do CAPS Brasilia-DF 2004 - disponível


no link em: http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf

BRASIL, Ministerio da Saúde. Secretaria de Saúde. Centro de Atenção


Psicossocial. Disponível no link em: http://www.saude.gov.br/noticias/693-acoes-e-
programas/41146-centro-de-atencao-psicossocial-caps

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção
psicossocial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
Disponivel no link em: http://www.saude.gov.br /noticias/693-acoes-e-
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MARTINHAGO, F; Oliveira, W. F. A prática profissional nos Centros de Atenção


Psicossocial II (CAPS II), na perspectiva dos profissionais de saúde mental de
Santa Catarina. Saúde em Debate, vol. 36, núm. 95, octubre-diciembre, 2012, pp.
583-594. Disponível no link em: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v36n95/a10v36n95.pdf

MIELKE, F. B et al. O cuidado em saúde mental no CAPS no entendimento dos


profissionais. Ciênc. saúde coletiva vol.14 no.1 Rio de Janeiro Jan./Feb. 2009.
Disponível no link em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
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SAÚDE, Secretaria de Saúde. Municipio de Açailândia-Matanhão.Entrega do novo


Centro de Atenção Psicossocial-CAPS. ASCOM-PMA-por: Antônio Maria.
Disponível no link em: https://www.acailandia.ma.gov.br/noticia/ prefeito-juscelino-
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%E2% 80%93-caps-iii-no-bairro-ouro-verde/667

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