You are on page 1of 12

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/261025728

Distúrbios hidroeletrolíticos. [Fluid and electrolyte disorders].

Article  in  Jornal de pediatria · December 1999


DOI: 10.2223/JPED.392

CITATION READS

1 11,179

2 authors:

Arnaldo Prata Barbosa Jaques Sztajnbok


Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino Instituto de Infectologia Emílio Ribas
62 PUBLICATIONS   354 CITATIONS    49 PUBLICATIONS   609 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Septic encephalopathy in children View project

The validity and reliability of the Portuguese version of the Pediatric Confusion Method for the Intensive Care Unit (pCAM-ICU) View project

All content following this page was uploaded by Arnaldo Prata Barbosa on 18 January 2017.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


0021-7557/99/75-Supl.2/S223 Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 S223
Jornal de Pediatria
Copyright © 1999 by Sociedade Brasileira de Pediatria

ARTIGO DE REVISÃO

Distúrbios hidroeletrolíticos
Fluid and electrolyte disorders

Arnaldo Prata Barbosa1, Jaques Sztajnbok2

Resumo Abstract
Objetivo: Rever os principais conceitos relativos aos distúrbios Objective: To review the major concepts involving electrolyte
hidroeletrolíticos em pediatria, enfatizando em especial os aspectos disorders in pediatrics, with special emphasis on the diagnosis and
relacionados ao diagnóstico e tratamento. treatment.
Métodos: Revisão da literatura, através da pesquisa em livros- Method: Systematic literature review, searching through clas-
texto clássicos de referência, bem como através de busca ativa em sic pediatric textbooks, periodic electronic databases, such as
base de dados de periódicos, como o Medline, o Lilacs e outras Medline, Lilacs and other sources.
fontes. Results: Electrolyte disorders are among the most common
Resultados: Os distúrbios hidroeletrolíticos constituem-se em events in pediatric medical practice, specially in emergency care,
eventos extremamente comuns na prática médica pediátrica, prin- where, depending upon the magnitude, they may represent signifi-
cipalmente em situações de emergência, quando, dependendo da cant risk to patient life or to the development of permanent sequelae.
magnitude, podem representar risco de vida ou de seqüelas para o Dehydration, independent of etiology, has its importance defined
paciente. A desidratação, independentemente da etiologia, tem sua by the severity of water deficit (mild, moderate or severe) and by
importância definida pela intensidade das perdas líquidas (1º, 2º e the proportion of sodium waste in relation to water deficit (isotonic,
3º graus) e pela proporção de perdas salinas em relação à perda de hypotonic and hypertonic), and should be correctly recognized to
água (isotônica, hipotônica e hipertônica), devendo ser corretamen- guide adequate treatment. Sodium disorders have major risks of
te caracterizada, de modo a orientar um tratamento adequado. Os central nervous system compromise and potassium disorders are
distúrbios do sódio caracterizam-se, principalmente, pelo risco de specially linked to cardiac arrhythmia, always deserving special
comprometimento do sistema nervoso central, e os distúrbios do attention and care. On the other hand, calcium, phosphorus and
potássio, pelo risco de arritmias cardíacas, merecendo sempre magnesium disorders are more related to neuromuscular function
atenção especial e tratamento cuidadoso. Já os distúrbios do cálcio, alterations and, although less threatening, they need adequate
magnésio e fósforo estão mais relacionados ao comprometimento recognition and management.
da função neuromuscular e, embora menos ameaçadores, precisam Conclusion: Knowledge of the several mechanisms involved in
ser adequadamente reconhecidos e tratados. water and electrolyte metabolism is crucial to the correct compre-
Conclusões: O conhecimento dos diversos mecanismos envol- hension, diagnosis and management of fluid and electrolyte disor-
vidos no metabolismo da água e dos eletrólitos é fundamental para ders in pediatrics.
a correta compreensão, diagnóstico e abordagem dos distúrbios
hidroeletrolíticos em pediatria.

J. pediatr. (Rio J.). 1999; 75 (Supl.2): S223-S233: desidrata- J. pediatr. (Rio J.). 1999; 75 (Supl.2): S223-S233: dehydration,
ção, hiponatremia, hipernatremia, hipocalemia, hipercalemia, hi- hyponatremia, hpernatremia, hypokalemia, hyperkalemia, hypoc-
pocalcemia, hipercalcemia, hipofosfatemia. alcemia, hypercalcemia, hypophosphatemia.

Os distúrbios hidroeletrolíticos estão entre as ocorrên- adequado, particularmente em situações de emergência,


cias mais comuns da prática médica pediátrica, exigindo quando, dependendo de sua magnitude, podem represen-
atenção especial para o seu reconhecimento e manejo tar risco de vida ou de seqüelas para o paciente. Por outro
lado, pode-se dizer que a manutenção de um equilíbrio
1. Professor Adjunto do Departamento de Pediatria da Faculdade de hidroeletrolítico adequado faz parte dos cuidados básicos
Medicina da UFRJ. Doutor em Medicina pela Universidade Federal do de atenção a qualquer paciente (instável ou não), indepen-
Rio de Janeiro.Especialista em Medicina Intensiva pela SBP/AMIB.
2. Médico Assistente da UTI-Pediátrica do Instituto da Criança “Prof. Pedro
dentemente de sua doença de base. Daí a importância
de Alcântara” do Hospital das Clínicas da Fac. de Medicina da Univer- desse tópico para o pediatra.
sidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB.

S223
S224 Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii

Para facilitar a leitura e a compreensão do texto, os Desidratação isotônica ou isonatrêmica


distúrbios da água e dos eletrólitos serão abordados em Caracterizada por sódio sérico entre 135 mEq/l e
separado, embora, na prática, estejam sempre interliga- 150mEq/l. Há uma depleção de sódio e água, com uma
dos, devendo ser considerados em conjunto. perda proporcional à concentração do fluido extracelular.
Não há, portanto, gradiente osmótico entre os comparti-
mentos intra e extracelular, sendo este o tipo mais freqüen-
Distúrbios da água te de desidratação.
Desidratação
Conceito Desidratação hipertônica ou hipernatrêmica
Desidratação é a contração do volume extracelular Caracterizada por sódio sérico maior que 150 mEq/l.
secundária à perdas hidroeletrolíticas, cuja gravidade irá Há depleção de sódio e água, porém com uma perda
depender da magnitude do déficit em relação às reservas proporcional maior de água. Há, portanto, gradiente
corpóreas e da relação entre o déficit de água e de osmótico, sendo que a maior tonicidade do meio extrace-
eletrólitos, principalmente do sódio. A desidratação pode lular leva à desidratação celular com graves sintomas
ser classificada de acordo com a magnitude do déficit de secundários, principalmente ao comprometimento do sis-
água, estimada através de sinais clínicos e pela perda tema nervoso central.
ponderal (Tabela 1), em leve ou de 1º grau (perdas de até
5% do peso), moderada ou de 2º grau (de 5 a 10%) e grave Tratamento
ou de 3º grau (>10%). Por outro lado, o nível sérico do
Independentemente da etiologia da desidratação, que
sódio resultante dessas perdas, determinará a sua classifi-
pode ser muito variável, os princípios gerais de tratamento
cação em desidratação isotônica, hipotônica e hipertôni-
são os mesmos, devendo-se levar em consideração o grau
ca1,2.
das perdas de água (gravidade) e o nível de sódio (tipo de
desidratação), não se esquecendo de que outros distúrbios
Desidratação hipotônica ou hiponatrêmica eletrolíticos e metabólicos poderão estar presentes, mere-
Caracterizada por sódio sérico menor que 130 mEq/l. cendo atenção especial o equilíbrio ácido-base e os níveis
Há uma depleção de sódio e água, porém com uma perda de potássio.
proporcional excessiva de sódio em relação à perda De um modo geral, a desidratação leve e moderada
hídrica. A conseqüente hipotonicidade do líquido extrace- pode ser tratada através da via oral (terapia de reidratação
lular gera um gradiente osmótico com conseqüente movi- oral, TRO), reservando-se a via parenteral para os casos
mentação de água do espaço extracelular para o espaço mais graves, para a correção dos distúrbios eletrolíticos
intracelular, o que agrava o déficit extracelular, acentuan- severos e para aqueles com vômitos incoercíveis ou com
do os sinais e sintomas da desidratação. perdas continuadas muito intensas (>100 ml/kg/h)3.

Tabela 1 - Classificação clínica do grau de desidratação

Leve (1º grau) Moderada (2º grau) Grave (3º grau)

Estado geral Irritada, com sede, Mais agitada, muita sede, Deprimida, comatosa,
dorme mal e pouco raramente dorme não chora mais
Boca Seca, lábios vermelhos, Muito seca, lábios Lábios cianóticos
língua seca e saburrosa às vezes cianóticos
Olhos Normais Fundos Muito fundos
Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes
Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida
Pele Quente, seca, Extremidades frias, Pele fria, acinzentada,
elasticidade normal elasticidade diminuída elasticidade muito diminuída
Pulsos Normais Finos Muito finos
Enchimento Normal Lentificado Muito lentificado
capilar* (até 3 s) (3 a 10 s) (mais de 10 s)
Perda de peso 2,5 a 5% 5 a 10% Acima de 10%
Déficit estimado 25 a 50 ml/kg 50 a 100 ml/kg > 100 ml/kg
* Comprime-se a mão fechada da criança por 15 segundos e libera-se, observando-se o tempo necessário para a volta à coloração normal.
Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 S225

A terapia de reidratação endovenosa consiste em três Como regra prática, uma vez calculado o volume de
fases com objetivos terapêuticos distintos: fase de repara- manutenção (100 ml/100 kcal/dia), as necessidades diári-
ção ou expansão, fase de manutenção e fase de reposição. as basais de glicose, sódio e potássio serão fornecidas em
uma solução de quatro partes de SG 10% e uma parte de
Fase de reparação ou expansão SF, acrescida de 1 ml de KCl 19,1% para cada 100 kcal
É a primeira fase do tratamento, objetivando o resta- (1 ml de KCl 19,1% = 2,5 mEq de K).
belecimento rápido dos níveis normais de água e eletróli-
tos. A escolha da solução a ser utilizada depende de alguns
fatores e pode variar de serviço para serviço. As soluções Tabela 2 - Necessidades diárias de água, eletrólitos e glicose
isotônicas, de um modo geral, podem ser sempre empre- com base no dispêndio calórico
gadas, sendo o soro fisiológico a solução de eleição nas
Peso Dispêndio calórico
desidratações hipertônicas, onde a administração rápida
de fluidos hipotônicos pode levar ao desenvolvimento de Até 10 kg 100 kcal/kg/dia
edema cerebral. Por outro lado, a não utilização de glicose 10 a 20 kg 1000 kcal + 50 kcal/kg/dia
na fase de expansão aumenta o risco de hipoglicemia, (para cada kg acima de 10 kg)
particularmente em crianças desnutridas e gravemente Mais de 20 kg 1500 kcal + 20 kcal/kg/dia
enfermas, o que sugere a associação de soro glicosado com (para cada kg acima de 20 kg)
soro fisiológico (solução glico-fisiológica). Por fim, em
pacientes com acidose metabólica grave, a administração As necessidades diárias de água, eletrólitos e glicose na
de solução salina pura pode agravar a acidose, pela maior manutenção, são, para cada 100 kcal,
diluição do bicarbonato plasmático, estando neste caso Água – 100ml Na – 3 mEq
mais indicadas as soluções contendo bicarbonato ou seus Glicose – 8 g K – 2,5 mEq
precursores, como o lactato2,4.
De todo modo, após a escolha da solução e após a
pesagem da criança, inicia-se a expansão com volume de
100ml/kg na velocidade de 50ml/kg/hora, reavaliando-se
a criança ao final de cada hora. Em função dessa avaliação, Fase de reposição
e dependendo da intensidade da depleção, a velocidade da
Essa fase visa à reposição das perdas anormais conti-
expansão poderá ser reduzida para 25ml/kg/h ou repetida
nuadas de água e eletrólitos. A estimativa das perdas
na velocidade inicial de 50ml/kg/hora se os sinais de
diarréicas ao longo de 24 horas é variável e, portanto, o
desidratação grave persistirem5,6.
volume e a composição da solução de reposição devem ser
Na desidratação hiponatrêmica com hiponatremia gra- continuamente reavaliados ao longo da terapia de hidrata-
ve (sódio plasmático menor do que 120mEq/l), preconiza- ção. Via de regra, na reposição das perdas fecais em
se a administração de NaCl a 3%, conforme apresentado diarréias leves e moderadas, utiliza-se solução de partes
na seção sobre hiponatremia. iguais de SG 5% e SF, com volumes de 30 a 60 ml/kg/dia,
Na presença de acidose metabólica grave, pode-se, com reavaliação clínica contínua. Nas diarréias mais
mesmo na ausência de gasometria, utilizar uma solução intensas, que necessitem volumes de reposição maiores,
composta de sete partes de SG5%, quatro partes de SF e normalmente faz-se necessário uma proporção maior de
uma parte de bicarbonato de sódio a 3% (1 ml de SF na solução, podendo-se até utilizar SF exclusivamente.
Bicarbonato de Na 3% = 0,36 mEq de bicarbonato)6. O O nível sérico de sódio será o determinante da melhor
volume e a velocidade de infusão são os mesmos descritos proporção de SF na composição dessa solução. O soro de
para a solução de expansão. reposição é infundido ao longo de 24 horas, juntamente
A fase de reparação termina quando desaparecerem os com a solução de manutenção descrita previamente8.
sinais clínicos de desidratação e quando a criança apresen- Estudos de recuperação do equilíbrio hidroeletrolítico
tar duas micções com urina clara, desde que sejam em lactentes desidratados por diarréia com até dois dias de
afastadas outras causas de poliúria (hipopotassemia, hipo- duração demonstraram um déficit de potássio de 8 a 10
natremia e hiperglicemia com diurese osmótica). mEq/kg9-11. Com base nesses estudos, uma quantidade de
2,5 mEq a 5 mEq/kg deve ser acrescentada à solução de
Fase de manutenção reposição ou manutenção a ser infundida ao longo das 24
Essa fase tem por objetivo repor as perdas fisiológicas horas. Deve-se salientar que o nível sérico de potássio tem
normais de água e eletrólitos da criança. As quantidades valor limitado no diagnóstico do déficit total de potássio
de água, eletrólitos e glicose necessárias para a manuten- corpóreo e, portanto, o nível sérico normal não contra-
ção em 24 horas são estimadas em função da atividade indicará essa reposição. Nos casos em que houver insufi-
metabólica provável, conforme a regra de Holliday (Tabe- ciência renal, a reposição de potássio deverá ser reavali-
la 2)7. ada.
S226 Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii

Distúrbios do sódio excesso de volume. Muito raramente, concentrações ele-


Hiponatremia vadas de proteínas (>10 g/dl) também podem causar
Conceito pseudohiponatremia17.
Caracterizada por Na+ sérico < 135 mEq/l, assume A hiponatremia com osmolaridade plasmática aumen-
maior gravidade em situações em que os níveis de sódio tada (hiponatremia dilucional) ocorre em situações em que
encontram-se abaixo de 120 mEq/l, ocasião em que há hiperosmolaridade por aumento de solutos. Nesses
necessita de correção imediata e cuidadosa. É o distúrbio casos, há um desvio de água do intra para o extracelular,
eletrolítico mais comumente encontrado em pacientes com conseqüente diluição do sódio plasmático por unidade
instáveis, podendo ser decorrente de uma série de condi- de volume. No caso da hiperglicemia, pode-se empirica-
ções, como pode ser visto no Tabela 312-16. mente “corrigir” o sódio para o nível de glicose, fazendo-
se a adição de 1 mEq/l de Na+ para cada 60 mg/dl de
A hiponatremia com osmolaridade plasmática normal
glicose que ultrapasse 100 mg/dl. Por exemplo: Na+
(pseudohiponatremia) quase sempre está associada à hi-
sérico medido = 130 mEq/l, glicemia = 580 mg/dl
perlipidemia (hipertrigliceridemia). Nessas situações, o
(portanto, 480 mg/dl acima de 100 mg/dl); assim o Na+
que ocorre é um artefato na dosagem do Na+, pois como
sérico “corrigido” será de 130 + 8 = 138 mEq/l17.
há aumento do teor lipídico na amostra de sangue, há uma
conseqüente redução na quantidade de sódio por unidade A hiponatremia com osmolaridade plasmática baixa
de volume, sem que haja excesso de água em relação ao compreende os casos de “hiponatremia verdadeira”, onde
soluto (a osmolaridade medida é normal). Naturalmente, há uma real diminuição da concentração do Na+ sérico em
esses pacientes não devem ser tratados como se tivessem relação à água corpórea total, resultado de um excesso de
água (retenção hídrica ou ingesta exagerada) ou de perdas
de sódio proporcionalmente maiores do que as perdas
hídricas. Essas situações, que correspondem à maioria dos
Tabela 3 - Causas de hiponatremia casos de hiponatremia, podem cursar com volume intra-
vascular normal, alto ou baixo, e têm causas variadas
Osmolaridade plasmática normal (pseudohiponatremia) (Tabela 3).
Hiperlipidemia, hiperproteinemia

Osmolaridade plasmática aumentada


Diagnóstico clínico e laboratorial
Hiperglicemia, manitol, glicerol, contrastes radiológicos Normalmente a hiponatremia costuma ser assintomá-
tica até que os níveis de Na+ plasmático caiam abaixo de
Osmolaridade plasmática baixa (hiponatremia verdadeira) 125 mEq/l. Quando surgem os sintomas, o quadro é
Com urina muito diluída principalmente neurológico, podendo inicialmente ser
Baixa ingesta protéica (desnutrição, erro alimentar) sutil, caracterizando-se por leves alterações do estado
Aporte excessivo de água (ingerido ou endovenoso)
mental, como incapacidade de concentração e sonolência.
Urina com diluição normal ou reduzida Nos quadros mais graves, associados a Na+ sérico de 115-
1. Hiponatremia normovolêmica 120 mEq/l (quadros agudos) e 105-110 mEq/l (hiponatre-
a) SSIHAD mia crônica), podem ocorrer náuseas, vômitos, convul-
Doença neurológica (meningites, encefalites, tumores sões, alterações do estado mental, estupor e coma. De um
cerebrais, trauma de crânio, pós-operatórios neuroci-
modo geral, quando a instalação é aguda, predominam
rúrgicos, hemorragias intracranianas, hidrocefalia, etc.)
Doença pulmonar (pneumonias, ventilação mecânica, hiperexcitabilidade, irritabilidade, cãimbras e convul-
pós-operatórios de cirurgia cardíaca, pericardites, etc.) sões. Quando a instalação é insidiosa, predominam fra-
Drogas (carbamazepina, morfina, vasopressina, etc.) queza, apatia, confusão, letargia, torpor e coma. Ocasio-
Ansiedade (dor, estresse) nalmente, pacientes com hiponatremia crônica podem se
Outras (neoplasias, Addison, lupus, etc.) apresentar assintomáticos, mesmo com níveis de sódio na
b) Insuficiência suprarrenal (também pode cursar com faixa de 100 mEq/l13,18.
hipovolemia)
c) Hipotireoidismo
Nos quadros que cursam com hipovolemia (redução do
extracelular), geralmente estão presentes sinais de desi-
2. Hiponatremia hipovolêmica dratação, como perda de peso, alterações do turgor da
a) Perdas extrarrenais: gastrintestinais (vômitos, diarréia, pele, saliva espessa, olhos encovados, fontanela deprimi-
fístulas, etc.); perdas p/ o 3º espaço (peritonites, da, taquicardia, pulsos de pequena amplitude ou hipoten-
queimaduras, trauma, etc.)
são. Nestes casos, deve-se pesquisar causas renais e extra-
b) Perdas renais: uso de diuréticos, tubulopatias, acidose
tubular renal, insuficiência renal poliúrica, insuficiên- renais de perda de sódio. Nos quadros que cursam com
cia suprarrenal, etc. hipervolemia (aumento do extracelular / edema), predo-
minam as manifestações da doença de base (insuficiência
3. Hiponatremia hipervolêmica
cardícaca, síndrome nefrótica, etc.). Nas hiponatremias
Insuficiência cardíaca congestiva, síndrome nefrótica,
cirrose hepática com normovolemia, deve-se pesquisar aporte de água
excessivo (oral ou endovenoso), hipotireoidismo e insufi-
Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 S227

ciência suprarrenal. Afastadas essas causas, deve-se pen- Tabela 4 - Causas de hipernatremia
sar em SSIHAD e seus desencadeantes19,20.
Ganho de sódio
Soluções de reidratação oral em excesso, aporte alto de
Tratamento NaCl ou NaHCO3 EV, hiperaldosteronismo, síndrome de
A hiponatremia assintomática (geralmente Na+ 125 a Cushing
135 mEq/l) não requer tratamento imediato com soluções
de sódio, apenas correção da causa básica, que deve ser Déficit de água
sempre pesquisada e identificada para que se possa reali- Diminuição da ingesta
zar o tratamento específico (ex: aumento do aporte de Ingestão inadequadamente baixa (erro dietético, causas
psicológicas)
sódio nas perdas anormais ou oferta reduzida, suspensão
Insensibilidade dos centros da sede à hiperosmolaridade
do uso de diuréticos, corticóide na insuficiência suprarre- (hipernatremia essencial)
nal e na síndrome nefrótica, suporte inotrópico para a Distúrbios hipotalâmicos (hipodipsia)
insuficiência cardíaca, etc.). Na presença de hipovolemia,
deve-se realizar a reposição volêmica conforme indicado Perda de água superior à perda de Na+ (não renal)
na seção Distúrbios da Água. Na hiponatremia hipervolê- Sudorese excessiva, diarréia, perdas para o 3º espaço
mica (presença de edema) ou normovolêmica por SSIHAD (queimaduras, peritonites, etc.), perdas insensíveis (febre,
deve-se restringir o aporte de líquidos em 50 e 75% das calor radiante, hiperventilação, etc.)
necessidades basais e avaliar o uso criterioso de furosemi-
Perda de água superior à perda de Na+ (poliúria)
da em alguns casos19.
Diurese osmótica: natriurese (diuréticos de alça, tubu-
Por outro lado, a hiponatremia grave (Na+ < 120 lopatias), outros solutos (glicose, manitol, uréia)
mEq/l ou sintomátca) é uma emergência médica, e o seu Diurese aquosa (incapacidade de concentrar a urina)
tratamento deve ser imediato. Calcula-se inicialmente a Diminuição da liberação de HAD (diabetes insípido
quantidade de Na+ a ser administrada, através da fórmula: central)
[Na+ (mEq) = (Na+ desejado - Na+ atual) x peso x 0,6] - trauma de crânio, cirurgia, tumor hipofisário
Diminuição da sensibilidade ao HAD (diabetes
Nos casos de hiponatremia aguda, a correção deve
insípido nefrogênico)
inicialmente visar à elevação do sódio sérico até 130 mEq/l - tubulopatia, hipopotassemia, hipercalcemia
(Na+ desejado) e, nos casos crônicos, apenas até 120
mEq/l. Normalmente emprega-se uma solução de cloreto
de sódio a 3% (89 ml de soro fisiológico + 11 ml de NaCl
20%, concentração final de 0,5 mEq/ml) e procura-se não
ultrapassar uma velocidade de infusão de 5 mEq/kg/h (10
Independentemente do fator causal, o aumento da
ml/kg/h) nas hiponatremias agudas e 2,5 mEq/kg/h (5 ml/
concentração de sódio no plasma acarreta um desvio de
kg/h) nas hiponatremias crônicas21,22. Tais cuidados vi-
água do compartimento intracelular para o extracelular,
sam a evitar um aumento muito rápido dos níveis de sódio,
situação particularmente grave quando se considera o
que tem sido associado a uma desmielinização osmótica da
sistema nervoso central, onde a hipertonicidade nos capi-
ponte, conhecida como mielinólise central pontina, fre-
lares sangüíneos frente à barreira hemato-encefálica leva
qüentemente fatal, caracterizada clinicamente por parapa-
a um desvio de água do líquor, do insterstício cerebral e
resia, quadriplegia, disartria, disfagia, alteração da cons-
dos neurônios, com conseqüente ingurgitamento vascular
ciência e coma23,24. Embora a mielinólise pontina esteja
e desidratação neuronal, sendo comum o desenvolvimento
mais associada à correção rápida do déficit de sódio nas
de hemorragias e fenômenos trombóticos. Quando a
hiponatremias crônicas, de um modo geral, recomenda-se
hipernatremia se instala mais lentamente, há uma adapta-
para todos os casos não se elevar os níveis de Na+ mais
ção neuronal, com a formação de radicais osmoticamente
que 12 mEq/l nas primeiras 24 horas.
ativos no interior dos neurônios (osmóis idiogênicos), que
resulta num certo equilíbrio com o meio extracelular. Esse
Hipernatremia mecanismo de defesa, no entanto, precisa ser considerado
na ocasião do tratamento, pois a restauração muito rápida
Conceito da osmolaridade plasmática pode resultar no desvio abrup-
Caracterizada por Na+ sérico >145 mEq/l, costuma to de água para o interior dos neurônios, resultando em
assumir maior gravidade quando os níveis de Na+ ultra- edema cerebral, hipertensão intracraniana e suas potenci-
passam 150 a 155 mEq/l, com grande potencial de ais complicações18-20,26.
mortalidade e risco de seqüelas. Está sempre associada a
hiperosmolaridade plasmática e normalmente é causada
Diagnóstico clínico e laboratorial
por um déficit de água (aporte baixo ou perdas anormais)
ou aporte excessivo de sódio (Tabela 4), podendo cursar Deve-se suspeitar de hipernatremia e hiperosmolarida-
com hipovolemia, normovolemia ou hipervole- de em qualquer paciente com alteração do estado mental
mia12,18-20,25. e história sugestiva de déficit de água ou aporte excessivo
S228 Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii

de sódio, embora muitas vezes o diagnóstico de hiperna- 40 ml/kg de soro fisiológico 0,9% (hipotônico em relação
tremia seja um achado da pesquisa de eletrólitos realizada ao paciente) em 1 hora ou colóides (albumina 5%, plasma
de rotina. Quando há sintomas, estes são predominante- ou outro). Após a correção inicialmente rápida, passa-se
mente ligados ao sistema nervoso central, podendo ocor- a uma solução glico-fisiológica 1:1 (0,45%) até controle
rer irritabilidade, confusão, convulsões, torpor, coma e total da volemia, prosseguindo-se mais lentamente, como
outras alterações decorrentes de eventuais hemorragias e nos pacientes normovolêmicos. Se houver suspeita de
tromboembolismo27. Por outro lado, a estimativa clínica edema cerebral por correção rápida, pode-se usar o
da volemia é essencial para a correta abordagem diagnós- manitol (0,25 a 0,5 g/kg/dose, EV rápido) até de 2/2h, até
tica e terapêutica, devendo-se sempre avaliar se o paciente melhora do quadro. Se há hipervolemia, deve-se facilitar
encontra-se normovolêmico, hipovolêmico (desidratado) a excreção de solutos através da administração de diuré-
ou com sinais de hipervolemia (hiperidratado, hiperten- ticos, como a furosemida (1 mg/kg/dose), repondo-se as
so). perdas urinárias adicionais de água. Nos casos de insufi-
Na investigação laboratorial, a dosagem do Na+ ciência renal, indica-se diálise ou hemofiltração.
urinário é particularmente importante, uma vez que con- Naturalmente, deve-se buscar sempre o tratamento da
centrações baixas (5 a 10 mEq/l) indicam contração do causa básica da hipernatremia, como por exemplo a
extracelular, geralmente por perda de água livre, enquanto administração de vasopressina no diabetes insípido de
concentrações altas (> 20 mEq/l) indicam ganho de sódio origem central; clorpropamida e tiazídicos no diabetes
ou natriurese por alteração dos mecanismos de conserva- insípido nefrogênico; aumento de líquidos nas perdas
ção renal. A osmolaridade urinária também é importante, insensíveis, etc.
pois valores maiores que 300 mOsm/kg sugerem hiperna-
tremia de causas não-renais (ganho de sódio, diminuição
da ingesta e perdas não-renais). Nas hipernatremias renais Distúrbios do potássio
(poliúricas), a Osm U é menor que 300 mOsm/kg, e a
O potássio é o principal eletrólito intracelular e a
relação entre a osmolaridade urinária e plasmática (Osm
relação entre os seus níveis intra e extracelulares é a
U/Osm P) permite distinguir a diurese aquosa, por inabi-
principal determinante do potencial elétrico transmembra-
lidade de concentração urinária (relação < 0,9), da
na. Portanto, qualquer alteração significativa na concen-
diurese osmótica, por excreção excessiva de solutos (re-
tração extracelular de potássio pode ter sérios efeitos não
lação >0,9). Na diurese osmótica eletrolítica encontra-
apenas na função metabólica, mas também na condução
mos 2 x (Na+ U + K+ U) > 0,7 x Osm U e quando o
nervosa, com repercussões na musculatura e, principal-
predomínio de solutos é não-eletrolítico (glicose, manitol,
mente, no ritmo cardíaco, predispondo ao desenvolvimen-
uréia, etc) este valor é maior que 0,7 x Osm U20.
to de arritmias nos casos mais graves.

Tratamento
Hipopotassemia
Independentemente da causa, a hiperosmolaridade
Conceito
determinada pela hipernatremia implica sempre em um
déficit de água. Quando o paciente está lúcido e com Caracterizada por K+ <3,5 mEq/l, geralmente é
mecanismo de sede preservado, normalmente o aumento assintomática, embora nos casos graves possa cursar com
natural da ingestão de água por via oral é capaz de alterações que vão desde fraqueza muscular até a arritmias
equilibrar o quadro. No entanto, nos casos graves sinto- cardíacas. As principais causas de hipopotassemia encon-
máticos ou na impossibilidade ou inadequação da reposi- tram-se discriminadas na Tabela 512,18,20,28-30.
ção oral, é necessária a reposição venosa do déficit de água
que pode ser calculado através da fórmula: Diagnóstico clínico e laboratorial
Déficit de água (em l) = peso x 0,6 x [(Na+ - 140) / 140] Embora muitas vezes assintomática, a hipopotassemia
Em pacientes com hipernatremia a mais de 48 horas ou pode cursar desde o início com sinais sutis de fraqueza
em caso de dúvidas sobre o período de instalação do muscular e, em quadros mais graves, evoluir com parali-
quadro, essa reposição não deve ultrapassar a metade do sias da musculatura esquelética (até a parada respiratória)
déficit calculado nas primeiras 24 horas, face ao risco de e alterações da musculatura lisa (íleo paralítico). Entre as
edema cerebral e deterioração do quadro neurológico manifestações cardiovasculares, podem estar presentes a
associado a reposições rápidas. De um modo geral, hipotensão postural e as arritmias cardíacas, incluindo
recomenda-se não reduzir a natremia em mais do que 0,5 extrassístoles, bloqueio atrioventricular, taquiarritmias
a 1,0 mEq/l por hora6,19,20. ventriculares e fibrilação ventricular12,18,20,28,29.
Se o paciente está normovolêmico, pode-se acrescen- Entre os exames complementares, colhe-se de rotina
tar o déficit de água à hidratação de manutenção na forma no sangue Na+, K+, Mg, glicose e gasometria e, na urina,
de soro glicosado a 5%, com concentrações de sódio na pelo menos EAS, Na+, K+ e osmolaridade. Deve-se
faixa de 20 a 30 mEq/l. Se há choque (hipovolemia), realizar também um ECG, embora, ao contrário da hiper-
prioriza-se a reposição de volume, que pode ser feita com potassemia, não se observe boa correlação entre a gravi-
Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 S229

Tabela 5 - Causas de hipopotassemia procurando-se não ultrapassar concentrações de 60 mEq/l.


Nesses casos, dar preferência à utilização de veia perifé-
Depleção de potássio
rica, pois a administração de altas concentrações de
Aporte baixo potássio em vasos centrais, muito próximos ao coração,
- Baixa ingesta (via enteral), administração insuficiente (via
pode precipitar arritmias cardíacas. Em casos refratários,
venosa)
considerar o diagnóstico de hipomagnesemia e repor
Perdas aumentadas magnésio. Em casos de hipocalcemia associada, repor
Não-renais cálcio, face ao risco de tetania após a correção dos níveis
- Gastrintestinais: vômitos, diarréia, drenagem gástrica, de potássio. Quando o K+ alcançar 3,5 mEq/l, prosseguir
fístulas
com taxas normais de manutenção6,12,18,20,28,29.
- Sudorese excessiva
Renais
- Aumento da reabsorção de Na+ no néfron distal (qualquer
aumento de mineralocorticóides: depleção de volume, uso Hiperpotassemia
de corticóide, Cushing, hiperaldosteronismo primário)
Conceito
- Aumento da oferta de Na+ no néfron distal (qualquer
redução da absorção de Na+ no néfron proximal: diuré- Caracterizada por K+ > 5 mEq/l, freqüentemente é
ticos de alça, tiazídicos, diurese osmótica por glicose, assintomática, embora nos casos graves possa cursar com
manitol, uréia) sérias alterações da função muscular e do ritmo cardíaco.
- Aumento de ânions pouco absorvíveis no túbulo distal De um modo geral, pode ser causada por aporte excessivo
(perda de bicarbonato como na acidose tubular renal, de potássio, redistribuição interna ou excreção inadequa-
alcalose metabólica e compensação de alcalose respirató- da, conforme classificação apresentada na Tabela
ria; excreção de ceto-ácidos; excreção de antibióticos:
612,18,20,28,29.
penicilina, carbenicilina, aminoglicosídeos; antifúngicos:
anfotericina; hipomagnesemia)

Redistribuição interna (diminuição da relação entre o Tabela 6 - Causas de hiperpotassemia


K+ extra e intracelular)
- Aumento dos níveis de insulina (hiperinsulinismo, glico- Adição de potássio ao extracelular
insulino terapia)
Aporte alto
- Agonistas beta-adrenérgicos (catecolaminas, broncodila-
- Ingesta elevada (via enteral), administração excessiva
tadores, teofilina)
(via venosa)
- Alcalose metabólica e respiratória
Redistribuição interna (aumento da relação entre o K +
extra e intracelular)
- Diminuição dos níveis de insulina (diabetes)
- Bloqueadores beta-adrenérgicos (propranolol)
- Acidose metabólica hiperclorêmica
dade do quadro e as alterações eletrocardiográficas, que - Bloqueadores musculares despolarizantes (succinilcoli-
mais comumente consistem em achatamento ou inversão na)
da onda T, presença de onda U, segmento ST retificado ou
Fontes endógenas
infradesnivelado e arritmias atriais e/ou ventricula- - Rabdomiólise (infecção, trauma, drogas), lise tumoral
res12,18,20,28,29. (linfoma, leucemia)
- hemólise
Tratamento
Pseudohiperpotassemia
Sempre que possível, deve-se procurar identificar e
- Trombocitose, leucocitose,
corrigir a causa básica que está determinando o distúrbio - hemólise in vitro (técnica inadequada de coleta ou conser-
eletrolítico. No entanto, independentemente da causa, vação da amostra)
pode-se adotar a seguinte estratégia: a) casos leves, com
K+ entre 2,5 e 3,5 mEq/l e sem manifestações clínicas, dar Excreção inadequada
preferência à reposição oral, utilizando-se cloreto de Insuficiência renal
potássio a 6% (3 a 5 mEq/kg/dia) e, se o paciente estiver Insuficiência suprarrenal
em uso de diuréticos que expoliam potássio (ex: furosemi- Drogas
da), substituí-los por diuréticos poupadores de potássio - Inibidores da aldosterona (espironolactona)
(ex: espironolactona); b) casos moderados e graves, com - Diuréticos poupadores de potássio (amiloride, triamtere-
K+ < 2,5 mEq/l (com ou sem manifestação clínica), optar ne)
por reposição venosa, idealmente com monitorização - Inibidores da enzima conversora de angiotensina (capto-
pril, enalapril)
eletrocardiográfica, aumentando-se o aporte de potássio
- Antiinflamatórios não-hormonais
para até 0,3 a 0,5 mEq/kg/hora (durante 3 a 5 horas),
S230 Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii

Diagnóstico clínico e laboratorial Distúrbios do cálcio


A anamnese deve procurar indicativos que apontem O cálcio é o principal cátion divalente do organismo e
para alguma causa específica, assim como os exames encontra-se concentrado predominantemente nos ossos,
necessários ao estabelecimento do diagnóstico causal na forma de cristais de hidroxiapatita, com uma proporção
devem ser realizados. Independentemente da causa, a muito pequena no plasma e extracelular. No entanto, essa
hiperpotassemia pode cursar com alterações musculares pequena fração desempenha um papel muito importante
que vão desde fraqueza muscular e íleo paralítico a nos mecanismos de transmissão neuromuscular e na con-
quadriplegia e paralisia respiratória. As alterações cardí- tração da musculatura, entre outros, de modo que altera-
acas, no entanto, dominam o quadro e podem ser detecta- ções de seu metabolismo podem ter conseqüências clínicas
das pela realização de um ECG, que pode apresentar as significativas.
seguintes alterações: onda T apiculada, achatamento e até
desaparecimento da onda P, aumento do intervalo PR, Hipocalcemia
depressão do segmento ST, bloqueio atrio-ventricular,
Caracterizada por níveis séricos de cálcio < 7 mg/dl,
alargamento progressivo do QRS até constituir a configu-
muitas vezes é assintomática, porque o cálcio iônico
ração em forma de sino e arritmias atriais e/ou ventricu-
(fração que participa dos mecanismos neuromusculares)
lares. Nos casos graves, o paciente pode evoluir para
pode estar normal apesar do cálcio total baixo. Se houver
parada cardíaca em assistolia (menos freqüentemente
hipoalbuminemia concomitante, os níveis de cálcio podem
fibrilação ventricular). Normalmente, pode-se classificar
ser “corrigidos” acrescentando-se 0,75 mg/dl para cada 1
a hiperpotassemia de acordo com a gravidade do quadro
g/dl de albumina abaixo de 3,5 g/dl. Face à abundância do
em: a) leve: K+ < 6 mEq/l, com ECG normal ou apenas
cálcio no organismo, a hipocalcemia sempre significa
com onda T apiculada; b) moderada: K+ entre 6 a 8 mEq/l
falha nos mecanismos regulatórios e pode ter várias causas
e ECG com onda T apiculada; c) grave: K+ > 8 mEq/l ou
(Tabela 7)20,26,31,32.
ECG com onda P ausente, QRS alargado ou arritmi-
as6,12,18,20,28,29.

Tratamento Tabela 7 - Principais causas de hipocalcemia


O tratamento da hiperpotassemia vai depender da
gravidade do quadro, embora, de um modo geral, em Deposição de cálcio nos ossos ou tecidos
todos os casos deva-se sempre restringir ou suspender a Pancreatite, rabdomiólise, hiperfosfatemia
administração de potássio e corrigir os fatores causais. Diminuição do paratormônio (PTH) ou de seus efeitos
Nos quadros leves, essas medidas bastam, podendo-se Hipoparatireoidismo primário ou secundário, hipomagne-
associar furosemida nos casos com insuficiência renal ou semia, deficiência de vitamina D, hiperparatireoidismo
suprarrenal. Nos casos moderados e graves, segue-se o materno (em recém-nascidos)
seguinte roteiro: Outras
1. restringir ou suspender o potássio e corrigir os fatores Baixo aporte (enteral ou parenteral), sepse, pós-correção
causais; de acidose, pós-exsangüíneotransfusão, uso de diuréticos
2. antagonizar os efeitos neuromusculares da hiperpotas- (furosemida)
semia (reduz a toxicidade cardíaca, mas não reduz os
níveis de K+), com gluconato de cálcio a 10% (0,5 a
1,0 ml/kg, EV em 15 minutos, com monitorização do
ECG); é a primeira medida terapêutica nos pacientes já Quando sintomática, predominam as manifestações
com toxicidade cardíaca; neuromusculares, podendo-se observar desde abalos, tre-
3. redistribuir o K+ internamente: a) bicarbonato de mores, espasmos musculares, clônus, fasciculações e
sódio (1 a 2 mEq/kg, EV), atua rapidamente, constitu- convulsões, principalmente em recém-nascidos, até mani-
indo-se na forma mais rápida de diminuir o potássio festações cardiovasculres como hipotensão, bradicardia,
(efeito persiste em torno de 2 horas); b) glicoinsulino- bloqueio e arritmias. Em crianças maiores pode-se obser-
terapia (glicose 0,5 a 1 g/kg + 1 UI de insulina para var tetania e os sinais clássicos de Trosseau e Chevos-
cada 4 g de glicose, EV, em 60 minutos), reduz o K+ tek20,26,31,32.
em 1 a 2 mEq/l em 30 a 60 minutos e o efeito persiste Entre os exames complementares é obrigatória a dosa-
por 4 a 6 horas; gem de magnésio e fósforo, pois a hipomagnesemia e a
4. aumentar a eliminação do K+: a) diuréticos de alça hiperfosfatemia freqüentemente se associam à hipocalce-
(furosemida); b) resinas de troca: 0,5 a 1,0 g/kg de 6/6 mia. O ECG mostra aumento do intervalo QT e ST e, em
ou 4/4 horas, diluídos em água ou sorbitol (3 ml/g de recém-nascidos, a utilização do intervalo QT corrigido
resina), de preferência por via oral ou SNG (utilizar a (QTc = QT / RR) relaciona-se melhor com a fração
via retal em caso de vômitos); c) diálise (hemodiálise ionizada: QTc > 0,19 em RN a termo ou QTc > 0,20 em
ou diálise peritoneal). RN pré-termo sugere cálcio iônico baixo.
Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 S231

Nos casos sintomáticos, o tratamento deve ser feito por hipomagnesemia é caracterizada por magnésio <1,4
via venosa, administrando-se 200 mg/kg de gluconato de mEq/l, tornando-se sintomática abaixo de 1 mEq/l e a
cálcio a 10 % (2 ml/kg) em infusão lenta, não se ultrapas- hipermagnesemia caracteriza-se por magnésio >2,5 mEq/l
sando a velocidade de 50 mg/kg/min, face ao risco de (sintomática >4 mEq/l). As principais causas dos distúr-
bradiarritmias (suspender a infusão se FC < 80 bpm). Nos bios do magnésio são apresentadas na Tabela 920,34,35.
casos assintomáticos, deve-se aumentar o aporte de cálcio
para 400-800 mg/kg/dia de gluconato de cálcio durante 3
a 4 dias, até a correção da hipocalcemia. Lembrar que a
hipomagnesemia ou hiperfosfatemia concomitantes preci-
Tabela 9 - Distúrbios do magnésio
sam também ser corrigidas para que se possa controlar a
hipocalcemia6,20,26,31,32. Hipomagnesemia
Redução da oferta
Hipercalcemia Baixa ingesta (desnutrição, erro alimentar), administra-
Caracterizada por cálcio >11 mg/dl, geralmente é ção venosa insuficiente
assintomática, embora valores >13 mg/dl estejam associ- Redução da absorção
ados a alterações do estado mental (letargia, psicose), Síndromes disabsortivas, ressecção maciça do intestino
fraqueza muscular e arreflexia profunda, redução da delgado
peristalse e constipação, além de arritmias cardíacas. O
Perdas excessivas
ECG mostra encurtamento do intervalo QT. As principais Fístulas digestivas, diarréia crônica, insuficiência renal
causas de hipercalcemia encontram-se relacionadas na crônica, aspiração gástrica prolongada, drogas (diuréti-
Tabela 820,26,31. cos, aminoglicosídeos, anfotericina B), excesso de vita-
O tratamento dos casos com cálcio >13 mg/dl (sinto- mina D
máticos ou não) e de todos os sintomáticos (independen- Outras
temente do nível sérico), deve objetivar a redução dos Pós-operatório de cirurgia cardíaca, pancreatite, hiperal-
níveis de cálcio através da diminuição do aporte (via dosteronismo, hipertireoidismo, hipoparatireoidismo, ce-
enteral ou parenteral); do aumento da excreção renal, toacidose diabética, rabdomiólise, queimadura extensa
utilizando-se soro fisiológico (20 ml/kg associado à furo-
semide, 1 mg/kg/dose de 6/6 h); da redução da mobiliza- Hipermagnesemia
ção do cálcio ósseo (mitramicina 25 mcg/kg em SG 5%, Iatrogênica
EV em 3 a 6 h) e da redução da absorção intestinal, além Medicação oral com Mg, RN de mães com eclâmpsia
tratadas com MgSO4
do tratamento da causa básica6,20,26,31,33.
Doenças sistêmicas
Insuficiência renal aguda, hipotireoidismo, doença de
Tabela 8 - Principais causas de hipercalcemia Addison

Falha na regulação normal do cálcio


Hiperparatireoidismo
Hipoparatireoidismo materno (em recém-nascidos)
Ação análoga ao PTH (peptídeo relacionado ao PTH) No quadro clínico da hipomagnesemia podem ocorrer
Câncer (carcinomas, metástases ósseas) náuseas, vômitos, letargia, fraqueza, espasticidade, hi-
Aumento anormal de vitamina D perreflexia, tetania (sinais de Trousseau e Chevosteck),
Ingesta ou administração excessiva manifestações neurológicas (confusão, psicose, depres-
Doenças granulomatosas (sarcoidose, tuberculose) são, delírios, apnéia e coma), assim como arritmias
Outras cardíacas, em geral graves (taquicardia ventricular, fibri-
Ingesta ou administração excessiva de cácio, hipertireoi- lação ventricular e atrial, torsades de pointes). As altera-
dismo, intoxicação por vitamina A ções do ECG incluem prolongamento do intervalo PR e
QT, onda T achatada e invertida, depressão do segmento
ST e alargamento do QRS. Na hipermagnesemia, o quadro
clínico tem relação com os níveis de magnésio, podendo-
se observar náuseas (4-8 mEq/l), sonolência, hipoventila-
Distúrbios do magnésio ção, hiporreflexia, fraqueza muscular (15-30 mEq/l),
Assim como o potássio, o magnésio distribui-se predo- hipotensão, bradicardia, vasodilatação difusa
minantemente no compartimento intracelular, de modo (20-40mEq/l), arreflexia, coma e parada respiratória
que os níveis séricos não refletem o magnésio corpóreo (40-60mEq/l). As alterações do ECG são o prolongamento
total. Desempenha um importante papel na contração do espaço PR, alargamento do QRS, aumento de amplitu-
muscular, primariamente em associação com o cálcio. A de da onda T, bloqueio AV e parada cardíaca20,34.
S232 Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii

O tratamento da hipomagnesemia nos casos assintomá- A hipofosfatemia geralmente é assintomática, mas nos
ticos se faz pela reposição oral ou aumento do aporte casos graves pode-se observar fraqueza muscular, princi-
venoso, e, nos casos sintomáticos, administrando-se 0,25 palmente da musculatura respiratória, muitas vezes difi-
mEq/kg IM, a cada 6 horas ou 1 mEq/kg EV em 24 horas. cultando a retirada da ventilação mecânica. O diagnóstico
Na presença de fibrilação ventricular ou torsade de é feito através de níveis séricos menores que 2,5 mg/dl,
pointes, utiliza-se o sulfato de magnésio a 50% (0,05 a 0,1 embora só se observem sintomas com valores abaixo de 1
ml/kg, equivalentes a 2,5 a 5 mg/kg) por via venosa em 1 mg/dl. O tratamento se faz com a reposição venosa de
minuto. Em caso de outras arritmias ventriculares, tetania fósforo em 6 a 8 horas (1 a 2 mMol/kg de fosfato de
ou convulsões, usar a mesma dose em 30 minutos. potássio) nos casos mais graves e com o simples aumento
Lembrar que arritmias não responsivas ao tratamento do aporte diário (0,5 a 1,0 mMol/kg/dia) nos casos leves
habitual podem responder a Mg++ EV. Por outro lado, a moderados6,20.
pesquisar sempre associação com hipocalcemia, hipopo- A hiperfosfatemia, caracterizada por fósforo sérico
tassemia e hipofosfatemia e corrigir esses déficits especí- >5 mg/dl, geralmente é assintomática, embora a elevação
ficos6,20,34,36. Já a hipermagnesemia é tratada com a aguda dos níveis séricos de fósforo possam levar a
restrição ou supressão do aporte de magnésio, reposição precipitação de fosfato de cálcio (produto cálcio x fósforo
com soro fisiológico e furosemida (aumenta a excreção de >60) no coração, rins e pulmões, podendo ocasionar
Mg++), gluconato de cálcio EV (200 mg/kg) e diálise nos distúrbios de condução cardíaca (bloqueios) e calcifica-
casos graves, podendo-se em recém-nascidos, optar pela ções nesses órgãos. Pode-se observar também sinais de
exsangüíneotransfusão6,20,34. hipocalcemia. O tratamento se faz principalmente através
da identificação e remoção (ou controle) do fator causal,
havendo urgência apenas nos casos de bloqueio átrio-
Distúrbios do fósforo ventricular. Lembrar que na hiperfosfatemia com hipocal-
O fósforo é encontrado no organismo tanto na forma cemia, o tratamento deve ser a redução do fósforo, e não
inorgânica (sais de fosfato), quanto na forma orgânica, a reposição de cálcio, de modo a evitar-se maior risco de
como participante de importantes funções metabólicas calcificações ectópicas. O aumento da excreção de fósforo
(ATP, 2,3-DPG), concentrando-se principalmente nos pode ser conseguido com a infusão de soro fisiológico nos
ossos e no compartimento intracelular. Os distúrbios de pacientes que tolerarem aumento de volume; com o uso de
seu metabolismo decorrem basicamente da redistribuição quelantes orais de fósforo nos que puderem utilizar a via
do fósforo entre os compartimentos intra e extracelular e digestiva e através de diálise nos casos muito graves, o que
do balanço entre aporte e excreção. As principais causas é raro6,20.
de hipo e hiperfosfatemia encontram-se discriminadas na
Tabela 1020.

Referências bibliográfias
1. Dell RB. Fisiopatología de la deshidratación. In: Winters RW,
Tabela 10 - Distúrbios do fósforo
ed. Líquidos orgánicos en Pediatría. Barcelona: Elicien; 1978.
p. 119-37.
Hipofosfatemia
2. McCarthy PL. General considerations in the care of sick chil-
Depleção pré-existente dren: parenteral fluid therapy. In: Behrman RE, Kliegman RM,
Desnutrição, deficiência de vitamina D, má absorção de Nelson WE, Vaughan VC III, eds. Nelson textbook of
gorduras, perdas renais crônicas, diurese osmótica (ceto- Pediatrics. 14ª ed. Philadelphia: WB Saunders; 1992. p. 195-203.
acidose diabética), uso crônico de antiácidos 3. Terapia de reidratação oral. Norma técnica SS nº 31/85 da
Divisão de Normas Técnicas da Secretaria da Saúde do Estado
Redistribuição aguda do fósforo extracelular de São Paulo. Diário Oficial Executivo; sec.1, São Paulo 95
Alcalose respiratória, sepse, encefalopatia hepática, (006), 10/01/1985.
intoxicação salicílica, glico-insulinoterapia 4. Harrison HE. Dehydration in infancy: hospital treatment. Pedi-
atr Rev 1989;11:139-43.
Hiperfosfatemia 5. Kallen RJ. The management of diarrheal dehydration in infants
Aporte excessivo using parenteral fluids. Pediatr Clin North Am 1990;37:265-86.
Via enteral (dieta com muito fósforo, principalmente em 6. Fernandes JC, Kalil Fº WJ, Stape A. Distúrbios hidroeletrolíti-
insuficiência renal) cos. In: Stape A, Troster EJ, Kimura HM, Gilio AF, Bousso A,
Administração excessiva (parenteral) Britto JLBC, eds. Manual de Normas de Terapia Intensiva
Pediátrica. São Paulo: Sarvier; 1998. p. 167-75.
Excreção prejudicada 7. Holliday MA, Segar WE. The maintenance need for water in
Insuficiência renal, depleção do extracelular, hipoparati- parenteral fluid therapy. Pediatrics 1957;19:823-32.
reoidismo 8. Boineau FG, Lewy JE. Estimation of parenteral fluid require-
ments. Pediatr Clin North Am 1990; 37:257-64.
Redistribuição aguda do fósforo intracelular
9. Cardoso AL. Contribuição ao estudo do metabolismo de potássio
Trauma tecidual maciço, rabdomiólise, lise tumoral,
em crianças eutróficas na recuperação da diarréia. Tese –
hemólise
Faculdade de Medicina da USP, 1977.
Distúrbios hidroeletrolíticos - Barbosa AP et alii Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, 1999 S233

10. Cardoso AL. Contribuição ao estudo da terapêutica de hidratação 25. Conley SB. Hypernatremia. Pediatr Clin North Am 1990;37:
venosa na desidratação por diarréia na criança marasmática. 365-72.
Tese – Faculdade de Medicina da USP, 1984. 26. Hellerstein S. Fluid and electrolytes: physiology. Pediatr Rev
11. Cavinatto JN. Contribuição para o estudo do uso de potássio na 1993;14:70-9.
fase rápida inicial da reidratação. Tese – Faculdade de Medicina 27. Arieff AI. Central nervous manifestations of disordered sodium
da USP, 1990. metabolism. J Clin Endocrinol Metab 1984;13: 269-94.
12. Cronan KM, Norman ME. Renal and electrolyte emergencies. 28. Brem AS. Disorders of potassium homeostasis. Pediatr Clin
In: Fleisher GR, Ludwig S, eds. Textbook of pediatric emergen- North Am 1990;37:419-28.
cy medicine. 3ª ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1993. p. 29. Cardoso AL, Brunow LRR. Distúrbio do metabolismo do
670-5. potássio. In: Matsumoto T, de Carvalho WB, Hirschheimer MR,
13. Berry PL, Belsha CW. Hyponatremia. Pediatr Clin North Am eds. Terapia intensiva pediátrica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu;
1990;37:351-64 1997. p. 553-8.
14. Olson BR, Gumowski J, Rubino Dl, Oldfield EH. Patho- 30. Rakhmanina NY, Kearns GL, Farrar HC 3rd. Hypokalemia in an
physiology of hyponatremia after transsphenoidal pituitary sur- asthmatic child from abuse of albuterol metered dose inhaler.
gery. J Neurosurg 1997; 87:499-507. Pediatr Emerg Care 1998;14:145-7.
15. Bernstein AS, Williford SL. Intranasal desmopressin-associated 31. Costa HPF, Hirschheimer MR, Andrade OVB. Distúrbios do
hyponatremia: a case report and literature review. J Fam Pract metabolismo do cálcio. In: Matsumoto T, de Carvalho WB,
1997; 44:203-8. Hirschheimer MR, eds. Terapia intensiva pediátrica. 2ª ed. São
16. Arieff AI, Kronlund BA. Fatal child abuse by forced water Paulo: Atheneu; 1997. p. 559-72.
intoxication. Pediatrics 1999; 103(6 Pt 1):1292-5. 32. Cardenas-Rivero N, Chernow B, Stoiko MA. Hypocalcemia in
17. Alpern RJ, Saxton CR, Seldin DW. Clinical interpretation of critically ill children. J Pediatr 1989;114:946-51.
laboratory values. In: Kokko JP, Tannen RL, eds. Fluid and 33. Bilezikian JP. Manegement of acute hypercalcemia. N Engl J
electrolytes. 2ª ed. Philadelphia: WB Saunders; 1990. p. 3-69. Med 1992;326:1116-203.
18. Hellerstein S. Fluid and electrolytes: clinical aspects. Pediatr 34. Blanco Fº, Troster EJ. Distúrbios do metabolismo do magnésio.
Rev 1993;14:103-15. In: Matsumoto T, de Carvalho WB, Hirschheimer MR, eds.
19. Stape A, Nogueira PCK, Guinsburg R. Distúrbios metabólicos Terapia intensiva pediátrica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 1997.
do sódio. In: Matsumoto T, de Carvalho WB, Hirschheimer MR, p. 573-7.
eds. Terapia intensiva pediátrica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 35. Fiser RT, Torres A Jr, Butch AW, Valentine JL. Ionized
1997. p. 519-35. magnesium concentrations in critically ill children. Crit Care
20. Bongard FS, Sue DY. Fluid, electrolytes & acid-base. In: Med 1998;26:2048-52.
Bongard FS, Sue DY, eds. Current critical care diagnosis & 36. Maggioni A, Orzalesi M, Mimouni FB. Intravenous correction
treatment. Norwalk: A Lange; 1994. p. 294-342. of neonatal hypomagnesemia: effect on ionized magnesium. J
21. Gruskin AB, Sarnaik A. Hyponatremia: Pathophysiology and Pediatr 1998;132:652-5.
treatment, a pediatric perspective. Pediatr Nephrol 1992;6:
280-6.
22. Sarnaik AP, Meert K, Hackbarth R, Fleischmann L. Manege-
ment of hyponatremic seizures in children with hypertonic Endereço para correspondência:
saline: A safe and effective strategy. Crit Care Med 1991;19: Dr. Arnaldo Prata Barbosa
758-62. Universidade Federal do Rio de Janeiro
23. Brunner JE, Redmond JM, Haggar AM, Kruger DF, Elias SB. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira
Central myelinolysis and pontine lesion after rapid correction of
hyponatremia. Ann Neurol 1990;27:61-6. Departamento de Pediatria
24. Lien YH, Shapiro JI, Chan L. Study of brain electrolytes and Av. Brigradeiro Trompowsky, s/nº – 3º andar
organic osmolytes during correction of chronic hyponatremia. Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ
Implications for the pathogenesis of central pontie myelinolysis. CEP 21941-590 - Tel/fax: (21) 562-6153
J Clin Invest 1991;88:303-9.

View publication stats

You might also like