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CAPITULO 2 A TEOLOGIA COMO DISCURSO SOBRE O SER HUMANO A teologia nio pode cransformar-se em antropologia. Ela no somente se afastaria do propésito que the é atribuide como prépria, no qual, se as palavras rém um sentido, tém como objetivo Deus (teo-logia), mas tam- bbém falaria mal do ser humano (ancropo-logia), porque, esquecendo-se de Deus, no levaria até 0 ser humano o discurso da transcendéncia da qual ele tem necessidade e dirito. Portanto, nfo & de rado algum 0 caso de a teo- logia, envergonhada de si mesma, abdicar de suas responsabildacles cle dis curso sobre Deus, Envretanto, ea nfo pode enfraquecer seu discurso sobre o ser humano, pois continua sendo também um discurso sobre o ser humano, Mas como, com que direito e em quais condigées? Estas paginas prerendem responder 2 essas perguntas, acteditando que a teologia tern algo a dizer sobre 0 ser humano — e que ninguém dlrd se ela nfo o Fizer Faremos isso abordando suas trés quest6es. Respondendo & primeira — a teologia faa a respeito do ser humane? —, procuraremos justificar 0 direito de a teologia ser antropo- logia. Esse ponto seré desenvalvido de forma muito breve, pois nfo é nada mais do que uma lembranga de coisas)é conhecicas ee interesse maior nao recai sobre este ponto. A resposta segunda questo — de qual ser humano a teologia fala? — seré um pouco mais ampla, porque se trataré de situar bbem 0 lugar de onde a teologia fala como discurso sobre © ser humano, smn lugar que the deve ser especifico, sob pena de se confundir (inutiimente) com outros saberes. Contud, é a terceira questo — ao falar desse ser hue mano, come & que a teologia fala dele? —- que nos levard a tratar de fato da especificidade de nosso assunto. Esse desenvolvimento serd também omais amplo, que pretende mostrar aquilo que 2 teologia, no concerto dos discur- sossobre o ser uumno, quer e pode contribuir deform especial einalienivel A teologia fala do ser humano? ‘Que a teologia ndo fala somente de Deus, mas também do serhumano, 6 um fato, Um fato que se verifica ern dois niveis e possui assim uma dupla justificagao. Primeiro, romemos a teologia em seu sentido estrito de discurso sobre Deus. Mesmo nesse caso, a teologia jé fala do ser humano, porque ela 0 encontra inevitavelmente no préprio movimento no qual encontra Deus. De fato, Deus — *Ninguém viu o Pai, a nao ser o Filho’, *"Ninguém pode ver (Deus sem morrer” — nunca é encontrado em estado puro’ se assim pode- ‘mos dizer, mas sempre nos sinais, sacramentos, mediagdes, 20 menos no Ambito do conhecimenta? Ora, a primeira e mais importante dessas medi- ages éjustamente o ser humano, imagem e semelhanga de Deus por exce- lencia, Também (e sobretudo, ¢ preciso dizer) en ambiente cristéo, a revela- Gao de Deus, visto que é crstol6gica, nos ¢ dada num homem ("quern me vi, viu o Pai), Porque Deus ndo é um objeto deste mundo, e a teologia, como conhecimento, toma seu embalo a partir daquilo que Ihe é dado "na terra’ aquilo que é primeiramente encontrado nesse caminho runoa Deus; cla éohomem falando de Deus. Tal &0 seu lugat ao mest tempo tebrico « pritico, onde the & dado o Deus do qual ela fala, Antes de ser um De Deo puraesimplesmente,a teologiaé um De Den creante,revelante, gratiam dante Tag gp er “not. conbectrata”ouva coea@agulo que se devia das ro its USAR Sititaannos db goes as unto con Deusns angio ee tc, sto & um discurso sobre Deus no qual o ser humano é consttutivo e inseparavelmente compreendido numa rlagio. Néo hi, portanto, discurso sobre Deus que nfo passe, 0 mens no comeso, pelo ser humana? A pro pra palavra “Deus” 6 existe para mim porque é pronunciada pelo ser hu ‘mano eem forma humana. A teo-logia,portanto, encontrainevitavelrnente ‘ser humano em seu caminho e nao pode fazer de outra maneira, 20 me- nos indlretamentesenao falar dele ao falar de Deus. Poderfames até mesmo pperguntar se ela poderd, depois desse primeiro momento, continuar fazen- do algum discurso sobre Deus que ndo passe obrigatoriamente ¢ de parte a parte por esse sacramento do ser humano. Ha, porém, mais, e esta éa segunda razio pela qual aceologia é rambérn antropologia. Tal como ela se oferece de fato, tog historicaeempiricarnente, e tal como ela se compreende de cireito, isto é, justificando e legimando reoricamente essa preterso, a teologia & sempre apresentada ndo somente ‘como um discurso (do ser humano efou de Deus) sobre Deus, mas como um discurso de Deus sobre a ser humano. A fé (ou a revelagdo) considera, de fato, que Deus 6 um Deus que tem algo a dizer a0 ser hummano e sobre o ser humano, que ter algo a solictarthe, a pedirihe que faca algo; que tem um plano a respeito dele que espera algo dele. Em resumo, para af e, Por tanto, paraa ceologia, hd uma visio teologal do ser humano, uma visio do ser humano a parte Dei, Deus & visto como tendo uma idéia sobre o ser fhumano; ee & um definidor do ser humane. Nota-se, poreanto, que hit na teologia um discurso sobre o ser humano, pelo fato de ea falar de ur Deus ue fala do ser hurnano. Por esses dois motivos, a teologia tem assim o seu lugar como antropo- logia, isso sem que ela leice de ser teologia, mas no proprio movimento ein que cla se constitui como tal. A teologia fala do ser humana Mas de qual ser huriano ela fala? 7 Nan ce nto, Obs (pre mlsment) die ve des i De Deo wean srt et at Osrnwo Ao falar do ser humano, de que ser humano fala a teologia? Assim como a filosofia, a psicologia, a sociologia etc, ao falarem do ser humano e, portanto, nesse sentido do mesmo ser humana, falam, no en- tanto, dentro de uma formalidade particular, do mesmo modo a ceologia, como antropologia, deve se atribuir um “recorte” particular do ser humano, mesmo send evidence que, assim como a fé, da quel ela é aqui expressdo, ela seinteresse, em uitima instancia, por todo o ser humano, segundotadas as suas dimensées. Sem divida, poclemos concordar em dizer quea teologia é aqui dlscurso-sobre-o-homem-quie fala-de-Deus? O homem, ser de inguager, fala da reaidade que ihe dz respeito, Eassim que, entre outras coisas, ee fala de Deus, Como discurso sobre esse discurso, podemos dizer que a teologia se constitui em uma antropo-logia de um mado proprio. Encreranco, aqui a teologia encontra de fato varias espécies de dscursos junco 20 ser humano que fala de Deus, Parece-re que se poderiaclstinguir ers 0 discurso do mythos [Um primeiro tipo de ser humano que fala de Deus é0 ser humano rel- £i0s0.entendicdo corno ser humano de discurso espontineo, néo-reflexo,ndo- «itco, 6 homem nu, ou quase, no plano do fogos, mas rico em mitas* e em Titos; encontramos esse ser humano maravilhosamence mas religies chama- das primitivas.Diante desse ser hurnano que alaa Deus maisdo que de Deus* deparamo-nos igualmente com um ciscurso sobre (a) Deus naquilo queele + 7 osama decseia rer stra hanommtlaaus, porque liad fe sea ontiata Aiea poem camo daa itn sabe steht pm seus sees ie a orc 9 tr S comer le Deu Neo mee mwa er sepa Eee seta yo teers ie oatams tes restnvomer oes }o'decafrmugbesiotomen-qae tase besetuell ‘eo std incor pracaratsizar esl coro enooalons, Cepeas urapinea cholaen Sola parr era pate dese ap cue mostarmee 3 tina seca ae aneek tesgee Ess emo vermont no tar sehen iio posto; 28 can, xa tod 9 sez reopabgea ert castnguase aug wavs doom eds ces vera A reioan cone aia sO SEMAN tem de mais imediato, mais fundamental, sem ernpecitho. Nesse sentido, & tum discurso privilegiadi, Com efeco, pocerios dizer que o lugar rligioso 80 lugar nativo do discurso sobre Deus. Portanto, o eedlogo se encantra com ohomem ‘mitico® O discurso do logos ‘ Um outro tipe de ser human que fala de Deus é 0 filsofo. € um fato, 20 menos em nossa cultura ocidental depois de Sécrates e de Plasio, ueo homem fale do then, de(os) deus(es), de Deus em seu: discurso racional (logos). Tata-se de um discurso teflexo, de um discurso segundo, mas de lum auténtico discurso sobre Deus. Qualquer que seja 0 estatuto que the convenha atribuir esse discurso existe e tem todo 0 direto de se fazer ouvir O te6logo se encontra, entio, com © homem "i6gico" em sua abordage do ser humano que fala de Deus. O discurso do éthas-fé (O terceito tipo de ser humano que fala de Deus & sem diwvida nenhuma, aquele que cré. Numa primeira aproximagao, poderiamos situé-lo entre 0 ser humano religioso esponténeo e 0 filésofo reflexive. Nao é mais simples- mente o ser hummano de um mythos mais ou menos andrquico, mas tam- ‘bém nao é (ou ndo é ainda} o do fogas organizado e querido como tal ¢0 ser humano de um éihas-fé, Se o olharmos um pouco maisde perto, pace- vemos talvez encontrar af trés componentes. Diremos que ocrence é0 ser humano que tem um comportamento, uma aticuce (thos), A f6¢ urna maneira de ser e ce agir que se furndamenca e se regra por um “modelo” de comportamento que vem de Deus.Crer éadocar tuma atitude, enderecar-se por um caminho. E por isso quea inguagem des- se tipo de ser humana que fala de Deus & linguagem performativa: porque ele dig,o crente guer que algo se produza em sua vida. Ele & também o ser humano de uma adesd, de uma adesio a Deus. crente cré em Deus, deposita sua confianga em Deus, Nesse nivel, lingua Osean gem da fé, que no é um saber (logos), 6 auto-implicativa © crente se com- promete diante de Alpuém se apega. le. Essa dimensio, drfamos, éa mais inobjetivavel. Estamos diante do segredo de uma relago na qual o crente se vé emnpenhado com todo o seu ser. Enfim, € 0 ser humano de um conhecimento, porque ha também um ‘contetido noético na fe crente é visitado por urna Palavra fides ex aul. ‘Aquivalinguagern &linguagern da reveiagdo. © crente no vive uma expe- rigncia nebulosa, mas urna experiéncia transpassada por uma luz que ilumi- ria seu conhecimenso, embora este continue ao mesmo tempo sendo um diance daquilo que o ultrapassa. “desconheciment ‘Assim, 0 teélogo se encontra na presenga de «rés tipos de ser humano ‘que falam de Deus: 0 ser humano do mythos, o ser humano do logos, 0 set humano de um éthos. Para elaborar seu discuso ele se aplica sobre os erés ou privilegia um ou outro? No abstrato € na teoria, & preciso responder que o tedlogo nto deve negligenciar nenhurn desses lugares onde o ser humano fala de Deus. Por- tanto, nfo ha duivida de que wina teologia completa seria aquela que pres- tasse conta do conjunto das situages em que o ser humano fala de Deus. ‘No entanto, conereta e praticamente, diante da amplido dessa tarefa e das miitiplas especializacoes que ela requereria, ems o direito de pergun- car seo tedlogo nic esti autorizado, contanto que se predispontia paraisso, a depositar sua atengéo apenas num s6 desses trés lugares, Fazendo isso, cercamence 0 teblago se sentiré divididlo. De um lado, ele gostaria de nz. * ‘ser provinciano’ de néo se sentir amarrado (embora se sinta engajado) por um discurso necessariamente regional ao deixar de lado 0s outros dois, De outro lado, porém,o tedlogo se dé conta de que néo pode percorrer todos os discursos de urmasé vea. Além do aumento ji citado de competéncia que iso exigiria, podemas nos perguntar se, na hipévese de o teblogo tentar tl discur- so,este Ultimo no se tornaria demasiado universal egeral para ser verdadero, tum discurso que correriao isco da incoeréncia, misturando os géneros, um d/iscurso que, no final, querendio dizer tudo, acabaria ndo dizendo nada. Areioca cum encinio ane os Ne E preciso escother. Mas € preciso escolher bem, ou ao menos justificar a escotha, para que nio seja arbitraria, De minha parte, opto aqui por uma teologia que, como anttopologia seré um discurso a partir do terceito tipo de ser humano que fala de Deus, o do éthos-é e, mais coneretamente, do <éthos-fe cristo, Para tanto so necessatias a0 menos dus justficatvas. primeira, muito simples, € que, sendo cristo, parece-me que é de den- tro desse lugar que posso falar melhor € possivel falar da fé — lembremo-nos das suas ués dimens6es anteriormente sublinhadas — se nio participamos, dlelaa partir de dentro? No se veja aqui, portanto, nesta escolha, 0 despre- 20 de uma outra fé, mas, ao contraio, eu respeito ea consciéncia de que x temos o directo de falar da nossa ‘A segunda justficativa, em certo sentido mais profunda, é a seguinte: & que eu creio, em ultima instincia ~- e i0 sea dito sem querer de modo algum dogmatizar nem absolutizar —, que, dos rrés lugates de onde o ser ‘humane fala de Deus, o mais préximo do seuobjeto",o mais ad rem, o mais rico cambém, € 0 éthos-fé. Em resumo, trata-se de um lugar privilegiado e que se pode, portanco, privilegiar Por qué? ‘A fé, mais do que o mythos religioso @ 0 logos filosofico, se apresenta como uma aticude tocalmente especifica quanto questo de Deus. Omico do fala somente de Deus, ele veicula também toda uma visio do mundo (cosmogonia).€ a flosofia,é evidente, néo faz de Deus 0 seu tinico “objeto” A fé em compensagao, esti aqui numa situasao privilegiada. Engajamentoe auto-implicagdo, conhecimento e agir (a f8, no nos esquesames, é uma Virtus) af € urs lugar singular onde se expressae se realiza um dizer original ¢ irredutivel sobre Deus (enquanto os outros so mais ou menos redutivels) De codes os seres-humanos-que-falam-de-Deus,o ser humano do éthos-fé rndo 6 aquele que faz ouvir um discurso e (se) propde uma atitude verda- dlirariente original e que est mais perto daguito que, embora confusamen- «5, se entende por Deus? O ser humano do mito néo esta mais em contato com um dfvinurr mais ou menos confuso, bem distante de um Deus concebi- do numa relagio intefpessoal?E 0 filbsofo, 0 ser humane do logos, nao se Osun contenta (no deveria contentarse”)freqlentemente com uma afirmacso “fra” sobre Deus, abscrata, longe de um engajamento preciso, ao menos perce- bio segunda formalidade do flésofo, enquanto Deus ¢ aquele que exige o- bbrecudo, mas do que ser simpiesmente afirmado, ser confessado e "praticado"? ‘Se Deus éaquele “ake do qual nfo héalém’, se Deus £0 Ultimate Concern, se ele € 0 Incondicionado que pode exigir um engajamento absoluto; e Deus néo ¢ simplesmente exigencia de absoluto (Deus dos fildsofos) mas Absoluto de exigéncia (0 Deus de Abraio, de Isaac e de Jacé, 0 Deus de Jesus Cristo, de Francisco de Assis, de Martin Luther King), 0 ser humano de f8,0.er humano que transmite a sua fé,ndo 60 ser humano de um discurso privilegiado, porque mais engajacio e mais completo (ceoria e préxis), me- thor deixando Deus ser Deus? Portanto, respondo acu pergunta: “De qual ser humano fala a teolo- ia? dizendo que cla fala do ser-hurmano-que-fale-de-Deus-na-fé. Mas como E que ela fala © 0 que ela die? Essa é a verceira questo, que deve penitir compreender na direglo certa qual éa antropologia da teologia. Ao falar do ser-humano-que-fala-de-Deus, como a teologia se expressa a respeito dele? ‘A questo surge porque, evidentemente, um discurso sobre o ser hyma- no crente no é especifco da teologia, mas é também o fato da psicologia, da sociologia, da flosafia, da hisedria, da lingistica etc. Entio, de dua coi- sasuma, Ou teologia, que foi numa certa épaca, antes da constituigdo das ciéncias humanas, 0 discurso sobre o ser humano que fala de Deus, cende hoje a desaparecer, como a alquimia cedeu lugar & quimica. Ou ent, encre cosdiferentes discursos sobre o ser humano que fala de Deus, a teologiatem um lugar espectfico,e que ea deve justficar precisamente ern fungio de um quorode: como ela fala dele? ‘Achamos que a verdadeira hipdtese é a segunda, ao menos é aquela da qual defenderemos a validade. De resto, o panorama plural das ciénciashu- _manas (psicologia, sociologia etc) interessando-se pelo ser hurmano crente Jiro significa que o discurso teol6gjco nfo esta prior excluido, visto que no hh um Ginico discurso? Portanto, para indicar sua especifcidadt, estathe mostrar com ela fala do ser hurano crente, pois é nesse plano que se dis- tinguem as disciplinas que falam do mesmo objeto, Assim teremos respon dico & nossa pergunta: 0 que diz a teologia sobre o ser humano, gual éasua antropologia? Depo's de ter precisado duas preliminares indispenséveis sol- citagdo do exposto, vamos estabelecer, conforme trés dados,o discurso da teologia sobre o ser humano e verminaremos definindo, ad intra ead extra. a fungGo propria ¢ 0 exercicio espectfico dessa teologia ancropolgica. Duas preliminares O direito das ciéncias humanas (O redlogo constata que asciéncias humana falam do ser humano cren- te. Longe de ver nisso um sacrilégio ou uma intromissio indevida (desde (gue, claro, nenhuma dessas disciplinas aia na pretensio do dlscurso (0- tal), 0 eedlogo deve, ao contravio, considera tas iniciatvas (ali, legicimas em si) como lhe prestando um grande servico. De fato, poder-se-ia compa rar a fungao das céncias humanas hoje em relagio & f€ com a fungio que recentemente exercia (e pode sempre exercer) a tealogia negativa em tela- (40.2 teologia positiva ou afirmativa: controlar esta tiltima crticando suas afirmagies. Com efeit, as ciénctas humanas nos ajudam a purifcar a fé de tudo aquilo que néo é ela mesma, Desmascarando aquilo que podehaver ai de projegao na fé (psicologia), apontando 0s modelos socials aos quai a fé corte 0 risco de se sulbmeter 2o exercer FungBes que nao sio suas (sociolo- gia), mostrando os facores culeuras ndo essencialmente lgadios 8 8 (historia) — e os exemplos poderiam se mutkilicar —, as cléncias humanas permiem ‘encregar a féa si mesma, desernbaracada (o melhor possive!) de suas impure- zas? Eaqui se faz necessirio sublinhar todas as vantagens do processo ca 7 fis, € do, “omar pss. Cinponeleinpsnt hegara ua pureza ssaka. Nora, ‘honor euva gin cesinds saaiel a7 58 Osawusiv0, reducio — que néo deve ser confundido com reducionismo? € gracas & recugio realizada pelas cigncias humanas que pode apareces despojada da- auilo que nio é ea, 0 iredutivel da fé e.0 que a teologia vai poder carregar, cestando em seu lugar propzio. Entende-se entdo — insisto porque daqui a pouco vou falar tambéin sobre os limites das ciéncias humanas — que, 20 menos a prior aexisténcia dessas disciplinas ndo encra num jogo de'con- cotténcia, de desconfianca ou de exclusio. A teologia aceitou, nao faz mui- to, esse servigo (duro num primeiro momento, imensamente benéfico em seguida) por parte da histéria, da flologia e das ciéncias nacurais. Ela deve aceitar hoje, com a mesma lucidez, tal contribuigdo da parte da psicologia, da sociologia e da linghistica, Os limites das ciéncias humanas ’ (© teélogo olha mais uma ver para as ciéncias humanas. Desta vez, po- rém (e sern renunciar a0 julgamento positivo que acabou de fazer), com a mesma preocupacio de verdade, ele constata que 6 propésico cientfico © seu tipo de racionalidade (que é apenas urna das maneiras da racionalidade, do logos) no fecham o circuito e nao permitem encerrar 0 questionamen- 0. As ciéncias humanas no esgotam o fenémeno da f&. Assim como os clscursos psicolgico e sociol6gico sobre uma obra de arte, por mais pert rrentes que sejam, deixar espiago para um cerne iredutivel chamado beleza ‘eque pede um discurso estético, do mesmo modo a fé no se debsa abarcar inteiramente pels ciéncias huranas e reivindica ser reconhecida em sua especiicidade iredurlvel. Assim como um discurso sociol6gico ou psico6- ico sobre oamor nunca chegaria tevelar o seu time segredo, do mesmo modo esses discursos — o crente testemunha, como faz 0 apaixonado — do podem pretender abarcar cudo aquilo que se tem a dizer sobre a fé, sobre o crente, sobre 0 ser-humano-que-fal-ce-Deus. Orz, ¢ importante que se vd até o fim, que se dé conta da especificidade, "Graces dere eno sogleme auto ae io prc, como pk, ojo ey pata Bos, Stunaee ete son expect © proces enn, pov i, cont {LUNNGS petit do eo ompavia arcre ndvmentssmerses eo opto A conn ncn SHE senMN Como se v8, crata-se de preservar urna linguagem que no & rectuclvel & linguagem cientifica, Esta tem a sua racionalidade e assim se comunica com © logos universal, mas essa racionalidade nao é toda a racionalidade: ha ou- tras maneiras de responder do logos universal. Pode-se falar de diversas rna- neiras sobre uma drvore: a do bornico, ado guarda florestal,a do automo- bilisca, a do poeta. Todos esses ciscursos téi a sua ligica e seus direitos. A linguagem cientifca (a do boténico) goza de um privigjo, que nossa cultu- ragoncedea cigncia e aos éxitos que ela permite, Tal dscurso, porém, além dese poder discutir mesmo seu privitégio, em todo caso nao é 0 inico que consegue fazerse ouvir, A arvore ndo é mera e simplesmente uma fibra lenhosa. © discurso poético sobre a arvore merece iguaimente reivindicar seus direitos. Falandosassim, certamente poderfatnios dara entender que estamos trans- bordando perigosamnente as margens do logos (ou rato). Toda a questo, pporém, & saber se 0 logos da ciemtificidade & todo o logos, esgotando a sua Universalidade. Na realidade, o logos € mais amplo,ndo tema sua patria esua expressdo unicamente na ciéncia. Se portanto, com razio, se reivindlicam os diteitos imprescindiveis da ratio para se rejeitar toda e qualquer linguagemn dlelirante € alienadora, € preciso saber que ha varias moradas em sua man sito. Uma & a linguagem do foges cientifco, outra a da poesia, do amor, mas trata-se sempre do Jogos. Do mesmo modo sobre a f&. E preciso dizer asua ratio propria; ez em uma. Ora, 0 discurso cientifico (psicokigico, sociolégi- co etc), que exige um tipo de racionalidade e que, portanto, descobre 0 Jogos dentro de umarelacéo, nao pode desembaracat-se desse logos préprio, O discurso cientfico nao pode falar e nao fala da FE em sua “iferenga’, em sua alteridade, em sua transcendéncia, em sua especificidade, ern sua itre- dutibilidade, Eno surge urna pergunta: nfo hd nenhum discurso que, sem ser um grito (aff néo € um grito)e, portanto, respeitando os direitos do Jogos universal e do tipo de logos em pauta na fseré capaz de fazer ouvir aquilo que afé tern a dizer e anunciar como proprio? Certamente a fé pode falar diretamente, ‘sem essa mediago, como 0 faz nos credos suas confssbes suas lturgias etc. Osenasny Todavia, como em toda parte ha discursos rmediadores, nfo é precio que também a fé encontre um discurso para si que, entre os outros discursos e para dialogar com eles, fagao discernimento da ratio propria dessa f& (logos desse thos), proclamando edeferddendo os seus direitos e mangjando 2scon- digBes que tormem compreensivel o que ela tem a dizer de prdprio e de irredutivel sobre o ser humano e para o mundo? € aqui que enmmaa reclogia O discurso da teologia sobre o ser humano ‘A teologia, como antropologia, seré exaramenceo discurso encarregado de expressa © logos sobre 0 ser hurmano que est’ ineluido no étos- Por: ‘que ha sobre o ser hurano, na fé, um discurso especifico e que tem odie to de ser ouvido, Cabe 3 teologiaresgatar esse discurso que as outras Gén- cias do ser humano néo tornam compreensivel £ aqui, portanto, cue se ‘encontrard.o lugar préprio da ceologia como discurso sobre o ser humanoe (que sera justificada a sua tarefa no concerto antropolégico. Evidentemente, aqui ndo se trata de apresentar,em todo o seu conjunto, esse dlscurso sobre o ser humano, essa mensagem antropolégica incluida 1a fé,Enureranto, calvezseja til formecer dele crésarticulaces maiores, que ‘mostrardo suficientemente a especificidade da fé em seu dominio e por {anto2legitimidade e a necessidade da sua mediagao teoldgica, © que até diz? Tiés coisas Hino ser humane, em todo ser humano, um inviolavel “no qual ti ndo tocards' e sso erm nome de um Absoluto, de um In-finito, que se chara Deus, e 20 qual esse er humano apela contra todos os meus paderes, Seja le economicamente ini socialmente irecuperdvel,psicologicamente ora de toda comunicacdo, esse ser humano, em nome da Transcendéncia que o

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