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chotiart, a Cité Napoléon, Em 1852,.logo apés ser eleito Imperador, faz fixar a verba de dez milhdes de francos ¢ financia outros dois complexos, em Batig- nolles © em Neuilly. Essas demonstragées isoladas de mecenatismo no alteram sensivelmente a situagio das moradias operérias em Paris, dominada por uma especulagio particular que & favorecida, por outras vias, em todos os sentidos, pelo poder imperial Merecem um-telato-a=parte os trabalhos para a ctiagdo dos’ parques piblicos~ \Até agora, Paris pos- sui apenas 05% construfdes no Ancien Régime: Jardim das Tulherias e os Champs-Elysées na margem direita, 0 Campo de Marte ¢ 0 Luxemburgo, na mé gem esquerda. Haussmann comega a arrumar o Bois Ge Boulogne, a antiga floresta situada entre o Sena as fortificagbes ocidentais; em virtue de sua po- sig ¢ de sua vizinhanga com os Champs-Elysées, este yparque torna-se logo sede da vida mais-elegante de Paris. Do lado oposto da cidade, ria confluéncia com 0 Mame, € ordenado o Bois de Vincennes, destinado aos bairros do peste, para demonstrat a solicitude do Im- perador em relagio as classes populares. A norte € a-stl, imediaiamente dentro das fortificagbes, sio cria- dos dois jardins menores, 0 Buttes-Chaumont ¢ 0 Parc M.ntsouris. Nesses trabalhos, Haussmann conta com um co- Iaborador de primeira ordem, Adolphe Alphand (1817-1891); em suas memérias, ele se detém, com evidente prazer, nos trabalhos de jardinagem, ¢ hoje fessa parte de sua obra parece, talvez, 0 titulo mais valido de sua fama. Haussmann renova tambémfs instalagde® Wa ve- Tha Paris. a Para as inst hidréulicas) encontra um cola- borador precioso no eagenhei ro Francois Eugine Bel grand (1810-1878), obscuro funcionérit de provincia que é chamado para projetar os novos. aquedutos ¢. as instalagbes de elevagdo de gua do Sena, levando 0 fornecimento de égua, de 112.000 metros eibicos por dia, para 343.000, e a rede hidréulica de 747 para 1545 quilémetros (Figs. 87 ¢ 88). Belgrand cons- tdi também a nova rede de esgotos, que passa de 146 quilémetros para 560, conservando somente 15 quilémetros da rede precedente, enquanto que os desa~ guamentos no Sena sao levados muito mais para baixo da corrente, com: depdsitos coletores. A instalago de sluminagao ¢ triplicada, pasando de 12 400 para 32 320 i008 de gis. O servico de transportes pitblicos € reorde- 100 / nado, sendo confiado em 1854 a uma s6 sociedade, a Compagnie Générale des Omnibus, ¢ institui-se em 1855 um servigo regular de vefculos de praca. Em 1866, adquire-se 0 terreno de Méry-sur-Oise para a construcio de um novo cemitério. Finalmente, Haussmany modifica a sede adminis= trativa da capital. Em 1859, onze~Comunas"emt tor- no de Paris, compreendidas entre o cinturio alfande- gitio e as fortificagdes de Thiers — Auteuil, Passy Batignolles, Montmartre, La Chapelle, La Villette, Bel~ leville, Charonne, Bercy, Vaugirard e Grenelle — sio ‘anexadas & cidade de Paris; os doze arrondissements tradicionais sio levados a vinte, e uma parte das fun- ‘goes administrativas 6 descentralizada nas vinte mairies de cada arrondissement. * Leva'se, assim, o limite da cidade a coincidir com as fortificagdes; pensa-se também em anexar a cidade ‘uma faixa de 250 metros no exterior, a ser_mantida desimpedida para uma estrada de circunvalagdo veloz, ‘mas nfo se consegue subtrair esses terrenos espe culagio da construcio. (Qs trabalhos viérios de Haussmann so possibi litados pela lei de 13 de abril de 1850, a qual permite “expropriar nao somente as reas necessérias para as ‘Tuas, mas também_todos. os iméveis_compreendidos dentro do perimetro das obras; em 23 de maio de ‘TR52, um decreto do Senado modifica o procedimento estabelecido em 1841, permitindo a expropriago nao somente por meio de lei, mas também por meio de uma simples deliberacio do poder executivo. ‘A primeira lei nasce do clima revolucionério da Segunda Repablice, enquanto que a segunda diz res- peito A nova posicdo autoritéria, que € a ocorréncia final da Revolugio de fevereiro. Aparentemente, a de- cisio do Senado facilita a acdo planificadora da admi- nistrago, porém, na-realidade, ela estabelece’ uma de- pendéncia intima entre atos administrativos © diretri- 2es politcas, isto é, entre aqueles ¢ os interesses dos estratos sociais que controlam o poder. Estes interesses tendem a limitar a interferéncia das autoridades nas questGes econdmicas; por essa re wo, as leis sio interpretadas em um sentido cada vez)\ mais restrito, perturbando gravemente execugio dos j/ planos (os fatos urbanfsticos respeitam fielmente as ontradigdes e as ambigilidades do sistema politico do Segundo Império). 3. Os dados quantitativosencontram-se em GE. Haussmann, op. cit, ¥. Il, Cap. XX, pp. 507-534. Paris, © asilo para velhos de Sainte-Perine (Ponthieu, 1861) e a prisio da rue de la Santé (Vaudremer, 1864; de 'F. Narjoux, ‘Paris, monuments élevés par la ville, 1850:1880, 1881), Depois de muitas discuss6es, 0 Conselho de Es- tado decide, em 27 de dezembro de 1858, que as areas | construiveis, uma vez expropriadas ¢ arrumadas segun- do 0s planos, devem ser restitufdas aos antigos pro- | Petros, so, que o aumento de valor determinado pelos trabalhos da comunidade deve ser confiscado | pelos préprios proprietétios, em vez de pela Comuna. Haussmann lamenta essa decisio como sendo in- jjusta, porém a jurisprudéncia da época € concorde con- tra cle. A cidade de Paris, como conseqiiéncia dessa sentenga, deve suportar sozinha todas as despesas dos ‘rabalhos de Haussmann, sem que se possa ressarcir dos proprietérios que foram beneficiados. Contudo, ‘a nafureza produtiva dos trabalhos manifesta-se igual- ‘mente, e Haussmann pode recolher os fundos neces- sérios sem depender das contribuigées do Estado, se nfo em pequena parte, apelando ao livre crédito. © ‘Com efeito, as obras piiblicas nao fazem somente subir 08 pregos dos terrenos circundantes, mas influem em toda a cidade, favorecendo seu crescimento € au- mentando as rendas globais. Esses efeitos garantem por si sés ao administrador um aumento continuo das ‘entradas ordinérias, ¢ permitem tomar de empréstimo somas vultosas dos estabelecimentos bancétios, como 0 faz qualquer empresa particular. De 1853 a 1870, ‘Haussmann gasta cerca de dois bilhdes e meio de fran- ‘cos em obras piblicas, recebe do Estado somente 100 milhdes e nfo impoe novas taxas, nem aumenta as jé existentes. 4 4. 0 balango completo dot trabalhos de HavssMasn senconira-se nas pp. 337-340 do v. IL das Mémoires; transre- ‘SAIDAS: srandes obras viéras srquitetura e.belasares 1.430 340 385,5 1282 791 696.5 arranjos de ruas ¢ parques 478 370 624.8 Aaguedutos © esgotos 153 601 970.2 70476 924.8 ‘outras despesas (concessOes resgatadas nas ‘comunas anexadas em 1859, despesas rela- tivas ao débito comunal e aos empréstimes eleito unitério que se eritérios de regularidade geométrica, de simetria e de desejava obter. O boulevard de Strasbourg, que ter- Seats eT cecnpeatin, scbretndo, em tec sub-g| mint na Giro de PEs, tam’ dole quihionine © Se fraido aos velhos bairros de Paris seu aspecto precé- | d¢ ‘comprimento, e a cena de fundo arquiteténica ¢ 4 Ho. fixando para cada habitante, contornos regulares | praticamente invsivel do tado ee distante; em Etoi- cerecisos que parecem defnitivos © nfo mais varives. | le, as done fachadas simétics, de Hittorfdistam duzen- Sa er Ih ee noes ee one ‘metros uma da outra ¢ nio sio sufi 5 be » Peo | cientes para fechar em termos de perspectiva o imenso contrétio, ser 0 mais fraco, pois indica uma aceitagao | \; SS P: jpassiva das convencoes da cultura académica; interes- 0; no prolongamento da Rue de Rivol, as decors ic - foes de Percier e Fontaine repetem-se tanto que 0 Ee-nos muito mais ver que Haussmann, aplicando essas : ae P 2 : > nfo consegue mais distinguir a proporgo entre erat heer ¢ nowsy cheunstfncas, distmeia-se de tn \ myo tacato da oa Soarcae ttt adidonals © premuncia, embora involun- <°-S°RPComaaee ds suo ot cotras dimensict ia wat aepaieeaea? Em tais casos, a presenga do arguitelo torns-s, ae 3 por assim dizer, somente negativa, porquanto as pare __ Se bem que de tendéncias autoytérias, Haussmann des do edificio devem ser acabadas de algum modo niio pode se comportar como os urbanistas barrocos, que nfo fira os habitos correntes ¢ possivelmente de que executam um plano predisposto com absoluta re- maneira uniforme, a fim de que o oho nfo sofra gularidade, aproveitando 0 poder absoluto de quem © perturbagées por anomalias injustificadas; mas a con- encomenda; age sob o controle do Parlamento ¢ do formacao estilistica das fachadas € valida somente, en- ‘Conselho Municipal, manipula dinheiro pablico do qual quanto ténue cobertura, que confere um aspecto plau- deve prestar contas aos corpos administrativos centrais Sivel a um novo género de ambiente onde ruas € pra e deve submeter as controvérsias com os particulares cas perdem sua individualidade ¢ fluem umas =a) V § SoS SMuursture indopendente; deve,cem suma, le- Sas butrag enquanto que os expacos sfo_qualificados var em conta a separaglo de poderes propria de Um muito eet lita Per ase que oe ated cnet Sat Cn eae do execu- “percorrem, do que pelos edificios circundantes, ou sea, ivo. Por outro lado, 0 poder politico nfo coincide ge mancira sempre varidvel (Fig. 92). & o quadro as coo er Seas ol Eee Os os cereal co nn “mpressionistas como Monet aoe ee eo ett ecu Piste aus Yt ds boulevards parisienses do enh pen ee ee geocaches ainda indie- OS aes aeniee a plano de Tenciado, onde as formas singulares podem ser acolhidas jaussmann no se configura como uma interven¢0 —somente perdendo sua individualidade, ¢ misturando-se tuna tantur, mas como uma ago continua de estimlo em ym tecido compacto de aparéncias mutiveis © pre; ¢ coordenacéo das miltplas forgas que agem de modo cfrias; mas isso consttui o ponto de partida do qual sempre varidvel sobre 0 conjunto urbano; cess, assim, rg surgir o conceito moderno de ambiente urbano a semelhanga entre urbanistca ¢ arquitetura, as quis gherto e continuo, oposto ao antigo ¢ fechado tip agem mais no mesmo nivel difedndo somente pela “"" pate gspecto. da obra de Haussmann — provi ee diversos em elmente niio advertido pelo proprio administrador, “4 que se acredite o continuador da tradigio perene — \ é oe podem ser feitos quanto =| vem & luz apenas mais tarde; as grandes artérias, ad- re ieee ae tados formais do plano de Haussmann; ele aceita\ quirem 0 cardter que nos é caro somente quando se 110 + lanta de Viena em de YVieme). (A cidade antiga ainda esta intacia, 4,95 —O. Ring de Viena (1859-1872); em branco, os i em toro. desenvolverame’ es ‘noves Bairen sc slifcios partcularts am fachsad or cuttny aS moe corre a 0 domi, cokcnt> © pret as zones rds. raunmiller; Viena, com o Ring. 96 — Vista aérea do centro de 3 forma o guarnecimento das ruas, que serve como me~ diador entre as dimensbes abstratas da edificagio © a escala humana, quando a sensibilidade comum aprenden a perceber de maneira dindmica os elementos dt nova cena urbana. * © editor da Mémoire de“Haussman escreve, em 1890: “Para todos, a Paris de nossos dias sua Paris, talvez mais do que nos tempos do Império”,* ¢, de fato, 0 semblante da cidade transformada por Hauss- ‘mann devia parecer mais claro a um visitante da Ex- posicio de 1889 que a um da Exposigéo de 1867, Constrangido a vagar em uma cidade toda revirada, ‘com as ruas entulhadas de canteiros de obras, de onde emergiam edificios e ambientes desconhecidos. 4. A influéneia de Haussmann ‘As realizagies de_Hanssmann_em—Paris_consti- tuem_o protétipo daguilo que chamamos de urbanistica_ ra; esta transforma-se na praxe comum de todas as cidades européias, sobretudo depois de 1870, mas-jé-no-tempo-do-Segundo Tmpério € possivel relacionar uma série de iniciativas, na Franga © em outras partes, orientadas da mesma maneira, ‘Na Franca, muitas cidades importantes sio radi calmente modificadas durante o reinado de Napoleio IIL Em Lyon, o Prefeito Vaisse, no cargo de 1853 2 1864, executa uma série de inovagdes que reprodu- zem em pequena escala as patisienses: as duas demo- ligbes paralelas para a Rue Impériale e para a Rue de Vimpératrice, 0 quais (cais) a0 longo do Rédano ¢ do Saéne, o parque da Téte d'Or; Marselha, que aumenta muito de importincia logo apés 0s trabalhos do canal de Suez, quase redobra sua populagio, ¢ & integralmente transformada com a abertura da Rue Im- périale (de 1862 a 1864) que vai do velho porto até f bacia do Joliette; ruas retilineas anflogas comegam ‘a ser construidas em 1865 em Montpellier ¢ em 1868 em Toulouse, cortando os antigos bairros e demolindo muitos edificios dignos de aprego; nas cidades de maior densidade e de meméria hist6rica, Rouen ¢ Avig~ ‘non, procede-se da mesma maneira, com uma desen- foltura que nos parece inconcebivel, arruinando irre- paravelmente os ambientes tradicionais, Em Bruxelas, o burgomestre Anspach transforma ente a parte baixa da cidade, eliminando o , que € canalizado no subsolo, ¢ abrindo sobre GE. Op. cit, v. 1 p. 10. seu leito uma grande rua retilinea (de 1867 2 1871), Gque liga as duas estagoes ferroviérias, do Norte ¢ do Sul; ele obtém também, em 1864, a cessio para a ci- dade do Bois de la Cambre, que se transforma no parque suburbano da capital belga, © constréi a Ave- nie Louise para ligé-lo a cidade. ie do México, o Imperador M: 2 abre,_em_ i pe eas pee anes + Se Set palacio de Chapultepec. AQ)Na Itélia, poucas sio as cidades importantes onde: nao se abriu uma rua em linha reta entre o centro ¢ a estagio ferrovidria: Via Nazionale em Roma, Via Jndipendenza em Bolonha, a rua reta de Népoles, Via Roma em Turim. A experiéncia mais importante, con- ‘tudo, ¢ gamenupta de Free capital desde 1864, onde € feita uma séria tentativa de adaptar os métodos de Haussmann as realidades do novo Estado unitério fe As exigéncias particularissimas da ilustre cidade. Giuseppe Poggi (1811-1901), que projet 0 “pla- no de ampliagdo”, preocupa-se sobretudo em aumentar ‘2 cidade a fim de acolher os novos habitantes que vi- Ho seguindo 0 governo; ele nfo vé tanto uma nova Cidade, quanto uma Florenca territorialmente mais extensa, e escapa-Ihe a necessidade de transformar con- juntamente, como Haussmann, o centro ¢ a periferia; fssim, ele comega derrubar os muros, constréi um ‘nel de novos bairros a0 longo de todo 0 perimetro, exceto na parte estreita A esquerda do Amo, © deixa a intervengao no centro pata mais tarde. e Os trabalhos sio executados entre 1864 © 1877, em meio a graves dificuldades econdmicas, principal- mente depois da mudanga da capital para Roma; 3 reordenagao do centro, com a demoligdo em torno do ereado velho (Fig. 98), 6 feita de 1885 a 1890, quando se exaurem os grandes trabalhos na perferia- PE muito mais devida a razBes de honra do que a inecessidades téenicas ou econdmicas objetivas. ‘Assim, 0 tecido da cidade antiga salva-se em grande parte das expropriag6es, diferentemente do de Paris, mas os elementos novos nfo se inserem com felicidade nos antigos, como ali, ¢ a cidade permanece destituida de um caréter unitério, dividida em epis6- dios destacados e estranhos entre si. No mesmo conceito de “ampliagio”, fundam-se muitos outros planos dessa época, como o grandiose de Cerda para Barcelona, de 1859 (Fig. 97) ¢ 0 de Lindhagen para Estocolmo, de 1866. 97, 98 — As duas operagées tipicas da urbanistica oito- centista: a ampliasio (0 plano Cerda para Barcelona, 1859) #2 demoligio (reforma do mercado velho de Florengs, 1885; J, Sten, Der Sidiebau, 18248 — om Rachurado, | edifcios normais destruidos, em preto os edificios monumen- 3 Ay {ais conservados). Foaasa deg Site Em geral, as reordenagdes urbanisticas feitas em imitagéo & napolednica de Paris sio muito inferiores ao modelo.- © plano de Haussmann é importante so- ‘retudo pela coeréncia e integridade com que é execu- ‘ado; porém, nenhum dos outros planificadores — & excegio, talvez, de Anspach — tem a energia do administrador do Sena, e em parte alguma reproduz-se © encontro de circunstincias favordveis que permitin aco simultinea em muitos setores, conservando a unidade de direc por tempo bastante longo. Por- ‘tanto, quase todos os planos sio abandonados pela metade, arruinando irremediavelmente as cidades anti- ‘gas sem que se obtenham, no lugar delas, cidades mo- dernas que funcionem. Principalmente, nenhuma administragéo consegue conter validamente os efeitos desagregadores da espe- cculagdo fundiéria; Haussmann trabalha em presenga de { uma especulacéo muito ativa, que confisca boa parte dos frutos de seus trabalhos e, depois de 1858, ele ndo faz nada para ir contra o sistema; sua autoridade, porém, permanece bastante forte para impedir que as solugSes projetadas sejam deformadas pelos interesses particulares; assim, consegue prosseguir com félego adequado ¢ com uma visio unitéria dos problemas. ‘Nas outras cidades, falta uma resisténcia proporcio- nal, a especulagio toma claramente forga e imprime as iniciativas um caréter inconstanteé descontinuo, ‘que deriva da abordagem casual dos interessados sin- gulares. As coisas caminham de outra maneira onde as administragdes possuem um pagriménio suficiente de 4éreas situadas nos pontos adequados para a transfor- magio das cidades. Isso ocorre em Viena, onde 2 cidade antiga € ainda circundada por um’ amplo anel de fortificagbes, além das quais cresceram os novos bairros (Fig. 94). Em 1857, 0 Imperador anuncia sua decisio de derrubar os muros ¢ institui um con- ‘curso para a arrumacdo da érea, impondo precisas instrug6es aos projetistas: deverdo ser respeitadas as casernagvao sul da cidade, e outro grupo de casernas deverd str Construido ao norte, de modo que as tropas, ppossam ‘rapidamente transportar-se 20 longo de uma grande rua anular, que margearé por alguma extensio a0 Donaukal; 0 espaco frente ao palécio imperial de- verd ser deixado livre, e, nas vizinhancas, deveré ser revista uma vasta praca de armas; a0 longo da rua anular, devera ser colocados varios edificios pabli um teatro de 6pera, uma biblioteca; um arquivo, um novo palécio comunal, museus, galerias, mercados. 116 © concurso € julgado em 1858 € € ganho por Ludwig Forster (1797-1863); a seguir, o Ministério do Interior é encarregado-de-preparar o plano defini tivo, que provavelmente € redigido por M. Léhr, ¢ ¢ aprovado em 1859, mas as discussdes sobre a coloca~ ‘gio dos varios edificios piblicos continuam até 1872. Na execuglo, as exigéncias estratégicas so reduzidas fem muito: desaparece a praca de armas, enquanto aumenta o niimero e a importincia dos edificios pi- blicos, necessérios & cidade em crescimento continuo (Fig. 95). (© Ring de Viena permite insecir a cidade antiga dentro do sistema viério da cidade moderna sem cortar destruir 0 velho tecido, como ocorreu em Paris, ¢ permite compor os principais edificios piiblicos em um ambiente amplo e arejado, entre passeio ¢ jardins; a operagio, contudo, é possibilitada principalmente pela relativa exigiidade do ntcleo antigo; 0 mesmo acon- tece em muitas outras cidades nérdicas, onde 0 centro tradicional € mantido quase intato dentro de um anel verde que substitui as antigas fortificagbes: assim cocorre em Col6nia, em Leipzig, em Liibeck, em Co- penhague. No que se refere a0 problema da edificagio po- pular, a intervengio do Estado tomna-se sistemética ¢ organizada somente nas tiltimas dacadas do século; a0 invés disso, podem-se relacionar, da metade do século em diante, muitas iniciativas patronais para a cons- truco de cidades operérias, facilitadas e as vezes sub- vencionadas parcialmente pelo Estado. ‘Na Franca, a iniciativa mais importante ¢ a da Société Mulhousienne des Cités Ouvriéres, fundada em 1853; o financiamento é em parte particular (para as casas e os setvigos) © em parte estatdl (para as ruas € 0s espagos verdes). A sociedade constr6i casas com jardim, de um ou dois andares, cedidas por aluguel ou fa prestagoes, ¢ executa-mais.de mil em quinze anos. ‘Na Inglaterra, Disraeli teoriza, em-seus escritos da juventude, * a necessidade de realizages similares. Suas idéias influenciam tanto os empresétios particula- res quanto a politica do governo; em 1845, funda-se a Society for Improving the Dwellings of the Labouring Class; em.1851, Lord Shaftesbury faz aprovar as pri- meiras leis sobre construgdo subvencionada, a Labou- ring Classes Lodging Houses Act ¢ a Common, Lodg- ing Houses Act; em 1853, Titus Salt comega a cons- truir, para os operérios de suas indistrias téxteis, © 8. Coningsby, 1844, e Sybil, 1845. us 102 — Paris, corte do Opéra (de Parigi del 1878 illustrate, Sonzogno). Leespositione di 119 cidade de Saltaire, projetada de acordo com um plano unitétio dos arquitetos Lockwood e Mason; em 1864, entra em campo Octavio Hill (1838-1912, sobrinho do Dr. Southwood Smith, colaborador de Chadwick nna pesquisa sanitéria de 1842) que, com o auxilio de Ruskin, adquire e restaura algumas casas em Mary- lebone, dividindo-as em alojamentos minimos que slo alugados a prego suficiente para compensar as despe- sas. Também nos EUA, 0 miliondrio G. Peabody funda, em 1862, 0 Peabody Trust, para construir casas populares sem finalidades lucrativas. Na Alemanha, os Krupp executam, entre 1863 ¢ 1875, um primeiro grupo de vilas operirias nos arre- dores de Essen: Westend, Nordhof, Baumhof, Kré- nenberg. Através de acertos ¢ erros, forma-se assini, na se- gunda metade do século XIX, uma experiéncia técnica e juridica sobre planos de cidades e sobre construcio de bairros operitios; os sistemas de projetar freqiien- temente sio inadequados ¢ artificiosos e repetem as formulas geométricas da tradigéo barroca, mas agora sto experimentados em contato com os problemas con- cretos da cidade industrial e assumem, pela diversi- dade dos contetidos, um cariter novo. Nas cidades européias, esses sistemas sio adotados para transformar os precedentes organismos barrocos ou medievais, ¢ dio resultados tanto melhores quanto mais se apegam aos caracteres tradicionais dos locais singulares; nos territérios coloniais, pelo contrdrio — ‘onde comega justamente agora a fixagio maciga de residentes europeus — os mesmos sistemas so apli- cados de modo uniforme ¢ mecéinico, sem que gozem de qualquer vinculago com os organismos urbanos as tradigdes locais, descobrindo, assim, de maneira ‘mais clara, as contradig6es culturais que se encontram implicitas. Nos dois dectnios do Segundo Império, a praxe urbanistica haussmanniana ¢ estendida em grande parte as colénias, Em 1854, inicia-se a ampliagéo de Fort- de-France na Nova Caledénia e, em 1865, a de Saigon ‘na Indochina; ainda em 1865, na embocadura do canal de Suez que esté sendo construido, funda-se a nova ci- dade de Port Said; intensifica-se na Argélia a constru- ‘gGo das novas cidades fundadas nos primeiros decénios da conquista — Orléansville, Philippeville — e dos bairros europeus ao lado da cidade indigena. Os bée- res comecam, em 1855, a construir sua nova capital, Pretoria, ¢ os ingleses ampliam as cidades australianas recentemente fundadas (Melbourne em 1836, Adelaide 122 em 1837, Brisbane em 1840 depois da aboligio da colénia penal). A histéria da urbanistica colonial ainda esté por cescrever, se bem que seja um dos aspectos mais cons- picuos da expansio mundial européia durante o século XIX. Provavelmente um estudo analitico dessas in- tervengSes serviria também para definir melhor o cari- ter dos protétipos europeus dos quais derivam. 5. Ecletismo e racionalismo na época de Haussmann Os arquitetos desempenham um papel pequeno nas decisdes do plano de Paris, ¢ jimitam-se a dar for- ma plausivel aos edificios encomendados pelo admi- nistrador, sem sair do Ambito dis mencionadas discus- Ses sobre os estilos. As noyas tarefas, porém, ¢ as vvastas experiéncias tomnadas possiveis pelos trabalhos de Haussmann solicitam, em termos culturais, 0 escla- recimento das polémicas abstratas e apressam a crise da cultura académica. ‘A polémica entre neoclassicismo ¢ neogético — que tem seu ponto culminante em 1846, como ja ficou dito — nao pode ferminar com a vitéria de um ou de outro programa. De agora em diante, a maior parte dos arquitetos mantém em mente tanto o estilo cléssico {quanto 0 goticd, como alternativas possiveis e, natu- ralmente, nfo’ somente esses dois, mas também 0 r6- manico, o bizantino, o egipcio, o arabe, o renascentista etc. ‘Assim torna-se explicita e difunde-se a posigo que foi chamada de ecletismo, j4 contida virtualmente na diego retrospectiva tomada pelos neocléssicos e pelos romanticos. © ecletismo € favorecido pelo melhor conheci- mento dos edificios de todos 0s paises perfodos; Delannoy publica, em 1835, um estudo sobre os mo-” numentos de Argel;® Coste, em 1839, faz com que Se conhegam os monumentos do Cairo" e, de 1843 a 1854, os da Pérsia;™ na Inglatecra, O. Jones pu- blica, em 1842, os relevos do Alhambra de Granada. * 9. Detannoy, M. A. Etudes artistiques sur la régence, Alger, Paris, 1835-37. 4 10. Coste, P. Architecture arabe, ou monuments di Caire. Paris, 1839. IL, Coste, P. Voyage en Persie. Paris, 1843 12, Jones, O. Plans, Elevations, Sections and Details the Alhambra, Londtes, 1842-45. id 3. HAUSSMANN E O PLANO DE PARIS 1. Os motivos do ordenamento de Paris NTRE 1830 ¢ 1850, como jé ficou dito, a urbanis- tica moderna dé seus primeiros passos, e nfio nos estudos dos arquitetos — onde estes discutem se se deve escolher 0 estilo cléssico ou o_gético, desprezan- do de comum acordo a inddstria e os produtos desta — mas exatamente da experiéncia dos defeitos da ci- dade industrial, por mérito dos técnicos ¢ dos higie- ‘histas que se esforgam por remedié-los.. As primeiras [eis sanitérias 680 _9- gto com tas limita-se a alguns setores e sua agéo volta-se para a eliminagéo de alguns determinados males: a jnsu- ficiéncia de Bg. ie sabe wm problem outros problemas vém & tona, isso ocorre, por assim dizer, involuntariamente. A ‘construgio dos esgotos & dos aquedutos exige um minimo de regularidade, pla- nimétrica ¢ altimétrica, nas novas construgbes; @ ma- nutengio das instalagdes urbanas comporta um novo arranjo dos érgios técnicos da comunidade e a facul- dade de obrigar os proprietétios a determinadas pres- tagées. A execucio de algumas obras piblicas, como estradas, Tuas e ferrovias, exige novos processos de expropriagio do solo, e uma série de novos instru- mentos téenicos, entre os quais uma cartografia precisa. A fim de controlar alguns aspectos da cidade in- dustrial, outros aspectos entram em jogo, e 0 controle deve ser gradualmente ampliado a0 novos setores. Se estes métodos de intervengdo néo chegam @ ‘constituir um sistema homogéneo ¢ no chegam a in- vestir todo 0 organismo urbano, isso se deve sobre- tudo a uma dificuldade politica. As reformas das duas décadas entre 1830 ¢ 1848 dependem ainda, em seu conjunto, do pensamento li- beral; foi reconhecida a necessidade da intervengdo piblica em algumas matérias espectficas, porém sem alterar substancialmente a natureza e a identidade das tarefas do Estado ¢ das. administragdes locais, em re- Tago a0 conjunto da vida econdmica e social. Falta a Tdéia de uma programaco piblica que estimule © coordene as iniciativas especializadas das autoridades e dos particulares; e, portanto, nfo pode nascer uma verdadeira politica urbanistica. Aqueles que véem o iio da cidade indus- trial esforgam-se figp>os inconvenientes sin- gulares, seguindo canais administrativos especializados (como Chadwick e os reformadores sobre 0s quais se falou no capitulo precedente), ou e ; jmto com a cidade, a socieda- de ‘que a produziu e a ela contrapdem outros ‘modelos sociais ¢ urbanisticos, realizaveis longe das ci- dades existentes (como os tebricos socialistas que se- rao mencionados no Cap. 6). A Revolugio de 1848 interrompe ambas essas linhas de pensamento de ago; a esquerda socialis- ta, apés haver tentado subir a0 poder junto com a esquerda liberal, € novamente impelida & oposigio, e ‘organiza-se em novas bases tebricas, que negam qual- 91 quer validade as propostas urbanisticas da geragdo precedente. Os movimentos de 1848 ¢ suas consegiiéncias, nos mais importantes paises europeus, conduzem a0 poder uma direita conservadora de novo tipo: Napo- Jeio III na Franga, Bismarck na Alemanha, os novos tories ditigidos por Disraeli na Inglaterra. Essa nova direita, autoritéria e popular, consi- dera ser necessério um controle direto do Estado sobre ‘muitos setores da vida econémica e social; por conse- guinte, efetua uma série de reformas, as quais parcial- || mente dio continuidade aquelas das duas décadas pre- |) cedentes, mas que nfo podem ser equiparadas as mes- ‘mas por seu cardter coordenado, além de sua preocupa- 0 contra-revolucionéria. { A urbanistica desempenha um papel importante neste novo ciclo de reformas e transforma-se em um | dos mais eficazes instrumentos de poder, especialmen- | tee Francs. ‘As expetiéncias téenicas que descrevemos no Cap. 2, nio encontrando mais obstculos, mas sendo, pelo contrétio, solicitadas pelo novo clima politico, Gesenvolvem-se com grande rapidez nos decénios pos- teriores a 1848 ¢ chegam com bastante rapidez a for- ‘mar um sistema coerente, solidamente inserido na le- gislagdo e na praxe administrativa. Nasce, assim, 0 | Bee soceramos chamar de bain seoonservado- \) a se deve "a io das Ws euro- pease daqutias colonias independentes potén- i segunda metade do século XIX ¢ nos primeiros decénios do XX. {A formagio dessa experigncia urbanistica, pro- movida pelas ‘causas politicas a que fizemos mengao, nio teria sido tio répida sem o exemplo dos grands travaux de Paris, promovida por Napoleio III logo | apés subir ao poder. 5 Uma série de circunstancias favordveis — a pre- ) cocidade do experimento, a possibilidade de utilizar (uma lei urbanistica avangada como a republicana de 1850, 0 alto nivel técnico dos engenheiros saidos da Ecole Polytechnique, a ressonancia cultural daquilo que ocorre na capital francesa, ¢ sobretudo os dotes ( pessoais do Bardo Haussmann, administrador do Sena de 1853 a 1869 e responsavel pelo complexo pro- grama — tornaram importante e exemplar a trans- formagao de Paris. Pela primeira vez, um conjunto de determinagSes técnicas e administrativas, amplié- \. veis a toda uma cidade que jé ultrapassou um milhdo 92 de habitantes, sfio formulados © colocados em pritica coerentemente em um tempo bastante curto, Provavelmente nem o imperador, nem o admi nistrador, perceberam plenamente todas as implicagSes ) da iniciativa. Algumas preocupagies imediatas — as ‘exigéncias de assegurar a ordem piblica e de co tar o favor do povo por meio de imponentes obras — | influiram mais do que os raciocinios a longo prazo, © a especulagio da edificagdo pesou mais do que te- ria sido desejfvel. Contudo, o problema do plano regulador para uma cidade modema foi colocado, pela primeira vez, em escala apropriada a nova ordem eco- némica, e 0 plano nfo somente foi desenhado no papel, mas foi traduzido para a realidade e controlado em todas as suas conseqiiéncias técnicas © formais, \ administrativas e financeiras. 4 A pérsonalidade de Haussmann, tal como, vinte anos antes, a de Chadwick, intervém no curso dos acontecimentos’ como causa de importincia funda- mental. —// © Baro Georges Eugéne Haussmann (1809 -1891), funcionétio por profissio, ocupa desde 1851 0 argo de administrador da Gironde. © ministro do interior, Persigny, assim o descreve, quando trava co- nhecimento com ele durante um almogo oficial: Foi Haussmann quem me chamot: a atengio mais do que todos os demais, Porém, coisa estranha, o que me impressionou néo foram tanto seus dotes intclectusis, se bem ue notéveis, mas antes os defeitos de seu cariter. Tinha a ‘minha frente um dos tipos mais extraordindrios de nossa Gpoce: grande, forte, vigoroso, enérgico, e, 40 mesmo tempo, fino, astuto, fértil em recursos; este homem audacioso_nio temia mostrar-se abertamente como era. Poderia ter falado seis horas sem parar sobre seu argumento preferido, sobre tle mesmo, Sua personalidade centralizada erguia-se & minha frente com uma espécie de cinismo brutal, Para lutar, dis comigo mesmo, contra homens astutos, céticos e pouco escr- ppulosos, eis 0 homem de que precisamos. Ali, onde 0 cava Theiro de espirito mais elevado, mais fino, de carster mais nobre e mais correto iria certamente fracassar, este atleta vi ‘goroso, de castas amplas, cheio de audicia © de habilidade, feapaz de opor expediente contra expediente, insidia contra insiia, sem divide terd sucesso. + Haussmann conta, em suas memérias, que até 0 advento de Luis Napoledo havia pensado na possibi- lidade de ser eleito administrador do Sena ¢ havia 1. Perstony. Mémoires, p. 251, cit. por P. LAVEDAN, Liarrivée au pouvoir, em La Vie Urbaine, nove série, n. 3-4 (1953), pp. 181-182. \. 76 — Planta de Paris em 1853 (de E. Texier, Tableau de Paris) 77 = Os limites administrativos da cidade de Paris, antes ¢ depois de 1859, com a divisio feita por Haussmann fem vinte arrondissements. 93 94 fa 78)— Planta de Paris em 1873 (de A. Joanne, Paris Aus SON Rea RS WANE Pe SAY AN [Ve \ 6 MN en) i balhos, ¢ de superar as dificuldades previsiveis, fazen- do valer, como fator decisivo, seus dotes individuais de astiicia e de coragem. 2. Os trabathos de Haussmann Logo apés instalar-se no Hétel de Ville, Hauss- ‘mann reordena os servicos técnicos segundo critérios ‘modernos, chamando para dirigi-los alguns engenhei- ros de primeira linha, j4 experimentados em seus en- ‘cargos. precedentes. Estando assim assegurado um instrumento executive capaz ¢ rendoso, ele enfrenta te os Srgios ¢ os funciondrios administrati- Vos, apoiado pela confianga do Imperador, ¢ faz com aque estes sintam o peso, sem qualquer reserva, da for- ‘ga de sua posigdo, sujeitando-os completamente a seus designios. ‘As obras executadas por Haussmann nos dezesse~ te anos de poder podem ser divididas em cinco ‘eategorias: ‘Antes de tudo, as Gbras viérias)*a urbanizagao dos terrenos periféricos, como tragado de novas re- ticulas vidras, e a abertura de novas artérias nos velhos ‘airros, com a reconstrugio de edificios a0 longo do ‘novo alinhamento. 7 ‘A velha Paris compreendia 384 quilémetros de ruas no centro e 355 nos subirbios; ele abre, no cen- tro, 95 quilémetros de ruas novas (suprimindo 49) ¢, nna periferia, 70 quilémetros (suprimindo 5). O néicleo ‘medieval é cortado todos os sentidos, destruindo ‘muitos dos antigos bairros, especialmente aqueles pe- igosos situados no Leste, que eram 0 foco de todas as revolts. Na prética, Haussmann sobrepde a0 | corpo da antiga cidade uma nova malha de ruas lar- ‘gas ¢ retilineas (Fig. 79), formando um sistema coc- rente de comunicagio entre os principais centros da ‘vida urbana e as estagdes ferrovidrias, garantindo, a0 ‘mesmo tempo, eficiéncia diretora ao transito, por cru zamento e por anéis; cle evita destruir os monumen- tos mais importantes, mas faz com que fiquem iso- lados e adota-os como pontos de fuga para as novas vera longo das noves ruas € disci- sia eae trae ere passado: em 1852, introduz-se a obrigatoriedade de apresentar um ‘requerimento de construgdo; em 1859, modifica-se 0 antigo regulamento das edificacbes parisienses de 1783- 1784 ¢ fixam-se novas relagies entre a altura das 98 casas e a Iargura das ruas (em reas de vinte ou mais metros de largura, a altura deve ser igual a largura; fem ruas mais estreitas, a altura pode ser maior do que a largura, aié 0 limite de uma vez © meia) en- quanta. limita a inclinagdo das coberturas a 45°, Considerando os critérios de projetar, as realiza~ g6es de Haussmann parecem ser prosseguimento, em Escala maior, dos ordenamentos barrocos, baseados em Conceitos andlogos de regularidade, simetria, culte de Taxe (culto do eixo). Os trabalhos de Haussmann, porém, assemelham-se aos de Mansart ¢ de Gabriel do mesmo modo como os edificios neocldssicos asseme- Tham-se aos da tradico cléssica; aparentemente nada foi modificado, mas 0 repertério formal da tradicéo 6 assumido por meio de convencio, a fim de abranger novas pesquisas impostas pelas circunstincias novas, Em nosso caso, 0s trabalhos de edificagio devem ser considerados dentro do quadro das transformagbes técnicas ¢ administrativas-abaixo_telacionadas. Eqn segundo lugar, os trabalhos de jo rea lizadgadiretamente pela Administragio por outras entidades-pablicas. ~ ae Compete & Administraco @ construcio dos edift- cios piblicos nos novos bairros ¢ nos velhos submeti- dos as transformagées jé mencionadas: escolas, hos- pitais, prises, escrit6rios administrativos, bibliotecas, colégios, mercados. © Estado, por outro lado, encar- rega-se (ios edificios militares e das pontes. No projeto desses edificios — ilustrados em 1881 por Narioux em uma grande publicagio — empre- gam-se os mais ilustres arquitetos da época, desde La- ‘prouste, até Baltard, Vaudremer, Hittorf. O repert6- rio estilistico da cultura eclética é freqiientemente apli- cado com discrigéo, especialmente pelos racionalistas, tais como Labrouste ¢ Vaudremer, ¢ chega-se a defi- nir uma gama completa de tipos distributivos, a qual se tomaré exemplar em toda a Europa © problema de moradias para as classes menos abastadas e a exigéncia de intervencio do Estado para fa garantia de certos requisitos minimos de distribui- ‘go e higiene, independentemente da capacidade eco- ‘nOmica dos destinatérios, comega, entAo, a penetrar na pritica politica ¢ administrativa, ainda que o seja em medida insuficiente em relagio as necessidades. Lufs Napoledo, mesmo quando Presidente da Re- piiblica, ocupa-se pessoalmente do problema, faz apro~ var uma verba de cingiienta mil francos ¢ executa um de casas populares na Rue Roche~ I fy { | 80, 81 — Patis, 0 Boulevard Monceau (de A. Joanne, Paris illus du Temple ¢ 0 Parque 8) 99

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