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Capitulo 15 Transduc¢aéo sensorial Isabel Vilas-Boas Maria Joao Fernandes Marta Ribeiro Patricia Santos Pedro Magalhaes Rafael Jesus Capitulo 15 Transdugao sensorial Os receptores sensoriais convertem a energia ambiental em sinais neuronais A sensagdo & um proceso cognitive que requer os poderes totais do Sistema Nervoso Central (SNC). A sensagio comeca com os receptores sensoriais que comunicam com o mundo e estes receptores usam a energia do ambiente para desencadear sinais electroquimicos que podem ser transmitidos para o cérebro — um processo denominado de transdusio sensorial. A compreensio dos processos de transdugdo € crucial por diversas razdes. Sem estes processos, a sensagdo falha. Além disso, uma variedade de doengas que afectam especificamente os receptores sensoriais, podem prejudicar ou abolir a sensagdo sem danificar 0 cérebro. A transdugao também define os limites basicos da percepgio. Isto determina a sensibilidade, variedade, rapidez, versatilidade e vigor do sistema sensorial. ‘Nos temos uma variedade de sensagées, cada um ajustado para tipos particulares de energia ambiental. Estas modalidades sensoriais incluem a visio, audigo, tacto, olfacto assim como as nossas sensagdes de dor, balango, posig’o corporal e movimento. No inicio do século XIX, o fisiologista Johannes Muller reconheceu que os neurénios que sdo especializados em avaliar um tipo particular de estimulos vo produzir uma sensacdo apropriada independentemente de como eles sio activados. Por exemplo, 0 bater dos nossos olhos pode produzir percepedes de luz mesmo no escuro ¢ a actividade de apreensfo numa regio do cértex dedicada ao olfacto pode evocar um cheiro repulsivo mesmo num. jardim de rosas. Esta propriedade tem sido chamada de univariancia. Por outras palavras, o receptor sensorial ¢ 0 seu circuito subsequente nio sabe quem o estimula — eles dio sempre 0 mesmo tipo de resposta, independentemente de quem a origina. A especificidade para cada modalidade ¢ assegurada pela estrutura e posigo do receptor sensorial A transducio sensorial usa adaptagées de mecanismos comuns de sinalizagio molecular A evolugdo & algo conservadora, As boas ideias so retidas e, com alguma modificagdo elas so adaptadas para novos propésitos. A transdugdo sensorial & um exemplo primitivo deste principio. Os processos sensoriais que so agora entendidos a0 nivel molecular usam sistemas que sdo que so muito préximos dos relatados para as moléculas de sinalizagio nas células eucariéticas. Algumas modalidades (visio, olfacto, alguns tipos de sabor e outros receptores quimicos) comegam em proteinas integrais de membrana que pertencem & superfamilia das proteinas G — acopladas a receptores (GPCRs). As vias do segundo mensageiro usam as mesmas substancias que so usadas para muitas outras tarefas ndo sensoriais em células, tais como nucleétidos ciclicos, fosfatos de inositol e cinases. Outros sistemas sensoriais (mecanorreceptores, incluindo as células ciliadas dos érgios da audigdo e vestibular, assim como algumas células do sabor) usam canais iénicos de membrana no processo de transdugo priméria, Embora as estruturas da maior parte destes canais nao tenham sido ainda determinados, as suas propriedades biofisicas no sio geralmente notiveis ¢ eles so provavelmente relacionados com outros canais iénicos nao sensoriais. De facto, a abertura de muitos canais iénicos de células no sensoriais é sensivel a distorgao fisica da membrana onde eles se encontram, o que implica que a sensibilidade mecdnica é uma caracteristica ‘generalizada das proteinas integrais membranares. Para alcangar a especificidade para certos estimulos eléctricos, muitos receptores sensoriais devem usar estruturas celulares especializadas. Estes, também, sio usualmente adaptados de componentes familiares. Varios receptores so células epiteliais levemente modificadas. Algumas situam os seus sitios de transdugo em cilios modificados, enquanto que outros usam células musculares ou fibras de colagénio para canalizar forgas apropriadas para axénios sensoriais. Muitos sdo neurénios sozinhos, axénios muitas vezes apenas nus sem nenhuma especializagao visivel microscopia. A maior parte das células de transdugao sensorial (sensores de oxigénio e sabor, mas nao 0s receptores olfactivos) nilo possuem o seu proprio axénio para comunicar com o CNS. Para estas células, o sistema de comunicagao de escolha é relativamente padronizado, sistema de Ca”*-dependente da transmissio sindptica para o neurénio sensorial primério. A transdugao sensorial requer a detecgdo e amplificagao, usualmente seguida pelo local de receptor potencial Funcionalmente, os transdutores sensoriais seguem uns certos pasos gerais. Obviamente, eles tém de detectar o estimulo eléctrico, mas eles devem fazé-lo com selectividade e rapidez suficiente que os estimulos de diferentes tipos, de diferentes localizages ou de diferentes alturas nado sejam confundidos. Na maior parte dos casos, a transdugio também envolve um ou mais passos para a amplificagio de sinal de modo que a célula sensorial possa comunicar com seguranga pequenos estimulos (alguns fotdes dispersos ou algumas moléculas) para um grande cérebro num ambiente com muito ruido sensorial. A célula sensorial deve converter depois © sinal amplificado numa mudanga eléctrica pela alteragdo da “gating” de alguns canais iénicos. Estas alte dos canais levam a alteragdes do potencial de membrana (Vz) no receptor celular — também conhecido como receptor potencial. O receptor potencial nao é um potencial de acco, mas sim um evento electrénico graduado que podem tanto modular a actividade de outros canais iénicos ou desencadear potenciais de accdo em diferentes porgdes da mesma célula. Muitas vezes, o receptor potencial regula o fluxo de Ca** para dentro da célula e, por isso, controla a libertagdo de algumas moléculas de transmissao sindptica para o neurénio sensorial aferente. Em tiltima andlise, os receptores potenciais determinam a taxa e o padrdo em que os potenciais de acgdo disparam num neurénio sensorial. Este padrdo de disparo é 0 sinal que & na realidade, comunicado com © CNS. Informagdes uteis podem ser codificadas em muitas caracteristicas deste disparo, incluindo a sua taxa, os seus padrdes temporais, a sua periodicidade, a sua consisténcia e os seus padrdes comparados com outros neurénios sensoriais da mesma ou de diferentes modalidades. QUIMIORRECEPGAO Os quimiorreceptores sao omnipresentes, diversos ¢ evolucionalmente antigos Todas as células estio banhadas em quimicos. As moléculas podem ser comida ‘ou veneno ou podem servir como sinais de comunicagio entre as células, érgios ou individuos. A habilidade para reconhecer ¢ para responder a ambientes quimicos pode permitir as células que encontrem nutrientes, a evitar danos, a atrair um companheiro, a navegar ou a regular processos fisiolégicos. A quimiorrecepgdo tem vantagens basicas € universais. Fa forma mais antiga de transdugdo sensorial e existe de variadas formas. A 3 quimiorrecepefio nem se quer requer o sistema nervoso. Organismos unicelulares, como a bactéria, podem reconhecer e responder as substincias do seu ambiente. No sentido mais lato, todas as células no corpo humano so quimiosensitivas e a sinalizagdo quimica entre as células ¢ a base para a comunicagio intema através do sistema endécrino € neurotransmissdo, Neste capitulo, restringimos-nos 4 quimiorrecepgao como um sistema sensorial, a interface entre o sistema nervoso eo meio quimico interno e exteno. Os quimicos atingem o corpo humano pela ingestao oral ou nasal, contacto com a pele, inalago e, uma vez la, eles difundem-se ou sio transportados para a superficie das membranas de células receptoras através de varios fluidos aquosos do corpo (muco, saliva, légrimas, fluido cérebroespinal, plasma sanguineo). O sistema nervosos monitoriza constantemente esta entrada e saida de quimicos com um variado arranjo de receptores quimiosensoriais. O mais conhecido destes receptores so os érgios do sabor (gustago) e cheiro (olfacto). Contudo, a quimiorrecepgdo ¢ generalizada através do corpo.. Os quimiorreceptores na pele, membranas mucosas ¢ quimiorreceptores nos corpos carotideos avaliam os niveis sanguineos de O2, CO2 ¢ [H'J. Receptores do sabor sio células epitel olfactivos sao neurénios modificadas, enquanto que os receptores As tarefas dos receptores gustativos e olfactérios parecem ser semelhantes & primeira vista. Ambos reconhecem a concentragio ¢ a identidade de moléculas dissolvidas ¢ comunicam esta informagdo a0 SNC. De facto, os dois sistemas operam em paralelo durante a alimentagdo e dos sabores da maioria dos alimentos sio fortemente dependentes tanto do sabor como do cheiro, Contudo, as eélulas receptoras dos dois sistemas so um pouco diferentes. Os receptores olfactivos so neurénios. Cada célula olfactéria tem pequenas dendrites numa extremidade que so especializadas em identificar estimulos elgctricos e na outra extremidade tém um axénio que se projecta directamente para 0 cérebro. As células receptoras do sabor no so neurénios mas sim células epiteliais modificadas que sinapsam para os axénios dos neurénios sensoriais que comunicam com 0 SNC. CAulas receptoras do sabor — Os receptores do sabor esto localizados maioritariamente na superficie dorsal da lingua (Fig. 15-1A), concentradas dentro de umas pequenas (mas visiveis) projecgSes chamadas papilas (Fig. 15-1B). As papilas (ém a forma de cristas, borbulhas ou cogumelos ¢ cada tem pequenos milimetros de diimetro. Cada papila, por sua vez, tem numerosos botées gustativos (Fig. 15-1C). Um botdo gustativo contém 50-150 células receptoras do sabor, numerosas células basais € de suporte que rodeiam as células do sabor, mais um conjunto de axénios aferentes sensoriais. A maior parte das pessoas tém 2000-5000 botdes gustativos. A parte quimicamente sensitiva da célula receptora do sabor ¢ uma pequena regio membranar apical perto da superficie da lingua. A extremidade apical tem pequenas extensdes chamadas microvilosidades que se projectam para dentro do poro do gosto, uma pequena abertura na superficie da lingua onde as células do sabor so expostas aos conteiidos da boca. As células do sabor formam sinapses com os axénios sensoriais primérios perto do fundo do botdo gustativo. Contudo, o processamento pode ser mais complicado que uma simples transmissio receptor-axénio. As célula receptoras também fazem sinapses eléctricas ¢ quimicas para algumas células basais, algumas células basais fazem sinapses para os axénios sensoriais e algum tipo de circuito de processamento de informagdo pode estar presente dentro do préprio botdo gustativo, ‘As células do botio gustativo sofrem um ciclo constante de erescimento, morte ¢ regenerago, Este processo depende da influéncia do nervo sensorial porque se o nervo esti cortado, 0 botdo gustativo degenera, Células receptoras do olfacto — Nés cheiramos com as eélulas receptoras no fino epitélio olfactério, © qual se localiza na cavidade nasal superior (Fig. 15-2A). O epitélio olfactério tem trés tipos principais de células: eélulas receptoras do olfacto so © local de transduedo; células de suporte sao similares a glia e, entre outras coisas, ajudam a produzir muco; células basais sio a fonte de novas células receptoras (Fig. 15-2B). Os receptores do olfacto (similares aos receptores do sabor) morrem continuamente, regeneram e crescem num ciclo que dura 4-8 semanas. As células receptoras do olfacto s4o um tipo de neurénio, ‘Assim que nés respiramos ou cheiramos, os odorantes quimicos passam por muitas dobras das passagens nasais. Contudo, para contactar as eélulas receptoras, os odorantes devem primeiro dissolver-se e difundir-se através da fina camada mucosa, a qual tem uma porgdo viscosa ¢ aquosa. O epitélio olfactério normal produz uma camada mucosa de 20-50 pm de espessura. O muco flui constantemente ¢ é normalmente substituido a cada 10 minutos. © muco ¢ um complexo aquoso baseado em substincias que contém glicosaminoglicanos dissolvidos. Uma variedade de proteinas, incluindo anticorpos, proteinas que se ligam aos odorantes, enzimas e variados sais. Os anticorpos sio criticos porque as células olfactérias oferecem uma rota directa para os virus ou bactérias entrarem no cérebro. A proteinas ligantes aos odorantes no muco provavelmente facilitam a difusdo dos odorantes de © para os receptores. As enzimas podem ajudar a limpar 0 muco dos odorantes e, por isso, aceleram a recuperagao dos receptores de odores transitérios. Tanto o tamanho absoluto como a densidade do receptor do epitélio olfactério variam muito entre espécies e cles ajudam a determinar a acuidade olfactéria, A area de superficie do epitélio olfactério & de apenas 10 cm’, mas esta drea limitada é suficiente para detectar alguns odores em concentragdes muito baixas. Os epitélios olfactérios de alguns cAes podem ser de 170 cm’ e os caes tém mais de 100 vezes mais receptores do que os humanos. A TONGUE © TASTER toe Seis Fala ‘Crete Fungrom sana Fig 15-1

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