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a 1, pp 93104, 1980 TEMA DE ACTUALIZAGKO O que é a ansiedade? POR ADRIANO S. VAZ SERRA* Na reviséo sobre ansiedade que a seguir se apresenta tentamos chamar a atengio para os sepuintes pontos — a ansiedade, como conceito, tem sido empregada nas mais variadas acepgées, quer em funcio das condigées antecedentes que evocam, quer como agente causal, forga motieadora de wn comiportamento especfco, srazo de personalidade, impulso ou resposta.emocional; — presente em mumerosas situagées psiquidtricas, o seu papel primordial salienta-se, porém, nos trans- tornos neuréticos; —constinai wm conjunto complexo de emozées, formadio pela emogiio dominante do medo, i qual se associam outras, entre as quais a culpabilidade, a amargura, a vergonha ¢ o interesse-excitagt — como a emogéo dominante ¢ 0 medo sto abordadas as causas da sua génese, referindo-se os seus determinantes inatos ¢ adguirides. Aqueles, explicam-nos a universalidade das respostas de certos medos. Estes iltimos, Teoam-nos a compreender a formagio, nas pessoas, de medos especificos; —as fazer-se a andlise da resposta de ansiedade, procura diferenciar-se 0 que se deve do que no se deve tratar, dé-se realce aos diversos componente: dessa resposta (cognitiva, vegetativo e motor) & ao modo pelo qual se gera e igualmente se perpetua; —sio ainda estabelecidos ot dois grandes objectioos da recuperagéo terapeutica: promover a desacti- apd fisiolégica do individuo em relagdo com as situagées ansidgenas e fazt-lo enfrentar estas situaces em condigées de ndo-ansiedade, de forma a impedir as respostas de fuga e de evitamento que constituem, afial, @ sua imvalidagao, © que é a ansiedade? A ansiedade & um termo tio divalgado que faz parte da linguagem comum, onde € empregado nas mais variadas acepgdes. Segundo 0s especialistas 0 seu uso na lingua pormaguesa foi pouco frequente antes da 2.*metade do século xx*. Em tempos to recusdes como © século xitt a5 palavras afan © cayta € coytado so consideradas seus sinénimas ¢. No século xv os termos angustura e pressa ? ¢, no século XVI, a palavra esirita, parece terem-se revestide de ‘idéntico significado *. ‘No dicciondrio conceituade de Cindido de Figueiredo a aniedade & definida como ‘angistia’, “ansia’,incertezaafitiva’ ou ainda ‘desejo ardente’ ‘A mesma obra, por sua vez, quendo se refere & * Professor de Psiquiatria da F.M. C. ¢ Director da Clinica Psiquidtrica dos H. U.C. angiistia menciona-a como “estreiteza’, ‘aperto do coracio’, ‘aflicdo’ e “agonia’. ‘No presente artigo os termos ansiedade e angistia sao utilizados no mesmo sentido, admi- tindo que aquela se refere mais 20 componente cognitive ¢ esta mais 20 componente vegetativo do mesmo construto. INa giria corrente as pessoas utilizam 0 termo ansiedade com os mais variados propésitos. ‘Assim, jé temos ouvido individuos referirem {que estio ansiosos por acabarem dado livro policial ou irem ver determinado filme. Hé alunos que ficam muito ansiosos quando tém exames para fazet. Hé seres humanos que sentem grande ansiedade quando ttm de andar num clevador © preferem, por isso, utilizar uma escadaria, ‘mesmo que tenham de subir muitos tancos. 9 Abie 8. HE pessoss que sentem ansiedade quando se sentem rejeimadas, sfo submetidas a critica ou efectuam uma tarefa que consideram importante. Hé individuos que mudam de passeio porque ficam ansiosos por avistarem 20 longe alguém com quem sndam de relagtes tensas. Ne prética clinica psiquiétrica temos encon- trado enfermos que lavam demorada ¢ frequente- mente as mos ou outras regiBes do corpo, que sfirmam ficarem muito ansiosos se tal no fizerem quando alguma coisa os ‘Na vida quotidiasa € facil recordarmos certs pessoas que, no seu convivio, parecem sautén- teas pilhes de nervoss, sendo assim por natureza. Sensiveis a pressties psicaldgices do meio ambiente, estas constituem ameagas potenciais de uma possivel. descompensacio, ‘Em literatura ow em psicologia @ ansiedade pode ser valotizada como tuma emogo. Em termos laboratoriais tem havido autores que preférem consideré-la como um impulso * ou uma simples resposta emocional, Estes aspectos revelam que o mesmo concsito € considerado segundo formas muito diferentes. alguns casos como forga propulsora de determinado comportamento; outros, como res- posta emocional desencadeada por certos esti toulvs; noutros, como um impulso desagregador de um comportamento adequado; noutros, como 1um trago de personalidade bisica e, noutros ainda, oma uma simples emogdo, * Os exemplos citados revelam-nos que a ansie~ dade invade tanto 0 terreno do mormald como 0 do spatol6gicor, havendo os que procuram valo- rizar o que herdadave outros #0 que € adquiridos A ansiedade na prética clinica Os trantornos mediados pela ansiedade sto extremamente frequentes. Qualquer que seja a especialidade a que um clinico se dedique nela encontra situagSes em que a ansiedade desempenha um papel prepon- erase ‘Meltzer (1974), por exemplo, reftre que ta maioria dos “doentes que consultam um médico, devido a sintomas relaciovados com 0 coral, de facto ndo tem uma doenga cardiaca corginica, Hm vez disso sofrem de manifestagbes cardiacas de ansiedades. McDonald e Bouchier (1980), ao observarem cem doentes consecutives, com. quelsas gustro- intestinais, verificaram que 28 tina uma deenga psiguidtrica marcada, associada ou nifo a deenga vex Sines fisica, Notaram que entre estes, 08 tragos de satureza obsessiva etam mais notitios ¢, das sinuagSes psiquiftricas que predispunham 2 este tipo de perturbagdes, 0s distirbios de natureza emocional, usualmente designados por «mervoss oa edepressdos, ocupavam um lugar preponde- rante. Estudos de ptocedéncia diferente (Cooper e Morgan, 1973; Gardiner et al 1974; Marks et 4h, 1979 © Robertson, 1979) tém revelado dois factos importantes. Um deles, 0 da frequéncia ‘aotivel dos transtornos mediados pela ansiedade, tanto na populaglo em geral, como nos enfermos que acorrem ao clinico geral. Outro, a da iden- ‘lcapio incorrecta, pelo clinico nBo-psiquiatra, do enférmo com transtornos psiquiétricos. Factores como os anos de prética, a variabili- dade de casos observadas, 0 intesesse geral pelos problemas de psiquiatria, certas caracteristicas da personalidade do médico eo estilo da entrevista clinica sfo algumas das circunstincias de que se fem mostrado dependente a boa ou mé identi- ficago dos casos psiquidtricos (Marks et al., 1979; Robertson, 1979). © doente ansioso usualmente € ficil de detectar. Durante a entrevista com 0 miédico mostra-se inquieto, custa-the 0 scontacto dos olhos> com as outras pessoas, debita as palavras com uma frequéncia répida, sai-Ihe por vezes a voz num tom mais alto. Queixa-se de que a boca esta seca ou de que sente com frequéncia 9 corpo a tremer ¢ as mios frias ¢ hnimidas, § comum seferir que © coragio the vcostume bater depressa demaisy. Olhando-se para ele nota-se que @ sua sespiragdo € répida ¢ acompanhada, nalguns casos, de uma inepiragio dificil. Pode mencionar ainda tonturas, dores de cabega ou vémitos em citcuns- ‘incias sem que esté mais nervosoe. A familia telata ¢ ele reconhece que anda mais frritivel, que facilmente se aborrece © que traz 4 mente cheia de pensamentos de perigo, ou de outra natureza, que ndo se adequam & realidade € 0 fazem sofrer terrivelmente. Torna-se mais sensivel 20s sinais de ameaga. Custa-the cumpric com a sua vida rotineira, porque ficou mais bil as minimas presses psicolégicas e Ibe cust suportar os ruidos do meio ambiente Conforme as dreas especificas a que se encontra sensibiizado, por vezes sente-se corar ou 9 sgeguejar impiedasamente em situagdes sociais em que gostaria de se sair bem. Noutras alturas, pperante tarefas importantes em que descjaris Jembrar-se de certa matéria, dé-lhe a impressio de que studo se the varre da memérian Noutros casos, em sitios confinados, como um autocarro, 0 metropolitano, um avido ou uma simples sala cheia de gente, comesa de repente a sentir-se aflito, a ansiedade a crescer, 0 panico f atingi-lo, nota uma auténtica etempestade vege tativar dentro de si e sO deseja sair (o que nem * sempre € possivel) do local onde esti. Se nfo consegue sair ov, por qualquer mocio, acalmax-se; © panico acentua-se, agita-se, grita ou toma ati- tudes que levam os outros a sentirem-se na obrigagio de prestar ajuda, f entto levado, algamas vezes com grande aparato, a um posto de urgtncias médicas ou a alguém que the possa valer. As circunstincias em que tal ocorre fice mareadas por muito tempo na sua recordacto. Conforme foi reftrido, 0 sbater demasiado do coragioy torna-se uma queixa frequente. To usual que um dos primeiros médicos americanos ‘gue estudow estas situagSes, as denominou de scoraglo irritivels, vindo mais tarde a receber © nome do seu autor © a ser conhecido por #Sin- roma da Costas, em homenagem a Jacob Mendes da Costa que, em 1871, chamou a stengdo para estes casos (Nemiah, 1975). Num individuo com um estado de ansiedade © coragio altera facilmente o seu fancionamento, Além de uma taquicerdia leve ou moderads, inconstante, pode ocorrer uma pequena depressd0 na jungio S-T e uma inversio das ondas T (Schweitzer © Adams, 1979). E frequente o individuo ansioso preocupar-se com 0 coraglo. Muitas vezes adquire 0 costume de palpar o pulso ou de levat a mao 4 regifo pré-cordial, para saber ecomo 0 coragio esté a wabalhan. “Tais manobras, em luger de o apazi- ‘guar, inquietam-no mais ¢, algumas vezes, @ frequéncia cardiaca acentua-se tanto que 0 cenfermo teme que aquele érgfo ihe vé rebentar, Os estados de ansiedade sto frequentes Tnvestigagées realizadas a nivel da populagio em geral ttm revelado uma prevaléncia que oscila entre 3.5% (Tyrer, 1979) até uma taxa Hio alta como 31% (revisio de Schweitzer e Adams, 1979). Admire-se, porém, que cerca de 3/4 dos enfermos com ansiedade patolégica nunca so observados por um psiquiatra, 0 que pode ser um indicativo do éxito conseguido com ‘medidas simples de intervenglo terapéutica ou da sua propria evolugio favorivel. No entanto, fem casos mais graves, que carecem de interna: ‘ert gsiguidtrico, em-se observado a sua recaida com frequéneia, quando tm de enfrentar de novo a comunidade onde vive (Kerr er. al, 1974) 0 ue & a alate? A percentagem de individuos do sexo feminino, com estas alteragdes, costuma ser das vezes superior & do outro sexo. ‘A nivel das consultas de um clinico geral os transtornos mediados pela ansiedade surgem com uma prevaléncia que, consoante os autores, se encontra entre 10-20% (Schweitzer © Adams, 1979). Constituem, por isso, das situagSes psi- ‘guidticas mais comuns com que este tipo de clinico tem de aprender a lidar. Além disso, segundo os autores referidos, 0 tempo que con- somem a0 médico, pela aenlo que € solictado 4 prestar ao enfermo ejou aos seus familiares, € bastante maior do que o que precisa de dediear as outras situagées de rotina, A ansiedade no contexto psiquidtrico ‘Num estudo pormenosizado de Henri By (1950), relativo 8 ansiedade mérbida, 0 autor menciona que 0 conceito de ansiedade € de introduglo recente na semiologia psiquidtrica. Refere que, ‘no século x1, 0 termo € pouco usado, preferindo os autores designar as situag6es que actualmente se denominam por ansiosas, como correspondendo a um estado de fobia, d medo, de pantofebia ou de panofobia (H. Ey, pp. 387-388). © mesmo cientista salienta ainda que foi Lalanne (1902) um dos primeiros autores do presente século que claramente valorizou a ansiedade como uma manifestaglo frequente nas neuroses © nas psicoses. Porém, assinala que ja anteriormente Morel, em 1866, chamara a atengio para 0 lado emorivo de grande mimero de quadros linicos psiquidtricos, no qual 2 ansiedade estava implicita ‘Mais acrescenta Henri Ey que, durante bas- tante tempo e para muitos clentistas, os termos ansiedade, angiistia e medo tiveram um significado idémtica,’ Isto _passou-se com investigadores antigos ‘e, de forma particular, com Darwin, ‘Mosso, Mac Dougall e Ribot que, nos seus estudos sobre as emog6es, munca se referiram nem a angistia nem a ansiedade mas apenas a medo. Gradvalmente, porém, um certo aimero de psiguiatras e de psicélogos, foram tentando dife- renciar a ansiedade do medo. Assim, em sintese, passou-se a mencionar que o medo consiste numa sreacglo de defesa... frente a um abjecto presenter, enquanto que a angistia ou ansiedade epréfiguea nna Sua estrutura tm perigo a vir e, por isso mesmo, mais vago, incerto, misterioso e lancinantes GH. Ey, pg. 382). % Avion. Esta tendéncia para separar a ansiedade do medo encontra-se em diversos artigos ¢ livros de texto, Levitt (1968, pg. 28), ao rever este tema, assinala que vétios teéricos tém proposto que © termo ansiedade seja reservado para 0 medo gerado por uma fonte desconhecida para o indi- viduo atingido ¢ se utilize © termo medo apenas quando a pessoa tem conkecimento do object ou da situago ameagadora, Uma propensio idéntica ¢ encontrada noutros autores, como Pollitt (1973) ou Mefferd (1979), ‘aos quais se podem juntar muitos mais. No entanto a diferenciaggo néo & assim tio Tinearmente estabelecida se tivermos em conta ‘a importincia que 0s processos cognitivos desem- ‘penbam nas perturbagSes emocionais *, Ha frases que 0 individuo profere para si, na avaliacéo de situagdes futuras, que the podem determiner ansiedade. Assim, em rigor, no se pode dizer que esta emocfo seja uma reaccfo perante alguma coisa nfo objectivavel, porque aqui o terreno do objectivivel esté no interior do individuo, naquilo que diz a si mesmo ¢ 0 perturba emocionalmente. Dentro do contexto psiquistrico hi autores, entre os quais se salienta Lopez Ibor, #,%, 7 que procuraram vatorizar a determinagio endé- gena da ansiedade. Num dos seus trabalhos * refere textualmente: «...a andlise clinico-psicol6- gica dos sintomas compele-nos a aceitar 2 exis- ttacia de tristeza vital ou endotimica na depressio ¢ uma ansiedade vital ou endotimica na neuroses, A ansiedade, nascida de uma base fisiogénica, tenderia a crescer ¢ a orgenizar-se a volta de um contetido, que representaria o seu motivo, 20 ‘qual se poderia ir buscar a sua aparente psico- énese. ‘No procuramos no presente artigo percocrer 8 argumentos utilizados para manter esta posicio. A descrigio que estamos a efecruar refere-se, ‘essencialmente, & ansiedade em que se realcam os aspectos de natureza exégena, Na casuistica psiquidtica a ansiedade desem- penba um papel primordial Em relaglo a0s transtornos neuréticos a sua importincia é novéria, pois & considerada_o elemento mediador destas perturbagées *. Em casos afins, como as disfungGes sexuzs, a sua acgio patogénica € igualmente notéria (Haslam, 1978, BE. 85; Sharpe e Lewis, 1979, ‘pp. 159-187). Vaz Sere Nos doentes psicstices torna-se também um factor significativo, pois nfo s6 € comum estar associada 4 restante sintometologia do quadro inico, como pode complicar mais 0 prognéstico a situagio (Prick, 1969; Tyrer, 1979) No gue respeita 20 suicidio, embora 0 seu papel seja poucas vezes referido, no deixa de set de realgar (Pokorny, 1979). Nio hé, praticamente, nenhurma situaglo psiquidtrica’ em que nfo desempenhe ou nfo possa vir a ter um papel de relevo. Um caso particular é 0 das depressdes. Na prética psiquidtrica a ansiedade ¢ a depressdo andam com frequéncia ligadas. Perante um doente deprimide, 0 clinico quase sempre é tentado a ministrar um anti-depressor junto com tum determinado ansiolitico. HI autores que mencionam que a ansiedade pode constituir, em certos cas0s, apengs uma manifestagdo de depressio mascarada, capaz de regredir com a administracdo de anti~depressores @Pollite & Young, 1971) Tendo a ansiedade e a depressio uma coexis- téncia tho intima, seré possivel distinguir com facilidade os estados de ansiedade, dos estados de depressio? ‘A destringa € dificil, considerando exclusiva- mente a expressio sintomatolégica. ‘No entanto, uma série de estudos efectuados em Newcastle #, 8, 44, ©, © tém_ revelado existirem caracteristicas que diferenciam aqueles que desenvolvem um estado de ansiedade dos que manifesta um quadro de depressio. De acordo com os resultados desses estudos, salientarge que 0s individuos que deseavalrem estados de ansiedade, tém cendéncia a manifes- tarem com maior frequéncia crises de pinico, apresentarem respostas fisioldgicas mais aumen- tadas, evidenciarem uma maior labilidade emo- ional ¢ 2 terem no seu pasado maior nimero de alteragtes de comportamento © manifestagSes neuréticns na infancia, Também se verifica que, nestas alteragées © seu comero se costtuma dar pelo inicio da década os 20 e a reagirem, sobretudo, perants a ameaga € a incerteza de acontecimentos futuros *, Em contrapartida, mos casos de depressio, 08 acontecimentos passades tm um releyo maior, nomeadamente aqueles em que se verificou uma perda afectiva, a variacio diurna do humor mais acentuada e ha uma tendéncia maior para os actos. suicidas, ins6nia tardia inibigio motora, No entanto, num estudo recente de Johnstone et al. (1980), foram utlizados 240 doentes neuré- ‘ticos, observados semana-a-semena no que respeita 0 ue & 4 antes? ” a ansiedade ¢ a depressio, Este quantitativo foi dividido em quatro grupos diferentes, a cada um dos quais foi dada amitriptilina, ou diazepam ou amitriptilina e diazepam ow um placebo. Os autores verificaram que, tendo em atengdo 0 quacro clinico, 0s enfermos nfo podiam ser classiticados em grupos de ransiosos ou de edeprimidosy. Comprovaram sinda que 0s resultados tendiam 2 ser bons, independentemente da taedicacéo wtili- zada, nfo obstante ter sido um pouco melhor 0 que se conseguiu, com o uso da amnitriptilina, tanto no que Tespeita a ansiedade como depresséo. Os investigadores conciuiram, por isso, que ndo tem qualquer valor prético a distinglo, em enfermos neurdticos, entre ansiedade © depressio, pelo menos mo que respeita ao tratamento medica- ‘mento. Como se nota estas questies esto ainda controversa. Consideremos agora outros aspectos que importa realgar, A ansiedade como um conjunto complexo de emogies No estudy ja citado de Henti Ey, o autor explicta que a ansiedade se pode manifestar das mais diversas formas. Distingue este cientista entre as crises de grande e de pequena ansiedade © apresenta uma descrigo pormenorizada das corganizagdes temétices que podem emergir de cada uma delas Na grande ansiedade o futuro parece ficar obscuretido para o doente ¢ 0 presente mostre-se ameagado € cheio de trevas. A sua existéncia € posta em questo desenvolvendo a sensagdo de que vai motrer. O infortinio, a culpabilidade, © desespero, agitam-se por todo o lado, A ansie- dade assim vivenciada torna-se to perturbadora que dé a vida o sabor amargo de um pesadelo. Na pequena ansisdade a situagdo € igualmente perturbadora, mas menos grave. Nela trans- parece a hesitasdo, a inseguranga frente aos acon- tecimentos, 0 temor, a amargura, a lamentagio de ndo poder modificar 0 passado, a resignacso temerosa perante a catistrofe, a falta de coragem para ser capaz de reagir. A ansiedade pode, pois, manifestar-se de uma maneira multiforme. Seri ela, no obstante a riqueza das suas manifestagbes, uma emogio simples, ou um conjunto de virias emosées elementares? Para se poder encontrar resposta para esta questio, bé que atender que uma emogdo se diferencia de outra pelas suas repercussdes espe- cificas sobre o organismo. Entre estas salienta-se a sua relagdo com 0s fenémenos de percepeiio, cognigéo, consciéacia, a maneira como pode alterar ‘ocomportamento da pessoa ou ainda 2 sua impor- tincia’ no que respeita a0 desenvolvimento da personalidade em geral ea dreas significativas como 0 sexo ou as relagdes inter-pessoais (Lzard, 1977) Estudos discriminativos realizados por Carroll Jaard vieram revelar que a ansiedade é um conjunto complexo de emogdes, E constituida pela emogdo dominante do medo, & qual se ass0- ciam outras, entre as quais se podem apontar a amargura, a célera, a vergonha, a culpa ¢ 0 inte- esse-excitagdo. Ao ser referide que 0 medo € a emogio dominante quer-se mencionar que esti sempre presente quando existe ansiedade. Porém, avariabilidade que este estado pode adquirie advem do modo como o medo se combina com as restantes emogées referidas, Segundo aquela autora, podem. gerar-se estados de medo-amargura-célera, por exemplo, ou de medo-culpa-vergonha ¢ outros ‘mais, possibilizando uma mistura de emosdes bésicas, da qual resulta 0 colorido diferente que pode aparecer. Sendo 0 medo a emogo nuclear & volta da qual se teune uma ou mais das emogées assine- ladas entio, compreender porque se gera o medo no ser humano, € avangar wm pouco na com- preensio das razBes porque alguém pode ficar Como se gera 0 medo? © medio pode ser devido a dois grupos grandes de factores, uns de natweza inata, isto & em que © individuo nasce predisposto ‘a apresentar reacges de medo perante um certo nimero de situagdes eapecificas e, outros, aprendida, Como determinantes inatos do medo, segundo Gray (1971) encontram-se quatro categorias diferentes de situagées de estimulo que se carac- terizam: pela intensidade da situagio, a sua novidade, perigos especiais a que se ficou sens: bilizado pelo evolugdo filogenética e ainda cic- cunstincias despertadas pela inter-acco social especifica (citado por Izard, 1977), A dor ou um ruido intenso que desperta medo um exemplo do primeiro caso. Um objecto ou uma pessoa estranha que surge bruscamente € um exemplo do segundo caso. O medo da escuriddo ou das alturas é um exemplo de situa- ges que constituem indfcios de medo trazidos evolutivamente, A resposta de medo perante um Avan 5, individuo que manifeste c6lera ou produza ameagas € outro exemplo concreto de respostas de medo ocorridas da inter-acqdo social Ha reacgbes de medo, potém, que se vio modificando com a idade, ‘0 medo perante estra- hos, por exemplo, nfo se desenvolve nos primeiros ‘meses de vida, mas apenas comesa 2 surgir entre 0s 6 © 0g 9 meses. O medo aos animais © a0 escuro ndo costuma surgir antes de passado 0 primeiro ano ¢ meio de vida, O medo aos animais vai crescendo até cerca dos 4 anos. © medo originado das situagées que implicam imaginagio vai sumentando & medida que o individuo vai sabenda utilizar melhor ox seus processes cagni- tives. Tris dados significam que as respostas de medo estio dependentes, afinal, da capacidade perceptivo-cognitiva da pessoa, que pode variar Consoante a idade. Tadependentemente destes aspectos, ligados -mecanismos inatos, h outros, igualmente impoc- tanies, associados @ mecanismos aprendidos. Nesta aprendizagem dos diversos medos podem actuar tanto condigtes de condicionamento clis- sico, como de condicionamento operante, como de modelago. No condicionamento cissico ha respostas de medo que podem ser fixadas pela associagio de um estimtlo nevtro com um estimulo incon- dicionado como a dor, passando aquele a despertar medo. Assim, por exemplo, um dentista no objectivamente ninguém que possa despertar, 56 por si, reacgdes de medo. Porém, se a0 longo a vida, a pessoa tiver dentes cariados © for ao dentista € tiver dor quando a broca é aplicada ‘para tratar os dentes, eato a pessoa pode comecar a desenvolver o medo de ir ao dentista. Este € um exemplo tépico de ma resposta de medo que pode ser criada por condicionamento clissico. Quando um adolescente, na praia, apanha com uma onda na cara e desara a fugir até cchegar ao toldo, esta resposta de fuga pode ser ‘bastante cefaccada pelos seus familiares. A mie, se for do tipo protector, pode elogiélo pela sua sensatez de no se meter nas ondas, ou do seu cuidado em se afastar do perigo ou outras frases mais que reforcem o seu comportamento de fuga. Na verdade 0 adolescente fo esteve exposto nenhum perigo real, Porém, 0 reforgo do seu comportamento, fice a uma situagio de perigo ppotencial, pode fazer com que desencadeie com frequéncia respostas de medo. Neste caso estas respostas esto a set fixadas por condicionamento operante. Porém, outros medos hé, originados por ‘mecanismos completamente diferentes, de mode- Jaglo. Hi individuos que constituem modelos para outros, aos quais se encontram expostos durante bos porgdo de tempo da sua prépria vida. As pessoas que servem de modelo podem ter reacgBes especificas de medo perante certas sitoagées e vitem a determinar naquele que observa e para quem essa pessoa serve como modelo, reacydes idénticas de medos futuros. Assim, quando uma crianca, afectivamente ligada a mle, observa nesta uma resposta acentuada de medo quando surge uma trovoada, pode também ela, pela simples observagio, desenvolver posterior mente emedo as trovoadass, Neste caso 0 que esti em aeruagdo sdo as simples respostas apren- didas por modelagéo ow imicagéo. Os principios de aprendizagem podem actuer de forma que outras emogies suscitem a emogio de medo. Imaginemos que um indi- viduo, 20 longo da sua vide, por diversas vezes cem que se envolven em situagtes que Ihe desper- taram alegria, surgiram consequéncias desagra- daveis que evocaram medo. Posteriormente, merté do condicionamento estabelecido entre ambas aS emog6es, sempre que se envolve em situagdes susceptiveis de ihe despertarem alegria, pode a0 mesmo tempo sentir medo, nfo por condligies objectivas do que Ihe esteja 2 acontecer mas apenas por repeticfo de uma resposta gerada por circunstincias anteriores de condicionamento. Tndependentemente dos aspectos assinalados, hd ainda a referir que 0 aumento stibito de um impulso pode também suscitar medo, Quando um individuo cei inadvertidamente num pogo e fica submerso na gua durante um certo tempo, © seu medo vai crescendo paralelamente 4 carencia de ar (condigio de sumento de impulso). A tolerancia social 20 medo varia com os ambientes. No seu ptoctsso de sociabilizacto © ‘utilizada com frequéncia outra emoglo—a vergonha— para 0 controlar (Tzard, 1977). Quando uma crianga tem receio de fazer uma caricia a um cio grande ¢ 0 pai lhe diz que sé uma vergonha ter medo de fier uma festa a um animal tho pechorrentoy, sti a tentar influenciar a resposta emocional de medo, con- trapondo-Ihe outra emocdo, a da vergonha. O mesmo acontece quando se chama de cobarde a alguém porque alo € capaz de confrontar outa pessoa ou de falar, por medo, em determinada situagio social. 0, 0 que éa Os ambientes familiares tm, sob este ponto de vista, larga responsebilidade, pois & deles que nasce ¢ se molda 2 reaccdo especifica de medo que cada um € susceptivel de vir a desen- volver. HA ambientes familiares em que o mado ¢ sninimizado. . estes casos os pais evitam aterrorizar as criangas ¢, mesmo gue se sintam assustados, fo Iho comunicam. O medo, quando abordado, € apontado como uma manifestacio nociva cujas fontes se devem combater. Quando, por uma ou outa circunstincia, a crianca desenvolve medo, este vai ser reintegrado pelos pais, que procuram explicar a sua génese, lestimam 2 sua ocoréncia € permitem intimidade sufciente & crianga até restabelecer o seu equilibrio. E ensi- nada tolerincie perante 0 medo, como alguma coisa inerente & nacureza humana. Hi igualmente a preocupagio em impedir que a crianga fique com medo crénico, tentando corrigi-io por m: a0 aleance dos progenitores ou por métodos mais especializados, como o recurso a um médico (laard, 1977). Em contrapartida, hd ambientes familiaces em que 0 medo é maximizado, Quando os pais sentem medo ficiiments 0 comunicam 3s criangas e, com frequéncia, cles mesmos as aterrorizam como forma de controlar © seu comportamento, Quando é referido o medo € apontado como nso nocivo © até desejivel, ccujas fontes se devem respeitar. Quando a crianga experimenta medo néo fazem nada para 0 rein~ tegrar, pois acreditam que 0 mesmo serve para a aceitagéo © adopedo das notmas estabelecidas pela sociedade, Nio é ensinada as criangas qual- quer tolerincia perante o medo, nem to poco alguma coisa fazem para 0 cosrigir quando as criangas 0 manifesta, mesmo que seja de forma exonica (Zzard, 1977). Os aspectos gerais assim descritos so grosseitos © constituem uma caricatura de condigoes dife- renciais de edueagio, Na pritica, natucalmente, ‘nfo se manifestam de forma to rigida e exclusiva. Conttudo, existem adopeses diferentes em educagio que nos levam 2 compreender porque é que pessoas diversas, educadas em ambientes distintos, tém respostas diferentes, sob o ponto de vista emi cional, perante situagées idénticas. Aquilo que para um pode ser fonte motivo de derrow, ‘para outro pode constituir uma situagio de desafo, lutea e triunfo. Vaz Serra (1978) apresentou um caso de snucalgia, desencadeada num contexto de des- compensagio emocional, de uma enferma que snide? wy viveu 2 sua infincia num ambiente em que @ medo era maximisado, O pai constituia a figura dominadora da femifia e controlava 0 compor- tamento dos filhos com frequentes amearas ¢ castigos corporais. As situagdes geradas propi- ciaram que se tornasse sensivel & rejeigdo, pre- Gispondo a que mais tarde descompensasse emocionalmente, apés uma série de circunstin- Gias em que se sentiu rejeitada pelo marido Pela forma simples destes exemplos s¢ pode verificar quanto cada um estd exposto, a0 longo do seu desenvolvimento, a ser moldado segundo uum sistema de valores pesseal, com 0 qual analisa as situagSes decorrenies no seu ambiente A existéncia deste sistema de valores faz com que uma pessoa rotule as circunstincias em que esti envolvida como agradavels, neutras ou adversas. Contudo, nem todas as pessoas, perante situagées adversas, desenvolvem respostas emo ionais negativas. Porque € que umas 0 fazem © outras nio? Este facto fica clarficado se recordarmos a diferenca que existe entre habitwagto © sensibi- Hzagdo*, ® ‘Aturar unt chefe exigente, 0 encontro com pessoas autoritirias, a sujeigio a criticas ou a necessidade de falar ema piblico, sio tudo exemplos de siruagBes que poder ocorrer de forma frequente © muitas vezes despertam, nas primeiras ocasides, respostas emocionais desagradaveis. Quando estas situagdes se repetem com alguma frequéncia © 6 individuo se mostea capaz de as_ultrapassar com éxito, o estimulo que essa situagdo constitu perde gradualmente a sua intensidade e « resposta emocional desagradével torna-se cada vez mais esbatida. Dé-se entio 0 que se chama de habi- tuagio. © individuo, através dela, genba uma progressiva confianga pessoal. Porém, quando das situagSes mencionadas resulta todo um conjunto de experiéncias revestidas de fracasso e de humi- Thagdo, a resposta emocional negative, perante elas, em lugar de diminuir aumenta e, em vez da habituacio, dé-se a sensibilizagdo especifica do individuo perante essas situacdes. Em lugar de ganher confianga passa a temé-las, a atastar-se fou a fagir dessas ocoréncis, a sentir defraudar em si 2s possibilidades pessoas ‘A ansiedade em termos de estimulo e de resposta Muita da confusio que se pode estabelecer no que respeita a ansiedade resulta de um facto simples: da mesma poder ser considerada em termos de estfmulo ow de resposta. 100 Abia 6. Quando selientamos que determinada pessoa & muito sensivel & rejeigdo, & presenga de figuras ‘utoritirias ou de individuos do outro sexo, estamos a considerar as situagdes que a perturbam emocionalmente, Neste caso a ansiedade € consi- derada em termos de estimulo, uma vez que a énfase € colocada sobre as condigder gue deter- ‘minam a respasta emocional de ansiedade Quando damos porém reaice aos fenémenos de activacio fisioldgica, como 2 emergéncia uri- aria, a taquicardia ou as alteragbes da resistencia galvinica da pele, que se produzem na ansie- dade, ent estamos a fazer sobressair esta emogio em termos de resposta (neste caso vegetativa). Usualmente o individuo procura tratamento por causa das respostas de ansiedade que nele slo despertadas, No entanto, a compreensio do que com ele se passa s6 pode ser obtida se comsiderarmos a ansiedade em termos do estimulo ou estimulos que evocam tais respostas. Regra. geral toma-se itil conceptualizar a ansiedade, tanto em termos de estimulo como de resposta, para a abordagem terapéutica 2 institair Anilise da resposta de ansiedade Ao analizarmos wma resposta de ansiedade a primeira questo que gostaremos de ver respon- sida € a de sabermos se a deveremos ou nfo tratar. De acordo com a opinitio expressa jd hd anos por Wolpe © Lazarus (1966) toda a ansiedade que se revelar ndo-adapratioa, isto é que seja mediadora de um comportamento inadequado, merece ser cratada. Assim, para teatamento, deverdo ser seleccio~ rnados dois tipos de situagdes: aquelas em que 0 individuo manifesta ansiedade sem uma #240 objectiva para que isso acontera (em Fangio do perigo real que a situacdo exprime ou 0 que acontece na maloria das outras pessoas) ¢ ainda quando a ansiedade esté intensamente despro- porcfonada como resposta em relagio com a situaglo ocorrida Um exemplo da primeira, é 0 caso de um individuo que se sente ansioso quando anda de elevador. Embora isso aconteca com ele, na maioria dos casos os clevadores nfo caiem (perigo real) nem to pouco a maioria das outras pessoas tém essa reacgio. Ves Sera Como exemplo da segunda podemos considerar alguém que tenha medo das alturas. Na reali- dude todas 5 pessoas esto predispostas a terem medo das ateras. No entanto hi algumas em que isso se manifesta de forma tio acentuada que thes custa, numa casa, passar para além de um primeiro andar ou, em casos extremos, subir um simples escadote. Que consequéncias pode ter a ansiedade? Para as compreendermos torna-se util conside- rarmos @ resposta de ansiedade decomposta em trés componentes diferentes: cognitive, cegetativo © motor © componente cognitivo & de natareza subjectiva © diz respelto @ todos os pensamentos e senti- mentos desenvolvides por alguém quando esti ansioso. Anteriormente jd tivernos oportunidade de referir alguns destes aspectos. Tém relagéo com aquilo que a pessoa diz sentir. © componente vegetative, por sua vez, traduz a activacio fisiolégica que o individuo softe quando esté ansioso. Tem particularidades diver- sas. Uma delas, a grande variabilidade que as pestoas podem ‘apresentar mnaS suas respostas vegetativas tipicas perante os factores de pressio potcoldgica a que estéo sensibilizadas. Assim, lum individuo pade reagir aumentando predomi- nantemente 0 bater do sex coraglo ou a sua tensfo arterial, enquanto que outro, manifesta antes alteragSes da motilidade géstrica ou emer- géncia uringria, Também se tet verificado que (© mesmo individuo, perante situagdes diferentes { que esti sensibilizado, pode reagir com respostas vegetativas diversas. erante uma situacio stbita de pressio psico- logica, a activacio predominante € a do sistema ergotrépico, com o aparecimento das suas res- postas tipicas (secura da boca, aumento da sudoragis, da requincia cardiaca, da tensio arterial, etc.). Contudo, em situagdes que se prolongam cronicamence, 0 que se observa & a perda das leis de inibigdo reciproca ¢ do equi- ibrio homeostatico que regulam a relagio entre 0s sistemas exgotrépico © trofotrépico e, deste modo, podem aparecer tanto respostas de um como do outro subsistema neurovegetativo, a0 mesmo tempo ‘© componente vegetative da ansiedade ¢ importante pois muitas vezes ¢ ele que empurta 6 enfermo para tratamento. E ele também que pode dar origem # diagnésticos diferenciais difi- cris. E ele que pode levar & iatrogenizacio, pot parte do clinico, se a sua resposta no for reco- mhecida como emocional quando tal dever set admitido, £ ele ainda que serve de orientagio A > que entes vostas »sic0- tema res- > da nso véa equi- entre deste % 40 de é pura V gue aii por reco © ser ttagio 0 me clinica, no sentido de se saber se determinado tratamento proposto esté ou ndo a ter um efeito benéfico Por seu turno, o componente motor da ansiedade ¢ também inequivocemente importante, Refere-se 4s respostas de fuga ¢ de evitamento que a ansie- dade determina. E, por isso mesmo, um, factor invalidante porque limita o campo de acglo do enfermo e o impede de fazer a vida que desejaria. Para além das consequéncias, relativas a cada um dos componentes assinalados, ha ainda uma outra, igualmente significativa. Diz respeito & redugao da eficiéncia do comportamento em geral, facto este comprovado experimentalmente por Skinner ¢, naturalmente, odservado frequente- mente ta prética clinica. O individuo ansioso go 36 evita ou foge das situagdes @ que estd sensibilizado, mas ainda se mostra inibido em relaglo a muitas outras activi dades: contactos inter-pessoais, em getal, activi- dades profitsionais fora da sua roting, vida familiar para além do habitual, etc.. Considerdmos até aqui as indicagBes para 0 twatamento das respostas de ansiedade © as suas consequéncias, Qutras questées estio ainda por responder. Uma delas é relativa a0 comeso ¢, outra, & mamutencio ¢ desenvolvimento destas respostas emocionsis, © que leva uma pessoa a apresentar respostas de ansiedade que se revelem carecidas de trata- mento? Gambrill (1977), assinala sobretudo trés tipos de circunstincias: estimulos nocives de grande intensidade, mesmo que s6 actuem uma tinica vvez, estimulos de média intensidade regularmente repetidos ¢ factores de modelacto. ‘Como exemplo dos primeiros podemos realcar um exemplo trazido da clinica. Um dia uma pessoa do sexo feminine teve de parar o seu carro proximo de um camigo TIR, que estava com uma avaria. Por sua vez, atrés, veio calo~ car-se outto camido. O tréasito no’ outro lado ta estrada mantinha-se constante, pelo que nko pode ultrapassar. A certa altura, 0 camizo que estava a compor tenfou arrancar, continuava porém estragado ¢, mal o motor ficou em anda- mento, vei embater violentamente, de marcha atris, n0 carro da senhora. Esta vit a sua vida por um tri, ficou emocionalmente muito pertur- bada, soften lesbes de natureza fisica e, quando recuperou delas, tinha desenvolvido uma fobia 305 automéveis, nfo sendo capaz de fazer viagens ‘mesmo pequenss, num carro, Neste caso conereto 4 side? 101 © estimulo foi tao violento que, embora tinico, pbde determinar uma alteragdo do comportamento, mediada pela ansiedade, que se tornou inibitoria ‘Como exemplo de estimulos de média intensi- dade, podemos relembrar aquelas experiéncias, jé atrés assinaladas, ceferentes & presenga de um chefe desagradivel, oa 2 confitos conjugais repetitivos. Estes casos, embora sem 2 violéncia do primeizo exemplo, deixam 0 sabor de amargura ¢ de fracasso que vai sensibilizando uma pessoa Depois, em dada aitura, uma sgota de dguav na relagio perturbada é'0 suficiente para des- compensar marcadamente a pessoa ou pessoas em_causa Uim exemplo do terceiro tipo de situagdes & constituido por todos aqueles casos em que a modelagio intervém como factor preponderante. Um dado pai pode ter bastante ansiedade inter- pessoal frente is outras pessoas, tormando-se por isso timido. Un filho, com quem se dé bem € vom quem anda frequentemente, pode tornar-se fgualmente timido ¢ com ansiedade inter-pessoal frente aos outros, tal e qual © préprio pai, que the serviu de modelo me questio diferente, conforme assinalimos, € a de saber porque é que 2 ansiedade se mantém. Gambrill (1977) especifica que isso se deve a uum conjunto de cinco factores diferentes, concre- tamente: a histéria do condicionamento individual, deficiéncias de camportamento, atencio excessiva, prestada a determinado componente de ansiedade elo préprio ou por uma pessoa significativa do meio ambiente, o evitamento de tarefas desagra- aveis, caso a pessoa mantenha os seus sintomas, e ainda as expectativas de eficicie que o individuo sustenta perante a situaglo ansiégena com que se depara. No primeiro caso tm importancia os diversos factores de aprendizagem atrés assinalados, a que se ascociam a repetigBes das cizcunstincias trau- néticas 4 que 0 individuo fica exposto © segundo caso, refere-se sobretudo & manu tengio de respostas de ansiedade por falta de aptidées préprigs para lidar com a situaglo. Pode ser citado exemplo de uma jovem que se sente mal em reuni6es de amigos em que se dance, porque efectivamente Ihe faltam as aptidaes ecessitias para o saber fazer adequadamente. Quando 0 faz cai no ridiculo e, por isso, evita dancar © sente-se mal nessas ocasides. —* © cerceiro caso encontra varios exemplos na pritica clinica, Entre as perturbagSes que a Aon 5. ansiedade pode gerar situa-se a de sum aperto ‘a gargantas, Imaginemos alguém que tem este sensagio com frequéncia, quando esti ansioso. Consideremos que essa pessoa tem no meio ambiente em que vive uma outra, bastante amiga, com um aperto na garganta idéntico e em que se velo a descobrir que tinka um tumor da laringe O individuo com 0 saperto na garganta devido a ansiedade> pode passar, 2 partir dai, a prestar uma atenglo exagerada a este sintoma, com receio de poder ter também um tumor da_laringe. Nesse caso, a atengio prestada € um factor de reforgo que é capaz de manter a existincia deste sintoma. (© quarto caso corresponde Aquelas situagies em que o individuo fica numa posigo mais vantajosa se os sintomas se mantiverem. Um caso clinico que podemos recordar ¢ 0 de uma mulher que se entendia mal com 0 marido que obteve mais atengio da parte deste quands ecomegou a andar doente dos servos». Conseguit assim, pela enfermidade, 0 que nfo foi capsz de obter por outros meios, Este simples facto 6 suficiente para retardar a sua recuperaggo. ‘Mas a ocorréncia de gankes secundérios no se limita a0 que fica descrito, Podem surgir também quando, da manutenglo da sua incapacidade, © doente aufere quasiquer Iucros econémicos, ou ‘consegue ver diminuido o seu grau de responsa- bilidgde em relagdo a tarefes desagradaveis que podem ser bern ow mal executadas ou em relaglo 4 eventuais elites cometidos. A. manutengio dos sintomas pode ficar a dever-se sinda a ‘motivos mais subtis, em que o doente os utiliza ppara se spunirs de qualquer facto de que se consi- dera culpado. A persisténcia dos sintomas pode ainda ficar a dever-se quando, por causa eles, os outros tomam a respotsebilidade do doente sobre si ou passam 2 compartilhar 0 seu softimento (Nicholi, 1978) © quinto caso depende de vétios factores AAs expectativas de eficicia sio geradas em fungio de terefas semelhantes que 0 individuo conseguiu executar, da observagio de modelos nessas situa- Bes, de mecanismos de pessuagio verbal e ainda do estado fisiolégico em que se encontra. De tudo isto depende sentir-se ou nfo capacitado em enfrentar a siouagio que 0 ple ansioso. Os aspectos referidos sio importantes ao pretendermos instiouir uma terapéutica, seja ela estrictamente psicolégica ou com 2 ajuda de psicoiirmacos. Em tragos gerais podemos referit que a tera- péutica da ansiedade tem dois grandes objectives: primeiro, 0 de arranjar para o individuo que 5e queixa um processo de reduzir a sua ansie- dade e, 0 outro, fazé-lo lidar com as situages que se encontra sensibilizado, ja sem ansiedade, de modo 2 que ndo mais sinta a necessidade de as evitir ou de Ihes fugir. Summary Jn this paper che author reviews the usual concepts attributed to anxiety, draws attention 10 its importance in the clinical practice and in psychology, were anciety can be considered as a complex of emotions, where fear plays the main role, associated to guilt, distress, shame and interestexcitment. As the same time the cognitive, vegetative and motor components of the anxiety response are analysed and are established some considerations about the way they can emerge and maintain and the clinical approache that can be attempted to correct the situation. © ue & a anche? BIBLIOGRARLA 1 —Bamusoms Riset0 (1091) —

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