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Maria Luiza M. Abaurre Marcela Pontara TEXTO: ANALISE E CONSTRUCAO DE SENTIDO Cele l lg at) aaa Certament vocé ja se perguntou, em algum momento da sua vida escolar, por que precisa enfrentar tantas aulas de gramatica. Provavelmente também ja esta cansado de ounir falar, ano apés ano, em substantivos, verbos, pronomes, ortografia, pontuacéo, concordancia, regéncia e tantos outros conceites gramaticais. Como professoras, conhecemos bem as aflicoes associadas ao estudo da lingua portuguesa e foi isso que nos animou a accitar 0 desafio de escrever um livro em que 0 trabalho com a lingua e com a gramatica deixasse de ser uma apresentecdo cansativa de descrigdes e regras, Neste livro, vamos apresentar uma lingua portuguesa muito mais viva e proxima do seu modo de falar. Temos certeza de que boa parte das dificuldades enfrentadas durante 0 estudo da gramatica se deve ao fato de que as estruturas e exemplos presentes nos livros sao artificiais, criados para ilustrar casos previstos pela gramatica normativa. Achamos muito mais produtivo (e divertido) estudar os textos com que convivemos no nosso dia-a-dia: tiras humoristicas, cartuns, editoriais de jornal, narrativas, crénicas, propagandas, etc 0 objetivo da nossa reflexdo sobre as estruturas gramaticais ior dos textos seré compreender como elas funcionam no int Por isso, vocé sera desafiado a observar determinados fatos linguisticcs, 2 analisar como participam da construcao do sentido dos textos e, posteriormente, a produzir textos em que faca um uso consciente dos aspectos estudados. Desse modo, vocé tera a oportunidade nao so de compreender melhor as estruturas que participam da elaboragio dos textos, mas principalmente de colocar em prética 0 que esté aprendendo. Esperamos que, ao fim dessa jornade pelos muitos caminhes da lingua portuguesa, voce também tenha sido seduzido pelo poder das palavras e procure utilizd-las da melhor forma possivel. As autoras 7 ee UNIDADE1 Linguagem WETISIEEE Linguagem e variacao linguistica 2 Linguagem e lingua Z Signo ingustico ) 3 \Variagao e norma 8 Vatiedades regionaise soca 9 Variededes estilsticas 10 Mudana linguistica 1 [KETINIEEM Oralidade e escrita 15 A relaao entie oralidade e escrita 15 AA dimensao sonora da lingua portuguesa 16 ‘A relacao entre os sons da lingua e a escita atabetica 7 IETENIEEN A dimensao discursiva da linguagem 2 Os elementos da comunicacao 22 As funcoes da Inguagem B © trabalho dos inierlocutores com a inguagem 3 A indeterminacio da linguagem 32 Prepare-se: vestibular e Enem 37 Linguagem e sentido HETINIER A construcao do sentido 44 MARIN Sentido e contexto 44 Sentido literal e sentido figurado 51 Conotagao e denotacao’relacdes com o texto 51 Relacées lexicais 56 Relacbes de sentido ente as palavras 57 ETENINEM Efeitos de sentido 64 Duplo sentido 4 Duplo sentido e conotagso Ambiguidade: 3 indterminacio problemstics ( ‘A funcio citica da vonia Humor O discurso humoristco KETENE Recursos estilisticos: figuras de linguagem figuras de linquagem Figuras sonoras Figuras de sntaxe (ou de construcéo) Figures de persamento Frepare-se: vestibular e fem UNIDADE 3 Introdugao aos estudos gramaticais HETINER A oramatica e suas partes Todas as linguas tém uma gramatica ‘Acrigem dos estudos gramaticals (nies da descricio gramatical Seco especial: 0 portugués no mundo [STITT 4 estrutura das palavias As palavras € sus estrutura (5 elementos mérficos Os diferentes tipos de morfema Elementos mérficos formadores de palavras ETINIEER Formacéo de palavras! Composicao e outros processos Composicio Outros process de fermacio de palavras [ETIMIERE Formacéo de palavras Il A foimagao de rovas palavras por prefixacso esufxacio Formacao lexical: galas pimitivase deivadas Derivagdo Outros processos de derivacdo Derivaao regress Derivaao parassntética Derivacdo improora Prepare-se: vestibular e Enem UNIDADE4 Classes de palavras [ZTIMIEEEN Relacdes morfossintaticas Forma e funcao Forma lingustica Funcéo lnguistica Ceestudo das asses de palawras 164 164 165 165 166 [ETMIEEEE Substantive Definigao e dassificacao Classilicacdo dos substantivos ‘As flexdes do substantive Genero Numero Formas associadas a variacio de grau [ETITICKEN Adjetivo Definigao © dassificacao Classiicacéo dos adjetivos Flexo Alexao de género dos adjatives Alexa de nmero dos adetivos A lexao de grau dos adjetioos [EEE Pronome! Definigao © classificegao Pronames substantivas @ pronomes adjetivos Pronomes pessoais Pronomes possessivos [ETENERH Pronome I Pionomes demonstrativos e pronomes indefinidos, Pronemes dernonstraivos Pronomes indefinidos Pronomes interrogativos e pronomes relativos Pronomes interrogativos Pronomes relativos Sedo especial: Coesdo e coeréncia: aarticulagao textual EETINEED Atigo, numeral e interjeicdo artigo Formas do artigo Caracterstcas semanticas dos artigos de eindefinidos Numeral Tipos de numeral Interjeicao Tipos deintereiceo ENINIERIA Verbo! Definicéo e estrutura ‘Neesrutura interna des formas verbais Flexdes verbas As formas nomineis Os paradigmas das conjuaacdes verbais ClassficagSo dos verbos Formacao dos tempos simples As trés conjugagées regulares: tempos simples Verbo Il Paradiqmas verbais especiais Verbos ireguiares e andmalos Verbos defectivos Yerbos abundantes Estruturas verbais perifrasticas, Yerbos auxiliares e locucées verbals Tempos compostes Correlacéo de tempos e modos [NIE Advérbio Definicao e classiicacao Tipos de adverbio Yariacdes de grau nos advérbios Locucées adverbiais Folawras denotativas 256 257 265 266 273 2703 274 276 287 292 293, 294 298 306 306 307 312 313 316 316 323 326 335 335, 337 339 341 342 Preposicao e conjungao Preposicio: definicio e classificagso Tipos de oreposicio A preposigaoe as relagdes de sentido locus prepostivas Conjuncdo: defnicdo e classificagao Tipos de conjuncao Locugées corjuntvas Prepare-se: vestibular € Enem UNIDADES: 349 350 351 351 357 358 360 365 Sintaxe: estudo das relacées entre as palavras, (ETIMIEEIE Introducio ao estudo da sintaxe Estruturas,relagdes e funcoes Relaces e funcbes sintaticas Qs enunciades de lingua [EEIMEEFE Sintaxe do periodo simples Termos essenciais 0 estudo do suieito O estudo do predcada Termos integrantes Cormplementos verbais Complements nominal Agente da passive Termos acessorios e vorativo Agjunto adneminal Adjunto adverbial posto Vocative Prepare-se: vestibular e Enem Sintaxe do periodo composto O estudo do periodo composto Aarticulagao das oracées Periodo composto por coordenacio Periodo composte por sutordinacso Perodo composto por coerdenacao esubordnacéo TETINIEE Periodo composto por coordenacao 376 376 377 378 389 389 390 396 404 404 408 409 a a2 413 414 a5 420 424 424 426 428 429 434 As o1ag6es coordenadas Cracdes coordenadas assindéticas Gracies coordenadas snidéticas Relacoes coesivas [ERIE Periodo composto por subordinacao | As o1acdes que equivalem a substantivos (Gracées subordinadas substantivas subjetivas racoes subordinadas substantivas cbjetvas diretas racées suboninadas substantivas objetvasindiretas Gragées subordinadas substantivas competivas norninais rages subordinadas substantivas predicativas racees subordinadas substantivas apositivas Gracoes reduzdas [EINER Feriodo composto por subordinacao i As oracdes que equivalem a adjetivos Cracées subordinadas adjetivas restrtvas (races subordinadas adjeivas expicativas, 4s oracoes que equivalem a adverbios CGragées subordinades adverbiats causats Cracées subordinadas adverbias consecutivas Gracées subordinadas adverbias condiconas CGracées subordinadas adverbias concessivas Gracies subordinades adverbies comparativas Cracées subordinadas adverbias conformativas CGracées subordinadas adverbias finais Graces subordinadas adverbias proporcionais Gracees subordinadas adverbias temporais Prepare-se: vestibular e Enem UNIDADE7 Articulago dos termos na oragio ETICIEEZE Concordancia e regéncia Concordancis nominal e verbal Concor Concordanciaidectogic Regéncia nominal ¢ vertal Regércia nominal Regércia verbal [ESINEE! Colocacao pronominal 0s pronomes obliquos atonos As posicGes ocupadas pelos pro obliquos étonios Prepare-se: vestibular e Ene Aspectos da convengao escrita [EMIIEEE A convencio ortografica As convencoes da escrita A.comvencao ortoarstica uso de acentos grficos na esrita Crase Regras pata 0 uso do sinal ndicativo de crase Casos em queo sinal de crase nao deve ETINEEM Pontuacdo A pontuacao no portugues. Os sinais de pontuacae Prepare-se: vestibular e Enem Anexos PUTAS) Para meu pai, Emil, e minha mie, Maria Angélica, Seus exemplos de honestidade, de dedicagéo ede resoonsabilidade continuam a lluminar 0 meu caminho. (MLA) Para Cebo. Mais que irmao, alma que acompanha a minha me dé Forgas para sequir adiann Sempre ‘Ao longo da nossa jornada para criacdo deste livro contamos com @ ajuda de muita gente endo teremos como nomear a todos. Precisamos, porém, registrar nosso agradecimento sincero a aigumas pessoas que, por razGes diferentes, foram imprescindiveis. Comegamos pela Maria Tereza, a quem devemos muito pelo projeto da obra. Sabemos como sua orientacao foi fundamental no momento de definir prioridades e vislumbrar um livro que ainda nao havia co: mecado a ser escrito. Os amigos da editora dividiram conosco os prazes aperladissimos, as horas insanas de trabalho estafante e a tentativa de fazer sempre © melhor. E mais facil fazer uma travessia como essa quando se con’ com © apoio da leitura € da edicao cuidadoses do Rogério. Monica e Daniela se juntaram ands quando 0 tempo encurtou e ainda havia muito a ser feito, Suas sugest6es tornaram 0 nosso texto mais leve € mais claro, Aurea, mesmo nos momentos de maior pressao, foi uma referéncia de tranquilidade e competéncia, reforcando a certeza de que ‘© resultado de tanto esforco seria o melhor possivel. Temos que fazer um agradecimento especial a Bernadete. Mais do que itmd e amiga, ela nos acompanhou, capitulo a capitulo, partihando generosamente os seus conhacimentos sobre linguistica e gramatica Certamente devems a vocé muito do que hd de melhor neste livo. Maria Sylvia, Rosana e Anna Lucia nos deram 0 suporte emocional necessario para enfrentar os muitos obstdculos que se apresentaram ao longo do caminho. Meninas, mais uma vez, sem vocés nés nda teriamos consequido. Juanito aliou seu olhar de especialista ao bom humor e mergulhou na leitura de centenas de quadtinhos para nos ajudar a escolher os melhores dados. Sua ajuda foi imprescindivel Todo trabalho em equipe é uma aprendizagem. Ao fim de mais urr livro, podemos afirmar que a licdo mais importante que aprendemos com todos vocés ja havia sido definida com maestria por Guimaraes Rosa: “O real ndo esté na saida nem na chegada: ele se disp6e para a gente é no meio da travessia* Maria Luiza e Marcela Linguagem Uma das principais diferencas entre os pene sa capacidade de utilizar a linguagem nao Try aa Peres eer ko oa Reese ne usu ige ree Peetu Perper MMM yoru tre genase cea Pen y ate a tec ibe Sy ee eC OR Pro psa ree ere kot Peer nrreerrrm ue ele) islolele) eeysle) sa PpenemmneinneM TT) ys t) f oye on clen Cero grupos que as utilizam. Desde sempre, as Peete on ueie cre eumeen tend PERU UIC MRC ie eek Nos capitulos desta unidade, vocé vai Ree eeeeueuter enn Tene sake ene eed Meee ae Oe ures re) EO Sole cool a aur ne como 0 uso que fazemos da linguagem see tees Ie oR eo Le oe wey linguistica © que voct deverd saber 20 final deste estudo. 7. 0 que sio linguagem e lingua, 41. Linguagem e lingua m= Introducao Observe a propaganda para responder as questdes de 1a 4 4. A imagem acima combina dois elementos aparentemente incompa- tiveis. Quais so esses elementos? Por que sao incompativeis? 2. 0 texto apresentado sob a imagem sugere uma explicacio possivel para aestranha combinacao de elementos. Qual é ela? 3. A peca publicitaria dialoga com um interlocutor especifico. Quem é ele? O termo interlocutor designa cada um dos participantes de um didlogo Como todo texto se dirige a umleitor em quem o autor pensa no momento de escrever, cizenios que os leitores a quem um texto se dirige a0 os inter- locutores desse texte, | = Que elementos do texto marcam 0 didlogo com esse leitor? 4. Qual 6a imagem de leitor feita pelo antincio e de que informacbesesse | leitor deveria dispor para ser capaz de ler essa propaganda e chegar a conclusdo de que a assinatura do jornal Ihe podera ser util? carina Nao fique pees nc ‘mundo dos rameros. ‘Assine 0 Valor: 0800 701 8888 © game o contei | onine. pore, Si Pauls Linguagem e variagao 2. 0 que séo variacéo linguistica e norma. + Qual é a diferenga entre linguagem e lingua. * O que € preconceito linguistico. + Oque é signo linguistico. + Que fateres determinam a varia linguistica. A“linguagem" dos animais ‘A comunicagio eatre 25 formiges ‘cere lequenternente pa ddrecionar 05 merbros de uma mesma comunidad uma fonte de alimenta Oquese costuma designar como *linquaaer” animal nao passe de um sstema de comunicagso entre ‘os memitros de uma especie, Em- bora sofisticado, tal sistema nao. chega a constitur linguagem no Sento aqui definido. significante Suporte significede ence Q antincio reproduzido na abertura pressupde um leitor especifico, inte- ressado em acompanhar 0 dia-a-dia da economia ¢ das movimentacoes do mercado financeira. Esse leitor sabe como é dificil entender 0 contexto eco: némico e pode reconhecer a importancia de assinar um jornal que apresente informacdes sobre a econamia de modo esclarecedor Essas informagOes estao representadas nos elementos que constroem 0 aninco, constituindo sua linguagem. Observe também que 0 anuncio, além de usar a linguagem verbal e anao- -verbal (a imagem da floresta, neste caso), fez meno & linguagem matemnatica representada pelos nimeros, tomando-a elemento importante na construcéo do sentido do texto. Cer) ‘A linguagem uma awidade humana que, nas representacoes de mundo que constr, revela expectos hist6icos, cis: culturais. € por meio da linguacer que o ser humano organiza e dé forma as suas experiéncias. Seu uso ocorre na interacao social e pressupoe a exsténcia de intertocuores Sao exemplos de diferentes linguagens utilizadas pelo ser humano as linguas (portugues, alemao, italiano, holandes, guarani, etc.), a pintura, a musica, a danga, os logotipos, os quadrinhos, os sistemas gestuais, entre outros exemplos. coe Lingua ¢ um sstema de representacao socalmente constrtido, corstituide por signos linguistices, = Signo linguistico {As linguagens utiizadas pelos seres humanos pressupdem conhecimento, por parte de seus usuarios, do valor simbblico dos seus signos. A cor verde ‘nos sinais de transito, por exemplo, tem um valor simbdlico que os habitantes das cidades devern conhecer: significa autorizacdo para prossequir. Se nso hhouvesse acordo com relacao a esse valor, Ou Sea, Se nao fosse possivel aos Usuarios de uma mesma linquagem identificar aquilo a que determinado sigro faz referéncia, qualquer interacao através da atividade da linquagem ficaria prejudicada, pois nao haveria comunicacao possivel. O signo linguistico e uma ridade de signifcacao que possul dupla face 1)0 significante (o suport para uma idois, sto 6, a sequiincia de sons que se combinam para formar palavras 2)0 significado (a propria iia ou conteudo intelectual). Observe: A dupla face do signo linguistico SIGNIFICANTE Siniricabo Cao (portugués) — Dog inglés) — Chien (francés). — Cane (italiano) Linquagem ¢ variagdo linguistic GRAMATICA Ea MBE Leia 0 texto abaixo para responder as questdes 1,2 ¢3 Linguagem e comunicacdo Nés todos usamos a linguagem, a maior parte do tempo, para pedir ou transmitir informagoes, Esse uso, mesmo quando € wtiliiie vio deixa de ser legitimo. Precisamos nos comunicar. Sinto 10 (0 interlocutor) me entenda necessidade dupla quero que 0 ou © quero também entendéo, A Tinguagem, comtude funeao de coms mensio constitu dados ¢ Fatos, conhecimentosconstituidos. Hi 1, Os seres hum ividade hus antemente modificando o mundo; esto co Alinguagem deve dar conta nao si ds necessiades objetivas, mas wa nas, qtie expressam nas palavtas, nas igoes 1 das necessidades subj 10s, nals Senisaghes, mas emIoCOeS, Ma —em tides que orseres dade de enriquecer sua linguagem. sacidade da humani- manos podem sentir di ‘eapacidade da hun Indo um pouco m: dade de se enriquecer atraves da lin; alguma coisa, sent ietligados. Se osujeito falh prejudicado em seu esforco de entre exprime mal, em geral, esta confuso. nto no da sensibilidade. | s fundo: express ragem, melhor epenad-la melhor sio ao enfrentar um deles, fieara ‘08 outros dois. Quem se lano do pensamento, KONDER, Leandro. A dasa radical ds pocta van Junquetra Jornal de Bra Rio de fanviro, 3 jan. 200, Disponivel ems estrutura de um relato escrito. 215 da linguagem O que voce devera saber 20 final deste estudo. 1. O que é a teoria da comunicagao. * Quais sa0 e como se caracterizam as funcoes da linguagem. 2. Como a interlocugao determina os usos da linguagem. * De que modo usos singulares da linguagem revelam marcas de autoria. 41. Os elementos da comunicacao m= Introducao Leia atentamente a tira abaixo para responder as questées 1 ¢ 2. A dimensao discursiva Aun Adio Iturusgarai 4. Que situagéo é representada nos quadrinhos? | | ITURRUSGARAL, Adio. Aline. Paha de SPaul, Sto Paulo, 17 nox 2000, | = Oque ha de inesperado nessa situacao? 2. A fala do terceiro quadrinho leva o leitor a rever sua interpretacao sobre a tira. Que nova informagao revelada por essa fala? * Por que ela forca 6 leitor a fever sua interpretacao? Como vocé deve ter percebido, essa tira representa um insdlito didlogo entre Adko lturrusgarai, 0 autor, e Aline, uma personagiem criada porele, Uma conversa como e559 50 pode acontecer no espaco da ficcao, mas ajuda @ compreender que a linguagem, além de ocorrer em diversos contextos comunicativos, permite representar diferentes situacbes de interlocucao. O estudo dessas situac6es levou 0 linguista russo Roman Jakobson a criar um modelo explicativo para a comunicagéo verbal a que deu o nome de teoria da comunicagao. Sua intencao era demonstrar que a comunicacao humana se estrutura a partir de alguns elementos, atancendo a finalidades especificas A base da teoria da comunicacao esta na identificacao de seis elemen- tos, presentes, segundo Jakobson, em todas as situacées de interlacucao, ‘Sao eles: carro © 0s participantes de um ato comunicativo: emissor (tambsm chamada de locutor ou de remetente) 2 receptor (locutério ou destinatario) * O canal em que se dé a comunicacao. 0 canal é o meio fisico por onde Citcula a mensagem entre o emissor e 0 receptor (ondas scnoras, papel, bytes, etc.), E também a conexdo psicalégica que se estabelece entre emissor e receptor para que possam se comunicar. ‘+A mensagem a ser transmitida, A mensagem é 0 conjunto de enuncia- dos produzidos pela selecao e combinacao de signos realzada por um detetminado individuo, + D.cédigo em que a mensagem é transmitida, Trata-se do sistema que € uti- lizado pelos alantes. Assim. 0 cédigo deveser entendido como urn conjunto de signos convencionais e das regras que determinam sua organzacio. * 0 contexto a que a mensagem se refere. O contexto é 0 contetdo, 0 assunto da mensagem. Nessa perspectiva, toda mensagem tem um objetivo predominante, que pode ser a transmissdo de informacao, 0 estabelecimento puro e simples de uma relacao comunicativa, a expressao de emacées, e assim por diante, Esquema do processo de comunicagio contexto codigo ‘As fungdes da linguagem sao 0 conyunto das finalidades comunicativas reall- zadas por meio dos enunciados da lingua, Enunciado é tudoaquilo cue ¢ dito ouescrito por meio de palavras, delrnitadas por marcas formais: na fala, pela entoacao, ne escrita, pela pontuacdo. Esta sempre associado ao contexio em que ¢ produzido, ™ As funcées da linguagem Fungéo referencial ou denotativa (énfase no contexto) Quando 0 objetivo da mensager ¢ a transmissao de informacao soore @ realidade ou sobre um elemento a ser designado, diz-se que a fung2o predo- minante no texto é a referencial cu denotativa. O trecho abaivo, com um contetido essenciaimente informativa, exemplifica essa funcao. A.dimensio discursive de linquagem 23 cea uarcica GRAMATICA O magnetismo das borboletas 10s os bidloges sabem que as borboletas tropicais, em sua mignacio anual costa caribenta clo Panam até 0 oceano Pacifico, orientam-se conformeo Angulo pelo qual os raios do sol incidem no horizonte, Mas como elas se localizam nox tr6piens, onde 0 sol fica unt longo tempo a pinn? O bidlogo Robert Srygtey ‘campo magnética dlescontion ndleriam usar como referéne daTerr No decorrer de tres migragdes de borboletas, de maio a julho, Srygley e seus 10 sul lo lager Gx jue as horboletas como favemios com uma biissobt assistentescapt ink cober mespécimesdde Aprissa slatira, que vo no Pa ana. Ao meio-tia, quando a posigae do sol nao proporciona nenhuma miacao direcic sgaiola ‘circunidada por um debil ca ragnético. Quando os pesquisaclor resingerteram a polaridade do campo 1 a direcio posta ada rota de migracao. Quando expostas acampo magnético forte antes de setem sollas, se dispesaram mais do que as expos Fi amenhum magnetismo retomaram a rota migratoria correta. [.] KAUFMANN, Carol. National Gaygrathic Brasil p-16, maio 2006. (Fragment), 1 equipe sola uum grupo de horholetss en ipo elett JS a cAMpo magnetico fraeo, ambos os experimentns, os grupos de controle quie nao haviam sido expostos Funcao emotiva ou expressiva (énfase no emissor) Quando © objetivo da mensagem & a expresso das emocées, atitudes, estados de espirito do emissor com relacdo ao que fala, diz-se que a funcéo da linguagem predominante no texto é a emotiva No trecho abaixo, um repérter narra 0 que sentiu ao visitar, pela primeira vez, 0 Museu Judaico de Berlim, inaugurado em 2001 fo pela costumeira presa de repérter, eu tinha que fazer. atoque de caixa, imagens do museu para compar a materia. [..] ‘Quando [...] chegamos ao primeire corredor, 0 eixo da continuidade, tentsi pedir algo a Barbara, funcionsria do, museu que nosacompanhava, Nao consegui falar, Tudo foi se desfazendo, todos 6s sentiments € emocdes, ¢ tambén as racionalizacoes, reflexoes ou desalentes mediados pelo ecto, Tudo foi se desvanecendlo dentro demim —c um grande vazio, um wicuo que sugava a si proprio, se formou qual redemoinho em meu peito, até explostir num jorro de Pranto, num colaps incontrokive, igdet de prosseguir com 6 cinegrafist, Nio dive €¢ lo Calisto. Proc ggrimas e tentava me explicar, repetindo, aos solucos: "Pela metade, nao. Ou encaro lum lugar onde esgotar as kt Vista daentiada do Museu ludaco de Bedim, a fa Alemmanba, metade, no. Nao vou conseguir fazer me isita, Pela todo 0 périplo ou vou er Nao cons Nem parei de chorar, ne compus; no m percorrer todos os corredores, nem tampouce resisti a peactrar nos espacos desconcertantes do Museu fudaico de Berlin, BIAL, Pedro. Quando o passat ¢ Atmananue Fantistra, Sio Paulo: Globo, 0.1, p. 61 m pesadeto ow 2008 (Frogmento) m2 CARTULO3 LINGUAGEM Descendante de judeus, o repdrter sentiu uma emocao tao forte ao percorrer 1s corredores do Museu Judaico de Berlim, que fo: incapaz de completer a \isita. Todos os sentimentos que afloraram diante da recordacao das atrocida des cometidas pelo governo nazista da Aleanha estao revistrados no texto, fazendo com que nele predomine a func3o emotiva Funcao conativa ou apelativa (énfase no receptor) Quandoo objetivo da mensagem € persuadiro destinatério, influenciando seu comportamento, dz-se que a fungao predominante no texto ¢ a conativa ou apelativa A linguagem da propaganda é a expiessio tipica da funcdo conativa. As expressées linguisticas corn vocativos e formas verbais no imperativo também exemplilicam essa func, como é 0 caso das preces. Veja o texto sequinte, que faz uma adaptacao da estrutura de uma prece para chamar a atengao para a angustia dos publictarios quando as campanhas, ue fazem sao avaliadas por seus clientes. ORAGAO A NOSSA SENHORA DA APROVACAO PARASER RYOCADA HOS DUS DE CAMPANAS URSENTES Minta Wessa Senhwra dr Agrvagio des campantas stax ‘urgent. inerceds po rim jut a MssoSechor dos Canes Socurra-me nesta hora de afio © desespera. Vés que sue 2 Santa Protlara fac campanhas malsmpreenidae Santa des Aftos qu refizema canpanba 5 ves 1 Sana des Sem-friss. dos Sem-fim de semana t dos Sen-feridos, robja-me,Au-me D-ne fas, agen e ain compan ‘aprovada no final do ia sem ré-tese. Kenda 20 meu pride. (Faz 0 pode) Miha Nessa Senha da Apron. ajda-me a superar estas hors dels de reunioes.probja-me de indos, ee eed lees rete seeds me poe com wins hes | Sentoraéa Asrvaré. Deva-me o roto ef apronda. Im eh epee ages para pepr un cineminha Rzar essa oragSo 7 vez, | tater na madeira e faze sinal-a-cruz) | ago de So, nl, 2008. p. $15, O texto, em primeira pessoa, dirige-se a uma suposta "Nossa Senhora da Aprovacio”, pedindo que interceda junto a0 “Nossa Senhor dos Clientes” em. nome do autor dessa prece (urn publicitaria). Ao longo do texto, observamos a manutencao da interlocucao marcada pelo uso frequente de vocativos (Minha Nossa Senhora da Aprovacdo), pronomes (Minha Nossa Senhora... interceda por mim...; Socorra-me...; Vs que sois..; etc.) ¢ verbos no imperativa (inter- cede, socorra-me, proteja-me, ajude-me, etc) uso dos verbos explicita aquilo que 0 autor do texto deseja conseguir por meio dessa prece: ver suas campanhas publicitarias aprovadas pelos clientes. A.dimensio discursva Ga irquagem 25

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