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Colesdo Territérios Sociais ‘Diregio: Antonio Carlos de Soucea Lima 1 Indigenismo e territorializagio: poderes,rotinas esaberes coloniais no Brasil contempordneo Joao Pacheco de Oliveira (organizador) Alfredo Wagner Berno de Almeida ‘Ana Liicia Lobato de Azevedo Antonio Catlos de Souza Lima ‘Lucy Paixio Linhares Indigenismo ¢ territorializagao: poderes, rotinas e saberes coloniais no Brasil contemporineo Copyright © 1998, dos autores Fotografia da Capa Marco geodtic uiiaado ma detnarcag de Sea indfgenas (Conti: Cizoe Alberta Riad (nso Socinambenal) Projeto Grifco« Preparagio Conta Capa ISBN 85-8501 1-142 Publicado com recursos da Fundagio Ford 1998 Todos os direitos desta edigho reservados & Contra Capa Livraia Leda Rua Barata Ribeico, 370 — Loja 208 2040-000 — Rio de Janeiro — KJ Tel (65.21) 736-1999 Ba 55 21) 256.0526 SuMAnio. Apresentagio Joko Pacteco DE OuivEIRA 7 Redimensionando a questio indfgena no Brasil: uma ctnogiafia das terras indigenas Joao Pactizco DE OUvEIRA 15 “Terras indigenas, economia de mercado ¢ desenvolvimento rural Toxo PacHEco De Ourvera 8B Demarcagio e reafirmacio étnicazum ensaio sobre a FUNAL Jodo Pactieco pe Ouvera ALrREDO WacNeR BERNo Ds ALMEIDA 9 Agio diseriminat6ria: terras indigenas como terras pablicas, Luey Panxko Lintanes 125 ‘A participagio do Poder Judiciério na definigio da terra indigena ‘Ana Locis Lonato De AzEvEp0 153 A ‘identificacio’como categoria histérica ‘Anronto Cantos De Souza Lina 171 0s relatérios antropolégicos de identificagio de terras indigenas da Fundagio Nacional do fadio, Notas sobre o estudo da relagio entre Aatropologia ¢ Indigenismo no Brasil, 1968-1985 ANTONIO Cantos DE Souza Lina 221 Instumentos de bordo: expectativas ¢ possibilidades de trabalho do antropélogo em laudos periciais Joko PacHeco pr Ourvema 269 Bibliografia 297 APRESENTACAO E inequivoca a tirania de certas palavras que evocam ima- gens muito distantes e exéticas, mas limpidas ¢ suficientes, que preenchem o espaco do desconhecimento e inundam 0 sujeito com expectativas ¢ certezas que direcionam 0 seu pensamento ¢ a sua ago. Assim ocorre com a palavra “indios”, que para os brasileiros hoje evoca uns fiapos de humanidade, dotados de tecnologia rudi- mentar, morando em pequenos grupos ¢ isolados nas matas, pres tes a desaparecer diante do avango da modernizaglo, cada vez. mais inexordvel c globalizada. Desse complexo de imagens ¢ significa- dos, outras palavras podem ser derivadas, como “indigenistas”, aplicada a benfeitores ¢ pessoas dedicadas aos “Sndios”, que nos casos mais ilustres oferecem suas vidas a tentar deter a bola de neve que desce pela encosta da montanha; ou ainda os “indi- anistas”, iteratos ¢ artistas de inspiragao romantica, que tomam as instituigées indigenas como modelos societérios idealizados. (Os etndlogos também af desempenhariam um papel similar, seja resgatando as culturas indigenas em sua originalidade e plenitu- de, seja denunciando o massacre que sofferam, Os trabalhos que se poderé ler a seguir foram elaborados na contracorrente desses raciocinios e argumentos, abandonando uma descrigao fenomenol6gica das sombras ¢ dos efeitos. Tentam jun- tar cacos ¢ construir espelhos, ¢ ainda querem refletir sobre as re- fragbes ¢ suas leis. Nestes textos ndo se fala dos “Indios por si mes- mos”, segundo arbitrérios culturais distintos, nem das “boas leis” «¢ das “boas priticas” que permitiriam minorar os efeitos da des- truigdo cultural e da subordinagio econdmica e politica. Se, como contam muitos mitos, os deuses eriaram os homens & sua imagem ce semelhanga, as criagdes humanas sio imperfeitas, deformadas, cruéis, como o Frankenstein da novela de Mary Shelley. Nao é na criatura que se deve fixar a atengio, mas sim no criador, em suas teorias, interesses, experiéncias e fantasias. © destino dos povos € culturas indigenas, tal como o de qualquer outro grupo étnico ou ae apresentagio nagio, no estd escrito previamente em lugar algum. A sua feigio primitiva,a sua vulnerabilidade ea presumida tendéncia &extingio go foram jamais componentes naturais de sua existéncia, mas sim o resultado da compulsio das elites coloniais em instituir a homogencidade, tentando abolir a ferro e fogo as diferengas cultu- sais, religiosas e politicas Buscot-se aqui descrever os aparelhos de poder, integrados por redes de papé rotinas que se concretizam cm normas e programas, atravessados por hierarquias ¢ contextos de tomada de decisdes. Tais aparelhos, bastante diversificados entre si, obedecem a Idgicas e interesses especifices, que nao podem de maneira alguma ser confundidos com as razdes € motivagdes das populagies que Iegalmente pre- tendem representa. So poderes, rotinas ¢ saberes coloniais, cujo dinamismo precisa ser descrito ¢ explicado por causas especificas, do derivadas de interesses e valores dos atores sociais em nome dos quais atuam e cujos direitos afirmam garantir, © objetivo comum desses trabalhos, ao lidar com FUNAI, SPI, INCRA e tribunais de justiga, foi realizar uma andlise proces- sual do poder, considetando-o como um conjunto de mecanismos, estrarégias © compulsdes que sio utilizados e intervém sobre os indfgenas ¢ suas coletividades na definigéo dos seus direitos territoriais. Os eventuais beneficios propiciados aos grupos domi , recursos ¢ individwos, dirigidos por habitus ¢ nados, bem como a circunstancial existéncia de consensos setoriais da parte desses, nao geram uma legitimidade permanente para os aparelhios de poder nem significam um ponto final nas demandas dos dominados, uma vez que o poder ndo é uma representago {mandato ou contrato), mas um exercfcio de deslocamento ¢ su pressio de vontades (individuais e coletivas) dos sujeitos inseridos em uma situagao colonial. Para explicar o hiato entre direitos potenciais (a amplas ex- tensdes de terras utilizadas no passado) ¢ dircitos efetivamente adquiridos (a areas indfgenas reconhecidase regularizadas) nao basta conduzir uma critica dos fundamentos ideolégicos do Estado ou do sew aparato jurfdico; é preciso uma investigagio antropolégica indigenismo ¢ territorializagag que resgate a tessitura das relagdes normativas ¢ cotidianas, que se desdobre em uma microanilise dos aparelhos de poder que tém ‘um papel determinante (mas nao exclusivo) na geracdo das terras indigenas. (Os estudos apresentados nao tém a pretensio de abordar 0 6rgio indigenista ou a relagdo tutelar em suas méltiplas dimen- ses, mas limitam-se basicamente aos aspectos fundiérios. Dife- rentemente da postura militante do indigenismo ou das expectati vas legais, as anflises recomendam uma extrema cautela ao substantivar as complexas relagdes entre uma sociedade ¢ 0 espago fisico que ela ocupa. Nog6es como a de habitat ou territorialidade, encontradas em diretivas administrativas, relat6rios antropolégi- cos € ein interpretagées legais, naturalizam ¢ simplificam essas relagies, identificando-as com costumes c instituigdes que passam por processos adaptativos (com incorporagio ¢ perda de cultura) ¢ registram mudangas hist6ricas significativas Nessa coletanea, ao contririo, 0 indigenismo ¢ a agio indigenista sio focalizados como uma forma de territorializagao, rejeitando assim um olhar ingémuo e neutro, suportado por ima- _gens naturalizantes ou a-hist6ricas. A criagio de uma terra indi gena nao pode ser explicada por argumentos ¢ evidéncias ctnohistéricas, nem se reporta apenas as instituigdes © costumes tradicionais daqueles que sobre ela exercem a sua posse, Seu deli- neamento ocorre em circunstancias contemporiincas ¢ concretas, ccuja significagio precisa ser referida a um quadro sempre relativo de orcas pressdes adversas, contrabalangadas por reconhecimento de direitos e suporte politico, nao correspondendo de modo algum A livre e espontinca expressio da vontade dos membros dessa co- letividade. Ademais tal manifestagio jamais teré uum cardter estiti- coe final, modificando-se segundo os contextos histéricos ¢ as conjunturas politicas locais, variando inclusive em suas a Ses internas e de acordo com os diferentes projetos étnicos ali desenvolvidos, apretentagio £ importante contextualizar os trabalhos para perceber de ‘onde falam os seus autores ¢ proceder a uma sociologia das condi- ges de producto desse conhecimento, que adota uma postura crf- tica ante 0 indigenismo rondoniano e distancia-se totalmente das priticas governamentais vigentes. As assembléias indigenas, inici- adas ainda no final dos anos 1970, trouxeram as aldeias ¢ & opi- nifo ptblica uma conscincia da necessidade de demarcacio das terras ocupadas pelos indios. Nas principais capitais surgiram en- tidades civis, integradas principalmente por estudantes, mission4- rios ¢ intelectuais, que tinham como objetivo promover a defesa dos direitos indigenas e a divulgacao de suas lutas e necessidades. Os contitos verificados no meio rural foram respondidos no inicio dos anos 1980 com a transformagio da politica fundidria em assunto de interesse militar. Centralizada na Secretaria-Geral do Conselho de Seguranga Nacional que, com status ministerial (MEAF), transformaria 0 INCRA em mero Grgio executor. A FUNAI também foi inelufda nas mesmas diretivas € para ela fo- ram deslocados muitos mil fares € quadros técnicos origindrios do INCRA. A chamada redemocratizacio ¢ o governo Sarney pouco alteraram desse quadro: 0 novo ministério fandiério (MIRAD) manteve-se muito enfraquecido ¢ jd em dezembro de 1985 era aprovado o Projeto Calha Norte, em cuja érbita passou a mover-se a FUNAI. Apesar da Carta Constitucional de 1988 aperfeigoar bastante 0 reconhecimento dos direitos indigenas as terras, cultu- ras e organizagdes proprias, o drgio indigenista mantinha a mes- ma linha de administracéo, inteiramente avessa & transparéncia, cexcluindo qualquer possibilidade de colaboragi0 com antropélo- gos ¢ liderangas indigenas. (5 textos inchufdos nessa coletanea foram escritos entre 1983 1994, todos de alguma forma referidos a um projeto de pesquisa intitulado PETI (Projeto Estudo sobre Terras Indfgenas no Brasil invasdes, uso do solo e recursos naturais) desenvolvido no Museu Nacional, coordenado por Joao Pacheco de Oliveira, ¢ financiado pela Fundacao Forid (Brasil). A proposta bisica era realizar um ‘monitoramento independente do processo de eriagio e reconhecimen- to de terras indigenas, da resultando também um grande ntimero 10 indigenismo ¢ territorializagao de teses, dissertagées, publicagées de diversos formatos, semindri- 0s ¢ comunicagdes variadas sobre indigenismo, politicas governa- mentais, processos de etnogénese ¢ movimentos indigenas. ‘Arualmente através de um financiamento da Fundagio Ford destinado ao projeto “Politicas Indigenas e Politica Indigenista no Brasil Atual”, coordenado por Jodo Pacheco de Oliveira e Antonio Carlos de Souza Lima, torna-se possivel retomar a divulgagao de alguns desses trabalhos. A presente coletinea é um primeito esfor {go nessa directo, cabendo registrar a opgio por manter no essenci- al os textos com 0s dados e o seu formato original, sendo feita ape- ‘nas uma revisio com o intuito de explicitar as métuas remisses ¢ favorecer ao leitor atual a sensagio de unidade entre os textos sele- cionados, © primeiro artigo, intitulado “Redimensionando a questo indfgena no Brasil: uma etnografia das terras indigenas”, estabe- lece as finalidacles e pardimetros das investigacées a realizar. Escri- to em 1983, foi publicado ainda nesse ano no Boletim do Museu Nacional e na América Indigena. segundo foi escrito como texto de apresentacéo da Listagem das Terras Indigenas, organizada conjuntamente pelo PETI pelo CEDI (Centro Ecuménico de Documentagio ¢ Informagio) ¢ publicada pelo CEDI A Listagem foi divulgada no final de 1987, no Congresso Nacional, durante 0 processo de consolidagio das verses da Constituiczo, tendo tido efeito muito positivo na persu- asio aos constituintes quanto as emendas e propostas das entida- des civis de defesa dos direitos indigenas. Os quatro outros textos a seguir foram publicados em con- junto, em 1989, compondo a Comunicagao 14, do PPGAS (Museu Nacional/UFRY), intitulada “Os Poderes ¢ as terras dos Indios”, com uma tiragem muito limitada, que jé no ano seguinte estava esgotada. O texto inicial procede de uma pesquisa realizada por Jozo Pacheco de Oliveira e Alfredo Wagner Berno de Almeida na sede da FUNAI entre outubro de 1984 ¢ fevereiro de 1985, corres. pondendo 2o periodo da eleicao indireta para Presidente da Rept- blica e de transic&o para o primeiro governo civil do pafs no pés-64, n apresentagio © relato dos antropélogos conseguiu prever 0 quanto a mobilizacio “salvadora” dos indigenistas geraria de caos admi- nistrativo, expresso na répida sucesso de mandatarios (5) ocor- rida durante o ano de 1985, antes que a FUNAI rctornasse a0 controle militar através da articulacio interministerial do Projeto Calha Norte O artigo de Ana Lucia Lobato de Azevedo resultou de sua dissertagdo de mestrado sobre os indios Potiguara (PB), intitulada “A terra somo nossa: wma anélise dos processos politicos na cons- trugio da terra Potiguara”, defendida em outubro 1987 no PPGAS/ Museu Nacional, tendo como orientador Joo Pacheco de Oliveira O texto seguinte foi elaborado por Lucy Paixéo Linhares, pesquisadora do PETI, baseando-se em uma pesquisa realizada no ano de 1986 nos arquivos da Divisio de Projetos Fundiérios do INCRA (entéo subordinado a0 MIRAD) ¢ na Divisio de Regula- tizagdo Fundidria da FUNAL O trabalho final daquela publicagao constitai uma re-elabo- rago de uma primeira versio de um “paper” escrito por Antonio Carlos de Souza Lima no final de 1987, como parte de suas ativi dades académicas no doutorado do PPGAS. Resulta de um esfor- 0 de reflexdo e sistematizacio de dados levantados pelo PETI, com cuja coleta ¢ organizagio o autor teve intensa participagio. Os dois dltimos trabalhos, escritos por Antonio Carlos de Souza Lima ¢ Joao Pacheco de Oliveira, abordam respectivamen- te 08 relat6rios de identificaczo de terras indigenas elaborados pe- los GTs da FUNAL ¢ 0s laudos periciais preparadas por antropélo- £208 em processos judiciais envolvendo terras indigenas. Redigidos em sua forma final apés 0 encerramento das atividades do PETT em 1993, guardam uma relativa complementaridade em termos de assuntos focalizados. O primeiro teve sua primeira versio em 1987; 0 segundo foi apresentado em mesa-redonda de encerra- mento do Simpésio Pericia Antropolégica em Processos Judicias, promovido pela ABA CPI/SB ocorrido em dezembro de 1990 na FRCHL/ USP; mais tarde, em marco de 1994, o texto saiu publi- cado em livro editado pela ABA. 2 indigenismo ¢ territorializagio Duas tiltimas observagdes que podem ser de utilidade na contextualizagio dos dados e abordagens mencionadas nos dife- zentes textos da coletinea (Os dados quantitativos sobre as terras indfgenas no somen- te mudaram de qualidade e rigor, como passaram a configurar um padrio distinto, Assim os quadros estatisticos montados no pri- meiro trabalho tinham um carSiter quase artesanal, decorrendo de leitura ¢ fichamento de listas € processos, enquanto os niimeros apresentados em 1987 resultam de um trabalho de equipe, com apoio de principios de catalogagao ¢ indexagio, bem como 0 uso de computadores € programas especiais. O principal porém € a mudanga na freqiiéncia relativa de casos registrados em cada fase do processo demareat6rio, que apontaram na década de 1980 para uma tendéncia 20 afunilamento, com a ampla predominancia das fases iniciais (com 68% da extensfo total das terras indigenas es- tando nas categorias de “apenas identificadas” ou de “delimita- das” respectivamente nas anélises de 1983), ¢ com uma parte rcla- tivamente pequena estando demarcada ¢ homologada (32%). A partir de 1991, no entanto, 0 governo brasileiro comega a ver de modo positivo a possibilidade de financiamentos externos para ages de protecéo ao meio ambiente, especialmente na Amaz6nia, ‘0 que iré implicar na demarcagio € homologagio de muitas (¢ extensas) reas indigenas. Delincia-se progressivamente uma nova politica indigenista, preocupada com a qualificagao técnica de seus quadros c mais aberta 4 colaboragio das ONG's ¢ dos antropélo- gos. Em 1992 verifica-se a inversao do afunilamento do processo demarcat6rio, com 57,5% da extensio total das terras estando demarcadas, 23,4% delimitadas ¢ 19% ainda na fase da identifica- ‘gio (CEDVinstituto Socioambiental). Esse padrio mantém-se nos anos seguintes, a FUNAT passando por sucessivas reformulagbes no sentido de modificar os seus vicios estraturais (ver Oliveira & ‘Almeida, capitulo 3) ¢ adaptar-se aos novos tempos, constituindo a partir de 1994 mecanismos de implementagéo da cooperagio internacional (Projeto Integrado de Protegio das Terras ¢ Popula- «bes Indgenasda Amaz6nia Legal - PPTAL) voltados priotitariamente para o processo de regularizagio das Areas indfgenas. fi B © timo ponto a registrar € 0 impacto que a realizagio de um monitoramento da criagio das 4reas indigenas trouxe para 0 proprio processo observado. Nos registros oficiais da FUNAI em 1981 estavam inventariadas apenas 308 4reas indigenas, que refe- riam-se a cerca de 40 milhées de hectares; hoje os dados reunidos (inclusive pela prdpria agéncia indigenista) permitiriam qualificar 518 reas que corresponderiam aproximadamente a 90 milhécs. Além da reversio do funil demareatério, verifica-se uma redugio progressiva do desconhecimento ¢ omisséo da FUNAI ante as de- ‘mandas indfgenas por terra, assim como 0 término de uma politi- «a sistemética de desconfianga ou de nio reconhecimento ante as populagées de mobilizagdo étnica recente (enconteadas no Nor- deste, mas também em diversos pontos da Amaz6nia). Jodo Pacheco de Oliveira Oucubro de 1998 REDIMENSIONANDO A QUESTAO INDIGENA NO BRASIL: ‘UMA ETNOGRAFIA DAS TERRAS IND{GENAS Joao Pacheco DE Ouiverra I- Introdugio Em uma afirmacio muito conhecida, feita hd mais de duas dé- cadas, Edmund Leach observava, nfo sem urma ponta de ironia, que as generalizagées dos antropélogos esto sempre marcadas pelas soci- cedades espectficas que cada um deles estudou. Além das aracteristi- as que uma sociologia do conhecimento buscaria apreénder, que vinculam 0 cientista a uma sociedade e um tempo hist6rico determi- nados, oque Leach (1974) procurou enfatizar € que asinterpretagdes dos antropélogos sobre o social e o humano parecem encontrar oscu ponto de partida (¢ a sua forga de evidencia) em uma experiéncia singular de pesquisa em uma dada ilha do Pacifico ou uma determi- nada aldeia africana, Essa reflexdo se revela muito oportuna quando se considera os debates e as anélises sobre a politica indigenista no Brasil, ou ainda quando se avalia 0 impacto que podem ter sobre esses povos indige- nas a agio de frentes de expansio ou a atuagio de diferentes agéncias de contato. Confrontados com os preconceitos dos nio especialistas, que unificam sob a nogio de “indio” os costumes eas inguas que nfo se remetem As tradigdes conhecidas do Ocidente, os antropélogos tém freqiientemente sublinhado as diferencas internas a grupos ¢ cculturas, apontando ainda as diversas representagdes que tais povos fazem de seu contato com o homem branco e de sua insercfo nessa historia. A agdo das frentes de expansio ¢ das agéncias de contato sio 1s jof0 pacheeo de oliveica apanhadas em um nivel local, descritas com grande minticia como fendmenos sociais ¢ articuladas aos diferentes cédigos culturais que esto em jogo nessa situagio espectfica ‘Tais estudos tém um mérito indiscutivel. Mas existem paralela- _mente outros aspects ¢ processos sociais que homogeneizam os gru- pos indigenas perante a sociedade nacional e que ainda carecem de maior ateng&o por parte dos antropélogos. Eo caso, por exemplo, da caracterizagio sociolégica do indio frente a uma estrutura de classe; da pesquisa espectfica voltada para o enquadramento da politica indigenista no Ambito de programas ccondmicos ede metas governa- ‘mentais; ou ainda das tentativas de aprofundamento da légica de atuagio junto aos grupos indigenas das diferentes agéncias de contato. ‘Uma ver Malinowski (1939) utilizou uma imagem muito dara sugestiva para indicaro desafio que sociedades afticanas colocavam para uma antropologia interessada no estudo da mudanga social. Ao lado de um estudo minucioso das drvores, hé necessidade de uma caracterizagao geral da floresta, Assim uma abordagem alternativa 3s sociedades tribais africanas precisaria perder de vista as peculiarida- des locais e privilegiar os grandes processos histéricos de mudanga que atravessavam a regio, O “sobrev6o” proposto por Malinowski terminou em uma andlise igualmentedeformante da mudanga social, sendo com propriedade criticada por seus contemporineos ¢ porau- tores posteriores. Contudo essa imagem pode ser reaproveitada, ain- da que com bastante cautela (inclusive pelo perigo de naturalizar o proccsso de conhecimento) para as finalidades do presente texto, Quando se tem como objeto a politica indigenista ou algum dos as- ppeetos ¢ processos homogeneizadores acima indicados,€indispensa- vel realizar uma descrigfo detalhada das caracteristicas que definem aquela florestacomo unidade, indo por exemplo desde a sua localiza- G40 fisica, tamanho, composigio e tipo de solo até as priticas efetivas dos grupos sociais eavalvidos na utilizagio de seus recursos, abran- gendo ainda as normas pertinentes da legislagio florestal eos planeja- -mentos ¢ prioridades assumidos nas politicas governamentais. Isso exige um estudo bem diverso daquele a que os antropélo- _g0S estdo mais comumente habituados. Torna-se necessério trabalhar com outra metodologia para enfocar dados agregados, procedentes 16 indigenismo ¢ territorializagio de povos indigenas, regides e situagdes sociais muito distintos entre si. E preciso desenvolver instrumentos de critica dos dados fornecidos por fontes diretamente interessadas na questio e obtidos em condi- bes de credibilidade bastante diferenciadas. Novos conceitos cteorias tentam dar unidade a um conjunto altamente heterogéneo de fend- ‘menos, abrangendo censos, mapas estatisticos, dispositivos legais ¢ diferentes tipos de discurso te varios atores sociais. Nesse plano os estudos localizados voltam a ter uma fungio decisiva no s6 como fornecedores de dados mais confidveis para comparagio e controle, mas principalmence como modalidades de concretizagio € aprofundamento dos processos sociais diagnosticados anteriormente apenas no nivel de tendéncia e antagonismos bem gerais. Na antropologia brasileira os estudos localizados predomina- ram amplamente, com a excego notavel de duas pesquisas empreen- didas por Darcy Ribeiro (‘As fronteirasda civilizagao",em Os ndiose acivilisagdo, 1970) e Roberto Cardoso de Oliveira (*Problemas e hi- péteses relativos a friegio interécnica”, emA sociologia do Brasil indi- _gema, 1972), Nesses trabalhos €delineado no apenas um amplo pai- nel dos povos indigenas brasileiros, como também elaborados con- ceitos e constitufdo um novo campo para andlises teéricas (a proble- ‘mitica das frentes de expansZo da sociedad nacional os nfves ¢ pro- cessos implicados pela friegdo interétnica) O presente texto retoma essa preocupacio totalizante ¢ hist6rica, canalizando-a para a discussio de uma relagdo especffica, mediada pelo Estado brasileiro, existente entre 0s grupos indigenas ¢ a terra (entendida esta em seus dois aspectos: meio basico de produgao ¢ sustentiiculo da identidade étnica). A finalidade central desse traba- Iho é portanto realizar umactnografia dos processos sociais envolvi- dosno estabelecimento das terras indigenas no Brasil. Dessa forma o trabalho dirigiré sua atuagio nfo para os cédigos culturais especificos que definem as necessidades eas reivindicagbes das populagGes nativas, ras para os processosjuridicos, administrative politicos pelos quais 0 Estado élevado a reconhecer determinados direitos dos indios terra, Isso requer um levantamento das disposigdes legais sobre 0 as- sunto, bem como uma avaliagao de suas implicagdes sociol6gicas; uma descrigo das praticas administrativas ¢ tramites burocraticos ” joie pacheco de cliveira pelos quais tais normas podem vir a ser aplicadas; uma considera- gio de como c em que medida tais direitos sio concretizados efeti- vamente; uma tentativa de contextualizagéo da politica ¢ da ago indigenista face a outros processos sociais ¢ econdmicos ¢ as politi- 4s oficiais em curso no pais, TI-A conceituacao de “terra indigena” ¢ suas conseqiiéncias sociolégicas De inicio é necessério perceber que “terra indigena” nioé uma «categoria ou descrigao sociolégica, mas sim uma categoria juridica, definida pela Lei n° 6.001 de 10 de dezembro de 1973, conhecida como 0 Estatuto do Indio. Nesta a categoria é definida e por diversas vezes acionada, sendo incorporada as priticas administrativas da FUNAI. 0 artigo 17 dessa lei enumera tréstipos de terra indigenas: 4) as éreas de dom{nio das comunidades indigenas ou de sil- vicolas; ») as dreas reservadas (isto é, onde o érgao tutor estabeleceu par quese reservas indigenas); ©) asterras tio-somente habitadas ou ecupadas pelos silvicolas (sobre as quais, em conformidade com o artigo 198 da Constituigio Federal, 0s fndios tém direitos que independem da exist2ncia ou nao de demarcagio), primeiro caso refere-se a terras que foram adquiridas pelos fndios nas formas prescritas na legislacio civil, Séo antigas doacoes as comunidades indigenas feitas por 6rgios ptiblicos (federais ou esta- duais) ou particulares, bem como de aquisigées regulares que pos- sain vira ser realizadas em cardter privado pelos indios, Sobre essas tettas os indios gozam de um pleno direito de propriedade, enquanto aquclas mencionadas nos itens 4 e ¢ constituem-se em bens inaliendveis da Unio, aos indios resguardando-se a posse perma- nente ¢ 0 direito ao usufruto exclusive das riquezas naturais ¢ das utilidades ali existentes (Lei 6,001, arts. 32 e 22), Em um texto escrito anteriormente (Oliveira Filho, 1978), cu ja havia procurado apreender algunas das implicagées sociol6gicas das 8 indigenismo e territorializagao normas contidas no Estatuto do Indio, O Estatuto do fndio enfatiza de forma bastante nitidaa via camponesacomo modo privilegiado de integragio das populacées indigenas na sociedade brasileira. O direi- to dos grupos tribais de ter acesso A terra € reiteradamente afirma- do (art. 2° § 9, arts. 17 2 38, art. 62), ficando igual mente explicitado {que ngo se trata apenas de resguardar o local de moradia ou outros de significagio simbélica (cemitérios, lugares miticos, etc.), mas de _garantir a terra como um meio de produgao necesstrio (arts. 26, 27 ¢ 28). ‘Assim fica estabelecido que as Arcas reservadas — onde podera se tornar mais explicita a diretiva do indigenismo oficial — serdo ter- ras destinadas 3 posse ¢ ocupagio permanente pelos indios, sufici- entes para que “possam viver ¢ obter meios de subsisténcia, com direito a0 usufruto ¢ utilizagio das riquezas naturais dos bens ne~ las existentes, respeitadas as restrig6es legais” (art. 26). Mais adi- ante € dito que uma “reserva indigena é uma Area destinada a servir de habitat a grupo in sobrevivéncia” (art. 27), requisito que, como se poderd ver mais, adiante, nem sempre foi observado pela FUNAI, sendo modifica- do de acordo com as pressdes softidas em casos concretos. ‘Um outro aspecto que deve ser destacado é 0 reconhecimento legal dado ao regime de propriedade que é caracteristico de cada grupo indigena. Isso éclaramente afirmado no que concere aos par- ques indfgenes: “O loteamento das terras dos parques indigenas obe- decerd a0 regime de propriedade, usos e costumes tribais, bem como as normas administrativas nacionais, que deverdo ajustar-se 20s inte- resses das comunidades indigenas” (art. 28 § 3°). Aapropriagao cole- tiva da terra como fundamento de uma solidariedade grupal ¢ da identificacio étnica nfo parece ser desconhecida pelo legislador. Assim a0 determinar que a ocupacio prépria porum indio, por dez anos consecutivos, de um trecho de terra inferior a cinqUienta hectares Ihe garante a propriedade plena dessa area, esclarece que tal norma indo se aplica a qualquer uma das trés modalidades de terra indigena acima indicadas (art.33). Em um texto de 1960, Cardoso de Oliveira (1972: 22) observa que com a presenca dos Postos Indigenas se verifica a emergéncia de “mecanismos contra-assimiladores", havendo um reforgo da identi- sna, com os meios suficientes & sua 19 ce joio pacheco de oliveira dade étnica. Na mesma linha de raciocinio, embora sublinhando outro aspecto (0 do regime de propriedade), eu diria que a constituigao de ‘uma reserva faz. com que a populacio indigena af reunida possa cris- talizar certas peculiaridades econdmicas e sociais, favorecendo a re~ producdo de um novo tipo social: ocampesinato ind{gena, com posse comunitéria do meio basico de produgio, a terra (vide Oliveira Filho, 1979:7-11),A Area da reserva € entdo ocupada pela comunidade in- dfgena como um todo, sendo vista como um bem nio passfvel de prapriagao individual em cardter permanente. Um conjunto de nor- ‘mas, sobre as quais existe um certo grau de consenso entre os mem- bros daquela comunidade, reguls a utilizagao das terras existentes. Avbase para essa distribuigdo pode ser tanto os critérios estabelecidos cexclusivamente pelo grupo tribal e eferidos ao seu patriménio cultu- ral passado ou presente (€ notoriamente o caso dos parques indige- 1nas), quanto normas estabelecidas num plano quase contratual entre 4 comunidade eos representantes locais do 6rgio protetor. A literatura ‘tnografica registra casos de acentuada interferéncia de chofes de Pls. 1a alocagio regular das terras para culkivo entre os préprios indios bem como entre arrendatérios eindios. E preciso deixar bem clara a singularidade desse campesinato indfgena face a outros tipos de campesinato. Além do controle coleti- vo sobre 0 meio basico de produgio, hé que ser destacado que tal campesinato é, por diversos meios, colocado como sendo diretamen. te subordinade ao Estado. Primeiro, no plano juridico, o indio tem uma capacidade apenas relativa, sendo tutelado pela FUNAI (ast. 7? § 2°). Segundo, com excegio dos casos bastante raros em que existe efetivamente dom{nio indigena, as terras indfgenas sao de dominio da Unio, sendo resguardadas & grande maioria das comunidades indigenas nao o pleno direito de propriedade, mas tio somente 0 dircito a posse permanente e usufruto exclusivo dos recursos naturais das éreas onde habitam, Terceiro, todas as modalidades legais de ter- ras — inclufdas aquelas de dominio indigena — séo consideradas ‘como “bens do Patriménio Indigena” (art. 39), ficando a gestio de tais recursos a cargo do drgio federal deassisténcia, a FUNAI (art, 42) | indigenismo e territorializacdo IIT - A demarcacio das terras indfgenas Como assegurar aos indios os direitos as suas terras? O texto legal € bastante claro, especificando, de um lado, que essa é uma fan- io precipua da FUNAL c, por outro lado, que esse direito€ reafirma- do pela demarcagio, mas nao advém unicamente dessa fonte. Dizo art, 25,da Lei 6.001 © reconhecimento do direito dos indios ¢ grupos tibais & posse permanente das teras por eles habitadas, nos termos do artigo 198 da Constiuigéo Federal, independers de sua demarcacio, eserd assegurado pelo drgio federal de assistéacia 20s silvicolasatendendo a situagio tual ¢ ‘ao consenso histérico sobre a antigiidade da ocupacéo, sem prejuizo das ‘medidas cabfveis que, na omissio ou erroclorefeido éreao, tomar qualquer dos Paderes da Replica \dios so reivindicadas Grande parte das terras habitadas pelos por brancos, que sobre elas exibem tftulos de propriedade ou alegam a aquisigio de direitos de posse. Considerando tais fatos,o texto legal dispée: “Ficam declaradas a nulidade e a extingio dos efeitos juridi cos dos atas de qualquer natureza que tenham como objeto o domf- nio, a posse on a ocupacio das terras habitadas pelos indios ou comu- nidades indigenas” (art. 62, Lei 6.001). Em outro dispositive, afirma explicitamente que “as terras indigenas so inusucapfveis”. E mais além, prevé igualmente a situago em que os brancos compeliram os {ndios a abandonar suas terras, no intuito de descaracteriz4-las como rca indigena: “Aplica-se o disposto neste artigo as terras que tenham, sido desocupadas pelos indios ou comunidades indigenas em virtu- dede ato ilegitimo de autoridade e particular” (art. 62 § 1°). E dota o “rgio federal de assisténcia ao indio, a FUNAL, de grande poder ¢ agilidade de agao para regularizar a situagdo das terras indfgenas: “Ninguém terd dircito a agio ou indenizagio contra a Uniao,o 6rgio de assisténcia ao indio ou os silvicolas em virtude da nulidade ¢ cextinggo de que trata esse artigo, ou de suas conseqiiéncias econdmi- cas” (art. 62 § 2). ‘A demarcacio constitui a etapa derradeira no processo de regu- Javizacao ¢ garantia das terras indigenas, cabendo essa iniciativa 8 FUNAI de acordo com normas a serem estabelecidas em decreto 1 jodo pacheco de oliveira do Poder Executivo (art. 19, Lein.° 6.001), Posteriormente o Decreto n° 76, 999 de 8 de janeixo de 1976 fixa as normas para a demarca~ ‘Gio das terras indigenas. O Presidente da FUNAI nomeia um an- tropélogo ¢ um engenheiro ou agrimensor, incumbidos de realizar um levantamento de campo, procedendo a descrigio dos limites da 4rea, tendo em vista os critérios de situagao atual e consenso histéri- co sobre a antigtiidade da ocupagao pelos {ndios (art. 1*). A aprova- ‘Gao dessa proposta cabe ao Presidente da FUNAI (art. 2° § 2), sen- do depois submetida & homologacéo do Presidente da Repiblica (art. 7). Antes do infcio dos trabalhos de campo, a FUNAI deverd cxpedir um edital anunciando aos confinantes o inicio do processo de demarcagéo (art. 5*). Sio rigorosamente especificados os requisi- tos téenicos necessérios, sendo prevista uma margem de tolerancia face as coordenadas geodésicas, bem como detidamente descritas a coloca- «fo de marcos de madeira de Ici e cimento, a abertura de picadas acom- panhando as linhas secas¢ a colocagio de piquetes nas divisas naturais (art 6°). O vltimo momento da demarcagio & registro em livro pro= prio do Servigo de Patriménio da Unio (SPU) no livro do Cart6rio Imobilidrio da comarca onde se localiza a terra indigena (art. 19 § 14). Ainda pela Lei n.? 6.001 é fixado um prazo de cinco anos (portanto concluido em 19 de dezembro de 1978) para que a FUNAI conclua © processo de demareagao das teras indigenas (art. 5). IV - Situagao das terras indigenas Se essas so as disposigées legais, cabe agora indagar de que mancira clas se refletiram na ago indigenista do 6rgio federal de assisténcia. Qual €a situagzo atual das terras no Brasil? Para respon- der a essa pergunta dispde-se somente de dados oficiais. A primeira dessas fontes € constituida por um conjunto de dados apresentados pela Assessoria de Plancjamento (ASPLAN) da FUNAI, atualizados até junho de 1981, ¢ posteriormente publicados no livro A verdade sobre 0 indio brasileiro (1981), de cardter informativo ¢ também pro- pagandistico. A segunda sao 0s dados apresentados pela equipe do CIM, intitulados “Levantamento da realidade indigena”, publica- dos no jornal Porantim 37 (IV: 3-13) de abril de 1982, sendo n indigenismo ¢ territorializagao atualizados até o primeiro trimestre deste mesmo ano. Ainda que os dados tenham sido reunidos pela equipe do CIMI, esta explicita- ‘mente adverte que se bascou em informagées fornecidas pela FUNAL Nic hé possibilidade no momento de proceder a um levantamento diverso: as pesquisas atuais de antrop6logos nfo chegam a abranger 1/4 dos grupos indigenas. Esse quadro poderia ser substancialmente ampliado recorrendo-se a informagées fornecidas por organizagbes de natureza religiosa que atuam junto aos grupos indigenas brasilei- 10s. A realizagio de tal pesquisa, no entanto, demandaria recursos ‘muito maiores (em pessoal especializado, tempo ¢ dinheito), do que aquueles de que se dispés para a preparagao desse texto! [Nos quadros elaborados pela FUNAI as terras indigenas sio

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