You are on page 1of 10
Humanidades Abril/Junho 1983 Volumel = Namero 3 SUMARIO 3 Dom Quixote: Um Apélogo da Alma Ocidental — San Tiago Dantas 17 Q Futuro do Homem — Max Scheler 28 Os "'Clissicos"* ¢ a Fxemplaridade Hist6rica — Nelson Saldanha 37 Os Classicos estio na Moda — Yen Michalski 43 O Totalitatismo: Esboco de uma Caracterizagao —~ Rogue Spencer ‘Maciel de Barros 55. Sobre o Mecanismo da Formacio de Agicar no Figado — Claude Bernard 58 A Espantosa Eficécia da Matematica nas Ciéncias Naturais — Eugene P. Wigner 68 A Energia do Universo — Freeman J. Dyson 80 0 Sentido das Teorias Politicas — Raymond Aron 87 A Vocagio Pedagogiea da Filosofia — Eduardo Soveral 101 A Fungio das Universidades — Anisio Teixeira 109 © Dilogo dos Mélios — Tuciidiees 116 Concessto do Titulo de Doutor Honoris causa a0 Rei Juzn Carlos | ~ Vamireb Chacon 123 Cam@es 126 Alexandre € Dario (Cartas) 129 Universidade Aberta — Cursos & Distancia 151 Religitio 136 Mengi: Sectetério de Estado do Vaticano a revista Humanidades IMD deine seman anes «me rbtgs n d Uaerae ASS MMNADE come PacuLDave Ouustrs Sa Estudos Dortuausses peLeTRas N.Chom, 300,05 Titulo: Humanidades , Brasilia MON et oe vil, jn, 1983, 45786 zara Os ‘‘ClAssicos’ "ea Exemplaridade Histérica Nelson Saldanha Nelson Saldanha nasceu no Recife em 1933 e é atualmente professor da Faculdade de Direits e do Centro de Filosofia, na Universidade Federal de Pernambuco. Adotando uma posigdo filosifica historicista ¢ critica, tem escrito sobre Teoria Politica e Filosofia do Direito, Teoria da Hist6ria e Historias das Idéias. Neste artigo, ele utiliza um conceito espectfico de exemplaridade, correlato da historicidade das coisas e das idéias, e estabelece a nogao de clissico que, para ele é, num certo sentido, meramente didético, mas em termos hist6ricos, em razao da acumulagio de exemplaridade que ocorre em determinadas figuras histértcas 1. Problematica da historicidade como exemplaridade Como modo de colocar © proble- ma, considere-se um mapa contendo os varios lugares dos varios continen- tes. Vejam-se as demarcagdes e sinais, que correspondem a experiéncias pas- sadas € presentes: nacdes, impérios, cultura, etnias, cidades, ‘caminhos. Considere-se a seguir a desproporsio que existe entre as extenstes de espa- 0, feproduzidas no mapa, ¢ a impor- tancla que se atribui a cada cidade, a cada caminho, enfim a cada expe- riéncia. Essa importincia pode ser discutida em cada caso, mas ha um consenso ponderavel em torno de cer- tos pontos fundamentais. Ha exten. ses enormes que nos “'dizem’” mui- to menos, vistas ou pensadas no ma- pa, do que certos pontos em que se concentra uma enorme importancia Aistorica, Esta impottancia se confi- ura e se entende em fungio do pré- Prio conjunto. E hé lugares que indi- cam experiéncias que tiveram certa- 28 Humanidades mente seu peso, mas se apagaram. De certa forma, portanto, a relevin= cia histOrica (dir-se-ia, o grau de his- toricidade) se fixa ou se traslada, den- tro do conjunto, conforme o que re- presenta, como experiéncia, aquilo que um dado grupo humane ou um dcterminado clemento nos indica ‘Aquele geau de historicidade, bas- tante rarefeito em algumas imagens do mapa ou altamence coneentrado outros pontos, corresponde a0 grau em que a respectiva experiéncia hu- mana permaneceu como exemplar. Cabe indagar se isto ocorte em fazio da riqueza ou da pobreza intrinseca desta expetiéncia, ou em razdo do eco que produziu sobre uma posteridade aii Considere-se, por outro lado, a hist6ria das producées da ciéncia ou da literatura nas diversas reas da cul- tura, através dos séculos. Trata-se de uma imensa variedade, da qual, con- forme o modo de ver, se “'destacam” algumas expresses. Pergunta-se se este destaque corresponde — @ a mesma questio, reformulada — a uma escala de méritos préprios, ou se interferem circunstancias tais como a relacio de tal obra com tal situagéo politica, ou de ral autor ¢ tal tcoria com uma conjuntura especial. Todo mundo sabe, por exemplo, que os prestigios podem provir da nacionali dade. E quando um determinado Ponto de vista historiogtafico cobre € refaz conjunto das obras ou dos ele- mentos, pode fazé-lo a partir de uma nacionalidade, ou de uma escala de reas culturais, Poder-se-ia, ao menos em hipotese, pensar numa teordena- so dos “‘tamanhos” reciprocos das obras ¢ dos nomes, ¢ dos destaques respectivos das figuras no todo’ O que se denomina “historia” po de sem davida significas varias coisas. Pode significar, sob certo prisma, 0 lugar (ou os lugares) temporal onde ‘ocorrem 0s fatos da expetigncia dos povos. Pois eles se dio nz historia Pode significar 0 conjunto mesmo destes fatos, em sua rica totalidade, Pois eles formam a historia. Pode sig- _ nificar ainda a sucessio que encadeia estes fatos. Todos estes significados sfo complementares. Mas € preciso pensar nessa complementaridade pa- fa superat 0 mero ater-se a concep- ges convencionais, Como € preciso cevitar, alids, a idéia convencional que identifica’ a histéria com ‘'o ppassado , esquecendo o sentido in- temo do fazer-se histotico: era fazen- do seu ‘futuro’ que os gregos fize- ram sua hist6ria, hoje obviamente aparecente como “*passada"" Um problema que necessariamen- te aparece, quando se consideram os pontos de referéncia dentro do con- junto de imagens que formam a visto hhistérica, € o de terem ficado os gre gos como modelos por exceléncia. Ao ‘menos para 2 perspectiva de nossos habitos mentais. Termos, letras, te- mas, simbolos, tudo sc herdou da ex- periéncia helénica; ¢ ela ficou coma equivalente por exceléncia do que é “‘classico’’. Pelo menos para os povos que vieram em sua esteira ¢ que se si- tuaram como posteridade til em re- laczo a ela. Aliss Spengler, aludindo a “anclante aspiragio" que a alma ocidental e faustica sente em relacao a alma greco-romana ou apolinea, apesar da radical oposigdo que aficana cexistir entre as duas, apela para a idéia de um ““fundo comum, sepul- tado nas mais fundas capas da vi da”, Prefito, porém, pensar no ensi namento que 0 Ocidente recebeu do mundo classico, abrangente de todos os niveis da vida, e na exemplaridade que 0 mundo classico assumiu, em todos os niveis da vida, aos olhos dos povos que ficaram constituindo o “Ocidente™. Evidentemente, hi uma explicagio no fato de que as origens da cultura cocidental softeram “influéncia”” de- cisiva dos moldes gregos ¢ latinos; fo- ram estes moldes que influiram na génese da cultura européia. Mas ha cettas obscrvages que precisam ser feitas em torno disto Todo mundo sabe que o Ramaiana ou os Vedas sio “‘antigos”, sio liosos"” e podem ensinat muita c “Heridota. Vivew no séculoV. Era otiginirio de Halicar indo mates para sua famosa Hina, ‘ajando pela Asia Menor, Grecia © Fgio, (estas palavras convergem para a idéia do que € “‘clissico’’). Mas nao sio classicos para nds. Nao thes falta mé- tito intrinseco; falta-Ihes relacio com nossas origens culturais. Falta-lhes re- presentatividade em relaglo a0 que 0 Ocidente veio sendo como posterida- de atil. ‘Ja numa citacéo grega (ou latina) existe uma espécie de ressonincia que por assim dizer amplia o seu signifi- ado (no ha, aliés, que confundir es- te entendimento com a valorizacio dos fraseados latinos pelo “‘bachare- lismo”” ¢ pela cultura ornamental que grassou nos paises como o Brasil por muitas geragées). Semelhante ressonancia corresponde obviamente ao fato de que as formas do pensa- sso. Passou a mai parte de sua vida mento ocidental se geraram em con- taro com fontes gregas e romanas Assim, uma palavra cm grego ou em latim universatiza 0 que se diz: 2 idéia se desenvolve 4 matriz em que foi transmitida, De certo modo, a lin- guagem da légica, como a da metafi- sica e da epistemologia, tem seu as- pecto de universalidade ¢ de “‘siste- maticidade” acrescentado, ou real do, pela impressio provinda da pre- senga de elementos temética ¢ expres- sionalmente classicos —_principal- mente gregos ¢ inclusive em seus no- mes —, denuio de sua terminologia. O mesmo sucqde, com graus diferen- tes @ 6bvio, com a linguagem da filo- sofia em geral, ¢ das teorias gerais de cada uma das grandes reas do saber. Humanidades 29 Alias, este processo de universali- zagio ocorte também com certas refe- réncias biblicas, justamente pela me- dida em que a Biblia, como nomen- latura € como orbe, teve vigéncia ‘nos séculos iniciais do espitivo ociden- tal. Entretanto, os elementos hebrai- os das matrizes do Ocidente nao se tornaram tao relevantes como os gre os ¢ latinos. Estes se fizeram molde de toda a elaboragio do conhecimen- to ¢ das formas de comunicacio; ¢ so- bre eles incidiu depois o empenbo fi- lolégico de uma época revisora, 2 hu- manistica*. Deste modo, alusics 3 '‘Odisséia” ou a“ gtegos ¢ troianos"” se fizeram classicas. 1 desde 0s catacteristicos “‘paralelos’” de Plutasco, a comple- -mentacio entre pega grega € peca ro- mana se fez presente nas exemplati- dades classicas. Mas, retornando 20 problema: as qualidades incrinsecas pesam no fato de terem os gregos ficado como mat- cos fundamentais; mas pesa também a circunstincia de terem sido segui- dos, repetidos ¢ mantidos, até nds, Assim, dentro da trajet6ria do cha- mado Ocidente ocorreu a fixagéo de sua reptesentatividade. Representati- vidade ¢ influéncia formam o que chamamos exemplaridade: ha na coi- sa um lado concreto ¢ efetivo, 0 rece- bimento da influéncia, e outro ideal, a relagio com um modelo. Para nds, portanto, os gregos se acham ‘‘na ba: se’’, como se seu papel histé vesse sido decisivo para a implantagio de nossas origens, © como se sua ima- gem tivesse sido condigio ideal para Rosso set ‘Ainda uma outra observagio. Ha decerwy uma diferenga ene uma afirmagio do tipo “‘generalizante”’ ¢ porencialmente filosifica © outra particularizadora, com contetdo hi tético. Se se diz que os homens se matam, actescentando-se que nao devem fazé-lo, isto € diverso de dizer-se que Fulano matou Beltrano, que os senadores mataram César, que efraram ou nao no caso. Cabe notar entretanto que ha um sentido que transcende ao “'meramente’” hist co quando se cita a morte de César € 30 Humanidades quando se fala no suicidio de Cleépa- tta (ou quando se alude as pugnas in- dividuais de Ajax ou de Aquiles: no caso, o “antigo” eo mitico quase se nivelam). E que a referéncia ai se faz a0 prototipo: 0 protétipo de uma da- da espécie de morte (ou de pugna). A exemplatidade assumida pelo fato histérico pode portanto como que di- minuit sua empiricidade mesma, re- vestindo-o de modelaridade ideal 2. Insisténcia sobre a nogao do “classic” Podemos, em principio, pensar is- to: que os chamados clissicos no possuem valor maior em si mesmas, pois acontece que a experiéncia do humano (que seria 0 conteido da- quele valor) vale principalmente pelo que tem de atual, Nao se pode viver a experiéncia do humano através de formulagdes alheias; ¢ isto, inclusive, foi no nosso século posto em relevo pe Jos existencialistas, impugnando o es- sencialismo abstratizante e estabele- cendo que cada dor € minha dor, cada problema € meu problema, ou seja: di-se em alguém ou a alguém num momento atual. E Nietzsche, como todos sabem, havia denuncizdo (com algo de surpreendente e de paradoxal fem face de sua obra mesma) os peti- ‘gos do excesso de historia e do afasta- mento que ele traz em telacio a0 vf ser. Mas acontece, por outro lado, que existe um legado cultural. B, através dos tempos, a experitncia — senio mesmo a capacidade de viver — vai- se penetrando de elementos ¢ expres- sBes que so provenientes de um le- gado, de uma heranga cultural. E en- Go, quer no plano "difuso popular inconsciente assistemético’’ (modos, crengas, lingua), quer no “especial culto consciente sistematico”” (peda- gogico), vio-se mantendo ou alter- nando os clementos provindos das experiéncias passadas, Faz-se assim possivel a estimagdo dos modelos clés- sicos. Faz-se possivel ¢ necessitia. Es- sa’estimacao implica uma configura- fo do acervo de modelos ¢ de excm- plos provindos dos "'classicas”” (fra- ses, temas, cinones, estilos), que se sctiam, se ordenam, se seqiienciam. Em literatura, a estimnacao dos cléssi- cos envolve 0 conhecimento das alze- ragées ocottidas na técnica literaria, mais 0 conhecimento das continuida- des. mudancas na versificagio, de Virgilio a Dante, escala de imitagoes € parifrases, variacdo ¢ permanéncia de um certo néeleo de temas, evolu- G40 dos recursos retéricos'. Aqui a idéia de ‘‘processo’” histérico reforga © entendimento da relagio entre a heranga ou a ttadicio, de um lado, € de outro as mudangas de condigées de contextos, Voltando aos cléssicos: quando, ‘és de hoje, pensamos em nossos he- 76is, estamos colocando-os sobre o exemplo dos hetéis “‘classicos'’, de cuja modelaridade se alimenta 0 con- ceito mesmo de heroicidade. ‘A coisa classica, obra ou figura, tem de tet portanto uma nota de excmplaridade. Dai, por sinal, que certas biografias sejam escritas com 0 fim de realgar o cariter modelar do biografado: como uma relagio entre o fluxo da vida, que envelhece e pas- sa, € a permanéncia de certos ‘‘mo- mentos"’, que se recortam como" um intemporal figurino, Em sintese: as obras e figuras que se tornaram cléssi- cas, no curso da evolugzo intelectual de uma cultuta (v.g., 0 Ocidente) sao aquelas que, pela continuada "‘admi- taco” ¢ pela repetida louvagio por parte das geraghes seguintes, se fize- ram exemplares; isto , assumiram posigdo modelar ¢ arquetipica, E hu- mano ter vaidades e avencuras; mas 6 exemplarmente humano ter vaidades como Narciso ou aventuras como Ulises, Entao registre-se isso: a coisa clissi- ca tem algo fixo. O que apatente- mente € desagradivel, ou negativo. pteciso porém encarar 0 assunto como modelo, como matco histérico ou co- piabilidade cultural; ¢ cada area de cultura hi de ter seus classicos — ma- trizes, moldes, padrdes. Naturalmen- te, a evolucto de uma cultura (seja 0 a50 do Ocidente) apresenta certo pa- rentesco entre a fixidade dos classicos (fixidade que nao impede que haja ssicos ¢ classicos, menores e maio- res, mais distantes ¢ menos, Homero e Racine) ¢a fixidade dos dogmas. Os ‘dogmas sao principios € se alam des- tarte a0 aivel do inalteravel, do in- vulneravel ao curso histérico. Conse- quentemente, € compreensivel que as €pocas em que ocotre a relativiza- io dos dogmas scjam também épo- {as de telativizaga0 dos classicos. Este tema nos levaria a discutir a idéia de Dilthey sobre o ceticismo emergente ao fim da Antigtidade, e 0 problema da chamada “crise das autoridades”” Ou ainda o das pretensbes fixistas ocorrentes na historia da critica’. 3. Exemplos, simbolos e mitos Qualquer tentativa de repensar a histéria tem de se haver com exer los, ¢ 08 exemplos se transformam cm fmbolos quando 0 pensamento 0s poe num nivel genérico de signifi- cago. Casos, figuras, nomes, se pas- sados a um nivel ‘‘maior’” de signifi cacio adquirem sentido simbélico. historiador, se vai além do mero nar- rar ou do detectar fontes, se tanscen- de ao acontecimento como imagem ¢ ascende a0 interpretative — mesmo modestamente ensaiado —, manipu Ia exemplos. Isto é, ha certos aconte- cimentos, ou certas imagens, que as- sumem relevancia especial, dotam-se de sentido mais intenso, fazem-se ponto de referéncia para confronts, estimacio, recorréncias: tornam-se ‘exemplos. A cxemplaridade €, af, in- tensidade de relevancia dentro de uma visio do curso historico. As vezes certas ocorréncias recebem como que um consenso quanto sua exemplari- dade: assim se deu com as eruzadas, com a Revolugao Francesa, com a mé- sica de Bach. Outras vezes, a atribui- Glo de uma televancia maior depende da Gtica do historiador, ¢ entio en- tram em cena idiossinerasias ou ideo logias (setia o caso de Capistrano de Abreu empenhado em mostrar como se escrevia a histéria do Brasil sem fa- Jar em Tiradentes). Simbolos sio, portanto, exemplos, © a simbolicidade € exemplaridade em nivel genérico. Simbolos sto an- tonomisias, cotidianas ou césmicas, potencialmente literarias. As vezes, 0 simbolo ascende até fora do svivel his- torico: € 0 caso de certas mitologias, € 0.caso de algumas figuras platénicas € de algumas utopias. O mito @ justamente a exemplati dade sem a ciscunstiacia historica atrancada cela ou (¢ sobretudo) pen: sada e consubstanciada fora dela. EB certo que determinados mitos tém ou tiveram raiz histérica — e Vico, como de costume, enxergou com clarivi- déncia ao situar as épocas originarias em relaglo com heroicidades funda- mental —, mas o mito em si mesmo se apresenta j& despido de conexdes concretas, como que pairando no pla- no de ura pura representatividade persuasiva. De qualquer modo, soa um canto equivoca a frase de Durk- heim segundo a qual os mitos sio muito mais uma explicacio do pre- sente do que da hist6ria’. Equivoca, porque “‘explicar o prescate’’ pode se explicar a historia. Mas evidente. mente 0 modo de pensar mitico nfo é © mesmo que o hist6rico, ¢ isto em qualquer tipo de cultura, ao menos se retemos um determinado conceito de pensar histérico. Na evolugio cultural, mitos ¢ sim: bolas sto recebidos como cxemplos. Pode ocorter que o contato entre duas culturas se efetue precisamente por este recebimento; ¢ dentro de uma mesma cultura os diversos perio- dos se seqitenciam com permanéncia ‘ow alteracio destes elementos. A “cultura’’ é sob certo prisma um sis tema de conectivos, que ligam sim bolos, Os chamados valores culturais, contetidos de experiéncia ¢ suportes de significacio, se articulam por co: nexdes. Ao encarar eudo isto sob de- terminado Angulo, tecemos 0 conjua- to como Aistoria. E neste caso, cada conexo, 90 panorama, cortesponde a exemplatidades. Cabe reconhecer que 0 “hist6rico”” € como que um as ecto (embora fundamental) de ox periéncias ocorridas empiricarmente como teligiosas ou politicas, e agra- piveis globalmente como “‘huma- nas" ou “‘culturais’’ 4, Historicidade ¢ “‘universalidade"’ A nocao da historicidade como exemplaridade pode ser aplicada a vi- rios tpicos. A visto dos valores dentro da historia (lembremosque Ortega to- cou neste ponto numa passagem de seu ensaio "Qué son los valores?" Pode set enteadida camo visio de va lores insetidos em coneades exempla- res. O valor liberdade, entendido em sua insetgio histOrica, apresenta-se em devetminados momentos; estes momentos — profit ateniense, cida- des nérdicas do séc. XVI, revolugoes burguesas — sio exemplares porque se erguem como marcos de referéncia sobre um pano de fundo geral, ¢ em fungao deles se corna historicamente inteligivel, siwavel e estimavel a pre- senga da liberdade (como experién cia) dento do. processo hist6rico Também a justiga pode ser incluida nesta teflexdo. E a idéia de Proud. hon, da justica como “tealizada’ historicamente. por sucessivas crises, inclui uma certa nota de exemplati- dade’ De resto, & sempre um ponto de vista posterior (obviamente) que, re- vendo ¢ refigurando ou retratando os “quadios"” hist6ricos, esquemnatiza- os segundo exemplos. Este ponto de vista ''€” a historia mesma, entendi da como visio, ¢ a posteridade em re lagio a0 que € “visto” constitui pe- culiaridade muito especial do tipo de conhecimento que € 0 hist6rico. Yen~ do objetos “anteriores’” a0 momento cronoldgico cm que ocorte, o conhe cimento hist6rico reconstitui processos € eventos, situa-os em quadros feitos de conexdes ¢ entende-os em natrati vas cujo significado tem de encontrar- se na relevincia de certos processos ¢ de certos eventos. Voltamos assim a0 problema inicial da cxemplaridade como relevincia dentro de um qua- dro ou de uma narrativa; e aqui cabe- ria talvez uma alusio ao método dos escudos de Foucault sobre a "“arqueo- logia’” do saber € sobre os bascale- ments ocotrides através de historia com os conjuntos pensados. Humanidades 31 Na medida em que uma determi- nada imagem histérica (nome, even- to, coisa) adquite relevincia dentco de uma visio globalizadora, ela ten- de a set “universalizada’”. Se um petsonagem histérico € mencionado de modo 2 sair do recinto de sua esfe- ra empitica de agio, e ttatado como representativo de um significado maior € mais geral do que essa esfera, cle se universaliza. Ele se estatui co- mo exemplo ¢ assume algo de simbo- lo. Bo que se deu, através do trata- mento historiografico ocottido em di- ferentes épocas, com um César, um Brutus, um Napolcio. F também o que se deu com as Olimpiadas, as ‘Tetmépilas, Maratona, Waterloo. Fi- guras ¢ eventos, mencionados como ‘exemplaridades, utilizados como pa- Hametros em confrontos, passados a ret6rica como simbolos, ascendem a um nivel de representatividade que supera a comarca de sua efetiva ocor- réncia: assumem conteddo de idéia eral e se catregam de significado ge- nérico. E a universalizacdo. E um dos problemas do historiador, como do electual em geral, € nao se ater de- mais as universalizacdes para no se desprender demais da realidade his- rica" Certamente que a histéria da his toriografia © das figuragécs literstias presenta periodos em que a tendén- cia a universalizar imagens se acen- tua. De certo modo, a cultura oct dental apresenta uma inclinagio es- pecial pelas universalizagSes, € den- to de sua érbita podemos distinguir © proceso teolégico de universaliza- lo, dominante nos séculos ditos me- dievais, ¢ 0 processo de universaliza- Gao racionalista-burgues, correspon- dente aos séculos laicizados, 20 capi- talismo e ao liberalismo. A’ mentali- dade liberal teve um de scus tracos caracteristicos na propensio a univer salizar, chamando genericamente de Aumanas as coisas proprias da expe- riéncia burguesa e do homo oecono- ‘micus capitalista; cultivando uma vie séo do mundo em que tudo desem- bocava no racionalismo cientificista © no industrialismo urbano. Mas de certa forma, ou ao menos em parte, 32, Humanidades tal atitude tinha sua justificativa, pois a visio da hist6ria que era a dos intelectuais liberais vinha como her- deira de toda uma mienar sequencia de exemplaridades, generalizacdes e universalizagoes, praticadas e reela- boradas em diversos momentos por ‘geragbes de interpretadores da hist6- tia 5. Historicidade historicidades Cabe abrir um paréntese e colocar © problema da difereaca (c da rela- 40) entre a historicidade em geral, como nogio ela mesma “universal”, ¢€ as histoticidades, correspondentes & diferenca e & relagko entre a Aist6ria fem geral e as biséorias que se podem chamat particulares ou de algum mo- do situadas. A nogio de histéria, en- tte 0s gregos e romanos, nao tinha um alcance “'mundial’’, mas por ou- tro lado nao correspondia exaramente ‘ou expressamente 4 um recinto etno- gtafico restrito. Apenas, a historia ro- mana se tornou narrativa mundial na medida em que Roma se fez centro € azo do que se entendia por *mun- do”. A idcia de uma historia geneti- camente total € bastante posterior corresponde 2 imagem medieval de um providencialismo cristocéntsico, imagem depois tefeita na concepsio ilustrada serecentista de um “‘espitito humano" a progredir segundo um quadro irreversivel. Sob certo aspec- to, pode-se tomar esta idéia como lo. gicamente posterior & das hist6tias lo- «ais; mas sob outro, a nogio moderna de uma histéria “'geral’” se tornou do assente que necessitamos sair dela € ‘“descer"’ de seu nivel para poder considerar as historieidades particula- res, Mencionarei dois tpicos dentro da tematica que poderia ser investigada aqui. Primeito: a historicidade de ca- da tea (de cada cultura ou nagio) implica uma especifica heranga cultu- ral € portanto um grupo proprio de clissicos. Para os petsas Hafiz deve ser hoje um classico, como Kaldum para 6s firabes. Segundo: a recente emer sto de um chamado “‘terceiro mun- do” poe o problema de uma nova experiencia de historicidade, for- mado por relagbes culrurais um tanto complexas. As categorias que infor- mam a mentalidade do chamado Ocidente revelam, por t1&s ou por de- baixo delas, uma’ espécie de subsolo que se chama “‘antiguidade”; ¢ elas fepercutem, por sua vez, sobre os paises em que ocorren a colonizagao ocidental, sobreudo aqueles cujo ser hist6rico se formou inteiramente ou quase — e sem componentes anterio- tes de maior peso — com base naque- la colonizagio. Como é 0 caso do Brasil Isto. nos levaria a um problema com 0 qual jé me tenho ocupado ou- tras vezes. Muito se tem falado na ne- cessidade de nos livearmos (n6s povos “subdesenvolvidos”” ou coisa pareci- da) do molde curopeu-centrista e dos esquemas europeu-ocidentais de sen- tit ou de pensar, Ora, foi este molde que nos deu as bases de uma forma- so historiografica; entZo a imagem da histéria, de que dispomos, ¢ 0 modo mesmo de pensar de que parti- cipamos so europeus no sentido ra- dical, no sentido da origem: até que ponto podemos eliming-los, separan do 0 que em nosso ser cultural € “‘nosso'’ por exclusio? Evidentemen- te no podemos eliminar por inteizo as mattizes européias de nossa vida intelectual; clas existem como cama- da profunda, vinda do mundo greco- latino € estendida através dos séculos da colonizaco. Dar um “desconto”” em relago ao que herdamos (herda- mos muito mais do que ‘‘importa- mos”’) implicaria em interminayeis redugGes, operadas com instrumentos crticos que, a0 fim ¢ 20 cabo, sio mesmo de otigem européia. E claro que aqui o problema esta posto em termos de extrema generalidade, en- tendendo-se em linhas muito amplas 4 wajetéria cultural: nao se trata de desmentir o nacionalismo cultural, que defendo e que & outra coisa, nem de negar que ha modismos culturais importados (¢ ligados a outtos modos de colonialismo que aquele generica- ‘mente ocidental) que devem ser com- Datidos. Sem divida nenhuma b . Classicos, sradigao classica e heranga cléssica ‘A linguagem comum se acha po- voada de expresses que séo verda- deitas estampas feitas, e que incluem 4 idéia do '‘eldssica"”, Expressbes co- mo estas: “‘o ciumento classico’’ , ‘‘o andarilho cléssico”’, “o avarento cls- sico”’, nos remetem a modelos litera- ios ou figuras habituais mantidas co- ‘mo ponto de referéncia. Do mesmo modo, ha prot6tipos simbélicos per- manceidos desde séculos com um sig- nificado constante: 0 Judas, 0 Caim, César-e-Brutus. Provém de contextos culeurais diferentes ¢ desembocam na linguagem de ainda hoje Obviamente, estas expresses ém_ seu sentido ligado 4 exemplaridade. Por trés delas, dando-Ihes contetido, esto representacdes modelares. E importante assinalar que o caréter exemplar das entidades clissicas cor- responde 2 profundidade com que clas penetraram auma determinada imagem hist6rica: culta ou popular. ‘Apesar de aparentemente desvincula- das das situagbes reais ou dos quadros de espaco € tempo, as entidades clés- sicas so classicas por estarem num processo de enfatizacio: elas so su- blinhadas por uma certa énfase e ad- quirem relevancia. Isto se da dentro de contextos histérico-culturais. Por- tanto, a exemplaridade de um classi co (livto, tema, nome, imagem) esta ‘na proporcao de sua historicidade: de seu fortalecimento como imagem his- rica, Dai se poder falar no earatet ‘pedagégico”” dos classicos, que os escritores de cettas épocas entrevi tam, mas dando-Ihes sentido apenas formal ¢ moral Nesta enttevisio do cariter peda- gégico ou ‘formative’ dos classicos, atuou decerto a permanéncia da no- gio aristorélica de causa formal (a for- malidade do modelo), nogio por sua vez — como se sabe — oriunda do te- ma platénico da relagio entre idéia perfcita ¢ realidade imperfeita. Mas a pedagogicidade dos clissicos € a da historia mesma: pois o fato historico é sempre formative ¢ educativo, nio apenas no sentido da moral conven- cional ¢ da frase ciceroniana, mas no de fixador de conceitos ¢ de valores Sendo a exemplaridade dos classi- cos a pedra de toque de sua qualida- de mesma de classicos, ¢ sendo corre- lata de sua representatividade hist6ri- ca, cabe observar que 0 modo de en- catar ou figurar o sentido hist6rico dos classicos varia conforme 0 mo- mento, Em certas €pocas, a nocio das coisas classieas se reveste de valot es- pecial. O humanismo renascentista iniciow um modo de tratar as entida- des classicas que corresponde a um modo de entender o proprio ser hu- mano: 0 humano se desenvolve € se obtém por meio de uma educagio fundada nos cléssicos®. A telacio dos classicos com uma posteridade especifiea € como que hi- postatica. Ela se manifesta por inter- médio de graduais transubstancia- goes: Homero € classico ‘através'” de Virgilio, Virgilio através de Camées € assim por diante, denteo de sucessi- vos niveis hist6ricos © de diferentes planos de ascendéncia. Por outro la- do, a incerpretagdo dos cléssicos com base na idéia da relevancia histrica (ou da influéncia) permite eventual- mente ampliar as aplicages do con- ceito: podemos considerar classicas certas imagens provindas da chamada Idade Média, como por exemplo o st bio barbudo e pensativo em seu som- brrio gabineve gotico. Isto no impede que 0s cléssicos. “‘propriamente di- tos" sejam os relativos ao mundo de formas culturais da Antiguidade gre- ac romana, ‘A idéia de uma historicidade equi- valente a exemplaridade pode, certa- mente, levar 20 problema da visto da “historia segundo os her6is’”. Nao se deve, porém, aceitar totalmente esta visio, como nao ha por que impug- né-la inteiramente © sem mais. Se, por exemplo, se trata de Napoledo, pode-se indagar se sem ele se teriam feito as coisas que com cle se fizeram mas a discussio ha de girar em torno de Napoledo. Nao foram outros que fizeram certas coisas, embora estives- sem também na cena € no ato: ele as fez. Por outro lado, 2 énfase sobre sua “‘autoria”” das coisas, na cena ¢ no ato, cortesponde ao historiadot € as motivagies com que encara € en- tende as coisas ¢ os homens. Pois, co- mo todo mundo sabe, sem estas mo- tivagdes 0 historiador se torna uma abstragio — e também a sua ciéncia Poderfamos agora perguntar: por que existem coisas “classicas""? Evi- dentemente estas coisas 0 sio em fun go de um conceito: sio representa. das como sendo classicas. As coisas classicas sao classicas para uma detet- minada posteridade: nossos cléssicos so clissicos para nds. Os classicos se situam na trajet6ria de um legado hist6rico-cultural, e fora dela, ou se- ja, noutra area de cultura, nao tém a mesma representatividade ‘A. percepsio desta sifwapto dos classicos na perspectiva de uma relat vidade cultural implica que 0 enten- dimento das estruturas intelectuais na histétia € algo mais complexo do que o puro registro de relacionamen- tos. Alids, a inteligéncia de um modo gcral consiste numa aptidio a compa: rar ¢ a relacionar — inclusive relacio- nar o particular com o geral —, mas a inteligéncia do hist6rico tem de ¢s- tar apta a acompanhar plenamente as uancas da expetiéneia humana, ¢ tem de ser, como compreensio (mais que ‘‘explicaga0” , no sentido da dis- tingio devida a Dilthey), dotada de ‘uma autocompreensio. Mas o fato € que, dentro das coor- denadas da histéria intelectual, os clissicos existem. E nao é bastante di- 2et, diante deles, que esto no passa- do e so admirados por decerminadas qualidades, Importa entender que so exemplares. 7. Digressdo sobre o intelectual ¢ 4 historia Detenhamo-nos um pouco sobre 0 que nos sugere este tema da inteli- géncia do hisiérico. Todos sabem do mundo de hoje: massificagio, padro- nizacio, eletronizaglo, saturacio. Nesta paisagem superpovoada ¢ cheia de maquinas, o humano se estandat- tiza, € 0 aparecimento de novos tipos Humanidades 33 (como o hippie eo executivo) € 0 pre- ipitado de potencialidades anterio- tes, em dimensio nova. No meio da jnércia ou da euforia comercial, apa- recem vozes que lamentam ou de- funciam: apontam 0 devoramento do homem pela maquina e invocam exemplos antigos. As vozes que mais caracteristicamente tentam entender achamada ‘‘crise” so justamente as que situam a atual condigio do ho- mem num contexto histdrio; ¢ aque- Jes que perguntam pela perdida he- toicidade ou apontam © desapareci- mento das ‘‘grandezas’’ humanas (inclusive as grandezas artisticas) se voltam aaturalmente para as exem- plaridades do passado. Palam destas foisas como coisas passadas, coisas gue foram, que devem voltar ou que se alteraram. Nao stio poucos os criticos € socié- Jogos que esto revendo figuras como 0 tuko medieval ¢ 0 Philosophe do séc, XVIII, ou reconsiderando o tea- tro grego ¢ coisas assim. A insatisfa- cio do intelectual diante do mundo eletténico, tipica como ‘‘pensamento ressentido"” mas também 20 menos incidentemente Ificida, ter que ver com um voltar-se para 2 historia: com tum reentender exemplos e signific: Ges dados na histéria. Mesmo no matxismo, a hipdtese do intelectual que “‘sai’” de seu condicionamento de classe, para lutar pela classe domi- nada, corresponde a um dominio de ‘esquemas hist6ricos especificos. Estava em Vico; ao menos em bru- to ¢ em germe, a idéia de que 0 au- séntico objeto de conhecimento hu- mano é a histéria, pois o fazer € 0 sa- ber sdo conversiveis, ¢ 0 homem me- Ihor entende o que for obra sua. Nes- te sentido, ainda hoje accitavel, po- demos considerar o saber hist6rico co- mo o adequado organon da cultura, 0 instrumento através do qual a expe- tigncia global do humano se faz inte- ligivel. E podemos considerar 0 inse- Lectual como o encarregado de enten- der a historia. Ele funciona como de- positério de exemplaridades; na me- dida em que o processo.histérico ““faz"” intelectual, o intelectual re- ‘fat 0 process historico quase 0 reinventa (no sentido de: reencontra- 0). O intelectual, posto no processo € ciente dos legados culturais, faz-se conscicnte das perspectivas (que sio tesponsabilidades hermenéuticas), das catcgorias entrecruzadas, das comparagies possives ¢ das incitagdes éticas ¢ ideoldgicas. Nestas perspecti- vas — que dio seatido aos “fatores"” nao 0 contrario — encontram-se as cexemplatidades ¢ 0s niveis de ‘‘classi- cidade” que correspondem a clas, dentro dos diversos orbes culturais que se descottinam. 8. Ainda e em conclusao os lassicos @ a heranga classica Ora, 0 atributo da exemplaridade, nos classcos, se por um lado os vincu- Jaa uma estrutura hist6rica, por ou- tuo, os liberta; como que os solta da contingéncia “erdnica’” do histotico ¢ os pe num plano de permanente atualidade. Poe-nos numa “disponi- bilidade’ que, aparentemente ao ‘menos, é extratemporal, Dai a sensa- fo, que As vezes se tem, de serem os classicos sempre contemporincos. Is- to se choca porém com um dado com- plementar, 0 de que cada época tem sua visio dos cléssicos, como cada ge- racdo costuma ter seus figurinos € ter sua imagem especial dos valores huu- manos". Precisamos tomar um pouco de cautela quando empregamos a pala- vra "classicismo”. Podemos cercé-la com uma alternativa semelhante 2 que Woelfflin propés para 0 conceito de barroco. Ou seja, podemos pensar Se ea ee , Sie Humanidades 35 no classicismo como uma gpoca, en- contrivel talvez em cada grande rul- tura e modelarmente na Europa dos sécs. XVI € XVIII; ou entio como uum padrao, que se catacteriza ou se estima conforme a exemplaridade que se reconhece em seus elementos. Com isso se adverte que o termo lds sicos nao se cinge a0 significado habi- tual dos compéndios, ou seja, a0 sen- tido de pré-romintico ou de anti-ro- mintico, numa oposi¢éo que pode ser historicamente equivoca, pois cer~ tos “'roménticos” podem tornar-se classicos pela exemplaridade. Alias, 0 dualismo entre o classico ¢ 0 romAnti- co como formas tipicas sempre recor- daa alternativa, posta por Nietzsche, Notas 1, A iden du exemplaidade se acha wiliada por Karl Japess na exactesizarto que faz dos "grandes peasadores" como paradigmcions e "normasivos” so sentido da influaciaexisenal:

You might also like