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3 Aiea Tinguistica galego portuguesa 2a © espaco linguistico galego-portugués tem a configuracio de um rectin- gulo que couesponde a fin oidenal da PestostlaTbéca delimtado fm t23 lados pelo max e « oriente por uma linha que corre de norte a sul, desde as Astiras até 4 foz do Guadiana. Esta linha, representads 3 negro tno mapa de Lindley Cintra (Cintra, 1971, Mapa D) foi definida por Me nnéndez Pidal como sendo a fronteira linguistca que, desde a Idade Mé- Gia, separa o leonés das linguas que Ihe ficam 2 ocidente: os dalectos sgalegos a norte ¢ os dialectos portugueses mais a sul E muito sugestive 0 modo como Ramén Menéndez Pidal descreve 0 ragado dessa fronteira: Por el Occidente limite del lonés no coincide cone del antguo reno de Lede ya que ite aburcb tambaen a Calica y Portal tampoco cols. tide auch emenot, con lov limites dels provincia gallops y del tote de Rowe Ae guia fot dl ants co portugues ct bien pesca (« diferencia de la fronters oxen, ef Bos creda al oda c precio arcando un nen que pase or ete puctlorvecnos, dels cals los de Ocidente no dp- Tooguon i 8 €ainas forever diendo caro, era los de Oriente is ‘ipo, dion cro fee (-} En Ata ly det ends, no ee sio Idee hn del io Nevis; ala quierda dal io se habla hoy una vase galego de Lago, yan en algunos pucblos inmediats ala ola dezecha Kaien Arment que ei ala detecha, ve dee ao, tera, ons empo (micntas an Vilapedie, que dts ocho lmetos, yu aparece el dipton- ‘Tersitrios © Comunidades Linguisticas Fy g0 morta etc), Remontando el curso del Navia se allan a ou ola deve- ca, nombres gallegos merclados con otros leonescs. [] En Leén, en el Bierzo bajo si occidental (hoy partido de Villafrancs), se Inaba una variedad del galego, mientras en el Berzo alto & oneal (pat- tido de Ponferrads) se haba leonés. Nétese que el nombre Biers Bét- idm, e¢ de derivcién leonesa (como lo indica #1 diptonge) y no falegs. La dvisoria entre la cuencas del so Caa y del Si debe mazcar [poco mis o menos el limite del galego y del leonés, en esta regia. [x] En la provincia de Zamara el pucblo de Exmisende habla gllego. Pero cn cambio, ent l dominio dal loonée en a rina de Paria en Riodo ‘not, Guadeaml, y quia en Quintanlha (a juzga por su diminutivo ly ‘no wi), y ademas on la detea de Mitanda El eminente logo J. Leite de Vasconcelos estudi y considers el dialecto de Miranda dentro del cus dro de los dialectos pornagueses; pero, egin veremos, a0 es mis que tune de tantos restos del leonés occidental. [.] La constityeién de los dilectos del Note del Duero es evidentemente anterior ala delimitacion {al reino portugués en el siglo XII [.].La terra de Miranda en la Espata romana pertenecia,no al convento jridico bracarense, sino al Asturicen- se, yen la Alta Edad Media It iglesia de Bragancaperteneci6 ala desis de Astorga. fo] En Salamanca y Extremadura los limite lingisticos ya coinciden bastante bien con lot politicos, puce nls regién del eur del ‘Duero ya podemos afimmar que no se conserva ls lengua anterior alain vision drabe, sino Is implantada por la econquict, que rebatd tarde Is Tinea det Duero; de moda que las respectivas conguistas de Poctapal y de Loin determinazon nln vex ol linite polio 7 a limite Hingidetwoe. No cobstante, en Alamedila (provincia de Salamanca) dicen que se babla pportugués; por lo cual los coterrineos Iman emnestizos» a los babitantes ‘de ese pucdlo, En fn, l portagués se sigue hablando hoy ea Olvenza (provincia de Badsjoa), plaza que perteneci6 ara a uno ort ott de los ‘einos verinos. Pidal, 1906 (1962 16-21). 22 © rectingulo definido a ocidente por esta front linguitica & ocupado um cootinam lingultico, que permite» quem se deslocar de um Extiemo a outro do tenitine ir sucesvamente strvessando regidee Gislectaisdfereniadas de modo gradual, sem que em aenhum momeato ‘uma frontetalinguisticninteompa esa txoagio suave dis varedade akin Dito © outro modo, cme viajar de Calin a0 Algarve ao contd qualquer sobresalto compativel ao de vsjt da Calin até Burgos, por exemplo, porque a ted de staves a frontia da mono- songacdo, definida por Pal. Este concsta de nina plc spenas ‘Vreldade dialectal eno, naturalmente, is vasedads ngusticas ba ‘as, nem de normas ula, as quis contrast mais nitidamente enue 5 6 Inteodusto 4 Hi ia do Portugués A forma mais fii de experimentar 0 ue & um cntnanlingustico & sarcha de longo curso, como fiem 0s petegrinos do camiho port gues de Saniagseatd 20 sea aleance, mas ao dos que fazem 0 exmninho francés, a sennagio de caminharem sempre dentro do espago da mesma lings ‘Mesmo linguists galego, defensores da autonomi actual da su in- aqua em relagio a0 pormgués, reconhecem a exsténci deste espaco ¢ 8 disposigio continua dor seus dialects. £0 caso, pr exemploy de Fer ninder Rei ‘Desde unka perspectva estrctamente linguistics, (), 6N € 68 do Mino filase o mesmo dale lino (oa a mesma lingua latina) pore non existe diferencias sustancais entre 08 falazes galegos eo falzesinte- ‘ammenses etrancmontanos portugueses. (Ferainde2 Rei, 1988: 100), No passat, nem sempre os linguistas reconheceram existéncia deste continuum que liga Portugal Galiza: nem Leite de Vasconcellos, znem Paiva Boléo inclufam o galego no espago dialectal portugués (Maia 2002, Castro 20026). A classificagio hoje geralmente adoptada para os dialectos portugac- ses é a de Lindley Cintra, formulada pela primeira vez em 1970 no attigo «Nova proposta de classficasio dos dialectos galego-portugueses» (Cin- tsa, 1971), ¢ reformulade no capitulo «Dominio actual da lingua porn gues» da Brewe Gramatca do Portugués Contemponinco, de Celso Cuinba ¢ Lindley Cintra (Cunha-Ciatra, 1985: 5-17). E/a formulagio deste capitulo da Nova Gramdtica que seguimos daqui por diante, actescentando-Ihe alguns comentitios. 23 Lindley Cintra utiliza como critério para a sua clssificagio dialectal ‘aquilo a que chama «© sentimento dos falantes comuns do portugues ppadrio europe, isto é, dos que seguem a norms, 0 conjunto dos sos Tinguisticos das classes cultas da regio de Lisboa e de Coimbra. Este sentimento dos falantes do portugués pad:io permite-thes distinguit, por uns poucos de tragos fonéticos, um natural da Galiza de um natural do Norte este de um homem do Sul. Pos tl unétody, Lindley Cintra ile tifica tés grandes grupos dialetais: ~ dialectos galegos ~ dialectos portagueses setentrionais ~ dinlectos portugueses centzo-meridionais ‘Teeritérios ¢ Comunidades Linguticas ” falante poreugués medianamente culto, ¢ mesmo muitos falantes cultos, distinguem perfeitamente, pelo modo de falar, um homem do Notte (tratando-se naturalmente de um daqueles que cofiservain a maio: ria, se no a totalidade, dos tragos que catactetizam o falar proprio da regio onde nasceram) de um homem do Sul, De ambos distinguem ainda perfeitamente um galego, eque compreendem quando fala 0 seu dialecto, mas em cuja linguagem néo véem normalmente, a nio ser que tenham certa cultura histérica ou linguistica, uma vatiedade do portu- _gués» (Cintra, 1971: 101) 234 sta distingio nasce da reacgo do falante do padtio a0 modo como as, sibilances slo realiaadas nas vasiasregi6es: 1. Nos dialectos galegos nio existem as sbilantes sonoras /2/ nem {el proprias do porrugués (a sbilante de rra artcnla-se como a de ‘ac apcal ou | predora sie defer como a ‘aa, [6] predorsal ou [9] interdeatal, consoante que corresponde & grafia th inglesa). Do mesmo modo, a palatal sonoma /3/ Ge & antes de e / i) nio existe, mas apenas a sua correspondente surda If}. Notar que a redacsio deste parigrafo difere ligeiramente entre Nona ea Brve Gramatca, endo esta mais completa ao explicit a inexistencia de fe} em galego. Alem disso, a frase da Nova Gram «a, «Em galego, hoxe tem a mesma fricativa [f] (Gutda) de endo, suctow protests de certs meos reprints por usar 2 ortogeafia dos autonomistas (x para [[)- Na Brew Gravndtica, os autores substimiram esta frase por «im galego, s6 hé a ficativa [f] (Garda) do portagués enxadar. 2. Nos dialectos portagueses setentsionas, 20 contitio dos galegos, éaistem sbilantes surdas e sonoma, predominando nos micios a nas as sibilantes Spico-alveolares,surda [j] (léntica do castelhano setenttional ¢ padtio)e sonora [i, is quais se reduzitam as predor- sodentais. Nos dialectos mais conservadores, no entanto, a pico ~alveolares coexistem com as predorss 3. Nos dialectos portugueses centro-meridionais no ha sibilantes| apicais, mas apenas as sibilantes predorsodentais, que também sio ‘caracteristcas da lingua padrio {s}¢ [| (seis, passo = caga e ros fazer). A feonteita entre os dialectos galegos ¢ os dialectos seten- tuionais portugueses corresponde, na pritica, & fronteira politica centre Portugal e a Galiza ® Introdugdo A Histéria do Portugues A fronteira entze os dialectos portugueses setentsionais e os centro- -meridionais corresponde 2 uma links que atravessa obliquamente 0 ‘centro de Portugal, partindo da costa 20 norte de Aveiro ¢ encontrando fronteira com Espanha na regio de Castelo Branco. Na Nova Praposta, Lindley Cintra descreve minuciosamente a isSfona, ow seja, a fronteirs fonética que separa a regio setentrional, onde predominam as sibilantes apicais, da regito centro-meridional, onde no hi apicais, e onde predo- ‘minam as sibilantes predorso-dentais, Essa fronteira é representada por oma Tieha que paris, no Osta, da segide da sia de Aveiro, peéaima As fox do vio Vouga, desce de ai er direceao a0 tio Mondego que ats. vessa a montante de Coimbra, mas 20 sul do Caramulo, de Seia € de So Romio, de ai caminka so sio Zézere, contornando pelo sul os macicos imais altos da Serra da Estrela que, na sua parte meridional, nio parece contibuir par a formacio de qualquer limite linguistico importante, atravessa o referido rio a jusante de Ouronde e segue em dieogio 40 leste, ao sul da serra da Gardunha, até atingir a frontera politica, depois de deixar, a norte, Monsanto, ¢, a sul, Alcans, a propria cidade de Cas telo Branco e todas as povoagtes do sul do dstrito como, por exemplo, 6 Rosmnaninhal. (Cintza, 1971: 107-108). 232 intra considesa que as sbilaates si, de Guu, » principal wago caraeretiza- dlor da proveniéncia regional de um falante de portugues, mas alguns onttos ‘uagos foncticos podem ajudar, também, a essa catacterizagio, Sio ees: 1. A proniincia como octusiva bilabial [b] ou como fricativa bilabial (B) da let v nos dialectos setentrionais. Esta letza v € realizada ‘como uma fricativa lbiodental nos dialectos do sul e no portugués padrio (binho, abé por vinho, avé). 2. A promincia como afticada palatal [tf] da grafia ch, que no padtio © nos dialectos centro-meridionais corresponde a fricativa [f} (tchave, atcha: por chave, achat, 4. A conservacia, pica dos disloctos eetentzionais, dos ditongos [ow] ¢ [ej], em contraste com a sua monotongicio para [o} ¢ [e] nos dialectos centzo-meridionais (ouro, ferreito pats 620, ferréro). No que tespeita a estes ditongos, a pronineia padrio tem uma atitude diversa. Embota adopte a monotongacio de [ow] pata [0], no faz © mesmo com a monotongacio de [|], optando ai por uma sole io intermédia, que é a do ditongo [e}) ttios e Comunidades Linguisticas » Dialects Portes Seeitonis Dialects PocagusesCetr-Meridoais (Sepa Sago 201 Mapa 2» Inteodugto 4 ltdria do Portugués 233 Nio sio, no entanto, apenas teacos de natureza fonética que petmitem ‘por os diversos grupos de dialectos gslego-portugueses. ‘Tambem a Aistrbuigio do lxico através do tesitério permite observer uma certa regularidade na divisio geogrifica. F. 0 que nos é revelado por alguns mapas do attigo de Lindley Cintra intitulado «Areas lexicais no teitério portugués (Cintra, 1962 (1983a: 53-94). Uma divisio que frequente- mente se observa & aquela que opie os dialectos centro-meridionais, por ‘um lado, a0s dalectos setentriomais, por outro, sendo fundamento dessa distiagdo, normalmente, a oposicio entre um voesbilo de origem frabe, zo sul, conta um yocibulo de origem latina ou germénica, no notte (Cintea, 1962, mapa 3: sree alec Mas, talvex mais frequente do que esta oposigio noxte/sul, seri a ‘oposigio entre duas regibes: urna constituida pelo noroeste © 0 centeo allintico do pais, prolongando-se geralmente pela Galiza, e a outra oct ppando o sul ¢ leste de Portugal. Nio é dificil zeconhecer em tal distingio ‘© mapa tragado por Orlando Ribeigo no seu livro de geografia humana Portugel, 0 Mediterines e » Aline, Trata-se. de uma oposigio entre aquilo a que Ribeiro chaa wo norte atliticon, ligado i Gali, contra a8 ‘duas outtas zegibes, 0 «norte interior» € 0 «stl mediterrinico» (Ribeixo, 1947 (1986: 144-164), as quais, do ponto de vista lexical, parecer fre~ ‘quentemente fazer bloco, fornecendo inovagées 4 lingua po oposicio a0 conservadorismo do norte atlintico (Cf. Cintra, 1962, mapas 5, 6 e 7). ‘Tex esta divisto dos dlalectos na fuixa galepo-portaguesa slguma signi ‘ayio hbtteioa? A mepcnat ao pode ser afcmatine, He Lindley Cents squem o most: A tegulasidade observada parece depencer, em slguns casos, da scsi de lum mesmo factor histrico: a Reconquista aos mousos do Centro e do Sal do teesitsio portagués, movimento que teria crado o contraste entre uma Galiza € um Portugal do Noroeste (¢ parte do Oeste) mais conser- vador, porque de povoamento andigo,e um Portugal do Nordeste, Fste © Sal mals movador, jstamente © que foi epavoade em consequéncia dae aude scontecimento hstérco. (Cites, 1983}, p. 18) 234 Os dialectos das ilhas adlinticas da Madeira ¢ Agores tém de ser conside- sados nesta descrigio dos dialectos continentais, apesar do telativo absur- do googrifico que isso significa. De facto, todas essas ilhas eram desettas antes de terem sido objecto de um povoamento portugués, o que tora “Teesitdcios ¢ Comunidades Linguisticas a 1 seus dialectos um prolongamento dos dialectos continentais ¢, dentro estes, dos dialectos centro-meridionais. Destacam-se as ilhas da Madeira ‘eas acorianas de S. Miguel e Terceira, que, cada uma de sua manceira, se afastam do modelo centro-meridional que 2s outa ilhas seguem. Os seus tragos muito catacteristicos, no plano do vocalismo sobretudo, no tém comparagio com qualquer outro dialecto do territério pormugués (Gegura-Saramago, 2001) 235 io ficara completa esta apresentacio das divisdes dialectais do porta gus continental europe, se nio se Fzesse referéncia & questo dos fal- fes fronteitigos, ou sj, is vasiedades daleeais portuguesas que sio fa- Tadas em tcrritério expanhol, bem como as vatiedades dialectais nao ppovtuguesas que sio faladas em tersitéio portugués Isto pode dizer-se {outa manciz: a froneira linguistea que separa as zonss de ditongn- So e no ditongscio das vogais beeves tonicat latinas © e &, nao coinci- die exactamente com a fronteira politica que sepaza Portugal e Espana, pelo que evistem tetritrios muito pequenos que sio politcamente por- fugueses, mas que linguisticamente se integram na area linguistica do leonés, Siusdos ao longo da fronteira de Teis-os-Montes, 03 princpais sio os falares de Rio-de-Onos, de Guadesmil, 0 mirandés rural em: tomo de Miranda do Douro ¢ 0 sendinés. A este conjunto de falaes, que tém catacteristicas prSprias musto vincadas, pode dar-se a designacao geral de tmirandés, Todos eles tém em comum serem variedades dialects leone- fs e, portanto, no interac na ira lingusticagalego-portuguesa. Esta situagio deve se & histori da regio, na Idade Média. O extremo oriental de Tris-os-Montes Gncluindo. as tegides de Braganca, Mogadouro, Freixo de Espada & Cinta, Vimiowo e Miranda) nfo fazin parte, aa org. nizagio tertoral do Império Romano, do coavento juridico dependente de Brags, Durante a Idade Média nio fez parte também do Condado Portucalease, cya onteira terminava bastante a Ocidente, correndo de Norte a Sul to longo dos tos Rabacal e Tua, embora estivesse integrado nos limites da diocese de Braga a parts do sée, IX. Esta dependéncia, no plano da administrasio reigiosa, da diocese de Braga, nid impediu, n0 entanto, que o repovoamento medieval do orieate taznsmontano tivesse Sido feito'# parts de Leio. Muitas povoagbes foram fundadas por pos sessozes leoneses e diversos conventos de Leio fundaram povoados em ‘Tsis-ot-Montes, como mostra Hereulano de Carvalho no artigo «Parque se fala leonés em ters de Miranda? (Carvalho, 1964). Foram os des cendentes destes colonos de Leio que conservatam até hoje, nests re- sides, dialectos leoneses. 2 Introdusio & Histéria do Portugues ee ois gy ate crite oe gee meee ee ee eee eel eet Sates eae ee eee cee ee ee ee eee ‘estudado por Maria José de Moura Santos em Os jialares fromteiricos de Tris-os-Montes (1967). a per Nee ee eee ee ee eS ea ee eae ee ee ee Ba neta eee eae aa ee ee een ear Fi ee a medilla (1977). Tel is min fen de A ent nA al Ge neice matea a te ee ae eee areas as es Mr toe Sapte Besse toan Paiaeeat ea gio ee eee ee ee ee em ee eee ie Sse eee renee eee ener ae 24 Guia de leitura da «Nova Proposta» (Cintra) 24a Pasa a classificazio dos dialectos portugueses, segue ce a formulasio do respectivo capitulo da Brew Gramatia de Ceo Cunba © Lindley Cinta, ‘como acima indicado, Esta clstficacio assenta em trabalho de maior lego que é a «Nova proposta de elasificacio dos dialects galego ports- gueses» (Cintra, 1971: 81-116, cuja paginacio seguiremos), tendo sido republicado sem alteragdes nos seus Estes de diaktlpa porte (Citta, ‘Tersitérios ¢ Comunidades Lingufsticas 2 1985a: 119.63). Tratando-se de um wabalho fundamental, ¢ de leitura indispensivel, forneceremos uma espécie de guia para o seu estudo, © comagio do artigo encontza-e nas pp. 101-108, onde Lindley Cintra presenta claramente os tragos fonéticos diferenciadores que, em sua opinizo, permitem identificar a proveniéneia regional dos falantes de pormgués. F recomendivel estudar estes tracos tendo a fiente o mapa, donde se acham tragadas as iséfonas correspondentes a cada wm deles. Por «is6fona» entende-se uma fronteira lingustica que separa duas re- sides em que comportamentos fonoldgicos diversos podem ser observa- dos. Nesse sentido, a fionteiza que separa a ivea linguistica palego- “portuguesa das areas que Ihe ficam imediatamente a oriente pode consi- derar-se uma is6fona, pois separa uma regio em que os dois fonemas latinos # e © (breves, tonicos) sio conservados intactos 2 seu ocidente, ‘enquanto sio objecto de ditongacio a seu orient. 24.2 Os tracos fonéticos diferenciadores propostos por Lindley Cintsa sto cinco, e esse & 0 aspecto porventura mais revolucionétio da sua classifi- cacio dialectal. © observador coloca-se na perspectiva de um falante da norma padtio (ou das grandes cidades) e dai reage aos tzagos fonéticos que lhe parece mais afastados dos seus proptios, e por isso mais facil- mente definidores de um falante de determinado dialecto, Sio eres tra- 08 que se examinam a seguir: 1. O primeieo, a que Lindley Cintra chama, usando uma expressio ccoloquial «a tz0ca do v pelo bo, corzesponde no mapa a uma regio (Constituda pelo sul de Teis-os-Montes, as duas Beirasintesiore, a Estremadura, o Ribatejo, o Alentejo ¢ 0 Algarve), onde os fonemas Iabiais /v/ e /b/ sio claramente distinguidos, a qual se opde a re gio setentrional (constituida pelo Minho, pelo norte de Tris-os “Montes, pelo Douro e pela Beisa Litoral), onde esses dois fonemas dificilmente se distinguem um do outro, fundindo-se normalmente ‘num tinico /b/, oclusiva com articulagio ficatizads (B. 2. © segundo tmago é aquele que, aa exporigio sumasin da Nona Gra ‘ica, desempenka o papel principal, oa sea, o de grande taco di- ferenciador dos dialectos do Norte contra os dislectos do Ceatzo Sol: «a proniincia de $ como x ou como jp. O tragado da respectiva fronteira ji foi desesito algumas paginas ats. Interessa ler, a rs- peito deste tracado, a nota 29, que se encontza na p. 94, em que Lindley Cintra longa e clarumente expliea a histra das sibilantes Introdusao a Histéria do Pormgués pportuguesas, que podemos resuir como se segue: o Iatim depositou ‘ho galego-portugués, em todo o teritirio, uma distineZo entre as sibilantes provenientes do $ latino, consoahte que era apenas surda ‘mas que, fa evolugio posterior do latim fala, se desdobrou numa ‘comresponciente sonora, igualmente grafada com S, mas que comes. pponde ao fonema /2/ quando se enconta em posigio intervocilica Este par, de /s/ sundo ¢ /2/ sonoro, ema asticulado durante 0 porte ‘gués medieval como feicativo ‘pico-alveolar, possivelmente powco Palatalizado. Por outto lado, no portugués medieval havia um par de ‘consoantes derivadas de vitios sons latinos, mas peineipalmente do , pronunciado [k]. Esta consoante, quando seguida de vogal palatal {e} ow fi, transformara-se numa afticada palatal [if], que se mantém ‘linda hoje em italiano, a qual despalatalizou para uma africada pre- dorso-dental {ts}, por sua vez desdobrada numa correspondente s0- nota (dz. No portugués medieval, este par (s] / [dz], que corzes- ppondia is grafias ¢ ez, com a variate ¢ para as surdss, sofreu um ‘esafticamento (com perda do elemento oclusive) e fxou-se no pat de frcativas predorso-dentais /s/ ¢ /2/, fonologicamente distintas das épico-alveolares /s/ ¢ //. Assim, era muito fil distinguir pela promiincia e pela escrita as palavras serv (criado) e caver (costuras) de ‘evo (veado) e cazer (covinhas). Enquanto as primeiras tinham pro- avincia apical, as sibilantes de cro ¢ rzer exam predorsais Foi nos dialectos do sul de Portugal que teve inicio uma tansfor- ‘magio, durante a Idade Média, conhecida com o nome de sesseio (CE nota 44 da Nona Prpasta). O sesseio consiste na confusio entre as sbilantes spicais © predorsais, seguida da tansformacio das api- ‘ais em predorsas, ou, dito de outra mancira,o desapazecimento das apicais, passando as palavras que contiaham sibilantes apicais a ser produzidas com consoantes presorso-dentas. © sesseio general zow-se no sul de Portugal foi acolhido no porcugués padiio. Hoje ‘ocupa todo o territrio até a iséfona de que jé falamos, que tem inicio na costa, em Aveito, e que obliquamente atravessa Portugal até Castelo Branco. A norte desta is6fona assistimos & conservacto da sibilante apical, mas no do mesmo modo em toda essa vasta regio. No Minho litoral, na Beira Alta ¢ na parte ocidental de Tsis- -osMontes observa-se 0 fendmeno inverso a0 sesicio centzo- meridional, pois sio as sibilantes predorsais que se desaparecem € se fundem nas siblantes apicais. No norte e notdeste de Tsis-os- “Monies, talvez a mais conservadora regiio dentro do sistema dialectal portogués, a fusio ent sibilantes apicais e predorsais nio se produz. Conserva-se ai o sistema medieval quase intacto, com as suas quatro sibilantes: duas apicais e duas predorsus ‘Tersitérios © Comunidades Lingulsticas 2» 3.0 terceito tago fonético diferenciador, designado por Cintra «proniincia do ch como #x ou teh, denuncia a permanéneia do ttago mais conservador da fonologia portuguesa, o fonema /1f/. A “nica africada que subsiste no terntério portugués ocupa uma Area ‘vito semelhante a da conservagio das apicais, com uma significa- tiva exclusio de toda a faixalitoral do Minho ¢ do Douro, ou se}, 4 regiio entre Viana do Castelo, Braga e Porto, que, como ji vic mos, conserva a feicativa apical, mas nio esta aticada /tf/, apro- simando-se nisto dos dialectos do centzo e sul, onde a afncada de- saparecen © 0 grupo ch corresponds a promincia da palatal /{/ (Ou seja, a regido de permanéncia da afviceda € apenas o interio: das montanhas do Alto Minho, de Trés-os-Montes e das duas Beiras Se a coincidéncia geogrifica entre este fenémeno € o das apicais é signifcativa, jé a sua histéria Zo exibe idéntico paralelismo. De facto, 0 que temos no portugués medieval é uma oposigio entre ois fonemas: a africada palatal surda ch, /1f/ contra a ficativa palatal surda x, /f/. A historia desta fticatva palatal /J/ € comple- xa € pouco produtiva em portugués: quer isto dizer que a con- soante, proveniente de virias fontes etimolépicas do latim, ocorria ‘em poucos contextos medievais. Mais frequente era a africada /tf/, ‘gual se encontra em galego e em poztugués como evolugio pri vativa de grupos consoninticos iniciais com 1: PL- (PLUVIA), CL- (CLAVE), FL- (FLAMOMA). Estes ts grupos tivertm em galego ~portugués uma evolucio peculiar, que terminow na afrcada /tf/, a yual ctimologicamente nada tinha a ver com 0 seu par sono: Fat qu 1 produrido or vas totalmente diversas Durante toda a Kade Média, ¢ no periodo clissco até 20 séc. XVIII, existin uma perfeita distingio no portugués entre as pro- smincias de palavras com /t{/, que soava como afficada, e de pala- vias com /f/, de realizacio fricativa. Foi também no portugués do sul do pais que teve inicio o desaparecimento da afticada e a sua substituigio por /f/. E uma inovagio relaivamente tarda, registada no portugués padsio de Lisboa a partir de meados do séc XVILL Dai para c4, progredin dialectalmente para 0 norte e, hoje, ‘como vemos, atingit as regides mais modemnizadas e urbanizadas do Minho, que io s do ioral 4, O quarto trago € 0 da proniincia do ditongo ou, no norte realizado como /ow/ ou como /ew/. Esta prontincia mais conservadora fencontra:se numa regio que corresponde a0 Minho, a Tris-os- “Montes ¢ 20 Douro litoral, podendo dizer-se que, para sul, o di- % Inteodugdo a Histéria do Portugués tongo ou nio é conservado e sofreu uma monotongacio, catacte- risticn do padtio, Os tragos que vimos até agora tém todos eles algo em comum: ne- ‘nhum se encontra representado no portugués padrio, o qual adopta sempre a solugio mais inovadora, arigindtia dos dialectos do Sul. Pode assim dizer-se que, em relacio a estes quatro pontos, nio hé qualquer distingio entre o portugués padrio ¢ os dialectos centxo-meridianais. O ‘mesmo nfo acontece em telago 20 quinto tza¢o. 5. B aquele que distingue a conservagio e a monotongseio do diton- {0 €1 Fste ditongo ¢ conservado numa regio elativamente ampla, constituida pelo Minho, por Tris-os-Montes, pela Beira Litoral e pel Beira Alt, © por grande parte da Estremadura, descendo até a0 norte de Lisboa. Ao contratio dos tragos anteriores, que eram privativos do norte, este ditongo é tipico tanto dos dialectos seten- ttionais quanto dos centras. Mas é sobretudo importante para dis tinguir entre um falante do padsio e qualquer outro das éreas me- ridionais, os quais, como vimos, habitualmente coineidem. A ver- dade & que 0 padiio, tendo acompanhado os dialectos do sul na monotongacio de ou, nao fez o mesmo a monotongacio de ei, preferindo manter 0 ditongo difereaciado como /ej/. ‘Tragos fonéticos diferenciadores Dialectos | Galegos | “Setente | Centro-merid, | Tnnulares be veh ow ee ize a> f vos Hom = e = bert = = a +fefefefet 243 ‘Uma vez examinados os tragos fonéticos diferenciadores que constituem © centro da Nona Propusta (de que foram omitides 0s tagos telativos sos dlalectos galegos), passatemos & segunda parte deste atigo, a qual & dedi- cada & compartimentagio interna das regiGes dialects. Assim, a partir da p. 104, Lindley Cintra descreve as fronciras que servem de dvisiaen- tre os grandes grupos dialects entre 0 grupo galego e 0 propo seten- tional entre este co cento-metional, Em sepia, centast em cada uum desses grupos e prope um cero imero’ de compatumentagbes dialects interna. E.0 que se pass da . 108 até a0 fim do ago. Para tal recorre a tragos foniicos que nio fazem pare do clenco que exe. tnindtnos, por setem paiva ‘os de uma regio © no terem, portant, E preciso notar, no que respeita 20 parigrafo dedicado ao galego (pp. 108-109), que Lindley Cintra distingue dois grupos de dialectos galegos sepazdor por uma linha que corre de Norte a Sul, atraveccando a Galiza aptoximadamente ao centro. Esta divisio basein-se nos trabalhos de A. Zamora Vicente, sobretudo a sua Dialecolya espaola, de 1963. Os cor- sideriveis avangos da dialectologia galega nos ilkimos anos apontam, no entanto, para a existéncia de uma zona dialectal intermédia, por vezes ‘muito extensa, que separa o galego interior do galego atlintico, ¢ que com- partilha de alguns tragos dos dois, sem confundir-se com nenhum dels, 244 E agor altura de regressar is paginas iniciais do attigo (pp. 81-99). Nelas se encontra uma pequena histéria da dialectologia portuguesa desde 0 seu comego (nas palavras do préprio autor): wdesde 1893, ano em que 0 tundador da dialectologia cientifiea em Portugal apresentou pela primeita vez 0 seu mapa dialectoldgico do portugués continental, até 1970, ou Seja, 0 ano da formulagio da Nout Proposta. Lindley Cintza records 03 rincipais trabalhos de sintese realizados cm dialectologia portuguesa, © que resultaram em propostas globais de classificagio dos dilectos, f- zendo criticas tendentes 2 justificar a necessidade da sua propria e deba- tendo problemas de metodologia da pesquisa ¢ classificacéo dialectal com particular rigor. Fssas propostas anteriores sto: 2) © mapa dialectolégico de Leite de Vasconcellos, publicado pela primeira vez em 1883; 4) classticagio dos dialectos, nao acompanhada de mapa, feta por Leite de Vasconcellos na Esguisse d'une dialectolgic portugaie (1901), 9 ercin propos do mame autor, de 1929, public nom Op cules, ol. 1 4) 0 Mapa dos dialects + falares de Portugal continental de Manuel de Paiva Béleo e Maria Helena Santos Silva, apresentado em 1961; 4) 0 capitulo dedicado 4 dialectologia portuguesa na Gravedica Ports. tesa de Pilar Vizquez Cuesta € Maria Albertina Mendes da Luz. As eriticas de Cintra dtigiam-se a 2. edigio desta gramitica, publi- 28 Introdugao & Histéria do Portugués cada em 1961; mas, tendo sido por ele comunicadas a primeira das autoras, foram tidas em conta, estando na origem de consideriveis alteragdes que ela inttoduziu na 3.* edicio (Madrid, 1971), teaduzi- a para portugués. Quem hoje consultar a Gramatica Portuguesa a0 encontrard ela razio para a maior parte das observacdes de Lindley Cintra. 24.5 As ilhas portuguesas do Atlintico (arquipélagos de Madeira ¢ Acores) Pouco destaque mereceram da Nova Proposta. Cintra dedicou-lhes mais tarde uma meneio breve na Nova Gramatica, mas a mais exacta descticao, em obras de conjunto, encontra-se em Luisa Segura e Joao Saramago (2001: 228-230). Os dialectos insulares caracterizam-se pela auséncia das marcas setentrionais do Continente ¢ distinguem-se entre si por alguns tacos particulares. Madeira: 4) a vogal {i] tonica ditonga pata [ef] ou [oj: assim, navio tanto pode soar [ne'veju] como [ne'vajul; 2) IMI precedido de i palataliza: sila soa [vise] ou, com a ditongacio, (wejte]. Agores: na ilha de Sio Miguel, o vocalismo t6nico sofre uma mudanga geral, gue tem afinidades com os dialectos do Algarve ocidental e da regiio de Portalegre-Castelo Branco. Sio mais destaciveis a palatalizagio de [uj em [y], semelhante ao w francés, e a velatizacio de [a] aberto em fp]; 4) na Terceira, esti generalizado um trago que também aparece noutras iihas ¢ mesmo na Madeita: trata-se de uma harmonizagio vociliea que tansforma a vogal ténica em ditongo crescente, quando na silaba anterior se encontra um / ou um x A semivogal coincide em timbte com a vogal precedente: 9 carr soars {a kwaktu), mas mi carer sera [mil ‘kjaRuf]

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