You are on page 1of 44
( Ma EA) cr ‘ ne EDITORIAL ° HA uma grande dificuldade, dentro deste nosso dia adla, em parar e penear H a reepelto de certas colsas. As vezes, pensar nem acontece, ou seja, refletir sobre r algo. Na presea de ir e vir de nossas atividades, nao olhamos com mais atengao pela janela dos énibus, no sentamos em uma praga apenas para contemplar c um chafariz, néo entramos em uma igreja para observar a historia impregnada em suas alfaias. Na escola, decoramos as formulas de matemética, fisica @ Hl quimica, e as datas histéricas. Despejamos os contetidos nas avallacbes, para | ogo depois os esquecer. A historia ensinada na escola é, diga-se de passage, apenas uma pincelada geral. Mas e quanto as nossas raizes, nossa cultura, nossa Identidade? A histéria que nao é revelada, decorada ou contada? Era uma vez uma menina que ndo conhecia a sua cidade. Apesar de jamale ter I “caldo efetivamente de lé, caminhava como Gega por euas ruas, sem vé-las, e I. sequer conhecla 08 seus nomes. Ela crésceu, entrou na escola e muito aprendeu da histéria do mundo. Em seu tempo, Ingréssou na universidade, e teve acesso aos estudos da teoria da arte e da filogofia. Na sua peculiar pratica artistica I voltada para as histérias em quadrinhos, criava mundos Imagindrios alnda [0 alhelos & sua prépria realidade, ou sela, era Incapaz de aprofundar as raizes de ua prépria origem, focando na origem de outras colsas. Um dia, casualmente tomou em maos um livro que falava sobre a sua cidade, Recife: ARRUAR, de autoria.de Mario Sette. Sua.viedo clareou. Ela leu outro.e mals outro, de todos aqueles célebres autores: Gilberto Freyre, Flévio Guerra, Vanildo Bezerra, entre tantos mais. Escritores incriveis que amaram intensamente esta terra - Pernambucana. Entéo, 0 que comegou como um movimento inconsciente, cresceu, e 4 virou AMOR. Amor por Recife. Felas suas lendas, sua realidade. Platéo afirmou que:"Ninguém ama ou respeita o que ndo'admira’. Esta é uma obra firmada e afirmada no respeito e admiracao, no orgulho ena pernambucanidade;P} suas bases 6&0 sélidas, seu interesse & sincero. iE O univereo em expansdo que fol desenvolvido usando 68"dados histéricos, Fatos \ pitorescos e imagindrio popular tem o intulto de trazer a todos o conhecimento dquirido ao longo dos anos de pesquisa sobre a cidade do Recife, abarcando 0 estado de Pernambuco. Nossa meta e ambigdo é a de despertar este amor pelas raizes em todos e cada um dos recifenses, dos pernambucanos. Trazer, aluzdos ) quadrinhos, de forma dindmica, o saber histérico, para que estes cldadaoe tenham |i a oportunidade de amar mais profundamente , respeltar e admirar o lugar aonde | __ROBERTA CIRNE SS SOMBRAS DO RECIFE VOLUME | PESQUISA, ARGUMENTO E ARTE : ROBERTA CIRNE Ces é SE SOMOS A SOMA DAS CINCO PESSOAS MAIS IMPORTANTES NA NOSSA VIDA, ENTAO DEVO TUDO QUE SOU A ELES. DEDICO ESTE LIVRO AOS MEUS PAIS, ZENIR T. CARDOSO CIRNE E HYLLO DA COSTA CIRNE. AO MEU AMADO ESPOSO PEDRO PONZO, E AOS MEUS FILHOS GIOVANNI E LORENA VALQUIRIA, A EMPAREDADA DA RUA NOVA E OUTRAS LENDAS DE UM RECIFE DE SOMBRAS. um fato real. Sobraviveu por muito tempo como lenda de terror. O grande escritor das cores pitorescas do Recife, Carneiro vilela, ent do se baseou nela ae ara compor o seu folhetim. A obra fol publicada em capitulos, entre 1904 e 1712, no aay | “JORNAL PEQUENO’, que circulava entao em Recife e Pernambuco. Retrata com muita vivacidade a sociedade recifense da segunda metade do século XIX, apresentando uma série de cenas em que aparecem os costumes, as festividades, 0 casamento, a Bi condicao feminina,o lazer, a escravidao,a marginalidade e outros aspectos importantes da cultura local. Um ratrato fiel do Recife de 1850-1240. A histéria em quadrinhos se basela nesta obra renomada, mas traz também outras jssombracées nao de um Recife velho, mas de um Recife novo e renovado, onde os monstros espreitam, em busca de uma oportunidade para atacar. Ima das assombragées recifenses abordadas na Historia em Quadrinhos é o FAPA-FIGO. Trata-se, basicamente, de um monstro que se alimenta do figado de criancas, para se manter. Falaremos mais sobre ele em uma préxima edigao. Visconde de 6. Fol uma figura real, que obteve seu “grau'' de assombracao péstuma. Era militar e bastante rigido. Apés seu falecimento, muito foi dito sobre ele, principalmente em ‘ela¢do aos maus tratos para com seus escravos. Conta a lenda que ele costumava torturar ‘everamente os negros da casa, e até mesmo maté-los. Estes escravos que morriam, ele os enterrava sob as roseiras de sua mansdo. Nao havia rosas mais belas que as cultivadas pelo Visconde de &... Rosas grandes e opulentas, de pétalas pesadas. Nascidas do sangue e sofrimento dos escravos abatidos. A mando do Visconde de S. permaneceu ao longo dos séculos, ¢ a estrada onde ficava, hoje é uma avenida e leva o seu nome. Era uma casa amaldicoada, e nada 4 vingava. Ninguém a queria alugar. Por algum tempo foi uma Fabrica de tecidos, e agora est4 em ruinas. Mais uma casa aseombrada do Recife. V\ Outras assombragées aparecem nos quadrinhos, mas estas serdo apresentadas uma auma, e suas histérias serao contadas, aos poucos. A HQ é também baseada no livro" A Presenca Dela’, disponivel no site SOMBRAS DO ERECIFE. na sua versdo beta, e traz uma nova viséo destas assombragées. Em um universo [RL vinico, recriando, explorando 0 espago urbano do Recife. A cidade é apresentada como By parte de toda a histéria, um personagem da obra em si. O Rio capibaribe, a Rua Nova, ¢ BAU alguns cendrios serao mostrados para o leitor, com reconstituigao histérica acurada e extremamente pesquisada. Nao mais uma terra ensolarada e clara, de praia e alegria: Um Recife gotico, sombrio e aseombrado por viedes de espectros é revelado, em um convite mudo para enfrentar seus temores male profundos. Traneponha o umbral...Deixe se levar pelas maos ao terror das SOMBRAS DO RECIFE. z - es 5 "POR SECULOS, O CAPIBARIBE ESTA LA SUAS AGUAS. DENSAS, SEMPRE TESTEMUNHAS DE ALEGRIAS, MAS TAMBEM DE MUITAS TRISTEZAS E DESGRACAS. NESTA PARTICULAR NOITE , D0 ANO DE NOSSO ‘SENHOR DE 1860, 0 RIO QUE CORTA O CORACAO DO RECIFE SERA MAIS UMA VEZ JUIZ, JURI E CARRASCO DE UMA TRAGEDIA, PRESTES A SE DESCORTINAR.” "“E, EM TODA A RUA, APENAS UMA DAS CASAS MARIA NOM DE SUG ANTON DENA ExBROCR SAIS MEE TENE LUZ PODENED OE GETOG GEBEMEARCAM NOD OMBROS DE NEGROS: JANELAS. NINGUEM DA VIZINHANCA PARECE 2c mrorne T0008 bomen 0 30K0 Bos SiSTO8 SE Gon CROTNA EAS FREALMENTE ACREDITAM [QUE VAO SAIR VIVOS ESTA? vOcES, QUE ARRASTARAM O MEU NOME NA LAMA? BEATRIZ, OLHE 0. QUE IQUE CALMA, TUDO VAT (OCE CAUSOLI NESTE DESATINO, EU PROMETO, EU.. PERDOE-ME, MEU QUERIDO! A CULPA E TODA MINHA, EU SINTO TANTO, TANTO! ‘TRASTE E DEEM FIM A ELE. NEM (ME DIGAM ONDE JOGARAO 0 @. “BASTARDO, NAO QUERO SABER." BEM MAIS FALSAS: ¢ *NOME DE DEUS... LEVEM ESTE) PROMESEASI vocE, BEATRIZ, TAMBEM OU IRA SE VER COMIGO. DEGAPARECERA DE MINHAS VISTAS..MAS, EM NOME DE DEUS, ‘AO CONTRARIO DO IMUNDO CAIXEIRO DE LOJA ‘NAO! BEATRIZ, MEL a ‘COM 0 QUAL SE DEITOU,JOGANDO MINHA ‘AMOR, VOLTARE! PARA. VRAGEN: ‘vocér? NAO E MAIS: "A MINHA FLHA. E APENAS UMA | ,. Janeues Boniconmeno EAGORA FOR GIA CASAR COM ALGUEM RESPEITAVEL. J CAINEIRO VAO MORRER DE NADA ME SERVE, E ESTARA q] "POR FAVOR, PAPA\, VOCE NAO PODE ME MATARI EU SOU SUA JRC FILHA, PELO AMOR ae 'NAO, POR FAVOR, EU SUPLICOS NAO ME DEIKE AQUI PARA MORRER il NAO CONSIGO RESPIRAR /OR, POR FAVOR! DEUS! ESTE ‘SONHO HORRIVEL DDE Novo il PODE DEWKAR, MAE! EU COMO PEGAMOS 0 MESMO ONIBUS, E ELA SEQUER NOTOU. “ 0 MOMENTO CHEGOU, NAO HA MAIS TEMPO. AQUI, NESTA HORA. MAS NAO POSSO MAIS ESPERAR” ay 2 a ’BEPOIS DA AULA "BORK NO BARZINHO, TOMAR ‘ABRACO, QUE EU UMA, JOGAR UMA PARA ESTABELECER CONTATO. NAQce NAO TE VEJO DESDE f "| [© TENHO ESCOLHA, NO MOMENTO." _ ESTES SONHOS ‘QUE VOCE TEM, DESDE CRIANCAN (0 SAO MERAMENTE SONHOS, H \ NM | My ) . Ni (Bau \ Voce... QUEM. (COMO SABE MEU NOME? QUE 1550 SIGNIFCA, ME PEK i, I) ’0S MONSTROS. NAO exisem!_)) eae! Coes) tN err) UMA PARTE ADORMECIDA DE Oe Nao ) ey Se taad sar) Comey aga na Cored ae : eee taees ROW Nas wS ; 2%) Cees err ane eet Z. gre. cae daeaa owe ere tea) Valdemar é calmo e pacato. Nunca foi um homem romAntico ou passional, até porque\ a beleza nao 0 agraciou; Poucas mulheres langaram olhares para a sua figura. Solteirg . mais por falta de opeao que por vontade, sempre trabalhou em pequenos empregos.. Foi contratado pela Ferro-Carril em 1907, como motorista de bonde de burros... Nao recebia muito, mas era o suficiente para se manter. Levava uma vida comum. Tudo estava mais ou menos normal, quando ele encontrou, nas noites do Recife, em um| delirio alcodlico, a bela Guilhermina. Pela primeira vez na vida, Um mulher 0 olhou com ui rto interesse, e Valdemar se sentiu lisongeado. Sendo um homem simples de conhecimentos e sem maldades, Valdemar se vé preso na trama de Guilhermina. eee acredita que ela fala a verdade. Este é 0 comeco de GUILHERMINA Guilhermina é uma mulher moderna, para 1913. Sempre fol bastante gananciosa> e usava seus artificios para conseguir dos pais tudo o que queria. Casou bem nova, com um amigo do pai e por dinheiro. O marido, bom e idoso, dava a ela uma existéncia confortavel. Mas nao t4o confortavel quanto ela desejava. Ingatiefeita com a vida de dona de casa, Mina comegou a buscar aventuras fora das vistas do marido nas noites recifenses. Era seu costume fugir para encontrar os amantes. Uma bela noite, conheceu Valdemar. Percebeu que poderia usé-lo. Vaidosa, jovem, inconsequente e leviana. Charmosa, traidora, bonita e sagaz. Uma aranha multicor que tece a tela ao redor de sua vitima... e a pobre vitima #6 percebe a armadilha quando nao ha mais escapatéria. Hélio é bonito, jovem e extremamente ambicioso. Orfao,logo aprendeu que seria preciso lutar com unhas e dentes para conseguir subir na vida. Se criou pelo centro do Recife, batendo carteiras. Seu belo rosto logo foi notado pelas mulheres da videQ noturna, e entao o pequeno ladrao se tornou primeiramente gigolé, e em seguida, cafetao. Sempre conseguia dinheiro,meemo que fosse precieo matar para isto. E Hélio 0 fez, varias e varias vezes . Foi o horror e a face da morte para muitos, Frequentador da vida boémia do Recife, Hélio continua no ramo da prostituicéo; Logo descobre um bom lucro no recém chegado jogo do bicho, e faz seu quartel general no Café Continental, de onde recebe os lucros de seus paseadores de jogo. Nao mede esfor¢os para conseguir o que quer, e é capaz de fazer tudo para proteger, sua vida e seu dinheiro. pSRUIM, E FAZER O CARO LEITOR ABANDONAR™ ESTA MINHA HISTORIA, EU ME PERGUNTO \ FREQUENTEMENTE... QUE SERA QUE @, b” NOS POE, POR ASSIM DIZER, NO CANTO Gi ssl i. Mesa [ina hs ‘QUANDO EU ERA VIVO, TUDO 1A LENTO, SRE E1ETROBURROO NA VELOCIDADE DO CARRO DE BURROS, iy f MOTORSTA DE BONDE De eURRCS. FT leet: 'PATETA NADA, VOCE VERDADE, ! 0 SENHOR TEM EUM BOM RAPAZ! FOSFOROS Al PARA EMPRESTAR? SRIGADO. £ POR PASGAGEIROS “FEITO" O SENHOR QUE VALE A PENA TRABALHAR ASSIM | ‘AQ ANOITECER, EU DEIKAVA 0 BONDE. = POR FIM, VOLTAVA PARA CASA PELA PONTE DO. IMOEIRO. AO LONGE JA PODIA VER A LUZ 00S ESTABULOS DA FERRO-CARRIL" ~ PATE AMANHA, | GERVASIO! CUIDA D0 TRUPICO D0 TROPECO OR MIMI “VER A MOCA’, HEIN? EITA QUE TU PESCOU' UM "PEIKAO" MAIOR QUE OS MEUS, RAPAZ I Hose eu vou HE HE VER A MOCA | Je BANHO, USAR AGUA, DE COLONIA. "BEM, DESDE 0 IiCIO DAS MUDANCAB>) Y”°LOGO, LOGO RECIFE VAI ESTAR TOD) [> No PORTO QUE SE ESTA FALANDO EM "\\yMODERNA, GALCADA, SEM MOCAMBOS, CACABAR COM OS MOCAMBOS, E RELOCARSD E AS PESSOAS VAO QUERER ANDAR EM ge) bs CARROS ELEGANTES, SERA 0 FM 005 {BONDES DE BURRO, PELO MENOS FOI 0. GUE EU OUM. TAMOS MAIS LASCADOS UE ESSA MINHOCA AQUI” (ovo, NAO. SE ALGUM DIA 1580 ‘ACONTECER, EU COMEGO A ME PREOCUPAR. MAS. 50 ENTAO, ‘MAS FOI O QUE EU ‘A GUILHERMINA. BOA ESCA All (QUERIA VER GABOGA: ‘SE ESSA GENTE TAMBEM, EU_SENTI QUANDO TE Vi EM CARIRII., — CANINE! PELA ESCURA RUA DA AURORA ‘ATE 0 LOCAL 00 ENCONTRO AMOROEO. AE] VEZES, 0 TRILHO DO BONDE DESVIA PARA OUTRA ROTA... GUILHERMINA FO! COMO E VELOCIDADE NUNCA EXPERIMENTADO: SY <) ) ii FESPERA...VOCE ESTA BEM? QUE OLNO ROXO E ESTE? MALDITO OUSOU LHE BATER DE NOVO 2 PERNAS, SEMPRE AFIRMANDO A VIOLENCIA DO MARIDO. A SITUAGAO FICAVA MAIS INSUSTENTAVEL. AO MEMO TEMPO, ADERBAL INSISTIA NAS CONVERSAS SOBRE A MODERNIZACAO DA CIDADE, E ISTO ME ABRIU 05 OLHOS PARA TODAS AS MUDANCAS AO MEU REDOR. FO! EM UM DOMINGO,PASSEANDO PELO PORTO, QUE TOMEI TOTAL CONSCIENCIA DAS DEMOLICOES, ‘DA CONSTRUGAO DE UM NOVO RECIFE. ERA 0 FUTURO CHEGANDO, E 0 FUTURO SEMPRE E IMPLACAVEL COM O QUE E VELHO." SEGUNDA, INDO A FERRO-CARRIL PARA PE a BONDE, OBSERVEI A PRACA DO DIARIO: CARROS DE; EIDE TA RUA, AMICI ‘ANDE NAS A SITUACAO COMPLICOU. TRABALHAR COM ELETROBURROS ESTA SENDON EU PRECIGAREI DE DESFAVORAVEL FINANCEIRAMENTE \ | ((MOTORISTAS MAIS QUALIFICADOSS PARA MIM. MUDAREI 0 FOCO,E _) |\E INFELIZMENTE 0 SENHOR NAO SE LUSAREI AGORA BONDES ELETRICOS! 7S RES 6 ni "SEU" SAMPAIO -MANDOU ME PRS S MS CHAMAR? AE Redeye ND oR KOs Dee We ALEDST ne aan S Ra IAN OPN SIRS 7 RINE i Ne ‘AFASTAR DE VOCE POR UM TEMPO! MEU MARIDO COMECOU A DESCONFIAR DE NOSSO CASO, Yj PERO! MEU EMPREGO, A MAS... VOU DAR UM JEITO EM TUDO, , NO OUTRO DIA, SEM DORM, FUI AO CAFE CONTINENTAL ERA 0 FUNDO DO POCO. MINA ROMPENDO COMIGO, EU<=: PSENHOR, AGU ove? ESTA SUA GASOSA GASTAR DINHEIRO FRATELL| VITTAL EM UM ALMANAQUE TICO-TICO QUE EM ——_ "AH, EUM JOGO 060 DO BICHON Bred cue onsos eso 4 ‘Ad, ANTONIO, TEM i NOS CONTOS FOSFORO Al? x ‘DE REIS! PRECISO FALAR COM VOCE HOJE! (E ENCONTRE NA PRAGA MACIEL AQUI ESTOL VALDEMAR. ESPERO QUE DAHA PENA) ‘MEU DOCINHO, CUIDADO COM AS PEDRAS |_A CONSEGUIA...BATER fi -M VOCE? COMO FARE] O QUE VOCE QUER. Ka CULHERMINA vena veR voce ‘TOMEI UMA DECISAQ, MARAVILHOSO, VAMOS: FICAR JUNTOS! ESCUTA, NAO NOS MACHUQUEI SOU 50g UM VELHO! CASAR VOU DAR O DINHEIRO PARA COMECAR 0 NEGOCIO SM BANDIDO. E ELA NAO CONSEGURA 'VER-LHE A FACE, LAGRIMAS E FALSA MINHA SENHORA.. DEIKE-ME DINHEIRO INVEBTIDO DUPLICi MUNDO ACREDITA QUE, NO JOG BICHEIRO, 0 BURRO, "0 RESTO DA HERANCA DELA NAO ERA MUITO, MAS DEU PARA. IINGRESSAR NA RODA DE JOGO 00) BICHO. A PRIMEIRA COISA QUE FIZ FOI CONTRATAR O5 BICHEIROS QUE: TRABALHAVAM FARA HELIO PELO DE AGORA EM DIANTE SERA BOCA DE "BOMOS, DARLING: NA BOCHECHA, ‘COMUNHAO DE COMO CONVEM EM PUBLICO! Se "FREQUENTAVAMOS ALTAS RODAS, FESTAS CHIQUES DA SOCIEDADE, EVENTOS: FILANTROPICOS, GUILHERMINA USAVA PELES E ANDAVA DE CADILLAC. MAS O CAFE CONTINENTAL ERA O NOSSO ESCRITORI. APEGAR DE O AMBIENTE SER fF \y Ss ‘OU ACHAVA QUE ADMINISTRAVA. EU NAO. =TINHA PERCEBIDO QUE, PARA MINA, 0 JOGO¢ (DE SEDUCAO RECOMECARA. COM QUTRO.". DEVO DINERO | EU GANHEII00 VEZES MASI DESCOBR! QUE ELE QUER b PARA COMECAR EU QUE GANHEI MEU ‘SUBORNAR 05 MEUS DINHEIRO, PASSANDO, er ie [DINHEIRO, VALDEMAR LEMBRE-SE DA ‘COMUNHAO AINA, POR FAVOR | NAO VAN PARA COM ISSO. VALDEMARI EU VOU ESSE CIGARRO Al, "BOCA". VOCE PARECE UM IDIOTA, ‘ANSELMO! VOU PEGAR CHEGOU O FEU DIA, EIN, VALDEMAR\ ‘MEU VELHO? VAMOS DAR] ‘UMA ULTIMA VOLTINHA, PARA "REFRESCARY A CRUZ 00 PATRAO...D0 OUTRO LADO DO RIO CAPIBARIBE, DAVA. PARA VER MEU ANTIGO MOCAMBO' NA RUA DA AURORA. E HAVIA UMA ‘LUZ ACESA NA CASA DE ADERBAL EU NUNCA DEVERIA TER SAID0 DE LA, NEM TER ACREDITADO EM GUILHERMINA. ELA ME TRAIRAY, Que E 18807 NAO PODE ME MATAR, (0 MAR BICHEIRO RECIFE! ‘ACHA QUE "VAI SER FACIL ASSIM? vocé ROUBOU MEU PONTO! MEUS BANQUEIRO ELES ME LEVARAM PARA O LUGAR, emma MAIS ERMO E ASSOMBRADO 00 RECIFE, ONDE APENAS ESPIRITOS ROUSAVAM FICAR: A CRUZ 00 PATRAQ: NO CAPIBARIBE. SEM DENTES, SE |QUIETO, MEU CORPO REPOUSAVA NO FUNDO DAS \ ENTERRO, FLORES, NEM NADA. ‘AGUAS, QUASE DUAS SEMANAS, A LUZ DA LUA E ENQUANTO EU AFUNDAYAMINA A SOMBRA DA LUGUBRE CRUZ 00 PATRAO.. "MEU CORPO MORRERA, MAS MEU ~ =60I0, NAO. ELE CRESCIA, E CRESCIA'= 18 DIAS NOS MANGUES DO CAPIBARIBE, SERVINDO DE »E ESTE NOVO HOMEM, RENASCIDO, 120 RIO, MORTO, OU VIVO." TA MADRUGADA. UM CABAL. ESCRITG) OE ALUGUEL 00 CAFE CONTINENTAL iy Me HELIO. F7 evsAsever ‘VALDEMAR??! i aes DocINHo? ONDE VOCE estar TUDO, BEM? FUI OBRIGADA, EU ‘AINDA AMO voce, oe ay MENTIROSA, PTs 4 QUANDO 0 MATAMOS NO CORACAQ. ENTAO, EU, NAQUELA MADRUGADA, MATE] GUILHERMINA DUAS VEZES:" "UIGARAM 0 MEU DINHEIRO PARA COMPRAK Q F eel ts A TORRE MALAKOFF, RECIFE. 1 Mnnxwama NAMORAAAAAAAA...© Hic « AJ aaa eta a ea eer aaa Cane! Ore ae ceo eal coe ‘Moco? ESTA ESTA BEM? CONSEGUE SE CONDUZIU A UM QUTRO CAMINHO, E A UM OUTRO DESTINO. NAO SAI DA VIDA PARA ENTRAR NA HISTORIA, COMO AQUELE OUTRO ILUSTRE DEFUNTO, NAO. NAO EU, MEUS AMIGOS E AMIGAS... NAO, NAO, 7 EU VIUM.MONSTRO, /MEIO PODRE, COM DENTES' OURADOSI GUERIA QUE U SAI DA VIDA FARA VIRAR LENDA! 3, BOCA DE OURO: A LENDA POR TRAS DE TUDO ay es (un Uf Esta lenda Recifense tem similaridades em outras regides do Brasil, e oN | quero acreditar que possul outras culturas estrangeiras amalgamadas, we como a do terror dos mortos-vivos do Haiti, ou mesmo o tradicional zumbi. A histéria original se pasea no Recife nos inicios do século XX. Alta madrugada, um homem solitério anda pelas ruas, cantando odes & lua, Esté um tanto quanto alcoolizado, e curtindo a noite, em busca de eal) diversdo. Quigd encontre uma dama de vida facil e desacompanhada, que qi | 0 possa entreter. Passar o resto da madrugada em uma boa companhia Feminina seria uma excelente ideia. Do nada, de repente, uma figura de um homem nas sombras surge na sua frente. Era um homem bem estranho, todo encapuzado e com um chapéu que ocultava suas feicdes. O homem sinistro pede entdo que o pobre bébado acenda o seu cigarro. Ao se aproximar para ceder o lume, 0 misterioso ser revela sua face. Um cadaver apodrecido, a pele arroxeada, com vermes caindo das cavidades e olhos amarelados. Na sua boca, de um halito putrefato, ele traz uma dentadura toda de ouro. O monstro sori, e 0 bébado percebe que esté diante de uma assombragao. O terror domina 0 seu coragao. mais na frente, 0 monstro o aguarda, como que se materializando magi- camente. O homem, gritando, corre na outra diregdo,mas outra vez 0 monstro 0 aguarda, pedindo fogo para seu cigarro. Isto acontece algu~ mas vezes, sem conta. O pobre homem termina desmaiando de medo é KX fertor. E2 riso da madonha aparicdo ressoa pelae nics vaciee do S\. Recife adormecido na madrugada. Boca de Ouro fazia mais uma vitima de suas chacotas. No dia seguinte, nas primeiras horas matinais, o bébado é encontrado caido na rua, por um leiteiro que estava comegando a distribuir o leite jf manha. Apés ser reanimado, contou toda a sua desdita, o encontro 2 monstro sombrio que pedia fogo e parecia um cadaver vivo. E 0 eteiro, que era extremamente falador, passou adiante a histéria de error. Assim, toda a cidade comecou a falar, e a lenda se espalhou atg 6 dias de hoje. BOCA DE OURO é uma das lendas mais representative do folclore recifense. i Transido de pAnico, o infeliz bébado corre de seu algoz. mas ao chegar ) i . wh + [ei oF ‘i Wl - ep Boca de Ouro 4 ul Pagina | A histéria comeca em 2016, no bairro do Recife Antigo, mais especificamente mma {| Wr Iproximo a Torre de Malakoff e a Praga do Arsenal. A boemia do Recife continual ngs ul | pe | furcionando em ruas anexas a ecsas dreas, entdo é de se esperar que a acdo ih + on da trama aconteca nesta regido. te Quando temos 0 salto temporal de 2016 para 1918, podemos ver a vida boémia oj da cidade, porém em outra regiao do centro, mais préximo a atual Praca do Jill | | Didrio de Pernambuco, onde os cafés, charutarias e jogos de azar florescerar. gill Recife , em 1400, era uma cidade em expanséo. Os primeiros minutos do novo Jill mp século aconteceram sob fogos de artificio no Forte do Brum, saudando uma nova esperanca, modernidade, e a luz feérica de lampides a gés que vinham Para substituir a luz fraca do azeite de pelxe e carrapatelra. Assim como a I modernidade era desejada por todos os recifenses, também a cidade se ie Jencontrava assolada por diversos focos de doenca ¢ de insalubridade. Nao |) era o melhor dos cenérios para se vver, 2a miséra dda espara com os MUON I avangos urbanos. Os problemas do século XIX apenas continuaram a existir | nestas primeiras décadas de 1900, e néo havia uma efetiva melhoria. || aia No iftimo quadrinho vemos o CAFE CONTINENTAL, ou como era conhecido por Mi muitos, A ESQUINA DA LAFAYETTE (por conta do depésito de cigarros da x [ marca, fabricada no Recife). Este café, junto a outros como o“CHILE", 0 "Rul", (am fr ©" BRASIL era, na virada do século, 0 foco da vida boémia da cidade. a Ficava bem na esquina da Rua Primeiro de Margo com a Rua do Imperador . \¥ 0s casarées que esto no quadrinho ainda existem, é possivel vé-los, um tanto quanto deteriorados pelo tempo. Temos aqui a localizagéo do casarao, caso haja interesse em conhecer de perto onde o café funcionou: =u uriosidade: A rua Primeiro de Mar¢o ja fol conhecida como RUA DO CRESPO, e a Rua do Imperador como RUA DA CADEIA. O nome mudou apés a visita do Imperador D.Pedro Il 4 cidade do Recife. O CAMPO DAS PRINCESAS também recebeu seu nome nesta época em homenagem as filhas de D. Pedro II oss is uD Sy ue rin be Boca de Ouro Pagina 2 Um fato bem curioso da histéria do Recife se da em relagéo aos transportes urbanos. Muitos foram os meios de locomogao de nossa cidade: Aglomerado de galpdes de aciicar e vila de pescadores que comegou das aguas do oceano, rios e mangues, e que teve a canoa como veiculo ao longo de séculos. Era 0 que se usava para ir de um lado da Ilha de Anténio Vaz (Futuro bairro de Santo Anténio) ao outro,o resto da cidade. Até Mauricio de Nassau elaborar ae novas pontes da Mauricéia, que também foram as primeiras das américas. Através destas pontes, nés recifenses usamos cadeiras de redes, cavalos, carros de engenho, palanquins, as primeiras diligéncias puxadas a muar, 06 trens, as maxambombas. A cidade fol crescendo mais e mais. Em 1871 foi fundada a Companhia Ferro- Carril de Pernambuco, que trouxe para Recife os bondes puxados por burros. lesta pagina conhecemos finalmente o nosso rapaz: Valdemar é um condu- tor de bondes de burros na Recife de 1913, e ele leva uma vida atarefada e de rotina : todos os dias vai até a garagem da Ferro-Carril, na (atual) Rua do Brum, pega seu carro e os burros Trupico e Tropero, que esto descansados e bem alimentados nos estabulos, na chamada, pelos piadistas de plantdo,"Academia dos Burros"; Segue pelo caminho do centro da cidade. Sobe as rampas das pontes, com ajuda de burros complementares (ou ? sotas), e segue em sua jonada circular, pegando passageiros, até a hora de largar o servigo . Em 1910, 08 bondes haviam implementado um sistema de iluminagdo elétrica lispensando o uso de carbureto, e tinham recebido a alcunha de “eletrobur- ros". Eose apelido era usado por todos na cidade, como vemos no Smo We Valdemar realmente gostava de sua vida simples e calma, lidando com 0 veiculo. Os bondes a burro eram transportes abertos, e nivelavam ae condigées sociais: 0 empresario do largo da Igreja do Corpo santo eo Wendedor ambulante de Santo Amaro, a dama da Passagem da Madalena e a gstureira pobre da torre, dividiam o mesmo espago de convivancia, e a5 ereas eram animadas, sobre Aboli¢ao, Republica, Guerra de Canudos ea ‘ampanha Dantista, os boatos, as fofocae, as pilhérias... Ao fim do dia, faldemar voltava para sua casinha, um mocambo na Rua da Aurora. pimidso bar em recife, j4 fechado, que se denominava “Buraco de Otilia"). té a década de 40, 05 mocambos dominaram a paisagem do centro do, Kecife: préxima pagina falaremos sobre a condi¢ao dos moradores do centro e a reforma do porto de 15ll-1414, (| f. dre wi T Ta | io | im ve > 3 ay au b me ie ; Boca de Ouro Paginas 3 e4 Os medos que o personagem Aderbal demonstra sao bem fundamentados. Recife crescendo, tem ambicdes de ser uma “nova Paris" nas américas, male moderna e elegante. Até 0 inicio do século XX, As pessoas que chegavam na cidade nao conseguiam aportar; eram obrigadas a descer nos arrecifes, € de la pegar uma balsa, ou uma cesta presa por um guindaste, que os deixava em terra firme, na altura do marco zero. O porto de Recife ndo pos- ‘ula fundura 0 suficiente para permitir que navios de grande porte che- gassem até la, Muitas balsas viravam com passa e tudo, ¢ era um es- petéculo ridiculo ver nossos turistas pisando em solo Recifense completa- mente molhados. Somavase & leo uma diagramagdo de ruas mal planejadas e sujas, um péssimo encanamento e iluminacao pior ainda. Recife cresceu de qualquer Jeito, sem organizagao urbana especifica, e isso estava comegando a difi- cultar a circulagao de veiculos mais modernos,tais como os énibus a cavalo, charretes e os primeiros carros de aluguel. A recente remodelagao e modernizacao de Paris em prol de melhorias na satide da cidade chegou at aqui, ¢ isto, aliado ao alvorecer de um novo século criou no povo um desejo de modificagao na malha urbana. Infelizmente, no processo de reestrutura- 40, inimeros casarées, templos e monumentos foram sacrificados, entre eles os arcos de Santo Anténio, Da Conceigéo e do Bom Jesus; também veio abaixo a primeira igreja do Recife, marco fundador do povoado, a Matriz do Corpo Santo, \Com 09 mocambos nao seria diferente. A cidade , que funcionava em méduld 8¢ livrasse dos mocambos que eram quase sindnimo de propagacao de doengas, insalubridade e mortalidade infantil. Por outro lado, a cidade também tinha a faceéo que enxergava 0s mocambos como algo poético e Shestalgico. Recife também se dividiu em facdes pré e contra a reforma que Bxersistiu até meados do século XX. A erradicagdo dos mocambos do centro fda cidade e imediagées apenas se tornou efetiva apés 1940, e com isto tivemos a nova organizagao e florescimento dos bairros Recifenses. inho para encontrar sua amada. A misica que ele canta existe, inclusive ficou entre as seis modinhas mais populares de !13. Seu nome é “CABOCLA DE CAXANGA’, e autoria de JOAO PERNAMBUCO. E CATULLO DA PAIXAO CEARENSE. | Visi tat | wi eT oe | “si ti =u Yau ll

You might also like