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E. B. Thompson politica e paixao Ricardo Gaspar Miller Adriano Luiz Duarte (Orgs.) ee ARGOS SE ¢4 UNOCHAPECO ee tes er re See Ms nt ts impede ing ac ‘Agu Ednasas Urodapes womans santa (3012 -anpnsapec [Na tha por veces habitada do que somos hd notes, manhis madrugadas em que no preisamos de more. nto sabemos tudo do que fie eri © mundo aparece esplicado defnivamente eentrsem nés uma ‘rand serendade,edicem-se as plavnas que a sigufcam. Levantamos um purhado de tera apertame-la nas mos Com doqura ise conti toda a vendade suportévek. contorna a vontade elites Poilemos enido dizer gue somes ives coma paz €@ sorriso de quem se econhec e vai d rod do mundo ‘nfatigdvel porque mondeua alma até acs oso dela Libertemos devagar a terra onde acontecem milagre come a dgua,« peda ea ai Cac de nb por enguanto a vida somos baste, José Saramago ara Maria Celia Exterminismo e liberdade politica Ricardo Gaspar Miller Introdugao ‘A contribuigio de E, P. Thompson pode ser definida como ‘ee se pensarmos um concelto de teoria politica que rlacione ‘losofa, striae engajamento politico. ‘Sua contribuigio, portant pode ser observadaem diferentes reas académicas e campos teméticos, como 08 dos estudos dos _movimentos socials, que exigem rupturasdefronteirase mediagées teéricas mais sistematicas esse sentido os estudos de Thompson valorizam a impor- ‘anca da pris, envolvendo as priticas, experincias aspragies € ‘0 valores comunitirios da classe trabalhadora. Dessa forma, uma ‘dos aspectos fundamentals do método de Thompson & sua capa- «dade de formar abjetivose aspirages para aqueles submetidos a crcunstincias politias adversas, mas que precisavam estabele- «cere defender sua propria opinido politica, Desse modo, um dos rincipios bisicos de uma andlise reside na habilidade de articular 4 teora a processos diferentes eer constante mudanga. Para Thompson, odssenso (os movimentos de oposicia) pode ‘ober vantagens editito efetivos para a clase trabalhadora, Tal nog de dissenso implicou, em primi lugar, um confront coin 8 correntes comunistas que ndo admitiam nenhuma perspectiva {de mudanca na ortodonia estabeecida. Em segundo, articulados a nogo de disenso,0 métodoeascategoriasproposts por Thompson _questionam asabordagensortodoxas de pesquisa das eagBes socials ‘dos mecanismas de interagio humana. ‘Além de seu trabalho teéricoehistoriogrfio, Thompson de- semvolveu também uma intens atvidade politics orientada por sua ‘concep de socialismoe pela defesa do seus ideas Suapresenctem _movimentos paifistas~ ena organizagio de documentos enssiose livros evelow até que ponto seu ideal de marxismoestabeleceu um ‘cleo de convergencla deuma tradi¢do decried prsistadicis. ‘Seuativsmo politico eas constants polémicas em queesteveenvol- vido, associadosa importancia atribuida aos temas elacionados lata dos trabalhadores e sua contribuicio intelectual para a elaborasio de ua “hist6ria vista de Baixo’ distinguem-no como urn dos mais oquentes inuenteshistoriadores intelectual socaitas ingeses. Sua interpretagio do materialismo histérico se distingue justamente por aticulay, de forma construtiva,aspirsses polit- ‘as ¢ processo histérico. O pré-requsit dessa abordagem & 0 de «que toda andlise teria deve ser apreendida na prtica do “agit ‘human e na medida do dislogo entre teoria eevidéneia isto & teoriae pesquisa empirica- mas sem abandonaraatuagio politica ‘A andlise dos sujitas envolvidos na construgio de seus préprios Aestinos tornoa-se 0 principal foco dos estudos de Tompson, Aefinindo uma relagio de compromisso entre sua propria atuagio «0 que ele acreditava ser um movimento historco democritico. [A partir desse compromissoe dessa crenga, ele entende que toda politics histéraeteoriasocastas devem participa desse processo de democratizasao, Liberdade politica e desarmamento nuclear atvismo politica de Thompson prioriza a ritica a dois dos problemas mais erucais que a classe trabalhadora enfrentou nos ‘limos anos do séeulo XX: violagiosistemstica das liberdades civise sua reducto ad absurd (reduga0 a0 absurdo} na prolifera «0 dos armamentos nucleares. Unindo teorae pritica, Thompson focou seu trabalho em uma série de questoese experiencias que, por mais de quarenta anos, guardaram uma sigaficativa consston ia e coerente atitude intelectual. Fil 2s premissas do marco dos “eventos de 1956% assume come seus papel e compromisso de reafimar os rincipiossocialistasem umaluta contraas pliticas do «statism eautortarismo.’ Nesse contest, articulou uma proposta ‘de uma “politica vista de baixo” (politics om below) & concepeio formulada em seu antigo projeto de uma “histéria vista de baixo” (istry from below). [Atradigio de uma politica liberia aliada ao pacfismo nu: lear tomnou-se 0 eixo da atividade politica de Thompson. 2. C4 Thompuon, EP Ends an Hitoies, Kaldor Mary (4). Eure fom Uhl: Lander: Vers, 1991p.728 Cl then Be M Rel, api nd ‘he Hebron Clap. 19°38), © ponto central dessa dindmica &a unido mediante a lute, ‘unio capar de articular os interesses organizados, mas event. almente canfitantes, 20 longo do process histsrico, Thompson ‘considera que, nas condigSes contemporaneas (no caso, sobretudo ‘info da década de 1980), as eivindlcagbes plas iberdadescivis poderiam representar um ctalisidr para os movimentos populares «econsodar um “eendrio" mais amplo para a lta de clase, ‘A lata de ‘Thompson pelos “direitos civis" pode ser demar- cada por sua oposigioa quatro ag8es poitcas bisicas: o apelo do [govermo i ideie de “interesse da nagio, quelegitimaria a aprovasso de qualquer iniciativa do Estado; a intervencio do Estado 20 ss tema legal: a administragdo e manipulagio da midia ea crescente tendéncia na direcio de um estado de seguranga, em que as vores {de oposigio sto submetidas a dspositvos de constantevgilincla, ‘censurae repressio na midia, ‘A defesa de Thompson das politicas de libertagia também incorpora sua preocupagdo com a questio da lta de clase, sem eo aeratinpra todas Eaop 268 [Na perspectiva de Thompson (1982b, p. 10-11), 0 conflto epenia do antagonism eda retériea dos irteconclsvels sisters militares ¢ industrias dos dois blocos. Cada um, afirma o autor, "Lad deve ser motivado, em sa naturezainerent, plo deseo de vencerooutra, S60 tenor mituo de dissuasio poderia dine wma conttontagio total” Thompson (1980s, p. 28) rossegue: [A] dssuaso n3o€ uma congo iméve fia, um estado de degradacio. Distasi fer conto aexportagao de wena contra. blocoaposto, nas, a proceder asim, o poder repres- sino do Estado tem se votado contra seu proprio eradon. A ‘ildscareprimica tem ustentadoeagido sobre a comomi, politica a denlogia ea cultura dos poderesantgésiens. Essa {a estroaraprofonda da guerra fi sca seria a logics de ustficaco para a Guerra Fria e para ‘0 prosseguimento da corrida armamentista. Thompson (1982b, _p. 1-16) acredita que, no Ocidentea culpa caberia 3 supremacia norte-americanae falta de vontade de seus satéites europeus em rejeltar essa situagdo e & “mentalidade” ai comida. Isso porque, ainda segundo Thompson (1982b, p. 14-15), diplomactsnorte- -amecicanavala-se muito de seu poder de vet, respldada em seu ‘poderio militar, o que impedia a existincia de qualquer dissenso 19, Otemo dest wi oven ano mainte coon iogia fn prac "ans © temo expen pic on nS a ‘mutoar arenes ears, poe pte de aa ao, pra dete aur tel de ata expres bem aha police daca ca projet Tntaci de armas nearer 3 longo ran (Ech ms be tae, Ys Cem inbret sre by he dese vanish the bh Only th rt et dare can eo tl contoration") 265 por part dos paises europeus. fesse, als, ocontesto da proposta ‘de um “atlanticismo’ sob a dominagdo dos Estados Unidos, nto ‘questionada na Gri-Bretanha, nem mesmo pelo supostamente ‘oposiconista Labour Prt. “Thompson mostra como a Guerra Fs ‘vernos de Washington ou Moscou, 0 que eforgava os mecanismos dedominagio de ambos s centos. ara desenvolver essa argumentagdo, eexplicar os perigos do processo politico e idel6gico contido na Guerra Fria, Thompson introdaz « metifora da alteridade do Outro. Assim, a unidade necessiria na “frente domestica” pode ser explicada, também, em termos de preocupacio e medo em relagio aos “outros & ameaga ‘epresentada pelos “outros consolidando, dessa forma, usa nogéo eral dnd" em oposigioa eles” Ao percebero“autz0 "5s" po {demos nos distinguirem relagio a ele, seo “outa” for construido ‘como uma amea¢a, 0 vinculo entre “nds” éreforgado, ‘Thompson (1982b, p. 18) observa que ese "vinculo por ex lusio"€intrinseco a socalizagdo humana. E & tio fundamental para aformaggo ea conscéncia de classe quanto para a construcio de «uma nso ou para sujeltar as pessoas @ uma ideologa, Esse processo, porém, estabelece uma ameaga eno limite faz creoer 0 ‘dio pelos"outros" ‘Nas polémicas da Guerea Fria, essa cultura fol artificilmmente Invocada para asegurarosinteresses dos respectvos blocos. Ambas as culturas e idntidades nacional (sovieticas e norte americanas) entrelacaram-se nas premissas ideolgicas do confit, ao mesmo tempo que asaprofundaram cada ver mais A Guerra Fria contribu, nese sentido, para intojtat o“americanisme na populagionorte- americana, para teforgar @ mito do sonho americano (America independenternente Ge suas origons, aps a Segunds Guerre Mundial, parécia operar ‘com uma dindmica propria, uma igica interna eum conjuntoes- pecifica deargumentos,o que ocultva a fort interesse dos Estados ‘envolvidos em sua continaidade ‘Thompson (1982b, p17) percehe quea reciprocidadedasrela- ‘Bes entre Estados Unidos e Unio Sovitica ea fundamental aessa gia, um contexto no qual uma forma de ago antagénica deveria sersistematicamenteigualada pelo antagonismo da esposta. Esse procedimento, a seu ver, era determinante para que “os etabelec- menos militares ede seguranga fossem auto-reprodutivos: Damesma forma, Thompson (1982b,p.17-18)tem consclén- cia de ques ideologia ea retérca que acompanhavam tal dinimica ‘eram inerentes 20 processoe reprodusiam-se asi mestnas nio ese de seguranca,e seus funcionstios porque "os servigos mit blicos, precisam da guerra fia (e) tm um inteesse diretoem sua ‘continuidade” mas também porque, n0 interior dos paises stdites, «cada movimento politico ou militar deveria ser aprovado pelos go- 14. Thompson (1982p. 38) eve mada parsexpar ten prpunbs ta Lead ence o lon, ti si ipod nea de {is os bes ensue poblems nes” ntercoal ss 0 equine ate ce on rl exe rola, 266 ream), tornando-o uma strasio em oposigo &tranis do "outro? manda, irinicoe sm iberdade:” ‘Damesma forma Unido Sovitica,ndo obstantearepressio sistematicaa todo dissenso,em qualquer nivel representava-s asi ‘mesa como a defensora do socialismo e tomava o Partido como ‘titular da resistencia ao imperialismo do Ocidente. Entretanto, nnenhum dos mundos ra“ melhor dos mundos: ambos apreseata- ‘vam novas definigdessobrea condigio do“outro”~ ea necesidade dda Guerra Fria novamente revelava-seeregenerava-se asi mesma, “Thompson (1982b, p. 28) reconhece que uma condo permanente, auto-reproduor, Ail ambos os dverros esto dedicados Ox entabeecimentos malitare dos dversrioseaconram-seem uma rasa epoca de foment Ito: cada um esimulao erescimento do outa. Ambos 0 aversrios precisam manter ua atte ideolgtce de host- Tidade, como mio de forgaradiscplina ou a coesio interns, Protestar para sobreviver “Muitos militantesd esquerda na inglaterrs,atvos na campa- ‘nba pelo desarmamento unilateral chegaram conclusio,nadécada 4 1980, de que havia um problema central na balanga de poder «riada pela Guerra Fria. Entre outros aspectos,aevidéncia demons- trava que nenkum dos blocos em antagonismo poderia “ganhar 15, CL também Grama (1972 285-525) eu dn eno “Anetoname e cae tase agal orela policnarel meer 268 ‘uma guerra A lta defina-se em outro palamar, concentrando-se 1 questionamento e no enfraquecimenta do processo e de suas premissssideol6gicas Para Thompson (1982b, p.25),a Europacera ‘oponto de tenséo do sistema da Guerra Fria, Segundo ele, Pelaprimera ver, desde a Resisténcia do perodo da guera, um espito cizculando na Furopa que eatrega uma aspitagso ‘transcontinental O Outro que nos mess ets ven redid io como outrasnagées, ner mesmo o outro aco, mas 2 foreas que levam ambos os blocos 3 autodestrlg. no 8 Rass ou os Estas Unidos, mas suas stituigdesMecbgias, nites ede seguranca suas oposigiesritualisicas (© programa desenvolvide pela END na década de 1980 pro- curou organizar um novo radicelismo popular capar de enfrentar as motivagBes da Guerra Fra seu status quo.Seu projet era 0 de avalareestabeleceraautonomla da Europa egarantirascondiges

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