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yawpeevlsi=36te! Kecpeclevalele PIERRE BOURDIEU (coord.) 22" ” Eu nao gostaria de me prolongar aqui de maneira muito insistente em refle- sobre teoria ou método destinados somente aos pesquisadores. “Nos s6 faze- ‘nos glosar uns a0s outros”, dizia Montaigne. E mesmo se nai fosse por isso, por qualquer outra razio, cu gostaria de evitar as dissertagdes escolisticas so- ‘hermenéutica ou sobre “a situagdo ideal de comunicagao”; na verdade, eu jo que nao ha maneira mais real e mais realista de explorar a relagiio de comu- cio na sua generalidade que a de se ater aos problemas inseparavelmente pré- ‘e tebricos, o que decorre do caso particular de interagao entre 0 pesquisador yuele ou aquela que ele interroga. ‘Nao creio que por isso se possa remeter-se aos inumerdveis escritos ditos me- slogicos sobre as técnicas de pesquisa. Por mais titeis que possam ser para es- .cer tal ou qual efeito que 0 pesquisador pode exercer “sem o saber", Ihes fal- .¢ sempre o essencial, sem divida porque permanecem dominados pela fi- ea velhos prineipios metodolégicos que so frequentemente decorrentes, © ideal da padronizagao dos procedimentos, da vontade de imitar os sinais jores mais reconhecidos do rigor das disciplinas cientificas; nao me parece, 10 caso que eles levem em consideragao tudo aquilo que sempre fizeram, € souberam os pesquisadores que respeitavam scu objeto ¢ 0s mais atentos tilezas quase infinitas das estratégias que os agentes sociais desenvolvem na ia comum de sua existéncia, “Muitas dezenas de anos de pratica da pesquisa sob todas as suas formas, da et- ia & sociologia, do questionario dito fechado a entrevista mais aberta, con- -me que esta pritica ndo encontra sua expressfio adequada nem nas Fgdes de uma metodologia frequentemente mais cientista que cientifica, ‘nas precaugées anticientificas das misticas da fusio afetiva, Por estas razdes indispensavel tentar explicar as intengdes ¢ 0s principios dos procedi- {que nés temos colocado em pritica na pesquisa cujos resultados apresen- - saciid tamos ai i : i eure oa Gata reproduzir na letura dos textos ot conhecer e dominar 0 mais completamente possivel seus atos, inevitaveis, compreensiio de que eles slo 0 produto. ‘ onstrasio e os efeitos que eles produzem também inevitavelmente Ainda que a relagdo de pesquisa se distinga da maioria das trocas d cia comum, 6 que fem po fim o mero conkecimeno la cin Jo, uma relacdo social que ex vari ; pieeoitncniiner-hirbrianliieeininistiins gob ‘entar saber o que se fez quando se nica ma reac de entrevista 6 em pr- ‘gagiio cientifica exclui por definigdo a intengdo de exercer qual o lugar tentar conhecer os efeitos que se podem produzir sem o saber por esta lencia simbélica capaz de afetar as respostas; acont eavequer ia “ie de intrusiio sempre umn pouco arbitriria que est no prineipio da troca (es- mtisansasinods Gur omnis Gea Ta iene ae Mialmente pela maneira de sc apresentar a pesquisa, pelos estimulos dados ou es esto inscrtas na propria estrutura da relagio. peau dos, etc.) é tentar esclarecer sentido que 0 pesquisado se faz da situaga0, as venaer recrnheuides = dociinadar Cay cet ome pesquisa em geral, da relagio particular na qual ela se estabelece, dos fins que que pode ser refletida e metddica, sem ser a aplicagio de um sm th ad ‘busca ¢ explicar as razSes que o levam a aceitar de participar da troca, Eefeti- io em pritica de uma reflexao teérica. ty ie sob a condigdo de medir a amplitude e a natureza da distancia entre a fi- . dade da pesquisa tal como é percebida e interpretada pelo pesquisado, e a fi- Heee cA pomingebir erin enn “2 10 de método, mas uma reflexivid idade que o pesquisador tem em mente, que este pode tentarreduzir as distor- np eamapiiit petneia Si ty we sociolégico, permite perceber. {que dela resultam, ou, pelo menos, de compreender 0 que pode ser dito ¢ © no campo, na propria condueto da etrevista ox efits esti no pode, as censuras que o impedem de dizer certas coisas ¢ as incitagdes Soar pemcturinummniebe eee. encorajam a acentuar outras. foe mn ernie oho rena aeea wii Fo pesquisador que inicia o jogo e estabelece a regra do jogo, é ele quem, ge- para controlar os efeitos da propria pesquisa e comesar a int ate, tribui a entrevista, de maneira unilateral e sem negociagao prévia, oS nando os efeitos inevitéveis das perguntas. tivos e hdbitos, as vezes mal determinados, ao menos para o pesquisado. Esta (0 sont positivist ue i Z fmetria é redobrada por uma dissimetria social todas as vezes que o pesquisa- eee epistemolbgic: a uma posigdo superior a0 pesquisado na hierarquia das diferentes espé- ey citer nies tan entre a ciéncia que realiza uma cons capital, especialmente do capital cultural. © mercado dos bens linguisti- entre aquela que o faz sem o saber e aquela que, simBolicos que se institu por ocasio da entrevista varia em sua estrutura se- eee enero 4 do a relacio objetiva entre o pesquisador e o pesquisado ou, o que di no mes- {re todos os tipos de capitais, em particular os linguisticos, dos quais estio 1a comunicacio “nao violenta” $i wnt oii eta on casa to de pin ooo ita quai tino experienc elds de msec por : 3 ‘Sins ns nore Deon hel Po Ate Sea -vando em conta estas duas propriedades inerentes & relagdo de entrevista, th dost ba pose evi a can on amos-nos para fazer tudo para dominar os efeitos (sem pretender ant- Sa ee ee eee I ee ente, para redcirno maximo alec sinh ‘nts ian nr eeepc al gue se pode exercer através dele. Procurou-se ento instaurar uma relagio de tne ee a ativa e metédica, to afastada da pura ndo-intervengio da entrevista no een Pe a oni, Poss de parnci condi 2A psi adiciona entre os mes dice qutiativon, ome x pga 0 ficil de se colocar em pritica. Efetivamente, ela associa a disponibilida- ic aio coe ten mac em em relagao & pessoa interrogada, a submissio a singularidade de sua his- tmrcrme canvas exer or cromncbdblepse egy vane anfai ticular, que pode conduzir, por uma espécie de mimetismo mais ou me- surtpcas M2nzial Ueto amen oe ecletn oles we eel ado, # adotar sua linguagem e a entrar em seus pontos de vistas, em mentos, em seus pensamentos, com a construc metOdica, forte, do co- lo) que registra eanalisam, mas também na sun tern com i. petal b iw 0 diis condigdes objetivas, comuns a toda uma categoria. Para que seja possivel uma relagao de pesquisa o mais proxima possi mite ideal, muitas condigdes deveriam ser preenchidas: nao é suli como o faz espontaneamente todo “bom” pesquisador, no que pode ser cot te ou inconscientemerite controlado na interagdo, principalmente o nivel ‘guagem utilizada e todos os sinais verbais ou no verbais propgios a est colaboragio das pessoas interrogadas, que no podem dar uma re desse nome & pergunta a menos que elas possam delas se apropriar e se t0 0s sujeitos. Deve-se agir também, em certos casos, sobre a propria es relagdo (¢, por isso, na estrutura do mercado linguistico ¢ simbilico), pot propria escotha das pessoas interrogadas e dos interrogadores, Aimposic’ Algumas vezes é surpreendente que os pesquisados possam ter tanta boa vontade e complacéncia para responder a perguntas tao absurdas, arbitrarias ou desiocadas como tantas daquelas que lhe so frequente- ‘mente “administradas”, principalmente has pesquisas de opiniao. Isto posto, & suficiente ter feito uma unica entrevis- tapara saber a que ponto & dificil con- centrar continuamente sua atengao ‘Ro que esta sendo dito (e néio somen- te nas palavras) e antecipar as per- guntas capazes de se inscreverem “naturalmente” na continuidade da conversagao seguindo uma espécie de “linha” te6rica. Isto quer dizer que ninguém esta livre do efeito de impo- sigo que as perguntas ingenuamen- te egocéntticas ou, simplesmente, desatentas podem exercer e sobretu- do livre do efeito contrario que as res- Postas assim extorquidas correm 0 Fisco de produzir no an: pre disposto a levar a serio, interpretagao, um artefato que ele ‘mesmo produziu sem o saber. Assim, continuando a ser tanto at quanto atento, pergunta ma-roupa a um operdrio met mesma oficina, se ele, “pe te’, estava, ‘prestes a p Longwy’, e ele obtém, depo! sado 0 primeito momento d surpresa, uma resposta dél tipo daquelas que o pesq codificador apressado dos de pesquisa registrardo aquiescéncia; “Agora [tom di ssa]? Para qué? Parti... Eu uitiidade....N&o, eu no cr deixarei Longwy... Essa id no tinha me passado pela Além disso minha mulher: Iha. Isso pode ser um frei, xar Longwy... Eu nao or que nao?... um dias, ndo... Mas eu no penso, Eu ainda nao pensei estou... Eu nao sei, ‘Tomou-se por isso a decisio de deixar aos pesquisadores a liberdade de esco- 0s pesquisados entre pessoas conhecidas ou pessoas as quais eles pudessem apresentados pelas pessoas conhecidas. A proximidade social e a familiarida- asseguram efetivamente duas das condigdes principais de uma comunicacio io violenta”. De um lado, quando o interrogador esté socialmente muito préxi o daquele que ele interroga, ele the da, por sua permutabilidade com ele, garan- contra a ameaga de ver suas razBes subjetivas reduzidas a causas objetivas; escolhas vividas como livres, reduzidas aos determinismos objetivos revela- pela analise. Por outro lado, encontra-se também assegurado neste caso um do imediato ¢ continuamente confirmado sobre os pressupostos concernentes contetidos ¢ as formas da comunicagdo: esse acordo se afirma na emissio opriada, sempre dificil de ser produzida de maneira consciente e intencional, odos os sinais nao verbais, coordenados com os sinais verbais, que indicam como tal o qual enunciado deve ser interpretado, quer como ele foi interpre- o pelo interlocutor’. Mas o universo das categorias sociais que podem ser atingidas pelas condi és otimizadas de familiaridade tem seus limites (mesmo quando as homologi posicdo podem também fundamentar afinidades reais entre o socidlogo e cer- sategorias de pesquisados, magistrados ou educadores sociais por exemplo). ‘entar entender o mais plenamente possivel, nds poderiamos também, como os nas diferentes pesquisas anteriores, recorrer a estratégias como a que iste em representar papéis, compor a identidade de um pesquisado ocupando posigao social determinada para fazer falsas diligéncias de aquisigao ou de informago (principalmente por telefone). Aqui, optamos por diversi- ‘0s pesquisadores fazendo um emprego metidico da estratégia & qual Willian ov recorreu em seu estudo sobre o modo de falar dos negros do Harlem: para fralizar os efeitos da imposi¢ao da lingua legitima, ele havia pedido a jovens os que conduzissem a pesquisa linguistica; do mesmo modo nés tentamos, as vezes que era possivel, de neutralizar um dos maiores fatores de distor- da relago de pesquisa instruindo com as técnicas da pesquisa pessoas que pu- sm ter acesso, em razao da familiaridade, a categorias de pesquisados que de amos atingit. ais de feedback que EA. Schoglft chama response toes, 08s”, “ah, "cero", “ot” tam acenos de cabeys aprovadores, os olhares ox sors ets nformaton receipts, sina comporais 08 de senso, de teres, de aprovago, de incentvo, de aradecimento, oa condi da boa continua (tl pono que um momento de desatengz, de distro do olhar so em eral siientesparacau- eipkce de embarago para o pesquisado, ea fai pede o fide sua entrevista; colocados no momen- ols itestam a participa intelectual e fetiva do pesqusador a Enquanto um jovem fisico interroga um outro jovem fisico (ou um’ Aqueles casos em que o sociélogo consegue se dar de algum modo um substi- ‘outro ator, um desempregado um outro desempregado, etc.) com o qual ¢ 0 juntam-se as relagdes de pesquisa nas quais ele pode superar parcialmente a partilha a quase totalidade das caracteristicas capazes de funcionar c fincia social gragas as relagdes de familiaridade que o unem ao pesquisado ¢ explicativos mais importantes de suas praticas e de suas representagdesy queza social, favoravel ao falar francamente, que assegura a existéncia de di- ele estd unido por uma relagao de profunda familiaridade, suas pery 0s lagos de solidariedade secundaria proprios a dar garantias indiscutiveis de ‘ram sua origem em suas disposigdes objetivamente dadas a%do mpreensio simpaitica: as relagdes de familia ou as amizades de infancia ou, sc mais brutalmente objetivantes dentre elas nio tém nenhuma razio de ido certas pesquisadoras, a cumplicidade entre mulheres, permitem, em mais ameagadoras ou agressivas porque seu interlocutor sabe perfeitamen jum caso, superar os obsticulos ligados as diferencas entre as condi¢des ¢, par- compartilham o essencial do que elas 0 levarao a dizer e, ao mesmo te armente, o temor do desprezo de classe que, quando 0 sociélogo é pereebido ‘cos a0s quais ele se expe ao declarar-se. Eo interrogador nio pode ni © socialmente superior, vem frequentemente redobrar o receio muito geral, cer que objetivando o interrogado, ele se objetiva a si mesmo como} universal, da objetivagdo. corregdes que ele introduz em tantas de suas perguntas, passando do vo a0 se que leva a um coletivo impessoal, depois ao nds, onde ele exercicio spiritual mente que a objetivacao também the diz respeito: “Quer dizer que to dos que voce fez, que se fizeram, nos fizeram gostar mais da teo dade social com a pessoa interrogada é sem diivida 0 que explica a Mas todos 0s procedimentos ¢ todos os subterfiigios, que podemos imaginar reduzir a distancia, tém seus limites. Ainda que a transcrigdio deixe escapar o mal-estar que quase todos os interrogadores que esto colocados null 0, 0 tempo do oral, basta ler em seguida algumas entrevistas para ver tudo 0 disseram ter experimentado, as vezes durante toda a entrevista, ds *epara as falas arrancadas pedago por pedago dos pesquisados mais afastados de um momento preciso da analise: em todos estes casos efetivam ~xigéncias titicas da situagdo de pesquisa ¢ os discursos daquelas que sio gatério tende naturalmente a tornar-se uma socianilise a dois na QW idos por antecipagao (4s vezes muito bem) & pergunta, assim, pelo menos, esti preso, e € posto a prova, tanto quanto aquele que ele inte cles a concebem. Eles dominam tio perfeitamente a situagao que conse- ‘Mas a analogia com a estratégia empregada por Labov nao Be ere ls Peeaem ds Jogn an pesgeieadoe trata somente de captar um “discurso natural” tio pouco influeng Quando nada vem neutralizar ou suspender os efeitos sociais da dissimetria sivel pelo efeito da dissimetria cultural; deve-se também const distancia social, no se pode esperar conseguir obter declaragées tio pou- te esse discurso de tal maneira que ele fornega os elementos nees -adas quanto possivel pelos efeitos da situago de pesquisa sendio ao prego pria explicagdo. As exigéncias impostas aos pesquisadores 9 n trabalho incessante de construgio. Paradoxalmente, este trabalho esta des- tram-se consideravelmente acrescidas e embora se tivesse feito oa ficar tanto mais invisivel quanto mais bem sucedido ele for e quanto mais sonduzir a uma troca de todas as aparéncias do “natural” (entendido como 0 ontece comumente nas trocas comuns da existéncia cotidiana). ete en pesquisas realizadas nestas condig das da publicacdo: elas quase que sé apresentavam dados pazes de fornecer os instrumentos de sua propria interp © socidlogo pode obter do pesquisado mais distanciado de si socialmente que sinta legitimado a ser o que ele é se ele sabe se manifestar, pelo tom ¢ espe- te pelo conteiido de suas perguntas as quais, sem fingir anular a distancia que o separa de si (diferente da visio populista que tem como ponto cego seu © ponto de vista), ele ¢ capaz de se colocar em seu lugar em pensamento. 4. Ua das mores razbes doses ever tei sem divide no acordo perf poh ipcl terrapin Patisserie erent tar situar-se em pensamento no lugar que 0 pesquisado ocupa no espago ‘mos € dos documentos histriens), menos o que € obvie, 0 qe € natura onecessitar a partir desse ponto e para decidir-se de alguma maneira «ance sedge um ator pasa em silecio todo um conan de presi (no sentido em que Francis Ponge falava de optar pelas coisas), nio € exe- tere} ts mvopala ts econet enous eae os apo a projecdo de si em outrem” do qual falam os fenomendlogos. F dar-se uma cideria nto pesuitadoro psa, onde ada porn se di ido genérica e genética do que ele é, fundada no dominio (teérico ou ‘ia natural; a divergénca total onde a compres ea onfang be iii il pritico) das condigdes sociais das quais ele é 0 produto: dominio das e¢ de existéncia e dos mecanismos sociais cujos efeitos so exercidos sob junto da categoria da qual eles fazem parte (as dos estudantes, dos ope ‘magistrados, etc.) ¢ dominio dos condicionamentos sociais associados a sua posigdo e a sua trajet6ria particulares,go esp Contra. velha distincao diltheyana, ¢ preciso ser dito que compreenden so a mesma coisa. Esta compreensio no se reduz.a um estado de alma benevolente, cida de maneira ao mesmo tempo inteligivel, tranquilizadora e atra sentar a entrevista e de conduzi-la, de fazer de tal modo que a inter propria situagao tenham sentido para o pesquisado ¢ também, e sobr blematica proposta: esta, como as respostas provaveis que ela provo zida de uma representagao verificada das condigdes nas quais 0 colocado e daquelas das quais ele é 0 produto. Pode-se entio dizenqu sador nio tem qualquer possibilidade de estar verdadeiramente a Jeto a nao ser que ele possua a respeito um imenso saber, adquirido, go de uma vida de pesquisa c também, mais diretamente, durante riores com o proprio pesquisado ou com informantes. A maior parte) publicadas representam, sem diivida, um momento privilegiado’ série de trocas, ¢ no tém nada em comum com os encontros pont © ocasionais, das pesquisas realizadas as pressas por pesqh de toda competéncia especifica. Mesmo que ela s6 se manifesta de maneira totalmente ne} sobretudo as precaugdes € as atengdes que determinam op fianga ¢ a entrar no jogo, ou excluindo as perguntas forgadas’6U) esta informagao prévia que permite improvisar continuament nentes, verdadeiras hipdteses que se apoiam numa represeiitg viséria da formula geradora prépria ao pesquisado para mais completamente’. 5. Sobre exe ponto, como sobre todos os outs, sem dvd seriames meth {emples ds eros mas pos, que enconram quse sempre seus undanenio ‘a, Algumasvctdes de uma interrogaeo sent a seus prdprios resultado eal bids pois se manifetam princpalmente em auséncias. Dal interes ro aalisados mais udiante:verdadeios exames em ate de vier ‘eniente faze apareet, em contrat, todas as pergunin it 0 ‘exclu que elas so incompativess com una representa losofia de apo que eatabelae na pte, Ainda que ela possa proporcionar o equivalente teérico do conhecimento pri- tico associado a proximidade ed familiaridade, o conhecimento prévio mais apro- \dado continuaria incapaz de conduzir a uma verdadeira compreensio, se a ela o correspondesse uma atencdo ao outro e uma abertura oblativa que raramente encontram na existéncia comum. Tudo nos conduz efetivamente a niio dar de- rages mais ou menos ritualizadas sobre misérias mais ou menos comuns se- 30 uma atengo quase tio vazia ¢ formal que “como vai voc@?" ritual que as ini ou. Nés todos jd ouvimos falar dessas narrativas de contfitos de sucesso ou de izinhanca, de dificuldades escolares ou de rivalidades de escritério que apreen- 0s através das categorias de percepsao que, reduzindo o pessoal ao impes- 1, 0 drama singular ao noticiario de variedades, permitem uma espécie de eco- mia de pensamento, de interesse, de afeto, em resumo, de compreensio. E en- ®, mesmo que se mobilizem todos os recursos da vigiliincia profissional e da Mpatia pessoal, temos dificuldades em afastar essa indiferenga da atengo favo- ida pela ilusdo do ja visto e do ja ouvido para entrar na singularidade da hist- .de uma vida ¢ tentar compreender ao mesmo tempo na sua unicidade e genera- de os dramas de uma existéncia, A semicompreensio imediata do olhar distrai- fe banalizante desencoraja o esforgo que deve ser realizado para superar os lu- s-comuns nos quais cada um de nds vive e diz de suas pequenas misérias mo sendo seus grandes males. Aquilo que 0a gente” filosoficamente estigma- € literariamente desconsiderado, que nds todos somos tentados a dizer, n seus meios, desesperadamente “inauténticos”, € sem diivida, para os “eu” ms acreditamos ser, pela mais comum das reivindicagdes de singularidade, 0 hd de mais dificil para escutar. istencia A objetivagio Nao se deveria acreaitar que s6 _pesam sobre os males e a adversida- virtude da reflexividade 0 socié- 'possa controlar completamente itos, sempre extremamente 05 @ miltplos, da relacdo de isa, posto que os pesquisados também intervir, consciente gonscientemente, para tentar im- Ya definicao da situapao 0 fazor em seu proveito uma troca da Lum dos riscos é a imagem que 'e querem dar e se dar doles . 1880. numa situacao onde, ‘coma 0 objeto da pesqui- incita isto, "0 que néo anda 'suas vidas, eles se expdem Jas presuncdes negativas que de por tanto tempo que eles ndo sa- ‘bem deslizar pelas formas legitimas de expresso das misérias legitimas, aquolas que a politica, o drito, apsi- Cologia, a literatura formecem. Assim, or exemplo, em muitas entrevistas (prineipalmente com os membros do Front National), a relayay social entre ‘opesquisado e 0 pesquisador produz Um efeito de censura muito forte, redo- brado pela presenga do gravador: ‘sem duvida ela que torna certas opi- ‘ides inconlesséveis (salvo por breves {ugas ou por lapsos). Certas entrevis- tas trazem numerosos tragos do tra bho que faz 0 pesquisado para do- ‘minar os constrangimentos inerentes ina situagao ao mostrar que ele 6 ca- paz de assumir sua propria objetiva- 40 e de tomar ele mesmo o ponto de Vista reflexivo cujo projeto esta inscri- o.na prépria intencao da pesquisa. Uma das maneiras mais sutis de resistir 4 objetivacao 6, portanto, a dos pesquisados que, jogando coma ‘sua proximidade social com o pesqui- ssador, tentam, mais inconsciente do que conscientemente, se proteger restando-se aparentemente ao jogo @ tentando impor, sem o saber sem- re, uma aparéncia de autoandlise. Nada mais distante, apesar das apa- réncias, da objetivacdo participante, na qual 0 pesquisador auxilia 0 pes- guisado num esforeo doloroso e grati- ficante, ao mesmo tempo, para tornar visiveis as determinagdes sociais de suas opinides @ de suas praticas no que elas podem ter de mais dificil a reconhecer e a assumir, do que a fal- 8a objetivagdo complacente, semi- desmistiticada e por isso duplamente mistificadora, que procura todos os prazeres da lucidez sem questionar 0 essencial. Citarei um 50 exemplo: “Ha uma espécie de mal-estar que faz com que eu ndo saiba onde me situar [. eu nao sei mais muito bem onde es- tou socialmente... E talvez a nivel do reconhecimento do outro |... Eu me conscientizo quanto, em fungao da ‘posigdo social que vocé ocupa, 0 ou- tro tem um olhar sobre voc comple- tamente diferente e 6 verdade que é ‘muito perturbador. Nao era evidente ara mim ter varios status socials, eu nao conseguia me identiicar algu- mas vezes, sobretudo através do colhar dos outros’, etc., etc. Acontece que de tais afirmagées, {que aplicam a uma confissao aparen- te a aparéncia de uma explicacéo, suscitam no pesquisador que se re- conhece nisso por que eles construidos segundo insirume ensamento e de formas de proximas dos seus, uma fo narcisismo intelectual que p binar-se com admiragao pop dissimular-se nele,_ Deste mado, quando umal imigrante lembra, com muito bbaraco, as dificuldades de st lacerada diante de um pesq que pode encontrar em algt claragdes suas certos asp ‘sua experiéncia do d consegue, paradoxalmenta, quecer o principio da viséo, estilzada de sua existéncla rope, quer alzer, o estuda) que ela faz e que ihe p seu interlocutor uma d (940, a de um discurso.té quanto possivel da ideia, de uma categoria desta de um cumprimento for todo obstaculo ligado a cial e cultural. Seria p aqui, as perguntas @ a8. Pesquisador — ciénoia teve lugar quando a Franca. Mas tomada de de que exatamente? Pesquisado - A to ciéncia do real no mim, 6 af que as 60 ase delinear. Euviva) paragao de meus) tido, para mim, com minha mae ‘Marrocos, onde tinha a impressao que era alguém que eu descobria realmente pela pri- eira vez |... Ele entrou em minha yida a partir do momento em que fo- viver juntos. Portanto, tomada de ponsciéncia desse lado, a separacao ‘sentido. Percebe-se que o pai que e tem, nunca se viveu com ele ...). E 2pois também, tomada de conscién- bia de uma outra paisagem. Nao é ais 0 mesmo espaco-tempo |...) é sabe que vocé passa de seu pai ara Sua mae. Isso 0 excita também pouco, de uma certa maneira mas realidade, ela vem pouco a pouco Dlorir e tornar visivel, de fato, 0 que iconteceu. Portanto, isso néo 6 a jesma paisagem, nao sao as jomas pessoas, nem o mesmo es- 0-tempo. Eu volto a um periodo istante vago a partir desse momen- ‘onde, se voce quer, sera preciso, hoje em diante, que se faca a pon” tre dois mundos, que estdo, para . radicalmente separados. Eu fi- lei Um pouco nessa etapa, nessa paracao, que ultrapassa de longe a raco pai-mae. E um pouco mais ge: “Eu tenho de fato a impressiio sstar ancorada em alguma coisa. E pergunta que surge agora 6 se ‘Nou continuar nesse dilema ou se OU sair definitivamente? Franca- e, nao acredito muito. Certamenta ficarei no meio do caminho. E le que isso de ser assim ou as- lo nao me interessa. Ha vontade de er essa espécie de corrente de ar, Meio-termo. Sei la” A entrevista, como se vé, tor: ‘um mondlogo no qual a prépria fevistada faz as pergunias, e res- profusamente de um so folego, londo ao pesquisador (que, evi mlemente, nao pergunta melhor) ‘somente sua problematica mas @stilo ("vooé se sente desnatura- "ou “qual 6 sua maior insatis- 07"). excluindo de fato toda in terrogagao sobre os dados abjetivos de sua trajet6ria diferentes dos que entram no projeto de autorretrato tal ‘como ela pretende fazer. Nesta relagao de troca, cada um engana um pouco 0 outro ao se enga- nar a si proprio: 0 pesquisador se rende a “autenticidade” do testemu- mho da pesquisada porque ele acredi- ta ter tido éxito na descoberta de uma alavra bruta, densa, inviolada, que outros nao souberam ver ou suscitar (certas formas, mais ou menos estil Zadas, do discurso camponés ou ‘operario podem exercer uma sedu- (940 parecida): a pesquisada finge ser © personagem que 6 esperado nesse encontro, @ Imigrante, assegurando deste modo, sem ter que relvindicar abertamente, 0 reconhecimento do valor lterério de sua palavra, ao mes- ‘mo tempo testemunha sincera de di- visao interior e procura de salvagao pela forma estilistica’. * Se asta gc do jogo dup na confrmagzo mits es identcades enconva um campo pararments favervel no face a face da reagdo de pesquisa, oa Io etd am ago somerte nas sntevtas “racassa as" mito numerosas) quo noe vemos de ime © {6 porate que acho que usta uo per fetamerte, como. romarce recente de Nina Boursou (La voyeuse intra, Pals, Galimard 190), mals ‘eralmete, cota omas novas da eraturapopsta ‘us, cb aparéncia do 0 eur. evitam os exgeneias ‘do ost autonieamante sodoigco 9a do re, mance auterteamente Were, porque eae tm como ‘onto cego seu préprie porto devia Mas o stampa Por excelénca me parece so Yomaree de Davis Lod fo. Smal Hora (tow York War Baha 190%, Franceca: Un teu pot onda Para, Fvages 199), smistiacto mticadora que arecent todos 06 lugares comuns da epresetarao compaceri, lea mere lcd o verdadeamont nares, que os unt verte gostam do (0) dar deles mesmoe, © de {ous universe, aque conhecaulogeamerte un inet 0 sucesso nos meics unverstaros a Tonio, em todos os meiae com nivel do estuses Unies, Deste modo sob risco de chocar tanto os metodélogos rigoristas q hermeneutas inspirados, eu diria naturalmente que a entrevista pode ser rada como uma forma de exercicio espiritual, visando a obter, pelo esquect de si, uma verdadeira converso do olhar que langamos sobre os outros fh ccunstancias comuns da vida.“ A disposigdo acolhedora que incliga a fazer problemas do pesquisado, a aptidao a aceiti-lo e a compreendg*lo tal com na sua necessidade singular é uma espécie de amor intelectual: um olhargl sente com a necessidade, & maneira do “amor intelectual de Deus”, isto’ dem natural, que Spinoza tinha como a forma suprema do conhecimenit, Oessencial das “condigdes de felicidade” da entrevista fica, sem di percebido. Oferecendo-the uma situagao de comunicago completamen cional, livre dos constrangimentos, principalmente temporais, que ‘maior parte das trocas cotidianas e abrindo-Ihe alternativas que o inciti torizam a exprimir mal-estares, faltas ou necessidades que ele descobte do-os, 0 pesquisador contribui para criar as condigdes de aparecimento curso extraordindrio, que poderia nunca ter tido ¢ que, todavia, jes rando suas condigdes de atualizagao.’ Embora eles sem diivida conscientemente todos os sinais desta disponibilidade (que requer! pouco mais que uma simples conversio intelectual), certos pesqui do entre os mais carentes, parecem aproveitar essa situago como, ‘excepcional que thes é oferecida para testemunhar, se fazer owvity rigncia da esfera privada para a esfera piblica; uma ocasio car, no sentido mais completo do terme, isto é, de construir seu! vista sobre cles mesmos ¢ sobre o mundo, e manifestar 0 pont ‘mundo, a partir do qual eles veem a si mesmos ¢ 0 mundo, ¢ s¢ siveis, justificados, e para eles mesmos em primeiro lugar’, longe de serem simples instrumentos nas miios do pesquisadohy alguma maneira a entrevista ea densidade c a intensidade de: impressio que eles dio frequentemente de sentir uma espéct realizagio, tudo neles lembra a felicidade de expresso. Podle-se sem dlivida falar entio de auto-anélise provog ‘em mais de um caso nés sentimos que a pessoa interrogad 6 Podersea citar aaui ice ou Marco Autlolembrando disposal tooo que depend da causa univer, asentmens (poh) sag 7.0 bal “socio” de ua explicit visu. propor ses inp, lament aprestadas como ais (er que oct no quer dizer qu.) _miltplose aber palaras do pesquisado, suns stage i 4. observe assim numeross vezes que o pengiado rep sc ohaviamesclrecido sobre cle mesmo is, abe sua poi ara desigaraposigdo critica de um pesqoisadona hiraguin de brava bem as tenses extrema porque cle paar). bertas ¢ miltiplas ¢ frequentemente reduzidas a uma atengao silenciosa) para alizar um trabalho de explicitagao, gratificante e doloroso ao mesmo tempo, e ra enunciar, As vezes com uma extraordindria intensidade expressiva, experién- ias ¢ reflexes ha muito reservadas ou reprimidas. Uma construgio realista Mesmo se acontecer que ele seja vivido como tal, o acordo que é assim reali do entre as antecipagées e as amabilidades do pesquisador e as expectativas do esquisado, no tem nada de miraculoso. A verdadeira submissio ao dado supde n ato de construgo baseado no dominio pritico da légica social segundo a qual dado é construido. Assim, por exemplo, s6 se pode compreender verdadeira- ente tudo que é dito na conversa, na aparéncia totalmente banal, entre trés estu- tes se, evitando reduzir as ts adolescentes aos nomes que as designam, como tantas sociologias ao gravador, soubermos ler, em suas palavras, a estrutura Telagdes objetivas, presentes e passadas, entre sua trajetdria e a estrutura dos belecimentos escolares que elas frequentaram e, por isso, toda a estrutura e a ia do sistema de ensino que nelas se exprime. Contrariamente ao que pode- crer uma visio ingenuamente personalista da singularidade das pessoas is, € a revelacdo das estruturas imanentes as conversas conjunturais tidas interago pontual que, sozinha, permite resgatar o essencial do que faz a ssincrasia de cada uma das jovens e toda complexidade singular de suas e de suas reagdes. A anilise da conversagio, assim entendida’, 1é nos discursos niio somente a utura conjuntural da interagio como mercado, mas também as estruturas invi- is que o organizam, isto ¢, neste caso particular, a estrutura do espago social as trés jovens estdo situadas desde o inicio e a estrutura do espago escolar erior do qual elas percorreram trajetérias diferentes que, apesar de pertence- © passado, continuam a orientar a sua visio do seu passado e do seu futuro ares, ¢ também dlas mesmas, no que elas tém de mais singular” Jnum sentido muito diferente daquele que sedi quando se toma por objeto a mancra de admins or exemplo as esratépas de aberura ede feehamentofazendo abvragao das caretristicas os participant. iti fambém a enevista com um jovem estan, lho de imigrane, que € uma exempliis 8d Goodman, ct andlise ds transformagSes do sistema do ensino que condazis&liphcagao ido friar” snd o pesquisado em qustio wna “amostra” pri, sempre nos terms de nova categoria de estudantes

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