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O presente estudo de caso apresenta de forma condensada os principais even- tos que levaram & quebra do Barings Bank, devido as perdas incorridas por sua filial de Cingapura nos mercados futuros. No dia 26 de fevereiro de 1995, as manchetes dos principais jornais do mun- do divulgaram a quebra do Banco Barings PLC, tradicional instituicao financeira com 233 anos de attacio no Reino Unido, cuja lista de correntistas incluia a Rai- nha Elizabeth. Feitas as investigagdes preliminares, as primeiras evidéncias indi- cavam que a faléncia daquele banco havia sido aparentemente causada por um tinico operador de mercado, Nicholas Leeson, de 28 anos de idade, que conseguiu fazer a instituigdo em que trabalhava perder um bilhdo e trezentos milhdes de d6- lares com operagées do mercado de derivativos. Esse prejuizo foi suficientemen- te elevado para consumir todo o capital da instituiggio, O prejuizo foi causado por uma elevada posigéo assumida no mercado de ages do Japio, por meio de compras de contratos futuros. Leeson, que a época era 0 Operador Chefe da sucursal do Barings em Gingapura (Barings Futures), ja vinha ha algum tempo acumulando posigées compradas em contratos futuros do indice Nikei 225 (indice composto por uma carteira de acées de empresas japo- nesas). Sua expectativa era de que as aces japonesas iriam se valorizar, de for- ma que ao comprar contratos futuros ele se beneficiaria de uma alta nos precos das aces. As posigbes assumidas pelo Barings nas Bolsas de Cingapura e Osaka atingiam um volume assustador, da ordem de sete bilhdes de délares. Essas posi- ges compradas poderiam gerar elevados lucros caso o indice Nikei 225 se valo- rizasse; entretanto, 0 mercado de ages japonesas se desvalorizou em cerca de 15% nos primeiros dois meses de 1995. A medida que os prejuizos do Barings iam se avolumando, Leeson aumentava os investimentos. Ele acreditava que suas pro- jecdes sobre a valorizacio futura das ages estavam corretas. Mantendo uma ele- vada posicao ele seria capaz de reverter os prejuizos obtidos até aquele momen- to. Esse tipo de raciocinio segue a légica do jogador de cartas que, a0 comecar a perder, segue apostando ainda mais em seu jogo, na esperanga de ser capaz de reverter suas perdas anteriores. Quando a situacdo se tornou insustentavel, a ponto de ser impossivel 20 Barings honrar os pagamentos cobrados pelas bolsas por meio das chamadas de margem, Leeson tentou fugir para destino desconhecido. Pouco depois, foi cap- turado e condenado a prisio. Uma vez que o Barings Bank era conceituado como um banco de atuacio conservadora, sua faléncia serviu como sinal de alerta para todo 0 mercado finan- ¢, principalmente, os érgaos reguladores, em relagdo as instituigées finan- ras de todo o mundo. A continuidade das investigacées relativas ao desastre do Barings revelou que © que realmente causou a bancarrota da instituigo foi uma surpreendente falta de controles, 0 que permitiu que Leeson assumisse um risco gigantesco no mer- cado de agées do Japao, sem que a matriz do banco, em Londres, pudesse notar: Leeson detinha tanto o comando da mesa de operacoes, onde os negécios eram fechados, como também da retaguarda administrativa que era a area do banco responsdvel por confirmar as operacGes e certificar que todas as transagées eram efetuadas dentro de padrées adequados de conduta. Na maioria das instituigées financeiras, os operadores de mercado possuem limites especificos de posigdes que eles podem assumir. Esses limites sao constantemente monitorados por uma area independente daquela que assume as posicdes, de forma a evitar conflitos de in- teresse. A situacao em que o préprio operador € responsdvel pela retaguarda ad- ministrativa que controla sua posi¢ao, como era o caso de Leeson no Barings, fa- vorecia 0 desvirtuamento dos controles de posigao. ‘Uma das razdes pelas quais Leeson nao sofria uma supervisdo mais dura era o hist6rico pasado, a seu favor, de ganhos obtidos em perfodos anteriores. No ano anterior, por exemplo, ele teria sido responsavel por ganhos da ordem de vinte milhdes de ddlares para o Barings, o que representava cerca de um quinto do lu- cro total. Esse lucro acabou gerando elevados prémios por participagéo em resul- tados para os superiores hierdrquicos de Leeson. Os lucros gerados por Leeson deveriam, em verdade, servir de alerta para seus superiores e nao de elemento atenuante em sua supervisio, Ha o velho preceito de que, quanto maior o risco, maior o retorno. O fato de um operador de mercado gerar elevados lucros pode ser um sinal de eficiéncia, ou também de excessivo arrojo nas operacoes. Em um artigo publicado pelo Wall Street Journal, em 27 de fevereiro de 1995, ha uma concluséo que resume o principal problema do Barings: autoridades do Bank of England (Banco Central Britdnico) disseram que o caso Barings néo pode ser considerado como um caso peculiar causado por derivativos. Num caso des- ses, em que um operador assume posigées nao autorizadas, principal problema € a pouca eficiéncia dos controles internos de uma instituigio financeira e do monitoramento externo efetuado pelas bolsas de valores e pelos érgaos regula- dores. As conclusées do extenso relatério preparado pela auditoria do Bank of England apontam para os seguintes elementos como prineipais causas do colap- so do Barings: © Os elevados prejuizos foram causados por posigées assumidas por uma subs ia do banco, sem autorizagao ou conhecimento da matriz, nos mercados futuros de indices de agoes japonesas ‘* Essas posigdes nao foram percebidas em tempo habil pela matriz. do Barings devido a uma séria falta de controles apropriados. O sistema gerencial ¢ hierdrquico confuso dentro da organizagao contribuiu para piorar a situagao. ‘© Essas posigdes elevadas, assumidas por Leeson, também nao foram per- cebidas em tempo pelos auditores externos, supervisores ou érgios re- guladores, Questées caso do Banco Barings suscitou uma série de medidas impostas pelos 61 géos reguladores internacionais para dar maior seguranca ao sistema financeiro mundial. Com base no estudo do caso, discutir quais deveriam ser essas medidas, levando em conta aspectos como: estabelecimento de limites, informagao a re peito de excessos incorridos em relacdo aos limites, delimitacao de responsabili- dades, supervisao de filiais ou subsidiarias de bancos em outros paises, controle por parte de bancos centrais etc.

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