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Il Coléquio de Processo Civil de Santo Tirso Coordenagéo Paulo Pimenta ALMEDINA, Onus de alegacao ede impugnacao das partes e poderes de cognicao do tribunal PAULO PIMENTA Advogndo. Professor do Lepartamento de Direito da Universidade Portucalense, Membro da Comissio de Revisto do Processo Civil No campo do direito srocessual civil, a definigio da matriz do regime passa muito pela conjugicdo de duas dimens6es: 0 énus de alegagio das partes e os poderes de cogni¢ao do tribunal Num sistema como o nosso, profundamente marcado pelo principio Aispositivo, constitui nota fundamental a ideia de que cabe as partes defi- nir 95 contornos ficticos do litigio, ou seja, devem ser as partes. a carrear para 0s autos os factos que sustentam as respectivas pretensdes. Assim, ‘autor deverd alegar 0s factos que do consisténcia ao pedido por si for- mulado. E ao réu competiré alegar os factos que servem de base & sua defesa. Trata-se daquilo que usa designar-se por principio da disponibi- lidade do objecto! ‘Numa formulagao tradicional do principio dispositivo, esta vertente da disponibilidade das partes sobre o objecto do litigio levava a que se entendesse que no s6 competia is partes a alegacio dos factos da causa ‘como o juiz nao podia servir-se de outros factos que nio os alegados pelas partes, Quer dizer, a0 énus de alegagio que impendia sobre as partes cor- respondia uma limitagio dos poderes cognitivos do juiz, de cal modo que eventuais omissées ou insuficiéncias na alegacio de factos era susceptivel de condicionar o ambito da decisio. Do mesmo modo, ainda que o desen- rolar do processo revelasse (outros) factos com atinéncia para a decisio, da questéo submetida a juizo, tais factos no podiam ser considerados pelo juiz, Além disso, competia és partes providenciar pela demonstra- ‘gio dos factos da causa, isto é, a prova era também encargo das partes, Neste sentido, TeIXEIRA DE SOLS (Intmduico auprxei al, 2 edi, p. 60), 1 COLSQUIO DE PROCESSO civ. DF saNTO THESE significando isso que o juiz tinha também uma atitude passiva em matéria instrutéria, s6 podendo incluir na decisio os factos que as partes logeas- sem demonstrar. ‘Tudo isso assentava numa visio privatistica do processo, segundo a gual as partes dispunham do processo como de coisa sua, incluindo na vertente fictica da lide. O processo era visto como um duelo que decor- tla perante o juiz. Nessa concepedo, eram coordenadas fundamentais 4 imparcialidade do tribunal e a igualdade dos litigantes, 0 que seria (supostamente) assegurado pela passividade do juiz, limitando-se este 8 apreciar © material fictico ¢ probatério que as partes, com igualdade de armas, carreassem para 05 autos. Esta visio do processo tinha diversas consequéncias, que usavam expressar-se pelos seguintes brocardos: iuder Judicare debet secundum allegata et probata partium; quod non est in acts (par- tum) non est in mundo; da mihi factum, dabo tii ius. Foi este 0 regime que, durante mais de um século, caracterizou 0 sistema portugués ¢ chegou quase a0 final do século XX. Registe-se, porém, que a vertente do dispositivo que apontava para a inércia do juiz no campo da instrucio foi sendo progressivamente abandonada a partir de 1926*. De todo 0 modo, no CPC de 1939 e no CPC de 1961 (na versio. vigente até & Reforma de 1995/96), era particularmente vincada a nota de dispositive que firmava um nexo directo entre os factos que o tribunal Podia considerar na decisdo ¢ os factos articulados pelas partes, como se via pelo teor do art. 664° de ambos os cédigos: “a juiz ndo esté sujeito as alegasdes das partes no tocante a indagagdo, interpretasaoeaplicasao das regras de direito; mas s6 pode servir-se dos factosarticulados pelas parts..". Esta concepeio levava a que 0 processo se fechasse sobre si préprio, tanto mais que a solugio contida naquele art. 664° era 0 corolério de diversas disposicdes com 0 mesmo sentidot, Assim é que a especificacao € © questionario eram um mero repositério dos factos articulados pelas artes, as diligéncias de prova sé podiam recair sobre os factos constantes * Neste campo, o Decreto n 12:383, e 22/9/1926, marca o nico das intervengbes legisla ‘vas que haveriam de culminar no CPC de 1939. Dando nota disso, Ausenro 00s Rets (Comer. ‘dri a ciigo de proces cl Vol 3%, ps. 2 5.) * Note-se que on? 3 doar. 264 do CPC de 1961 (até Reforma de 1995/96) cstabelecia que (0 poderes instrutrios do juizeram limitados “aa facta de que Ihe dlc conhcc”sabendo-se {que estes eram precisamente os alegados pelas parts. ” (ONUS DE ALEGAGAO EDEIMPUGNAGAO DAS PARTES E PODERES DE COGNIGAO DO TRIBUNAL do questiondrio ¢ o julgamento da matéria de facto se limitava a decla- rar, de entre os factos constantes do questionirio, quais os provados & (05 nao provados'. Em perfeita articulagio com isso, tinhamos um rigido esquema de énus, cor quéncias nefastas de um regime com tais caracteristicas’. A Reforma de 1995/96", mantendo embora a matriz do dispositivo, cuidou de restringir o seu ambito, em termos de permitir uma aproxima- io do proceso e da respectiva factualidade 4 realidade das coisas. Nessa perspectiva, ¢ importante recordar redacgio entio dada ao art. 664° do CPC de 1961: “o juizndo estdsujeto as alegagdes das partes no tocante a indaga- gio, interpretagto eaplicagao das regras de direito; mas s6 pode servir-se das factos articulados pelas parte, sem prejuizo do disposto no artigo 264". (O segmento final acrescentado a este preceito (“sem prejuizo do disposto no artigo 264*”) quis significar que a delimitagio dos poderes cognitivos do tribunal deixou de ser feita somente naquele art. 664°, tornando-se necessirio considerar também o art. 2642, em especial do seu n® 3, na formulagio decorrente da Reforma de 1995/96. ‘Aqui chegados, cabe dizer que, por virtude da Reforma de 1995/96, 0 art. 2642 do CPC de 1961, apesar de a sua epigrafe continuar a ostentar a referencia ao “principio dispositivo”, atenuou fortemente o dispositivo e, a0 mesmo tempo, ampliou os poderes cognitivos do tribunal. Com efeito, depois de o respectivo n* I estabelecer que “is partes cabe alegar os factos que integram a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as excepgoes”, 0 n° 2 reve- lava que nao havia preclusio quanto a “factos instrumentais’, prevendo- se que 0 juiz. considerasse “mesmo oficiosamente, os facts instrumentais que resultem da instrugto e discussdo da causa”. Indo mais longe, o n® 3 daquele art. 264 mostrava também nao haver preclusio quanto a “factos comple- mentares ou concretizadores”, pois deveriam ser considerados na deci- io “os factas essenciais a procedéncia das pretensies formuladas ou das excepgdes deduzidas que sejam complemento ou concretizagdo de outros que as partes hajam ages @ preclusses. Sio conhecidas as conse~ “A ese propésit, eft os ars. 264%, SIS, SIT, G41 e 653" do CPC: de 1939 eos ars. 264%, SUI, 513", 638 e653" do CPC de 1961 (oa versio anterior 3 Reforma de 1995/96) * Assim se perecbe que audindo a principio dispositive e as suas implicagbes, MANUEL DE AANDRADE (Nes lementoes de prs cp. 374), trate a segwinte lag: “Donde tame aque sentenga procure a verdad formal (intra prccual endo verdade material (ste-procesul " Suportada pelo DL n® 329-A/95, de 12/12, e pelo DL. n* 180/96, de 25/9, com inicio de igincia em Ide Janeiro de 1997 1 COLOQUIO DE PROCESSO CIVIL DE SANTO TIRSO oportunamente alegado resultem da instrugao e discussdo da causa, desde que a parte interessada manifeste vontade de dees se aproveitare& parte contvatia tenha sido facultado o exerecio do contraditério”. A redacgio assim dada ao art. 264° do CPC ¢e 1961 pela Reforma de 1995/96 apontava para uma menor rigidez do processo, jé que nao era forgoso que o lastro fictico dos autos ficasse estabilizado logo que findas- sem 0s articulados. Sinal claro disso mesmo era a previsio de ampliagio. da base instrutéria inserta no art. 6502 2.f) do CPC de 1961, na versio emergente da Reforma de 1995/96. Num quadro de normalidade, daqui teriam de decorrer importan- tes diferengas em diversos aspectos, nomeadamente quanto ao préprio teor da base instrutéria, 20 objecto da prova, ao regime do depoimento testemunhal e ao julgamento da matéria de facto. Tais diferengas eram claramente descortinaveis no texto legal. No ertanto, a pratica forense de quase uma década e meia nio revelou a concretizagio do intuito legislativo. Dito de outro modo, a pratica do foro foi mostrando que, ‘nos seus aspectos mais marcantes, o processo civil portugués continu- ava amarrado a uma concepgao anquilosada do dispositivo, enredando-se demasiadas vezes em preciosismos técnicos e formais cujo efeito sempre foi o de manter a indesejada dicotomia “verdade do processo/verdade material”. E tendo bem presente esse quadro que deemos analisar 0 modo como 0 CPC de 2013 regula os énus de alegacio e de impugnacio das partes e 0s poderes de cognicao do tribunal. 1) Oart.5¢docPc” Antes de mais, é de notar que, muito intencionalmente, este preceito, tal como a sua epigrafe induz, trata em simultaaco duas vertentes que * Chk os arts. 508°-A Ie) SIP SIS, 638° e 653° 2 do CPC de 1961, na versio devorrente dt Reforma de 1995/96, * Reflectindo sobre o desencanto associado & (nfo) concretiagto efectiva da Reforma de 1995/96, Joho Conneta/Pauto Piuewa/Sénc1o Castanitina (Intradusoae sstudo ed apl- gt do cio de proceso cil de 2013, ps. 9-12), ° Doravant, a aluso a qualquer preceito legal sem indicagio da respectiva proveninca ree peita a0 CPC de 2013, CONUS DE ALEGAGIO DE Hun ;AGRODAS PARTES E PODERES DE COGNIGAO DO TRIBUNAL, sempre estiverem reguladas em preceitos distintos: 0 énus de alegagio das partes e 0s poderes de cognico do tribunal”. Por outro lado, éde salientar que a formulagao deste normativoassenta na dicotomia entre duas grandes categorias de factos: 0s essenciais, sto é, aqueles de cuja verificagio depende a procedéncia das pretensdes dedu- zidas",e os instrumentais, ou seja, aqueles que permitem a prova indiciaria dos factos essenciais!. Depois, este art. 5° torna claro que o énus de alegacio se circunscreve a0s factos essencials. E 0 confronto do seu n* 1 com a alinea a) do n* 2 mostra que nao hi qualquer énus de alegagio quanto a factos instru- mentais, menos ainda qualquer preclusio, devendo o juiz deles conhe- cer quando “resultem da instrugto da causa”. Além disso, 0 teor da alinea b) do n® 2 do art. 5* revela que nao ha preclusio quanto a factos que sejam complementares ou concretizadores de outros inicialmente alegados. E importante salfentar que esses factos complementares ou concre zadores pertencem & categoria dos factos essenciais". Séo de qualificar como complementares ou concretizadores aqueles factos que, embora neces- sarios para a procedéncia das pretenses deduzidas (dai serem essenciais), no cumprem uma fungio individualizadora do tipo legal. © NoCPC de 1939 eno CPC de 1961 (antes eapés a Reforma de 1995/96), vertente do aus de alegagio estava no art, 254" e 2 dos poderes de cognigio do tribunal no at. 664° "No sentido de que é fact esencial "todo ofato qu, imtegrande a fatispcienormativaprodutna «lo eit (pel autor, ao duc opedido pelo rn, aa dedi ua exept), €inspensivel & produto dlese efito”, embboraassumindo preferdncla pela designacio ficto principal, LEune DE FRet- ‘tas (Sobre 0 now cig de proceso cv, Revista da Ordem dos Advogados, Ano 73, p. 36) Em termos similares, Lores bo REGO (Comentério ao chlo de prez cil, edigSo, Vol. 1, 1.252) afirma que “tos eszmciis tas queconcretizando, spcfandoedensfcando ox clementos slapreviso normatiaem gues funda a pretenso do autor odo recnvinte ou aenspyto ptempriris sedi pelo ru), 3erevelam decisis paraawiablidadeouprovedente da a, de reconvene ot st def por excep, endo absolutamente dispenses identifica, prenchimentae substance lo ds stapes juries afrmadas eas vale em un plas parts” © Nas palavas de Loves 00 Reco (Comentirins ei, Vol I, ps. 252-253), os fotos instr iments desempenkam “una fo probate no na fg de preenchimentoe substan _jwidcor material spines defea " Note-se que a el delxou de ali “diseusso", ao contririo do que suceia no n? 2do at, 264° do CPC de 196: (na redaccto resultante da Reforma de 1995/96), pos nia ¢préprio que dadiscussio da caus resultem factos, ° Neste sentido, Ruios DE EARLVANA Luss LOUREIRO (Primus notas ao novo cidga depro- cect, ol. yp. 36) 1 COLOQUIO DE YROCESSO CIV. DF SANTO TIRSO Acerca da consideragio dos factos complementares ou coneretizado- res prevista no art. 5* 2.b), atente-se que 0 juiz pode e deve conhecer de tais factos quando “resultem da instrugao da causa’™ e “desde que sobre eles as ‘partes tenhamn tido a oportunidade dese pronunciar”™®, Quer isto significar que, agora ¢ nos termes da lei, o conhecimento desses factos passa a ser ofciaso e detxa de estar dependente da vontade do interessado, 20 contrério do que sucedia antes do CPC de 2013”. A correcta percepeio do regime consagrado no art. 5%, em especial no cotejo entre on? | eo n® 2.b), implica salientar que, no ambito dos factos escenciais, devemos distinguir dois planos: de um lado, os factos essenciais, ucleares, de outro, os factos essenciais complementares e concretizadores" Os nucleares constituem o muicleo primordial da causa de pedir ou da excepgdo, desempenhando uma funcao individuatizadora ou identifica dora, a ponto de ¢ respectiva omissio implicar a ineptidao da peticio ini- cial ow a nulidade da excepgio. 5 Também aqua le deixou de aludira "discuss", alusto que hava n'3 doar. 264°do CPC de 1961 (na ears resultante da Reforma de 1995/96). © A\lei nio especifea 0 modo de concretizar ou assegurar essa proniinca,j4 que tudo epende lrgamente de uma vsloragSo processo a process, © que importa € que Juiz nor- tle a sua actusg3o era termos de evitar decisoes surpresa, por um lado, e de proporeionae am efectivo contraditirio, por outro tendo ainda presente 0 direlto a prova. A este pro- ost, eft. RaMos DE Fanta/ANn Lofsn Louneino (Primera nas eit, Vol. 1, ps. 39-41 © 520-821) Cit. tumbén 0 Ac. TRP de 30/4/2015 (Aristides Almeida), proferido no processo 1° 5800/13 7TBMTS.M, disponivel em waew.dgsipt, que assinala bem as cautelas ster pelo fale ests sede Alda yur lateralmente, refr-se que 0 pono Id rexpectiv sumario n30 ntciramente conform: ae decidido, i que alude a um requistto (manifestacio de vontade da arte) que nfo & hoje exgivel, nem ¢ exigido no dito aest. 7 0 que resulta claro do confronto entre o referido nt 3 do art. 264° do CPC de 1961 ¢ 2 slinea b) do n? 2 do an. 5. A exigencia dale agora, a de que as parts (ambas as partes) tenham tidoa possibilidade de sepronunciar sobre tals facts. Apesar dese este oinequivaco sentido da le, por se no confronto com o regime revogado, e sem que se vislambre qualquer ‘azo de fundo.em comtririo, Lenns De FRErrAs (A ago declarative comune d cig de pro- «eso chil de 2013, p. Vl nota de odapé n®2,¢Introdugfo ae procs civil p. 166, nota derodapé 1# 338) sustenta que continua Sendo necessiria manifestacio de vontade da parte interes sada. Colocando a questio nos termos que se figuram conformeso novo regime, RAMOS DE Eawin/ANs Luisa Loureiro (Prineirs nota eit, Vol. lps. 3941). Na jurisprudénca,apon- tandocorrectamente para oicisidade do conhecimentodessesictos ef ocitado Ac. TRP 4/2015 (Aristides Almeida) e o Ac. TRP de 15/9/2014 (Alves Fernandes), proferido no prosesson® 3596/120T]MVFPI, ambos disponiveis em ws * Chi Pavuo Powers (Proceso el declarative, ps. 20-21), NUS DE ALEGAGAO E DE EMPUGNAGAO DAS PARTES & PODERES DECOGNIGAO DO TRIBUNAL Ji 0s Factos complementarese os factos concretizadores, embora também integrem a causa de pedir ou a excepgio, nao tém uma fungio indivi dualizadora, pelo que a omissio da respectiva alegagio nio é passivel de gerar ineptidio da peticio inicial (ou nulidade da excepgio), a0 que acresce a jé referida circunstancia de no haver preclusdes quanto a fac- tos desta natureza. Assim, os factos complementares sio os completadores de uma causa de pedir (ow de uma excepio) complexa, ou seja, uma causa de pedir (ou uma excepgio) aglutinadora de diversos elementos, uns constitutivos do seu niicleo primordial, outros complementando aquele. Por sua vez, os factos concretizadores tém por funcdo pormenorizar ou expli- ditar o quadro fctico exposto, sendo exactamente essa pormenorizagao dos {actos anteriormente alegados que se torna fundamental para a proce- déncia da acgio (ou da excepgio)”. Procurando articular os factos complementares e os factos concr adores, entre si e no confronto com os factos nucleares, no contexto da causa de pedir (ou da excepgio), temas a seguinte formulagao: os factos complementares acrescem aos factos nucleares, preenchendo em conjunto 4 fatispécie normativa geradora do efeito pretendido com a ac¢io ou com a excepgio (¢ da natureza do que é complementar acrescentar algo 20 que pré-existe: no caso, pré-existe o facto nuclear)"; os factos concretiza~ © DefinigBes colhidas em Moxatvio Macitana (0 dispositino e s pores do tribunal & luz stonov cig de proce cv, 2 edicho, ps. 348-349 e 35), reproduzidas js em MONTALVAO Macitapo/Pauco Pratena (O novo proceso ol, 12! edigfo,p. 296) ¢ em Pauto Prana (A fase do saneamento do proceso antes apisa igenca do novo ago de prose tl, p. 188-189). > Numa acco de impugnacio pauliana (arts 610* est. da CC), ¢factoesencal nuclear aquele que respeita a alienagSo geradora de diminulgSo da garania patrimonil,sendo fit exe= ‘ns complementaes os que respeitam & nstureza nfo pessoal do acto, 4 determinagio da data a consttuigio do crédito, 3 deverminagio da dats do acto impugnado, a imposibilidide ‘ou agravamento da impossibilidade de obter a satisaeto do crédito eA ms f€ dos Imerve- nientes (Sendo onerosa aalienagio). Num acgSo destinada & dendinca do contratode aren- {éamento para habitagio do senhorio (ants. 101" e 1102* do CC), se facto enenta nuclear que respeita necessidade do senhori, sendo fects enc complemenare os relatives & ‘iularidade do locado (hi mais de dois anos ou Independentemente de prazo, em caso de suisgdo por sucesso) eos relativ crcunstincia de, hi mais de um ano, 0 Senhorio nfo ‘er esa prépria ou arendada que satsfaga aquela necesidade numa certa rea geogrifica, «em fungio da localizacio do locado. Numa acolo destinada 8 efecivacio de responsabildade ‘ul extracontratual (ar, 483° do CC), é fica exencal nuclear a relativo & ocorrenela (ct), sendo fitas seni complomentare 0s toltivs ao dano resultante da ocorréncia, ao nexo de ‘suslidade entre facto dano,ilicitude da condura e 3 eulpa do lesante. Numa excepo 8 dores pormenorizam, minuciam, explicitam ou particularizam factos jé alegados, quer esses factos sejam nucleares, quer sejam complementares (E dessa pormenorizagio que resultaré a assungio plena do facto nuclear ou do facto complementar). Significa isto que o campo privilegiado dos factos concretizadores € 0 de alegagoes ficticas vagas, genéricas, impre- cisas ou dibias", Como se compreende, s6 cada situagio, s6 cada processo permitiré, com mais acuidade, a ponderacio daquilo que esta efectivamente em causa, € com isso 0 carapo de aplicagéo destas figuras. De todo 0 modo, ‘© novo regime permite esperar que a petigio inicial se torne uma pega ‘menos extensa, menos prolixa, uma pega em que 0 autor concentre a alegagio em factos susceptiveis de preencher o tipo legal de que pre~ tende prevalecer-se, d'spensando-se de uma alegacdo pormenorizada ¢ atomistica, uma alegacio pejada de referéncias laterais, circunstanciais ‘ou meramente instrumentais®, Retomando a previsio do art. 5*, vemos que o seu n® 3 a mantém a solugao tradicional, expressa no brocardo jura novit curia, acerca da liber- dade do julgador quanto ao enquadramento factico da questo: “ojuiz nao esta sujeito as alegagaes das partes no tocante@ indagagao, interpretagao e aplica- $0 das regras de dieito” A solugio consagrada no art. $* tem natural atinéncia com diversos outros aspectos relatives a0 modo como o proceso deverd evoluir € desenvolver-se. b ‘peremptiria visando a anulaeio do negécio com fundamento em erro sobre os motives (at 282! do CO) é facto esencial nulear 0 que respeits& explicitagio do erro, sendo facta csencial ‘amplementarorelatvo 3 reeonhecimento por acordo da essenciaidade do mativo. 3 Pensando em algumas das hipsteses apresentadse, serio concetzados, na impugnagio ppauliana, os facts destinados a expliitar a data da constituigo do crédito, perante a alega ‘fo imprecisa de que o crédito ¢anterlr a0 aero impugnado, ou os destinados a dar conteido cfectivo 3 alegagia de que transmitente e adquirente agiram com 3 inten de prjuicr © credor. Na denuincla do arrerdamento, os destinados a explictar a alegagdo vaga de que, por ‘aes familiares, 0 enhoriaearece do locado para asus habitagdo. Na acglo de responsabl lidade civil, os destindos precisar 0 contesido da alegagao de que cere viaturacirulava 2 velacidade superior egalment_peritia, ou, noutr caso, os destinados a precisa a aime ‘ov expres proferdas pelo ru alegadamente ofensivas da honra do autor. ® Raclocinio semelhante vale, mutatis mutans, para a contestagio, quanto As excepgdes af deduzias (6nUIS DE ALEGAGAOE DE IMPUGNAGAO DAS PARTES E PODERES DE COGNIGAO DO TRIBUNAL ‘A inexisténcia de preclusdes joga com a inexisténcia de um momento (intermédio) do processo a partir do qual se estabilizem ou cristalizem 0s factos da causa. Agora, isso apenas suceder na sentenga (art. 607? 4). A inexisténcia dessa cristalizagao dos factos faz com que perca sentido algo semelhante a especificagao (ou matéria de facto assente) e ao ques- tiondrio (ou base instrutéria), que foram pegas que marcaram (¢ marca- ram de modo perverso ¢ castrador) o sistema processusl civil portugues a0 longo de cerca de oito décadas. Consequentemente, a produgio de: prova no processo deixar de estar condicionada por algo to rigido formal como 0 cuestionério ou a base instrutéria, devendo outrossim ser balizada pelos limites que resultam da causa de pedir e das excepcées. deduzidas, com expresso na enunciagio dos temas da prova (art. 596° 1)*. ‘Aqui chegados, devemos assumir que, embora o nosso sistema proces- sual civil continue tendo uma marcada dimensio de dispositivo, expressa, no énus de alegacdo de factos e na conformagdo do objecto fictico do processo (assente na causa de pedir e nas excepgdes deduzidas), esse dis- positivo esta restringido ao justo limite, na medida do necessério para, evitar cominagées ¢ preclusdes indevidas e na medida do necessério para assegurar a adequagio da sentenga & realidade extraprocessual, Em abono di verdade, deve também dizer-se que os (actuais) con- tornos do dispositivo no nosso regime resultam, nao tanto do CPC de: 2013, ourrossim da Reforma de 1995/96, remontando a tal intervengio. legislativa a verdadeira e decisiva mudanga nesta sede. Foi a partir dai (coma redacgio entio dada ao art. 2649 3 ¢ ao art. 664%do CPC de 1961) que © principio dispositivo passou a ter um Ambito mais restrito e foi a partir dat que os poderes cognitivos do tribunal foram ampliados (por via da atenuagio das tradicionais preclusdes associadas a0 Gnus de ale- ‘gagio). Bem vistas as coisas, o CPC de 2013 apenas incvou na parte em que tornou oficiesa a consideragio pelo juiz dos factos essenciais comple- mentares ou concretizadores, assim caindo o requisito da manifestagio de vontade nesce sentido da parte beneficiéria. No mais, dir-se-a que 0 art. 5* do CPC de 2013 se limitou a tornar mais explicita (mais esquem4- tica) a solugao legal, na certeza de que é manifestamente virtuosa a opgio: * Acerca das temasda prova no CPC de 2013, F:Pauto Pratewra (Prac vile pa 280 ess). NW COLGQUIO BF. HkOLFSSO CIVIL DF SARTO TIRSO de concentrar no mesmo preceito a regulamentagio do énus de alegagio que impende sobre as partes e dos poderes de cogni¢ao do tribunal™ Antecipando o que se dir de seguida, saliente-se que 0 CPC de 2013 cuidou de conjugar o teor de varios preceitos, em termos de contribuir para a melhor percepgio do regime hoje expresso no art. 5° 2) Oart.§52" Ld) do CPC Definindo o contetido do segmento da petigao inicial que € costume designar por narragio, a alinea d) do n® 1 do art. 552* estabelece que 0 autor deve ai “exporos actos essenciais que constituem a causa de pedire asrazbes de direito que servem de fundamento & acga0”. Esta previsio tem conexao com o art. $, cujo n® 1 estatui que cabe as partes alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir € aqueles em que se baseiam as excepgoes. Assim, relativamente a0 autor, é na peticio inicial que este deve dar cumprimento a0 dnus de alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir, isto €, todas aqueles de cuja verificagto depende a procedéncia da _pretensto deduzida. E na causa de pedir, melhor dito, nos factos que a cons- tituem que o autor estriba ou sustenta o pedido formulado. Tais factos, na * Como ¢evidente, nfo sera epigrafe de um preceito legal a conferr ou a retirara dimen- sto do dispositvo a um sistema processual-£ verdade que 0 art. 264" do CPC de 1961 osten= tava a epigrafe a expressio “principio dispositva" eque a epigrafe do art. §®do CPC de 2013, nko contém frmula zemethante. O que releva, porém, & a substincis do sistema, mas iso retirs-se ds conjagagio de virlos precetos. Assim, no pode haver divides de que o sistema porugués continua sendo marcsdo pelo dispostvo, mas cicunscrito este & justa medida, como acima sereferiu. Desve modo, nto se compreende bem a pasicio de MaRiAaxa FRANCA Gouveia (Oprincpiadispestio ee alegasto de factocem proceso cia ncesante praca daflxii- ‘Made procesual, Revita da Ordem dos Advogades, Ano 73?, I/II, ps. 602-604), que comega por eriticar opslo leislativa quanto & epigrafe do art. 5%, referinda que “a primina east fue temor& qu exe prin [odspesitivo} detzow de ser um ds pnp orkotadors do sistema pro- ‘exual ti, pata reconbecer, ana, que “oct que o principio dspativa continua avigorar” © que “textratura nto fl altrada” Fszendo ume letura mats realist afirmando que aalteragSo As epigrafe “apenas tev por fim emprestar ator igor seu to, fioandoro ao evo comtide do tntigo [5)"¢ aceitando que “Se é ero que o rinpo dispositive ni fot abandonado, tamhin ¢ sede ue pode dizer ue osu iia fraprocender om divers disp, RAMOS DE FARIA Awa Luisa Lourcino (Prinetra nots cit, Vol. p- 30) {ONUS DE ALEGAGAO E DEIMPUGNAGAO DAS PARTES E PODERES DE COGNIGAO DO TRIBUNAL expressio de LEBRE DE FREITAS, sio “todos agueles que integram a previsto da ‘norma ou das normas materiais que estatuem o efeto pretendido”™=*. A causa de pedir tem, pois, um substrato fictico cuja alegayio com- pete a0 autor, de modo a fundamentar a sua pretensio. E muito por isso que usa falar-se em narragio: 0 autor deverd expor (narrat) o quadro fac~ tual atinente ao tipo legal de que pretende prevalecer-se na ac¢io instau- rada. Tal narragio fictica envolverd a alegagio e a descrigao, por exemplo, dos concretos factos relativos 4 celebragio do negécio de compra e venda de um bem por via do qual o autor ficou credor do prego sobre o réu, dos factos relativos & ocorréncia de um acidente de viacao e respectivas consequéncias ¢ & responsabilidade civil dai decorrente, dos factos rela- tivos & celebrago de um contrato de arrendamento ¢ & conduta do réu violadora dos seus deveres de inquilino, dos factos relativos a celebraga0 de um contrato promessa de compra e venda e falta de cumprimento do promitente vendedor, dos factos relativos & posse de determinado bem: > fe: Leone be Faetras(Inrodugdo cit, p. 70. ® Com uma visio diferente sobre o recore fctico da causa de pedi, sustentando que esta é consttuida (apenas) pelos fctos que “Telit urn irl contin do diets ivocad plo itor”, Terxsia 9€ SOUSA (Estudos solve 9 novo procs ii, 2 edo, p. 70). Tal visi, ela~ brad em face do art. 264" do CPC de 1961 aps a Reforma de 1995/96, tnha por base a aparenterepartigfa dos Factos em trés extegoris: esenciais complementaresastruments No mesmo pass, porém, este autor aludia 20 concelto de fats princpas, come englobando: dios exenciase complomentars, afrmanda que sé os estenciais (por integrarem 0 nicleo éssenctal da situacio juridicainvocada) integravam a causa de pedi: ft. TEIXE RA DE SOUSA {Esudor cit, ps. 70-72). Conforme bem assinala Leane DE FREITAS (Sob o nove cig ct,p. 46, nota de radspe n 19), tempos houve, antes da reforma de Reforma de 1995/96, em que ‘Teneina De Sousa (Aspartes, alec ea prova na aco delaatvg, . 123) defenci oseguinte- "A aus de pedi € composts pelos facts constitutions d stago Jurtdeatrvocads pda parts, isto. pelos factor enc procdenca do pedide. So wens aul car em cj vera o pedi ‘ao pode sr julgadoprocdent (..) Ets fits eosttutivos soo cas events pera x proce tia ao; 5 le integra «caus de poi”. Mls recentemente, js em face do CPC de 2013, Tenxeina o= Sousa (Algumas guests sobre oss de alee de impugnagao em proces cil, Scientia luridiea, Tomo LX ~n* 332, p. 396), por eferdncia 205 0's le 2 do an. 5 sustenta (que “haar de pedir ado écnsteida por todas ot facts de ue pode dspender a proses dato, ‘nav apenaspor aque que so nicesrn para indus prtenamtria alga pelo autor” Dara am de nfo nos revermos nesta tse, importa slientar que, neste ponto, oCPC de 2013, em nada inovou, isto, aqulloque ancesse devia entender por causa de pedircoatinuaadever entender se agora, O mesmo & dizer que os fats sents aque aludem ort, 5*1 03.552 <4) s30 tados aquelex de que depend a procedéncla da ace, imével pelo autor e ao seu esbulho pelo réu, dos factos relatives & invali- dade formal de certo negécio™™: Seré por via desses factos, isto ¢, pela demonstragio desses factos em juizo, que 0 autor poderd vir a alcancar a tutela jurisdicional desejada. E da correspondéncia entre o quadro factual assim apurado nos autos e 0 quadro fictico previsto numa ou meis normas substantivas que reculeeré oreconhecimento do direito invocado. Isso ocorreré na sentenga, fixando esta em concreto os efeitos inerentes a tal reconhecimento, nos limites do peticionado. Recordando 0 que jé ficou dito a propésito do principio dispositivo, importa destacar que a conjugacio da alinea d) do n® I do art. $$2# com os nfs 1¢ 2.a) doart. 5* revela nao haver qualquer énus de alegacio quanto a factos instrumentais, sto é, factos que, nao integrando a previsio nor- ‘mativa, apenas permitem a prova indiciéria dos factos essenciais. Nao havendo énus de alegacio, nao é, pois, expectavel (menos ainda exigivel, obviamente) que o autor slegue factos desta natureza na petigfo inicial. Se a funcio desses factos 6 meramente probatéria dos factos essenciais (esses, sim, sujeitos a0 énus de alegagio), o seu significado reporta-se A vertente instrutéria (probatéria) da causa. Por isso mesmo, € assegu- rando também que no ha qualquer preclusio relativamente a factos instrumentais, a alinea a) do n® 2 do art. 5 estabelece que o juiz devera considerar (e considerar ex officio) os factos instrumentais que resultem da instrugao da causa”. Por outro lado, recordando igualmente 0 que se avangou acerca do prinefpio dispositivo, a alinea b) do n* 2 do art. 5® também mostra que © A este propésito, flase na tora da substanciagdo,na medida em que & suposto haver uma indicagioexpeciica ov concreta dos Fatos constiativos do direito fetovaler.E esto sentido ddon®¢ doart. SB". Como rfere Leane pe Faerzas (Introduce. p. 6), “A terlada substan: cig ct inaguiocomnt consgrada no nso sitema proces”, = ara matores desenvolvimentes, LEBRE DE FREITAS (A 4530 delarting cit, ps. 41-44, © Intradugt ci, ps. 64-72 ® Como se verdadiante, esta considerate dos facto instrumentais sera reflectida na senteng, 20 nivel da motivagio da convicgzo do julgamento da matéria de facto (a? 4 do at. 607). ® Antecipando o que seri explicado adiantecabe advertr que oacabado de dizer vale para 0 factosinstrumentais em ger isto é, para aqueles que tém a mera fungto indicéria dos factos esenclals, mas nto ja paa os factos que servem de base a presungdes legais art. 350° 00). (ONUS DE ALEGAGAO E DE IMPUGHAGHO DASPARTES E PODERES DECOGNIGKO 00 TRIBUNAL nfo ha preclusio quanto a factos que, embora essenciais, sejam comple- imentares ou concretizadores de outros inicialmente alegados (isto ¢, factos que, embora necessirios para a procedéncia das pretensoes ~ dai serem essenciais-, nfo tém uma fungio individualizadora do tipo legal). ‘A coeréncia do regime legal em analise tem implicagées muito claras. Nos casos em que a narragio fictica vertida na peti¢a0 no cumpra cabal- mente 0 Gnus que sobre o autor impende, teremos o seguinte quadro: ou a alegacSo contida na peticio inicial ¢ de tal modo deficiente que nao. permite identificar o tipo legal, caso em que ocorrers ineptidao, por falta de causa de pedir [art. 186° 2.a)]; ou a alegagio, embora deficiente, per- mite essa identificag3o, caso em que se imporé, na altura prépria, a pro- lagio de despacho pré-saneador de convite a0 aperfeicoamento fictico do articulado (art. $90° 4). No primeiro caso, dir-se-& que foi omitida a alegacio de facts esenciais nucleaes, ou seja, factos que integram o nucleo primordial da causa de pedir € desempenham tungfo individualizadora dessa causa de pedir: dai a ineptidao. No segundo caso, apesar de asse~ gurada a individualizac3o da causa de pedir, foi omitida a alegagio de _factos essenciais complementares ou concretizadores isto &, factos sem 0s quais: ‘a acgio nao pode proceder”. Assim se retoma o sertido da previsto do nt do art. So dns de slegasio respet'a aos Factos esenciais, a todos os Fatos esenctss, quer os nucleates, quer os complementares ou concretizadores. A fungio da alineab) do n* 2 do art. $*€ ade snalizar apenas 0 seguite: a falta dealegagio de fates (essenciais) que sejam complemento ou concretizagio dos ‘actos (essenciais alegsdos nao gera preclusto e deve ser resovida por convite ao aperfeigoanent- (re 590° 4). Nesta links, Leone D& FREItAS (Sob 0 now ciligocit,p. 37), usando enbora 2 expresso “Facts principais” (em vee de “essenclals"),refere que “a sentido dale continua & ser eosalamente mes: fcts instrumented se slides, mas todos fet prial- ls, como contigs que st de procedénce de ago (.) esto syletos a esa exiginca". Assim sendo, fio se afigura enacta a iagio de Mantaxa Enanga Gouvet (O principio diposito cit, ps. 608 e612), a0 defender que, com oar. S, se “elimina a qualia dos facts camplemertares¢ concretizadors como eenets”. Tarim no se compreende a posigio de TeIXEtRa DE SOUSA (Aleumas quetderie,p.397), quando sustenta que “Apes deo fc complomentaes no parti- ‘iparem da cust dep, todo skein que o autor nda tenho o nus dea algar na petit cil” (O problema é ese: se 0 Gaus de alegacto referido no n* I doar. $* nfo atinge os aeroscom= plementares | que, para este autor, nfo integram 2 causa de pedi, onde radia entioo nus de alegagio desses Facto: complementaes? Nio é, por certo, na linea b) do n® 2 do at 5%, que exclu a prectusto de actos complementares (econeretizadores)nio alegados, mas nada dlispbe sobre o énusde alegacio dessesfictos NCOLOQUIO DE HkUCHSSU EVIL i 3) Osarts. 574" 1 2, 5728.c) e 583° I do CPC Pensemos agora na defesa do réu e no énus de impugnacao, Nos termos do n* 1 do art. $748, na contestagio, 0 réu hé-de “tomar posigio definida perante os factos que constituem a causa de pedir invocada pelo autor” Quer isto significar que o réu nao pode remeter-se a uma atitude pas- siva,ndo se pronunciando sobre os factos articulados pelo autor, devendo, outrossim, impugnar os factos que no reconheg2 ou ndo aceite. Se 0 réu nfo tomar posigio sobre aqueles factos, entende-se que os admite ‘como exactos (primeira parte do n® 2 do art. $74°). Como se vé, 0 énus de impugnacao tem associada a cominacao seguinte: a admissao por acordo (Confissao tacita) dos factos nao impugnados, o que conduzir’ a que os ‘mesmos sejam tidos como assentes e provados nos autos™. ‘Tenha-se presente que este efeito cominatério apenas esté projectado para os factos essenciais, sto é, para aqueles que integram a causa de pedir invocada e que, nessa medida, foram alegados pelo autor. J ficou dito que, embora nao haja énus de alegagao de factos instru- mentais (é 0 que resulta a contrario do n® 1 do art. 5), tal nao si que 0 autor esteja impedido de alegar factos dessa espécie. Consequen- temente, no caso de, embora sem necessidade, o autor ter alegado factos Instrumentais na petigio inicial, éevidente que o réu nao ficard impedido de tomar posigdo sobre tais factos e de os impugnar. De todo o modo, procurando fixar a atengio das partes nos factos essenciais, a lei acau- tela a inexisténcia de dnus de impugnagio quanto a factos instrumentais alegados, com a inerente auséncia de cominagio. Assim, ainda que o réu 1ndo impugne esses factos instrumentais, dai nao resultara mais do que uma, digamos, admissao proviséria dos mesmos, porquanto tal admissio sempre pode ser afastada por prova posterior. E isso mesmo que esta- belece a parte final do n? 2 do art. $74, solugdo que tem todo o sen- tido. Se o que releva é a assungio dos factos essenciais ¢ se tal assungio somente ter lugar na sentenca (art. 607° 4), deverd ser relegada para ai qualquer ponderagio acerca do significado da nao impugnacio de factos instrumentais®. Este efoto cominatérto conhece, porém, as resslvescontidas ns segunda parte don 2do srt. S74% Tenha-se ainda em conta 0 regime especiicafixado no nt 3 do art. S74", * Como o 6nus de alegagio eo Gnus de impusnagto se circunserevem aos factosessencals, so que aresces circunstincia de os facts esenciais da eausa apenas se estabilizarem na sen- CONUS DE ALEGAGAOE DE IMPUGNAGAO DASPARTES E PODERES DE COGNIGKO DO THBUNAL Pensando agora na defesa por excepgao, note-se a exigéncia contida na alinea c) do art. 572 quanto a exposigio dos factos essenciais em que se baseiam as excepgdes deduzidas, 0 que tem conexio com o previsto noa? 1do art. 5, ‘Ainda a propésito da defesa por excepso, merece destaque 2 outra exigéncia contida aa alinea ¢) do art. $728, que se traduz no dnus de 0 réu especificar separadamente as excepgOes deduzidas, com a comina- ‘gdo de os respectivos factos no se considerarem admitidos pot acordo em caso de falta de impugnagio. Do que se trata ¢ de evitar que o réu dissemine pela contestacio (nao separando, portanto) defesa por impug- nagio e defesa por excepgio, com 0 risco de o autor nio se aperceber de eventuais excepgoes deduzidas. E que, face a remissio don? I do art. 587° para o art. 574%, o autor tem o énus de impugnar os factos integridores das excepg6es (Factos novos, pois), sob pena de se terem como admitidos por acordo os factos que nao forem impugnados. Para que este Snus € esta cominacio pessam funcionar com efectividade, a boa fé processtal impée que o réu especifique separadamente as excepgbes que deduza, para ser ento possivel ao autor, primeiro, ficar ciente de cada excepgio invocada, segunde, optar conscientemente entre impugnar ou 240 os rrespectivos factos.O que nio seria aceitavel era que o réu pudesse bene~ ficiar da falta de impugnagio dos factos integradores de excepcac por si deduzida, em virtude de o autor nio se ter apercebido de tal excepgio™. tenga limitando-se os fctos instrumentals a ser considersdos na motivagso do julgamnento defacto (art. 607", n! 4) rornam-se agors despsiendas algumas consideragbes que s faziam ro passado sobre o sign icado da impugnagio 04 nd impugnagSo de factor instruments no confronto com a nto impugnesto ov impugnagao de fctosestencils Por exempla,susten- tva-te que, impugnade ofato essenctal, davertam terse como impugnados os Fatcsinstru~ ‘mentals que potenclalmente conduziam aque. Hoje, cudo iss perde signiticad. 5 Gam as devidasadapeagdes,recorde-se o que fol referidoa propésito da causa de pedir face ao disposto no at 5% !)impende sobre o réuo us de alegaio dos facto esencas relat oss excepodes peremprérias que deduza; no ha precludes quanto facts instruments, devendoo juz considerar todos os factos instrumentals que resultem da instrugfo da causa; 1) no hs preclasdes quanto a facts (essencias)complementares ou cncetizadres ds fctos (cssenciais) inicialmente alegados, devendo ojuiz conhecerdessesfitos quando osmesmos. resulearem ds insteugio, ns condigdo de assegurar as partes a possibildade de sobre eles se ppronunciarem. 5 ‘Tratarse-a de um verdadeiro caso de beneficio do inftactr,o que é de repudir- Registe- se que a dedugio de ercepgdes sem a respectiva especificagio implica a irregulaidade da HCOLGQUIO DE PROCESSU CIVIL DESANTO L1RSO No que respeita 4 reconvengio, é sabido que, nesta parte, a contesta- ‘lo faz as vezes de uma auténtica peticao inicial. Nessa medida, o n* 1 do art, $838, para além de estabelecer que a reconvengio deve ser expressa~ mente identificada e deduzida na contestacio, estatui que 0 reconvinte deve expor os respectivos fundamentos nos termos da alinea d) do n® 1 do art. 5528, o mesmo € dizer, o reconvinte deve expor 0s factos essenciais que constituem a causa de pedir reconvencional e as razdes de direito que servem de fundamento & reconvengio, 4) Oart.590° 4 do CPC Conforme se adiantou, resulta firme da alinea b) do n? 2 do art. S* a ine- sisténcia de preclusées quanto factos essenciais complementares e con- cretizadores. Significa isto que, havendo embora énus de alegacio dos factos essenciais que constituem a causa de pedir (art. S* 1), 2 falta de ale- gigio daqueles que nao tenham uma fungio individualizadora ou iden- Uificadora do tipo legal € susceptivel de ser suprida - 0 que nos reconduz i hipétese de prolagio do despacho pré-saneador tendo por objecto os articuladas facticamente imperfeitos. De acordo com o estatuido no n* 4 do art. 590°, o despacho pré-sane- ador serve para convidar as partes a suprirem as insuficiéncias ou impre- cis6es na exposicio ou concretizagio da matéria de facto vertida nos res- pectivos articulados, fixando-se prazo para tal. Com a prolagio do despacho pré-saneador neste contexto, procura-se obter uma melhor definigio dos contomnos ficticos da questo submetida A apreciagdo do tribunal. Nos seus articulados, as partes expéem as razées de facto em que alicercam as respectivas pretensdes. Como se disse, e de acordo com o disposto no n® 1 do art. St, incumbe as partes alegar os “factos esenciais que constituem a causa de pedir e agueles em que se baseiam as acepedes invocadas”. Em cumprimento desse énus de alegacio, ¢ suposto Ci. Anpawres GuraLoes (Temas da refrma do proceso cl, Vol. 1,2 edi, ps. 65-66, € Vol I, 3 digo, p. 8) ¢ Lenni DE Frortas (A ag deserve cit, ps. 144). “+ Neste semtdo, Lenrs De FRetas (A apie delaativa ct, ps. 144-145) e Loves po Reco (Comontirioscit, Vol. p. 431). + On Gdo art 390" confirma a impossbiidade deta ipo de inovagoes

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