You are on page 1of 1
ORDEM DO TEMPO 2 Em pouco mais de meio século, essas trés reflexdes sobre as rrafnas e essastrés viagens América, que acabamos de evocar, tradu- ziram trés experiéncias do tempo. Para nds, foram trés depoimentos de um profizndo questionamento da ordem do tempo. Volney, Chateaubriand, Tocqueville sabiam, cada um a seu modo, que 0 antigo regime de historicidade, tanto tempo sustentado pelo modelo da historia magistra, nfo era mais operatorio, A inteligibilidade do que acontecia implicava articular de outra maneita as categorias do pasado e do futuro, senao o espirito andaria “nas trevas”” Sem surpresa, a reviravolta mais precisa manifestou-se na obra de Chateaubriand, que, em um quarto de século, passou da visio de uma América primitiva, refiigio do homem segundo a natureza, como puderam sé-lo, segundo a tradigio, os antigos citas, Aquela da terra que soube inventar em pouco tempo a liber dade moderna. Nio mais conservatério ou utopia passadista, ela 6 doravante o cadinho onde se forja 0 futuro. © Novo Mundo dos descobridores tornou-se o mundo novo, aquele da igualdade, na diregio do qual 0 Antigo Mundo marcha mais lentamente e com dificuldade. E, a partir de entio, € duplamente antigo: no sentido do século XVI, com certeza, mas também. no sentido, novo, de ser menos avangado do que a América. De uma costa 4 outra do Atlintico, cavou-se uma distincia entre a experiéncia a expectativa. De sorte que fazer a travessia é, finalmente, para Tocqueville, uma maneira de reduzi-la, “buscando” experiéncia para esclarecer e mesmo fixar a expectativa, orientando a agio. ‘Assim, ele permanece fiel, cabe observar, a0 esquema da historia ‘magistra, mas invertendo-o, j4 que agora a luz ndo vem mais do 131

You might also like