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CAPITULO IX ESTRATEGIA E TACTICA 1. OS MOVIMENTOS DO MERCADO "A Tendéncia do mercado assemelha-se aos movimentos do mar, nas marés, ondas @ refluxos*. Robert Rhea, “The Dow Theory” “A Tendéncia primaria vai continuar uma direcgao, embora com pausas ou consolidagdes, em diversos niveis, até que, do “fundo” anterior ao novo “pico”, seja violada a sua subida”. Edwards e Magee, “Technical Analysis of Stock Trends” De acordo com a proposta e esséncia deste livro, iniciada a presumida Ten- déncia primaria de subida, entra o investidor no mercado — com necessarias duvidas embora, pois a divida 6 algo que o acompanhara permanentemente, em maior ou menor grau. Vamos supér ent&o que o movimento se consolida e que o diagnéstico de reversdo para Tendéncia positiva se constituiu e vingou claramente. Ora acontece que a subida nunca 6 continua, como a mera observagao empirica revela. Graficamente, tratar-se-4 de uma linha quebrada. Interrupgdes, oscilagdes, rectificagdes e actualizagées de pregos vao surgir, antes de o Bull Market fenecer, embora a tendéncia subjacente e fundamental seja realmente de 347 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACCOES subida, E entéo pode perguntar-se: — quando o mercado quebra, comegou o Bear Market? Uma subida, apdés descida de prego, seré um prentincio de rever- sao? Ou a quebra nao passa de uma rectificagaio temporaria, havendo disposigao do mercado para retomar, até mais acima, a linha das cotagdes? Socorramo-nos de Dow para descrever os movimentos de mercado e veremos a indole das coisas com mais simplicidade: — os trés movimentos sdo o primério, © secundario, ou de reaccdo, e o tercidrio. Os trés movimentos coexistem permanentemente. Dow compara, neste dominio, o mercado com o mar: — a maré corresponde a Tendéncia priméria; as ondas, a reaceao secundaria; e os refluxos, A Tendéncia tercidria. © movimento prim4rio de subida, com uma duraco normal minima de 1 ano, caracteriza-se por uma ascensdo sustentada, mas ndo ininterrupta, de pregos. As cotagdes podem naturalmente retrair-se, por um certo espaco temporal teduzido, mas a ascengao retomara vigor, de forma tal que o anterior pico de pregos sera ultrapassado por novo e vigoroso movimento ascencional. A Ten- déncia primaria podera ser determinada pela construgao de linha de Tendéncia ou por média mével de longo prazo (150 dias pelo menos). 3 2 2 Tayo aut 30 COMO A uNtA 9 TENDENCIA Fs zl ammaooae ee tee e zl & zg e ial 4 Z j | & Z| r 8 Z| J & 3 ah ult at 4 Muutocaoalidhbawbl, eS oe et eet at een cae ie Graf, 9.1.1 348 ESTRATEGIA E TACTICA Quando preconizamos “seguir o Bull Market”, referiamos a Tendéncia Primaria de Subida, que é, pois, fundamental descobrir e acompanhar. Convém ir com a maré. Mas vao surgir reagdes. No Bull Market, episodicamente, as cotagdes vao cair (e no Bear, subir), Nao quer isto dizer que a Tendéncia primaria esteja violada, assim como em maré cheia, as ondas quebradas vindas da costa nao impéem a reversdo do movimento de enchimento. Diz a ciéncia convencional que estes movimentos contrarios duram de alguns dias a alguns meses (3 ou 4 no maximo). Sobre tais movimentos secundarios ou reacges, cuja esséncia é abso- lutamente necessdrio ser compreendida, diz Rhea que “sao tao necessdrios para a Bolsa como as valvulas de seguranga nas caldeiras. Esfriam 0 ardor especu- lativo de amadores e corrijem o movimento que se tinha desviado exclusivamente para uma direc¢ao". O investidor sé saberé seguramente a posteriori se 0 tombo de cotagées era reacgdo secundéria ou antes uma reversdo de Tendéncia, embora alguns sinais possam ser reveladores. O principal sinal sera a violagdo de uma importante linha de “resisténcia® ou média mével. Assim ultrapassada na negativa tal linha ou tal MM, quanto mais ndo seja por cautela, deverd o leitor entender como revertida a Tendéncia e nao apenas sujeita a fendmeno de fluxo. GeaT ERE ETE Graf. 9.1.2 — Indice BTA de Agosto de 1991 a Abril de 1993, 0 Indice de tempo revela uma Tendéncia priméria de descida. Em Fevereiro de 1992, quer a MM 150 quer a linha de Tendéncia indicavam reverséo de descida, o Bear Market nao tinha side quebrado: — apenas ocorrera uma reacgao. Mas a ilusio enganava o mais coridceo. GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Ha analistas técnicos que procuram descobrir pontos tidos como “fundos" de quedas secundarias e apontam, um tanto aleatoriamente, os valores 1/3, 1/2 ou 2/3 do movimento ascencional anterior. E aleatério, mas pode valer como hipé- tese de trabalho ou como limite de seguranga. Mas esses movimentos secundérios sao inevitdveis e até podem ser benvindos, visto permitirem ao investidor comprar em quebra titulos que escaparam na sua ascengdo e que, agora, a prego um pouco mais reduzido, se tornaram atractivos. O ponto adequado de compra poderd ser o da linha “suporte- -resisténcia" ou de MM de curto prazo. O investidor, porém, devera estar prepa- rado para bater em retirada, por cautela elementar, se a cotac&o furar no sentido descendente aqueles pontos que pareciam ser “fundos". As reaccdes secundarias ocorrem, pois, fatalmente, e ha apenas que compreendé-las: — aparecem muito frequente-mente apds tomadas de lucro pelos investidores, que se colocam assim tempo-rariamente no lado dos vendedores; um evento do dominio econémico pode quebrar o estado do espirito positivo e fazer entrar os investidores numa postura de “wait and see”, como por exemplo uma pequena subida da ‘prime rate”. So, assim, as reacgdes secundarias de importancia fundamental e, por isso, deixamos repetidos alguns pontos cruciais: — N&o se confundem com reversdo de Tendéncia, podendo antes representar a tomada de félego para um movimento ascencional mais vasto. — Naturalmente, desconhece-se quando se desencadeiam, quando param, quanto duram e quando retomam a Tendéncia primaria. — Os mais simples métodos de definir os pontos de quebra passam pela definigao de linha de “resisténcia" ou de Média Mével, entendendo-se que ai se verificara o refluxo. — Constituem excelentes oportunidades de voltar a comprar titulos que se desvalorizaram e que mantém boa promessa de ganho. A “navega¢ao” do investidor em reacgao secundaria de queda é extremamente complexa, pois nunca ninguém saberd, com o minimo de seguranga, onde se situam os pontos de quebra ou de sustentagao. E certo que existem teorias nesse sentido, mas nao passam de teorias (*). (*) Os leitores interessados poder&o informar-se sobre Angulos Gann, Onda Elliot, nu- meros Fibonnacci, etc, existindo vasta bibliografia sobre a matéria. 350 ESTRATEGIA E TACTICA S6 posso recomendar, além do recurso a MM e linhas de “resisténcia- suporte", métodos subjectivos, passando pela avaliagao da forg¢a do movimento ascencional, por via de volumes e de ganhos didrios, e a situagdo de pregos, por aproximagao a andlise fundamental. De todos os modos, sugere-se um sistema que resulta razoavelmente: — Vender apenas parte da posicéo adquirida, quando parece ter entrado a Tendéncia secundaria, utilizando-se os fundos assim obtidos num ponto de ascensao da MM de longo prazo, ou linha de "suporte ou resisténcia", ou quando 0 acrescimo de volumes anuncie uma possivel retoma (1). Os movimentos tercidrios, que j4 equiparamos ao residuo da onda a enrolar na areia, sao de curto prazo, aleatérios e insignificantes para efeitos de tomada de posig&o pelo investidor. S&o esses movimentos que constituem a “superficie” do mercado, a qual, muitas vezes enganadora, deve ser ignorada. E evidente que um aparente movimento terciario, irrelevante e casual de aparéncia, pode ser o primeiro passo de um desenvolvimento fortissimo. Mas a atitude do investidor nao pode ser outra senao ade ‘wait and see”. Como sempre dissemos, a aten¢&o ao mercado tem de ser permanente, por muito passiva que seja a estratégia do investidor. Robert Rhea sugere que os ditos movimentos de curto prazo s6 sejam tomados em consi- deragaéo quando se comegarem a formar linhas. E eu acrescento: — e comece a alterar-se o sentido das MM. Finalmente: Nao esquecer nunca que, para além das Tendéncias de subida ou descida, primarias, secundarias ou tercidrias, o mercado se pode movimentar ainda em dinamica dita “lateral” — fase de consolidagao em que, como o nome indica, as cotagdes nao indiciam qualquer Tendéncia e as flutuagdes de pregos sao minimas ou espartilhadas entre limites, superior e inferior (2). N&o olvidar tao pouco, tal como vimos em “Hipdtese do Mercado Coerente’”, as situagdes que Dow néo previu ou nao atribuiu significado (na época seriam muito raras ou inexistentes), a que chamamos de Mercado Cadtico. (1) Vide "A Dificil Arte de Vender". (2) Ver graficos 6.6.3, 6.7.1, 6.8.1 @ 6.10.D.2. GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGGES A estratégia basilar deste livro recomenda o acompanhamento da Ten- déncia Fundamental de Subida ou Bull Market. Os leitores que desejam uma postura mais dindmica, poderao aproveitar ainda as seguintes situagdes, que apresentamos neste livro, recomendando os tespectivos métodos de transacgao: — Reac¢ao Secundaria de subida, em Bear Market; — Venda a descoberto ou “short selling” (quando legalmente permitido), em Tendéncia Fundamental de Descida ou Bear Market, — Situagées de Tendéncia Lateral, seguindo a orientagdo de “linhas de resisténcia" e suporte (*); —"Fundo" presumidamente sustentado quando, com todas as aparéncias, ocorra a exaust&o do Bear Market, pelo que os precos estao possivelmente no minimo. DE RETER: — Os movimentos de Tendéncia de mercado sao de natureza pri- maria, secundaria e tercidria. ‘Também hd mercados sem Tendéncia (trading markets) ou “laterais” e os chamados “cadticos”. — A Tendéncia Priméria é a fundamental, e, em subida, éaqueo investidor deve seguir, durando com frequéncia o minimo de 1 ano. — As trés Tendéncias coexistem, embora por vezes nio seja aparente se 0 mercado entra em reaccio ou antes em reversdo de Tendéncia. — A Tendéncia Secund4ria corresponde a varias razées que nio colidem com os fundamentos da Tendéncia Priméria (p.e. “profit taking” em Bull Market). — As referéncias para determinar a natureza do movimento como secundd4rio ou de reversio encontrar-se-do em linha de Tendéncia, médias méveis, e dados fundamentais da economia. — Transaccionar no desenvolvimento da Tendéncia secundaria é dificil; tomar-se-do em conta aquelas “referéncias” e empenhar- -Se-o menores quantidades de activos (dinheiro ou acgées). (*) vide local préprio. 352 ESTRATEGIA E TACTICA — Um investidor passivo, sem entrar nos exageros da estratégia “Buy and Hold”, pode ignorar os movimentos secundérios, man- tendo apenas em fungio os mecanismos da “stop loss”. — Resumindo: — Preconizamos, sem reserva, a estratégia de acompanhar a Tendéncia Fundamental de Subida, ou Bull Market. — Apoiamos, para quem se sinta & vontade no "jogo", mais as seguintes situagdes: — A venda a descoberto, quando legal. — O acompanhamento da reaccio secundaria de subida, em Bear Market. —O aproveitamento do presumivel "fundo" sustentado de exaustio de Bear Market. — Dissuadimos, excepto aos profissionais, e em principio: — As situagdes de mercado caético (vide “Hipdtese de Mercado Coerente’’). — O “trading”, ou negociacao continuada de muito curto prazo. — A estratégia de comprar e guardar ("Buy and Hold"). 2. ARQUIVO DE IDENTIFICAGAO Por estranho que parega, as acgdes, como as pessoas, possuem persona- lidade e caracteristicas proprias, visto que 0 seu comportamento nao se vai resumir A mera dualidade subida-descida. Espelham no fundo, o “cardcter” das empresas que representam. As bases de dados confirmam que o comportamento histérico das acgdes varia, nao apenas aleatoriamente, mas segundo padrées relativamente caracterizaveis. 353 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES E isso que aqui vamos fazer, pois a tactica de aproximagao aos diferentes titulos advira dessa ‘personalidade’”. Vamos entao encontrar os seguintes tipos de acgdes: — “Blue-chips” — s&o, como ja vimos atras, as acgdes de maior capitalizagao bolsistica. Exibem um comportamento conservador que o seu estatuto de grandes empresas de certa forma exige. Os relatérios destas empresas sao normalmente fidedignos e completos. Os volumes transaccionados e a sua liquidez é maior. S&o normalmente preferidos por institucionais, pouco dados a ousadias. Como ja referimos (*), tendem a mover-se em canal de transacgées relativamente estreito, pouco sujeitos a flutuagdes frenéticas. BCP e BPI sao exemplos acabados. Curiosamente, as “blue-chips” nos paises em via de desenvolvimento, cujas bolsas s&o sujeita a “raids” especulativos de capital estrangeiro, sao normalmente © alvo preferencial deste, por serem normalmente o Unico tipo de acgdes que oferece a liquidez necessdria para retirada. — “Growth Stocks” — so acgdes de empresas inseridas em ramos de negécio que prometem continuada situag&o de crescimento, por tempo apreciavel. Tém uma patente, um tipo de produtos ou uma forma de apresentagao e venda que lhes permite usufruir de uma vantagem por periodo apreciavel de tempo. Estas acgdes mantém um elevado crescimento de EPS de ano para ano e, por isso, mantém normalmente um PER elevado. Normalmente nao pagam fartos divi- dendos, visto o estado dos negécios exigir todos os meios libertos para investimento. S&o naturalmente mais habituais em paises de alta tecnologia onde, com mais frequéncia, aparecem conceitos, ideias, produtos e técnicas altamente ganhantes e diferentes, e mantém-se na crista da onda até a concorréncia as apanhar. S&o acgées de eleicao, se escolhidas logo desde 0 inicio. Podiamos dar exemplo de “growth stocks’, em Portugal, nos casos da cons- trugdo civil, durante 0 "boom" dos fundos comunitarios, ou da distribuigao, en- quanto os padrées de consumo em Portugal eram extremamente baixos, man- tendo largo crescimento. — “Penny Stocks” — As accdes de ‘tostéo” sao as que se transaccionam na Zona das centenas de escudos, votadas a indiferenga da maioria dos investidores, devido 4 sua aparentemente reduzida possibilidade de recuperagdo. (*) Vide “Capitalizagao Bolsistica”. 354 ESTRATEGIA E TACTICA Este tipo de acgdes, apesar de normalmente pertencerem a companhias em dificuldade ou até em vias de desaparecimento, oferecem por vezes virtualidades inesperadas: — O “upturn” da empresa permite eventualmente ganhos percentuais inatingiveis em qualquer outro tipo de acgao. Lembremos a Lisnave, em 1993, que de 250$00 chegou, em Agosto daquele ano, a 1.600$00, apesar do seu declarado desaparecimento futuro, ou a Papelaria Fernandes que, na mesma época, em 1 més, ganhou 100%. Estes papéis possuem normalmente um outro dbice, nao obrigatsrio, claro, e esse é a relativa iliquidez. E tipico, portanto, um especulador necessitar de uma campanha de compra para conseguir alguns milhares de titulos. — “Conservadoras ou em maturidade” — Nao sendo “biue-chips", esta acgdes comportam-se como aquelas, nesta faceta da falta de volatilidade. As empresas esto normalmente inseridas em ramos de actividade ja maduros, embora ainda lucrativos; de tais industrias nao se esperam reviravoltas e mirabo- lancias. Sao tipicas deste género as acgdes relacionadas com o ramo da alimen- tagao. As pessoas comem sempre, nao é verdade? Mas nao passam, de um momento para outro, ao Beluga com Moét et Chandon. A Cel-Cat exemplifica este grupo. — "Em recuperagao" — Sao acgdes que foram nos seus tempos aureos prestigiadas e procuradas, eventualmente “biue-chips", e que por vicissitudes de negécio ou de gestdo, cairam a niveis degradantes de cotagao, perdendo estatuto e calibre. Porém, estas acgdes podem voltar aos tempos dureos e quando isso acon- tece, a recuperag4o de cotagdes costuma ser festiva. Temos aqui a Sonae e teremos a Corticeira Amorim. — “Ciclicas” — Ramos de negécios existem que, para além do ciclo eco- ndémico, sofrem um ciclo préprio, de expansao e recess&o. Tipicos deste género seraio as empresas mineiras de extraccao de certos minerais ou as nossas muito conhecidas de celulose. Claro que o investidor devera prestar a maior das aten- g6es aos picos e fundos dos ciclos préprios do ramo, para despachar ou adquirir 08 titulos de tais companhias. Ah! E comprar ainda na crise (mas no fim) e vender antes do pico. — “Volateis” — Sao as que reagem por excesso aos movimentos gerais de mercado. Sdo normalmente acgdes de beta elevado (*) e baixa liquidez que, em vista destas duas caracteristicas tendem a movimentar-se com forte amplitude, (*) Vide local préprio, "A Medida Beta”. GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES chegado o seu tempo. Sao também por vezes pouco analisadas e por isso pouco conhecidas, pelo que, nelas, é mais vidvel o evento justificativo de uma forte mu- tag&o de pregos. Podem proporcionar garbosos lucros aos que prestem aten¢ao aos seus pontos de ebuligao. Tradicionalmente, as construtoras "“mexem” bem. — “Glamour Stocks” — S&o curiosamente as acges da moda, pois também a bolsa é um palco humano, sujeito a imitagdes e simpatia. Transpiram para o exterior uma certa mistica que torna o publico crente numa qualidade de gestao e de aventura e até de uma certa mistica. A IBM foi assim e, por cd, a Sonae, curio- samente, também. A nivel mundial, no presente, ndo ocorre melhor exemplo que a Microsoft. DE RETER: — As acgies tém caracteristicas préprias, catalogaveis, e tendem a repetir consequentemente os seus comportamentos. O investidor agira em conformidade. 3. DIVERSIFICAGAO “Penso que continuam a existir grandes vantagens na diversificacao, mas numa diversificagao verdadeiramente global”. William Sharpe, Prémio Nobel da Economia, 1993 “Ponha todos os ovos no mesmo cesto @ cuide muito bem do cesto”. Andrew Carnegie, 1910 Pode-se definir “risco”, com pertinéncia e simplicidade, como a possibilidade de perda. 356 ESTRATEGIA E TACTICA O risco oferecido pelo mercado é 0 chamado risco sistematico, mas ha outro tipo de risco, o especifico, o proveniente de cada titulo em particular em relagao a carteira do investidor e ao mercado. Factores como eventos politicos, aquecimento da economia e taxas de juro so componentes do risco sistematico. Eventos como greves em empresas, entrada de novos concorrentes e mudangas empresariais integram-se no risco especifico ou nao sistematico de cada titulo. A diversificag&o agora tratada destina-se a diminuir 0 risco espec' sistematico nao é diversificavel. Diversificar uma carteira de acgées por varios titulos é a tradugao pratica do aforismo “nao pér todos os ovos no mesmo cesto”. Trata-se de uma regra elementar de cautela, sendo no fundo um corolério da estratégia defensiva do capital 0; © risco aplicado que se preconiza para este tipo de investimento. Qualquer investimento pode em equagao dois objectivos potencialmente contra- ditdrios: seguranga e lucro. A énfase para o segundo destina-se a optimizar o ganho, a custa da perda progressiva do primeiro; e vice-versa. A vantagem concedida pelo risco (maximizar o lucro) é em geral perdida na diversificagao. O principio do cesto e dos ovos pode parecer uma mera trivialidade, mas tem tal importancia e complexo desenvolvimento que os estudos de Markowitz sobre a matéria, encetados em 1950, contribuiram para a atribuigéo do prémio Nobel da Economia em 1990. A sua teoria da Diversificagao Eficiente de Portfolios nao se limita a t€0 dbvia e empirica norma, a que se chama Diversificagao Simples, por contraposigao a Eficiente, a de Markowitz. A Diversificagao Eficiente pretende alcangar ao mesmo tempo as duas vanta- gens, num balango dptimo, mas a sua complexidade e inexequibilidade afastam- -na de qualquer investidor individual. Diremos, téo sé por curiosidade, que a ideia nuclear consiste na correlagdo entre os retornos dos activos do patriménio em consideragao. Como dizem Putman e Zimmer, “a quesiao néo é apenas quanto arriscado um investimento 6, mas também como se conjuga esse risco com os outros riscos da carteira. Isto é, que riscos podem ser evitdveis ou neutralizados pela compensagdo de riscos numa carteira?” (Eis um exemplo sobre correlagéo negativa: — Suponhamos um investimento duplo numa empresa de guarda-chuvas e noutra de campismo; se chover muito, lucra claramente a primeira; se o sol predominar, sai a segunda favorecida; se nada de especial acontecer, ganham ambas, sendo boas as condig6es de mercado, 357 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACCOES: e perdem ambas, se forem mas. S6 ha entao que considerar o risco de mercado, © sistematico, visto que, assim, por diversificacao eficiente, desaparece o risco especifico). Modestamente nos ficamos na Diversificagaéo Simples, mas, embora com téo comezinha aproximagdo, sempre adiantaremos a evidéncia de certas correlagoes que se devem evitar, para efeitos de diversificac&o. Por exemplo, se o investidor tem 4/5 nas suas acgdes no sector de construgao civil, a sua diversificago é pobre e até se pode dizer que 0 conjunto de titulos desse sector, para este efeito, constituem um todo. Entretanto, procuraremos obter um adequado compromisso entre seguranga e ganho que, para todos os efeitos, vamos entender como incompativeis . Grdfico de Composigao do Risco FACTORES ESPECIFICOS DA ACCAO io re FACTORES DA |) FACTORES DA sistematico INDUSTRIA CTORES i a INI RIA extramen- Pisco nao OUTROS -CADO. sistematico OUTROS FACTORES FACTORES Risco PAcronDe Risco FACTOR DE eeetaraatiens MERCADO sistematico MERCADO ACGAO INDIVIDUAL CARTEIRA BEM DIVERSIFICADA Graf. 9.3.1 Penso poder avancar agora com uma regra de ouro: Dado como certo o principio da diversificagdo, o ntimero e peso relativo das accdes duma carteira depende, mais que tudo, da quantidade de titulos que o investidor puder acompanhar com assiduidade e profundidade, conhecendo tanto a empresa como o comportamento bolsistico das acgdes. 358 ESTRATEGIA E_TACTICA O menos, em quantidade, pode significar o mais, em qualidade, ao ponto de, parafraseando um conselheiro da Wall Street, me propér modificar o aforismo do cesto e dos ovos da seguinte maneira: — “O numero de cestos nao interessa tanto. O mais importante 6 poder segura-los”. Sempre com a imagem do cesto e dos ovos, vamos, pois, reformular o afo- rismo: — “Devem-se meter os ovos em varios cestos, desde que estes acomodem bem os ovos e o dono consiga segura-los a todos”. Fica, pois, defendido um principio, a que se poderia chamar pomposamente “diversificac&o tutelar’, jA preconizado ha cem anos por Andrew Carnegie. Mas obviamente pde-se sempre a questao do quanto diversificar, se se abrir por completo tal oportunidade. Aqui volta 4 colag&o 0 equilibrio lucro-seguranga, formulando-se os seguintes parametros: — O investidor alargard o leque da sua carteira se tendencialmente desejar aproximar a sua performance da do mercado em geral, e vice-versa. Estudos sobre a Bolsa de Nova York, realizados por Evans e Archen, revelam que, a partir de uma certa quantidade relativamente pequena de acgdes (cerca de 15 em 20001), o risco da carteira fica praticamente igual ao do mercado, nao se conseguindo nada de particularmente vantajoso com um maior alargamento, antes se enveredando na diversificagaéo supérflua e ineficiente. Solnik, em “European Capital Markets”, concluiu o mesmo para as Bolsas europeias principais, com base no periodo compreendido entre 1966-72. O Inves- tidor Econémico atingiu idéntica conclusao quanto ao mercado portugués. Unani- midade, portanto. Estes estudos constituem excelentes novas, pois verifica-se que é possivel conciliar quantidade e qualidade na diversificagao. Assim, o investidor nado necessita de aplicar um exigente esforco suplementar de alargamento para, se quiser, levar o risco diversificdvel quase a zero, limitando-se a assumir o risco sistematico. Que tal a carteira com uma dezena de titulos — que, segundo Brealey, propor- ciona 87% do risco do mercado, isto 6, esbateu para 13% 0 risco especifico — para quem opte por uma larga difusao do risco diversificavel e nao enjeite a vantagem da carteira com numero manejavel de acgdes? Que cestos, digo, que acgdes, escolher no principio (seleccionando sem ajudas, veja os capitulos V e VI)? Nao ha férmula, mas julgo que a opgao inicial passara 359 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES pelas empresas mais conhecidas e analisdveis da listagem; de modo a nao haver grandes surpresas quanto ao rendimento esperado. Repare-se que nao escrevi “notérias”, mas sim “conhecidas”, e aqui vai um mundo de diferenga. Por exemplo, em inicios de 1989, tanto a Sonae como o BCP eram (e sao) empresas de que toda a gente ouviu falar, mas a primeira nao era realmente conhecida, nem facil de perceber e muito menos de prever. O contrario passava-se com o BCP. Ha empresas que seguem ou comegam a seguir a politica de “full disclosure", isto 6, de exposigé&o maxima possivel ao conhecimento exterior, e fazem gala de manter 0 ptblico e os investidores bem informados. O BCP e a CIN, por exemplo, ganharam 2 anos seguidos (1991-1992) o prémio Arthur Anderson para 0 melhor relatério e contas. Parece, pois, razodvel encetar a campanha bolsistica por este lado, isto 6, preferir quem mais der a conhecer fiavelmente. Acresce que normalmente este tipo de acgdes, tem um baixo Beta (1), sendo estruturalmente defensivas, como convém a um principiante. Na prdtica, mesmo ao iniciado, com a ajuda de sociedade de corretagem, nao sera dificil bem escolher de 4 a 10 papéis, conforme a apeténcia por um maior retorno e as possibilidades financeiras da carteira, e acompanhar tudo o que mais se puder, com eficiéncia, para efeitos de aproveitar oportunidades e eventual- mente rodar 0 portfolio. O peso relativo de cada titulo dependera, por seu lado, da exposigao optada quanto ao risco especifico, e, por outro, da sua liquidez, de modo a manter intacta a agilidade de comprar e vender rapidamente (2). Para encerrar 0 capitulo, nado nos podemos esquecer de algo fundamental e novo (as condigdes do pais, como membro da CEE, sao outras) e consiste na diversi- ficagaio internacional. Em Agosto de 1993, Sharpe em visita a Portugal defendia-a vivamente (fonte: Expansdo), vincando que actualmente nem ha outra forma de diversificar adequadamente. E, finalmente, em Portugal comegam a haver pro- dutos a isso destinados, Fundos sobre valores estrangeiros. (1) Vide adiante local préprio. (2) Vide “Vantagem do Investidor Individual”. 360 ESTRATEGIA E TACTICA DE RETER: — Com a diversificagio, imprescindivel atitude do investidor, pretende-se esbater o risco. — O risco do mercado ni é diversificavel. — Ao diversificar, mesmo num esquema simples, h4 que distribuir 0 patriménio por activos pouco relacionados entre si. — Mais importante que diversificar é zelar competentemente pelos varios elementos do activo. — Para esbater o risco diversificdvel 4 zona dos 10% (0 que para efeitos praticos equivale quase a 0%), basta possuir cerca de 15 acgées. Deste modo, a dificil curadoria de carteira muito diversi- ficada nao € necess4ria. — Como regra, quanto maior a diversificaco mais baixo 0 retorno, e vice-versa. — Deve-se encarar a hipétese de diversificagiio internacional, j4 legal- mente possfvel em Portugal. 361 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES 4. AMEDIDA “BETA” “Se o mercado 6 a razao predominante pela qual as acgdes se movem em conjunto, entéo 6 necessdrio saber que variabilidade resulta dos movimentos de mercado”. Richard Brealey, “An Introduction to Risk and Return In Comnon Stocks” “O Beta permite avaliar até que ponto um titulo pode evoluir, se o mercado também evoluir”. William Sharpe, Prémio Nobel da Economia. Por meados dos anos 60, Sharpe e Lintner avangaram com o chamado Modelo de Formagao de Prego para Activos de Capital (CAPM — ‘Capital Asset Pricing Model’), 0 qual trouxe uma nova definigao de risco a teoria financeira (e valeu ao primeiro o Nobel). O CAPM relaciona a taxa de retorno exigida de um titulo com 0 respectivo risco, medido pelo coeficiente Beta. De acordo com o CAPM o unico risco ponderavel é 0 sistematico, isto 6, o relacionado com o mercado, o qual nao considera outras formas vulgares e tradicionais, de tisco, como o financeiro, o de negécio e 0 de liquidez. (Impde-se uma explicagao para 0 modo como o autor apresenta frequentemente o pensa- mento do Nobel William Sharpe, falando de risco em “Diversificagéo” — vide adiante — e nao integrando devidamente a medida Beta na teoria CAPM, a que lhe valeu exactamente o prémio Nobel. Sao os objectivos praticos da obra que conveceram o autor a praticar esta gindstica, e o convencimento de que tudo se jorna mais simples e mais eficaz, com esta forma de exposicao). Nao va sem se dizer que, provavelmente, o risco sistematico 6 fungao das medidas de risco tradicionais. Efectivamente, a evidéncia empirica sugere uma correlagao entre os Betas e padrées habituais de risco, como alavancagem finan- ceira e variabilidade de rendimentos. O Beta mede esse risco sistematico e pode-se definir, segundo Fuller e Farrell, como “a medida da covariabilidade do retorno de uma acgao com os de 362 ESTRATEGIA E TACTICA uma larga carteira, como 0 Indice "Standard and Poor" (isto é, 0 mercado), ou, de forma mais simples, na esteira de Brealey, como “a medida da sensibilidade do prego de uma acgao as mudangas no mercado”. © Beta indica, também, indirectamente, a potencial flutuagao da acgao por relagdo a varla¢ao previsional de mercado — e isso 6 0 que agora nos vai interessar. Isto é, podemos, através do Beta, fazer uma ideia do compor- tamento futuro de uma acgao, em fungdo das alteragées esperadas do mercado. Uma acgao com Beta de 1, tende a flutuar em sintonia e em proporgao com o mercado: se tiver um Beta inferior a 1, ira provavelmente variar menos que o mercado, subindo menos no Bull Market e descendo igualmente com menor intensidade em Bear Market. Se o beta fér superior a 1, da-se uma correspon- dente hiperreagdo. Por exemplo, se uma acco tem um Beta de 1,6 e o mercado subiu 10%, a acgao estatisticamente devera subir 16%. As acgdes com Beta inferior a 1, acgdes defensivas portanto, tendem a perten- cer a empresas ou industrias que produzem rendimentos estaveis, maduras e pouco dadas a sobressaltos. O exemplo mais notério serd o das empresas integradas na industria da alimentagaio. As pessoas alimentam-se sempre, em recessdo ou expansao. As acgées de Beta superior a unidade, agressivas por conseguinte, pertencem a empresas inseridas em industrias mais inovadoras ou mais sujeitas a forga do ciclo econémico, como hotelaria e turismo ou construgao, civil. Todas as acgdes tém uma tendéncia para se aproximarem do Beta 1, a volta do qual variam, tendendo permanentemente para a identificagao com a unidade, como observou Blume. Uma carteira de titulos equivalente ao mercado, por exemplo um Indice com larga amostra, tera obviamente um Beta igual a unidade. (Para afinagdes mais precisas, embora provavelmente desnecessérias, Rosenberg e Marathe preconizam que nos calculos sobre a sensibilidade da acg&o ao mercado sejam consideradas caracteristicas da empresa, como 0 seu endividamento, e nao exclusivamente os Betas histéricos). Como calcular o Beta? E evidente que nao basta por em comparagao regressiva a variagao do prego da acgao e do Indice de Bolsa, num qualquer periodo de tempo, para se obter um fidedigno resultado. : 363 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Seguindo os conselhos de Blume, no “Journal of Finance”, ha que seccionar perfodos distintos (um més, como é tradicionalmente recomendado), fazer a medig&o, e prosseguir por lapso temporal significativo. Este intervalo de tempo de boa escolha hé-de representar sempre um compromisso; por um lado, para a amostra ter validade, 6 necessdrio um periodo longo; mas por outro, podemos ficar a lidar com dados ja caducos e ultrapassados. Assim, se 10 anos representa um espago temporal obviamente relevante, ser que os dados obtidos no inicio da busca representam jé alguma coisa no presente? Provavelmente nao. A sugestao mais frequente aponta para o lado dos 5 anos (tal como fazem a Value Lineea Merril Lynch), e essa é a que deixamos, por isso, aos leitores. © cAlculo integra algumas complexidades (por exemplo: deverao incluir-se dividendos ou simples variagdes de prego? Deverd considerar-se a frequéncia de transac¢do?), mas uma rigorosa exactid&o nao é necessdria para os nossos efeitos. Se o Beta 6 um padrao de sensibilidade ao mercado podemos utilizd-lo muito para além do mero interesse estatistico, pois isso significa que é uma medida de tisco (sistematico). Ora, 6 axiomatico (e pedra basilar da CAPM) que quanto maior 0 risco, mais elevado o retorno esperado de um investimento. Entao, dada a correlagao entre risco e prémio, se o Beta 6 uma medida de risco, também pode funcionar como medida de retorno. Vamos, supér que a Bolsa inicia uma subida; entao, pode ser boa ideia construir um portfolio a base de acgdes de alto Beta, pois sera licito esperar um prémio maior. Convém, alias, notar que o risco de uma acgao, medido pelo seu Beta, nao tem verdadero relevo, pois o importante 6 a contribuigao do risco da ac¢ao para o risco da carteira. E evidente agora que 0 que interessa 6 o Beta da carteira, o qual se constroi em fungaio do Beta das acgdes que a compéem, e essa carteira tem que integrar um numero tal de titulos que a variabilidade esperada seja fidvel. E que, como em todos os processos estatisticos, quanto menor o tamanho da amostra maior a probabilidade de desvio do resultado real e final. Esta estratégia esta consagrada empiricamente, para os E. Unidos, por Sharpe € Cooper, no “Finantial Analysis Journal”. Os autores construiram dez carteiras com Betas sucessivamente mais elevadas, numeradas de 1 a 10; as de numero mais baixo tinham os menores Betas, e as Ultimas os Betas mais altos. A amostra cobre mais de 30 anos de dados (1931-1967) e os resultados so irrefutaveis: — A carteira de mais baixo Beta, 0,56, teve o mais baixo retorno, 11,58%; a de mais alto Beta, 1,42, o ganho mais substancial, 22,67%. 364 ESTRATEGIA E TACTICA Apenas com intuito ‘exemplificativo e n&o demonstrativo, vamos ver 0 que aconteceria entre 1 de Fevereiro e 15 de Margo de 1991 em Portugal, se um investidor comprasse 8 titulos cotados, com Beta superior a 1,2 acreditando na subida da Bolsa como resultado das boas noticias da Guerra no Golfo (fonte dos Betas: Investidor Econémico): BETA COTAGAO EM 1/2/91 COTAGAO EM 15/2/91 VARIAGAO % MABOR 1,22 1240 1800 560 45,2 LISNAVE 1,88 1840 2460 620 33,7 SOPONATA 1,21 2320 2860 540 23,3 ENGIL 2,58 978 1591 613 627 $. COSTA 1,80 1920 1591 900 46,9 A.GAUDEN. 2,02 760 966 206 (71 ‘SONAE 1,47 1440 1600 wo 14,1 SOMAGUE 1,23 1190 1600 410 34,5 CARTEIRA = 1,614 34,3 INDICE 1 2091 2514 423-20 BTA Como se vé, 0 ganho percentual da carteira foi de 34,3%, mas o do mercado de apenas 20%. No exemplo escolhido, a valorizagao esperada em fungao do Beta da carteira quase coincide com o ganho efectivo, apenas variando em menos de 2 ponto percentuais (32,6 = 20% X 1,614). O exemplo, apesar de um tanto grosseiro (v.g. — o Beta da carteira 6 uma média simples e néo ponderada), serviu as maravilhas. No final, apresentamos um quadro com os Betas de sectores (grupos de empresas) entre 1988 a 1991 (fonte — BV.P). 365 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Qi Evolugao Anual dos Betas Sectoriais Agricultura e Caga 34 Arte Graficas i 36 Ind. Prod. Met. 0,90 0,67 0,59 0,64 nao Metdlicas 0,68 0,36 0,51 38 Fab. Prod. Met.) 0,87 0,39 Maq. e Equip. [ee ee eed 50 Construgdo e 0,65 0,43 0,95 Obras Publicas {eceeeeeeSTI eee 62 Comércio a 0,18 0,71 Retalho 72 Transportes e |<: 1,1 Armazenagem =a Bancos e Out.| 0,80 Inst. Fin. 82 Seguros Gps anaes e Serv.PrestEmp 0,86 0,09 ESTRATEGIA E TACTICA DE RETER: — O Beta mede a sensibilidade de uma acgdo em relacdo ao mer- cado, mensurando, pois 0 risco sistematico. — Por via do Beta, pode-se, em momentos de subida de Bolsa, formar portfolios agressivos, que variam mais que 0 mercado, previsional- mente. 5. OMILAGRE DA MULTIPLICAGAO “O crescimento (ou a perda) composto pode ser considerado o Iidimo milagre financeiro”. Norman Fosback, “Stock Market Logic”. “Déem-me a alavanca adequada e eu moverei o mundo”. Arquimedes Vamos abordar, com grande brevidade, duas tacticas financeiras, que podem fazer modificar profundamente o resultado dos investimentos. Trata-se da "alavan- cagem", de que alias ja falamos, circunstancialmente (*), e de rendimentos com- postos. Expliquemo-nos: — O efeito de alavanca provoca resultados notaveis. Vamos supér que um investidor compra 1000 contos de acgdes e que estas se valorizaram até 1500 contos. O ganho foi, pois, de 50%. Mas se o mesmo investidor utilizar 500 contos seus e 500 emprestados vai ganhar 100%, (deduzindo embora 0 juro do empréstimo), pois com 500 contos fez outros 500. E entao se nao pagar o muituo ainda ganha mais, sendo de referir que esta tactica tem os seus inconvenientes (judiciais, etc). (*) Vide “Novos Produtos Financeiros”. 367 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE. ACCOES Atengao, porém, que jogar assim, isto é, “em margem”, néo é sé maravilhas, pois a equagao risco/retorno sofre uma poderosa alteragao também na zona de risco. Sem alavancagem, o maximo que se pode perder é tudo; mas em margem, pode ser tudo mais alguma coisa, 0 valor do empréstimo. Nem podia ser doutra maneira, pois uma suplementar capacidade de ganho envolve, em contraponto, um acréscimo de risco. Preocupamo-nos, nesta obra, em preconizar uma aproxima¢do conservadora ao investimento, nomeadamente nas recomendagées de evitar, para os nao profissionais, os Futuros e Opgdes; de defender uma estratégia defensiva, com integragao de “stop loss”; e sugerindo uma aproximagao nao especulativa, no sentido de banir 0 jogo de curto-prazo. Este percurso pela tentagao da tomada de um empréstimo e pelo consequente efeito de alavanca, pode parecer herético a tal postura de avers&o ao risco. Mas entendamo-nos: — nao estamos a recomendar, apenas a lembrar a possibilidade, com os seus lados positivos e negativos. Se o investidor se decidir pelo recurso & “conta-margem”, entao sugerimos veementemente que sd 0 faga em primérdios de Bull Market e nunca no seu desenvolvimento, pois pode frustrar-se a continuacdo de subida — e muito menos na sua maturidade. Mais ainda: — se as coisas comegarem a correr mal, ainda mais vincadamente preconizamos uma rdpida saida da posigao, liquidando o inves- timento e o empréstimo. Nos E. Unidos, a N.Y.S.E. publica estatisticas sobre os débitos “em margem”, sob 0 titulo “Stock Margin Debth”. Historicamente, o débito em margem sobe com o desenvolvimento do Bull Market, de modo a ser considerado um poderoso indicador de tendéncia. Assim, se 0 débito em margem estiver em aumento, as probabilidades s&o de 85% de estar um Bull Market em progresso (fonte: "Stock Market Logic’). — Quem ganhou, em 1626, no negocio da venda da ilha da Manhatan, os indios ‘ou os holandeses? Os holandeses, naturalmente, mas sé porque os indios nao tinham qualquer instituigdo financeira disponivel onde depositassem os valores, é reinvestissem o rendimento. Tivesse isso acontecido e outro galo cantaria. 368 ESTRATEGIA E TACTICA Os numeros para os estupefactos leitores: — os 60 guilders ou 22.20 USD actuais, a uma taxa de 7%, equivalente em média a das obrigagGes de uma companhia sdlida, nos E.U., produziria, em 1976, 427 bili6es de ddlares, muito acima do valor de toda a propriedade imobilidria existente naquela data (fonte: “Stock Market Logic"). Eis um pouco da magica do rendimento composto, o tal ‘lidimo milagre financeiro”. — 1000 contos mais que dobram em 10 anos com o reinvestimento, a uma mesma taxa de 8%, pois chega-se a 2.158 contos como resultado de fim do periodo. Nao houvera o fenémeno composto e o rendimento seria apenas de 1.800 contos. Outra estatistica diz respeito ao efeito suplementar de cada ponto percen- tual a mais: — no nosso exemplo, 1% produz um ganho de 104,6, mas, em 2%, o segundo ponto percentual aufere 114,37! Assim, quanto mais alta for a taxa de ganho, mais alto percentualmente vai ser o resultado do reinvestimento. E as perdas compostas? SAo de cataclismo; 1000 contos, com a erosdo de perdas anuais de 10%, decrescem em cerca de 62%, em 10 anos, reduzindo-se a 385 contos. Se fosse simples a perda, o numero residual nado passava de 450 contos. Tudo isto para dizer 0 qué? — Que se reinvistam as mais valias e os dividen- dos das accdes, pois as recompensas monetdrias serao espléndidas, ilustrando mais uma faceta notavel do investimento em acgdes: — as perdas podem-se limitar a 100%, (ou muito menos, com "Stop Loss") mas os ganhos podem ser ilimitados. DE RETER: — O recurso a empréstimo e o reinvestimento de rendimentos provoca uma extraordindria multiplicagdo de resultados. — A alavanca resultante do débito-em-margem cria um risco intimidativo e s6 deve ser usada em inicio de Bull Market. — O reinvestimento de mais valias e dividendos preconiza-se viva- mente. 369 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES 6. AESTRATEGIA DE COMPRAR E GUARDAR (Buy and Hold) “Como qualquer admirador da IBM poderd asseverar, é estupido comprar @ guardar um titulo de forma acritica. As empresas mudam ¢ por isso as acgdes necessitam de ser cuida- das. Hé épocas para comprar e épocas para vender’. Jane Briant Quinn, “Competing in the 90's” “Desde que o mercado seja razoavelmente eficiente, uma estratégia passiva de investimento 6 op¢ao vidvel para muitos investidores”. Fuller é Farrell, “Modern Investments and Security Analysis” Eis a histéria de Herbert Williams, defensor do Principio “Buy and Hold”, e do terrivel destino dos seus herdeiros. Herbert acumulou uma fortuna no século XIX, gragas a sdbias aplicagdes em acgdes das companhias de caminhos de ferro, todas em permanente valorizagao e pagando excelentes dividendos. A sua morte, em 1906, a New York cotava-se a 255 USD, a New Haven a 250, a Chicago a 180, a Milwaukee a 199, a Great Northem a 348. Herbert era conservador e olhava com desaprovagao o desatino dos filhos. Ciente que, mesmo para além da morte, teria que os proteger, evitando que delapidassem o patriménio, impés no testamento que nenhuma acgao poderia ser vendida até 1940. Assim, os fartos dividendos continuariam a tratar do alto trem de vida dos rebentos € 0 fruto de sua vida de aplicagio e argucia permaneceria incdlume. Porém, em 1940, a New York cotava-se a 0,50; a New Haven a 0,30; a Chicago a 0,31, a Great Northern a 26, a Milwaukee a 0,20. Os dividendos, esses, ha anos que nao se viam, e os herdeiros Id tiveram que ganhar a vida a trabalhar, © que se calhar foi Deus a escrever direito por linhas tortas. 370 ESTRATEGIA E TACTICA A estratégia “buy and hold”, comprar e conservar, 6 a assungao da confianga incondicional no futuro, a seguranga de que tudo correra pelo melhor, no melhor dos mundos possiveis. Com este santo optimismo por base, nao admira que, em Teoria de Investimentos, tal estratégia seja apelidada de “ingénua”. Aparentemente conservadora e extremamente generalizada, constitui real- mente uma arriscada estratégia de gestao de patrimdnios, pois nao toma em consideragao nem risco sistematico nem risco especifico, como se estes nao féssem coisas deste mundo. (Uma estratégia “buy and hold”, completamente cega, contém realmente estes vicios, mas se introduzida uma diversificagao relativamente eficiente, o risco especifico pode ser esbatido ou até eliminado. A historia de Herbert, confesso-o agora, contém um sofisma. O erro incidiu na pobreza da diversificagao, sem qualquer aten¢&o a correlagdo dos activos: — sé tinha acgdes dos caminhos de ferro). Porém, como ja foi referido, a “buy and hold” revelou-se, nos mercados onde pdde ser testada empiricamente, gragas a suficiéncia de dados temporalmente relevantes, uma estratégia ganhante, batendo as aplicagdes ditas sem risco como obrigagdes dos Estados e Bilhetes do Tesouro (*). Em Portugal, entre 1977 e 1991, a observagao do Indice B.T.A. mostra um ganho de 20 vezes para a carteira de base e nao é tomada em conta a distribuigao de dividendos. Mas isto s6 vem documentar a caracteristica de soma positiva do jogo da Bolsa e a sensatez do investimento em acgdes, enquanto aposta no crescimento da economia em geral; nao prova a justeza da “compra e conservagao". Ao fim e ao cabo, a estratégia “buy and hold” resulta ou falha, mesmo diversificando adequadamente, conforme o intervalo de tempo tomado em considera¢ao. Voltando a Portugal, se vista a sua eficiéncia entre 1977 e 1987 (Outubro), os ganhos médios seriam de 7.000%; mas, entre Outubro de 1987 e Dezembro de 1991, provocaria perdas de quase 75%. © que nos conduz de novo ao acerto da op¢ao da estratégia em fun¢do dos ciclos e do “timing” do mercado, a de acompanhamento do “Bull Market”, isto 6, a que preconizamos. A “buy and hold” resultara, seguramente, se encetado o investimento num ponto de "baixa” de mercado. (*) Vide “Porqué investir em acgées”, 371 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Mas se ha que partir, necessariamente, de um bom momento (0 de inicio de Tendéncia de subida), entao a “buy and hola”, para resultar, exige a ades&o, pelo menos inicial, a estratégia que defendemos. Mas nao é sé 0 ‘timing’. Com extrema justeza, dizia um gestor de fundos, Donald Yacktman, 4 Newsweek: “As ac¢ées tém que ser avaliadas néo apenas por elas préprias, mas por relagao com o ganho potencial da mudanga para outros titulos”. Nao 6 evidente? Ento, se a “buy and hola”, embora historicamente vantajosa, pode ser clara- mente melhorada, porque nao fazé-lo? DE RETER: — A estratégia “comprar e guardar” resulta, com adequada diver- sificagdo e suficiente intervalo temporal. A causa consiste apenas na caracteristica de “soma positiva” do investimento em acgdes. — Pode ser melhorada, se encetada em época de baixa. — £ batida por uma estratégia de “timing” do mercado, como a que preconizamos. 372 ESTRATEGIA E TACTICA 7. UMA ESTRATEGIA DEFENSIVA "A regra n® 1 do investimento em acgées 6 nao perder; a regra n° 2.6 nao esquecer a regra n* 1" Peter de Angelis, “Safe Sex in Wall Street” “O dinheiro que posso perder preocupa-me bem mais do que o que Posso ganhar. O controle do risco 6 0 elemento mais importante do trading" Paul Tudor Jones, citado em “Market Wizards”. Todo o processo decisério do investidor deve basear-se na prudente preocu- pag&o de proteger o grosso do capital investido. Assim como um general visualiza prioritariamente manter ileso o seu exército para s6 o empenhar no momento mais favordvel, do mesmo modo 0 investidor defendera os seus fundos, evitando jogadas arriscadas ou fortuitas, certo entéo de que, no bom momento, conseguird extrair-lhes todas as potencialidades. O investidor em Bolsa deverd habituar-se a ideia de que as retiradas estraté- gicas e tacticas poder&o ser frequentes. Se a posigao numa determinada acc4o, hum certo momento, se revelar perigosa, ha que abandona-la, desviando os fundos empenhados, talvez diminufdos, mas salvos no fundamental e nado perma- necer teimosa, esperangosa e anti-probabilisticamente 4 espera do melhor. Vamos supor que um pai de familia nacional, em Setembro de 1987, viu toda a gente das suas relagdes embriegada com a Bolsa, a proclamar a valorizagéo espectacular das suas carteiras de titulos, a trocar os Renault por BMW, a fumar Davidoff e a encetar os jantares com Beluga. Apanhou a febre do ouro, entrou no mercado e comprou, carissimo, um lote de acgdes, investindo 10.000 contos. Este individuo entrou no mau momento pelas mds razées. Mas vamos transfi- gura-lo e transforma-lo num investidor empenhado em salvaguardar o seu capital, decidindo optar por uma estratégia de longo prazo. “Paenitete! Amen!”. Por Outubro, assistiu 4 quebra da Tendéncia e a sua rapida inversao. Tudo comegou a descer, tao depressa como subira. Este investidor, agora prudente, 373 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES deveria vender, aceitar a perda e resignar-se a ver, por exemplo, o seu capital reduzido a 9,000 contos. Como decidiu continuar a investir em Bolsa, esperou pelo momento oportuno e colocou os 9.000 contos em Bilhetes do Tesouro, a fim de manter liquidez. Em Agosto de 1989, monotorizando o mercado, detectou sinais claros de inverséo ascendente e mobilizou de novo a totalidade de capital, agora de cerca de 10.200 contos, gracas aos juros. Pelos inicios de 1990, os ditos 10.200 contos ter-se-iam valorizado cerca de 60%, valendo agora a volta de 17.300 contos. (Por fins de Janeiro voltaria a vender, arrecadando uma bela soma). Em suma: — este investidor, de repente informado, e, mais, tomado prudente, transformou uma aposta perdente num investimento ganhante, conseguindo uma rentabilidade de cerca de 70% em pouco mais de 2 anos. Se tivesse andado a litigar contra a baixa, se nao tomasse a avisada atitude de proteger o capital por finais de 87, vé-lo-ia minguar cada vez mais e, no Bull Market de 1989, partiria, nao de 10.200 contos, mas de 3.000 ou 4.000 e no final da subi- da ainda estaria a perder. Um exemplo, como uma imagem, vale mais que mil palavras. Mas mais que um exemplo, que j4 apresentamos, vale uma demonstragao. Note bem: “A percentagem de ganho necesséria para recuperar uma perda aumenta na razdo geométrica da perda". Eis a demonstragao: % de perda % de ganho necessario para recuperar 5 5,3 10 11,1 15 17,6 20 25 25 33,3 30 42,9 35 53,8 40 66,7 45 81,8 50 100 55 122 60 150 65 186 ESTRATEGIA E TACTICA 70 233 75 300 80 400 85 567 90 900 Fixe estes didacticos nimeros: — Recuperar de uma perda de 50%, implica ganhar 100%, para “ficar em casa”. Nao se tem em consideragdo que voltar ao ponto zero representa, ainda assim, uma perda, a equivalente ao retorno possivel do capital investido pelo periodo necessario para a recuperagao; e que, quanto maior esse intervalo de tempo, maior a perda oculta. N&o é por acaso que 0 mais velho aforismo da Wall Street, “cut the losses, let the profits run”, de que voltaremos a falar, se inicia pelo imperativo: “Cortar as perdas!" A ordem dos factores aqui nao é provavelmente arbitraria. Por outro lado, também nao ha que temer a perda de uma possivel situagao vantajosa, se 0 risco fér pesado. Neste aspecto, a Bolsa nao reflecte a Vida. Enquanto na nossa efémera passagem pelo Mundo ha momentos em que ou se agarra a oportunidade ou ela nao volta a surgir, na Bolsa as ocasides propicias nao faltarao. Se nao fér hoje, é amanha ou daqui a um trimestre, mas que novas oportunidades surgem, disso ninguém tenha duvidas. No fundo é como na metereologia: — é seguro que o Sol esta ld no firmamento e, um dia qualquer, volta a brilhar outra vez. Se a prudéncia nao produziu o resultado déptimo e uma oportunidade escapou, nao ha problema, outras virao. Um exemplo ao acaso: — Suponha que deixou escapar o curto movimento altista da segunda quin- zena de Dezembro de 1991, vendo fortes subidas da Mabor, Cisf, Hannover, Corticeira, etc. a passarem ao lado. “No problem”: — poder-se-ia comprar, pouco depois, com o mercado muito mais flacido (s6 aparentemente), accdes Soares da Costa a 2.200$00, Engil S/ Voto a 1210$00, BPI(N) a 3380$00 e vé-las subir, em cerca de 15 dias, para 2500$00, 1370$00 e 3900$00, respectivamente, (e depois, alids, muito mais) . N&o estou a dizer que estas oportunidades nao oferecessem risco; estou, sim, a afirmar é que estavam [4 e que outras viriam a seguir, tao certo como 2 e 2 serem 4. 375 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Obviamente que as ocasiGes que estou a referir sao as pontuais, nao a mu- danga de Tendéncia, de Baixa para a Primaria de Alta. Tal momento é 0 Momento, e entaéo ha que avancar decididamente. Na eventual inversao fundamental para cima, a regra da prudéncia sé se coloca “a posteriori", se a ascensio se nao con- cretizar, vendo-se ai 0 investidor na situagéo possivel de dever inverter a opgao de entrada no mercado, voltando a desinvestir. DE RETER: — A estratégia preconizada é defensiva, definindo-se como objectivo prioritério a proteccao do investimento e s6 como secundério a optimizacao do mesmo. — Nii se pode perder o inicio e desenvolvimento do Bull Market. — As oportunidades pontuais de ganho sio constantes, nao vale a pena correr riscos, por medo de perder alguma. 376 ESTRATEGIA E TACTICA 8. STOP LOSS “O novigo pode limitar as perdas matematicamente; o perito terd as suas raz6es; 0 tolo deixé-las-é prolongarem-se” Gerard Loeb, “The Battle for Investment Survival” “O facto de estar X% abaixo do custo 6 a razéo de venda e nenhuma outra 6 necessdria”. William O'Neil, fundador do “Investor's Daily” Um coroldrio da estratégia defensiva e elemento fundamental da denominada Teoria da Carteira Segura 6 0 método chamado “Stop Loss’, isto 6, ‘paragem de perda”. Como se viu, enquanto a Tendéncia Fundamental fér ascendente, o investidor mantém-se em Bolsa. Simplesmente, a Tendéncia negativa, de médio ou curto prazo, ha-de aparecer, contrariando a de longo prazo; por outro lado, um titulo qualquer da carteira pode decidir cair, em intoleravel manifestagao de mau comportamento. Pée-se, ent&o, o problema do modo como enfrentar tais situa- Ges. Sair 6 a resposta necessdria; como ou quando sair 6 mais complicado. Aqui aparece a “stop loss” a resolver o problema, com um compromisso aceitavel entre eficiéncia, automatismo e seguranga, aplicavel a qualquer titulo em concreto que © investidor tenha em carteira. Pode definir-se “stop loss” como o prego, abaixo do actual, que o inves- tidor estabelece como sendo, no futuro, o mais baixo aceitdvel para qualquer ac¢do em carteira e que, se violado no sentido descendente, vai desencadear uma ordem de venda ao melhor, para protecgao contra revez excessivo. O prego de ‘paragem da perda” é estabelecido em fungao de uma referéncia, & essa 6 0 valor actual e nado o de compra, embora no momento da aquisi¢ao ambos coincidam e no futuro possam eventualmente voltar a igualizar-se. A ideia 6 proteger tanto o investimento como o lucro produzido; deste modo, o ganho, e nao apenas o capital investido, 6 incorporado no sistema protectivo. 377 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Exemplificando: — Um certo titulo foi comprado a 2.500$00; logo ai o inves- tidor fixa-lhe o prego “stop loss”, digamos em -200$00, isto é, a 2.300$00. O prego foi subindo, e com ele, 0 nivel do “stop loss” que, em cotag&o a 3.000$00, passou ‘a 2.800$00. Se o prego cair abaixo dos 2.800$00, 0 titulo 6 vendido sem hesita- go ou contemplagao. E se voltar a subir? Entao foi pena ter vendido e nao se pensa mais no assunto. Nao se podem abranger duas vantagens incompativeis ao mesmo tempo, a de hipétese de subida e a recusa ao risco de forte descida. Alids, até pode vir a acontecer esta coisa paradoxal, que é voltar a comprar mais caro se os indicadores o recomendarem. As vantagens deste método ja foram insinuadas ou afloradas ao longo deste fivro. Quando as acgdes descem, podem vir a descer em queda livre (*). Com a “stop loss”, o investidor comprou uma espécie de seguro; 0 evento danoso pode no acontecer, mas se ocorre, as consequéncias sao tidas por inaceitaveis; paga- -se entao um ‘prémio” para as evitar que aqui consiste em alienar a possibilidade de 0 titulo voltar a subir, sem jamais entrar em queda mais acentuada. Vale bem a pena reflectir no interesse do “stop Joss”, que, além do mais, coloca a relagao risco/prémio de forma realmente aliciante. Assim, se 0 investidor, antes de decidir entrar no mercado, colocar imediata- mente 0 limite de perda, por exemplo, em 5%, entéo mesmo que tudo the corra ao contrdrio, ao ponto de nenhum titulo da sua carteira obter valorizago, 0 risco fica reduzido aquele limite e tao s6. Jogando assim no mercado de acgées, tirou-se um coelho da cartola, transformando um mercado de alto risco em baixo risco e tigorosamente & medida de cada qual. Claro que sucessivas perdas de 5% seriam trdgicas, mas conforme se estabeleceu estrategicamente, o investidor sé entra no mercado em inicio de tendéncia altista, isto é, quando as potencialidades de prémio atingem o maximo. Pode-se determinar o nivel do “stop loss” por percentagem ou por valor fixo, e obviamente ndo ha regra exacta para definir uma ou outro. Isso 6 com cada investidor, tendo bem em conta a sua prépria nogao de seguranga. Ja vi referidos niveis de 5%, 8%, 10%, 15%, mas cito-os sé como exemplo e ndo a guiza de sugestao. (*) Talvez no fosse mau reler, no capitulo Il, a secgao “Jd Nao Pode Descer Mais". 378 ESTRATEGIA E TACTICA Mas uma coisa é certa. O nivel nao deve ser fixo, devendo depender de cada titulo em concreto, das condigdes conjunturais de mercado e do ganho ja obtido. Num mercado em ascengao, 15% pode ser aceitavel como limite para um titulo volatil, mas 8% um exagero para uma ac¢ao de habitual comportamento estavel; num mercado em subida o nivel néo devera obviamente ser 0 mesmo do estabe- lecido para uma situagao de Tendéncia lateral; e, se se esta a ganhar, por exemplo, 30%, a margem de manobra ja 6 outra. Penso também, como W. O'Neil, entre outros, que a "Stop Loss" para o prego de custo deve ser fixado de forma mais limitada que apés uma subida e a consequente incorporagao de lucro. Métodos mais sofisticados podem colocar o nivel da “stop loss” num certo ponto abaixo de uma linha de resisténcia ou de uma percentagem de uma média mével ou duma banda de transaceSo, e qualquer investidor pode fazé-lo desde que domine estes conceitos. No inicio, porém, o que referimos chega e sobra (*). Aqui chegado, sinto-me no dever de apontar uma excepgao a utilizagao da “stop loss”: — se o investidor esta seguro, mas realmente seguro, dos bons elementos fundamentais da acgao em queda e entende que a descida se deve apenas a uma reaccao técnica, entao, talvez valha a pena conservar o papel, pois nesses casos a venda em ‘stop loss” coincide frequentemente com o fundo tempo- rario da cotagdo, seguindo-se a retoma de valor. A utilizagao generalizada da “stop loss” pode provocar um efeito perverso, desestabilizar 0 mercado. Como é obvio, se apés uma quebra todo o ptiblico se puser a vender, embora a diferentes niveis, desencadeia-se uma possivel queda livre, sem raz6es fundamentais justificativas, pelo menos, quantitativamente. A sustagao sé pode entao provir da forte intervengdo de investidores insti- tucionais com poderosa influéncia no mercado, os quais, unidos por razées de andlise fundamental, retomem as compras num nivel de pregos considerado razoavel ou barato. Mas 0 facto 6 que quando a baixa entra em locomog4o 0 que 6 barato num certo dia seré ainda mais econdémico nos dias seguintes e os compradores tenderao a deixar “pousar a poeira” até ao desaparecimento provavel dos vendedores, isto 6, das forgas da descida. Parece hoje incontroverso que a utilizag3o automatica da “stop loss” constitui uma das razées do anémalo “crash” da Wall Street, em 1987 e o determinante da sua amplitude imediata. (*) Vide graf. 6.4.8. “Médias Méveis”. 379 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACCOES Porém, esta consequéncia em nada deve dissuadir o investidor. Cada um tera que se preocupar consigo préprio, segundo o fundamental principio ‘cada um por si; Nosso Senhor por todos”. Agudo dever de consciéncia obriga-me a referir que a opinido sobre a “stop loss” nao é undnime e alguns outros investidores referem-na com abominagao ou, mais placidamente, em tom critico. Diz Kovaks, por exemplo, que o “stop joss” apenas é Util para os que se inte- tessam pelas mais-valias de curto prazo. E Shulman, no auspicioso “You Can Still Make a Million’, preconiza-o s6 para quem, por férias ou por doenca, deixe de acompanhar o mercado. E argumentam: — Com o "stop joss", desencadeando a venda ao melhor, ninguém sabe onde esta o fundo; o “stop loss” recusa o discemimento; a percen- tagem de descida tende a fixar-se, sem mais flexibilizagdes; em reacgdes téc- nicas, o “stop loss” vai fazer vender o que esté em ponto de se dever comprar. Fixe bem as criticas, leitor, porque a decisdo final vai ser sua. O autor, para quem estes argumentos nao sao indiferentes, deixa ambas as Posigdes a consideragao do leitor. Agora, sendo defensiva a estratégia preco- nizada, o “stop loss” nao passa de corolario desse posicionamento. Nao fique também sem se dizer, alids em repetigao (*), que 0 objectivo de seguranga pode ser obtido via “hedging”, — isto 6, uma estratégia defensiva que combine diversas formas de investimento, nomeadamente posigdes de compra e de venda sobre o mesmo valor (ou semelhante, com um Indice), utilizando futuros © opgdes, por exemplo. “It is very sofisticated”, mas como nao ha ainda dispo- niveis tais produtos e, quando aparecerem, nao vao obviamente abarcar toda a listagem de acgdes do mercado oficial ou até do continuo nacional, serao de considerar na devida altura como métodos adequados, mas nao completamente substitutivos da defesa via “stop loss”, (*) Vide “Novos Produtos Financeiros”. 380 ESTRATEGIA E TACTICA DE RETER: — O "stop loss" € um método simples de gerir o risco e obter um seguro, e consiste em vender as accées desde que estas desgam para além de uma certa percentagem pré-determinada abaixo da cotacgio maxima. Procura-se assim proteger nao sé o investimento mas também o préprio lucro. — HA métodos mais sofisticados de obter o mesmo efeito, que nao sdo tratados aqui (v.g., "hedging"’). — O "stop loss", que o autor defende com veeméncia, é objecto de severas e ponderdveis criticas pelos seus detractores. — Uma estratégia defensiva nio pode prescindir do “stop loss” ou método de igual finalidade. 9. CAVALGAR O BULL MARKET “... Let the profits run.” O mais velho aforismo da Wall Street Todo o desenho deste livro aponta para este ponto: — Qualquer definigao estratégica passa necessariamente pelo aproveitamento do Bull Market e desinvestimento total ou parcial em Bear Market, aderindo a ideia que o mercado se move, pelo menos durante boa parte de tempo, com Tendéncia definida de subida ou descida. Por sua vez, quando os mercados entram em Tendéncia lateral, os chamados ‘trading markets”, embora o risco se torne normalmente mais baixo, também dimi- nuem as hipéteses de ganho, para os investidores (ja os “traders” podem entrar em rdpidas intervengdes, baseadas nas zonas de “resisténcia e suporte’). 381 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES N&o ha pois solicitagao particular para uma intervengao no mercado, pelo menos significativa. Finalmente, em "mercado cadtico", a unica politica razoavel 6 0 ‘pernas para que te quero” (vide “Hipdtese do Mercado Coerente’). Quando o mercado cair no fundo, abre-se a hipétese, que adiante trataremos sob a epigrafe “Ir aos Saldos”, e que pode ser auspiciosa. Mas realmente sé em Bull Market se estabelece a maxima hipstese de retorno com risco minimo. Abrimos o caminho para este “grand finale”, logo quase no inicio do livro, e o leitor com boa meméria encontrara as bases tedricas e praticas em “Um jogo”, “Um Mercado”, “Teoria do Mercado Coerente”, “Logica do Mercado” e “Arte do Pensamento Contrério”. Ai se encontram as bases que fundamentam esta con- clusdo: “Let the profits run”, cavalgue o Bull Market. Em situagao “bearish”, o investidor que nao venda a descoberto esta a remar contra a maré, numa campanha tendencialmente perdente. Mais vale entao o refugio em liquidez, esperando melhor oportunidade. Em tais épocas, os instru- mentos financeiros de rendimento fixo e de facil mobilizagao, como bilhetes de tesouro, fundos de tesouraria e obrigagdes muito liquidas tornam-se claramente melhor aposta. Entao como regra, o investidor entrara em Bolsa com o mercado a iniciar uma Tendéncia altista evidente @ sair4é quando a Tendéncia quebrar clara- mente. Uma estratégia assim clarificada, alids corolario da chamada Teoria da Carteira Segura, coloca o investidor fora do mercado uma boa parte do tempo. Tal decis&o pela negativa nem todos a conseguem tomar, mas é simples, ganhante e pouco exigente. Que se passaria se um investidor decidisse colocar 1.000 contos, entre 1984 e 1991, na Bolsa de Lisboa, seguindo apenas a estratégia de aproveitamento de Bull Market, sem mais refinamentos, sabendo apenas detectar os primérdios de tal estado do mercado, como este livro em varios pontos ensina e adiante desen- volve? A carteira hipotética serd equivalente a do Indice, B.T.A. (0 que significa que a escolha é como se fésse a sorte). : O quadro geral foi este (fonte: Socifa Beta, “Mercado de Capitais”): 382 ESTRATEGIA E TACTICA 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 Varlagiio do Indice BTA 33,5 1268 1122 1488 -21,2 -39,5 -34,8 -7,7 Dividend yleld médio 8,5 49 1,3 0,9 2 18 3 3 Taxa de Juro sem risco 238 182 131 14,1 125 138 143 16 O investidor faz a sua entrada no ano de 1984, tipicamente quase no fim de uma crise econdmica (vide, alias, o extraordindrio ‘dividend yield” de 8,5%!), pelo que, em 31 de Dezembro, passaria a ter cerca de 1420 contos (dividendos e mais-valias). Como nao ocorreram quaisquer sinais particulares de saida, man- teve a posigado nos anos de 1985, 1986 e 1987, até finais de Outubro. De 1985 aquele més de 1987, tomou forma uma extrema Tendéncia de Bull Market, que nos seus finais (Setembro-Outubro de 1987), assumiu os contornos de ‘bolha especulativa”. Mas 0 nosso investidor que saiu com o discurso de Cavaco Silva, anunciando “gato-por-lebre’, e demorou 3 dias para desfazer a carteira, por ineficiéncias do sistema e falta de liquidez do mercado, ganhou fortemente neste tempo. Assim, em finais de 1985, capital e rendimento ascendiam a 3290 contos; em 1986, 7024 contos. Em fins de 1987, tendo recebido mais-valias e dividendos de Janeiro a Novembro, e juros até Dezembro de 1987, o patriménio estaria aumentado para cerca de 18.620 contos. No ano de 1988, este feliz investidor tirou férias bolsisticas, auferindo apenas juros (4013 contos), e sé voltou a intervir no mercado em inicio de Agosto de 1989. De novo entrou num Bull, este intermédio e muito forte, mas fenecido clara- mente em Outubro de 1989, pelo que voltou a colocar o capital (34.236) em obrigagées, auferindo mais-valias no montante de 11.600 e juros, no valor de 787 contos, © ano acabou em beleza, com o capital em 35.023.000. O bolo passou para tendimento fixo até aos finais de Abril de 1990, quando ocorreram sinais evi- dentes de entrada. Porém, esta subida durou apenas um més, seguindo-se queda para os niveis anteriores. O investidor esteve, pois, no mercado cerca de 3 meses, e seguindo o critério até aqui utilizado, abandonou-o com as coisas bem definidas 383 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES para o lado da queda, pelo que nao ganhou nem perdeu. Falso sinal. Voltou 0 capital (36.692) para rendimento fixo até ao ano da graga de 1991, mais precisa- mente Fevereiro, e os juros foram de 486, pelo que o capital subiu para 39.364. O investidor entrara no mercado em 13/4/90, mas saiu, com o rabo entre as pernas, logo em inicio de Agosto do mesmo ano, com a invasao do Kuwait. Esta mini- -campanha no trouxe variagao. No inicio de Fevereiro de 1992, com a expectativa da répida vitéria dos Aliados, voltou o “bom tempo". Aqui, 0 mercado subiu muito rapidamente mas foi sol de pouca dura, porque em fins de Margo estava terminado o movimento altista. Mesmo assim, como a subida foi forte, entraram mais 6720 contos, nao se tendo recebido dividendos, e transferindo-se de novo os capitais para depédsitos, os quais, por sua vez, proporcionaram juros de 15% até ao fim do ano, acabando-se a campanha com a carteira recheada: 51.270.000$00. E eis a feliz histéria da transformac&o de 1.000.000$00 em 51.270.000$00, sem magia negra ou totoloto, num periodo de 9 anos! N&o se tomaram em conta custos operacionais, nem dedugées fiscais, mas as contas so “grosso modo“ correctas para se formar uma ideia. Por outro lado, nao era possivel com 1.000 contos construir uma carteira espelho do Indice B.T.A., mas isso nao altera a fidedignidade basica do resultado. Um leitor atento reparara que nao foram definidos dias exactos de entrada e saida do mercado. Isso explica-se por que o autor nao recomenda um método automéatico para o efeito, mas a partir da interpretagao subjectiva de uma série de indicios objectivos que a seguir se referirao. As entradas, porém, nunca ofereceram dificuldades e foram seguidos os métodos que indicamos em “Reconhecer o Bull Market" (1). As saidas, em geral, foram realizadas por método quase automatico, a saber, todas as vezes que a linha do Indice atravessou na descendente uma média mével de 30 dias, como dissemos ao falar de "Stop-Loss", acrescendo um “filtro” varidvel. Este cendrio, totalmente realista, partiu do principio que 0 investidor acompa- nhou sempre o mercado e soube detectar o movimento ascendente ja definido, mas nos seus primérdios. Tornou-se particularmente réseo por incluir um Bull Market primdrio, de longa duragao e manifesto excesso (1985-1987). Integrou, também, o “milagre” dos rendimentos compostos, visto que este investidor hipotético reinvestiu sempre os resultados, multiplicando os efeitos (2). (1) Vide adiante. (2) Vide *O Milagre da Multiplicagao". 384 ESTRATEGIA E TACTICA Em contrapartida, quase metade destes 9 anos foram mas épocas bolsisticas € partiu-se de uma carteira de acces espelhando o Indice BTA, quando nem sequer era transcendente bater a média do mercado, por vezes com fartura. Alias, uma carteira assim escolhida equivale a uma escolha aleatéria, pelo que seguramente se conseguiria melhores resultados com uma selecgdo minimamente criteriosa. Fica, pois, ilustrado o principio: Uma estratégia claramente simples e ganhante consiste em acompanhar o Bull Market e esta 6 acessivel a qualquer investidor. N&o pretendemos, evidentemente, ter realizado uma demonstracao cientifica, mas apenas exemplificar, por um periodo suficientemente dilatado para ter signifi- cado, o método que recomendamos. Claro que um resultado deste teor provavel- mente no se repetira, mas isso nem é muito chamado para aqui: — nés até temos medo das ‘bolhas especulativas’... Pois bem. E esta a intrinseca simplicidade que prometemos. Nao 6, alids, por 0 acaso que a mais antiga maxima da Wall Street reza assim: — “Cut the losses; let the profits run”. Um aforismo que resiste a quase 200 anos de experiéncia, é o Aforismo; integra toda a sabedoria empirica acumulada e 0 Tempo validou-o como certo. (N&o ha verdades absolutas, e deixamos, por isso, assinalada uma reserva & regra “Let The Profits Run” — Atendendo a extraordindria rapidez das comunicagdes, da generalizagao clara de informagao, da eficiéncia interna e externa dos mercados, as Tendéncias fundamentais e as Reacgdes tendem a ser mais velozes, e, 4s vezes, os rumos alteram-se num apice. Como diz Domitilia Santos, “deixar os lucros correrem” 6 mais dificil de conseguir nos mercados volateis de hoje. Mesmo, assim, mantém-se a recomendac&o de seguir o movimento até a sua quebra evidente. O que serd preciso, seguramente, é maior assiduidade e atengao. Claro que ha métodos de ir segurando os lucros auferidos, vendendo parte do lote e deixando a outra parte em carteira, mas falaremos disso mais tarde). Pode-se melhorar a ideia? Sim, evidentemente, e jd atras foram langadas pistas. Desde logo, a utilizagao da “conta margem” permite o “short selling”, ou venda a descoberto, e, assim, aproveitar uma outra Tendéncia de mercado, a de baixa. A tegra é a mesma, s6 que invertida: — vender forte quando o mercado entrar em quebra clara. GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Quanto a comprar de volta, a situagdo 6 menos dbvia; pode-se esperar pela inversdo de Tendéncia tentando aproveitar toda a extensao da descida ou, mais prudentemente, fechar a posigao com objectivos mais modestos. A venda a descoberto, introduzida em Portugal pela Lei Sapateiro, ainda nao est4 regulamentada, pelo que, por agora, ainda é ilegal. E como 6é ilegal, nao existe nem nunca existiu. © autor espera que rapidamente seja introduzida “a conta margem’, convencido que esta é um bastiao fundamental de um mercado de capitais pujante. Este método, em nticleo, é rigorosamente um método de Tendéncias, o género de aproximagao que é o da estratégia-base deste livro, como néo podia deixar de ser. DE RETER: — "Cut the losses, let the profits run". 386 ESTRATEGIA E TACTICA 10. RECONHECER O BULL MARKET “A deteccao de um grande “fundo" é de grande importancia estra- tégica. Quando se consegue fazé-lo, eis a época em que 6 necessério entrar em bolsa, realizando ¢ utilizando todos os activos do patri- mGnio. A recompensa seré grande”. André Kovacs, “Comprendre La Bourse” “Os Bull Market nao sao geralmente reconhecidos até teram percor- rido jé uma evidente distancia... Se se olhar para traz, para pontos cruciais de viragem, 6 muito dificil carrelaciona-los com noticias”. Gerard Loeb, “Your Battle for Investment Survival” Como n&o podia deixar de ser 0 inicio de Bull Market nao vem anunciado nos jornais, nem sequer constitui noticia. Quando a Bolsa, depois do perfodo de descida, recupera de subito, os do Oficio interrogam-se sobre a natureza de tal movimento. Recuperagao técnica, salto aleatério, pico tempordrio? Ou auténtico inicio de Bull Market? As hipéteses ‘s&o varias, sé uma verdadeira, e s6 se desvendera com o decurso do tempo. Ora, quanto ao ptiblico em geral, mesmo o detentor passivo de acgdes ou o investidor de ocasiao pura e simplesmente nao se inquire ou sequer se apercebe sobre a natureza de uma certa subida de Bolsa. Todavia, para quem esteja no Jogo, este momento chave nao pode passar despercebido. E aqui que se comega a ganhar dinheiro, e pode até acontecer que se trate um Bull Market de curta ou média durag&o que s6 propicie verdadeiros lucros aos realmente dgeis, que aproveitem periodos de tempo relativamente estreitos, Sendo esta obra estruturada conceptualmente no Bull Market, teremos entao que descobrir os vestigios que a dita Tendéncia ascendente deixa assinalada no seu inicio, definindo qual o momento de entrada no jogo, a oportunidade do inves- timento em acgdes. Como vimos, é tudo uma questo de ciclos, e o investimento ganhante consiste em apanhar o ciclo ascendente desde o seu inicio. 387 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Para os E. Unidos, o ciclo de subida e de descida, Bull e Bear Market, duram em média 3,5 anos a 5 anos, tomando em consideragao os anos de 1949-1992. Também estatisticamente, 6 maior, em perfodo temporal, o Bull Market, mas o Bear Market 6 mais rapido. Mas a opgao estratégica de acompanhar o Bull Market impde a resposta a uma questo prévia: — Deixaremos consolidar-se 0 movimento de forma tal que o investimento se inicie mais tardiamente, embora possivelmente de forma mais segura? — Ou deveremos tentar extrair tudo bem desde o principio, embora com risco de entrar em falsos movimentos, enganados por sinais que, em verdade, nado passavam de “ruidos”? Aqui recomendaremos, uma via intermédia: Se ocorrerem determinados indicios que teremos por significativos, entao interviremos com a maior rapidez possivel; caso contrario, o inicio do investimento ocorrera apenas com a consolidagao e conjugagao de todos os vestigios possiveis. Vamos, pois, pela descri¢do das situagées em que se desenvolve e das quais emerge o Bull Market. A aproximagao que tomaremos, toma tanto em conside- rago os dados técnicos como os fundamentais que percorremos nos capitulos V, Vie VIL Ei-los: 1. Aeconomia nacional esta em claro abrandamento, provavelmente em crise @ possivelmente em depressao. Significa isto que certos indicadores, como consumo privado, mercado imobilidrio, consumo de cimento, PIB, esto em dimi- nuig&o, e em aumento o desemprego e as faléncias. As expectativas e conjecturas dos agentes econémicos, tais como expressas em diversos painéis de opiniao, so negativas ou pessimistas. Os érgaos de comunicagao social, como porta- vozes do clima geral e opiniao publica, dao igualmente o mote do negativismo. 2. As taxas de juro estao em descida. Provavelmente ja ocorreram conse- cutivas descidas das mesmas. 3. A Bolsa teve recentemente uma queda acentuada, vindo em declive ha largos meses. Poder, eventualmente, ter estado sustentada, mas em baixos historicos, quanto aos tempos mais recentes. 4. O Per médio de mercado 6 baixo (doze ou menos); o dividend yield nunca 6 inferior a 3%; o PBV anda pela unidade ou talvez menos. 388 ESTRATEGIA E TACTICA 5. O mercado de obrigagdes tornou-se pouco atractivo, diminuindo aqui o volume de negécios, caindo os ‘yields” e aproximando-se do das acgées, nao sendo mais que o triplo destes, na hipétese mais extrema (normalmente, o mul- tiplo 6 menor). 6. Nao ha ofertas ptiblicas de venda de acg¢des (OPV'S), mas aparecem varias ofertas publicas de compra de companhias (OPA’S), visto que, na transigao do Bear para o Bull Market, as acg6es estdo desvalorizadas em relagao ao futuro proximo previsivel. Por exemplo em 1992-1993 ocorreram, por exemplo, as OPA da INO, CISF, Ocidental, BCI e nenhuma OPV. Porém, em 1987, as OPV supe- riorizam as OPA por mais de 20 a zero. 7. Certas acgdes das empresas mais importantes ou com poder de lideranga na Bolsa iniciam subidas, (p.e., na América, a General Motors). 8. Pode-se ter notado um aumento do volume de negécios na Bolsa, nos Ultimos tempos de baixa ou consolidagao em baixa. 9, Notou-se a subida relevante de alguns titulos. Embora poucos, a sua ascengao parece andémala em relagdo 4s subidas mais recentes, normalmente efémeras e de pequeno vulto. Esses titulos costumam pertencer a algum grupo especial, sejam “blue-chips”, sejam de um sector de actividade determinado, ou mais simplesmente, de empre- sas mais injustamente penalizadas pelas descidas anteriores, apesar de apre- sentarem bons ou interessantes relatérios e contas. 10. As médias moveis de curto, médio, longo prazo tomam, em conjunto, tumo ascendente, 11. O declive ascencional do [ndice serd tanto maior quanto maior a forca do movimento de modo a que a escolha da MM atravessada pode disso depen- der. Assim, com uma ascencdo violenta, 0 cruzamento da MM de 30 dias bastard; se estiver em ascengdo lenta, a MM de longo prazo (v.g. 150 dias) sera mais aceitavel. 12. Se no momento da viragem, o Indice subiu com grande aumento de volume de negdécios, em chamado “buying climax” (vide “Volumes”, isto 6, se os negé- cios quintuplicam no minimo em relagéo a média do periodo imediatamente passado, vale a pena avangar sé com este sinal e a ascengao em unfssono das 3MM (de curto, médio e longo prazo). Por exemplo, o maior Bull Market da His- toria, inciou-se em 17 de Agosto de 1982, nos E. Unidos, e rompeu com um aumento de volumes de 42 vezes superior ao periodo anterior. 389 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES 13. Acgdes de baixa qualidade podem comegar a subir de prego, o que se deve a valorizagao rapida das mais atractivas, as primeiras a avangarem. E um fendmeno de arrastamento. 14. A linha do numero de acgdes em subida e descida estd4 claramente em ascengdo e quanto maior for o declive dessa ascengao, mais répida deve ser o movimento de investimento. 15. Provavelmente formou-se no grafico do indice uma figura importante de reversao, como “cabega-e-ombros" ao contrario, “fundo duplo’, etc.. 16. Possivelmente uma linha de "resisténcia" foi ultrapassada com largo volume e boa percentagem de valorizagao do indice. 17. Os volumes em subida superiorizam claramente os volumes em descida. 18. O Bull Market fica consolidado quando a linha do {Indice ultrapassa na ascendente a MM de 150 dias. ‘OMAIS LONGO BULL MARKET DA HISTORIA COM DADOS MENSAIS DON. COMPOSITE Graf. 9.10.1 — 1982; 0 inicio do mais longo Bull da Histéria, ocorrida na Wall Street. 390 ESTRATEGIA E TACTICA DE RETER: — O inicio do Bull Market surge em condi¢ées que o tornam desapercebido para a maioria das pessoas, sendo negativas as condicées objectivas e subjectivas. — Existem indicios suficientes e significativos, acima indicados, que apontam ao analista atento a viragem da tendéncia, do Bear para o Bull Market. — Como em tudo, h4 sinais mais significativos que deveriio sugerir ao investidor uma entrada mais r4pida no mercado, como uma subida acentuada do indice, um némero anémalo de accdes em subida ou um extraordinério aumento de volumes. 41. RECONHECER O BEAR MARKET “Comprar acgées em Bear Market 6 como mijar contra o vento”. Sabedoria dos mercados “Como se faz 1 milhdo em Bear Market? Comegando com 2 milhdes”. Mais sabedoria dos mercados Este capitulo é facil, basta ler 0 anterior, “Como Reconhecer O Bull Market”, e vé-lo rigorosamente ao contrario; (mas atengao: — nao pretendemos referir-nos ao tipo de leitura a chinesa, de baixo para cima e da direita para a esquerda). Esclarecidos, vamos porém deixar algumas observagées, de adenda ao que se disse quanto ao “Bull Market”. 391 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES — Em Bear market, por vezes, as quedas de cotacgdes sdo absolutamente imprevistas, pelo menos na sua extens&o. Outubro de 1987, na Wall Street, 6 exemplo excessivo, mas a queda de 7 de Outubro de 1991, em Portugal, logo a seguir a vitdria eleitoral de Cavaco Silva, foi incompreensivel na sua violéncia e rapidez. As cotagdes pareciam pedras a cair na dgua, e no havia mais razao fundamental extrema que justificasse tao evidente excesso baixista. — Convém anotar, em énfase, que se as quedas s4o muito mais abruptas que as subidas, a coisa agrava-se nos rapidos tempos de comunicagao e decisao instantaneos que sdo os actuais, e a Bolsa pode desabar em trés tempos. A atengao didria para as cotagGes, que ja foi referida como exigéncia imprescindivel, fica aqui mais vincada. O leitor va de férias, parta a pema na neve, se quiser, mas deixe ordens de venda ao seu corretor, para o que der e vier. — E possivel, como antecedente do Bear, que o Indice suba, mas a linha de subidas e descidas tenha iniciado 0 ciclo descendente, e sé as acgdes de quali- dade estejam a resistir a um movimento subtil de perdas, ligeiras, mas conti- nuadas. Este sistema de entrada do Bear é mais sinuoso, dd mais tempo de aviso, mas pode ainda deixar uma falsa sensagao de seguranga, ou de espe- ranga. Cuidado, portanto! Mas quando as acgGes de alta qualidade comegam a perder terreno, entéo nem a devogao aos Santos impedira o investidor de largar o seu papel. Agora 6a sério! — Poder-se-4 usar sempre o método automatico. Por exemplo, escolher um sinal deste tipo: — Vender quando a linha do Indice cruzar na descendente a MM de 30 dias, estando em descida as MM de 90 dias e 150 dias. Enfim: No geral, sé ha a repetir, ao contrario, o que referimos em “Reconhecer o Bull Market’, e interiorizar um dos grandes momentos de sabedoria bolsista: — Nunca litigar contra o Bear Market. DE RETER: — Recorde, pela inversa, os indicios referidos em “Reconhecer o Bull Market”. — Lembre-se que as quedas sfio mais abruptas que as subidas. © — Como sempre, a defesa est4 no “stop loss”. 392 ESTRATEGIA E TACTICA — Atengio ao sinal descendente da linha de subidas e descidas, apesar da subida do indice. 12. IR AOS SALDOS “Hé que comprar no momento em que a esperanga deixou de existir’. Fortune, Investor's Guide, 1993. A estratégia encerrada neste livro nao 6, obviamente, a unica possivel, embora seja incontroverso que qualquer uma, se ganhante, dever adesdo ao Bull Market. O que se pode é, cumulativamente, seguir uma aproximagdo de antecipagao da subida, embora correndo o risco de ver a descida prosseguir, em vez de se suster e, posteriormente, recuperar. Tratar-se-4 de, ap6s uma acentuada queda, abrupta ou deslizante, quando os Indices Bolsisticos parecem sustentar-se em baixa, seguindo em Tendéncia lateral e em aparente situagao chamada de ‘consolidagao”, encetar uma politica de compras de titulos que, em andlise fundamental, se revelem baratos e exces- sivamente penalizados pela quebra imediatamente anterior. Realmente, depois de quedas, parece formar-se um patamar de consolidagao, nomeadamente durante algumas semanas ou meses, periodo em que o mercado fica exausto da descida, esta anémico para encetar uma subida imediata, mas se encontra sustentado em baixa, por desaparecimento de vendedores a pregos ainda mais baixos. Em Portugal, assistimos, por exemplo, a periodos assim qualificados, entre Novembro de 1991 e Fevereiro de 1992, e Outubro de 1992 e Janeiro de 1993. 393 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Vejamos os graficos: Graf. 9.12.1 394 ESTRATEGIA E TACTICA E, realmente, durante esses periodos, puderam-se comprar verdadeiros saldos. Vejamos alguns exemplos das valorizagdes nos 5 meses subsequentes, tendo por objecto ‘blues-chips” do mercado portugués. Reparar-se-4 que sé ha uma perda, referente a Inapa, esta pertencente a sector em notérias dificuldades na época, e por isso de evitar.(Acrescente-se que, em 1993, em 9 meses, houve quase 10 subidas superiores a 100%, isto 6, 10% do mercado oficial). 11191-1192 PREGO MINIMO| PRECO MAXIMO] |PREGO MINIMO| PREGO MAXIMO] Quais as caracteristicas do periodo dos “saldos”? As que ja referimos: —Acentuada queda no nivel geral dos pregos. — Perfodo de consolidagao, criando suporte. — Pregos baratos, segundo uma aproximagao da Andlise Fundamental. 395 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Quando definimos a nossa politica de “Cavalgar o Bull Market” e indicamos algumas pistas para identificar o “Bull”, seguimos sempre uma metodologia de so avangar quando 0 movimento ascendente ja iniciou a sua locomo¢&o. O nosso problema consistia em procurar acompanhé-lo o mais cedo possivel, mas faziamo- -lo j4 com o comboio em movimento. Agora, com esta visdo estratégica, “de ir aos saldos”, 0 comboio ainda esta parado na estagdo... A forma de investir ja nao ha-de, pois, ser equivalente: — Ali, exigia-se rapidez; agora, permite-se a calma; — Acola, suscitava-se uma postura de investimento integral, quando néo de utilizagao de conta-margem; aqui, uma politica de compras sucessivas, com um empenhamento apenas parcial de recursos, procurando um baixo prego médio de aquisig&o, sera mais adequada. — Ali, a preocupacdo ia para eventual frustragao do lance ascencional; agora, a cautela vai para uma eventual descida, para um patamar ainda mais baixo. Apenas uma prevenc&o quanto a dita “época dos saldos”. Esta convira ser a de “fundo" de Bear Market, e nao um patamar qualquer de sustagao mas nao de exaust&o de descida. Temos em mente, e estamos a referir o momento em que “a esperanga deixou de existir’, como diz a Fortune; quando ‘it can go nowhere but up” ("); quando, 0 exercicio do ‘pensamento contrdrio” (*) nos diz que realmente nada pode descer mais. Trata-se de comprar ao mais baixo prego e isso nao é tarefa facil. DE RETER: — Pode-se seguir uma estratégia de compras, antes de encetada a recuperacao, se, apés uma queda de cotacées, estas se consolidam por periodo estdvel, estando baratos os precos, em perspectiva “fundamental”, isto 6, no presumivel fundo do “Bear Market”. — O investidor n4o dever4, porém, nessas épocas, seguir uma politica de “full investment”, pois 0 suposto “fundo” pode afundar ainda mais. (*) Vide local proprio. 396 ESTRATEGIA E TACTICA 13. A DIFICIL ARTE DE VENDER “A coisa mais importante do investimento, nao 6 a compra, mas saber quando vender’. Lanyi, “Confessions of a Stockbrocker”. “Existem essencialmente 3 razdes para abandonar uma posi¢ao: — a primeira 6 um “stop”; a segunda relaciona-se com a queda do mercado; a terceira resulta do preenchimento de um légico objectivo de lucro”. Joe Di Napolo, “Logic Profit Objectives”. “Se se perde uma oportunidade de compra, outras aparecerao; mas se se deixa fugir uma venda, pode-se perder dinheiro”. Colbrun Hardy, ‘Trader's Guide to Technical Analysis”. Vender acgdes nao impée aqueles exigentes requisitos pessoais, de cardcter, de técnica e de psicologia aplicada, que podemos encontrar em muitos vende- dores de andares, automdéveis em segunda mo e em ancestrais negociantes dos “souks”, locais onde regatear e negociar, se possivel histrionicamente, entra no dominio da cultura. Outros engenhos se requerem para as acgées, de outra indole, mas nao menos duros. O autor desde ja proclama que vé, neste dominio, o mais complexo compartimento da arte de transaccionar em accées. Como pressuposto ha a determinar que estratégia estamos a seguir — a mais simples que preconizamos, de acompanhar a Tendéncia, com énfase para 0 longo prazo, abstendo-nos de outras variantes? Ou aderir a alteragdes que pelo caminho fomos sugerindo? No primeiro caso, as coisas sdo mais simples, no segundo mais complexas. Vejamos entao: 397 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES a) O investidor segue o esquema basico de “seguir a Tendéncia”. Neste caso, apesar de o rumo do mercado ser ascendente, haverd titulos que declinam de cotag&o, ou nao produzem uma performance tao forte como a do mercado. Ocorrera, também, haver de enfrentar reacgdo secundaria, durante a qual o mercado em geral entre em queda, de rectificagdo, antes de retomar o seu rumo ascencional. A venda tomara lugar entao nas seguintes circunstancias: — Quando foi atingido o nivel marcado para o “Stop loss”, seja por percen- tagem, seja por quebra de média mével, seja como ultrapassagem descendente de uma linha de tendéncia, etc. — Se, seguindo um esquema da firmeza relativa (FR), 0 titulo apresenta uma mé prestagdo, por relagdo ao mercado, ou a um grupo de acgdes pelos quais 0 investidor optou, devendo-se a isso a ocorréncia da venda. Tratar-se-a, entao, mais de uma troca do que de uma venda, com um prego negligenciavel, de transacgao. Este tipo de atitude importa uma ades&o prévia aos principios de andlise téc- nica. Quem discordar, nao obedecerd a este sinal de venda. Mas é de boa técnica, em todas as circunstancias, em andlise técnica ou em andlise fundamental, preferir as acgdes que se revelem mais fortes, sendo um facto demonstrado empiricamente na N.Y.S.E. (que o autor também julga jé haver detectado em 5 anos de dados da BVL) que a “‘forga” tem tendéncia para se manter (*). Um aderente dos principios de Analise Fundamental, podera seguir idéntico comportamento de troca se, dentro do acervo de papéis, nos quais 0 investidor mantém interesse, aparece algum com melhores indicadores econdémico- -financeiros e perspectivas futuras. Efectuaré entao uma troca, vendendo um e comprando o mais promissor. — Na Reacgdo de queda, o movimento secundario referido por Dow, o inves- tidor nunca pode estar seguro de deparar antes com uma malevolente mudanga de Tendéncia fundamental, entrando em Bear Market. Em geral, a distingo nao é transcendente de fazer, mas dado que o autor preconiza, como pedra basilar da (*) Vide, “Inventario”. 398 ESTRATEGIA E TACTICA sua estratégia, o principio defensivo, entdo, nessas circunstancias, deve-se agir como se tivesse aparecido o “Urso”, largar pelo menos uma boa parte do papel, e procurar refligio em liquidez. b) O investidor também actua em “trading markets” Se o diagnéstico é correcto, e o mercado entrou em Tendéncia lateral, j4 vimos que as hipéteses de ganho diminuem fortemente, ao ponto de a nossa estratégia, baseada na Hipétese de Mercado Coerente, aconselhar uma saida do mercado. Porém, nestas circunstAncias, é possivel ganhar dinheiro, s6 que a postura ja nao pode ser a “de investimento”, tal como o definiamos (*), o agente tera que ser um ‘trader’, preparando-se para comprar e vender no curto ou curtissimo prazo. Ja falamos na situagao, nomeadamente no capitulo “Suporte e Resisténcia’, e aqui lembramos que o esquema de venda é de desenho simples: — 0 titulo deve ser vendido todas as vezes que se aproximar de uma linha de "resisténcia" (claro que negociar num mercado com Tendéncia lateral obriga, por outro lado, a dar ordens de compra de acgdes para zonas préximas da sua linha de "suporte", mas com 0 cuidado especial de se dever largar a posigao, ainda que com perda, se tal linha for rompida na descendente. — (Sao mais uma vez os defensores da estratégia da Carteira Segura que sugerem tal metodologia). c) Ha “traders” que actuam com objectivos de prego. Estes largam o papel, chova ou faga sol, ao prego pré-determinado. O autor nao esta contra, mas pensa ser bem dificil afinar um sistema, para 0 efeito, ainda que com boa dose de subjectividade. A Andlise Técnica depara-se com sistemas objectivos, destinados a determinar objectivos de prego. Podem ser simples e complexos, desde a regra do ‘tergo’, aos nuimeros Fibonacci e a onda Elliott. O leitor interessado encontrara na bibliografia muito por onde se entreter neste dominio, mas o autor assegura que ninguém, até agora, demonstrou, empiricamente, a validade de métodos que resultem, sistema- ticamente, com o minimo de precisao. (1) Ver “Investir ou Especular’. 399 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGGES Penso que, neste dominio, sera a sensibilidade ou intuig&o do jogador, ao analisar 0 estado do mercado e do titulo, que melhor determinara 0 prego tido como de objectivo de venda. E pode-se chegar a coisa simples como esta: — um ‘trader’ de minhas rela- gdes, que actua em varios mercados internacionais ha mais de 20 anos, com extremo sucesso, toma uma posigao desde que, para o periodo pré-determinado, preveja uma mais valia de 10%. Easy! d) Eo "profit taking"? Mesmo num mercado Bull, vimos que as acgdes sobem por escalées, atin- gindo picos, dos quais caem, para voltarem a ultrapassa-los algum tempo depois, até chegar o momento de viragem de Tendéncia. Um grande numero de investidores procura encontrar esses picos interme- didrios de subida, vender entao, para recomprar nos escaldes mais baixos, neste esquema de zig-zag que o percurso das cotagdes toma. E aqui que as coisas sao mais dificeis, e 6 neste campo que surgem também os esquemas da onda Elliott, etc. E bom que se saiba que grandes gestores, “traders” e operadores aderem teligiosamente ao principio de seguir a Tendéncia, mantendo o papel enquanto aquela se mantiver operativa, minimizando as buscas destes lucros intermédios. Estes até aproveitam muitas destas pausas na subida e quedas de correccao para continuarem a comprar, seguindo uma politica de aquisigdes a que se chama “averaging up”. (Exactamente o contrario da escabrosa ideia de ‘baixar o prego médio”, de que ja falamos atras). O autor ainda n&o conseguiu melhor do que isto: — Seguindo sempre a ten- déncia, podera, em casos de boas mais-valias, desfazer-se de parte do papel, segundo a ancestral atitude chamada “deixar algum do lado de ca” ou de ‘leave something for the next man”, como dizia Andrew Camegie. e) As noticias sao realmente negras. Se Hussein invade o Kuwait, se as taxas de juro sobem, se ha golpe de Estado na Unido Soviética, se os investidores estrangeiros, por isto ou por aquilo, aban- donam de chofre o mercado, 0 investidor vende tudo primeiro e pensa depois. 400

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