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tem mudado completamente o cariter da politica internacional, de modo que nem mais podemos adivinhar 0 que o futuro reserva para a Europa e para o mundo. No mundo modemo o papel da noticia tem assumido maior importdncia em comparagao com outras formas de conhecimento, a histdria, por exemplo. As mudangas nos jiltimos anos tém sido tio répidas e drasticas que o mundo moderno parece ter perdido sua perspectiva histérica, e parece que nés estamos vivendo dia a dia no que descrevi anteriormente como um “presente especioso”. Nessas circunstincias a historia parece ser lida ow escrita principalmente para nos capacitar, através da comparacao do presente com o passado, a entender 0 que esta acontecendo na nossa volta mais do que saber “o que realmente aconte ‘como os historiadores dizem. Dai Elmer Davis, num artigo recente no Saturday Review, anuncia como “leitura obrigatéria” para 1939 dois volumes: Mein Kampf de Hitler ¢ a Histéria da Guerra do Peloponeso de Tucidides (431 a.C.), Ele recomenda a histéria da Guerra Pelo- ponesa porque, como ele diz: “Tucidides nao foi apenas um analista brilhante do comportamento humano tanto individual como coletivo”, mas foi ao mesmotempo “um grande repérter™. Notamos também como caracteristica de nossos tempos ‘que uma vez que a noticia tende a assumiro caréter de literatura, como relatam os jornais americanos, assim a ficedio depois do jornal, a forma mais popular de literatura — tem assumido cada vez mais o cariter de noticia” As novelas de Emile Zola ‘oram essencialmente relatos ddas maneiras contempordneas na Franga assim como As Vinhas da Ira de Steinbeck tem sido descrito como relatério que fez época nos Estados Unidos a respeito do arrendamento de terras edivisto de lucros, Parece que a era éa era da noticia, um dos mais importantes eventos na civilizagao americana éo surgimento do repérter. » “Leltura Obrigatéria", Saturday Review of Literature. 14 de outubro 4 1939, ‘Veja Helen MacGill Hughes, News and the Human Interest University of Chicago Press, 1940). Story (Chicago 70 Noticia e poder da imprensa! Roses E. Pak © poder da imprensa é a influéncia que jornais exercem na formago de opiniao pblica mobilizando a comunidade para a agdo politica. E Sbvio que a imprensa tem sido por toda a parte um instrumento importante na formulagdo de progresso politico e tem desempenhado um papel importante no proceso politico de varias maneiras e em varios estigios. O processo politico, como aqui é concebido, & processo pelo qual uma sociedade politica age como no caso de guerra ‘com um inimigo externo, mas também inclui aqueles processos internos ¢ organicos ~ legislativo, administrativo e judicial eo fermento e discussdo que os acompanha através dos quais novas politicas, novas leis e enfim novas instituigdes passam a existir. Desse modo, pade-se dizer que 0 processo politico comeca cor ‘© surgimento de uma espécie de agitagao ou convulsio social para finalmente acabar em alguma modificagao dos costumes 165 novas leis erem sido decretadas, interpretadas e cumpridas por consideravel periodo de tempo. E na forma defeostumes] {que novas normas e novos direitos so incorporados ao ethos* da sociedade & qual eles pertencem. “Texto originalmente publicado no The American Journal of Sociology, 47(1), p. IeI1, Tradugio de Enio Frantz Qs gregos aplicavam o termo ethos para a soma de usos caracterisicos, idéias, padrdes ¢ cédigos pelos quais um grupo era diferenciado ¢ individualizado em earéter de outros grupos. “Erica” eram as coisas que pertenciam ao evhos, e, prtanto, as coisas que eram padrio de direto. OS Tomanos ustvam "mores" para costumes no sentido mais ampfo e rico da palavra, incluindo a nog8o que castumes serviam ao bem estar ¢ tinhar sanglo tradicional e mistica de modo que eles eram propriamente autoritérios te sacrados, E um fato muito surpreendente que as nagBes modernas fenham 7 esse contexto ¢ como um incidente do processo politico que a opinido publica funciona. Contudo, a opiniao que aqui nos interessa nao ¢ meramente aquela que aparece nas paginas editoriais. E sim a opinidio que emerge das discussdes de individuos tentando formulas mEIOTaTar sams Taerpeaptes Tas ‘Tepollte com ou sovajuda dem comertarta decavorial. ——Aopiniio piblica, em sentido limitado, éaopiniao politica ‘aopinidio que surge quando, no caso de alguma emergéncia, alguma ago politica esta em progresso. E mais uma opiniao em proceso de constituigo, antes que tenha sido explorada e, por assim dizer, estabelecida em forma de dogma, doutrina ou lei. A opiniao pablica, uma vez fixa e codificada desse modo, é uma forga estabilizadora e conservadora mais do que uma forga inovadora. © papel da imprensa nesse caso obviamente nao & meramente de orientar 0 piblico a respeito das questes envolvidas, mas de criar um desejo coletivo e um poder politico o qual, & medida que mobiliza a comunidade, tende a finalizar a dliscussao, Isso € 0 que constitui o poder de imprensa ‘Se perguntarmos agora sobre as maiores fontes desse poder, elas sao obviamente muitas € variadas; mas podem ser reduzidas as seguintes: 1. Queixas ~ Politicos invariavelmente so conhecidos por explorar queixas reconhecidas, piblicas e privadas, das comunidades a que eles servem. Uma queixa pitblica 6. de fato, do ponto de vista da politica pratica, um recurso politico, Tenho conhecido politicos que criaram um escén- dalo piblico sobre a questio que tratava da possibilidade perdido estas palavras e as sugestbes signifisativas inerentes a elas. A lingua inglesa no possui nenhum substantivo derivado de “mores” € nenhum equivalente, O frances maurs é trivial comparado com “mores”. O alemto site representa “mores”, porém muito imperfeitamente. Os povos modernos \ém feito da moral e moralidade um dominis separado, do lado da religizo, filosofiae politica, Naquee sentido a moral é uma categoria real eimpossivel [Nao possi eaistnca endo pode te. Apalavia “meal” significa que perience ‘aos mores, costumes, Portanto,acategoria da moral nunca pode se definida sem uma feferéncia a algo fora de si propria. Ct. William Graham Sumner, Folkavays. New York: Ginn & Co,, 1907, pp 36-37, 2 de um candidato A ou B ter 0 direito de explorar, em defesa de sua candidatura, uma queixa pablica particular- mente promissora. Eu poderia acrescentar que 0 caso bvio e excepeional de um politico explorando uma queixa para criar poder politico € de Herr Hitler ede povo alemic, ‘As queixas do povo alemdo apés a 1* Guerra Mundial sem diivida foram intensificadas ¢ exacerbadas pelo fracasso dos famosos “Quatorze Pontos” ¢ as boas intengdes de um presidente americano idealista para alcangar 0 que esses pontos pareciam prometer. Essa desilusio do povo alemio contribuiu direta e indiretamente para criar na Alemanha uma solidariedade politica e um poder politico que o mundo jamais conhecera antes. AS fontes do poder politico sao relativamente dbvias, mas os trabalhos da mente coletiva ainda sao obscuros. 2. Noticias —Um redator de noticias e sua equipe, perspicazes a respeito da naturezae das queixas existentes, uma vez que as queixas fazem a noticia ea historia faz a opiniao. 3. Politica Editorial - Uma politica editorial eum redator de opinio que é capaz.de racionalizar as queixas etorné- Jas finalmente o personagem de uma causa. O negro nos Estados Unidos é um caso em questio. O negro esta uunido por uma queixa duradoura, e, como a vida politica dlo povo negro, se nfo também a cultural, se organizou ao redor dessa queixa, ela assumiu a forma de uma causa, E um importante evento na vida de uma minoria racial ou nacional quando ela é capaz de identificar suas reivindi- cages com uma causa, Assim agindo ela se faz protago- nista de todas as outras minorias que atribuem suas queixas a mesma fonte ou esto buscando, a base do mesmo principio, remediar as injirias que sofrem ou pensam que sofrem, Outras minorias, como os canadenses franceses, fizeram de sua queixa a fonte de um partido politico relativamente estavel, mas essas queixas ainda nfo assumiram o carter de uma causa em cuja base os canadenses franceses possam ou estejam dispostos a apelar para o mundo fora do Dominio. B 4, Cireulag&o— Um jomal, para se tornar uma fonte de poder politico, precisa circular numa sociedade estivel e bem organizada, onde a opinito politica é apoiada pelos partidos que sao disciplinados ¢ respondem a lideranga, lum jornal precisa exercer uma influéncia consideravel ‘mesmo que sua circulagdo sejalimitada a uma elite politica. Mas numa democracia em que iodos léem, e especialmente num periodo de répida mudanga e resolugao, quando a opiniao politica e o poder politico estaoem jogo, éa noticia mais do que 0 editorial que faz a opinio, Esta, em resumo, € minha tese, O que direi mais tarde tem a mera intengdo de elucidar e tornar explicito 0 que implicitamente tenho dito Em primeiro lugar, € obvio agora, apds tudo o que foi escrito nos titimos anos, que a opiniéo piblica é uma coisa mais complicada do que os analistas, que tentaram dissecd-la e medi- la, imaginavam que fosse. Por exemplo, ha sempre um elemento de novidade e de noticia em toda a opiniao publica, Alguém esta “entando fazer algo sobre alguma coisa, ¢ a possibilidade que alguma coisa possa ser feita, embora se reconhega geralmente que alguma coisa deva ser feita, é algo que perturba al setores do agregado social. Em toda a sociedade ¢ em toda tuagao sempre existem interesses adquiridos os quais provavel- mente véem com alarme qualquer mudanga de qualquer espécie. Alguma coisa precisa ser feita, mas o qué? As noticias que anunciam mudangas ou meramente que indicam que as mudangas sio ameagadoras inevitavelmente comegam uma conversa, levantam questdes, fazendo a noticia ¢ incidentalmente a politica Um outro elemento na opiniio piblica é o sentimento publico. A opinidio pode ser meramente académica, isto €, pode estar interessada principalmente na forma ou exatidio de uma orago mais do que nos seus efeitcs. Mas a opiniao piblica nunca € meramente académica. E sempre priticn e sempre politica, sempre relativa a uma relagio especifica, e a agao que € imediata e pendente. Dai, a opinido publica é sempre carregada mais ou menos do sentimento, E este fato que levou uns 4 © Reitor Lowell’, de Harvard, em seu tratado sobre a Opinio Piblica e Governo Popular, a chamar a atengao para o fato de que a opiniao piblica possui mais do que uma dimensao, Ela ‘no tem apenas extensfo territorial, mas como uma tempestade ou simples mudanga de tempo, ela tem diregdo e intensidade. Significa, por um lado, que uma minoria ou um individuo {que tem convicglio seré mais eficaz.em determinar uma agdo politica do que uma maioria meramente interessada ou levada pela ago de um incidente passageiro ou um orador arrebatador; isto é, entusiasmados, mas no convencidos. Essa é a razio por que seitas politicas ¢ os chamados especialmente quando a disciplina do partido nao funciona ¢ a opiniao pablica esté um tanto apatica, tém exercido tamanha influéncia na legislagdo. Por outro lado, quando grandes questies constitucionais surgem — questdes que ameagam a existéncia de ordem social estabelecida ou, no caso da Guerra Civil, da nagao -, a influéncia de seitas politicas ou grupos de pressio, com sua insisténcia em resolver questdes locais ou menores, diminui. Em termos gerais, é quando o piblico est do ¢. opiniio piiblica esta em baixa que a legislagao de reformas {tem sido escrita em livros — estatutos, E notorio que 0s grupos ‘de pressao procuram manter as medidas que eles promovem “fora da politica”, como eles dizem, ou mesmo fora das noticias, Por outro lado, o poder da imprensa, como aqui é definido, invariavelmente chega ao Apice de sua influéncia em questoes, > Um homem que mantém sus fé com tenacidade conta por virios homens que rmantém a fé fracamente, porque ele & mais agressivo e dai constrange & samedronta os outros a entrarem em aparente aeordo com ele, ou pelo menos no siléncio © inagao, Isso tale seja verdade especialmente para questbes rmorais. F provavel que uma grande parte do codigo moral aceito seja mantida, pela seriedade de uma minoria, enquanto mais da metade da comunidade & indiferente ou ndo convencida. Em resumo, a opinio piblicando éestrtamente ‘opinito da maioria numérica, e nenhuma forma de sua expressto mede a simples maioria, pois as visdes individuais sfo sempre, até certo ponto, pesadasetamibém contadas. Cf, Lawrence Lowell, Publie Opinion and Popular Government (Longmans, Green & Co., 1913) 75 politicas em tempo de crise, comona Revolugdo de 1776 ou a Guerra Civil. Nesta ocasiio, grandes redatores, homens como Greeley, do New York Tribune, e Raymond, do New York Times, que sabiam interpretar eventos i luz das grandes questies envolvidas, exerceram influéneia daminante na opiniao publica ena politica piblica ‘Tem sido reconhecido por muito tempo, embora nao parega ‘Sbvio nas condigdes em que ela surge, que ndo existe opiniao pablica na qual as massas populares participam, exceto numa sociedade livre, Nao pode haver opiniao publica a respeito de qualquer ago politica a nao ser que as pessoas, que constituem 6 piblico, saibam, pelo menos numa forma geral, o que esta acontecendo. E claro que sempre ha maneiras pelas quais as pessoas podem saber indiretamente 0 que esté acontecendo, até mesmo sob rigorosa censura, porém, se o conhecimento ular apenas de maneira indireta ou tomar formas de lendas €e mitos, que surgem e circulam amplamente na auséncia de um conhecimento mais direto e preciso, entio ndo pode haver nada que corresponda a opiniao publicacomo a conhecemos. Pois a opiniao piblica, que funciona como uma mente numa sociedade livre, € 0 produto da discussao. Por sua vez, a discussao surge de diferentes interpretagdes que diferentes individuos, diferentes partidos politicos e grupos d4o aos eventos. Isto, porém, ovamente supde a existéncia em qualquer piblico de um entendimento geral ¢ uma comunicade de interesse entre todas as partes, o suficiente para tornar a discussio possivel. ‘Sempre que, em qualquer sociedade politica, a diversidade de interesses e pontos de vista na interpretagio das noticias tomar-se tio intensa a ponto de inviabilizar a discussio, entio no haverd mais nenhuma opiniao paiblica, pelo menos nenhuma opiniio publica eficaz, Nesse ease, nada a ndo ser a forga, de alguma forma ou de outra, ¢ capaz de manter a ordem suficiente para permitir que os processos soviais se coneretizem, sendio rnormalmente, pelo menos necessariamente, Sob tais circuns- tncias é em vio falar de liberdade de expressio ou do papel da opiniao pibblica, No nosso mundo modemo, a opinide piblica desempenha, ou parece desempenhar, um papel tio importante 76 no ajuste das disputas e controvérsias, de outras formas ndo justificdveis, nés nao temos em parte alguma, nos parece, alean- ado uma regra de razo, Por toda parte precisamos ceder ou Tutar, €0 tipo de governo lei que temos sao sempre finalmente apoiados pela forga. De fato, precisamos reconhecer, me parece, que a forma mais elementar de acdo politica é a guerra, © a discussio, quando acontece, é apenas um substituto para a guerra, Na realidade, as eleigdes através das quais o poder soberano em estados democraticos modernos é transferido de uma classe ou partido para outro so meramente um substituto mais ou menos completo para a guerra civil. Essa é a raztio porque eleigées e transferéncia de poder politico sio to fre- Edward A. Ross, Social control: a survey ofthe foundations of order. The Citizen’s Library of Economics, Politics and Sociology, 1901 “Edward A, Ross (Seventy years ofit, Nova York, Arno Press, 1977 [1936)) refere-seescolha do volume de Lester Ward Dynami sociology « admiragao ue semtia por seu autor. 83

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