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eee ee -\94 ro i eis | Niveis e tendéncias da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano em Mogambique: 1996-2006 Rosimina Samusser Ali Trabalho para obtengdo do grau de Licenciatura em Economia Faculdade de Economia Universidade Eduardo Mondlane Maio de 2008 Declaragao Declaro que este trabalho é da minha autoria e resulta da minha investigagio. Esta é a primeira vez que 0 submeto para obter um grau académico numa instituigao educacional. we Jammer Mi Rosimina Samusser Ali Maputo, aos AS_de___ Maver de 2008 Aprovacio do Jari Este trabalho foi aprovado no dia_U_ de To de 2008 por nés, membros do juri examinador da Universidade Eduardo Mondlane. O Presidente da mesa de Jiri SPB WED se Dedicatéria Dedico este trabalho aos meus pais, Samusser Ali Hassane ¢ Zubaida Ussene Ibrahimo, aos meus inmios, Samy, Hafizal e Edma, pelo amor e incentivo que sempre me proporcionaram, aos meus amigos, colegas e todos aqueles que aclamaram, aclamam e iro sempre aclamar por mim. A todos eles, pela motivagdo transmitida para o aleance do presente trabalho, que é a concretizagdo de uma das ctapas mais desejadas da minha vida, vai o meu “muito obrigado” por todo apoio prestado! “Pode haver diferenga nas opinides sobre o significado de uma distribuigao da riqueza muito desigual, mas niJo ha divida sobre a importincia de se saber se a distribuigdo esta se tomando mais ‘ou menos desigual”. Max O. Lorenz, 1905 “Vivemos em muitos paises em um pais apenas, em termos de riqueza e de bem-estar. Acostumamo-nos com a coexisténcia de poucos muito ricos e de muitos muito pobres.” Rudi Rocha e André Urani A economia cresce e se desenvolve melhor quando a maior parte da populago possui as ferramentas para participar e beneficiar-se do crescimento. James D. Wolfensohn, 2004 indice. indice de Figuras.. indice de Tabelas. Agradecimentos. Lista de Abreviaturas. Lista de Simbolos Resumo, Introdugao 1.1. Motivaglo da Escolha do Tema 1.2. Problema de Estudo..... 1.3, Objectivos da Investigagao.. 1.4, Hipéteses da Investigagio. 1.3, Metodologia ¢ Fontes de Dados. 1.6. Limitagies do Estudo.... Revisio de Literatura... 1. Literatura te6rita wns 2.2. Literatura metodologica € empitiea...nnw 2.3. Contextualizagdo actual e avaliagdo da desigualdade em Mogambique Niveis da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano em Mocambique. 3.1. Concentrago do PIB per capita em Mogambique nos anos: 1996, 2002 e 2006, Concentragdio da populagio, na década: 1996-2006... Concentragzio do PIB em volume, na década: 1996-2006... Concentragao do Indice de Desenvolvimento Humano em Mogambique: |996- Tendéncias da desigualdade econdmica e do desenvolvimento humano em Mocambique. 4.1. Evolugao da desigualdade econémica em Mogambique na década: 1996-2006. 4.2. Evolugdo da desigualdade do desenvolvimento humano, na década 1996-2006 Discussito dos resultados da pesquisa. 5.1. Comparagiio dos resultados da pesquisa com os da literatura: 1996-2002 5.2. Comparagio entre a desigualdade econdmica e do desenvolvimento humano em Mogambique 5.3. Comparagio das desigualdades entre Mocambique ¢ 0s Paises de Desenvolvimento Hurmano Ba 5.3.1. Comparagao da desigualdade econdmica entre Mogambique e os LHOCs - 2005 5.3.2. Comparagio da desigualdade do desenvolvimento humano entre Moganibique e 0s £4DCs = 2008 Conclusies ¢ Consideragdes Finais Sedna Referéncias bibliogr&fICAS uw indice de Figuras FiGuka I: CURVAS Dt LORENZ COM DIFERENTES GRAUS DE CONCENTRAG AG FIGUKA 2: NIVEIS DE DESIGUALDADE ECONOMICA POR DISTRITO (GENERALY ENROPY (G FiGuKas 3 £4; CURVAS DE LORENZ DO IAF 1996-97 £ IAF 2002-03 EM MOcAMBIQUE FicURa 5: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAPITA EM MUCAMBIQUE, 1996 FiGURA 6: CURVA DE LORENZ, DO PIB PER CAPIT® NO NORTE DE MOCAMBIQUE, 1996... FIGURA 7: CURVA DE LORENZ, DO PIB PER CAPITA NO CENTRO DE MOGAMBIQUE, 1996 Fluka 8: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAPITA NO SUL-DE MOAMBIQUE, 1996. FiGURA 9: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAMITA EM MOCAMBIQUE, 2002 FIGURA 10: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAPITA NO NORTE DE MOGAMBIQUE, 2002. Ficiua 11: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAPITA NO CENTRO DE MOCAMBIOUE. 2002 Figua 12: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAPITA NO SUL DE MoGAMbIQUE, 2002 FigUka 13: CURVA DE LORENZ DO PIB PER CAPITA EM MOVAMBIQUE, 2006 Ficuea 14: CURVA DE LORENZ DO PIB PR CaPrTA NO NORTE D FIGUKA 15: CURVA OF LORENZ DO PIB PEK CAPITA NO CENTRO DE MOGAMBIQUE, 2006 FiGURA 16: CURVA DE LORENZ. DO PIB PER CaPrTA NO SUL DE MOCAMBIQUE. 2006. FIGURA 17: CURVA DE LORENZ DA POPULACAO EM MOY AMBIQUE, 1996 JURA 18: CURVA DE LORENZ. DA POPULACAO KO NORTE DE MOGAMBIQUE, 1996, FIGURA 19: CURVA DE LORENZ DA POPULACAO NO CENTRO DE MOGAMBIQUE, 1996 FIGURA 20: CURVA DE LORENZ DA POPLLACAO NO SUL. DE MOCAMBIQUE, 1996.. FIGURA 21: CURVA DE LORE LAGAO EM MogAMBIQUE, 2006 FIGURA 22: CURVA DE LORENZ DA POPULACAO NO NORTE DE MOCAMBIQUE. 2006. FIGURA 23: CURVA DE LORENZ-DA POPULACAO NO CENTRO DE MOCAMBIQUE, 2006... FIGURA 24: CURVA DE LORENZ.DA POPULAGAO KO SUL DE MocaMBIQUE, 2006 FIOURA 25: CURVA DE LORENZ DO PIB EM VOLUME EM MOCAMBIQUE, 1996 FIGURA 26: CURVA DE LORENZ DO PIB EM VOLUME NO NORTE DE MOGAMBIQUE, 1996, FloUKA 27: CURVA DE LORENZ. D0 PIB EM VOLUME NO CENTRO DE MOC AMBIQUE, 1996, FIGURA 28: CURVA DE LORENZ DU PIB EM VOLUME NO SUL DE MOGAMBIQUE, 1996 FIGURA 29: CURVA DE LORENZ DO PIB EM VOLUME EM MOgAMBIQUE, 2006 uk 30: CURVA DE LORENZ DO PIB EM VOLUME NO NORTE DE MOCAMBIQUE: 2006. FIGURA 31: CURVA DE LORENZ DO PIB EM VOLUME NO CENTRO DE MOCAMBIQUE. 2006, FIGURA 32: CHIRVA DE LORENZ DO PIB EM VOLUME NO SUL DE MOCAMBIQUE, 2006 FIGUIKA 33: CURVA DE LORENZ DO IDH EM MocamtiQu, 1996 FIGURA 34: CURVA DE LORENZ. DO IDH NO NORTE DE MOGAMBIQUE, 1996. FIGURA 35: CURVA DE LORENZ. DO IDH NO CENTRO DE MOCAMBIQUE, 1996 ... FIGURA 36: CURVA DE LORENZ. BO IDH NO SUL. DE MOCaMBIQUE, 1996. FIGURA 37: CURVA DE LOREN7.DO [DH EM MOcAMBIQUE, 2006 FIGURA 38: CURVA DE LORENZ Do [DH No NoRTE DE MogaMBiQUE. 2006. CURVA DE LORENZ, DO IDH No CENTRO DE MOGAMBIOUE. 2006. CCURVA DE LORENZ DO IDH NO SUI. DE MOCAMBIQUE, 2006, FIGURA 4: RELACAO ENTRE CG-PIB PER CAPITA E CG-IDH Nos ANOS 1996 E 2006, Ficuita 42: RELACAO ENTRE CG/PIB PER CAPITA F CG/IDH EM MOCAMBIQUE, 1996, Fina 43: RELACAO ENTRE CG/PIB Pek CAPITA E CG/DH EM Mucantigue, 2006, FicUka 4: CORRELAGAO ENTRE CG-PIB ER CAPITA E CG-IDH EM MocaMtiaus, 1996 £2006, Fiouka 45: CURVA DE LORENZ Do PIB PER CAPITA EM MOgAMtBiQue, 2005, Flicka 46: CURVA DE: LOREN7, Do PIB PER CAPITA NOS LDCS, 2005 Fic 47; CURVA DY: LORENZ DO IDH EM EM MOGAMEIQUE, 2005, Ficuka 48: CURVA DE LORENZ 0 [DH NOs LHDCS, 2008. indice de Tabelas QUADRU T: MUDANGAS NA DESIGUALDADE ECONGMICA POR PROVINCIA E REGIAD, 1996.97 F 2002-03, QUADRO 2: CONCENTRACAO DO PIB PER CAPITA EM MO AMBIQUE, 1996 QuaDRU 3: CONCENTRAGAO DU PIB PER CAPITA EM MOCAMBIQUE, POR REGIAD, 1996, QUADRO 4: CONCENTRAGAO DO PIB PER CAPITA EM Mog aMuiQue, 2002 QuADKO 5: CONCENTRAGAO DO PIB PER CAPITA EM MOCAMBIQUE, POR REGIAO, 2002 QUADRO 6: CONCENTRAGAO DO PIB PER CAPITA EM Mog AtaBIQUE, 2006, QUADRU 7; CONCENTRACAO DO PIB PER CAPITA EM MOC AMBIQUE, POR REGIAO, 2006 QuaDRO 8: CUNCENTRAGAG DA FOPULAGAD EM MOCAMBIQUE, 1996. QUADRO 9: CONCENTRAGAO DA POULAGAO EM MOC AMBIQUE, POR REGIAD, 1996 ‘QUADRO 10: CONCENTRAGAO DA POPULACAO EM MOGAMBIQUE, 2006 QUADKO I: CONCENTRAGAO DA POPULACAO EM MOGAMBIQUE, POR REGIAO, 2006 ‘QUADRO 12: CONCENTRACAO 00 PIB EM VOLUME EM MOGAMBIQUE, 1996... ‘QuaDRO 13: CONCENTRACAO DO PIB EM VOLUME EM MOCAMBIQUE, POR REGIAO, 1996 ‘QUADRU 14: CONCENTRACAO DO PIB EM VOLUME EM MO¢AMBIQUE, 2006 QUADKO 15: CONCENTRAGAG DO PIB EM VOLUME EM MOCAMBIQUE, POR REGIAO, 2006 ‘QUADRO 16: CONCENTRAGAG DO IDE EM MOCAMBIQUE, ‘QUADRU 17: CONCENTRACAO DO IDH EM MOCAMBIQUE, POR REGIOES, 1996, ‘QUADRO 18: CONCENTRACAO DO IDH EM MOCAMIIQUE, 2006. ‘QuADRO 19: CONCENTRACAD DO IDH EM MOCAMBIQUE, A NIVEL REGIONAL. 2006, QUADRO 20: EFEITO DA CONCENTRAGAG DA POPULAGAU NA DESIGUALDADE ECUNOMICA, ‘QUADRO 2: EFEITO DA CONCENTRACAG DO PIB EM VOLUME NA DESIGUALDADE ECONOMICA. (QUADRO 22: ESTIMATIVAS DO CG-PIB PER CAPITA 8 DO CG-IDH EM MOcAMBIQUE: 1996-2006 QUADRO 23: ESTIMATIVAS REGIONAIS DO CG-PIBICAPITA E CG-IDH EM MocaMBnQUE, 1996 & 2006, (QUADRO 24: EFEITO DA DESIGUALDADE ECONOMICA NA DESIGUALDADE DO DESENVOLYIMENTO HUMANO. ‘QUADRO 25: CONCENTRAGAG DO PIB PER CAPITA EM MogAMBIQUE E NOS LHDCS, 2005... ‘QuaDKO 26: INDICES DE CONCENTRAGAG DO IDH EM MocAMBIQUE E Nos LHDCS, 2005 Agradecimentos Em qualquer iniciativa que alguém se propde, sempre langa mio da ajuda de muitas pessoas ¢ servigos, a maioria dos quais fica no anonimato. De todo modo gostaria de agradecer: Ao Professor Doutor Anténio Francisco, supervisor, pela motivagio, apoio e presteza, Ao Ministério de Planificagtio e Desenvolvimento e ao Instituto Nacional de Estatistica por me terem facultado dados relativos a consecugo desta dissertagao. Aos engenheiros Macia e Magaia, pela motivagao. E evidente que todos os erros ¢ imprecisdes existentes so responsabilidade minha, por acco ou omissiio. A todos que contribuiram para o presente trabalho com entrevistas, informagdes, disponibilizagao de material e outras formas de apoio, minha eterna gratidao, Lista de Abreviaturas IAF ~ Inquérito aos Agregados Familiares IDH ~ indice de Desenvolvimento Humano INE - Instituto Nacional de Estatistica LHDCs ~ Low Human Development Countries (Paises de Desenvolvimento Humano Baixo) PIB — Produto Interno Bruto PNUD — Programa das Nagdes Unidas para o Desenvolvimento RDH ~ Relatério de Desenvolvimento Humano Lista de Simbolos C— Coeficiente de especializagao CG - Coeficiente de Gini e~ Elasticidade F ~ Ponto de igual partitha (Coeficiente F) G- indice de Gini S ~ indice de Schutz Resumo Este trabalho analisa os niveis ¢ as tendéncias da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique. a nivel nacional e das grandes regides do pais (Norte, Centro e Sul). Os estudos até aqui realizados (Nhate ¢ Smiler, 2002 ¢ James et al., 2005) sobre a desigualdade: eeondmica em Mogambique, recorreram aos dades do IAF 1996/97 e IAF 2002/03, baseados no consumo nacional. Neste trabalho, procurou-se explorar outros dados. nomeadamente © PIB per capita ¢ o IDH. As estimativas dos niveis da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano, como metodologia, basearam-se nas medidas de concentragdo, nomeadamente os indices de concentrayao © a curva de Lorenz, ¢ a teoria da mensurago das elasticidades. Como resultados pode-se ver que: i) entre os anos 1996 e 2002, a desigualdade econémica registou, a nivel nacional, uma redugio de 35,4% para 30.1%. Entre os anos 1996 e 2006,"a desigualdade econdmies registou, a nivel nacional, uma redugio de 35,4% para 30%. A nivel mais desagregado (a nivel regional, neste caso), a desigualdade econémica aumentou em todas as regides (Norte, Centro e Sul) nos periodos: 1996-2002 e 1996-2006; no periodo 1996-2006, houve uma redugdo da desigualdade do IDH. A nivel nacional, « desigualdade do IDH caiu de 19,6% para 10,4%. Em termos regionais, a desigualdade do IDH, diminuiu em todas regides (Norte, Centro e Sul); em 1996 ¢ em 2006, verificou-se uma forte correlugdo entre « desigualdade da renda per capita ¢ a desigualdade do IDH em Mogambique; A clasticidade da desigualdade do desenvolvimento humano (tendo como variivel explicativa a desigualdade econémica) foi rigida tanto a nivel nacional como regional Isto significa que a uma variagao de 1% na desigualdade econémica, a desigualdade do desenvolvimento humano registou uma variago inferior a 1%. v) Em 2008, a distribuigdo do PIB per capita € do IDH foi muito mais concentrada em Mogambique que nos Paises de Desenvolvimento Humano Baixo. Com esta situagdo de heterogeneidade, programas de combate a desigualdade econdmmica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique que queiram maximizar a utilidade dos recursos, devem tomar como base de direccionamento as estimativas mais desagregadas. 1. Introducado As desigualdades econdmicas, sociais e do desenvolvimento humano em Mogambique tém sido tema de preocupag’o de diversas organizagdes e investigadores. O conceito de desigualdade subentende uma distribuigao nao uniforme, ou proporcional repartida pelos membros da sociedade, de oportunidades, recursos, rendimentos, consumo, salirios, acesso a servigos de saiide ou educagio, © outros servigos bisicos. Mais importante do que a questio da maior ou menor igualdade na distribuigdo, a razio por que @ questio da desigualdade capta tanta atengao ¢ a ideia de injustiga a que a concentragao de recursos ¢ oportunidades esté associada. Ou seja, quando se fala de injustiga geralmente significa que algo ndo ‘acontece por razdes naturais ou mesmo divinas. A injustiga pode ser contraposta a justica, 0 que implica que a mudanga de certas condigdes pode melhorar o estado e condigées de vida. Porém, quando se afirma que a desigualdade € grande ou pequena, sera que todas as pessoas tém a mesma nogao da sua dimensio? Qual & de facto a dimensio da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano em Mogambique? Como € que tem evoluido ao longo do tempo? Sem ir muito longe na histéria, ser que a desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano aumentou, diminuiu ou esté igual, por exemplo, desde 0 inicio da década de 1990, altura em que Mogambique passou a viver em paz? Seri que em Mogambique, a distribuigio do IDH esteve correlacionada com a do PIB per capita, na década 1996-2006? presente trabalho aborda a questo dos niveis ¢ tendéncias da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique, na iiltima década, ou mais precisamente no periodo 1996-2006. A razio porque a pesquisa se circunscreve unicamente & medigio dos niveis ¢ tendéncias é que contrariamente, por exemplo as medidas de pobreza e de crescimento econémico, no caso da desigualdade sio muito poucos os indicadores disponiveis. Esta escassez de indicadores restringe a exactidio e avaliagdo precisa das expressdes de desigualdade. Grande parte das anélises disponiveis recorrem a descrigdes narrativas ¢ qualitativas de manifestagdes de desigualdade, conferindo neste caso a desigualdade uma dimensio mais abstracta que conereta, Em termos abstractos, a desigualdade tem um significado limitado e quando se tenta dar um significado concreto a desigualdade, verifica-se a sua natureza multi-dimensional. Na andlise da desigualdade deve-se reconhecer a sua natureza multi-dimensional. Este trabalho nao se destina a debater as injustigas ou mesmo as causas e determinantes das desigualdades sécio-econémicas em Mocambique. A razio desta op¢o é que a partir da revisto da literatura se entendeu ser oportuno util analisar e explorar primeiro os dados disponiveis, relativamente ao que é possivel extrair deles sobre os niveis ¢ as tendéncias da desigualdade. Por limitagdes de tempo ¢ de recursos, o estudo restringe-se por isso A investigag#io de algumas das varidveis do Desenvolvimento Humano (IDH) em Mogambique, nomeadamente a variavel econdmica (através do PIB per capita) ¢ 0 préprio IDH. Este trabalho € constituido de seis capitulos. O primeiro apresenta um breve panorama da desigualdade econdémica e do desenvolvimento humano em Mogambique, com vista a enquadrar as questdes a serem discutidas nos capitulos seguintes. No segundo, faz-se uma revisto da literatura, onde apresenta-se a literatura tedrica (mencionando algumas das abordagens teéricas da desigualdade), metodolégica (deserevendo sucintamente como sio tratados os dados e os procedimentos necessarios para tabuli-los ¢ analisi-los) e empirica para 0 caso de Mogambique (contextualizando ¢ destacando os estudos realizados sobre Mogambique). O terceiro capitulo presenta os niveis da concentragdo das variveis econdmicas ¢ sociais que permitem a anélise das tendéncias da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique, no quarto capitulo, Em seguida, no quinto capitulo discutem-se os resultados obtidos, comparando os resultados da presente pesquisa com a literatura sobre Mogambique, a desigualdade econémica e a desigualdade do desenvolvimento humano em Magambique, na década; 1996-2006, e os niveis das desigualdades entre Mogambique ¢ os Paises de Desenvolvimento Humano Baixo. Finalmente, no sexto capitulo apresentam-se as conclusdes e consideragdes fais do presente trabalho. 1.1. Motivagao da Escolha do Tema Um dos principais factores que esteve na origem da escolha do tema em questi, foi o facto de ter ouvido, durante as aulas, um docente comentar: “fala-se e observa-se que o PIB esté a crescer na economia; sem diivida o erescimento econémico é uma prioridade légica no caso de Mogambique no mundo subdesenvolvido em geral. Mas a questio que se coloca €: como & sentido esse crescimento na economia ‘como um todo"? Como se repercute? Como é distribuido o rendimento entre as familias mogambicanas?” Face ao impacto que as desigualdades econémicas ¢ do desenvolvimento humano tém no bem-estar € dadas as disparidades inter e intra-regionais, assim como os constrangimentos econdmicos 2 enfrentados pela economia mogambicana sobretudo a camada de mais baixa renda, senti-me motivada a estudar melhor os niveis e tendéncias da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique. A medida que comecei a tentar perceber a situagio da desigualdade em Mogambique, confrontei-me com uma situagio surpreendente. Na literatura disponivel, fala-se muito de desigualdades mas as suas evidencias e medidas disponiveis so muito poucas. 1.2, Problema de Estudo Nos iltimos dez anos foram realizados varios estudos sobre condigdes de vida e pobreza em Mogambique nomeadamente os Inquéritos aos Agregados Familiares Sobre Condigdes de Vida (IAF 1996/97 IAF 2002/03). Estes inquéritos recolheram muita informago sobre o nivel de renda dos agregados familiares ¢ outro tipo de informagao uitil para a andlise da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique. Por outro lado, os Recenseamentos Gerais da Populagao € Habitagdo realizados pelo INE, de dez em dez anos, para além da contagem da populagio, recolhem outro tipo de informagdes sobre as condigdes de vida que podem ser usadas para a anslise da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano em Mogambique. Nhate € Smiler (2002) sto, dos poucos autores, os que exploraram os dados do IAF 96/97, relativamente & medigto das desigualdades. Calcularam o indice de Theil (general entropy), que sugere que todas as capitais provinciais de Mogambique, apresentam um indice de desigualdade no consumo acima de 46%. Mais recentemente, James ct al. (2005) explorou os dados do IAF 2002/03 e comparou com os dados do IAF 96/97, calculando alguns indices de concentragao, nomeadamente o indice de Gini ¢ 0 indice de Theil. De acordo com James et al. (2005), a desigualdade no consumo nacional, aumentou de 40% para 42%, entre os dois inquéritos considerados. Alguns dos Relatérios Globais de Desenvolvimento Humano do PNUD, apresentam estimativas da desigualdade da renda per capita. O Relatério de Desenvolvimento Humano de 2007/08, baseado no indice de Gini, indica que a desigualdade da renda per capita em Mogambique ¢ de 47,3%. Contudo, existe uma vasta gama de dados estatisticos sobre condigdes econdmicas que até aqui nunea foram analisados, na perspectiva da desigualdade. Os dados relatives a0 PIB ¢ a0 IDH fornecidos pelo INE que esto desagregados por grandes regides ¢ provincias. Estes dados tém a vantagem de se disponibilizarem em séries anuais, 0 que facilita a sua andlise na perspectiva da desigualdade. Embora a literatura qualitativa ¢ as percepgdes das pessoas, manifestadas nos jomais ou em debates, sugiram que as desigualdades econémicas esto aumentando rapidamente, em contra partida documentos como o PARPA II por exemplo, indicam uma imagem diferente, Baseado no estudo de James et al. (2005), 0 PARPA Il considera que a evolugo da desigualdade econémica no periodo 1996-2002 aumentou ligeiramente (de acordo com o indice de Gini de cerca de 40% para 42%) e que este aumento foi estatisticamente insignificante'. Uma forma de esclarecer as diividas ¢ discrepancias observadas nos estudos ja realizados é ampliar a anélise para outros dados ainda nio explorados, ou dados relativos a outras formas da desigualdade. 1.3. Objectivos da Investigacio Objectivo Geral + Medir os niveis e tendéncias da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique, através de indicadores de concentragao aplicados a dados sécio-econémicos nomeadamente 0 PIB per capita e o [DH em Mogambique. Objectivos Especificos + Estimar os niveis da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique, a nivel nacional ¢ das grandes regides (Norte, Centro e Sul); Avaliar as tendéncias das desigualdades econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique a nivel nacional e das grandes regides (Norte, Centro e Sul); ‘Comparar as desigualdades econémica e do desenvolvimento humano entre Mogambique e os Paises de Desenvolvimento Humano Baixo (LHDCs); Medir as mudangas na desigualdade econdmica e na desigualdade do desenvolvimento humano em Mogambique; Determinar as elasticidades das desigualdades cconémicas e do desenvolvimento humano em Mogambique. ' Em estatistica um resultado é insignificante se for provivel que tenha ocorrido por acaso, caso uma determinada hipétese nula seja falsa (Gujarati, 1992), 4 = ew a a a: |. Hipdteses da Investigagao Hipétese 1; Contrariamente 4 percepgao comum, a desigualdade econémica em Mogambique praticamente nao variou na Gltima década, ou se tem variado, aumentou muito ligeiramente: Hipitese 2: As desigualdades econdmicas ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique tém aumentado substancialmente, na década passada, mas tal mudan¢a nao se manifesta nos indicadores agregados (a nivel nacional), unicamente porque estes ndo captam as variugdes que esto a acontecer a nivel mais desagregado, nomeadamente a nivel regional. 1.5. Metodologia e Fontes de Dados A metodologia utilizada para avaliar a desigualdade e para testar as duas hipéteses atris indicadas. envolveram varios passos: 1. Como ferramentas e teorias explicativas, que dao base a pesquisa e servem de suporte a anilise do tema em questo, recorreu-se as medidas de concentragdio nomeadamente: a curva de Lorenz & alguns indices de concentragio (0 coeficiemte de Gini, o ponto de igual pantitha ou coeticiente F. 0 coeficiente de especializagdio ou indice de dissimilaridade ¢ o indice de Schutz) ¢ « woria da mensuragdo das elasticidades. 2. As estimativas da desigualdade econémica ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique. basearam-se nos métodos comparativo € estatistico. 3. Para obtengdo dos dados estatisticos das tendéncias das varidveis que se pretendi presente pesquisa, recorreu-se a consultas a base de dados do Instituto Nacional de Estati a base de dados do Programa das Nagdes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), nomeadamente 05 Relatérios Globais de Desenvolvimento Humano, 4. Os indicadores usados para medir as desigualdades econémicas ¢ do desenvolvimento humane, na presente pesquisa, foram o PIB per capita e o IDH, respectivamente. 5. Eventualmente foi preciso determinar 0 horizonte temporal, que compreende periodo: 1996- 2006. Analisam-se os niveis e tendéncias da desigualdade econdmiea e do desenvolvimento humano em Mogambique. através de estimativas a nivel nacional e a nivel das grandes regides (Norte Centro e Sul), durante esse periodo. 6. Para além de analisar-se a evolugdo da desigualdade econémica em Mocambique de 1996 a 2006, analisam-se os niveis e as tendéncias dessas desigualdades em Mogambique nos anos 1996 a 2002. A tazao porque se analisam os niveis ¢ as tendéncias da desigualdade econémica nesse périodo, deve-se a0 facto dos tinicos estudos realizados na perspectiva da desigualdade em Mogambique {estudos baseados no IAF 1996/97 e IAF 2002/2003) serem referentes a esse periodo. Desta forma, comparam-se os resultados da presente pesquisa com tais estudos realizados sobre a desigualdade econémica em Mogambique. 7. Na andlise da desigualdade do desenvolvimento humano em Mogambique, limitou-se a apresentagio dos niveis ¢ tendéncias destas desigualdades em Mogambique, nos anos 1996 ¢ 2006, uma vez que nao foi possivel encontrar nenhum estudo realizado na perspectiva da desigualdade, 8. Para efeitos comparativos da desigualdade da renda per capita e da desigualdade do IDH entre Mogambique e os Paises de Desenvolvimento Humano Baixo, optou-se por focalizar 0 ano 2005, uma vez que as estatisticas mais recentes fornecidas pela base de dados do PNUD, contidas no Relat6rio de Desenvolvimento Humano 2007/2008 slo referentes a esse ano. 9. As estimativas das medidas de desigualdade e/ou concentragio, assim como comparagdes quer sejam através de tabelas e/ou de gréficos de concentragdo das tendéncias das varidveis que se analisam no tema em questio, foram desenvolvidas no Microsoft Excel 1.6. Limitagdes do Estudo A presente pesquisa evidencia quatro tipos de limitagdes: 1. Limitagdes relacionadas a qualidade dos dados, que em muitos casos nao captam a realidade mais abrangente da actividade econémica de Mogambique, como é sabido o PIB é um indicador com cobertura relativa e as vezes duvidosa. 2. A desagregagao considerada na andlise das desigualdades econémicas ¢ do desenvolvimento humano em Mogambique vai até ao nivel regional ou seja, 0 estudo nao aprofunda as variagdes provinciais ¢ distrtais de tais desigualdades. 3. A pesquisa restringe-se a andlise dos niveis e tendéncias das desigualdades econémicas ¢ do desenvolvimento humano, ntio abordando aspectos relativos as suas causas ou determinantes. 4. A pesquisa néo analisa a esperanga de vida e a educaco (componentes do IDH), analisando apenas a renda per capita c 0 proprio IDH. 2, Revisao de Literatura Este capitulo apresenta uma sintese da literatura tedrica e da literatura metodolégica da desigualdade. Apresenta também uma contextualizagio actual ¢ a literatura empirica da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano em Mogambique. 2.1. Literatura teérica A literatura sobre a desigualdade & muito diversa. A presente pesquisa no busca analisar ¢ nem explicar a natureza da desigualdade, uma vez que 0 foco da pesquisa esti na medigio da desigualdade portanto neste ponto, apresentam-se de forma sucinta algumas das muitas abordagens existentes sobre a desigualdade. A desigualdade acontece de diversas formas ¢ deve ser concebida como multi-dimensional, Deve-se reconhecer a natureza multi-dimensional da desigualdade ¢ considerar as suas possiveis dimensdes (THERBORN, 2001). A desigualdade pode ser abordada do ponto de vista das (2./.1,) ciéncias exactas? ¢ das (2. ciéncias sociais. 2.1.2, Desigualdade na perspectiva das ciéneias sociais O tema da desigualdade esteve sempre no centro das preocupagdes das ciéncias sociais, Assim, do ponto de vista da teoria marxista, essa centralidade é indiscutivel, assumindo que a desigualdade constituia a chave tanto para se entender o processo histérico-evolutivo entre classes, como para se superar 0 problema moral da explorago do homem pelo homem (MARX, apud REIS, 2000) “O marxismo estabelece que a desigualdade é inerente ao modo de produgao capitalista, A teoria marxista defende que a desigualdade da renda é inerente ao regime de trabalho assalariado.” (PEET, 1975) Amartya Sen (1992), um dos autores mais citados na literatura sobre desigualdade, trata da desigualdade no que conceme & qualidade de vida, aquilo que uma pessoa ¢ capaz de ser e fazer. A * Sob perspectiva das cigncias exactas como por exemplo a matemitica, a desigualdade é uma expresso que estabelece vuma relagdo de ordem entre dois elementos. Nos nimeros reais esta relago € apresentada pelos simbolos <, <, >, >, significando menor, menor ou igual, maior ou igual, respectivamente. Também podem ser incluides expressées contendo a relagio de diferenga (#) desigualdade crucial na perspectiva de Sen é a falta de liberdade, na forma de privagdes de capacidades (SEN, 1992 apud THERBORN, 2001). ‘A desigualdade nas capacidades, ou nas oportunidades de vida, para utilizar um conceito clissico, podem ser consideradas como uma soma de recursos ¢ ambientes. Ambos sio pertinentes & capacidade de conquistar feitos e realizagdes as quais se tenha motives para dar valor, Mas, enquanto os recursos podem ser distribuidos individualmente, os ambientes indicam a auséncia ou presenga de contextos de acesso e de possibilidades de escotha (THERBORN, 2001). Em Rousseau (1753) assume-se que na espécie humana existem duas espécies de desigualdade: (j) uma por ele definida como sendo natural ou fisica, considerando que foi estabelecida pela natureza, e que consiste na diferenga das idades, satide, das forgas do corpo e das qualidades do espirito, ou da alma; a outra (ii) que se pode chamar de desigualdade moral ou politica, porque depende de uma espécie de convengdo, € que foi estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens. Consiste esta, nos diferentes privilégios de que gozam alguns com prejuizo dos outros, ‘como ser mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros, ou mesmo fazerem-se ‘obedecer por eles (ROUSSEAU, 1753 apud OLIVEIRA, 1989). Segundo Schumpeter, um pais pode ser muito rico e seus habitantes muito pobres. Ou pode ser tio rico e seus habitantes desfrutarem de um padrio de vida superior ao de um pais que tenha uma renda Per capita maior. O que determina essa diferenga é perfil da distribuigdo de renda, ou seja, como a Fiqueza total que € produzida no pais se distribui entre os habitantes (SCHUMPETER, 1908). De acordo com Lamas (2005), a desigualdade é vista nfo apenas como diferenga de renda, mas também de qualidade e acessibilidade a servigos sociais basicos (educagao € satide, por exemplo), oportunidade de emprego, protecgdo dos direitos humanos e acesso ao processo decisério (poder politico e de representagaio), A desigualdade assume diferentes angulos. Nao hi dividas que a desigualdade é um tema vasto, miltiplo ¢ complexo, como todos os outros que dizem respeito a vida social. Portanto, no ha outro recurso para respeitar a sua complexidade e relevancia sendo simplificé-lo, reduzi-lo a “fatias” analiticas, privilegiando Angulos especificos. A presente pesquisa analisa a desigualdade do ponto de vista sécio-econémico, analisando a desigualdade econémica e do desenvolvimento humano. 2.2. Literatura metodolégica e empirica A literatura metodolégica ¢ empirica da desigualdade é vasta. Para mensurar a desigualdade de uma determinada varidvel, foram criadas diversas medidas de desigualdade e concentragio. Champemnowne e Cowell (1998, apud MEDEIROS, 2006) sugerem que existem pelo menos duas abordagens importantes para a mensuragdo da desigualdade. A primeira é analisar as desigualdades absolutas e, a segunda, as desigualdades refativas. As primeiras estio relacionadas a diferengas enquanto as segundas a razdes. [As expressdes disiribuicdo de renda e desigualdade de renda evocam ideias muito parecidas, mas, a rigor, mio tratem da mesma coisa. Na maioria das vezes, quando dizemos desigualdade de renda estamos, na verdade, nos referindo & desigualdade na disiribuicdo das rendas, a distibuigio da renda € umm objecto ¢, por sua vez, a desigualdade € uma caracteristica desse objecto. Uma distibuiglo estatistica pode ser descrita a partir de dois tipos basicos de medidas: as de localizagio e as de dispersdo. Medidas de localizagio comuns sio as de tendéncia central, como a média ¢ a mediana, ¢ as medidas de dispersio mais comuns sio a variéncia ¢ suas transformagies. A desigualdade de rendimentos, diz respeito & segunda caracteristica basica da distribuigio, sua dispersio, As duas expressbes, no entanto, so comummente associadas e um frase do tipo precisamos melhorar a distribuicdo da renda deve set entendide como um apelo para a redugio na desigualdade na \istribuisdo dos rendimentos (MEDEIROS, 2006). A desigualdade, em termos abrangentes, é designada por concentragao. ‘A nogio de concentragio deve-se a0 estatstico italiano Corrado Gini, que a desenvolveu a propésito da distribuigdo dos salérios © dos rendimentos. Respeitava a0 facto de haver, ou nfo, muitos individuos com valores semelhantes de rendimento ou de salirio € poueos individuos com valores de rendimento ou salirio muito diferentes (DE ABREU, 2001, p.1). ‘A concentragio um conceito aparentemente simples, que se opde as distribuigBes igualitérias ou uniformes. Medir a concentragio duma distribuigdo € pois conhecer o afastamento que se verifica entre essa distibuigdo e duas situagdes padro: uma em que todas as unidades da andlise 8m a mesma parcela do total da vaidvel (i.e. séo igus) e outre em que o total da varvel se encontra atibuido a ‘uma nica unidade de anélise (IBIDEM). Segundo De Abreu (2001), € possivel calcular a concentragao na distribuigdo de varidveis econémicas, sociais, ou de outra natureza, consoante as varidveis em andlise. Pode-se por exemplo, calcular a concentragao de variaveis como: os rendimentos, as produces, 0s salarios, as densidades populacionais, os povoamentos culturais ou arbéreos, as dimensdes das empresas, das exploragdes ou das propriedades agricolas, dos prédios urbanos, das familias, etc, Na pritica, a concentraco é geralmente avaliada por comparagio entre a distribuigdo efectiva que uma varidvel tem e a distribuigdo igualitéria e é medida através da distancia ou diferenga que existe entre os correspondentes valores de cada. Para medir o grau de concentragio de uma determinada distribuiga0, recorre-se as medidas de concentragdo: a curva de Lorenz (uma das formas classicas de mostrar a concentrac2o) e os indices de concentragiio (por vezes referidos por outras designagdes como desigualdade, dissemelhanga, permitem medir com precisio 0 valor da concentragao) (DE ABREU, 2001). 2.2.1, Curva de Lorenz De acordo com Kuan Xu (2004), a curva de Lorenz foi sugerida por Leo Chiozza Money (1905) ¢ originalmente proposta por M. ©. Lorenz em 1907. Lorenz propés a curva de Lorenz para representar a concentragdo. Segundo este autor, esta curva é uma forma de representag20 grafica, com um forte valor de captagao visual, que ilustra as desigualdades na distribuigao de variaveis sociais, econémicas e ambientais, Através da curva de Lorenz é possivel comparar a diversidade regional num dado momento, analisando a curva respectiva, assim como avaliar a sua evolugZo no tempo, comparando varias curvas. E 0 mesmo sucede com os indices de concentracao, que adiante serio analisados, A curva de Lorenz representa os valores da distribuigao de uma varidvel’, Esta variével pode ser uma varidvel secundéiria ou uma varidvel independente ou isolada (DE ABREU, 2001). Varidvel secundaria & aquela que resulta da razao entre outras duas varidveis iniciais. Por exemplo: © estudo da distribuicdo do PIB per capita, que & uma varidvel que resulta da razio entre o PIB (variével numerador) e a populago de cada regio (variavel denominador), Varidivel isolada (ow independente) & aquela que nio é resultante da razio de outras duas. Pode fazer-se a curva ¢ calcular indices para uma varidvel isolada, desde que se considere que a cada grupo ou classe existente deve corresponder uma parcela igual. Por exemplo, a distribuigto do PIB por sectores de actividade. A curva e os indices assim calculados mostram se existe ou nao concentragao em alguns sectores, comparando a distribuigio existente com a que se teria se os grupos (ou sectores, neste caso) tivessem todos iguais quantitativos (DE ABREU, 2001), Para fazer @ curva de Lorenz € preciso ordenar por ordem crescente a varigvel em estudo, ¢ depois caleular as percentagens simples e acumuladas das duas varidveis primérias (DE ABREU, 2001). 10 A curva de Lorenz. pode apresentar diferentes graus de concentragao (DE ABREU). Como exemplo, apresenta-se um caso de Mogambique, da distribuiga0 do PIB per capita, a nivel das grandes regides (Norte, Centro e Sul do pais) no ano 2005, como se pode observar na Figura 1. Figura 1: Curvas de Lorenz com diferentes graus de concentracéo ‘ane Geen dr aon oR re copanaregbo cance Tracie 05 semre eeee i { / | | | ( ae I A B c Como observa, na Figura 1, quanto mais uniforme a distribuiggo, mais a curva esté junto a diagonal, € quanto mais concentrada for, mais se aproxima do eixo dos x's ¢ do limite direito do quadrado em que se insere. A distribuigdo da esquerda (A) tem uma pequena concentragao (ou uma grande igualdade), a do meio (B) uma concentragio média (ou uma desigualdade média) e a da direita (C) uma grande concentrag4o ou uma grande desigualdade dos valores. O menor ou maior afastamento da curva de Lorenz face diagonal principal do quadrado é que quantifica o grau de concentrac0 da distribuigao em estudo. Quanto maior for o afastamento da curva da diagonal ou seja, quanto maior a area que se situa entre a curva de Lorenz e a diagonal, maior é a concentragio da variével. Para medir com precisio 0 valor das distincias da curva 4 diagonal ou da érea compreendida entre a diagonal e a curva foram propostos vérios indices/coeficientes de concentragao por diversos autores. 2.2.2. indices de Concentragao Os indices de concentrag3o so valores que medem o grau de concentragio, desigualdade, éi imilaridade ou segregagao de uma determinada distribuicao em estudo (DE ABREU, 2001). Seguidamente descrevem-se de uma forma sucinta cinco indices de concentrago, complementares entre sif * Como mostra a literatura, existem muitos indicadores de medidas de concentrago ¢ desigualdade. Estes cinco indices de concentragdo que se apresentam sio baseados em Diogo de Abreu (2001). Existem outros, entre eles destacamse: medidas de dispersio, o indice de Theil (entropia geral), ete u 2.2.2.1, Coeficiente de Especializagao (C) O coeficiente de especializagao é um dos coeficientes de concentragao que se deve a Gini. E conhecido pelos socidlogos como indice de dissimilaridade e pelos economistas como cogficiente de especializago, Este coeficiente mede, em percentagem, a “barriga” da curva de Lorenz, pois metade da soma dos afastamentos para a esquerda ¢ para a dircita da curva, relativamente a diagonal. Assim, corespondendo a metade do dobro do afastamento maximo entre a diagonal ¢ curva de Lorenz, da uma aproximagiio A dimensio da drea de concentragiio, compreendida entre a diagonal e a curva. O valor do coeficiente de especializagao variaré entre 0 (zero), quando a distribuigao é uniforme, com todos os valores iguais 4 média e a curva de Lorenz a coincidir com a diagonal, e 1 (100%), quando um sé dos elementos, classes ou grupos detém o total dos valores ¢ os outros sio todos iguais a zero. O coeficiente de especializagio calcula-se pela seguinte frmula: n 1 Cc 5* > lak-pkl roe 2.2.2.2, indice de Gini (G) Este indice calcula, a area de concentragio (entre a diagonal ¢ a curva de Lorenz), através dum método de aproximago. Compara a soma da parte das ordenadas que corresponde & area de concentrago (xi-ys) com a soma total das correspondentes abcissas da diagonal. (x). O valor do indice de Gini variara entre 0 (zero), quando a distribuigao é uniforme, com todos os valores iguais 4 média e a curva de Lorenz. a coincidir com a diagonal, ¢ 1 (100%), quando um s6 dos elementos, ‘grupos ou classes detém o total dos valores e os outros so todos iguais a zero. Abaixo esti a formula que permite calcular o indice de Gini: 4 G “Yon: ra/Yio 10 = ' 2.2.2.3, indice de Schutz (S) O indice de Schutz é uma medida de concentrago proposta por Schutz em 1951 Este indice mede, tal como o coeficiente de especializagio, o valor da “barriga” maxima da curva de Lorenz. Deve ser tomado em conta que este indice apenas soma as diferengas entre as ordenadas € 12 as abcissas da curva de Lorenz até ao ponto em que se verifica o maior afastamento da diagonal, ou seja, até a altura em que a curva de Lorenz, que até aqui ia se afastando da diagonal, se comega a aproximar dela de novo (0 que sucede quando o seu declive passa a ser maior do que 1) ¢ que por isso comesponde a metade da soma do médulo de todas as diferengas. O valor do indice de Schutz variard entre 0 (zero), quando a distribuigao é uniforme, com todos os valores iguais a média e a curva de Lorenz a coincidir com a diagonal, e 1 (100%), quando um s6 dos elementos, grupos ou areas detém o total dos valores e 0s outros sto todos iguais a zero. O indice de Schutz (S) é na realidade uma outra forma de calcular o coeficiente de especializago (C). O indice de Schutz calcula-se através da seguinte formula: s ay [G@ - 3 x ax] Onde: r~ é 0 nimero de elementos ou valores em que py € menor que qu, ou seja, em que a relagiio Pu/qg 6 menor que 1 2.2.2.4, Ponto de Igual Partilha (Coeficiente F) ponto de igual partilha é uma medida do grau de desigualdade da distribuigao, que se pode definir ‘como a ordenada do ponto em que a curva de Lorenz mais se afasta da diagonal (ou da ordenada da “barriga” da curva). Este coeficiente (F), pode ser interpretado como a percentagem de individuos, ‘membros, unidades, éreas ou regides (conforme o caso), que integram os grupos que: i) esto abaixo do valor médio geral, no caso de uma variavel secundaria, resultante da razilo de outras duas; ou ii) sto 08 mais desvantajosos, no caso de uma tinica variavel. Consideram-se os mais desvantajosos os que tém menos do que a proporgdo que Ihes competiria se todos os valores da distribuig2o fossem iguais. Assim sendo, compreende-se a razio porqué este indice é designado na bibliografia de origem inglesa por fair-share point (ponto de partilha equilibrada). A formula que permite calcular 0 ponto de igual partilha é dada por: 5 a Onde: r € 0 mimero de classes, grupos ou valores em que px € menor que qu, ou seja, em que a relagao py/qy € menor que | 2.2.2.5. Coeficiente da Area de Concentragio (Gini) 0 coeficiente de Gini permite medir exactamente 0 valor da area de concentragdo existente numa determinada distribuigao em estudo, ou melhor ainda, a sua importincia relativamente & do triéngulo definido pela diagonal ¢ os dois lados do quadrado. Assim sendo, este valor variaré entre 0 (zero), quando a distribuigao é uniforme, com todos os valores iguais 4 média ¢ a curva de Lorenz a coincidir com a diagonal, ¢ 1 (100%), quando um s6 dos elementos, grupos, classes ou areas detém © total dos valores e os outros sio todos iguais a zero. O coeficiente da Area de Concentragio de Gini, ou mais simplesmente Coeficiente de Gini (CG) compara a importancia relativa da area de concentragao em relagaio a area total. Ocoeficiente de Gini é dado por: 5000 - a (Fxpk+ yk-1)] ce 5000 +100 ; Considerando sempre que yo ¢ igual a zero (0). Anand (1983) e Chakravarty (1990) forneceram estudos importantes relativamente as medidas de desigualdade incluindo 0 coeficiente de Gini. Mas a literatura esta num estado de fluxo constante, na rea de pesquisa, pelo que outros autores como Lambert (1989), Silber (1999), e Atkinson ¢ Bourguignon (2000) também forneceram referéncias compreensivas para o estudo da desigualdade, com 0 coeficiente de Gini como uma de muitas medidas de desigualdade. Todavia, 0 estudo de Kuan Xu (2004) difere dessas referéncias no facto de compilar os resultados teéricos do coeficiente de Gini, desde os tempos antigos até recentemente © assim incorporar resultados de pesquisas adicionais relativamente ao coeficiente de Gini. Segundo Kuan Xu (2004), desde a altura em que 0 coeficiente de Gini foi tido como uma estatistica suméria (anos 1912, 1914 e 1921), a literatura tedrica evoluiu para mais de 80 anos. Durante os liltimos 80 anos, 0 cocficiente de Gini, tormou-se gradualmente uma das prineipais medidas de desigualdade na disciplina de economia. Segundo Kuan Xu (2004), o coeficiente de Gini pode ser usado para medir a dispersdo de uma distribuigo de renda, consumo, riqueza, ou uma distribuiggo de qualquer outro tipo. Mas o tipo de distribuigao onde 0 coeficiente de Gini é mais usado é a distribuig3o da renda. No entanto, segundo este autor, no contexto das distribuigdes de variaveis econémicas ou sociais, as aplicagdes do coeficiente de Gini nfo devem ser limitadas a distribuigdes da renda. O coeficiente de Gini, como qualquer outro indice de concentragao, é uma estatistica 4 suméria agregada da desigualdade de uma determinada varidvel quer seja econémica ou social que se pode aplicar a estudos de uma nagao ou regides ou ainda a subgrupos dentro a nag. De ressaltar que diferentes indicadores podem levar a diferentes resultados. & necessario que se tome em consideracao a metodologia usada no tratamento e calculo de determinados indicadores. E possivel existir dados que nfo s8o imediatamente comparaveis com outros estudos. Por duas razbes: 0s dados de base sto diferentes ¢ os métodos de cileulo também. Qualquer comparagio directa e linear entre ambos seria incorrecta e enganadora. 2.2.3. Indicadores de medida usados nesta pesquisa Todos os indices e coeficientes apresentados fomecem imagens diferentes, e 3s vezes complementares, da concentrago de valores existentes na distribuigao em estudo. Estes indices so estimativas ¢ valores aproximados da area de concentrago (que corresponde a rea entre a diagonal a curva de Lorenz), sendo o coeficiente de Gini o indice de concentrago mais exacto de todos. Uma vez que a pesquisa tem em vista a avaliagdo da concentragdo de determinadas distribuigdes de natureza sécio-econmica é, geralmente, suficiente 0 conhecimento das curvas de Lorenz, do coeficiente de Gini ¢ eventualmente do coeficiente F. Todavia, a pesquisa recorre a estas medidas de concentragio € outras mencionadas, nomeadamente indice de Gini, de especializago e de Schutz em parte para facilitar a comparagio ¢ controlo dos valores estimados com as distribuigdes de valores da mesma natureza que foram estudados e apresentados com esses indices na literatura 2.3. Contextualizacio actual ¢ avaliacao da desigualdade em Mocambique Mogambique ocupa a 172* posigao no ranking mundial do desenvolvimento humano, apresentando um IDH de cerea de 0,380, classificando-se, segundo o Relatério de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2007/2008 das Nagdes Unidas, como um pais de desenvolvimento humano baixo. ‘Mogambique tem registado uma das mais elevadas taxas de crescimento do mundo desde 1992, com uma média de 8,1% ao ano, tendéncia mantida em 2003 e 2004 (OECD, 2004/2005). Essa expansto econémica contribuiu para a melhoria do IDH. A esperanga de vida aumentou de 44,3 para 46,7 anos; a proporgao de criangas matriculadas na escola aumentou 7,6% ¢ 0 PIB per capita cresceu 65%, de US$ 996,30 para USS 1.640,60. Todavia, o crescimento de Mogambique como sabe-se deve-se em grande parte a cons6rcios estrangeiros de grandes dimenses (os “mega-projectos”), mas pouco se tem feito para alcangar um crescimento mais geral (OECD, 2004/2005). Nao obstante o crescimento real do PIB, mantém-se as apreensdes quanto A sustentabilidade desse padrio de crescimento, por forma a alcangar-se um crescimento econémico generalizado. O nivel de pobreza decresceu consideravelmente, porém mais de 50% da populagio é ainda considerada pobre € as desigualdades quanto a0 rendimento ¢ a riqueza continuam evidentes, sendo possivel que tenham até aumentado em algumas regides*. Os trabalhadores que se encontram nos centros urbanos sio, na sua maioria, constituidos por pessoas nao qualificadas, cujos rendimentos nao ultrapassam 0 salério minimo que nem chega para a aquisigao de uma cesta de alimentos para o agregado familiar por uma semana, Agravam o fendmeno os baixos indices de rendimentos agricolas, a base de sobrevivéncia de mais de 70% da populagao mogambicana, Por outro lado, é insatisfatéria a oferta dos servigos sociais basicos como a educagao e saiide para a maioria da populagdo, 0 que origina privagdo aguda aos beneficios dos resultados da riqueza nacional. Como formas de sobrevivéncia ocorrem processos de vendas informais de varios artigos, em todas as esquinas, em situagdes sécio-ambientais inadequadas, 0 que concorre para a eclosio de muitas doengas que se constituem em um problema de satide piiblica®. Diante deste cendrio, do ponto de vista do bem-estar social, é vital que se examinem os niveis e as tendéncias das desigualdades econémicas e do desenvolvimento humano em Mocambique. Na literatura contempordnea sobre a desigualdade econémica em Mogambique, destacam-se os estudos de Nhate e Smiler (2002) e de James et al. (2005). Estes estudos basearam-se nos dados do IAF 1996/97 e LAF 2002-2003, Nhate ¢ Smiler (2002) analisaram a desigualdade econémica em Mogambique, baseando-se nas estimativas do [AF96/97, tomando como indicador de base 0 consumo nacional e como metodologia de andlise o indice de Theil” (General Entropy). Estes autores nfo s6 aplicaram a anilise a nivel 5 A propésito do crescimento econémico e pobreza em Mogambique, veja OECD (2004/2005) ‘Para uma explicacdo pormenorizada sobre a economia informal veja FRANCISCO e Paulo (2006) 70 indice de Theil (General Entropy) & um indice que mostra o nivel de dispersto na distribuiglo de uma determinada varidvel (consumo para este caso), dos agregados familiares ou individuos dum determinado local. Este indice permite a desagregagdo da desigualdade por ele medida em desigualdade intcr c intra grupos, ou seja, permite a desagregaga0 da desigualdade ao nivel das unidades mais pequenas. Quanto maior for o indice, maior seré o nivel de desigualdade duma determinada variavel 16 agregado nacional mas, desenvolveram uma metodologia de desagregacao das desigualdade econémica ao nivel dos distritos e dos postos administrativos. Segundo o estudo de Nhate ¢ Smiler (2002), a desigualdade econémica em termos intra e€ inter regionais em Mogambique, ¢ maior dentro do mesmo local (regio) que entre os locais (regides). Todas as capitais provinciais, segundo este estudo, apresentam um indice de desigualdade econémica acima de 46%. No que se refere a desigualdade econémica ao nivel dos distritos, verifica-se que os distritos do interior de Inhambane, norte de Gaza, norte de Tete, distritos de Nampula, sio 0s que apresentam o menor indice de desigualdade econémica. As provincias de Manica, Sofala e Maputo sio as mais desiguais (indice de thei! muito maior) (vidi Figura 2). ‘A maioria das capitais provinciais indica também maiores niveis de desigualdade econémica. As disparidades entre grupos sociais nas areas rurais sio maiores (0 indice de thei! em alguns casos & superior a 68%) que nas zonas urbanas, Figura 2: Niveis de desigualdade econdmica por distrito (Generaly Entropy (GE(1)) 0.13-0.23 023-030 030-040 080-068 bee 6.07 Fonte: Nhate ¢ Smiler, 2002 trabalho de James et al. (2005), analisa a evolugio da desigualdade econémica em Mogambique, através da comparagao dos resultados dos dois IAFs (de 1996-97 © 2002-03), baseando-se em indicadores de consumo e recorrendo aos indices de concentragao®, nomeadamente: ao indice de * Estes indices medem a dispersio de uma determinada distribuiglo, num determinado local; quanto maior for o valor dos indices, maiores serio os niveis de desigualdade duma variavel (Nhate e Smiler, 2002). Gini e a0 indice de desigualdade de “Theil” (General Entropy) para medir os niveis ¢ tendéncias da desigualdade econémica, De acordo com 0 estudo de James et al. (2005), a desigualdade no consumo nacional sofreu um aumento ligeiro de 0,40 em 1996-97 para 0,42 em 2002-03 ou seja, um ligeiro aumento em cerca de 5% (vidi Figura 3). Os dados deste estudo sugerem que a desigualdade é maior entre os agregados rurais que entre os urbanos (vidi Quadro 1). Os dados mostram que a desigualdade aumenta com maior intensidade na Cidade de Maputo (de 0,44 em 1996-97 para 0,52 em 2002-03). Por outro lado, a provincia da Zambézia surge com menor desigualdade (variou de 0,32 em 1996-97 para 0,35 em 2002-03) (Quadro 1 e Figura 4). De uma maneira geral, as estimativas do estudo de James et al. (2005) indicam que a desigualdade, a nivel nacional, aumentou ligeiramente durante o periodo em consideragdo, ¢ que a maioria destas mudangas foi estatisticamente insignificante’. Apesar da desagregagao por provincias, James et al, (2005) nao analisa este nivel desagregado, Portanto, a conclusio com base nos indicadores nacionais fica enfraquecida pela falta de demonstrago estatistica dos niveis desagregados. Quadro 1: Mudangas na desigualdade econdmica por provincia e regido, 1996-97 e 2002-03 Gini GEC) 1996-97 2002-03, 1996-97, 2002-03, Nacional 0,40 0,42 O31 037 Urbano 0,37 0,37 0,26 0.27 Rural 0,47 0.48 0,44 0,50 Niassa 0,35 0,36 0,22 0,26 Cabo Delgado 0,37 0,44 0,27 0,62 Nampula 0,39 0,36 0,30 0,24 Zambézia 0432 0,35 0,20 0.23 Tete 0,35 0.40 0.21 0,30 Manica 0,41 0,40 0,36 0,30 Sofala 0,40 0,43 0,32 0.41 Inhambane 0,38 0,44 0,31 0.40 Gaza 0,38 0.41 0.27 0,38 Maputo Provincia 0,42 0,43 0,35 0,36 Maputo Cidade 0.44 0,52 047 0,60 z Fonte: James et al, 2005 Area ° Em estatistica um resultado é insignificante se for provavel que tenha ocorrido por acaso, caso uma determinada hipétese aula seja falsa (Gujarati, 1992). 18 Figuras 3 4: Curvas de Lorenz do IAF 1996-97 e IAF 2002-03 em Mocambique Figura 3: Curva de Lorenz do IAF 1996-97 Figura 4: Curva de Lorenz da Zambézia edo IAF 2002-03 e da Cidade de Maputo, 2002-03 James et al. (2005) Para além dos estudos atras referidos, no foi possivel na revisio da literatura efectuada, encontrar qualquer estudo disponivel sobre a desigualdade do desenvolvimento humano em Mogambique. Apenas existem estimativas do IDH de Mogambique (por provincias e regiées) que nto foram exploradas na perspectiva da desigualdade do desenvolvimento humano. 3. Niveis da desigualdade econémica e do desenvolvimento humano em Mocambique Nesta secedo apresentam-se as estimativas da concentrago do PIB' per capita (desigualdade econémica), assim como dos componentes deste indicador, nomeadamente: 0 tamanho da populagio €0 PIB em volume, a nivel nacional ¢ das grandes regides (Norte, Centro e Sul) em Mogambique. Assim, pretende-se a apreciagao do contributo dos dois componentes do PIB per capita. Apresentam-se, ainda nesta secgio, as estimativas da concentragio do IDH"' (desigualdade do desenvolvimento humano) a nivel nacional e das grandes regides. ' 6 a quantificago do valor de mercado de todos os bens ¢ servigos finais, produzidos num pais durante um ano. Para mais detalhes consulte SAMUELSON e NORDHAUS (1999). Os dados do PIB em volume ¢ do PIB per capita usados ha analise referem-se a dados do PIB em volume real e do PIB per capita real © IDH é um indice que mede a tealizagdo média de um pais em trés dimensdes basicas do desenvolvimento humano, nomeadamente: i) uma vida longa ¢ saudivel, medida pela esperanea de vida 4 nascenca (com ponderagio de 1/3); ii) conhecimento medido pela taxa de alfabetiza¢io de adultos (com panderacio de 2/3) e pela taxa de escolarizagao bruta ccombinada do primirio, secundirio e superior (com ponderaglo de 1/3); ii) nivel de vida digno, medido pelo PIB per copita (dolares PPC). © IDH varia numa escala de zero (0) a um (1) , onde zero (0) significa péssimo, € um (1) 0 méximo em termos de desenvolvimento humano. Nos RDHs os paises de todo o mundo slo classificados em crés ‘grupos: Paises com desenvolvimento humano baixo (IDH entre 0 a 0,500); Paises com desenvolvimento humano médio 19 3.1. Concentracao do PIB per capita em Mocambique nos anos: 1996, 2002 ¢ 2006 3.1.1. Estimativa nacional, 1996: Mogambique Em 1996, os resultados do CG (Quadro 2) revelam que cerca de 35.4% do PIB em Mogambique estava distribuido de forma concentrada (desigual) entre a populacao (afastando-se, verea de 35.4% da igualdade, como se pode visualizar pela curva de Lorenz, ni Figura 5, abaixo), 0 valor F igual a 80.2% revela que cerca de 80,2% de um total de 15,7 milhdes habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 19,8% da populacdo) valores superiores a média Por aproximagao, a érea de concentragiio é de 39,8% (segundo o G). O afastamento maximo entre a diagonal e a curva de Lorenz é de 30,7% (segundo o C ¢ 0 S) (Quadro 2. abaixo). Quadro 2: Concentragéo do PIB per capita em Mocambique, 1996 Resultados da concentragio do PIB per capita - 1996 indices de Concentragao cG G c s Fonte: INE. 2008 5: Curva de Lorenz do PIB per capita em Mogambique, 1996 3.1.2. Estimativas regionais, 1996: Norte, Centro ¢ Sul A nivel regional, os resultados referentes 4 1996 revelam o seguinte De acordo com 0 CG (Quadro 3), a regio Sul de Mogambique foi a que das trés regides do pais apresentow a maior concentragaio da distribuigdo do PIB per capita (afastando-se cerca de 30.9% da igualdade: vidi curva de Lorenz. na Fig.8). Segue-se a regido Centro do pais (afastando: aproximadamente, cerca de 3,5% da igualdade; vidi curva de Lorenz, na Fig.7). Por tltimo. a regidin (IDH entre 0.500 e 0.799); Paises com desenvolvimento humano elevado (IDH igual ou superior a 0,800) (PNUD, ‘2007/2008: Para mais detalhes ver: Notas Técnicas do Relatorio de Desenvolvimento Humano 2007/2008) Norte do pais, foi a que apresentou a menor concentragdo da distribuigiio do PIB per capita (afastando-se, aproximadamente, cerca de 1,2% da igualdade; vidi curva de Lorenz, na Fig.6), coeficiente F revela que na regio Sul cerca de $8,1% de um total de 4,2 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 41,9% da populagao) valores superiores a média. Na regio Centro cerca de $3,6% de um total de 6,4 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 46,4% da populacao) valores superiores a média, Na regio Norte cerca de 39,7% de um total de $ milhdes habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 60,4% da populago) valores superiores a m Por aproximagdo, a area de concentragio de acordo com o G, foi maior no Sul. Segue-se o Centro € © Norte com as menores concentragdes. De acordo com 0 C € 0 S, 0 afastamento maximo entre a diagonal ea curva de Lorenz foi maior no Sul. Segue-se o Centro e o por fim o Norte (Quadro 3). Quadro 3: Concentracdo do PIB per capita em Mocambique, por regido, 1996 [ Resultados da concentragio do PIB per capita - 1996 indices deconcentragio(%) Regio Norte __Regilo Centro__ Regio Sul 6 12 35 309 Coeficiente F 39,7 53,6 58,1 6 3 68 538 c MI 30 234 Ss LL 3,0 28,4 Fonte: INE, 2008 ‘Cora do Lorena da distribuigbo 60 PIB per apna na regto Cartro ca Mopambique- 1096, ‘Give do Lorena da dstrtbuigio do PIB por capt na ragldo Norte de Mosambique~ 1096 100 » o “ oo ‘wcum Pop Scum Pop | | | Fon: NE, 2008 Fonte: NE, 2008 Figura 6: Curva de Lorenz do PIB per capita no Norte de Mocambique, 1996 Figura 7: Curva de Lorenz do PIB per capita no Centro de Mocambique, 1996 ‘Gurva do Lorene da astrib do PIB por capita Sul do Mosambique - 1986 | | FonteNE,2008@ | > © © = «0 ‘eum Pop ‘Fonte: NE, 2008 Figura 8: Curva de Lorenz do PIB per capita no Sul de Mocambique, 1996 3.1.3. Estimativa nacional, 2002: Mogambique Em 2002, os resultados do CG revelam que cerca de 30,1% do PIB em Mogambique estava distribuido de forma concentrada entre a populagdo (afastando-se, aproximadamente, cerca de um tergo da igualdade; como se pode observar pela curva de Lorenz, na Figura 9), valor F igual a 80,3% revola que cerca de 80,3% de um total de 18,1 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 19,7% da populacao) valores superiores a média. Por aproximagao, a érea de concentracdo € de 34% (segundo 0 G). O afastamento maximo entre a diagonal ¢ a curva de Lorenz é de 26,4% (segundo 0 Ce 0 ) (Quadro 4). "Gunde Laver aedaibugdo ao PB sen Daca a Morambige 2002 le A y Quadro 4: Concentragdo do PIB per capita em eae Mogambique, 2002 Resultados da concentragio do PIB per eapita - 2002 | indiees de Concentragao (%) CG 30,1 Coeficiente F 803 o 340 c 264 s Fonte: INE, 2008 Figura 9: Curva de Lorenz do PIB per capita em Mocambique, 2002 3.1.4, Estimativas regionais, 2002: Norte, Centro e Sul A nivel regional, os resultados referentes a 2002 revelam o seguinte: © CG aponta que (Quadro 5), a regio Sul de Mogambique foi a que das trés regides do pais, apresentou a maior concentragao da distribui¢ao do PIB per capita (afastando-se cerca de um tergo da igualdade; como se pode observar pela curva de Lorenz, na Fig.12).Segue-se a regitio Centro do pais (afastando-se, aproximadamente, cerca de 16,2% da igualdade; como se pode observar pela curva de Lorenz, na Fig.11). Por ultimo a regio Norte do pais, apresentou a menor concentragio da distribuigao do PIB per capita (afastando-se, aproximadamente, cerca de 5,5% da igualdade; como se pode observar pela curva de Lorenz, na Fig. 10). O coeficiente F revela que na regido Sul cerca de 55,9% de um total de 4,6 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 44,1% da populagio) valores superiores a média. Na regidio Centro cerca de 80% de um total de 7,6 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 20% da populagao) valores superiores a média, Na regitio Norte cerca de 41,7% de um total de 5,9 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo 6s restantes (ocupando $8,3% da populagio) valores superiores a média. Por aproximagio, de acordo com 0 G, a area de concentragao foi maior no Sul. Segue-se o Centro, Por fim o Norte, com a menor concentrago. © Ce S apontam que o afastamento maximo entre a diagonal a curva de Lorenz, foi maior no Sul, que no Centro e Norte. (Quadro 5). Quadro 5: Concentracdo do PIB per capita em Mocambique, por regido, 2002 l Resultados da concentragio do PIB per capita - 2002 indices deconcentragio (%) Regio Norte_Regllo Centro CG 55 16,2 Coeficiente F 417 800 s 12 197 c 53 BB s 53 bs Fonte: INE, 2008 vee Lorena da dibujo do PR por Cina mente ratO FB capa rego Norte de Mogambiqe 2002 ‘er eapitana regio Canto rs ss Se Mogambique - 2002 yj eo ied Pn) cum Pop eum Pop Font: NE, 2008 Foto INE, 2008 Figura 10: Curva de Lorenz do PIB per Figura 11: Curva de Lorenz do PIB per capita no Norte de Mogambique, 2002 capita no Centro de Mogambique, 2002 ‘Curva do Lorenz ds dietribuigs0 do PIB per o © eum Pop: Fonte:INE, 2008 Figura 12: Curva de Lorenz do PIB per capita no Sul de Mocambique, 2002 3.1.5. Estimativa nacional, 2006: Mocambique Em 2006, os resultados do CG (Quadro 6) indicam que cerca de 30% do PIB em Mogambique estava distribuido de forma concentrada entre a populagao (afastando-se cerca de 30% da igualdade; como se pode observar pela curva de Lorenz na Fig. 13). O valor F igual a 81,7% revela que cerca de 81,7% de um total de 19,9 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 18,3% do PIB) valores superiores 2 média. Por aproximagio, o G revela que a drea de concentragio & de 34%. © afastamento maximo entre a diagonal e a curva de Lorenz, segundo o Ce $ & de 25,3% (Quadro 6). Quadro 6: Concentragéo do PIB per capita em Mocambique, 2006 {Resultados da concentragio do PIB per capita - 2006 | indices de Coneentragio (ey cc 30.0 Coeficiente F 81,7 34,0 253 25,3 oaamace Fonte INE, 2008 Fonte: INE. 2008 Figura 13: Curva de Lorenz do PIB per capita em Mogambique, 2006 3.1.6, Estimativas regionais, 2006: Norte, Centro e Sul Em 2006, os resultados do CG (Quadro 7) indicam que a regitio Sul de Mogambique foi, das trés regides consideradas, a que apresentou a maior concentragio da distribuigaio do PIB per capita (afastando-se, cerca de um 31,6% da igualdade; vidi curva de Lorenz, na Fig.16). Segue-se a regio Centro do pais (afastando-se, cerca de 17,2% da igualdade; vidi curva de Lorenz, na Fig.15). Por liltimo, a regido Norte foi a que apresentou a menor concentracao da distribuicao do PIB per capita (afastando-se, cerca de 3,7% da igualdade; vidi curva de Lorenz, na Fig. 14). O coeficiente F revela que na regido Sul cerca de $4,2% de um total de 5,1 milhdes de habitantes possuem valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 45,8% da populacio) valores superiores a média. Na regido Centro cerca de 61,7% de um total de 8,4 milhdes de habitantes com valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ocupando 38,3% da populagao) valores superiores a média, Na regio Norte cerca de 41,5% de um total de 6,4 milhdes habitantes com valores do PIB inferiores a média geral nacional, tendo os restantes (ccupando $8,5% da populagtio) valores superiores a média, Por aproximagio, o G revela que a area de concentragao é maior na regio Sul. Segue-se a regio Centro. Por tiltimo a regido Norte, com a menor érea concentragao, O afastamento méximo entre a diagonal e a curva de Lorenz, de acordo com o C e S, é maior na regio Sul relativamente as regides Centro e Norte (Quadro 7). Quadro 7: Concentracdo do PIB per capita em Mocambique, por regio, 2006 l ‘Resultados da concentragio do PIB per capita - 2006 indices de concentragio (%) CG Coeficiente F TNE, 2008 Regiio Norte Regio Centro Regio Sul 36 Th 316 617 542 21,0 38,6 142 30,7 142 30,7 Curva de Lorena da distrbuigio do PB ‘por capita na regito Norte de ‘Mogamblque - 2006 0m 40 60 8 100 ‘ueum Pop. Fonte: INE, 2008 ‘Grea de Lorene da catriugSo do PIB per capa na egito Cortro de Mogambique -2008 ‘eum Pop Fen 2008 Figura 14: Curva de Lorenz do PIB per capita no Norte de Mocambique, 2006 Figura 15: Curva de Lorenz do PIB per capita no Centro de Mocambique, 2006 ‘Curva de Loren da dstribuipto do PIB per

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