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) c PP Ie +. | L.Nade F/V EDUCAGAO LINGUISTICA uiz Ant6nio Marcuschi Sea a eae airy Luiz Anténio Marcuschi | Prodosso textosl,enlize 1.1 Quando se ensina lingua, o que se ensina? ergunta que se acha no item acima foi formlada por Anténio gusto G. Batista na introducio de seu liv, Aula de portugués — Discurso e saberes escolaes, (1997: 1) com um contetido leve- mente diferente: “Quando se ensina portugués, 0 que se ensina?”. BB Para o autor, tratavase da questio do ensino de lingua portu- guesa-mds aqui se trata da lingua e ndo apenas do portugues. E nao do ensino da lingua como tal, mas de seu estudo. Na realidade, essa indagagdo pode ser feita de muitas coisas, mas em particular ela se aplica a0 caso da lingua. Se adotarmos a posigao sausuriana, defendid no Curso, de que “o onto de vista era o objeto", parece que a pergunta faz ainda mais sentido. Segundo ito bem fisa Batista, aquilo que se ensina ndo sio as propras coisas (a lingua ou a histéia mesma), mas antes, um conjunto de conhecimentos sobre as coisas ou um modo, dentre outros passives, de se elacionat com elas (p. 3). Esta postura sugei € que o ensino, seja la do que for, € sempre o ensino de tuma visto do objeto © de uma relagio com ele. Isto vale para o nosso abjeto: a lingua; e mais ainda para os fendmenos aos quais nos dedicamos aqui: 0 texto, os géneros e a compreensdo. Continuando essa reflexao sobre o que € que se ensina ou estuda quando se ensina ou estuda lingua, vale a pena observar ‘mais um pouco do que nos diz Batista (pp. 3-4): Fa akeragio do ponto de visa sobre exes ¢ outros fenémenos que pode, em parte, explicaras midangas que vem softendo oensino de Portugués ao longo de sua histri, que se express, na alterago de seu nome. Gramatica Nacional, Lingua Pita ou Idioma Nacional, Comunicago e Expres, Rortagus. também naalteracodeses pnts de vst — ou, particularnent, a competigio ene eles — que pode exlicar, em certa medida a polémicaseas verdadeiras uta que com fequencase teavam para a defnigio de seu objeto e objets: gramitica? altura a srt? a Kingua oral? 0 proceso de enunciagio de textos ori exerts? o dominio de uma lingua considerada logicae coreta em si mesma? o dominio de uma varedade linguistica prestigiada socialmente? Dependendo das respoctas que forem dadas a esas quests, diferentes tc ensnato diferentes objets, com diferentes objtvs. Todas esas priticas, no entanto,podeto ser identifcadas pela mesma desgnacto: “Portugues”. Faz sentido, portant, perguntar 0 que, 20s ensinar es dscplna, ¢ensinado. Nao parece restarem dividas quanto a esse aspecto crucial. Sempre que censinamos algo, estamos motivados por algum interesse, algun objetivo, algu- eo ima intengdo central, 0 que dari 0 caminho para a producio tanto do objeto como da perspectiva, Esse fato esclarece a pluralidade de teorias e a impossi- bilidade de se dizer qual ¢ a verdadeira. Todas tém sua motivagdo, algumas podem estar mais bem fundamentadas e outras podem ser mais explicativas. ica capaz de conter toda a verdade. Mas nenhuma vai ser a 1.2 Andlise da lingua com base na produsao textual Que o ensino de lingua deva darse através de textos € hoje um consenso tanto entre linguistas teéricos como aplicados. Sabidamente, essa &, também, ‘uma pritica comum na escola ¢ orientacio central dos PCNs. A questio no reside no consenso ou na aceitagio deste postulado, mas no modo como isto € posto em pritica, j4 que muitas sio as formas de se trabalhar texto, Neste curso, aparecem algumas das alternativas de conduzir 0 trabalho com a lingua através do texto (falado ou escrito), alimentadas pela conviegao bésica de que ha boas razBes para se ver a lingua nessa perspectiva, Em pri- rmeiro lugar, isto € assim aorque o trabalho com texto ndo tem um limite supe- rior ou inferior pata exploragao de qualquer tipo de problema linguistico, desde que na categoria texto se incluam tanto os falados como os escritos. Assim, resumidamente dito, com base em textos pode-se trabalhar: a) as questies do desenvolvimento historico da lingua b) a lingua em seu funcionamento auténtico nao simulado; ©) a8 relagées entre as diversas variantes linguistica; d) as relagies entee fala e escrita no uso real da lingua; ¢) a organizacio fonolégice da lingua; 0s problemas morfoldgicos em seus ¥ 2) 0 funcionamento ea definicio de categorias gramaticais; hh). os padvdes e a organizagio de estruturas sintsticas; |) a organizagao do lécco e a exploragto do vocabulétio, i) 0 funcionamento dos process semantics daffingus; 1) a organizagdo das intense os procestos pragmiicos; 1D. as esrategias de redasto © questies de estilo; im) a progresao tematea © a organizagio tpi; 1) a questo da leiturae da compreensto; 6) 0 treinamento do racceiio e da argumentocio; P) 0 estudo dos géneros texts Ree ee Cor 4) © treinamento da ampliagio, redugio e resumo de texto; 1) estudo da pontuacio e da ortografa 5) os problemas residuais da alfabetizacao. E muitos outros aspectos facilmente imagindveis, pois essa rel ‘exaustiva, nem obedece a alguma ordem légica de problematizagao. Indica apenas a potencialidade exploratéria no tratamento linguistico com base em textos. Nem por isso deve-se imaginar que o trabalho com o texto tenha virtu: des imanentes naturais, 2 ponto de se tornar uma espécie de panaceia geral para todos os problemas de Iingua $6 para ilustrar, trago um pequeno exemglo de como o item (a) da listagem acima poderia ser contemplado. Tratase de uma noticia publicada no Diénio be Pernaweuco em 21/08/1839 FURTAREO 0 ANELAO No dia 3 do prezente mer na guarda principal, perdeose, ou furtardo do dedo de um dos indvidvos, quando dormia, ue estava de guarda no mesmo lugar um anekio de our, todo lewado, ¢ com dous corardes uidos dentro do circu posto no hgar em qile boa firms pede se a quem for offereido que noo compre; pois peed se proceder contra pessoa fem oujo se acha.Assegurase ao Sax. que est deposse do dito ali, que seo restr se he srardard segredo da gaca, ou ates da fraquera, em que cao A pessoa que trocar 0 referida anelio nesta Typ. Receberé Ais de gratifcago, E imensa a riqueza deste texto para exploragio, seja de formas linguiticas em desuso, bem como do estilo jornalistico da época, da natureza do género noticia, 0s costumes que revela, 0 mundo em que se situa e muitos outros aspec- tos. Ele pode ensejara busca de mais textos no mesmo jamal ou em documen- tos antigos para comparagao e observacio de como a lingua no é estangue € varia ao longo do tempo, inclusive na escrita, de modo considerivel ‘Sabemos que um probleme do ensino € o tratamento inadequado, para rio dizer desastroso, que o texto ver recebendo, nio obstante as muitas alte nativas e experimentagdes que estdo sendo hoje tentadas. Com efeito, intro- duzivse 0 texto como motivagdo para o ensino sem mudar as formas de aces- 50, a5 categorias de trabalho e as propostas analiticas. Mas 0 problema nao reside s6 nas formas de acesso ao texto e sim nas formas de sua apresentagdo. Quanto a essa inadequacao, sabese que os textos ‘escolares, sobretudo nas primeiras séries, padecem de problemas de organiza- Cee fo linguistica e informacional. Por vezes, eles carecem de coesto, formando conjuntos de frases soltas , em outras, a tém em excesso causando enorme volume de repetigBes tépicas. Em qualquer dos casos, o resultado seré,evidem temente, um baixo rendimento do aluno. De resto, os textos escolares revelam ignorincia e descompasso em relagao a complexidade da produc20 oral dos alunos. Ignoram que o aluno jé fala (domina a lingua) quando entra na escola Hoje a cena ja esta bastante mudada em relagao as ultimas geragdes de manuais didaticos, tendo em vista 0 processo de avaliagao por parte do MEC no Programa Nacional de Avaliacdo do Livro Didatico (PNLD). Ja se cuida mais da presenga de uma maior diversidade de géneras, de um tratamento mais adequado da oralidade e da vaciag2o linguistica, bem como de um trata- mento mais claro da compreensio. Mas é evidente, como se vers mais adian- te, que nem tudo ainda & como se gostaria que fosse! Gonsiderando os objetivos basicos da escola no trato da lingua, 6 oportu- no levantar a questio de se a escola deve trabalhar apenas 0 texto escrito ou envolverse também com 0 texto oral. Quanto a isso, define-se, hoje, uma linha de pensamento que parece sugerit que a missdo da escola ¢, sobretudo, ‘o ensino da modalidade escrita (ef. Kato, 1987 ¢ Perini, 1985). Creio que a0 se enfatizar 0 ensino da escrita nao se deve ignorar a fala, pois a escrita repto- duz a seu modo e com regras préprias, 0 processo interacional da conversa- «Ho, da narrativa oral e do monélogo, para citar alguns. I 6bvio que se a escola tem como missdo primitia levar o aluno a bem se desempenhar na excita, capacitando-o a desenvolver textos em que 0s aspectos formal e comunicativo estejam bem conjugadas, isto nao deve servir de motivo para ignorar os processos da comunicacio oral. A razdo é volver um texto escrito ¢ fazer as vezes do falante e do ouvinte mples, pois desen- puladamente. ‘Mesmo que o texto escrito desenvolva um uso linguistico interative nao do tipo comunicagao face a face, deve, contudo, preservar os papéis que cabem a0 eseritor e ao leitor para cumprir sua fungi, sob pena de nao ser communicative. Os PCN jf trazem uma strie de observagdes sobre a oralidade e ot cdemais temas. Seria interessante que fizéssemos um levantamento de todas 1. Para tra visio clara da stuagso da avaliagdo ds lis didticos de ingua portuguese sealizada no cantata do PNLD, seus citi uma anise dee reulteds, aeooselho a etre do lio tditado poe Roxane Rojo & Anno AG. Batt (org, (2003). Lio didtio de Hingua portgua, leemento «cultura exits. Campinas: Mercado de Leta, Ali hia apresentagzo da metodaogia de _naliagio os resultados do lias ans. ee eee ee esas posighies para termos uma nocio clara de qual o tratamento que neste momento esti sendo sugerido a essa questio®. Neste curso, vamos dar atenao especial & oralidade © problemas cortelatos ao tratarmos os géneros textuais nos itens 2.10 a 2.13. Concluindo estas obscrvacdes preliminaces, sessallo que nao € minha intengao trazer aqui sugestdes detalhadas ou propor uma nova gramitica pe- dagégica. Viso simplesmente mostrar como se pode operat no ensino dos fatos ¢ do funcionamento da lingua através do texto como forma natural de acesso a lingua. 1.3 Quando se estuda a lingua, o que se estuda? A primeira tomada de posigdo aqui necesséria € a explicitagio do que se pode ou deve entender com a expressio “ensino de lingua”, pois como jé Tembrado, ao chegarem a escola, a crianga, o adolescente ou 0 adulto ja sa bem a lingua. Assim, vale a pena refletir a esse respeito, como o faz Maria de Fatima Carvalho Lopes (1984: 245)?, ao indagar-e: 0 que justifica a intervengio escolar num processo de aquitigfo que acontece natu- ralmente? Com a autora, podemos dar uma primeira resposta defendendo que: tum dos objetivos gerais do ensine do Portugués ¢ desenvolver a competéncia da comunicagaa (p. 245) Aprofundando a questio, a autora insiste (p. 247) 2. Sobre ese assunt, of aguas nots em Laz Antonio Marcuschi (1999). 0 trataento da oaldade nos PCN de Lingsa Portuguesa de Sa 8" Série, Seripta. Belo Hosiznte: PUCMG, vol. 4 pp. MAD. 5. Refirome ao trbatho de Mara de Fitna Carzalho Lopes (198). Linguistica ensino de Noga matera, In Actas do I” Breono de Lingwietar Portuguese. Litho: Faculdade de Lets de Lisboa, pp. 244.256, 4. Pasigfo exsencahmente similar en € dfendida por outo lingistaporigus,Jozquim Fonseca (1984), linguistic ¢ ensino da ligua matema. In: Actas do I” Encontro de Lingustar Portguess,Lisbo: Faculdade de Leas de Lisbos, pp, 257-26 Ee asim se express “Die, eno, «qe a aula de lingua mateena vss, aturaimente o desenvolvimento da competencia comunicatva ¢ ‘elalingufticumetacomneatva do aluno, desenvolvimento ete (import sublinkél)fortermente ‘orienta pan que o aluno use melhora ai lingua — use melhor no spenas cow apercigonento so dominio de etre, de coneszo gamatiea, mas também, e sobetudo,« como obtengse de suceiso na adequagdo do aco verbal stvagdes de comuniag30"(p. 259) 0 | Provessos de produséo textual CO que tema escola de muito expecifico a oferecer no dominio do desenvolvimento da competéncia de comunicagio, seas criancas j4 comunicam de forma suficiente c efica, sem intervengdo da escola? Quanto a este questionamento ¢ a sugestio de resposta oferecida Util fazer duas abservas parece Jago as 1s que permitem reardenagiee de foco em concepedes tradicionais na area: © Em primeizo lugar, ha aqui um deslocamento da fungao da escola como voltada exclusivamente para o ensino da escrita, Seu papel exorbita essa fronteira ¢ se estende para o dominio da comunicagao ‘em geral. Envolve também o trabalho com a oralidade. Evidente {que ndo se trata de ensinar a falar, mas de usar as formas orais em. situagdes que o dia-edia nem sempre oferece, mas que devem ser dominadas. Além da escrita e da oralidade, estio ainda envolvidas, no trato de lingua materna, questdes telativas a processos argumentativos ¢ raciocinio eritico. © Emm segundo lugar, deve-se ter muito cuidado com a nogao de com: peténcia comunicativa que nao se restringe a uma dada teoria da informagao ou da comunicagao, mas que deve levar em conta os parimetros mais amplos de uma etnografia da fala, uma analise das interagoes verbais, produgées discursivas e atividades verbais € co- tivas em geral sem ignorar a cognigHo. E nesse contexto que se situa a questio gramaticale todo o trabalho com a lingua, Tratase de valorizar a reflexdo sobre a lingua, stindo do ensino normative para um ensino mais reflexvo Diante disso, o que pode oferecer a escola ao aluno? Considerando que 4 capacidade comunicativa jé se acha muito bem desenvolvida no aluno quan- do cle chega & escola, o tipo de atividade da escola niio deve ser ensinar 0 que ele jd sabe. Nem tolher as capacidades jé instaladas de interagdo. Assim, a resposta pode ser dada na medida em que se postula que a escola nio ensina lingua, mas usos da lingua e formas nao corriqueiras de cqpnunicacao escrita € oral. © ntcleo do trabalho seré com a lingua no contexto dt compreensio, producio e andlise textual. Nessa perspectiva, 0 trabalho em lingua materna parte do enunciado e suas condigdes de produgao para entender ¢ bem produzir textos. Sem esque- cer a lingua, essa mudanga do foco iria do significante a significagao. Do enunciado a enunciagao. Da palavra ao texto e deste para toda a andlise ¢ eee ro endlze de gineror o compreens proviugio de géncros testuas. uma forma de chamar a atencio do aluno para areal fun da Kngua na vida dia e nos seus modos de age interagir Nese percurso, notase que a lingua € varivel evariada as normas sramat cals nfo sio tio rigidas © ndo podem ser 0 centro do ensino. Quanto a essas questdes, parece-me que Joaquim Fonseca (1984: 260) nos oferece uma boa sugestio de caracterizagdo da aula de lingua na linha em que nos posicionamos aqui. Para o autor, ela deveria privlegiar, numa base de natureza essencialmente linguistica a preparagio do aluno para 2 produgao gil dos seus diseursos e para a avaliagao «xtica dos discuss alleios — no qe se conseguirs que ele obtenha ura maior cficicia na act social, um maicr sucesso n§ descoberta de si mesmo e na sua intervengdo na pratica social (p, 260 E claro que esta posigao de Joaquim Fonseca, com a qual estou de pleno acordo, traz a necessidade de uma boa formagdo linguistica para 0 professor de lingua materna em qualquer nivel do ensino. Como diz 0 autor (p. 259), tata-se muito mais de se perceber uma linguistica implicada do que uma linguitica aplicada, isto é uma linguistica prévia e sélida que tenha funda- ‘mentos cientificos bem definidos pars poder ser aplicada, No fundo, a aplica 60 seria uma implicacdo pedagésica do ja sabido. Embora eu me decida pela nogio de lingua como um conjunto de prati- «eas sociocognitivas e discursivas, como ainda veremos em detalhe adiante, nio gostaria de deixar a impressio de que ignoto o sistema. Nao existe possi- bilidade de tabalhar a lingua sem atinar para o sistema, de modo que o traba- tho com a gramatica tem seu lugar garantido no trabalho com a lingua mater- na, Assim, concordo com Trandé Antunes (2003:85) quando ela frisa que ‘as pessoas, quando falam, nio tém liberdade total de inventar, cada uma a seu ‘modo, as palavras que dizem, nem tém a liberdade itestrita de colocé-as de qual: ‘quer lugar nem de compor, de qualquer jeto, seus enunciados. Falam, iso, sim, todas elas, conform as regras paticuares da gramética de sua prépra lingua. Isso porque toda lingua tem sua gramtic, tem seu conjunto de regras, independente- ‘mente do prestigio social ou do nivel de desenvolvimento econtmico ¢ cultural da ‘comunidade em que € falada. Quer dizer, nao existe lingua sem gramtica Se alguém é falante de uma lingua, cle domina as regras dessa lingua. O problema é que a lingua nao tem regras tao rigidas quanto imaginamos e pode hhaver alguma variago, mas nao livre nem ilimitada, A gramitica ndo tem ‘uma finalidade em si mesma, mas para permitir 0 funcionamento da lingua Cee ee por parte dos falantes. E como diz Antunes, (2003:89): “A gramética reflete as diversidades geogréficas, sociais e de registro da Kingua’ E claro que a gramética tem uma fungao sociocognitiva relevante, desde que entendida como uma ferramenta que permite uma melhor atua- 30 comunicativa. O problema é fazer de uma metalinguagem técnica € de uma analise formal o centro do trabalho com a lingua. Também nao se deve reduzir a lingua a ortografia e as regras gramaticais. E nesse sentido, temos a ver com uma correta identificagao do que seja a gramética. O falante deve saber flexionar os verbos ¢ usar os tempos ¢ os modos verbais para obter 0s efeitos desejados; deve saber usar os artigos 0s pronomes para no confundir seu ouvinte; deve seguir a concoidancia verbo-nomi: nal naquilo que for necessatio a boa comunicacdo ¢ assim por diante, Mas cle nao precisa justificar com algum argumento porque faz. isso ou aquilo nessas escolhas. O falante de uma lingua deve fazerse entender € no ex plicar 0 que esté fazendo com 2 lingua Aceste respeito concordo com a prof. Rosa Virginia Mattos e Silva (2004:82- 85), quando aponta o valor social que a “consciéneia gramatical da lingua” tem para 0 cidadao. Assim, a primazia do aspecto cogritvo, comunicativo © social ou entao textual discursivo que o ensino assumiu nio deveria obscurecer 6 aspecto sistémico da lingua. Acredito que todos os reducionismos deveriam ser evitados. Nao se deve ignorar que, sendo a lingua um fendmeno social, tudo fo que se acha vinculado a ela tem esse carter, inevitavelmente. O que deve ser evitado, segundo nos adverte Mattos Silva (200485) € “o objetivo pedagégico de catéter preseritivo” como o tinico a ser atingido. ( que nao se pode continuar fazendo € um trabalho isolado num s6 nivel ‘como se este fosse (auto}suficiente. Assim, eu diria que dois aspectos devem ser evitados no trato da lingua: 1. recortes com caracteristicas de autossu! ii, prescrigées de produgo com caracteristicas estticas. prescrig produce 4 Portanto, dizer que a andlise da lingua se limita 8 sintaxe é reduzir a lingua a algo muito delimitado, pois os aspectos textuais e discursivos, bem como as questies pragméticas, sociais ¢ cognitivas so muito relevantes e daf 5. Refirome & obra de Ross Virginia Matiore Silva (2004), “O forty ado dos." Novas frontive,velos problemas. Szo Palo: Pardbola Editovial. Aqui a autora az uma séce de tabalhos crficor bre hii, variaglo ensno de ling portugues, Rae nao se poder evitar de considerar o funcionamento da lingua em textos reali- zados em génerost 14 Noséio de lingua, texto, textualidade e processos de textualizagdo Tal como proposto na introdugdo geral, este curso trabalha a produgao textual na perspectiva sociointerativa, Cabe agora deixar claro 0 que isto signi fica. Para tanto, apresento, em primeiro lugar, uma série de conceitos como base para o restante do trabalho. Assim, num primeito momento, veremos as nagées de Iingua e de texto, o que parcialmente vem sendo feito desde 0 inicio destas notas e deverd persist até o final do curso. Embora ndo seja necessirio, € sempre fundamental explicar com que nogio de lingua se tabalha, quando se opera corn categoria tais como texto ou discus, jé que disto dependerao muitas das posigbes adotadas. Mas esta distingio entre texto e discurso é hoje cada ver mais complexa, ja que em cettos catos sio vistas até como intercambidveis. A tendéncia é ver o texto no plano das formas linguisticas e de sua organizagao, a0 passo que o discurso seria 0 plano do funcionamento enunciativo, © plano da enunciag30 ¢ efeitos de sentido na sua circulagdo sociointerativa e discursiva envolvendo outros aspectos. Texto e discurso nzo distinguem fala e escita como quetem alguns nem distinguem de maneira dicotOmica duas abordagens. Sao muito mais duas ‘maneiras complementares de enfocar a produgio linguistica em funciona mento. As definigées mais comuns para discurso foram © conjunto de enunciados que derivam da mesma formagao discursiva; © uma prética complexa e diferenciada, obedecendo a regras de trans formagao analisaveis; ° regularidade de uma pritica Em todas os casos, abservase que discurso € visto como uma prdtica e ‘nao como um objeto ou um artefato empirico. Parece que esta nogio de pratica € 0 que permitirs levar em conta os fendmenos extralinguisticos para ‘do cair no subjetivismo. 6 Adiant vou chamar steno pst fate den ranaformarmos a aus de Fngua ater ern sults de pag, linguitica de testo, andlie do dscuno ou tora dos gneros txts. Pos isto ‘eri spenaraintodugso de una nova esclstica ou vulgata que ern naa seria melbor que a ater, Primeira Parte | Protestos de produsio textual Entremos agora na anilise da lingua ¢ algumas nogdes que dela se tem dado. A lingua pode ser vista — ¢ foi vista — de varios angulos te6ricos, mas 1nés adotaremos uma posigdo bem definida para o trabalho com a producio textual na perspectiva sociointerativa, De acordo com as diferentes posigdes existentes, pode-se ver a lingue a) como forma ou estrutura — um sistema de regras que defende a autonomia do sistema diante das condigdes de producao (posigio assumida pela visio formalista); b) como instrumento — transmissor de informagées, sistema de codificagto; aqui se usa a metéfora do conduto (posigio assumida pela teoria da comunicagao); c) como atividade cognitiva — ato de criagao e expresso do pensa mento tipica da espécie humana (representada pelo cognitivismo); 4) como atividade sociointerativa situada — a petspectiva sociointeracio- nista relaciona os aspectos histéricos € discursves. (a) Quando vista como uma entidade abstrata, enquanto forma, a lingua 6 cstudada em stuas propriedades estruturais auténomas. Neste caso, € tomada como cédigo ou sistema de signos e sua anilise desenvolve-se na imanéncia do objeto. Esta perspectiva foi inaugurada no século XIX, tendo-se consolida- do com Saussure © Chomsky; nao se buscam explicagdes transcendentes para 0 fendmeno linguistico, desleixando-se © contexto ¢ a situaclo, bem como os aspectos discursivos sociais e historicos. Aqui, hd uma certa dificuldade de ttatar a questo da significagzo e os problemas relativos 2 compreensio. Tam- bem fica muito dificil observar o funcionamento do texto, que ndo é uma tunidade do sistema, pais, como se vera, o texto situase no uso do sistema, tida como um sistema homogéneo composto tada assim, a ling de virios niveis hicrarquicamente distribuidos. Nesta perspectiva, costumnase distinguir niveis de andlise formal. Em geral, os estudos linguisticos nesta Te nha dedicamse aos seguintes niveisestruturas: ’ — fonolégico (cuja unidade € o fonema) — morfol6gico (cuja unidade € 0 morfema) — sintatico (cuja unidade é 0 sintagma ou a oracio) — seméntico (cuja unidade € 0 sema ou © conceito ou proposicao) No geral, os estudos nesta linha nao ullrapassam a unidade maxima da frase, nem se ocupam do uso da lingua. Na maioria dos casos, trabalhamse aqui as unidades isoladamente, fora de qualquer contexto. © interesse central dessa perspectiva € tratar os fendmenos sistematios da lingua. Como se pode depreender destas observacoes, nossa perspectiva nao se identifica com esse tipo de andlise, embora sejam relevantes os conhecimentos obtidos nestas andlises. © problema esté em se imaginar que a lingua seja apenas isso (b) Quanto a perspectiva que trata a lingua como instrumento, a posicao nao patece razoével pelo fato de no atingir nenhum nivel de abstragio dese- jvel e pelo fato de desvincular a lingua de suas caractersticas mais importan- tes, ou seja, seu aspecto cognitivo e social. Além disso, tem como consequén- cia @ideia de que a lingua é um instrament transparente e de manuseio n30 problematico. A compreensio se torna algo objttivo e a transmissdo de infor- magées seria natural. Essa perspectiva € pouco util, mas muito adotada, especial pelos manuais didaticos, ao tratarem os problethas da compreenséo textual. Esa posigdo € muito comum nas teorias de comunicagio em geral. E uma das visbes mais ingénuas, (c) Tomando esta posigéo de mancira radical, enfatizando a lingua como aividade cognitiva ou apenas umn sistema de representagdo, pode-se incorrer no Fisco de uma ontra reducao,que confina a lingua a sua condigio exclusiva de fendmeno mental c sistema de representagao conceitual. Neste caso, como ‘corre em boa parte dos cognitivismas contempordineos, terfamos dificuldades de entender como € que a cultura, a experigncia e nossa realidade cotidiana passam para a lingua. A lingua envolve atividades cognitivas, mas nao é um fenémeno apenas cognitivo, Pos 0 paradoxo que surge quando se toma a lingua como um fendmeno apenas cognitivo ¢ o de ndo se conseguir explicar seu card ter social, if que a cognigao admitida nessa teorias é um fendmeno nao socal De qualquer modo, 0 cognitivismo que vamos aqui admitir é o defendido pela hipatese sociocognitvista, que nao se confina na imanéneia do eérebro nem pro- pée a lingua como um fendmeno biolégico (restrto 3s sinapses cerebrais). 4) Essa posigdo toma a lingua como uma atividade sociohistériea, uma atividade cognitiva ¢ atividade sociointerativa, Na realidade, conterpla a gua em seu aspecto sistematico, mas observa-a em seu funcionamento soca cognitivo ¢ hist6rico, predominando a ideia de que o sentido se produz situadamente e que a lingua é um fenémeno encorpado e nao abstrato ¢ auto. rnomo. Nao ignora a forma sistemitica nem deixa de observar a regularidade sistematica. Assim, essa visio deveria receber uma série de esclarecimentos, para poder tornar-se produtiva. Ela serd adotada neste longo da abordagem feita a seguit utso e explicitada a0 eee ‘Assim, a postura geral aqui adotada pode ser caracterizada como textual- discursiva na perspectiva sociointerativa, isto é, consideramos o texto em seu aspecto tanto organizacional intemo como seu funcionamento sob © ponto de vista enunciativo. Uma excelente abordagem nesse sentido pode ser vista nos trabalhos de Ingedore Koch, em particular em seu livro sobre as atividades tex- tuais na perpectiva cognitiva e enunciativa, que ainda sera tratada adiante” 1.5 Aprofundando a nogio de lingua por nés adotada Umma vex feita a discussio tesrica acima, podemos indagar qual a posigso a ser adotada. E esta a questio a que nos voltamos a seguir. Na realidade, nosso trabalho se dard na perspectiva (d), chamada textual- interativa. Nesse caso, nio se deixa de admitir que a lingua seja um sistema simbolico (cla & sistematica ¢ constituise de um conjunto de simbolos orde nados), contudo ela € tomada como uma atvidade sociointerativa desenvol da em contextos comunicativos historicamente situados. Assim, a lingua é vista como uma atividade, isto é, uma prética sociointerativa de base cognitiva © histérica, Podemos dizer, resumidamente, que a lingua € um conjunto de pré- ticas sociais e cognitivas historicamente situadas. Podemos dizer que as linguas si objetivagbes histiricas do que € falado Tomo a lingua como um sistema de préticas cognitivas abertas, flext- veis, criativas e indeterminadas quanto & informagio ou estrutura, De outro ponto de vista, pode-se dizer que a lingua é um sistema de priticassociais ¢ hist6ricas sensiveis a realidade sobre a qual atua, sendo-the parcialmente prévio e parcialmente dependente esse contexto em que se situa. Em suma, a lingua € um sistema de praticas com o qual os falantes/ouvintes(escritores leitores) agem ¢ expressam suas intengdes com agoes adequadas aos objeti vos em cada ciccunstincia, mas nao construindo tudo como se fosse uma pressio externa pura e simples. , Podemos lembrar aqui mais uma vez a posigao de Batists (1997: 21) quando ele afirma 7. Refirome 20 liso de ingcore Vilaga Koch (2001). Denvendando oe segredos do eto. S30 Paulo: Cota leitura dese lio € aqui enticamenteaconsclhads poe set exemplar no modo de trata bon pate dos procestos de orgunizagao «conduc pica e aspects da produ de sentido com 8 andfocs dite acinar sdivtas, See ee Nalinguagem e através dela, portanto, constituise nfo s6 uma determinada organi zacio da experigncia do real, mas também determinados lugares para os inteocutores ‘edemarcadas rlagées entre ees Veja-se 0 cas0 do uso dos pronomes: um eu marca a posigdo pessoal ¢ 0 voe@ indica que o eu nfo esté ineluido e a imagem que produzo é de um outro, O nés inclui a mim e 2 imagem no secé a mesma que as duas anterio- res: 0 nés inclui 0 eu ¢ 0 outro. As identidades construidas e subsumidas no caso dos quantificadores para grupos, por exemplo, todos, alguns, nenhum, poucos ¢ assim por diante, refletem mais do que simples agrupamento, pois envolvem também a construgao de imagens. Portanto, como lembra Batista (1997; 21-22), “falar € agit” tanto sobre si, coqo sobre os outtos e sobre o ‘mundo, Falar nao € apenas comunicar algo e sim produzir sentidos, produzir identidades, imagens, experiéncias ¢ assim por diante. Certamente, quando estudamos o texto, nao podemos ignorar o funcio namento do “sistema linguistic” com sua fonologia, morfologia, sintaxe, léxi- co e semantica; neste caso estamos apenas admitindo que a lingua nao é ca6- tica sim regida por um sistema de base. Mas ele nao é predeterminado de modo explicito e completo, nem ¢ autossuficiente. Seu funcionamento vai ser integrado a uma série de outros aspectos sensiveis a m itos fendmenos que nada tém a ver com a forma diretamente. Nao obstante a visio acima defendida, é bom ter presente que ha varios aspectos do funcionamento da lingua que sio mais bem explicados quando os ‘observamos no nivel do sistema. Por exemplo, a variacao linguistica pode ser explicada na correlagao com fatores sociais, mas as fenémenos que sistemati camente variam so estraturais,tais como os fonolégicos e os morfol6gicos Assim, quando se fala em uso e fungao, no se ignora a existéncia de formas. Apenas frisase que as formas nao sao tudo no estudo da lingua e que as formas 6 fazem sentido quando situadas em contextos sociointerativamente relevan- tes. Esta € a distingao com Chomsky, que julga ser préprio da linguistica ape- ras 0 estudo da realidade mental da lingua ¢ no o scu aspecto externa, ou seja, 0 funcionamento na sociedade e nas relagées intersubjetivas Uma das tendéncias mais comuns na linguistica do século XX, até recen temente — tipica do estruturalismo —, foi centrarse no estudo do cédigo, isto € na andlise de propriedades imanentes ao sistema de signos da lingua. Trata- vase do que podemos chamar de uma linguistica do significante. Assim, surgi ram os conhecidos niveis de anilise linguistica, tais como 0 fonolégico, 0 eo morfolégico, o sintatico e 0 seméntico. Cada vez mais essa petspectiva foi cedendo lugar & ideia de que néo se pode abordé-las isoladamente. Ainda continua um tanto obscuro, nessa perspectiva, estabelecer uma “ponte” clara de unido ou processamento integrado desses niveis num todo, sem mencionar 2 dificil assimilagao do aspecto pragmitico da lingua. Este em geral no é considerado um nivel de andlise da lingua e sim um plano do uso Nas iltimas décadas, com os estudos levados a efeito pelos tedricos do texto, do discurso e da conversagio, que observam a lingua em funcionamento a partir de suas eondigdes de produgdo e reeepedo, dewse uma guinada na tendén cia “oficial”. As teorias que privlegiavam 0 cédigo (0 signficante) como objeto de andlise ¢ viam a lingua como um sistema de regras estruturado ¢ determina- do, nio tinham condigio de se fazer indagagées relevantes sobre uma série de aspectos, por exemplo, a relagZo entre a lingua falada e a lingua escrita. Nem podiam indagarse sobre os usos sociais da Iingua. A centragio do estudo no cédigo ndo podia enfrentar a variago e a producao de sentido em qualquer aspecto que se manifestasse, seja nas for as linguisticas ou na significagio. A nogdo de Hingua aqui adotada admite que a lingua € variada e varidve, ou seja, supde uma visio nio monolitica da lingua e contempla pelo menos lués aspects dessa variagdo ou heterogeneidade, tal como lembra Renate Bartsch (1987: 186-190): (a) heterogencidade na comunidade lingufstica (a populacto nao € homo- génea ¢ fala de forma diferenciada com variedades dialetais regional- ‘mente caracterizadas ou vatiedades socias socioculturalmente marcadas) (b) heterogencidade de estilos ¢ registros numa lingua (na linguagem do diaadia, temse estilos mais informais e na linguagem cuidada ou técni- ca temse estilos formais; também observars registros de vérios tipos, sendo que um falante pode dominar varios deles simultaneamente);, (c) heterogencidade no sistema linguistico (a lingua no tem um sistema ‘ou 0 sistema, mas diversas sistematizagdes complementares, sabi postas ou concomitantes, hoje conhecidas como ‘regras varidvei’ seja na fonologia, morfologia ou semantica). 8 Antes quose caa em equivocoremhentendidas quanto ao emprego da paavea “uso” ser il seta que ao etal de uns nog inrumental de so. Uso aqui € uma nog que apenas iemibra 0 fancionamento da lingua en seus conteatos cu no plano da enunciagzo. Nao un uso instumental isi fou cao que nota visto de ingua da 2 contempls coma ge la ose un intent, Lr ee ed Eve aspecto da Iingua enyuanto hetevogenea sugere uma comprecnsso de lingua diferente daquela com a qual os manuais didaticos em geral operam ‘Assim, podese admitir que: A lingua & um sistema simbélico geralmente opaco, ndo transparen- te ¢ indeterminado sititica ¢ semanticamente © A lingua nao é um simples c6digo auténomo, esruturado como um sistema abstrato e homogéneo, preexistente e exterior ao falante; sua autonomia € relativa A lingua recebe sua determinacio a partir de um conjunto de fatores definidos pelas condigdes de producio discursiva que concorrem para 1a manifestagdo de sentidos com base «gn textos produzidos em situa {es interativas. AA lingua & uma atividade’ social, histrica e cognitiva, desenvolvida de acordo com as préticas socioculturais e, como tal, obedece @ convengdes de uso fundadas em normas socialmente instituidas Com a concepeao de lingua aqui sugerida, pretendo deslocar o inte- resse do cédigo linguistico (imanéncia das formas) para 0 funcionamento da lingua ou, numa formulagdo mais comum, para a anslise de textos e Aiscursos (em certo sentido, o plano da enunciagao). Isso tornara possi vel observar 0 que fazem os falantes com/na/da lingua e, principalmente, ‘omo se dio conta de que esto fazendo uma determinada coisa com a lingua. Também permite trabathar as relagdes entre oralidade ¢ escrita!® 9 Parcialente, mas no mais que io, pode der que ess nagto de lingua assemelhase so que postulas Wilhelm von Humbelde quando diis que a lingua ea enereia (atvidade, proceno, 0) nfo ergom (produto). Segundo muito bem nots Fuace (2004), para Humble, gem e pensamento constiter uma unidede. Nese sentido, a lingua nfo éentendida como pena 2 manifesto eters do pensamento (algo que vem depois do pensamento) mas aquilo que Stora posse Ele ter, nese sentido, um carter consititivoviabilzando a elboraczo.concitale stator citves da ments E porto que Humboldt afma que a lingua € um proces, uma atidade ‘negca) eno um produto ergon)” Na verde, lingua seria uma alvidade mental para Humboldt ‘Mo um sistema gramatical, Por outo lado, nto € nada interestante pensar na lingua como lzia A 521-1867), que 2 considerava como um organism vito com existénca propia, que narcia, deenvolviase © mora. Testeae de uma anttopomorfzagio que leou 3 descigto de Snores {enealigea do indo europe, ‘ome ete nose pode tabular tudo. Mas seria conveniente considerc que express oalidade eal’ de ldo, Ietramento'e ‘exert de otto. uma pritica social no winds Kngua,enquanto al seria fora asuenida pela expresso ata Oetrament, por su ver seraa prtica socal dour dio da exrtnem eventos comunicaios, Enquanto a exrita seria a fouma de manifestegso do letramenta enguanto ateidade de textalizagto Para maioresdetaes, folio de Lue Annio Marcuschi (200). De fala para a esr: ethidades 4 etetuaizapdo, Sto Paulo: Cones, Primers Pete | Protessos de produyio textual como duas modulidades cuunciativas coniplementares dentro de um con- tinuo de variagaes. Com relag peténcias discu linguie ao ensino, essa posicio condusied ao desenvolvimento de com ivas funcionalmente adequadas. E, nesse caso, a competéncia , enquanto dominio de formas, passa a ser um subconjunto dos fatores de adequacao. Assim, a énfase na gramdtica pode ser minorada na diregao de uma perspectiva mais funcional e sociointerativa no funcionamento da lingua, Gom hase no que vimos até aqui, pademos dizer que: a) a lingua se manifesta plenamente no seu funcionamento na vida dis- ria, seja em texlos trviais do cotidiano ou prestigiosos © candnicos que persistem na tradigéo cultural; b)_ 0 uso da lingua se dé em eventos discutsivos situados sociocognitiva- mente € no em unidades isoladas, ) a lingua, enquanto sistema formal, acha-se impregnada pelo discurso; 4) muites fendmenos relevantese sisternticas no funcionamento da Iin- gua io propriedades do discurso e ndo podem ser descritos © expli- ceados com base apenas no sistema formal da lingua; €) entre os fendmenos relevantes, comandados pelo funcionamento da Hingua estio as relagdes intrfrsticas que ndo se esgotarn nem se escla- mbito da frase; por exemplo: as sequéncias cone sequéncias anaféricas, as clipses, as repetig8es, 0 uso dos artigos et. as sequéncias de enunciados num texto nio s8o aleat6rias, mas regidas por determinades principios de textualizagio locais ou globais; £) um texto nao se esclarece em seu plano funcionamento apenas no Ambito da lingua, mas exige aspectos sociais e cognitivos. Portanto, vamos admitir que a lingua é uma atividade interativa, social ¢ mental que estrutura nosso conhecimento e permite que nosso conhecimento seja estruturado. Enquanto fendmeno empirico, a lingua no & um sistema abstrato € homogéneo, mas é: fe hheteroge 7 ace aC jeterogénea indggrminada | | scl ear | | historia interativa i I gina situada | ‘Quando dizemos que a lingua no € determinada, isto significa que nso existe uma determina ie fina apriica, seja no aspecto sinttico ou sem: co. Portanto, uma mesma forma pode funcionar com virias significagoes, de ee ed maneira que nao hé uma determinagao seméntica proveniente do proprio sistema linguistico. De igual maneita, podemos ter varias opgoes de determi nagio sintética para uma dada construczo, s0 de Eternamente (¢ ter na mente, ter na mente, é temamen te...) € 05 mais diversos casos de ambiguidade, sejam eles de natureza sintitica ‘ou semaintica, como esta manchete do Drigio DE PERNAMBUCO em primeira pagina (13/05/20004}. Frau na fo € ivestigada no Detran de Pernambuco Como devemos entender esta manchete™ 1 Tratase de fraudes cometidas (pelo Detran) no Rio que agora sexa0 investigadas pelo Detran de Pernambuco? ou 2. Tratase de fraudes cometidas pelo Detran do Rio com ramificagio em Pernambuco? Somente a letura do testo que segue a manchete permite esclarecer a situagdo, ey Fraude no jo investigada no Detran de Pernambuco Fraude no feenckamento de veiuos no Ro pode ter ranificacio em Perambuca © em mis ‘quatro estados, 0 esquoma simula vistrias nas caros fora do estado de origem. we Pose ee, E04 Outro exemplo de ambiguidade seria 0 contido na manchete do Diswo De Perameuco (02/11/2005) em que se lia a noticia abaixo, & primeira vista com duas possibilidades interpretativas. Poderia ser tanto a crise na televisao come a erie no Govero Lila. $6 a letra daia uma respsta, mas cetar | mente, quem vivia 0 momento histérico brasileiro poderia logo saber que se tratava da erise no Governo Lula com as varias CPls em andamento naquele momento. Veja-se a noticia PRESIDENTE ACEITA FALAR SOBRE CRISE NA TV Lua entra io ao fla Via sepa fra grate qe i cr de responder nents | perunta BUSI - Ags seis meses de negoiges, 0 presidente uz nico ua da Siva cnfimou ‘ontem a patcipado no programa de entrevista Rode Vira, da TV Cultura na pexima segunda fei. Lula sero segundo presente a dar entrevista ao Rode Vita wo exerciio da manda, Primelra Porte | Processes do produsdo textual (0 primeio foi seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, Segunda Markun, que negocbu a entrevista diretamente com Lula o presidente disse que no quer falar s6 de crise. mas também de economia e quero dard nenhuma pergunta sem resposta. /a! Pode-se admitir, ainda, que a lingua é uma atividade cognitiva. Pois ela nao é simplesmente um instrumento para reproduzir ou representar ideias (ois lin bém muito mais do que um veiculo de informagées. A fungio mais importante € muito mais do que um espelho da realidade). A lingua € tam- da lingua nio é a informacional e sim a de inserir 05 individuos em contextos sociohistéricos e permitir que se entendam. Finalmente, postulamos também que @ lingua é uma forma de ago, ou seja, um trabalho que se deseavolve colaborativamente entre os individuos na sociedade, Nesse caso, a pragmatica, como sociopragmtica, passa a ter um papel definido ¢ claro no processo de producao textual, pois € um dos determinantes das condigoes de produgao. Hi ainda um aspecto interessante a respeito da ideia de que a lingua é uma forma de agao. Nao se deve entender isso como se fosse uma ago voluntatista, particular, consciente e plenamente individual, como postula a pragmética tr dicional dos atos de fala. Sempre estamos inseridos num contexto social e em alguma instituigdo cujos contratos somos obrigados a seguir sob pena de sermos punidos de alguma forma. As inslituicbes, as ideologias, as crengas ete. slo for (0 permitem a0 individuo agir como uma ‘mas de coersio social e politica que centidade plenamente individual, Nao somos mais sujeitos cartesianos monolttices, integrais e indivisiveis, que persistem & margem do corpo e dele se desgarram como uma alma que volta para a divindade. Nao se nega a individualidade nem a responsabilidade pessoal, mas se afirma que as formas enunciativas e as possi- bilidades enunciativas nio emanam de um individuo isolado e sim de um indivt duo numa sociedade e no contexto de uma instituigao. ‘Tomemos um exemplo: quando alguém assume um cargo oficial no go- verno, pode ter, pessoalmente, uma série de posigdes que receberdo, num dado momento, coergées institucionais, ¢ ele vai deixé1& de lado para repre- sentar 0 papel que nesse momento The é exigido por pertencer aquela insttui Glo. Asim, nem sempre se pode tecriminar quando alguém “muda de opi nilio” go assumir uma posigio olicia, pots ele passa a fazer parte de um corpo maior do que ele e suas erencas pessoais. So novas condigdes de produgso discussva que entram em jogo. Um ato linguistico pode ser formalmente igual do ponte de vista do enunciado, mas, do ponto de vista de sua significagao € ee de seus efeitos, ele seré bem diverso, a depender do lugar que 0 condiciona, isto é, das condigles de produgio em que foi realizado Nao nos aprofundaremos ness: ponto, pois ito deve retomar mais adian- te a0 trabalharmos 0 aspecto da campreensio textual. Ali veremos que uma anélise textual bascada no eédigo nio tem condigées de incorporar a prod 0 de sentido, nem tem condicdes de perceber as efeitos de sentido a partir de lugares enunciativos diversos ou de crengas diversas. E, por isso que o Foco deve sir do eédigo para o discurso. Temos de ir do enunciado para a anunciagao ¢ para o funcionamento da lingua. Mas antes disso, seria bom dar uma breve olhada na nogio de sujeito, um termo central vitias vezes empregado nessas reflexdes € nunca pensado em suas propriedades centrais 1.6 Nogéo de sujeito e subjetividade Para muitos autores, areflexdo sobre o funcionamento da lingua em socie dade depende da nogao de sujeito que temos. Assim, tudo indica que um dos pontos centrais que distinguem as vatias correntes de AD (e por extensio, qual: ‘quer teoria Tinguistica) passa pela nocdo de sujeito. A questi é: 0 que carac terizaria o sujeito enquanta ser humana? Sua natureza, os aspectos sociais ou 6s fatores ligados ao inconsciente’ (cf. Possenti, 1993)". Para Possenti (1993), tratar do sujeito & responder a questo da relacao entre quem fala e o que ¢ falado. E neste caso temos Wes cespostas possiveis (ef Possenti, pp. 15-17), que reporto equi para discussie: (1) numa delas se responde a séra “eu flo”, isto é,acreditse queo falante agrega 20 cenunciado que produz numa determinada instinciaalgum ingredienterelevante para a interpretacio, Em outraspalavra,ofato de o falante ser ur ou outeo pode io ser indiferente. O modo mais lementar dese argumentar em fvor desta tse € dizer que ‘enunciados como “eu estou aqui” sé podem ser interpretados considerando-se sua ‘enunciagdo e que esta envolve erueialmente ofalante. Diz-se, em casos como estes, numa certatradigao (Benveniste, pex.), que este enunciado ess marcado pela subi tividade, que por isso cle €disoursa. O mesmo se dem casos como “infelizmente,p” ‘ou “talvez p”, em que se interpreta “infelizmente”e"talvea" como sendo 0 ponto de vista do locutor sobre p. Matcas de subjetividade, portanto./ Uma outra forma de 1. Refirome ao texto de Sitio Posent (1993). Concepodes de sjtto ma linguagem, Boletim de Abvaln, 13, do Paulo: USP. pp. 133, Primeira Parte | Provessos de produsao textuel considerar da maneita acima definia @relagao do enunciade com o falante &a que invoca a relevancia da intengéo do falante ao dizer algo através de um certo enuncie do, Se compreender é descobit a intencio do falante [..] tem-e que aceitar que de cetta forma o sujito da enunciagao ¢ responsivel pelo sentido. Para os adverséios desta hipstese, esta maneira de vers relagdo do sueito com a lingua implica aceitar que a lingua esta a disposigao de individuos que a utilizats vou ve ela nao tvesse histéria[.] Una caracteristica importante desta concepgio € a de que se acentua 0 predominio, x nfo a exclusvidade, da consciéncia individual no uso da linguagem, Em outras palavras o falante sabe oque quer dizer e sabe qual a melhor maneira de fazé-lo para produzir os efeitos que quer. [..] Os adversitos desta concep dizer que e confere 20 sujeito da enunciacHo, desta forma, o estatuto de fonte do sentido, {.-] 0 cortelato politico desta concepcdo de sujeito na linguagem seria a ideologia liberal, segundo a qual os individuosfazem o que querer nahistra. [| Osujeito faz ahistra, assim como produ sentidss. A Kingua nfo sera um entave a suas intengbes, Esta concepoio inscreve se “numa flosfia do sujeite neuro, ranspatente si préprio (uma filosfia de antes da descabet reudiana), e naquela de um sujeto erm determi rages socioideoldgicas (uma flosfia de antes de Mary). (2) Contra ideia segundo qual ofalante pode controlar sentido de seus enuncia dos exguem se (..] eoncepedes segundo as quai 0 individuo no 6 bem como se pensava até eno que fosse. Sua censciéneia, quando existe, é produzida de fora e le pode ndo saber o que faz 0 0 que diz. Uma das mancitas de assnalaradiferenga de concep & substituir a expressio “eu flo” pela expressto “fala-e", para dar conta da relago entre aquele que fala ¢ 0 que é falado. Nesta expressio, o “se significa que quem fala de fato€ sempre um sujeito anénimo, social, em celago 30 {qual o individu que em determinado momento ocupa o papel de locutor é depen: dente, epetidor, etc. [..] Ox provisbios sia talvee os melhores exemplos, mas hi outros tantos entinciados como “fumat faz mal &saide, 0 leool faz. mal a0 corpo e a0 espirito, 0s politicos so todos iguais, garde mulher éna cozinha, preto quando no faz na entrada faz na sada, et... Assim, € dif encontrar um enunciado que jd nfo tena sido dito. Tudo fh dito. [..] Fiea claro, asim 0 que quer dizer “sujeito€ falado,assujitado”; hd uma estrutura que fala através de individuos que so levados a ocuparnela determninadas posigdes a parti las quais podem e deve dizer certas coisas e nfo outas. Oindividuo que fala é sempre potta-voz. Vooe nao fala, 6um discurso anterior que fil através de voce. O padedepete, ojuizrepete, 0 advogado repete,o profesor repete, os escritores se repetem, a literatura diz sempre 1 mesma coisa a piadas veiculam sempre o mesmo ponto de vista. ..] A fonte do sentido & a formagdo discursiva a que o enunciado pertence (se puder pertencer a ‘mais de urna poder ter mais de um sentido... 3) A pricandlise, por outro lado, nos mostra que quem fala € nosso inconsciente, {que is vezes rompe as cadeias da consura e diz 0 que 0 ego ndo quer. Nesta posigo, ee responderseia que €0 isto" ou oid que fala, Osujeito, neste caso, de novo, nto é consciente, nfo control o sentido do que dz. Freud (1905) em seu Pricopatologia da vida cotidiana nos dé exemplos interessante _) durante uma tempestuoss ssemblcia,ocoondcnador dine: “agora remo tele (brigat, [erm verde shreiten (prosseguit)} no quatt iter da agenda” (p. 95) ’b) um senhor conversava com uma senha e the perguntou: “a senhora vi a expo- siglo (Auslage) na Wertheicr? © lugar esté completamente decotade (em vez de decorado} (p.%6). Seguramente, a concepgéo de sujeito aqui adotada nao € a (1), que sue poe um sujeito humano em carne € os, intencional, consciente e com uma linguagem transparente que ndo Ihe oferece resistencia. Mas também ndo ser a do sujeito (2) nem (3) pura e simplesmente, pois ndo se pode admitir um “sujeito assujeitado” e que ndo tenha vontade, nem um sujeito que seja 56 inscrigao na historia eno inconsciente. O sujeito de qué falamos aqui é aquele que ocupa um lugar no discurso e que se determina na rela¢ao com o outro. O estruturalismo expulsou sujeito da lingua ¢ enfatizou o sistema ja que, como lembra Possenti (p. 20), a lingua tem um fancionamento que independe do falant,independe do indivi duo, é social. é um sistema autosufciente.E por ser autosufciente do por ser social, que independe do indviduo. Por det dela no esto fants, motivagbes, ete, eto outasexturas Para os marxistas, isto sigificava eliminar a histéria € os condicionamen- tos superestruturais e ao mesmo tempo eliminava a préxis. O problema do csiruturalismo € sua concepeao de lingua como externa a0 sujeito que é seu produto, sendo cla transparente ¢ auténoma. O sujeito teria morrido nesse «caso e nao seria um autor, tal como ja postulavam Foucault ou Barthes. Como autor, 0 sujeito é, no méximo, dono de uma “fala”, mas esta nfo € 0 objeto da linguistica e é um exterior. Em suma, pode-se dizer que 0 sujeito nao € nem assujeitado nem total mente individual e consciente, mas produto de uma clivagem da telagio entre linguagem ¢ histria, Em nao sendo totalmente livre, nem determinado por alguma esterioridade, o sujeito se constitui na relagio com 0 outro ¢, como lembra Possenti,citado acima 0 sujeito nio & a tinica fonte do sentido, pois cle se inscreve na historia e ne lingua ‘Tema interessante neste contexto © que nao sera aqui aprofundado, é a questio de como se da a subjetividade na linguagem. Para tanto, podemos Pee oe remontar a Emile Benveniste (1976) em seu famoso trabalho “Da subjetivida- de na linguagem”™, para quem 4 na linguagem ¢ pela linguagem que a homern seconstitui como suieito: porque ss alinguagem fundamenta na realidade, na sua ea idade que éa do set, oconceito de “ego” (p. 286). A subjetividade é 0 que 0 autor chama de “capacidade do locutor se propor como ‘sujeito”. Trata-se da emergéncia do eu no seio da Tinguagem, ou seja, “é 0 ‘ego’ que diz ego” (p. 286). Mas este eu se determina na relacio com 0 tu, como ja dissemos, pois 4 consciéncia de si mesmo s6 é possivel se experimentada por contraste. Eu no ‘empregoeu ando ser diigindo-mes alguém, que er4 na minha alocugao um tu Essa condigo de dislogo € que é constitutiva da pesse, pois implica em reciprocidade — que ev me tome tu na alocugdo daquele que porsua vez se designa por eu (p. 286), taste com um tu, Assim, a subjetividade nasce no sei da intrubjevidade Eset axpectos vio se tomar relevantes no tralamento do texto quando se ob- sewar 0 funcionamento dos diticos (este, aqui agora, hoje ele.) sejam de Tuga, tempo, pessoa ou mesmo a modaldade eos tempos verbal, Estas questdes deverio retornar em dois momentos: (a) quando nos voltarmos para © funcionamento dos pronomes no texto € {b) trabalharmos a compreensio textual. 1.7 Nogéo de texto e linguistica de texto ‘Todos nés sabemos que a comunicagdo linguistica (e a produce discursiva ‘em geral) no se dé em unidades isoladas,tais como fonemas, morfemas ou pala ‘ras soltas, mas sim em unidades maiores, ou seja, por textos. Eos textos 520, a rigor, 0 Gnico material lingusstico observivel, como lembgam alguns autores. Iso quer dizer que ha um fendmeno linguitico (de carster emunciativo ¢ no mera ‘mente formal) que vai além da frase e consltui uma unidade de sentido”. O texto 12. Emile Besvenit (1958 1976), Dasubjetivdaderalinguagern. In: Problema de fingutica geal Moi I Sto Paulo: Companhia Edtora Nacional e EDUSP, pp. 284293. 13. Quanto 4 problems de se considerato testo ums unidade de andise ou nto, podem se nat as obuerragtes de Anne Reboul & Facques Mocicller (1998). Pragmtique de dicour. De ee rd € 0 resultado de us ayao linguistica cujas fronteiras sao em geral definidas por seus vinculos com 0 mundo no qual ele surge ¢ funciona, Esse fenémeno no € apenas uma extensio da frase, mas uma entidade teoricamente nova (como ja disse Charolles). Exige explicagdes que exorbitam as conhecidas anilises do nivel morfossintitico ( texto pode ser tido como um tecido estruturado, uma entidade significa tiva, uma entidade de comunicagdo e um artefato sociohistérico. De certo modo, podese afirmar que o texto € uma (re)eonstrugio do mundo e no uma simples teftagdo ou reflexo, Como Bakhtin dizia da linguagem que ela ‘refiata’ o rnundo € no reflete, também podemos afirmar do texto que ele refrata 0 mundo na medida em que o reordena e reconstiéi. Neste guts, vamos nos dedicar a essa entidade comunicativa que forma uma unidade de sentido chamada texto. Tan: 0 0 texto oral como 0 escrito, Pois oralidade ¢ eserita'* so duas modalidades discursivas, igualmente relevantes e fundamentais, como ainda veremos adiante. Aqui, enuncio brevemente a nogdo de texto que vamos adotar neste cur s0. Ela foi desenvolvida por Beaugrande (1997: 10) e postula que: “0 texto 6 um evento comunicativo em que convergem gies lingistcas, sociise cognitive ——i “Muitos sio os aspectos que devem ser aqui tatados para dar conta desta definigdo. Em resumo, ela envolve tudo que necessitamos para dar conta da produgio textual na perspectiva sociodiscursiva interpretation de Vénoncé 3 Fnterpétaton du dicour, Pars: Armand Colin em epecal pp. 2 femquese disate que ipa de unidade€o texto. Pars ot autores (p25), existe tres pos de onidades linguistic ()unidoder indivi (or exemplo: nem) ()unidaderemergente compote (por exemple: movers) (c)unidader mate gue emergem pelos egy (po exemple fess) texo no neahumna deste fo pode do oro uma unidade Hinges para exes autres, Para eles (p 26), "o oscurso tem caacterisicas que no se explicam peor elementor que 0 comptem e pele rclgbes enti aes elementor™,Aquetio € muito complena endo pode ser a9 ‘um pont of autores tm rato. Nio se pode dizer que texto ej uma tesoida, no entant, 0 tipo faze ov rmorema sata ete, Ca ome aim, poderiamosdacihe una gama rigors de bos frag, © que nio é possel em hipétse alums. Asim, no cao do texto, etamor diate de oma unidade procesua, una unidadesemsntica, m evento 1, Sugiocuidide com o se da expresso “everita’, qu quiet sendoempregada de manera téenica.Refr-me, neste momento, ao problemas de order lingua er sentido ins ret, HS sums expresfo que hoje trou cornu le un so mito mas amplo, tog, letromento, Com expresioletramento time em mente 0s vs0ssociis da eserta nua dada sociedade. Nao hé wm letamento apenas, as sim um contious de leteamentos. & maida que oimples dominio ds exerts foxmal. Nao se confunde com 2 lfbetizaio nem com ous da eset pends Na segund cna, eremoroportinidede de dst alguns aspectos a ese respi Primeira Porte | Processos de produsée textual A lingusstica de text (doravante tr}, surgida nos meados dos anos 60 do século XX, trata hoje tanto da producto como da compreensio de textos raise escrtes c, 56 se oeupasa dos textos escitos e com o processo de produco. Seus interescs e objetivos ampliaram-se muito nos anos 90. Para uma boa informagio sobre 0 desenvolvimento da LT nos ilimos 30 anos, veiamse os trabalhos de Marcuschi (1983), Ingedore Koch (1999) e Anna Christina Bentes (2001), Thiciakmen Sob um ponto de vista mais técnico, a ut pode ser definida como o estu- do das operagées linguisticas, discursivas e cognitivas reguladoras ¢ controladoras da produgao, construcao e processamento de textos escritos ou ‘orais em contextos naturais de uso ‘Acer parte da premisa de que a lingua nao funciona nem se dé er unidades isoladas, tis como os fonemas, os morfemas, as palaras ou as fase soltas. Mas sim em unidades de sentido chamadas texto, sejam elas textos orais ou escrito A mativago inicial da ur foi a certeza de que as teorias linguisticas trad cionais no davam conta de alguns fendrmenos linguisticos que apareciam no texto, E estes fenémenes eram resumidos numa expressio quase magica: rela- es interfristicas. Constatavase que certas propriedades lingutsticas de uma frase s6 eramm explicdveis na sua relacio com urna outta frase, © que exigia uma teoria que fosse além da Tinguistica de frase. S6 assim se explicaria a andor, as propriedades textuais do artigo e também o problema da elipse e repeticdo, entre outtos. Contudo, se no inicio da Lr 0 argumento era a necessidade de desenvolver uma gramitica transfréstica, hoje © argumento pata se prosseguir no desenvolvimento de uma Ur jf € outro, Hoje nio se fala mais em gramdtica de texto. Essa nogo supunha que seria possvel identificar urn conjunto de regras de “boa formagao textual”, 0 que se sabe ser impossicel, pois o texto nao é uma unidade formal que pode ser definida ¢ determinada por um conjunto de propriedades puramente componenciais e intrinsecas. Também nao é passivel dar um conjunto de r Imaginemos a dificuldade que tesfarnos de propor regras para a produgio de todos os generos textuais, ou entdo as vegras para obter efeitos de sentido especift- regras formais que possam gerar textos adequados. 15 Além dese ext, pole se le, sabe as ooghes de ure texto os etuds de Leonor Fivero Koch (1953), Ling textual, S50 Paulo: Corea, Tmbem owabalo de handé Antunes Recife: Editor da UPPE. Recenerents, si obeo mesmo tera tabalho de 2115), Luter om pales, Coed cornea, S30 Paulo: Parsbols Editorial ee ee eee cos; ou as regras para sequenciar contetidos ou dar saltos tematicos, produzir digressBes ete. O projeto seria impossivel einvidvel. Foi isto que levou os gramaticos do texto a desistvem da ideia. A teoria textual & muito mais uma heursica do que tum conjunto de regeas especificas enunciadas de modo explicito claro. Diner que os critérios definidores das propriedades de um texto sio heursticos equivale a propor que sejam indicativos e sugestivos para permitir a producao e a compreensio, mas nao regras rigidas e formais como condic necessarias € suficientes pata a boa-formacio textual. AL, abordada em sentido estito, € algo bem diverso da andlis literdria: também é diferente da retérica e da estilistiea, embora evidencie parentescos com ambas. Configura uma linha de investigac3o interdiseiplinar dentro da linguistica e como tal exige métodos e categotias de varias procedéncias. Hoje € a perspectiva que vem fornecendo a base tedrica mais usada no estudo da lingua em sala de aula. Mas no se pode imaginar que haja apenas uma LT. A questio 8 qual devemos responder & como e onde situar 0 texto nos estudos linguisticos, fd que as definigées de texto nao fazem aluséo a nenhum dos niveis linguisticos de andlise? O texto esté no nivel do sistema ou € sim plesmente um fendmeno do funcionamento do sistemna? Aqui, as posigdes te6 ricas tém variado. Segundo Ferdinand de Saussure [1916], por exemplo, a frase no € uma tunidade da langue ¢ sim da parole (do uso, da fala}; Noam Chomsty (1965] ¢ [1986], por sua vez, jé tem cupagio se volla para a competéncia linguistica ideal ¢ abstrata e no para a frase em uso). A Chomsky, como vimos, ndo interessa 0 desempenho. a frase a unidade bisica da lingua (mas sua preo- Assim como a linguistica tedrica se dedica a0 estudo do sistema virtual da lingua, a linguistica de texto dedicase ao estudo da atualizagio desse sistema em situagdes coneretas de uso. Isto faz com que alguns linguists situem a ut fora do estudo da lingua stricto sensu, Esta postura seré comum aos linguistas que seguern Saussure (1916). Bloomfield {1933], Chomsky (1965) ¢ muitos outros. A. distingue entre sentido e contetido e nao tem como objetivo uma and: lise de contetido, j6 que isto é objeto de outras disciplinas. O contetido € aquilo que se diz ou descreve ou designa no mundo, mas o sentido é um efeito produ- ido pelo fato de se dizer de uma ou outa forma esse contetido. O sentido € um efeito do funcionamento da lingua quando os falantes estao situados em contex tos sécioshistoricos e produzem textos em condigdes espect Primeira Porte | Procestos de produséo textual Pelo fato de o texto ativar estrategias, expectativas, conhecimentos linguisticos e nio linguisticos, a uP assume importincia decisiva no ensino de lingua e na montagem de maniais que buscar estudar textos. Ela deve prestar um servigo fundamental na elaboragao de exercicios de produgdo e compre- censdo de textos (ef. mais alguns elementos a este respeito no trabalho de Gra- ‘¢a Costa Val, 2000}. De uma maneira geral, as diversas vertentes da tr hoje aceitam as seguin- tes posigdes: © Aur é uma perpectiva de trabalho que observa o funcionamento da lingua em uso e nao in vitro. Tiatase de uma perspectiva orientada por dados auténticos e ni pela introspecco, mas, apesar disso, sua preocupagao ndo € descritivista © A.ursse funda numa concepgao de lingua em que 2 preocupacao maior reeai nos processos (sociocognitives) € no no produto © At ndo se dedica ao estudo das propriedades gerais da lingua, como clissica, que se dediea aos subdomtnios estveis do | ae a teefone da empresa >” | fon 399 19-20 O mesmo fazemos com a listagem que vem a direita, onde lemos: inde de eo cial + Pcie fipresa dato Equador ta. ceierqotefon > ‘Gon ML Ath TS —_ 301 08 5 ‘uopeas Sergo Menge ca 58 B38 ide + empresa + ‘oC 2000 eda nde tleare > ‘Gn LCs 625 2422507 ‘co Pegas Topica ta. ‘Ca Engen 699 —_ 35108 64 Side» > Jbostio enpesa > ato tta ender tone -> ‘ Macancls $2 368 96 Door cet tala Primera Pere | Processor de produséo textual ‘abemos, por exemplo, que nossa cultura, nossa sociedade ¢ rotina disria nos permitem inferir que 2 sequéncia de ntimetos apés um dado nome na lista telefonica € para ser dgitad rmarmos em praga publica con bém sabemos que 0 aparelho cortespondente ao niimero chamado reagira de uma dada maneira e esperamos que alguém produza algum tipo de resposta num dado aparelho eletrnico e no para a decla- uma formula magica de encantamento. Tam- tc. ete. Por isso ninguém se espanta que a0 digitar o nimero do telefone x02, fale uma pessoa cujo nome estava na lista apés 0 niimero xz. O espantoso € quando isso no ocorre. Tanto assim, que logo dizemos: “Foi engano’ Quem nao vi ssa uma lista telefeniea como um texto. Isto comprova que um texto juma cultura na qual a telefonia é uma rotina, niio opera rem pro se dé numa complexa relagio interativa entre a linguagem, a cultura ¢ 0s suijei- tos histéricos que operam nesses contextos. Nao se trata de um sujeito indivi- dual ¢ sim de um sujeito social que se apropriou da linguagem ou que foi apropriado pela linguagem © a sociedade em que vive. Este zspecto nao € secundério e recebe por parte da andlise do discurso, por exemplo, grandes discussées. E também nds devemos ter cuidado com 0 uso da nogdo de sujeito idividuo, tal como jé alertado acima. Nao se trata de sujeites individuais, voluntariosos, intencionais, mas sim de sujeitos hist6ricos, sociais, integrados ‘numa cultura e numa forma de vida. Isto vale para as mais prossicas ages da vida didria, tal como digitar um nimero telefGnica ou encontrar 0 nome de uum amigo na lista de aprovades num concurso piblico. LioCritérios de textualizacio: visto geral Seguindo as posigdes tradicionas na linguistica de texto, podemos postular que um texto, enquanto unidade comunicativa, deve obedecer @ urn conjunto de critéris de textualiza (esquematizacio e figuragi jd que ele nao € um cconjunto aleatério de frases, nem € uma sequéncia em qualquer ordem. Os eritérios da textualidade, tal como foram prirftiramente definidos por Beaugrande/Dressler (1981), devem ser tomados com algumas ressalvas Primeiro, porque nio se podem dividir os aspectos da textualidade de forma tio estanque ¢ categérica. Alguns dos crtérios sio redundantes ¢ se recobrem. Segundo, porque tal como jd foi lembrado, nao se deve concentrar a visio de texto na primazia do cédigo nem na primazia da forma, Terceito, porque ndo se pode ver nesses eritéios algo assim como principios de boa formagio tex Ce tual, pois isto seria equivocado, j4 que um texto milo se pauta pela boa forma: ‘do tal como a frase, por exemplo, Como se verd agora, vamos analisar 0 texto como uma realidade e ndo uma virtualidade. Pois 0 texto no € apenas um sistema formal e sim uma tealizagao linguistica a que chamamos de evento comunicativo € que preen- che condigdes no meramente formais Um texto é uma proposta de sentido e ele sé se completa com a pattici pagdo do seu leitor/ouvinte. Na produgio de um texto, ndo entram apenas fendmenos estritamente linguisticos. Vejase, por exemplo, um texto como a charge reproduzida abaixo em que temos apenas um ato de fala (verbalmente produzido) e uma sequéncia de imagens em que elementos linguistices ¢ nao Tinguisticos interagem pata produzir os efeitos desejados. Na realidade, 0 que aqui temos é um texto de humor que joga com aspectos referenciais e com conhecimentos prévos A interpretagao do evento representado por «sse texto deve levar em con: ta pelo menos o seguinte: 6 personagem em questo (no €as0, José Serra, o Ministro da Satide no ano de 2000) — a visita desse Ministro a Sao Paulo e a agtessio por ele sofrida com o langamento de um ovo em seu resto; — © ato de langar ovos, tomates ou tortas em personagens piblicos como sinal de protesto nao € uma agio individual, mas tipica de culturas democriticas; — a situagao hiliia foi produzida com a dubiedade da interpretagao referencial que se produziu com um ‘equivoco’ referencial de efeitos especificos Este texto tem virios aspectos curiosos a) ndo tem oragdes sequenciadas b)_ mo se restringe apenas ao uso da Linguagem articulada c) servese de um sistema semiético diferente do que o linguistico (tra- tase de um género multimodal, como todas as charges). © ato de fala “Joga a mae!” deveria ter funcionaéo como uma ofensa, contudo, um gaiato o interpretou‘literalmente’ na sua fungio referencial die- ta € jogou uma galinha, supostamente a ‘mae do ovo'-A interpretacio pode vatiar, a depender de ser feita por vocé e eu (dois sueites que historicamente situados podemos dar boas gargalhadas) ou pelo proprio Ministro (sujeito historicamente situado num contexto institucional que pode execrar o autor da charge). Qual é a versio mais correta? Ambas seriam ‘autorizadas’ pelo texto, mesma oferecendo representagées cognitivas opostas (piada x insulto} Considerando a definicao de texto de Beaugrande (1997) trazida acima, percebemos aqui 0 que significa produzir um texto como um evento em que se articulam os trés aspectos apontados: 1. aspectos linguisticas (0 ato de fala verbalmente produzido), 2. aspectos sociais (a situagio sociohist6riea de Ministro de Fernando Henrique Cardoso) e 3. aspectos cognitivos (conhecimentos investidos. Essa é a articulagio multinivel do texto. De modo geral, todos os textos, articular nesses t2s nfves. Ito significa que o autor eo leitor de um texto nto esti isolados, seja no ato de produgdo ou de recepeao ‘Tendo em vista o que jf se postulou em relagZo a0s critérios da textualidade ¢ considerando ainda os dois outros pontos do tripé conceitual indicados, discurvo ¢ género, pode-se montar o esquema que figura abaixo para explicitar as relagdes envolvidas partcularmente na esquematizagio textual. Essas rela ‘des devem ser muito bem entendidas, pois no sio estanques nem to parale- las. Tudo aqui se imbrica numa relago muito estreita. Além disso, nao ha uma distingio entre um dentro e um fora do texto, pois isso sBia ir contra toda a cstratégia de textualizagdo jd desenvolvida alé o presents ¢ até mesmo contra a concepgio de lingua postulada. Nao vamos aqui tratar dos aspectos relati- vos a0 génera nem ao discurso, mas eles devem ser considerados tal como cexpostes acima no item (1.9.). Resta ainda frisar que nzo se pode imaginar 0 texto como se tivesse um dentro (cotextualidade) e um fora (contextualidade), pois estes dois aspectos no se manifestam nessa perspectiva de observacio. Lolz Anténto Marcustht | Prodvsao textual, anclize de géneres « compr esquema a seguir deve dar uma ideia, mesmo que vaga, de como se distribuer os eritérios gerais da textualidade rexTuMAcho ae a covert Sovedtuanane a ee Analisando esse esquema encontramos: (1) em primeito lugar, os trés grandes pilares da textuatidade que s8o um produtor (autor), um leitor (receptor) € um texto (0 evento). Nosso interesse centra e, aqui, no texto enquanto processo (um aconteci: mento) ¢ nio um produto acabado; (2) em segundo lugar, hé dois lados observa {a} 0 acesso cognitive pelo aspecto mais estritamente lingulstico re presentado pelos critérios da cotextualidade (o intratexto), que exige por sua vez ¢ de modo particular os conhecimentos linguisticos ¢ as regras envolvides no sistema, bem como sua operacionalidade © (b) 0 acesso cognitivo pelo aspecto contextual (situacional, social, hist6rico, cognitivo, enciclopédico) exigindo mais especificamente conhecimentos de mundo e outros (sociointerativos); (3) em terceiro lugar, 0s critrios da textualizagio aqui dispostos em dois conjuntos, mas imbricados, como mostra a figura. Ndo esquegamos que 0 sete crtétias io contextuais (numa nogio de eontexto que nio se fixe na dstingdo ente situagdofsica eextratexto' versus situagdo intratextual) Na realidade, devemes admitir uma nogio de contexto mais rica, dind- mica e maledvel como sera discutido adiante e que envolve a historicidade. Primeira Parte | Provessos de produsio textual © quadro acima propde as sete condiges da textualidade que, tal como lembrado, nao constituem principios de formagao textual e sim critérios de acesso {a produgio de sentido. Esses sete eritérios no tém todas © mesmo peso nem & mesma releviincia. Além disso, nlo se distinguem de mancira tio clara como aparentam. Alguns so até mesmo redundantes. Também seria equivocado cortelacionar esses critérios a alguma dea da linguistica, tal como se tem feito tem alguns momentos, como lembra o proprio Beaugrande (1997). Por exem plo, nio é correto cortelacionar a coesao com o nivel morfossintético; nem a cocréneia com 0 nivel semi accitabilidade corn a pragmatica; nem a informatividade com a relagio t6pico- comentario ou a intertextualidade com o estilo. tico; nem a intencionalidade, situacionalidade ¢ Urn dos equivocos mais comuns na 11 dos anos 1970 foi precisamente ter identificado o texto com uma frase ampliada (dai a nogéo da ur como uma teoria do transfrdstico), quando, na realidade, o texto € uma unidade teorica mente nova e no apenas uma frase ampliada, Também ndo € uma simples sucesso de enunciados interligados. Jé ndo se postula mais a ideia de que 0 texto seria “uma sucessio coesa e coerente de enunciades’ E bom frisar de modo enfético que o uso da expressio ‘riterio’, ao invés da expressio ‘princi’ para a nogao de ‘critérios da textualidade’, deve-se 20 fato de nao se admitir que esses aspectos da textualidade funcionern como eis linguistcas, ja que Sio apenas critérias que no caso de sua auséncia, nao impeder que se tenha umn texto. O texto, quando considerado como unidade, € uma unidade de sentido e ndo unidade linguistica Considerando o texto como uma atividade sistematica de atualiza discursiva da lingua na forma de um género, os sete critérios da textualizagao mostram quio rico € um texto em seu potencial para conectar atividades so: ciais, conhecimentos linguésticos e conhecimentos de mundo (Beaugrande, 1997:15). Eles siio muito mais critérios de acesso & construgio de sentido do que prinespios de koa formagao textual. Quando leio a lista telefOnica como urn texto que me informa um con- junto de dados, estou aplicando critérios gerais para textudfizé-la, numa rela- ‘¢20 do mundo com a sociedade, ¢ ndo busco uma textualidade imanente jé tealizada por esses critérios, A textualidade € o resultado de um processo de textualizagio. A textualidade € o evento final resultante das operagbes produ: zidas nesse processamento de elementas em multinivel ¢ multissistemas. Observese 0 caso de outros géneros textuais similares a0 catdlogo telefé- nico, tais como os diciondrios, as enciclopédias € todo 0 tipo de listas que Co fencontramos diariamente em jomnais, revistas ou afixados em paredes de uni- versidades, colégios e assim por diante. Um aluno le uma lista de nomes na parede ¢ busca sua nota do mesmo modo que lé um livrostesto, s6 que opera de maneira diferente para estabelecer as conexdes, a fim de textualizar aquele artelato linguistico ¢ o faz com outros propésitos. E claro que, para confeccionar uma lista capaz de ser processada como um texto, hé certas condigdes a setem observadas, assim como para construir tum poema ou produair um conto ou uma noticia num jornal, um andncio publicitdrio ete. Quem vai ao supermercado com uma lista de compras cons trai aquela lista denteo de alguns eriteios, nao aleatoriamente. Seguramente, nossa atividade lingu‘sties com um evento tal como um antincio publicitério devers ser diferente daquela qué praticamos com uma reeeita de cozinka ou uma ata de uma reunio ou um testamento, mas isto se deve a uma pritica que nos vem nio especificamente do lado do sistema linguistico e sim de nossa insergéo na sociedade. Estas iltimas observagdes mostram que & relevante ter uma nogéo clara de como se estabelecem e desenham os géneros textuais, j4 que 0 conjunto esses géneros reflete uma das formas de organizacio da sociedade em que cles atuam (detathes a este respeito na SEGUNDA FAKTE deste curso} Nii hd duivida de que podemos nos deparar com artefatos linguisticos ineoerentes, nao informativos, incompreensiveis etc. Nesses casos, trata-se de inadequagdes, seja por parte de quem produziu aquele discurso ou de quem 0 recebeu, ou seja, 0 suposto texto nao chegou a se transformar num evento discursive comunicativamente relevante. Sabemos que iss0 ocorre ersitirios em sala de aula ¢ nJo apenas com os alunos do ensino fundamental Produzimos textos por processos de textualizagdo inadequados quando nfo conseguimos oferecer condigdes de accsso a algum sentido, seja por austncia de informagses necessitias, ou por auséncia de contextualizagio de dados ou entao simplesmente por inobservancia de resrigdes na linearizacao € violagio de relagdes légicas ou incompatibilidades informativas. Contudo, niio convém confundir um texto de dificil compreensio com um tento impossivel de ser com- Preendido, As vezes, 0 que ndo entendo hoje entendo amanha. Ocorre, porém, que 0 aspecto linguistico ndo opera sozinho ¢ ndo pode encerrar em si todo o potencial de textualizagdo. Este & 0 fato mais Primelre Ports | Processos de produyéo textual importante nessa perspectiva tedrica, pois se, por um lado, o texto nao é uum artefato auténomo, por outro, no € um sex num limbo soctocognitivo, E a isso que se referia Beaugrande (1997) quando afirmava que o grande problema da cr é providenciar a ponte entre o sistema virtual e o sistema real da lingua Enquanto artefato estritamente linguistico, 0 texto ndo passa de uma pos- sibilidade cujas condigdes de cealidade so o contributo de sua insergao na sociedade e no mundo. Isto equivale a substituir a metifora do conduto, isto é a ideia de que o texto conduz os contetidos, pela metafora da lampads, isto &, 4 nogio de que o texto contém as condigées do processamento de contetidos, ‘em contextos socialmente relevantes. Mais do que um transportador, o texto seria, nesse 230, um guia ou um holofote. Produzir ¢ entender textos nao € uma simples atividade de codificagio e decodificagio, mas um complexo pro- cesso de produgio de sentido mediante atividades inferenciais. Este seré 0 tema particular da TeRcEIRA PARTE deste curso, A partir deste ponto, serdo oferecidos alguns elementos para uma melhor ‘operacionalizagio dos critérios de textualizacio. Antes de iniciar o estudo desses fendmenos, gostaria de sugerir como leitura 0 trabalho de lrandé Antunes (2005), Lutar com palavras: coesdo e coeréncia, Nessa obra, temos uma visio clara do fenémeno da coesio ¢ coeréneia, bem como dos demais aspectos da textualidade, com intimeros exemplos analisados. Em alguns mo- rmentos, nos ateremos a esses exemplos observando alguns funcionamentos da Tingua € do texto, 1.10.1. Coesao Os fatores que regem a conexdo teferencial (vealizada por aspectos mais especifieamente seminticos) © a conexio sequencial (ealizada mais por ele- ‘mentos conectivos) em especial no nivel da cotextualidade, geralmente co: nhecidos como coesio, formam parte dos critérios tides como constitutivos da testualidade. Para muitos, a coesio € 0 critério mais imporante da testualidade. Sio dessa opinio, sobretudo, aqueles que nao distinguern entre coesio € coe- réncia (ef. detalhes em Marcuschi, 1983 ¢ Koch 2000) Os processos de coesto dao conta da estruturagio da sequéncia [superfi- cial] do texto (seia por recursos conectivos ou referencias); nao sio simples mente principios sntiticos. Constituem 0s padres formais para transmit co nnhecimentos e sentidos. eer ie toxtuel, elise de gineres © eompreensio Saliento que, tal como o faz a maioria dos autores em tr, distingo, com Beaugrande/Dressler (1981), entre coesdo € coerencia. Isto nfo significa, po- rém, que a coesio diga respeito a questdes meramente sintiticas, ja que esta distinglo tem sua razio de ser em outros aspectos. Para muitos estudiosos do texto, os mecanismas da coesio textual for- do texto, Porém, a expressio gramética de texto 6 um tanto desnorteante, pois nao podemos aplicar ao texto as noges mam uma espécie de graméti usadas para a andlise da frase. Se, por um lado, podemos realizar enunciados completos e explicélos com gramaticas de fiase, tomando-os independente- mente, por outro lado, sabemos que varios enunciados corretamente construidlos, quando postos em sequéncia imediata, podem nio formar uma sequéncia aceitivel. Iso quer dizer que um testo nao é uma simples sequéncia de frases bem formadas. Essa sequéncia deve preencker certos sequisitos. A € justamente a parte da ut que determina um subeonjunto importante desses requisitos de sequencialidade textual Hé, pois, certos fendmenos sintiticos que se formam ou se dio na rela- is) que independem da corre 4i, Esse tipo de dependéncia que se cria nas séries de sequéncias a que chamamos textos vai permitir e exigit Gdo entre as sentencas (relagées intersentenk Ho individual de cada uma das sentengas ¢ novos padres frasais, de modo que as nogées de corretude, incorretude ¢ aceitabilidade, entre outras, tam que ser revistas Digamos, a titulo de hipétese, que uma ‘gramatica de texto’ devesse se- guir 0 mesmo sistema formal da montagem da ‘gramatica de frase’. Inicial mente, teriamos um simbolo T (para texto), como unidade hiersrquiea mais alta, Depois, baixariamos para os constituintes restantes eom um sistema mais ou menos assim, simplifieando T(S, 8,58, onde S seria uma sentenga de modo que, tal 2omo no modelo axiomatico da gramatica gerativo-transformacional, poderiamos seguie com especificagées, regras e definigoes para a formagao do sistema que “geraia” todos os textos de ‘uma lingua resta duvida de que uma proposta dessa natureza teria pelo menos duas objegdes iniiais (1) a regras mecesstias para esse sistema seriam ou to pobres, a pon to de niio darem conta de T, ou tantas que beirariam um niimera infinite ee (2) a boa formagdo do texto seria uma funglo determinada pela boa formagao das sentengas ¢ pela sua concatenagio bem-formada, o que é, evidentemente, um absurdo. No caso de (I), ocotteria uma supersimplificagao do sistema de T ou ‘uma supercomplexifieagao com a consequente impossibilidade operacional; em (2) a situagio ficaria ainda mais exacerbada, na medida em que teriamos grande quantidade de textos aceitiveis como tal, mas nfo bem-formados de acordo com o sistema formal, como no caso dos textos “Brasil do B”, de Josias de Souza, e “Circuito fechado”, de Ricardo Ramos, tratados mais adiante. Isso significa que 0s fatores concorcentes para a formagio de texto so rmais amplos que os para a sentenga (S), sendo praticamente impossivel ofere- cer a “gramética textual” de uma lingua, pelo menos formalmente. Daf nao ser 0 texto apenas uma extensio da frase E plausfvel, pois, postular que néo se pode propor uma gramética de texto aceitando como modelo tedrico para T, algo assim como 0 proposto pata S na gramética gerativo-transformacional. Axiomatizar a competéncia textual & possivel apenas como perspectiva teérica, mas impossivel como rea- lizagio de fato, 0 que no significa que no possamos ofetecer teorias formais patciais para porgdes ou aspectos especificos de T. Contudo, a soma de todas as porgées nao formara uma teoria unificada geral Retornando agora ao problema das categorias textuais, podemos dizer que, assim como aqui séo propostas, elas so intuitivamente fundamentadas sociointerativa, A compe- nna competéncia textual e na suposicio da hips téncia € pressuposta como presente em todo aquele que domina uma lingua qualquer, uma vez que ele se comunica por textos ¢ ndo por unidades isoladas, Dessa competéncia fazem parte, obviamente, elementos que ultrapassam 0 dominio estritamente linguistico e entram nos aspectos da realidade sociointerativa, tais como: ~ conhecimentos pessoais © enciclopédicos; — capacidade de memorizacio; — dominio intuitivo de um aparato inferencial, — pattlhamento de conhecimentos circunstanciais; = parthamento de normas sociais = dorninio de teenologias de varios tipos, «assim por diant. uae ee A maior ou menor presenga de cada um desses e outros fatores faz com que haja graus de dificuldades diversos na compreensio € mesmo produgio de textos, de modo que “ ifcil” ou “facil” sao gradacdes variaveis para um. ‘mesmo texto ¢ elas se devern ndo apenas a fatores estritamente linguisticos. Nessa perspectiva, as categorias textuais devem abranger tanto os aspec- tos sintéticos como os semanticos e pragmticos,j4 que o texto deve ser visto como uma sequéncia de atos enunciativos (escritos ou falados) € ndo uma sequéncia de frases de algum modo coesas. Nesse sentido, a coesio explicita nao € uma condigdo necesséria para a textualidade. Veja-se abaixo o caso de tum artigo de fundo de Josias de Souza pata a Fotha de S.Paulo. Como se observa, ndo hd verbos no texto e, no méxingp, temos ali nomes, adjetivos ¢ advétbios. A coesio superficial ligando um elemento a0 outro linearmente inexiste, Mas isto no & um entrave a compreensio. E, claro que nem todos os que leem este texto vio entender da mesma maneita e talvez alguns menos informados possam até entender muito pouco. E interessante notar que nesse texto nao hé praticamente enunciados ‘eplicitados nem verbos ou qualquer outto elemento que faa uma ligagao entre os itens. H sempre um sintagma que opera como um enguadte de “espacas men tais",na terminologia de Fauconnier (1994), permitindo assim uma “meselagem conceitual” na linha do pretendido. Vejam-se os inicios de cada parigrafo — Brasil bacharel Brasil Biafra Brasil Belgica — Brasil bordel — Brasil benemerente — Brasil Baixada — Brasil benfazejo a de Pada, usta % yoo e208 JOSS DE SOUZA Brasil do 8 BRASILIA - Bras bachrelBiografia bordoda,brihante. Bom beree. Bambamba.Bico bacana, boquiroto Bastanteblsblbla. Bata barulho.Bobagem, beter, ble. Batente banho maria, Déssolabiuta.Baqueta bébade. | Brasil ata, Brew. Barbie bocl,Baraco barrento, Barta Baio, Dactria, Bebé buchudo, " borocoxé Golso bani, Boca bangula. Barriga balla. Barbra. Bastara boi, bio de dois. Cee rast Bolica. Brancura. lak. Badal brega. Boa brisa Bens. Banqutes. Binds. Bho testa. Boranca bifocal, BMA bindagem. Bolsa baofa:babau, baby. Brasil bordel, Bancadas bandeira, buscando boquinhs, brechas, benesses. Bruma,biombo, hastdor baratn. Gelso. Barfanha, Bazar. Benda bandid, Bando bendalho Baiana.Barbaha. Brigabesta, Bagunea Brasil benemereate, BonancaBrastia hondosa. Ganquecobajado, benefciado,befejado, Ban carota brecada Balnoete bua. em nom, Boca ie riche, bor bocado, Bieter, border Bras Bainada,Rorasca. Bane, Buraqueira.Boteco. Bago. Birt. fils. Bochncho. Bebedeira, Bofete, Bordoada, Borro. Boil, Bafa. Baca. Bsioneta Bala, Bangue-bangue. Biz. Blquen Boletim, Biba, Bispo. Beat, Benzedeira Brasil benfazeo, Bolt, Bale-bla, Boss, Balanganda Blacobeco. Boémia. Garin. Bun, Batucada. Balan. Gole-bak. Beleza beigola. Beldede, Big. Bumbum bulicoso, Boaruda. ej. Beisco. Balada bobs, burlesca, Bast Com isto, entram na anilise do texto tanto as condigées gerais dos interlocutores como os contextos institucionais de produgdo € recepgio, uma vez que eles sio responsiveis pelos processes de formacao de sentidos com- prometidos com processos sociais ¢ configuracbes ideolégicas. Em suma, 0 que se pode fornecer slo condigdes de acesso e no condi- ‘Ges de boa formacao textual. Assim, segundo muito bem friss Ursula Oomen, “a andlise textual nao pode consistit num alargamento linear de analises gra- aticais a objetos de investigago mais amplos,tais como textos”. Na verds de, prossegue ela, aspassagens da fase para o texto, dentro de uma andlis estruturalsta, pressuporiam, aque a relagdo da frase como texto pudesse ser comparada com a relagdo da frase com _morfemas, de morfemas com fonemas. ObservagBes empiricas indicam, porém, que as Frases ndo consituem textos no mesmo sentido em que grupos de morfemas podem ser tomados como consttuintes de frases, Daf surge um dilema para as andlises de texto: se, potRum lado, os tests sto produ fextensdo das categoras gramaticais para a fase, pis elas sio uma ocorténeia linguistieas, por outro, no podem ser analisados simplesmente pela ‘comunicativa no contexto de uso. Levado ao extremo, isso resultaria ma tese de Aagadego a Veronique Dahletaindicagio deste exemplo ado na tese delve docéncia bre pontuagao (USP, lho de 200), Ce oe ee que cada texto teria sua gramatica se quiséssemos dar a gramética do testo, De cetto modo, essa tese € correla, pelo menos no sentido de que cada género textual tem uma forma de realizagdo prépria, de maneira que a textualidade de um poe mma € a de uma carta comercial observam prineipios consitutives divers. Mas a suposta gramittica genérico-textual teria muito menos a ver com. a coesao do que com outros aspectos, ja que os géneros textuais, como se verd, nio se constituem com base apenas em caracter as linguisticas ¢ sim em caracter icas sociocomunicativas e constituiriam muito mais uma ramatica social, Portanto, embora seja tida como um principio constitutive do texto, a coedo superficial nao é nem suficiente nem necessiria para a textualidade, aspecto no qual discordo de Malliday/Hasan, que a julgam mecesséria. A coesio sempre foi vista como um fenémeno da superficie do texto. Seria algo assim como a sintaxe textual. Hoje se sabe que isso nio & correto, Segundo accrtadamente observa Koch (1989), temse visto classicamente dois tipos de cocsividade, tal como frisado no inicio deste item: © a conexdo referencial (realizada por aspectos mais especificamente seminticos) © a conexdo sequencial (realizada mais por elementos conectivos) Estes foram sempre tidos como critérios constitutivos da textualidade Para muitos, a coesio € o critério mais importante da textualidade, Contu- do, sabe-se que a coesio € nem necesséria nem suficiente, ou seja, sua presenga ndo garante a textualidade e sua auséneia néo impede a textualidade Isto pode ser visto no caso do texto de Josias de Souza, “Brasil do B", ¢ também no caso do texto de Ricardo Ramos, “Circuito fechado”, do qual trazemos um trecho abaixo. texto de Ricardo Ramos, superficialmente visto, niio apresenta reto- madas explicitas entre a sequéncia das sentengas. Se a estrutura do ‘mapeamento devesse obedecer aos prinefpios de que as sentengas denotam fatos © sequncias de sentengas denotam sequéncias de fatos, 0 texto de Ricardo Ramos s6 reuniriafatos isolados ¢ nao formatia uma sequéncia con tinua nem exibiria textura (textualidade) para ser chamado de texto, Segur do Halliday/Hasan (1976), seria um no texto. Ele é todo segmentado e sem tuma continuidade superficial. Mas isto nao impede que funcione como um texto perfeitamente inteligivel ee ee caRCUTTO FECHADO Ficardo Ramos Chines. vaso, descarga. Pa, saboete, Agua score, creme dena, éua,espuma, creme de barbea, pie espana, le, eect, sabonee, ua in, dm quent tala me par cabo, pete Ceca cami, abotoaeas, cla, melas saps grata, ple, Carta, nga, dcunents, canta, chavs, nga, reg, maga de gas, ade fsa, Jamal) Ceres, cabs, un pouco do nid esquerdo eda visio. A memoria intermedia no a de imo loge vem ade ontem Parents, ago, por morte, dtr, devin, Linas, ce emrés- tino, esquecimento e mudanca, Muleres também, com os seus temas. (.) copra Po aver, quer vero mays? Ao que sim Que bom toe foi inn, agxa mesmo ‘etaa persando em vcd Po, com go. Passe mas tare, nda no fiz, ro ext roe Ser ex Fes. igo alguna coisa Guadeo oon Perso que sim. ste més no fa pera o xtra. (.) Ter haver. Una Sombra no co, um seguro que se desraloriou, uma gaiola de passarihos. Una cicatie de operagdo a barriga © meis cinco invsfes, ue doem quando chove. Uma. limpada de cabecera, um cachoro vermelho, uma coleha os seus retalhos. Um envelope com Fotografias, no aque bum. (.) ae cnt aor de 7 eta Ae Ere Goo, 1. F obvio que neste caso nfo temos a ver com o exemplar mais comum de texto, mas ele deve ser explicado e abrangido, assim como qualquer outro. Representa um caso quase extremo, bem diverso, por exemplo, do. que ocorre no texto de Rubem Machado, “Porque é domingo”, que aparece em seguida Este tem sua coeréncia fomecida por fatores diferentes que © de Ricardo Ra- mas, No caso do texto de Ricardo Ramos, o titulo ndo permite que fagamos uma relagao de fatos e estabelegamos um continuum de sentido. Os enqua- dressio aqui feitos e nés compreendemos este texto porque ele descreve cenas que nos si0 familiares em nosso dia-a-dia O texto exige dominio de situagées como, por exemplo, na sequéncia seguinte que seguramente néo encadeie situagdes uma na outra, mas situa- des bem diversas: Muito prazer. Por favor, quer ver meu saldo? Acko que sim (.JF"Muito prazer” A atividade a que “muito prazer” se refere no antecede a atividade repre: sentada pelo pedido “Por favor, quer ver meu saldo?” e o enunciado que the segue, ou seja, “Acko que sim”, no € uma resposta aquela solicitagio. As tes momentos temporais ¢ de tras tunidades dessa sequéncia fazem parte de dominios experienciais diversos, mas nés operamos a sequéncia como um continuum textual a partir de uma competéncia mais ampla que a competén. ee ee cia puramente linguistca. E particularmente notivel, neste caso, que hoje ja nao exista mais a situacio lembrada, pois consulta a saldo em banco é total- mente automatizada em caixas cletrOnicos que podem ser acessados na rua fem supermercados ou nos préprios bancos. © texto de Ricardo Ramos € uma prova de que a coesio superficial do texto ‘io é necesséria para textualidade. Contudo, isto nao significa que ela sea ielevante. Notese que, no caso de um texto asim, hi um imenso investimento de conheci- ‘mentos partlhados que supre a auséncia de outros ertérios. Aqui a coesdo é inferida a partir da cocréncia. Este no € urn texto de configuragdo prototipica e certamente, cem sala de aula, ele seria severamente conigido e receberia nota baixa Veiamos 0 caso deste outro texto que, a0 gontrétio do de Ricardo Ramos, tem pontuagio alguna: PORQUE € DOMINGO ‘Rubem Machado levantou tarde com vag esimulacro de sors exaninou as dentes no espalho do benheiro | eam caro pret d case lao tena pr iso west os tan an chuvet fz tart eps apato som mea cana epartefra das case ete cia | | iscindo futebol mo ba da esquinaecoru uma gaa de nh ts guns cone demas no alan fhe 0 00 jal pesado & 3 dseaca no munda¢ bac | verses vse cosh earaou indo eterno aoe actrdou 3 unto hors com broicapersands vos var hi eno al eta mas Yu as mesmo ego 2 ches Go caro se 3 mbar a er a voka er ors por is asec des | odo gad ro fsb bata nacsa So i tango post eta Yu até 0 Pau efi mesmo o pu sate o Pau etara en casa de cin casio de ana vei 60 pate el ro qs entrar e gro com a cad ao tu tne 6 mada eta emmpsando logo cm oltre gaa as ches do cao 0 dl o Palo dse © jogo ainda nd acaaue ele contou gro Pan qu estas comendo a seretiae 0 Paulin despstde seu un soso aero e des Pao ds = desc qe 0 Carino ada og de bree equ ga mal com aul care sis yrs Qt enasse ee agateom jin rand aka de devo to caro e vou rca wes bot gasoline ro psa esse pra mua ont ons casas do ed a ela perio se le ui al ele ds ae noe pera aa sj tt eames 0 brograna de tvs e ent serara na plsona eva comeu un pean de pcm © 8 tnder qb um cpa roa eee gta 0 equ i drt edu un arto € cua 0 progana era quae no fm ame de que qe sa ele to eo tocar de og fo nee com ame fe ea coma Sopa Lorn ew xia «oes gostram e quando vara para cas vam and um pouco mas de tlio e comecaram os di a besa e ele escovou os dents e fechou a casa de corda 0 desperiadr fran dnt un pon tarde pore ¢ doing oe ae ER, ws a So Pe c,d pat Geir de ae as terre forte 9p EL) Primeire Porte | Provessos de produsio textual © texto de Rubem Machado tem uma realizagio superficial oposta & do texto de Ricardo Ramos e no apresenta pontuagdo nem divisio em parigrafos. [és temas que dividilo proceder a um tipo de pontuagao que se express sobre- tudo numa prosédia. Mas pode haver divergéncias entre os diversosleitores quan do leem este text, Nem todos v3o segmenttlo da mesina maneira. Isto comprova também a tese de Veronique Dahlet (2004) de que a pontuacao € principal- mente um fendmeno discursvo e textual e no um fendmeno gramatical Muito diferente e, de inicio, sem uma proposta de sentido clara com um vo unificador o texto seguinte: prinefpio comunic [retina esto aa Pap in as gata tne un no ie OF | recebe conte para integer o Govern a nivel de Miristirn 0 BN d toda atengo aos mais | oferecendthes alternatives, Santos e Flamengo resavem a primeira etapa. Briaola tem a pefe- | rénca do povo em egies dretas sss foram algas das noticias que Kno jomal de hoe Aqui, a textualidade nao se dé no nivel da coesao e si rencia metafristica, tratandose de uma metatematizagao efetivada retroativa ro nivel da coe- nnénte com a sentenga Final que recupera a unidade. Esse texto foi montado com uma série de manchetes de noticias do Didrio de Pemambuco, No segmento linguistico a seguir, no entanto, hé um sequenciamento coesivo de fatos que permanecem isolados e, com isso, ele no tem condigéo de formar uma textura, o que prova que se a coesio nao € condicio necesséria também ni € suliciente, [iow pda pd ad ls ss sos amb sms io | csin 0 mise si ats no ep Std Toi a elves | curvo. A geometrarnariana di conta desse fendmero, Em principio, gui ndo temos umm texto, j que essa sequencia de enunciados, rio tem efeito communicative, apesar de evidenciar uma coesao relativamente forte no encndeamento das frases. Cont, as relagtes fe sentido nao progri- dem nem as unificam, Nao se pode negar que cada enunciado ¢ bem formado ‘que cada um deles tem algum sentido, mas conjunto nao forrna uma uni dade significativa 2, Neve momento, ng eno em quests mais comglindas como, por exemplo, saber ect i as apaenterente absurd 30 ov no poemas conctton es ets stair © slgumas obras iter Ce ed De modo geral, podemos dizer, com Koch (1989: 19), que “o conceito que asseguram (ou tomnam recuperével) uma igaglo lingutstica significativa entre os elementos que ocorcem ma superficie textual”. E desevel que cla apaeca como fac de coesao textual diz respeito a todos os processos de sequencializag \dor da compreensio e da produgio de sentido, Seguindo a suges cesses autores témn vist o de Halliday/Flasan (1976) (com a ressalva de que muito diversa daquela aqui defendida a respeito da coe- so € coeréncia), podemos distinguir cinco grandes mecanismos de coesio: 1. Referéncia (pessoal, demonstrativa, comparativa) 2. Substituiggo (nominal, verbal, frasal}, 3. Elipse (nominal, verbal, frasal) Conjungao (aditiva, adversativa ete.) 5. Coesio lexical (repeticao, sinonimia, colocacao ete.) Um esclarecimento desses mecanismos pode ser melhor obtido se consi deramos as estratégias espectficas da sua realizagdo textual dentro de uma distribuigao um pouco diversa daquela feita por Halliday/Hasan com as no- Bes de coesio referencial ¢ coesio sequencial que as aborda distinguem e que vem sendo proposta aqui Um desses mecanismos diz. respeito 2 organizagao tida como referencia baseada, sobretudo, em aspectos ligados a significagao ou a referéncia. O outro fundase na rganizagdo sequencial em que a referéncia no € central Essa dupla distincao foi estabelecida com clareza por Koch (1989: 27) da seguinte maneira ‘Tomando porbaseafuncio dos mecanismos coesivos na construct da tentualidade, roponho que se considere a existencia de duss grandes modalidades de coesio: a coesio referencial(eferencia¢ao, remissio) ea coesio sequencial (sequenciagio) ‘Vejamos alguns detalhes das estratégias que dizem respeito ao mecanis. mo da coesdo referencial que foi assim definida por Koch (1989: 30) ‘Chamo, pois, de coesio referencial aquelzem que um componente da superficie dotexto faz remissio a outo(s lemento(s) do univeso textual. Ao primeiro, denomino forma referencial ou remissvae 20 segundo, elemento de referencia ou teferente textual tetor e que nigbes esto preenchendo pars funciona. Ns ead, ali temos ume questo mis ‘complex tudo indice que coma nogio de gener com a propa de sentido pretend dentro de urn enquae sociocultural epeificoe hstencament surgido, plese admit: que jam tao e hci. ‘nem, embora pra um nmeraseguramentereduzido de tors inuito bem isi news heats, Primeira Pere | Processos de produxdo textual Para uma visto geral dessas estratégias de organizagao wferencial dentro do texto, observemos a seguir um quadro das principais formas que operam esse esquiema que, posteriormente serio detidamente trabalhadas FORNAS DE COESAO REFERENCIAL ee oma ncaa terms vest fo referenciais referenciais geri = noes fntsics gas amas de —atos = pronones pessoas resomes ace || prowess ~ tons “amas ene, || — Shen promis = Monro mag toner cca |_| — potomas vets ee Vejamos uma breve explicagdo para as nogaes de e que operam nas relagdes ssivas diz respeito a0 fato de da coesio referencial, A nocdo de formas remi ‘uma forma remeter a autra ¢, nesse caso, todas as anforas preenchem 0 requi- sito, Mas algumas dessas formas sio referenciais e outras niio, o que & primeira vista parece um contrassenso. Isto diz respeito & natureza do elemento formal namento. que é usado para fazer a ligagdo anaférica e no ao seu fi Estes dois canjuntos podem ser assim explicitados: 1. formas remissivas refereneciais: so todos os elementos linguisticos ‘que estabelecem referéncias a partic de suas possibilidades referidoras Entre essas formas, temos 05 sinénimos, os grupos nominais defini- ds etc. Sto formas com algum tipo de referéncia virtual propria Em semantica, dirtamos que se trata de itens lexicais plenos 2. formas remisivas ndo referenciais: ratase de formas que ndo tem ferem concretamente), tais como os ar autonomia referencia (6 tg os poner. Ele podem de mancia fa late coef isto é, estabelecer uma relago de identidade refé mento remetido, Ou entio referir algo por analogia, associagao etc. Estas formas podem ser presas como no caso dos attigos ou enti livres como no caso dos pronomes pessoais. Vejamos brevemente alguns aspectos relativos aos processos de referenciagao considerando a teoria clissica de Halliday a esse respeito. ee ee od Referéncia pronominal: € provivel que © estudo dos fenémenos pronomi: nais no texto seja o mais desenvolvido até hoje, pois pronome é um fendmeno central como fator de organizacio textual. Vejamos, no esquema abaixo, como se distribui a questio pronominal textual de acordo com a visto classica. EFERENCIA PRONOMINAL twoéronn eater (cute (tectum amen | corto tena so tra) = nora elilore (etrspecta) (prospecira) 2 Ns ne tees tn reso ah ‘tO novos govemnadores ex: Vejp-a todos 0s dias no a ho etn Bes gran i hi Enteno As pronominalizagdes ou pré-formnas pronominais so casos de substituigao ‘minima, ou seja, a remissdo no se baseia em quase nenhuma caracteristica se- ica do item substtutivo, pois ele nao é referencia em si mesmo ¢ tem apenas uma relacio morlosintitca com o item ou esrututa que refee. Os pronomes, por formarem a classe mois genética dos nomes,s6o minimamente marcados do Ponto de vista semantico (no vamos aqui traar das andforas inditetas, associativas, analégicas, metonimicas ete. que se fundam em prineipis cognitivos mais com: plexes). Vejamos algo sobre a referenciagio exoférica e endofsrca (a) A exéfora, ds qual pouco nos ocuparemos aqui, diz respeito a elemen- tos que, na falta de uma expresso melhor, chamamos de ‘externos ao texto’ € ‘ecuperiveis na situagio diretamente (particularmente na oralidade) ou por aspectos cognitivos, conhecimentos pattilhados ete, mas ndo pela via de ex- presides correferentes ‘dentro do texto”. Em geral, 0 uso de pronomes na I* © 2 pessoas no inicio do texto & de natureza inerentemente exofdrica. A exéfora comprova a reciprocidade da interagdo entre 6 uso da linguagem e a situagdo desse uso, que atualiza as estratégias de recepgio. A referéncia exoférica de 2. Nola imitieqa idea de un den eum fora do eto é alg de god ford tet sg de gronde complesinde «pox deve abr dest cpt Es in «mtg Reis es er telagdes do texto com os enquadres externos. “i sa Jc Pere | Processos de produ prs-formas aplica-se a recuperagio de entidades situadas fora do texto © ndo diretamente nee. A exéfora depende do contesto. Geralmente € determinada pelos pronomes de I+ ¢ 2+ pessoas. E por possessivos que cortespondem a i do testo & inerentemente exoférico, sendo que os pronomes de 3 pessoa podem set cataféricos, ou seja, corefesi alguma entidade que aparece em momentos posteriores do texto, Halliday/Hasan (1976: 53) apresentam como casos cessas pessoas. Assim, o emprego de pronomes de I*e 2* pessoas no institucionalizadas de uso exofrico os seguintes: (ew, voee, a gente, se: usados no discurso para referir “um individuo humano qualquer” = como tu sabes. — como ood sabe = como a gente sabe. — como se sabe. (ii) nds em usos em que o falante subsume, além de si, todos os outros: Nés ndo podemos esquecer que. (ii) eles para indicat pessoas “nao especificadas” — Eles devem saber quem foi fazer compras hoje. (b) A endofora € um tipo de pronominalizagio textual e faz referéncia a centidades recobraveis no ‘interior do texto’. Neste conjunto temos dois subtipos (i) a andfora que refere entidades ja introduzidas e vem depois das ex- pressbes correferidas (ou niio}; (ii) a catéfora, que refere entidades projetivamente, de modo que sua ‘ocorréncia se dé antes da expressio correferida (ou nao). Embora as definigées sejam claras € no haja como confundils, a realiza ‘0 textual da pronominalizagio é problemtica. Muitas vezes, cria ambiguida- des, principalmente quando ha varias probabilidades de referenciagao. O exa gero no uso da pronominalizagZo num texto leva a uma progtessiva diminvica0 da informagio ¢ a uma dificuldade crescente de processamento cognitive. Os textos orais costumam ter um maior niimero deformas pronominais, mas af elas assumnem ume relagao situacional e no confundem 0 interlocutor. Os textos orais sao altamente deiticos, ou seja, estruturam-se indexicalmente, jf que a situagdo conercta ndo exige que se transfira para o texto universo em que a informacao atual esta se processando, Daf também o grau maior da complexidade correferencial no texto escrito, onde 0 universo de proces samento deve ir sendo paulatinamente construtdo textue, anélie de generos ¢ comprecs Para se ter uma ideia da dificuldade de distinguic entre andfora e catéfora, tome-se aqui 0 texto “A vela ao diabo" extraido de Tutaméia, de Guimardes Rosa. O primeito enunciado é Esse problema era possivel” ‘Trata-se af de uma andfora ou de uma catifora? Refere-se ao problema enunciado na indagagao posta logo apés o titulo: 'E se as unhas roessem os meninos?", ou algo que vem posteriormente no texto e € identificado como “o problema”? . Na realidade, curmprindo as fui es que o texto litersrio geralmente tem, Guimaraes Rosa abriu af uma série de expectativas numa pluridimensio de sentidos. Nao nos compete decidir qual deles prevalece. [A VELA AO DIABO seas unhas roessem as meninos? STORM IMEMORADA fsse problema era possivl.Teresio inquietouse rs ora saltandothe pula iritane, Via espagaromse, e menas meigas, as catas da ndiva, Zia, ameninharente cada em Solu As muiheres, sis de enganos- Teesinho clam, queiouse ~ jas coisas rabiseavarese. fle ‘vera a profusdo, Desamr,enfado, inconsnca, de tudo culpa a ela, que ro estava mais em seu conhecer Temelerse de perdéla, Embora, em logco rigor, moti para tanto nao houvesse ov howesse, andara da incertera & sa, num dolore, volintrio da insria. At bebe 6 ro senda a stuarecnka sli no ‘cool Amavea com toda a raqueza de seu coracio. Suse para provincia, ‘de que se lembrou: novena,herica Devi, cada mand em igre, acender vel ede joehos aude, a algum, 0 mesmo, santo ~ que ndo podia saber nem ver qua. part‘ bom efito, O método moveria Deus, ao som de sia pao, por mica — deo ro boo, mo na marvel ~ segurando-he com Zc 0 tuo, ‘Sem pejo ou vacilar, comegou,rezando errado o pare nosso, porém aficmadamente, po, tiriteso, Entrave nessa f, como o grande arcanjo Miguel revea tes vezes na Biblia. Hava de ta consegundo, ¢ reanimava-s; nada pula mais que @esperanea Df! ~ puers humanos Somos — era no olhar nem conhecer o seu Santo, Na hara, sim, pensava em Zia: veres, utrossim, pensasse um risuinho em Dena, io terceiro dia, retombou,entretanto,coragao em farpa de seta, odiando jnelas e paredes. ‘fo Luis no the mandara cata. Quem sabe, cismau, ela e ajethar-se,s6, no dessem Primeire Porte | Processos de produsdo textual rauuivel seado também una demo, audar com o agi, ar recursos? Deus 6 curva fenta oorreuthe Blena oe Gai anti — ona ni de: i Caso diverso € 0 do texto de Rachel de Queiroz, que inicia assim: “Isto é uma historia velha”, € alguma entidade especi texto completo, pronominalizando-. refere, evidentemente, a0 texto completo e no a a: trata-se de uma catéfora que tem por referente 0 (05 REVOLTOSOS NCHEL OE QueROZ Isto € uma histria vela, passouse Id por 1826, 0 pais andava numa stuardo politica to complicada quanto a de agora. Ni, minto. Tanto no, Era um complicado diferent, mais visivel, mais & flor da pele. Havia gente de armas na mao, contudo nao era assim por confito pessoal e ideoégico, redutivel como agora. fra mais uma pequena questio de prieipos, de iterpretaco dentro de uma mesma ideologia ~ todos se diam iguslmente ‘democrticas, nenhum dos combatentes disputava sobre « questo social (e 0 que mais tarde optou pelo manisma — L. ©. Prestes, sau da brga e foi para @ Russia). Ademis, 0 ovo em geral, embora no se pronunciasse abertamente, por medo de represslias do Governo ou descrenca nas possibilidades da Ita, 0 povo de coraclo estava 0s chamados “revotasos",seduido pla legenda e bravura dos joven tenentes — os feitos dos dois § e Julho, a imolacdo dos 18 de Copacabana. Acima de tudo, aquela marcha épica da Coluna Prestes pels fundies ignorads da Brasil falas imaginacdese suschva os mais ardentes entusasmos. Creo mesmo que feto nenhum, na hist nacional, tocara tanto 0 coragzo do pavo 05 mocas “generals © corons (.). A. questao fica muito mais complexa quando observamos textos como o da publicidade da motocicleta YAMAHA na pigina seguinte. Aqui, 0 enunciado inicial tem duas formas pronominais seguidas: “Vocé © observa de longe”. “Vocé” é, evidentemente, exoférico, mas aquele “o” é uma anafora ou uma catifora? Referindose ao ttulo que yer no intcio, “Ca valo Selvagem”, tudo indica tratarse de uma anéfora que retoma aquela ex pressio, No entanto, de um ponto de vista cognitivo, entra a questio da coe- réncia textual, como processamento de relagdes mapeadas por nossos conhe- cimentas de mundo, em que se produzem os sentidos. Outra observagao geral relevante nesse caso é a indagacio de se as pronominalizagées sempre referer elementos da estrutura superficial do texto © a ‘nunca entidades ndo recobraveis nessa estrutura. Hoje, os estudos acerca da referenciagao trazem muitas ideias novas a este respeito que nas dio oulta visio da textualizacao. Veja-se a este respeito a exposicio de Ingedore Koch (2002) ‘em sua j citada obra Desvendando os segredos do texto. Todos 0s graméticos ¢ eo) 1s leurias texluais scinpre esigivam celagées explicitas dos pronomes com a su- perficie textual. No entanto sequéncias como (a) e (b) abaixo sio frequentes: (a) André é érfdo, Ele 0s amava muito, (b) Joao é um excelente filatelista. Ele 0: coleciona com 0 maior carinho. A forma pronominal “os” refete, em ambos os casos, elementos recobraveis na estrutura de superficie e por iso € tida como gramaticalmente incorreta. Podemos, no entanto, imaginar a forma “os” como referindo enti dades ai subentendidas. Existem casos em que a correferencialidade se dé por ‘um processo eliptico que realiza uma espécie de argumentacao entimémica™, aque se resolve por subentendidos preposicionas. Mas 0 certo & que as gramé ticas contemplam esse caso como uma “ccncordancia ideolégica”, tecnica rente chamada de slepse. Este é 0 caso do exemplo seguinte — © povo descia a ladeira em procissio para a Igreja. Eles suavam no calor intenso, © item “povo” contém em si um plural, ou seja, muitas pessoas que sio referidas pelo eles. Algo semelhante pode-se ver neste exemplo: — Ontem Pedro esperava pescar um peixe. Hoje ele quer comédo. Ai a forma pronominal “lo” refere um peixe pescado de fato, mas nao proposto na estrutura superficial. Sintaticamente apenas, isto nao deveria ser possivel, mas, cognitivamente, hi uma estrutura inferencial elipticamente pro- cessada que permite tal construgao. Se tomarmos a elipse como substituicio pela forma zero, entio a andfora, no caso acima, substitui um lugar vazio que por sua vez € 0 substituto de algo anterior. Trata-se do mesmo caso como em: — Max nao compro um ove, mas Meria sim ¢ ele era podre. A clipse remete a uma entidade que havia sido negada e com isto aficma- 4, possibilitando o processo analdrico, mas nio se trata de uma correfeténcia, pois © ovo que Max ndo comprou ndo é 0 ovo que Maria comprou. ’ A catéfora, por sua vez, € uma forma pronominal com a caracteristica essencial de evocar uma entidade antes de introduzi-la. E um elemento 7H. Entimema um tipo de aciocinio de cxrtereminentemente etco no qual uma pemisa fea apenas subentendda deve se inferida 2 paid colusto.E justamente esta asserta ques Alexia que o oto eve em consideragta, Por exemple: "Semor mata, eu ertaria moto" Deseia que ‘outro intr: “Exo aman ee ee eee pronominal que depois, no decorter do discurso, sera recuperado com um teferente. Tem um uso relativamente baixo na fala, sendo mais caracteris tico da eserita. Uma das hipéteses para tanto € que na fala terfamos uma dificuldade maior de usar (entender) um pronome antes de pronunciar 0 nome por ele referido. A anéfora com antecedente explcito na superficie textual é fundamental- ‘mente gerada por algum tipo de relagao entre dois constituintes oracionais e é resolvida por uma telagao de um antecedente com um consequente. Assim, dado certo elemento textual x num ponto (que pode ser um item lexical ou um sintagma ¢ até uma oracéo), a andfora a noutro ponto teria aquele x como seu antecedente. Isto significa que para uma andfora com antecedente explicito sempre € possivel identifica, na superficie textual, algum elemento que The corresponde, No geral, a anéfora nio apresenta problemas para sua interpre- taco ou compreensio, pois ela apresenta congruéneias com marcas de vitios tipos. A resolugio da anéfora, por obedecer a fatores diversas, pode apresen- tar cettas saligncias que levarn & ambiguidade Segundo Pause (1984: 43), eptte os critérios que auxiliam na resolugdo 4a congruéncia anafériea de um antecedente com um consequente explicitado no texto estariam os seguintes: (2) prinefpio da congeuéncia morfoldgiea: trata-se de uma relagio de su- perficie muito marcada, na medida em que o elemento pronominal combina morfologicamente com seu antecedente, seja em género, rimero ete, ou congruéncia sintitica pela configuracio estrutural; (b) principio da proximidade: se houver vérios candidatos para uma anéfora, em geral o mais préximo assume o papel; (c)_princfpio da preferéncia pelo papel sintitico: no caso de um sujeito, ‘ou um objeto ete., a andfora que ocupa o mesmo papel teré como antecedente 0 referente de papel similar; (4) principio da preferéncia pela fungio temitica: a andfora teria como ante cedente o elemento que ocupa o papel temético da frase anterior. Este principio fz com que 0 incipio da prosimidade nem sempre funcione; (c) principio da preferéncia pelo antecedente de maior consisténcia tex tual: 0s tpicos discursivos estabelecem o elemento que num certo espa- {0 textual mantém a linha coesiva de antecedentes e consequentes; (8) principio da congruéncia cognitiva: que leva a se referir elementos cognitivamente relacionados, por exemplo, seres animados com se ee res animados, ages de certo tipo com agdes do mesmo tipo ete Aqui entram as questées relativas aos aspectos mais diretamente ligo- dos a miltiplas possibilidades refetenciais, Pause (1984) observa que esses critérios nao so absolutes e que varios deles podem aplicar-se 20 mesmo tempo. Quanto mais critérios eoncorterem para a determinacao do antecedente, tanto mais ficil sua determinagio, Tar bém o peso de cada um desses critrios é diferenciado. Alguns, por exemplo, 0 da preferéncia da fungao tematica, s20 particularmente fortes. Nesse caso, tomase a nogao de tema como uma nogao sintat ca, ou seja, na relagdo tema: ema, da perspectiva funcionalista da frase. O seguinte exemplo de Pause (1984 44) pode mostrar isso: (1) Pelas 23.59 h apareceu no horizonte um objeto luminoso e grande voando em direeao sul que deixava uma pista em ziguezague. Entao, de repente, esse objeto mudou para o leste sendo que 0 trago por ele deixado assumiu a forma de uma foic. Para a solugio da anéfora ele ter-seia dois candidatos neste caso (a) objeto fuminoso (b) leste No entanto, 0 seu antecedente é tido como sendo “objeto”, embora “les- te esteja mais préximo. O papel tematico do antecedente Ihe confere um status especial. Os fatores ou prinetpios acima enunciados Jevam a postular que a reconstrugio do antecedente para um elemento anaférico com antece- dente explicito considera uma série de informagtes do tipo: (1) informagdes morfolégicas (congruéncia entre 0 antecedente ¢ 0 ele- ‘mento pronominal) (2) informagées sintiticas (fungo e posigdo sintatica das expresses) (3) informagaes semanticas (o papel do teferente) (4) informagées tematicas (0 tema de uma frase ou'de um texto) { (5) informagdes de contetido textual (0 que ja se informou sobre um | referente pronominalizado} (6) informagaes lexicais (informagdes de sentido que © proprio lexema traz_consigo) (7) informacdes enciclopédicas (conhecimentos do individuo, expecta- tivas que uma informacao traz. consigo, inferéncias possiveis ete.) Berd Rae ee a er ‘Vejamos agora 0 quadro da coesio sequencial neste grifico: ‘ors SeQUENCIAL sequenciaio sequenciagio| paras ae ‘epee eed powesio tenstea paralelsmos codearento por jutaposio parases 3) mareadores espacais eens de b)macadores comersacanis topo res excaeamentn por cones Neb reyie tg sents b)relgéesargmentaas Como se sabe, este tipo de coesividade, muito trabalhado em sala de aula, fundase de modo especial no estudo dos conectivos, mas ele é muito mais rico do que isso. Nao vamos nos dedicar em detalhe a esse respeit. Vejamas apenas alguns desmembramentes para a sequenciagio conectiva que pode ser vista neste outro grafico ESQUEMA DOS PROCESSOS DE COESKO CONECTIVA ‘oPERADORES OFERADORES ARGUMENTATIVOS ORGANIZACTONAIS 1 Oposco ~ mas, ari, canto A de espgo temo etal 2 Gan — para os # ue ~ em primo ype. em 2° kr ‘Fin para con 0 opto de ‘Coniio ~ sa. ¢ mens que desde que ~ neste pont sq ne prt 5. Conia ~ nga asin portato proto cpl 6. Mie ete cana. ben ‘Loisunezo ou etaingistics ico — rem por exept & 00s 8 Canparaio— mai do que, mens do que ~ fue a pr at ate pein, ects paras com base ns, sega ano. Nao nos dedicaremos a uma exploracio deste quadro, mas isso pode ser visto nos trabalhos aqui ja citados de Ingedore Koch (1989). Como se viu até aqui com algum detalhamento, os mecanismos da coe- so dio conta da estruturagao da sequéncia superficial do texto (seja por re- cursos conectivos ou ferenciais); nao so simplesmente pri pos sintaticos € sim uma espécie de semintica da sintaxe textual, onde se analisa como as eee ee pessoas usam os padres formais para transmitir conhecimentos € produzit sentidos com recursos linguistics Ha, pois, certos fendmenos sintaticos que se foram ou se dio na rela 620 entre os enunciados (relagdes intersentenciais) que independem da corre io individual de cada um dos enunciados em si. Esse tipo de dependéncia que se cria nas séries de sequéncias a que chamamos textos vai permitire exigir novos padrées frasais, de modo que as proprias nogdes de corretude incorretude ¢ aceitabilidade, entre outras, tém que ser revistas. A reflexdo sobre coesividade nao tem sido mais feita de maneita siste tica nos siltimos estudos de ut porque este aspecto deu lugar aos trabalhos sobre 0s processos de teferenciagio, que passaram a representar a fusio dos processos de textualizagdo. 1.10.2. Coeréneia Para Beaugrande (1980: 19}, a coeréncia subsume os procedimentos pelos quais os elementos do conhecimento sio ativados, tais como a cone- xio conceitual. A coeténcia representa a anslise do esforgo para a continui- dade da experiéncia humana. Isto significa que hé uma distingao bastante clara entre a coesio como a continuidade baseada na forma ¢ a coeréncia como a continuidade baseada no sentido. ‘Trata-se de duas formas de obser- xtualidade. Sao, a rigor, os dois aspectos que mais ocuparam os linguistas de texto até hoje. Mas as posigdes a esse respeito tém mudado muito desde os anos 60 do século XX. Na verdade, sabemos muitas coisas que nio sio ditas, mas que usamos na hora de interpretar um texto. Assim, por exemplo, € 0 caso da heranga de propriedades que um elemento traz para dentro do texto quando ativado no Conjunto das informagdes. Tenha-se em mente aqui os textos citados de Josias de Souza, “Brasil do B", e de Ricardo Ramos, “Circuito fechado”, para enten. der melhor esse aspecto, r Suponhamos que um texto trate de uma narrativa sobre animais selva- gens. E evidente que muitas propriedades dos animais selvagens e muitas de suas ages tipicas ndo so aventadas no texto como tal, mas podem fazer pate integrante do conjunto de representagdes ativadas para organizar o sentido slobal do texto e sua coeréncia, Assim € que funciona a lingua enquanto mo- delo para compteensio da realidade e organizacio dos sentidos. A lingua no ee ee é um depésito de conhecimentos, mas é um guia que permite elaborr cami- rihos cognitivos nas atvidades linguiticas. Postula-se, aqui, que as relagdes que possibilitam a continuidade textual ¢ semantico-cognitiva (coesividade e coeréncia) ndo se esgotam nas proprieda- des léxico-gramaticais imanentes & lingua enquanto cédigo. Isto exiginé uma nogio de lingua que ultrapasse esse patamar ¢ siga 0 que jé expusemas inicial- mente sobre a questo. Embora tais relacbes léxico-gramaticais continuern ‘eruciais, requeremse, ainda, atividades linguisticas, cognitivas e interacionais integradas ¢ convergentes que permitam a consinugio de sentidos patithades, cou pelo menos deem pistas para seu acess. Vejase 0 caso do poema que serve de epigrafe a0’ capitulo 10 de Lutar com palavras, livro de Irandé Antunes sobre a coesio textual”, que trata da ‘coesado € coeréncia”. Eis a magnifica passagem: Subi a porta e Fechei a escads Tirei mina oragdese recite meus sepals. Desig n cama e diteime a Wi Tudo porue te me du um belo de boa nite. ‘utae andoimo) [Ap6s introduzic esse poema, a autora se indaga, logo no inicio do capitulo: Seria ese texto incoerente? E possvel descobrirnele algumma ponta de sentido? Me- Thor dizendo, épossvel recuperar alguma unidade de sentido ou de intengd0? Serve ‘para“dizer” alguma coisa? Se serve, como encararofato de as palavras ester numa ‘arrumagio linear que resulta sem sentido? A posta sobe? A gente fecha sescada? A gente tra as oragdese recita os sapatos? A gente design 3 cama e se deita na luz? Nao ha diivida de que o texto € coerente, mas em virkude de nossos co- mhecimentos e no em virhide do que est em sua imanéncia informacional. Para Charolles (1983), a coeréncia pode ser vista como “um principio da interpretagao do discurso” das agbes humanas de modo geral. Ela € © Tend Actes 205), Luarcom pala — oxo e corr So Pal: Parola p. 17% 25, Michel Charles (1083). Coherence ta Principle inthe Interpretation of issue, Text 3 (1983).7197, Primeira Parte | Processas de produsio textual resultado de uma serie de atos de enunciagao que se encadeiam sucessiva mente ¢ que formam um conjunto compreensivel como um todo. Para Charolles, somente uma andlise de processos permite tratar 2 coeténcia. Se- guramente, a coeréncia € em boa parte uma atividade realizada pelo receptor de um texto que atua sobre a proposta do autor. E, nesse aff, 0 receplor segue as pistas (deixadas pelo autor nas operagies de coesto textual) como primei- tos indicadores interpretativos. De todo modo, a coeréncia € uma atividade interpretativa e nao uma propriedade imanente 20 texto. Liga-se, pois 2 ativie dades cognitivas & no 20 cédigo apenas. A coe ncia é, sobretudo, uma relacdo de sentido que se manifesta entre (0s emunciados, em geral de maneira global e ndo localizada. Na verdade, a coeténcia providencia a continuidade de sentido no texto € a ligagio dos pré: prios t6pic observavel como fendmeno empirico, mas se i por razdes conceituais, cognitivas, pragmticas ¢ outras. (Para maiores de tathes, cf Koch/Travaglia, 1989 ¢ 1990; Marcuschi, 1983; Koch, 2000) discursivos, Nao A coeréncia, segundo observarn Beaugrande/Dressler (1981) diz respeito ao mode como os componentes do univers textual, ou seja, os conce' tose relagdes subjacentes ao texto de superficie 40 mutuamente acessiveis e rele ‘antes entre si, entrand numa configuragdo veiculadora de sentides, Relagbes de coeténcia sio relagées de sentido e se estabelecem de vivias maneiras. Por exemplo, na sequéncia de dois enunciados, sendo que um deles pode ser tomado como causa e outro como consequéncia. Ou entdo um é interpretado em fungo do outro. Suponhamos que alguém diga o seguinte a respeito de seus vizinhos & meia-noite: — Meus vizinhes devem ter saido porque a televisdo ainda esté ligada e as luzes da varanda estao acesas. Certamente, 0 autor dessa sequéncia nao esta querendo sugerir uma relagio de causa ¢ efeito entre a televisio ligada, a luzgicesa e a auséncia dos vizinhos. O que ele esta sugerindo é que as luzes acesas € a televisio ligada so um indicio de que os vizinhos sairam. Pois ele sabe que quando os vizinhos esto em casa isso ndo acontece aquela hora e que quando saem, os vizinhos costumam agir daquele modo. A sugestio de coeréncia entre os éenunciados ¢ 0 bom uso daquele “porque” fanda-se num conhecimento pes: soal do enunciador daquela sequéncia € no numa relagao semantica entre (5 enunciados sequenciados. ee ee Esta € uma situagdo muito comum no diaa-dia. E também o que vimos acima no conte “Circuito fechado”, de Ricardo Ramos e no artigo de opinige de Josias de Souza E importante, no entanto, ter claro que as relagdes de coeréncia deve set concebidas como uma entidade cognitiva. Isto faz com que essas relagdes em geral nao estejam marcadas na superficie textual e que no tenham algum tipo de explicitude imediatamente visivel Pode ser até mesmo um ponto de vista do leitor que estabelece a coerén- cia. Assim, a coeréncia nao é uma propriedade empirica do texto em si (nao se pode apontar para coeréncia), mas ela é um ttabalho do leitor sobre as possi- Dilidades interpretativas do texto. E claro que 6 texto deve permitir 0 acesso coeréncia, pois, do contritio, nao haveria possibilidade de entendimento. E importante ftisar que a coeréncia é um aspecto fundante da textualidade endo resultante dela, E assim que a coeréncia est muito mais na mente do leitor e no ponto de vista do receptor do texto que no interior das formas textuais. Mas essa questio deve ser vista com cautela para nio introduzitmos aqui tum fator de subjetividade que venha a mascarar todo 0 processo de pro- ducdo textual. A coeréncia nao depende de um voluntarismo do sujeito indivi- dual. E aqui devemos lembrar a nogdo de sujeito tal como a definimos a0 longo deste trabalho, O sujeito € histérico e social, acha-se inserido em con- textos mais amplos que ele proprio ¢ nao tem dominio pleno do autor e do texto. O sujetoleitor esta submetide a ume série de condicionamentos e niio tem conscitneia de todos eles. Assim, a coeréncia é também fruto de domi- nios discursivos dos quais procede o texto em questio. Seria equivocado anali sar apenas o texto em si mesmo ¢ na sua imanéncia para tratar a coeréncia. Existem, com certeza, situagées que independem da perspectiva do leitor para se identificar a falta de coeréncia numa sequéncia, como 0 caso do indi- viduo que “estava mu, de maos no boli, contemplando o sol da meia-woite no interior de us foro microondas”. Mas isso no passa de uma brincadeira Segundo muito bem observou Fonseca (1992: 35), ha autores que consi- deram a coeréncia como coeréncia temética, no estilo das teoris dos mentores da Escola de Praga e que tém na continuidade tematica a garantia da unidade textual. O campo temdtico tem uma centialidade muito grande nessa forma de ver a questio, contudo, a coeréncia se dé num ambito muito maior do que na relaglo de enunciado a enunciado. A coeréneia busca oxganizar 0 nécleo ‘em torno-do qual gicam os enunciados textuais. Primeira Parte | Provestos do produsio textual Isso quer dizer que a coeréncia nao se dé como urn movimento sucessivo de enunciado para enunciado © numa relagio de elemento para elemento. Ela é uma funcio que em muitos casos se dé globalmente e tem uma realiza- 4 holistica. A coeréncia nao € uma realizagio local, mas global, embora possa ter, em muitos cas0s, um desenvolvimento local. Nisso ela se distingue de forma clara da coesio textual Outea perspectiva & tomar essa mesma continuidade tépica (que gera coeréncia) designandoa, como o fazem os estruturalistas franceses, especial- mente Greimas, de isotopia™. A isotopia funda-se tanto na continuidade do conteiido quanto mama ordenaglo Iéxica estruturada em tomo de um espaco ‘mental criado por um item lexical ou uma sequéncia lexical. Pode darse tam- bem como fixagio de uma orient: intencional global pretendida pelo au- tor e que permite 29 leitor uma interpretagdo nessa perspectiva. As piadas tém. esse tipo de coeréncia que se d4 com base em disfungées. HG, no entanto, um funcionamento da isotopia ji no nfvel do enunciado ou das relagdes imediatas dos elementos lexicais. Veia-se este exemplo: A atriz beiou 0 namorado acaloradamente, Sabemos que [atri2} é um ser vivo e pode praticar ages do tipo [beijar] quo, em geral, sio codes de seres vivos. Assim, ao se dizer que “a atriz beiou..” se est produzindo uma predicagio isotopicamente adequada. Jé nlo ocorte- — A pedra-pomes beijou 0 namorado acaloradamente Pois neste caso no haveria congruéncia semantica, | que se estaria predicando entre classes de semas divetsos. Isto 36 seria adequado em condi gbes especiais e com um uso metaférico (para maiores detalhes sobre a isotopia, cf, Maingueneau, 1996: 53-56) 27 Taleomolembmavebet eD_Maingueneao, ‘uotpia” no Dison de andi do deur (P- Charades 1292.20), nog de faotopia fol inodusda par Ggimas na semntien di respite 208 “procedimentos que concorem par 2 cvertnca de uma saqublea dscutsna ode uma tmenseger. Fundada na vedandancia de um mesmo tago no desevolvimente dos enunciado, tl oaréncia die rerpeitoponcpalmente& organizagiosemintica do dsewrso". A isotpia € wm ex ‘emitice que permite cit eets de coertnca “Elana ants Ge mais wads, da teratvidade, 20 longo de uma eadeasrtgmtic, de ealsemas [ago xrintios coatetuas] que asequam a2 isco sta homogeneidade”(p 292), Pode diver que “m0 plano funcional, a coerneia dissva produzida pela iolopiacondctona a Tisildade das tetox” Por outa lado, “do pont de vista do. ‘enuncatro,aisotopia consti uma grade de letra que toma homogenes asupericie do testo j que tla permite climax anbigudadet”(p, 293). ee ee (© imais comum € usar a isotopia como critério para a observaggo seman tica de textos completos € ndo de simples enunciados. Veja-se aqui o exemplo trazido por Fiorin (1989: 82) para mostrar que a isotopia se dé como a recorréncia de um trago semantico comum no texto € que orienta a leitura € a compreensio, tal como lembrado na nota 28 abaixo. Este exemplo € stil para revelar uma visio fundada nos tragos linguisticos ter estruturl ¢ evidenciar o quanto a nocio de isotopia é de card Certa vez uma familia inglesa foi passa as ferias na Alemanha. No decorrer de um passeio, as pessoas d familia viram uma casa de campo que Ihes pareceu boa para pasar as férias de verio, Foram falar com o propritirio da casa, um pastor alemdo, © combinaram alugisla no verdo seguinte De volta & Inglaterra, discutiram muito acerca da planta da casa, De tepente, a senhora lembrau-se de na te visto 0W-C, Conforme o sentido pritico dos ingles cesereveu imediatamente para confirmar tal delalhe. Acarta fo exrta asim: Gentil Pastor Sou membro da familia ingleta que 0 vistou ha pouco com 2 finalidade de lugar swt propriedade no prdxima verdo, Como esquecsmos um detalle ‘muito importante, agtadeceri se nos informasse onde se encontta 0 w-c O pastor alemio, no compreendendo o significado da abreviatura Wc. e julgando tratar-se da capela da religio inglesa White Chapel, respondeu nos seguintestermos: Gentil Senhora Tenho o prazer de comunicarthe que o local de seu inteesse fica a 12 km da casa. E muito cémmodo, sobretudo se se tem o habito dei i frequentemente; nesse caso, épreferivellevar comida para pascr ldo da inteio.Alguns vio pé, nts de hieiclota Hi Ingar para qualracentas pessoas sentadas e cem em pé recomendase cheger cedo para arurnat lugar sentado, pois os assent sio de vyeludo, As eriangassentamse ao lado dos adults todos eantam em coro. Na entrada é disribuida uma follia de papel para cada um; noentanto, se chegar depois da dstribuigao, pode-se usa a flha do vizinho 20 ldo. Tal folha deve ser rettuida 3 safda para poder ser usada durante urn més, Exstem amplifcado- res de som, Tado.o queserecolle para as criancas pobres da regido.Fotégrafos especias tram Fotografias para os jomais da cidade a fim de que todos possamm ver seus semelhantes no desempenho de um dever tio hurano. Embora esta seja urna peca de humor, tudo se di em fungio de um deslo- camento semantico que contaminou a nartativa inteira e, em consequéncia, 0 sentido geral do texto, Nao ha diivida de que esse sentido ja se achava de algum Primeira Perte | Provessos de produsio textual modo inserito no texto € ndo foi introduzido aleatoriamente pelo intéxprete da carta. Segundo observa Fiorin, houve um deslocamento da isotopia da higiene para a isotopia do cult, originando assim uma sobreposigio de isotopias. A leitura é feita com base em dois planos semanticos distintos € na sua contraposicao, Uma espécie de sobreposi¢ao isotdpica atuando sirmultaneamente. As isotopias tém uma grande semelhanga com o que se designa como frames (enquadres cognitivos) ou esquemas cognitivos gerais que controlar toda a estrutura cognitiva do texto e as relagdes intertextuais. A rigor, nessa petspectiva, ndo slo propriamente as regras gramaticais que entram em aco para constituigio da textualidade e sim os processos cognitivos tendo em mente precisamente questoes dessa natureza que Fonseca (1992: 35) defende que “a totalidade de sigificaglo intendida pelo locutor representa «© grande principio da construcio do texto”, Isto que dizer que a coeréncia seria uma espécie de prinefpio global de interpretagio € no localizado, Se a coeréncia € uma articulagao de vatios planos do texto e ocorte como tum “complexo de interdependéncias” realizado vertcalmente (pela intengio co- ‘municativa global unificadora) ¢ horizontalmente (inter-relagdo entre enunciados sequenciados), 0 texto € de fato uma articulagio em dois niveis. Mas isto € uma visio também redutora na medida em que terd dificuldade de integrar a interacio entre produtor e receptor, jé que nao prevé, no modelo, © lugar da cooperacao. Como se nota, o: dois prinespios bisicos da coeréncia, na posiglo te6r ca de Fonseca, s20 0s seguintes i. nao contradiggo. que permite a diversidade dentro de esquemas de compatibilidade definida pela pertinéncia nas relagdes de implicagao leégica, sequéncia temporal, inclusdo etc. (ordem e causalidade}; ii, no tautologia: que providencia a continuidade textual, ou seja, a progressio tematica trazendo contexidos novos inftegrados. Vejo dois problemas nessa posicio: primeiro, em ambos os principios, contemplam-se apenas as relagdes I6gico-semdnticas, sem a menor atengao para os papéis interacionais e as negociagdes entre os interlocutores; segundo, apesar de 0 principio (ii) dar a entender que a redundancia ¢ a repeticao estariam aqui eliminadas, isto no ocorte, pois elas servem a cettos propésitos especificos que devem ser analisados em cada momento em que ocorrem. ee ee Hi aqui uma espécie de insuficiéncia empirica e estratégica. O texto € ‘visto apenas como um artefato légicoinguistico nessa perspectiva. Nao gosta ria de deseartéla, maz aponto para seu cariter redutor [A coeténcia pode ser vista tanto na sua relacio microestrutual imediata (na sequéncia dos enunciados) como na relagéo macroestrutural ou armpla (na significagao global) ¢ nas relagdes terlocutivas (nos processos sociointeratives). E evidente que a compreensio de texto estaré enormemente afetada pelo jogo das relagdes entre os tés planos de observasao. texto nio se dé apenas como um conjunto de tépicos que sequéncia de enunciados. As evidés is a parti do texto (enunciados, itens tos do receptor para atuarem na construgio do seintido final do texto. As racroestruturas geram ou propiciam sentidos globais (expectativas que orien- tam a leitura desde o seu infcio). As microestruturas propiciam tanto a confit- imagio dos sentidos gerados como sua revisio com base em elementos. [A coeréncia pode ser tida como um principio interpretativo, na li nha de Charolles (1983), na medida em que € 0 continuo que perpassa 0 texto para levar as sucessivas revisdes da parte do leitor nas suas interpre- tacoes textuais 1.10.3. Intencionalidade © citério da intencionalidade, centrado basicamente no produtor do texto, considera a intengio do autor como fator relevante para a textualizacio. Tanto assim, que se costuma indagar: 0 que € que o autor deste texo pretende? Resta saber se esta indagagio é sobre a intencionalidade do autor ou sobre os contetidos transmitidos pelo texto, Quando Beaugrande (1997: 14) analisa a intencionalidade como um rinefpio da textualidade, reporta-se a0 caso do catélogo telefénico © sugere aque ao tentarmos fazer aquela lista ter coesio © coeréncia, levamos em conta © que a companhia telef6nica “intencionava” € como n6s “aceitartos” aquele resultado. Temos aqui dois principios em ago: a intencionalidade ¢ a aceitabilidade, A intencionalidade diz respeito ao que 0s produtores do texto pretendiam, tinham em mente ou queriam que eu fizesse com aquilo. Jé a aceitabilidade diz respeito a como eu teajo € como eu accito, considero ou ‘me engajo nas intengdes pretendidas. Primeire Parte | Processos de produsso textual Com base na intencionalidade, costuma-se dizer que um ato de fala, um ‘enunciado, um texto so produzidos com um objetivo, uma finalidade que deve set captada pelo leitor. Como se nota, se esa posicdo nao chega a decidir uma primazia do autor, isto j& desloca todos os principios da dialogicidade para um plano de subjetividade inaceitavel. Por isso mesmo, deve-se ter cautela com a questdo da intencionalidade que nao costuma ser trabalhada nos textos. E dificil identicar a intencionalidade porque ndo se sabe 20 cao o que abserar. Tambien nio se sabe se ela se deve ao autor ou a0 lito, pois ambos tem intengdes, Mas o problema fia ainda maior quando queremos analisar a intencionalidade como um critério da textualdade, Seria mais conveniente ve In integra no plano global do texto © nos processes produtores de coeréncia © problema maior no caso da intencionalidade acha-se no conceito de sujeito que ela subentende. Tudo se passa como se 0 sujeito fosse dono do contesido © como se ele fosse uma fonte independente e arhistérica, Isto € impossivel € nio estaria em consonancia com o que j4 postulamos aqui so bre a questio. Em uma andlise desse prinefpio, Favero (1986) lembra que a intencio- nalidade serve para manifestar a acio discursiva pretendida pelo autor do tex to. Portante: 4 intencionalidade, no sentido estrto, € a intengio do locutor de produzir uma ‘manifestagdo linguistica coesiva e coerente, ainda que essa intengdo nem sempre se tealize na sua totalidade, especialmente na conversagdo usual Certamente, eabe aqui lembrar, como 0 faz Févero, que o prinespio de cooperagio com suas quatro méximas conversacionais, tal como propostas por Grice (1975), do uma boa forma de analisar como opera a intencionalida- de num texto, A intencionalidade, sobretudo no caso de funcionar na perspee- tiva das implicaturas, é uma forma indireta de se dizer 0 que se quer num texto € € responsivel por boa parte de implicitude. Mas nao esquecamos que a intencionalidade em Grice (1975) nao € mesmo que a intencionalidade de Austin ou de Searle, F 1.10.4, Aceitabilidade Como vimos hé pouco, a accitabilidade diz respeito a atitude do receptor do texto (é um eritéio centrado no alocutério), que recebe 0 texto como uma configuragio acetivel, tendo-o como coerente € coes0, ou seja, intexpretével © i significativo. Permite um certo grau de tolerancia, além do qual o texto ndo seria sequer inteligivel. O problema da aceitabilidade € definir os seus limites: sd0 eles por parte do sistema, da plausibilidade cognitiva ou da situacionalidade? Nesse caso, esse principio é redundante com o de situacionalidade. E importante nio confumdir essa nogao de aceitabilidade enquanto eritério da textualidade com o mesmo termo usado na gramitica geratva, Pois 0 texto diz respeito ao sistema da lingua atualizado e ndo a um sistema vietual. A rigor, um texte pode ser aceitavel, embora alguns de seus enunciados violem a gramaticalidade em sentido esrito. A aceitabilidade no gerativismo se dé no pla no esrito das formas e da semantica enquanto tal. Assim, uma sequéncia como: ¥ — Hoje levantei cedo e tomei um banko, um café e um taxi para a universidade. Seria um enuniciado mal-formado ¢ inaceitavel do ponto de vista gramati- cal por violar uma relagdo de papéis temticos. Mas em certos contextos e para finalidades especiticas, este enuunciado 6 aceitavel. A aceitabilidade de que trata UT Ado se reduz ao plano das formas e sim se estende a0 plano do sentido. A aceitabilidade, enquanto critério da textualidade, parece ligarse a no- ges pragmiaticas € ter uma estreita interagio com a intencionalidade, como lembrou Beaugrande (1997: 14) A accilablidade se dé na medida diteta das pretensées do proprio autor, que sugere a0 seu leitor alternativas estiliticas ou gramaticais que buscam efeitos especiais. Com isto, vé-se que as relagdes entre aceitabilidade e gramaticalidade sio muito complexas. Se tomarmos, por exemplo, as obras de Guimaraes Rosa, vamos observar que muitos de seus textos contém enuncia- dios cue sob o ponto de vista da gramética oferecem resistencia, contudo, sf0 plencmente aceitiveis na obra. Também na fala teros produgdes que beiram a agramaticalidade, mas rem por isso deixam de ser aceitaveis e inteligiveis por seus ouvintes, 1.10.5. Situacionalidade O eritério da situacionalidade refere-se ao fato de relacionarmos o eve to textual a situagao (social, cultural, ambiente etc.) em que ele ocorre (cf. Beaugrande, 1997: 15). A situacionalidade nao s6 serve para interpretar ¢ relacionar o texto ao seu contexto interpretative, mas também para orientar a proptia produgdo. A situacionalidade é um critério estratégico, ee ‘Tomemos o caso de alguém que quer falar ao telefone: essa situagdo exi- gird uma série de acdes mais ou menos consolidadas e que vio constituic 0 género telefonema. Haveri a chamada, as identificagdes e os cumprimentos rmiltuos, a abordagem de um tem, ou virios, e as despedidas. Assim set4 com qualquer outro testo, por exemplo, uma ata de condominio © até mesmo uma redagao escolar, que exig dos, Em certo sentido, todo 0 texto conserva em si tragos da situagio a que se refere ou na qual deve operat. A SITUXCIONALIDADE PODE SER VISTA COMO UNE jo determinados requisitos situacionalmente defini CCRITRIO DE ADEQUAGKO VEXTUAL Este principio diz respeito aos fatores que tornam um texto relevante numa dada situagio, pois o texto figura como uma agio dentro de uma situagdo controlada € orientada. A sigor, a situacionalidade é dada ja pelo simples fato de que o texto é uma unicade em funcionamento, Em sentido estrito, o critério da situacionalidade & supérfluo, pois por natureza, jd se admite que toda sentido € sentido situado, Nao hé produgao de sentido a nao ser em contextos de uso. E a categoria do uso (0 usual) em boa medida deveria determinar os aspectos definidores da situacionalidade. ‘Também € bom ter presefite que situacionalidade nao pode ser simples- mente confundida com contextualidade. A nagio de contexto é um dos aspec- tos centrais da construgao da situacionalidade, mas se distingue dela. Por outro lado, em sertido estrito, poderfamos dizer que a situacionalidade € uma forma particular de o texto se adequar tanto a seus contextos como a seus usu s. Se um texto ndo cumprir os requisitos de situacionalidade, nao poderd se “ancorar” em contextos de interpretacao possiveis, 0 que o tora pouco proveitoso. Sob varios pontos de vista, a situacionalidade nao forma um prinetpio auténomo, na medida em que & em muitos casos um aspecto de outros crité- rios, No fundo se trata de um eritério redundante quando visto isoladamer r 1.10.6. Intertextualidade Este critério subsume as relagoes entre um dado texto € 08 outros textos relevantes encontradas em experigncias anteriores, com ou sern mediagao. Hi hoje um consenso quanto 2o fato de se admitir que todos os textos comungam com outros textos, ou sejz, no existem textos que no mantenham algum aspecto intertextual, pois nenhum texto se acha isolado ¢ solitério. eee ae de gineros ¢ eompreensto Pode-se dizer que a intertextualidade" € uma “propriedade constitutiva de qualquer texto € 0 conjunto das relagses explicitas ou implicitas que um texto ou um grupo de textos determinado mant rio de andlise do discwrso, 2004: 288). Essa nogao entrou primeiro no estudo da literatura e depois estendeuse para o tratamento do texto em geral. C. 1 com outros textos” (Diciond Genette (1982: 8) usa a expressio ‘transtextualidade’ para designar o fendme- rno de modo mais amplo ¢ distingue os seguintes tipos de relagées transtextuais (cf. Diciondrio de andlise do discurso, 2004, p. 289): © a intertextualidade, que supde a presenga de um testo em outro (por citacdo, alusio ete.}s © a paratextualidade, que diz respeit® 20 entomo do texto propriamen- te dito, sua perferia (titulos, preficios, ilusracoes, encarte ete.) a metatextualidade, que se refete 2 telacio de comentario de um tex- to por outro: © a arquitextualidade, bastante mais abstrata, que pde um texto em relagdo com as diversas classes as quais ele pertence (tal pooma de Baudelaire se encontra em relagao de arquitextualidade com a classe dos sonetos, com a das obras simbolistas, com a dos poemas, com a das obras liticas ete.}; a hipertextualidade, que recobre fendmenos como a parddia, 0 pastiche ete. Mainguencau (1984: 83) distingue entre intertextualidade e intertexto, dizendo que 0 intertexto seriam os fiagmentos discursivos que aparecern e a intertextualidade seria o principio geral que rege as formas de isso ocorrer, isto 6, as regras do intetexto se manifestar, que podem ser diversas na literatura, na ciencia, na teligito ete. Além disso, o autor distingue entre uma intertextualidade interna (entre dscursos do mesmo campo discursivo) e uma intertextualidade externa (entre discursos de campos discursivos diversos, por exemplo, entre © campo discussivo da tealogia e da ciéncia). A intertextualidade € um fator importante para o estabelecimento dos tipos € géneros de texto na medida em que os relaciona c os distingue. Na realidade, isso seria uma telagao como a de arquitextualidade de Genette. 28. A queso do inertntuliade& elatvamentecomplena ea clase iam muitos trmos que podem serproveitntmente cosultados no Diconeradeandlise do dscune, com expat dialog Uiseuno etado interdscuro, metacomunicasio, metedizcurepobifnia,além dos tatados ness breves nots Devese,aaentant, teralgom cuiado, ois poifoniaeintertxtlidade nos equvalem, eee ee Numa proveitosa reflexio sobre a intertextualidade € sua relagio com a polifonia, Koch (1991: 529-541) lembra uma passagem de Barthes (1974) quando este afirma que “todo texto é um intertexto; outros textos estdo presentes nele, em niveis varidveis, sob formas mais ou menos reconheciveis”. Nes caso, todos os textos teriam uma configuragio heterogénea. Para Barthes, “o intertexto € um campo geral de {6rmnulas andnimas, cuja origem raramente € recupers vel, de citagses inconscientes ou automaticas, feitas sem aspas” Segundo Koch (1991: 530), num sentido amplo, a intertextualidade € uma “condigdo de existencia do préprio discurso” e pode equivaler a nogio de interdiscursividade ou hy erogencidade. Um discurso remete a outro e tudo se 4 como se 0 que se tem a dizer trouxesse pelo menos em parte um jé dito Para Maingueneav, 0 “intertexto é um componente decisivo das condi- ges de produgio diseursiva”. Daf a lembranca de Koch, que cita Kristeva (a introdutora da nogéo de intertextualidade), quando esta afirma: “Qualquer testo se constesi como um mosaico de citagdes e € a absorgio e transforma- io de um outro texto” Sob um ponto de vista estrito, observa Koch (1991: 532) que a intertextualidade seria “a telacao de um texto com outros textos previamente existentes, isto é efetivamente produzidos”. Tratasse, pois, da presenga de partes de textos prévios dentro de um texto tual. Dentre as virias modalidades desse tipo de intertextualidade, Koch des- taca, , entre outras, as seguintes: 1) intertextualidade de forma e conteiido: quando alguém utiliza, por exemplo, determinado género textual tal como a epopeia em um ou- tro contexto no épico 6 para obter um efeito de sentido especial b)_ intertextualidade explicita: como no caso de citacoes, discursos dire tos, referencia documentadas com a fonte, resumos, resenhas; provost A intertextuslidade colabora com a coeréncia tentual. E hoje estudada det damente porque tem importineia Fundamental 0 relacionar discursos entre si No contexto da intertextualidade, também se costuma tratar do que Authier-Revuz (1982) chamou de heterogeneidade mostrada e heterogenei- Re ee ee dade constitutiva. Pode-se dizer que se trata do problema da presenga de discussos “outros” num dado discursa que vem de outras fontes enunciativas identificdveis ou alguns aspectos da questio: 4o (0 que equivale ao tema da intertextualidade). Vejamos © Heterogeneidade mostrada: presenga de um discurso em outro dis- curso de modo localizavel ¢ identificavel. Pode aparecer na forma no marcada (discusso indirsto, indireto livre, parafrase, pastiche etc.) fou na forma marcada (éiscurso direto, com aspas ou alusiio identificada etc.) © Heterogeneidade constitutiw: quando 0 discurso ¢ dominado pelo interdiscurso. Eo surgimento de uit didlogo intemo € que nao ne- ccessariamente vem do exterior. Assemelha-se ao dialogismo bakhtinia. no, Constitui-se no debate com a alteridade. © que se pode dizer é que a intertextualidade, mais do que um simples critétio de textualidade, é também umn principio constitutive que trata o texto como uma comunhdo de discursos e no como algo isolado. E esse fato é _relevante porque dé margem a que se fagam interconexbes dos mais variados tipos para a propria interpretagao como no caso dos dois textos jf comenta dos de Ricardo Ramos e Josias de Souza 1.10.7. Informatividade Seguramente, este critério € o mais dbvio de todos, pois se um texto € coerente é porque desenvolve algum t6pico, ou seja, refere eontetidos essencial desse principio € postular que num texto deve ser possivel distinguir entre o que ele quer transmitir € 0 que € posstvel extrair dele, € © que nao é pretendido. Ser informativo significa, pois, ser capaz de diri- mir incertezas [A igor, a informatividade diz respeito ao grau de expectativa ou falta de cexpectativa, de conhecimento ou desconhecimento e mesmo incerteza do texto oferecido. 0 certo ¢ que ninguém produ textos para ndo dizer absolutamente nada. Contudo, nio se pode confundlt informacio com contetido e sentido. A infor- macio é um tipo de conteiido apresentado ao leitorouvinte, mas nlo € algo anifora © isotapia © catora © ingua © coorénia 1 objeto de dzcurso © coesio © progeesioreferencial © contexta © refxéncia © coterénia © sujeto texto © tomarema © dado nova © ew © ditico © tipio comenttio © discurso © topon dscusivo © gio © topio sentencal (b)Analisar as concepgdes de lingua encontréveis em pelo menos quatro teorias lingustcas identiticandoshes a diferencas, ()ldenificar as diversas dfinigdes de linguistica de testo e defines de texto nos iciondios de linguistica Fazendo hes uma andlisecrtica, (@)identifcar textos de géneros varados e observar se 0s processos de coesividade io diferentes e em que diferem (e)Comparar 0 uso de aniforas em bulas de remédio,receitas clini, naticias de jornal, resenhas de los ¢ resumos de congressos. (© Ienttcarlistas dos mais varados tipos e analisar os processos de referenciaglo tendo em vista seus usos sociis caracterstcas. {€) Tomar 10 colectes de lvos ddétcos do ensino fundamental e analisar os concet tus de lingua v erty wees exposts uu idenificar quus vs eonceitos deste tipo subjacentes aos mesmos. eee ee lice de goneres © compreonsie tum papel crucial. A expressio referenciagdo € aqui usada no lugar de referén- cia, jf que esta Gltima tem um catiter de celagao pré-abricada (3 margem das condigdes de uso) entre mundo e a linguagem. Tal como observa Mondada (1994: 17), ao se considerar a nogio de objeto de discurso interessa ter erm conta a imbricagio das priticas cognitivas © sociaisnas operagies de referenciacio, onde a referencia é construida pela aividade ‘enunciativaeorientada em primeito lagar para dimensio intersubjetiva no seio da qual ea é negociada, instaurads, modificada,ratificada Para @ autora, como pata nés, mais do que “a maneira como 0 texto faz feferéncia a uma exterioridade”, interessa “a maneira como os locutores con- cebem sua referéncia a uma exterioridade” (MOndada, 1994: 17). Iso signifi ea que é essencialmente na interagio (interpessoal ou com 0 texto) que se constt6i 0 sentido. Na verdade, a referéncia € produzida na perspectiva do foco estabelecido. E quando 0 foco nao € estabelecido com clareza, pode haver um desvio da focalizagao, 0 que acarteta também uma alribuicao referencial inadequada, Segundo observam Moeschiler & Reboul (1994: 350s), ‘uma expresszo referencial s6 chega a sua referencia conereta quando empre gada num discurso, Caso contratio, sua significagao lexical, de earéter linguistico, no passerd de uma referéncia vietual. Jé no caso de termos como os prono: mes € 05 déiticos, que nio tm referéncia vietual por nlo serem deseritivamen- te autonomos, eles s6 chegam a referéncia conereta mediante outros indiea- dores. © exemplo (1) a seguir apresenta uma interessante situagao discursiva para exclarecer esse processo de saturagio referencial. Veja se (1) 001 teefonena 352 eutava li dent. 353 mas ate ue es bene aa ho eos | 354 porqe exw pasando mas e tora tn agora to tensa sabe json teh 255 mas efi tart 351 ‘Porque os meios das cadeiras eram estreitas e nao dava pra ele passé né 3k Ceuta 359 feaa um avengo 350i ma aa fa 361 qo vem ra vem head. "Ta a espera of ue eo ¥ pet um 362 gra min’. pega de dois ds 363 nardestina 6 fogo via 364 _ave mia ach to fio viv ee ‘Todos os que tiverem conhecimentos minimos dos fatos envolvidos ou owvi rem a grava ra linha 3 ao completa do telefonerna em questio identilicam o referente de ele 37 como sendo o garcom, embora o item nao esteja lin presente, No entanto, a falante referia-se ao individuo que estava servindo 0 co- isticamente quetel. A questio : como foi que o produtor daquele enunciado escolhew o géne- 10 do pronome ele? Por uma predeterminacio do relerente implicito? Certamen: te que sim, Do mesmo modo, podemos interpretar a anfora na linha 362, que refere as pessoas presentes ao ato. Esse, no entanto, jd é um caso im pouco mais ccomplexo ¢ exige a compreensio de um contesto um pouco maior. Mais compli cada ainda fica a identificagio do referente de "v6 pegi um” na linha 361. Aquele indefinido urn referesalgadinho ou docinho, isto &, os frios que estavam sendo servidos pelo gargom naquele coquetel. O curioso nesses irs casos € em muitos coulros do mesmo telefonema é que as falantes conseguem identificar com segu- ranga 0 que estio quetendo dizer e o que estio referindo, Para a anslise da relagdo entre referenciagio ¢ eoeréncia™, seré essen- cial considerar que, numa perspectiva macro, um texto constidise e progride com base em dois processos gerais (1) progressao referencial (2) progressao tépica Esclarecendo as relagGes de diferenca e semelhanca entre os dois proces sos, podese lembrar, grosso modo, que: Progressao referencial diz respeito & introdugio, identificagao, preserva ‘20, continuidade e retomada de referentes textuais, correspondendo as estratégias de designagao de referentes ¢ formando o que se pode denomi- nar cadeia referencial. Progressdo tépica diz respeito ao(s) assunto(s) ou t6pico(s) discursivo(s) tratado(s) 20 longo do texto. Nao ha estudos detalhados relacionando esses dois aspectos. Mas, em principiv, bi serve de base para o desenvolvimento de um tépico, a presenca de um topico “oferece tio somente as condigées possbilitadoras e preservadoras da continui- rein que sejam independentes, boro sejamn também 1ocos. Eles so codeterminados. Contudo, se a confinuidade referencial dade referencial, mas ndo a garante. A progressdo referencial se dé com base 3, Este expecta ainds ado recebew um tatamento adequado, pois €compleso e seguramente eves ser objeto de inten exdorproximamente

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