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AS MOEDAS DE COBRE FARA S. TOME E PRINCIPE Por RAUL DA Costa CouveEUR Sobre as Casas de Moeda onde foram bavidas algumas da vinas emlssoes destas espécies © seu destino, bem como sobre a significagao © local de ap= cagio do carimbo que Thes fot aposto em 1854, tem havido uma incereza a que o ilustre numismografo brasileiro Senhor Kure Prober se propés dar fim. Assim, non 5 de NVMMVS, publicon este Senhor um artigo com 0 tialo acima, em que na pigina 28 estbelece quanto aquelas moedas « su sclassifccto ceria em conformidade com os esclarecimentos dadose, tendo jt ma ppigina 26 rectificado, tambim defintivamente, © que se tem escrito sobre a finalidade ¢locsl de splicagdo do carimbo de 1854 Lio sempre com muito interesse ¢ desejo de me clucdar os trabilhos de mumismates sabedores e minuciosos, como os varios da autoria do Seohor P:ober: no entanto, Iealmente devo confestar que, no obstante 0 reconhecimento da minha insuficiéncia, muses posso deixar de me eximir uma certa impressio que me causam informapbes eategorcas em assuntos histzicos quando precedidos de palavras que me do sensagio de visarem a esabe ecer tum ambiente de prévia persuasio no esptito dos leitors. E reiobro entao na atengio com que os leio. Assim, para me integrar naquele ambiente de certeza que ressalta do artigo, muito agradivel me sets, ‘quanto i classificrto, ser esclarecido pelo que se refere a algumas divides {ue se levantam no meu espiito, relativas a devermivadas expécies. Por outro lado, o estlarecimento com o mesmo cunho de certezs da finalidade e loeal de aplicapio do carimbo de 1854, pondo poato finel as virias interpretpbes até agora apresentadas, Jeva-me ® apresentar também 4 interpreagdo que hi muito encontzei para uma ¢ para 0 out, que tem apenas o mérito de se basear exactamente, ainda que € possivel de forma Incomplet, na ctiteriosa observasi0 do Senhor Prober, expendida no c:ado artigo sob falta de leurs da legislagto 4 Comerancdo, pois, pelo principio, como faria Mr. de la Palisse, vou ‘expor divides que tenho quanto a determinadas moedas, apresentando algumas ‘petguntas que, repito, muito agredivel me seria serem respondidas. Pelo Aviso de 27 de Outubro de 1819 —que nao conhecia— fico sabendo ter sido julgedo conveniente que em 3 de Novembro fossem enviadas do Rio para a Bala os cunhos das espécies em questio, para que as moedas com eles ‘obtidos fossem enviadss pare S. Tomé ¢ Principe. © documento nio esclarece, porém, se os cunhos foram ou nto enviados, mas admitamos que foram. ‘A seguir, diz-se na pigina 25: +Porém as moedas néo foram para ld remetidas mas sim para a Capitania de Morambigue, como demonstra de maneira inrefutdvel 0 Avs0 de 9-8-1820. Segue-se 2 transctigio do Aviso de 1820, que também me era desconhe- ‘ido. se bem que & sua determinayio Aragio se refit. na pig. 439 do vol. II em que se manda seguir do Rio pata aquela outra Provincia a imporeancia de 20 contos de réis em emoedas Provincaiss ¢ fechacse a ciagio dizendo-se: 20 que explica como foram enviadas para Mocambique as moedas de 1819 ¢ 1820» Posto isto, passo as minhas davies. [No fim da pagina 26, diz-se: «como se depreende do Aviso de 20-10-1819, a cunhagem das rigedas com dota de 1819 nto se deve ter efectuado na Casa da Moeda do Rios. E possivel que se depreenda, mas eu 0 que apenas posso deduzir & que, depois de Novembro, isto &, nos dois tiltimos metes do ano, nfo se teriam 1 cunbado moedas de 1819, mas até esse més ndo depreendo que © no ppudessem ter sido. ‘Quereré o Senhor Prober esclarecer a razH0 daquela sua afirmacso? A seguir informa-se que a cunhagem na Bala (pigina 27) s0 teria come- ado no principio de 1820. Ona, como attis se afmava ji que as moedas de 1819 nfo tinham sido ceunbadas no Rio e agora que a cunhagem da Bais ¢ de 1820, parece que, ox nio podera ter havido moedes de 1819, ou que as lavradas em 1820 na Baia traziam falsamente ante-data, Or, como houve moedas de 1819, confirma-se a tiltine hipstese pare a justfieagfo da sua existéncia? Por outro Jado, na mesma pagina 27 diz que, pare ser dido cumprimento 420 Aviso de 9 de Agosto de 1820, a Casa da Mocda do Rio steve de enirar ‘em actividade suplemeriar, sendo por isso de sua fabrieacto exclusiva todas as moedas de 1820 Esté excluida, portanto, a possibilidade de na Baia se cerem batido rmoedas com a data de 1820. 1s E, entao, ter-se-i dos sesclarecimentos dadose: 1819 —Moedas possivelmente fabricadas no Rio até Novembro de 1819, ‘ou com ante-data, canhadas em 1820 na Bala; 1820—Moedas 85 do Rio de Janeiro, ‘Também como a, pata mim, possivel fabricagao des moedas do tipe em. ‘causa de 1819 no Rio se destinava a S. Tomé e se me afigurs pouco acei:ivel aque as moedas cuvhadas com ante-data na Bala viessem para 0 Rio para depois fem para Morsmbique, nio seri mats provivel que a remessa de 20 ecntos do Rio para Moyambique, so efectivada em fins de 1820, fosse constitaida apenas por moedes deste éltimo ano? E clo que na falta de documentagéo ndo posso considerar inatacével sta hipotese, mas a minha suposiqio baseada nos esclarecimentos dades de que as moedas de 1819 © 1820 nfo foram de braco dado para Mogambique, passaré para mim a outro gra de convicyio com o que na segunda parte ‘exporei ‘Aguardando, pois, com muito interesse as informagdes que as miahas dlavidas sugerirem, passo & segunda parte desta nota. Sem alarde de conhecimentos especiais mas t40 sémente como razto de ctdem e fare documentar a afirmagio que no comego fiz da incerteza que tem hhavido no que se refere & carimbagem, comesarei por xepeti: 0 que alts todos conhecem, pois se encontra em livros que ufo fallam nas estantes dos estudiosos Assim, antes do artigo inserto no ne 5 de NVMMVS, conhecia wis Interpretasbes de outros cantos autores, uma que eu encontre, © agora mais a o Senor Prober. Total cinco. ‘No catélogo da coleorio H. T. Grogan, diz-se, a paginas 66, simplesmente: 1854, Monasies coutremarquées 4 S, Tomé et Principe, ane petite conrsane ‘apris Fordonnance du 3 Novembre 1854, Em Moedas contramarcadas Continentais, Acoreanas ¢ Coloniais que correramt nos Arores e nas Colénias, encontro mais pormenorizado Por Ini de 3 de Novembro de 1854 foram at mondas de §, Tomé coatrar smarcidas com uma corea pequent pata terem custo mn Coléaia de Mocambque. 16 Na Caritha Numismatic, 18-se com mais amplo desenvolvimento: scasseando 2 motda de esbre em Mocambique, foi decretado em 3 de Novembso de 1854 que as moedas de cobre de 80, 40 ¢ 20 xis cunhadas no Rio de Janetto pure correrem em S. Tomé e Principe, pedessem sgualmente sireular em Mocambique depois de devidamence carimbadas, A sobrecarge con- sista mame pequens cores rea Finalmente, © Senbor Prober escreve esclaecendo defivitivamente 0 assunto, como se conclui da observa com que castige a anterior inter pretarto: E foi em Mosanbique que estes moedas rece potainmente 9 conta- marca de coroa pegena, de confrmidade com a Povtarla de 3 de Novembro de 1054. pra se saber @ quantade de wmerdsio em cal E assim, pela leitura das quatro informagbes, no esptrito dos confiados snumismatas devem chocar-se as afirmagbes seguintes: 4) de que 0 carimbo foi aposto em todas as moedas de S. Tomé: ) de que o carimbo foi aplicado s6 nas cunhadas no Rio de Janeiro; «de que 0 carimbo se destinava a que as moedas tivessem curso em Mocambique 4) de que 0 carimbo fora aplicado em S. Tomé: «) de que 0 exrimbo fora aposto em Mosembique: f) de que o carimbo se destinava 2 tornar conhecida a quantidade de ‘numeritio em ciculagio em Mogambique @) de quatro serem discordantes ne categorie do diploma, apenas em todes clas encontrando concordancia 1) na data do diploma, o que elimina confusbes; 2) no tipo do carimbo. A estas alirmasses, diversas na sua maforia, juntarei: 1) que todos conhecemos 0 carimbo aplicado em aprecével nimero dos virios valores de 1813, de 1815 ¢ de 1825, que nto consta tenham ‘do para Mocambique ¢ que foram emitides em relatvamente pequena quantidede; 4) que coshecemos também na emissso de 1819: 4J) que nfo obstante a emissio de 1820 ser da ordem éas 800.000 moe- cas (pigina 27), isto é, 10 vezes a usual, é da maior raidade 0 ape- recimento do carimbo em moedas desta emissio: 7 4) que todos couhecem 0 carimbo de pequena coros aplicado ex dife- rentissimas moedas continentals € coloniais de variadissimos reinados, 1) que nio conhego 0 carimbo em questso aplicado em moedss de 80, 40 € 20 skis de 1840 ¢ de 2 e I real da emissio especial de 1853 ‘pas Mosambique, slits correntes na Provincia na data da carimbagem, Nio seri, pois, de estrenhar que o conhecimento desta série de dissor- dancias de factos tivesse ja, desde hi muito, chamado a minba aten¢ao para cles, € que, também ja muito antes de ter lido em NVMMVS a observicio ritica 2 penalkima interpretacio que apresentei: «f o vetho habito de nao ser relida a leyislacdo exisenter—eu, relendo @ legislacito, tivesse encontiado a seguinte PORTARIA DE 3 DE NOVEMBRO DE 1834 (Boteins do Conscho Ukeumarao —Legilaso Novis, Vol. it) ‘sConvindo esclarecer, com soda exactidio que for possvel.« quantidade de mceda de cobre circulate ms Provincia de S. Tomé ¢ Principe: Manda ELRet Regente em Nome do Rei, pela Secretarla d’Estsdo dos Negéeios de Mavichs Uluamar, remeter a Junta da Fazends Publica da mesma Provincle um sello Ade ago com os competentesaprestes, para que aimesina Junta faga carimbar tod mencionads moeds que circular na Provincl. E podendo aconiecer que por divers motivos. ¢ especialmente pela reserva de uma parte de mesma moeda fem poder de partculares, nem coda ella dé entrada nos coftes da Fazenda, ‘Sua Magestade El-Rel Regence, Manda recommendsr & dita Janta, que pata o fim Ae se conseguc, que toda a dita motda sejaexslmbada, empregue 08 meios ao seu sleance, persuadindo os possuidores a que a apresentem pars o fim determinsdo, podenio a Junta ver sempre prompta algums porslo de moeda carimbeda que fem demora dé em logar da que se Ihe apresentar nfo earimbada: e a meima Junta devers ver se, para mais fell exeeugio desta determinagie,conviti macdar ppera s Tha do Principe, por uma on mats vezes, a quantidade de moeda ent: buds igual & que se presumir que al bi. © Mesmo Augusto Seubor Esper qxe n Junea se havers nesta incumbéncia com todo o zelo e prudéncia, conseguindo ‘arimbar tods « moeda de cobre que exietir na Provincia, sem empreger meios gue possum desgostar 0s povos, ¢ que necessriamence dffcoltariam a exccugSo do que se ordens. Sua Magestade Quer que « Junta dé conta em tempo oppor- ‘ano, dos meios que empregat paca a boa execucio do que nesta Portaia Ihe & cordenndo: e que no ultimo dia de eada mer faa wma Tabella em que se declare 8 quantidade de cada uma dos diferentes moedas que waquelle mez se dvee 18 carimbado, devendo Tass Tabellas serem remetidas 2 esta Secretaria Estado logo que se oferege octsifo: e que no fim de sels mnezes, cu antes, sea Junta fo jugar acertdo, informe pelos dados que tiver qual seja « quantidade de Imoeds, que se posse presumir que ainda rest por eatimbsr, ou se deva const erase ji toda carimbade, ao, em 3 de Novembro de 1854—Visconde de Athouguiay E que, continuando a reler a legistaeto, fosse encontrar no Didrio da Camara dos Senhores Deputados, 0° 7, de 8 de Junho do mesmo ano, o seguince Requerimento, génese da Porsria: DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS Ne 7 DE # DE JUNHO DE 1854 Requerimento do Deputado Jacinto Peeve Cameio: Sendo 4 moeda de eobre da Provincia de S. Tomé « Principe (uniea em isculagéo no coméreio interne) do valor fraco de 720 rels por 100 res us rmoeda de Portugal, € de urgente necessidade que equela moeda sea recireda da daculagio © substtuida por mosda forte © como para sce Sm € necessario saber 4 quiniidade que bi d'aqusla moeda na mesma Provinca; Requeiro que se recomende 20 Governo que mande carimbar toda a moeda de cobre da Provincia eS. Tomé ¢ Principe fim de se eslor por atte malo quantos contos de reis bd no Pas (0), para sobre era bose ordensr as medides que achar convenientes para subsites por moeda forte Do exposto tira-se em primelro lugar a conclusio de que a justa obser~ vvagio do Senhor Prober se poderi aplicar a mais do que 1 interpeetaggo que cstigmatizon.... © que esta quista interpretarto da carimbagem, que afinal 230 minha, talvez pone ponto final no assunto, escarecendo: 1) que 0 carimbo foi aposto em S, Tomé ¢ no em Mogambique; 13) que teria sido, portanto, aplicado nessa Provincia nas emisdes de 1813, 1815, 1819 e 1825, e nso na de 1820, que foi para Mogambique; 43) que seria aplicado em todas as moedas que foram apresentads ¢ exam (8), Deve refeinse a Proves 19) alem das especiais da Provincia, as Continentais ¢ Coloniais, 0 que se confitma com as muitas que sto conhecidas: 4) que a sua finalidade foi couhecer a quentidade de moeda em circus em S. Tomé e no em Mocambique E volando atris as moedas de 1819 que o Senhor Prober considera terem. do para Mocamnbique, explica-se agora porgue este Seuhor as junta, nessa viagem, ccm as de 1820. © Senhor Prober. por qualquer motive que ignoro, foi levado a con- vencer-se que a carimbagem tinha sido feita em Mocambique, e como comaece rmoedas de 1819 carimbadas ¢ sabe que as de 1820 foram para esta Prov: dentro da sua suposicio as de 1819 teriam ido necessiriamente para onde foram as ceste altimo ano, Esta certo o raciocinio, mas bi s6 um facto em que © Senhor Prober no reparou, quanto altima emissto: € na extrema rarilade das moedat de 1820 carimbadas, quando exactamente esta erissto foi a mzior! Passindo em revista algumas coleogoes importantes que conhevo, ofe- rece-se-me relatar sobre este facto o seguinte: Colecto Eng’ Ferraro Vaz —Nenhuma de 1820 earimbadt. Colegio Tenente Agostinho Baredas—Nenhuma ce 1820 carimbada. Coleto ‘Tenente-Coronel Cruz —Nenhuma de 1820 carimbada Coleso Bd. van der Niepoort—Nenhuma de 1820 carimbada, num otal de 85 motdas. Coleco Coronel Mario Ramires — Nenhuma de 1820 earimbads. Goleao Museu Numiondtico Portugués—Duas moedas de 20 réis de 1820 carimbacas. num cota! de 89 moeds Colegio do autor ~Newhuma de 1820 carimbads, num toral de 42:moedss. B elo que se poderé dizer: mas afinal sempre aparece duas de 1820 carimbadas! A explicagao que dou para 0 seu raro aparecimento é » mesma que daria para justficar © das moedas continentais ¢ outras coloniais que li foram parar ¢ nfo foram propositadamente cunhadas para Ii E posto isto, que encerra a minhs anilise do assunto, desejo pir a ‘lima divida, tee Digo atris: stalvex ponha ponto final no assunto> propositadamente porque, tendo pelo Senhor Prober aquela consideraggo que a profundidade 20 dos seus trabalhos the grangeou, sinto a impressio de que este Senor, depois, dde ler este meu artigo, sacari duma botte a suprise um diploma que, m0 obstante as minhas diligéncias, nfo consegui encontrar, ¢ he teria permitido estabelecer, da forma peremptéria porque a faz, a sua interpretagzo do carimbo. Mas com a mesma sinceridade com que fago esta ceclaragio © presto ‘esta homenagem, consigno também que a ser assim a forma incompleta em que 0 Senhor Prober deixow a sua afirmagto, ela consticul uma partidinha que io € cientificamente aceitavel! Finalmente, para terminar esta nota, vou recordar um ‘acto sucedido com certo rabiscador de coisas de Numismitice, que, lembrando-se um dia de averiguar 0 nome do Marco abolide por D. Jodo Ill por provist> de 14 de Outubro de 1488, encontrou em Joio Pinto Ribeiro ¢ em 'Teiscim de Aragio, ete, a informagao de que 0 exemplar daquela provisio existenie no Cartério da Comarca do Porto se achava rasgado precisamente no locel onde devia estar © nome do Marco! ‘al fueto levou-o a procurar em varias Biblioteces um exemplar da Proviso que nfo estivesse Tasgado no local preciso, pois certamente ela teria sido comunicada a outras cidades. Depois de muito trabalho conseguiu encon- tar um exemplar intacto na de Evora Fez 0 seu estudo sobre o assunto © depois dele publicado teve a sur- presa de saber que o exemplar do Porto... ndo estava nem rasgado nem tinhe or qualquer forma obliterada a palevra que virios einham considerado como inexistente! ‘Todos tinham confiado nas informagoes dos outros, ¢ 0 autor do estudo, que € quem assina estas linbas~ foi na esteira dos demais em ver de ir rer a legisleeto! [Necessiriamente, » conclusio do facto indicado serve para confirmar por experiéncia propria a’ minha completa concordincia com 2 observasio que, 30 apresentar a sua interpretagso da carimbagem, o Senhor Prober faz sobre & inexact informagdo de um confeido numéloge, mas que eu, até ver, fago tam bem sobre a da sua autora,

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