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84 TEMPO HISTORICO - COMO TRABALHAR? HISTORICAL TIME — HOW TO ADDRESS IT? Andrea Helena Petry Rahmeier! ‘RESUMO: O presente artigo refletira sobre a construgao do conceito de tempo. Pretende-se tocar nas seguin- {es questOes: O tempo€ objetivo, natural eesta na natureza? Ou ésubjetivo, construidoe esté na consciéncia? Quais as relagdes entre tempo € espago? Existe somente um tipo de tempo? No processo ensino, a nogao de tempo é fundamental, mas como trabalhar isso? Sera que os docentes da Educagao Infantil, Anos Iniciaise Anos Finais do Ensino Fundamental se preocupam com as quest6es temporais durante o planejamento desuas atividades? A partir de qual faixa etaria se deve comecar a ter atividades envolvendo a nogao de tempo? Entdo, quais concepdes ou atividades sto necessirias para a compreensao do tempo hist6rico? Palavras-chave: Tempo. Planejamento. Historia. ABSTRACT: This paper will discuss the construction of the concept of time. The following questions are addressed: is ime objective, natural, and in nature? Or is it subjective, constructed, and in our consciousness? What are the relations between time and space? Is there only one type of time? The notion of time is fundamental in the teaching process, but how should this be addressed? Do teachers from all levels worry about time issues when they are planning their activities? What is the proper age to introduce activities that involve the notion of time? Thus, which notions or activities are required to understand historical time? Keywords: Time. Planning, History. LINTRODUCAO Nos diasatuais, nas rodasde conversa, nas redes sociais € nos jornais (impressos € televisivos), percebe- seeque diversas pessoas esto com dificuldades com no- ‘gOes temporais, Observa-se desde andlises de diversas fats histéxiccs ocorridas em contextos diversos sendo analisados como se todos Fossem parte do mesmo mo- ‘mento, Ouanalise-se 0 que se passou camo sendo ata Qu, ainda, dados atuais como se fossem questdes dopas- sado, Por que tudo isso? Dificil apontar os fatores, mas se pode perocbernitdamente que ess individuos esto com dificuldades nas nogdes temporais. Como proceder para que esse problema seja in- termompido? Nada melhor do que refleirsobreo tempo cesobre como trabalhar os conceitos que envolvem esse tema nes diferentes nies excolares. Muitas vez, es assunto é deixado de lado, pois os historiadores s6atuam_ apartirdes Anos Finais do Ensino Fundamental, ecomo parte dessa tematica precisa ser trabalhada na Educa- ‘a0 Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamen- tal, nao ocorre o didlogo. E os professores dessa faiixa téria consideram que ha muitas outras questoes com que se preocupar que vao além da questao temporal. (Ou outros tém pouao conhecimento teérico sobre no- ‘Ges temporais, nao percebendo a sua importancia, Aca- ba por tomarse um assunto delicad, pois poucos so os profissionais que iniciam e mantém o didlogo entre proféssoresde niveis edlucacionais diversas, porque existe o grande medo de que isso seja interveneao na area de cconhecimento especifico dos colegas de outras areas, ‘Tediavia, como atuo no Ensino Fundamental ha ‘maisde 20 anos, ja vi muitas coisas, jé presenciei tantas outras. Entao, sou uma professora de Anos Iniciais Finais do Ensino Fundamental, com formagao no anti- *Doutoraem Histeria pela PUCRS. Professora da Rede Municipal de Sao Leopoldo edo Curso de Histéria das Faculdades Integraias de Taquara (FACCAT).. Revs Aaxémia Licencia8acturas ° boil + v4 © 1.1 p.8492 « jnsirojurto © 2016 Tempo histérico— como trabalhar? ‘g0 Magistério edo Ensino Superiorem Historia, Node- correr da minha atuagao profissional, pude analisar € ‘observar como era o trabalho com nogces temporais tan- fo como historiadora quanto como professora com for- ‘magaoem educagao. A minha caminhada como profes- sora me faz afirmar que as nogdes temporais precisam serconstruidas/trabalhadas de forma sistematica desde a Educagao Infantil. Mas como? O presente texto pro- ‘poe uma reflexao sobre a nogio de tempo e como pode ser abordado na Educagao Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e no primeiro ano dos Anos Finais do Ensino Fundamental. 2 DEFINICAO DETEMPO Inicialmente, é preciso definir o que é tempo. Conforme alguns teéricos, tempo é a substancia da qual todos os seres humancs si0 feitos. O que isso quer di- zer? E complexo explicar. Mas é importante perceber «quea natureza tem seu tempo, Pode-s dizer queas mais variadas sociedades se basearam na contaggm de diver- sos movimentos naturais, ais come: os movimentcs de dlversas esferascekestes (ciclo da lua, do so, das estre= Jas, planetase satélites em toro deles mesmose em tor ‘no uns dos outros, isto€, da rotagao, da translagao), das estagves, da diferenca entre dia e noite e tantos outros movimentos da natureza. As diferentes sociedades per- ceberam a passagem do tempo pela repeticao de movi- mentos ciclicos da natureza. Outra percepeao de tempo sla na observagao de que o ser humano passa por ci- clos préprios, isto é, todos nascem, crescem e envelhe- cem. O corpo expressa a passagem do tempo. A partir da observagao desses movimentos, as sociedades foram construindo suas formas de percepgo do tempo. As observagies realizadas nos tempos passados possibili- taram actiagao de calendarios, rlégiose outros cbjetos ‘para a contagem do tempo de forma cronolégica, como se conhece hoje. Nao existem diividas de que por um periodo bem longo pensar em tempo era abordar a his- toria unicamente de forma cronolégica. “Muitosconsideram que, para entender hisria €a ogo de tempo, era/é suficiente trabalharcom o tempo cronolégico, isto é, conhecer datas e memorizé-las seria a principal fungao da histéria. Todavia abordar o tempo apenas de forma cronolégica nao é suficiente para com preendera histéra, poisotempohistico é mnisdoqueo tempocronolgica Entio o quefalta? Poracaso, nogaode temportioéamesmacoisa que cntagem de tempo? Quer dizer, tempocronolégico nao € a tinica definigao de tempo historico? Acrescentando na reflexdo, nogdes temporais esto kaseadas em um tinico tipode tempo? Por muitos anos, para ser mais exato, até a meta- dedo século XX, entendia-se que a nogao de tempo his- t6rico resumia-se em trabalhar com datas eacontecimen- tos, isto, abordar unicamente a existéncia do fato his- t6rico ou eventa Todavia, ao trabalhar apenas com essa forma de ensino de hist6ria, limita-se a compreensio exclusiva do fato/acontecimento, istoé, analisa-se ape- znas o tempo do acontecimento, Nao se pemmitem outras abordagens, outras relagdes, ¢ a compreensio histérica fica imitada exclusivamente a um determinado momen- to, fato ou evento hist6rico, nao permitindo diversas ‘outras abordagens, como rupturas, permanéncias, simul- taneidades, sucessdes, sobreposigbes, et. Em 1958, pela primeira vez, 0 historiador fran- 08s Fernand Braudel (1902-1985), chamou a atengo ‘num artigo para a importincia na anilise histérica de diferentes temporalidades, possibilitando outras formas decompreensioe reflexio, Naquele momento, differen- ciou o tempo do calendirio/do fato/do evento, que € inear, de outros tipos de tempo. O historiador teorizou, diferenciou e apresentou trés tipos de temporalidades. (© tempodb fatoe do acontecimento, chamado de tem- pode curta duragao, que ja era conhecido dos seus pa- res, Acrescentou o tempo das conjunturas, 0 qual deno- ‘minou de tempo de média duragao. Por fim, 0 das gran- des estruturas, designado de tempo de longa duracao. Os dois tiltimos foram a novidade na abordagem de Braudel. Esse entendia que, para compreender um fato, também eza/éfiundamental compreendero contexto/con- Jjuntura e a estrutura nes quais © acontecimento estava inserido, quer dizer, toda a andlise historica deveria abor- dar diferentes duragbes, podendo haver rupturas, perma- znéncias, simultaneidade e sucessdes. Com 0 passar dos ‘anos, novos tebicos foram desenvolvendo eaprofundan- do essas quest6es, as quais hoje so comuns no Ensino Superior, principalmente nos cursos das Ciéncias Huma- nas. Todavia nem sempre essas concepqdes estao presen- tesna Educagao Bisica (Ensinos Fundamental e Médio). ‘Nas tempos atuais, século XXI, cada vez mais, historiadores e educadores vem observando e analisan- do a importancia dessas trés concep9es de tempo para a compreensdo dos acontecimentos hist6ricos. Nesse sentido, no processo ensino torna-se fundamental que cs professores se preocupem em trabalhar essas trésfor- ‘mas de compreender o tempo. Ist0€, os professores pre- isam assumir outra perspectiva, precisam ir além da historia factual, to comum em muitas realidades esco- lares, em que as aulas de Historia giram em toro de decorar fates e datas. Os alunos precisam muito mais para compreender a hist6ria; por isso é preciso criarnos Rost Adenia Licencia&acturas © hari ev 4 n. 1» p 8492 « jareiyjunho » 2016 85 86 ‘Andrea Helena Petry Rakmeior alunos, aos poucos, as nogbes de “que tempoé uma ca tegoria mental que nao é natural, nem espontanea, nem Universal” (SCHMIDT; CAINELLI,2009, p.98), eacres- centaria quendo temamesma duragao. Isso porque cada grupo ou pessoa peroebe o tempo vivido de uma forma, pois, quando se faz algo de que se gpsta, parece que 0 tempo passa muito rapido, No entanto, quando se faz alguma coisa que € considerada chata ou cansativa, 0 tempo parece nao passar. O mesmo evento/acontect ‘mento pode ser definido de formas diferentes, pois cada pessoa tem asua forma de peraeber o mundo. Por exem- plo, para alguns ler pade ser chatoe para outros émara- vithoso. Entao o tempo pode ser entendido como con- traditério, j4 que o mesmo acontecimento pode ser en- tendido por alguém ou alguns como a pior ou como a ‘melhor das coisas, ou seja, para uma pessoa ou para algumas pode ser fonte de criagao € para outra ou ou tras como forma de destruicao de algo. Por tudo isso, ensinar histéria é trabalhar com diversas percepgdes do tempo, ¢ ir além da nocao cro nol gica, do fato, Historia é muito mais do que compre- endero fato, pois sem uma nogio de tempo que envolve contextualidades ¢ estruturas nao se tem historia; tem- se apenas a reproducao do fato, ago que, na maioria das vezes, € feita de forma fantistica por profissionais de outras reas, como jomalistas. Fsses, sim, t¢m como seu principal objeto 0 fato e nao todas as concepgies temporais que os historiadores abordam. ‘Todavia, como fazer isso, 0 que precisa ser alte- ado? Como compreender essas diversas nogves tempo- rais? Ainda antes, precisa-se perceber que as diferentes ages humanas ocorrem de forma desigual em distintos petiodas e em diferentes espagos dentro do mesmo perio~ do temporal. Para tentar tornar essas diferengas com- preensiveis, ha um exemplo na realidade brasileira em que os diferentes povos indigenas percebem o tempo e 0s fatos histéricos envolvidoscom suas comunidades de uum jeito eas populagdes urbanas de outro. Se a inten- ‘20 forse complican podese dizer que, entre os grupos turbanos e os grupos indigenas, ainda existe uma infini- dade de percepoces distintas, mas ndo € esse 0 enfoque deste artign. Na tentativa de explicar melhor essa ideias, € necessirio detalhar através de uma explanagao dos diferentes pontos de vista existentesentre as comunica- des indiganas e os grupos urbanos brasileiros. Primeiro precisase perguntar: quais os elementos importantesem cada um deses grupos de individuos? Pode-se afirmar «que todos vivem dentro do mesmo espago temporal, por exemplo no ano de 2016, ¢ recebem, de alguma forma, as mesmas noticias, pois sfo brasileros. Porem esses dois ‘gTUpos, os povws indigenas e as populagdes urbanas, tém ‘uma organizagao marcada por concepoces diferentes de tempo. Para as pessoas que vivem na cidade, o tempo & ‘marcado pelo horatio, pelo relégio, tendo um controle rigido das agdes e da duracao da mesma. Tanto é que, entre a maioria da populagao urbana, o seu dia adia € ‘baseado no modelo capitalista, isto é, tempoé dinheiro, [Pois'se recebe pelo tempo que se trabalha e nao pelo pro- duto final, além da valorizagao dos sucessos individuais endo as agves coletivas. Jé para as comunidades indige- nas brasileiras, a nogao de tempo é marcada pelos even tos da natureza, concebem que o importanteé 0 produto final, naose preocupando com a quantidade de horas que Jevou para a execugao do mesmo. Esse grupo humano valoriza mais a acao € preocupa-se mais com a vida em ‘omunidade do que com o sucesso individual. Importa, neste momento, perocber que cada um dos grupos perce- bbe e compreende a nogo de tempo de forma diferente. Portanto éfiandamental perasber que todos os grupostém relagdes com o tempo € é ewencial que os alunos sejam levados a perccber essas diferencas na compreensiio de temporalidade em diferentes espagas. Caso asalunos nao [percebam isso, irdo analisar todas os fatos sob sex ponto de vista e com sua percepgio de tempa, Desse modo, em historia é fundamental peroeber e conhecer os espags, as concepodes € as caracteristicas dos periocias histéri- cos para compreender os fates, contextos/conjunturas cestruturas em estudo, Nao peraeber as diferentes tem- poralidades e suas relagdes com fato, conjuntura e es- trutura faré com que os estudantes nao compreendama historia em si. Entao, ao pensar em tempo historico, é funda- ‘mental ter em mente que estamos rodeados por diferen- tes definigoes temporaise que as percebemose vivencia- ‘mas das mais variadas formas. Um mesmo acontecimen- to pode ser analisado de diversas temporalidades, de- Pendendo de quais so os objetivos ¢ as necessidades, Pais se pode compreencer o fato (tempo de aurta dura- ‘¢A0), © contexto em que esta inserido o acontecimento (tempo de média duracao) e a estrutura em que o mes- ‘mo se desenyolveu (tempo de longa duracao). Mesmo pereebendo essa diferencas de temporalidades, é impor- tante lembrar que, em espagos ou saciedades diferentes, (05 mesmos acontecimentos tém percepooes diferentes, 3. COMO TRABALHAR PARA DESENVOLVER NOGOES DE DIFERENTES TEMPOS ‘HISTORICOS? ‘Depois de refletir sobrea importncia que 0 tem- Po hist6rico tem, € necessirio discutir como construir Revs Aaxémia Licencia8acturas ° boil + v4 © 1.1 p.8492 « jnsirojurto © 2016 Tempo hist6xiao— como trabalhar? ess1 nogio com nessos alunos. Essas temporalidades precisam ser exercitadas. Mas como trabalhar para que os alunos perasbam essas nagies de tempo? Precisa-se parare pensar quais as nogdes de tempo que os alunos Jd construiram eo que é preciso fazer para que os alu- rnas ampliem a nogao de tempo. A nogao de tempo pre- cisa ser wabalhada desde a Educagao Infantil. A se- ‘guir, apresentam-se alguns conceitos com sugestOes de ‘como podem ser abordades na Educagao Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental eno 6? ano do Ensino Fundamental. 3.1 Educagao Infantil Osalunos dessa faixa etiria precisam nominimo compreender a nogio de tempo referente aos seguintes conceitos: manha, tarde e noite; noite e dia; antes, ag0- 1a, depois; ontem, hojee amanha; dias frios, dias quen- ‘tes; ano passado, este ano, ano que vem; passado, pre- sentee fsturo. Esses conceitos trabalham com a ideia de ‘tempo cronolégico, mas com pitadas de concepgoes tem porais conjunturais; isso € trabalhar com nogoes mais abrangentes que um fatoemsi,comoacomparacioentie ‘tempos diferentes, como 0 caso de dias fiiose dias quen- tes, O ideal seria que esas nogtes fossem construidas nna Educagao Infantil, mas caso os alunos ainda nao te- nhamao ingressar nopri- ‘meiro ano, € preciso que © professor se preccupe em abordar isso também. “Todavia,comotra- balhar com esses concei tos nessa fase da vida? O queecomotrabatharcom osalunos da Educagao In- fantil? Existem diversas formas de trabathar essas nodes, entao, afimdeau- xiliarna reflexao paraam- pliar 0 processo de construgao da nogo de tempo, sa0 feitas algumas sugest0es, construidas no decorrer de 22 anos de trabalho com o Ensino Fundamental. Nesse pe todo, por intimeras vezes, foram feitos diversos debates com professores que atenderam os alunos que chega- ‘yam aos anos finais, além de participar e fazer forma- .sdesabordancio esse tema, Para fins de melhor compre censiio, optou-se por apresentar 0 assunto ¢, logo a se ‘lr, sugestdes de formas de como pode ser desenvolvi- doo trabalho: + Manha, tarde e noite podesertrabalhado com a propria rotina das criangas, ou seja,fixar 0s conceitos refletindo sobre a rotina, Se a aula for em tumo inte gral, manha é quando se chega a escola e tarde é quan- do se vai para casa. Mas, caso seja escola de um tinico ‘turno, trabalhar com o que é antes e depois do almogo, quando é a hora do sono. + Dias fiios e dias quentes — pode ser abordado através de cartazes ou flanelégrafo criados a partir do tipo de roupa que se usa no inverno e no verdo, isto é, dias que precisamos de muitas roupas ou poucas rou- pas; de experimentos feitos em dias quentes e muito fiios: tipos de agua (gelada e quente); tipo de coberta parao soninho nos diversos periodas do ano; necessida- de de usar ventilador ou aquecedor + Ontem, hoje e amanha — através de perguntas ‘constantessobre fotcs, comida, atividades feitasem cada um desses dias. + Antes, agora € depois — trabalhar exercitando as criangas a explicitar sua rotina na alimentaga, nas atividadesdiariase na semana. Ou, como a ilustragioa seguir mostra, observar os tamanhos de antes (nasver), agora (atual)e que poder chegar quando crescer. Esse foi um experimento muito interessante feito por alunos de quatro anos. Todos os alunos se mediram, € foi tira- do da carteirinha de vacinacao 0 tamanho ao nascer; ‘com isso fizeram comparativos (ilustra¢ao 1). + Noitee dia —tema que pode ser abordado, onde as criancas ficam durante o dia (na escola) ¢ durante a noite (com os pais). Também pode ser visto com eles, através da entrevista com os pais ou na certidao denas- cimento, quem nasceu de dia ou de noite, como segue ‘um cartaz feito por alunos de cinco anos com sua pro- fessora (ilustragao 2), Interessante aqui que, além disso, cada uma se identificou com um desenho. Rost Adenia Licencia&acturas © hari ev 4 n. 1» p 8492 « jareiyjunho » 2016 87 88 ‘Andrea Helena Petry Rakmeior QUEM DA NOSSA TURMA NASCEU. Tustrago 2 — Cartaz com o tumo em que cada crianga da ‘ura nasceu. Fonte: Arquivo pessoal. + Anos ~ trabalhar com fotos, percebendo que todos ficam mais velhos e mudam suas feiges, ou com roupasantigas, mestrando também o crescimento. Tam bém, se for possivel, solicitar uma foto de cada ano ccriar cartazes como oque segue (ilustragao 3). Tustrago 3— Cartaz.com fotes de cada ano da vida de cada aluno, turma de infantil 4 (alunes de cinco anes). Fonte: Arquivo pessoal. + Ano passado, este ano, ano que vem — concei- tos que podem ser abordados no fim do ano através de desenhos ou fotos, relembrando as professoras do ano passado, deste ano e do proximo ano. Ou, ainda, dese- nharassalas do ano passado, deste anoe da possivel do proximo ano. Quer dizer, trabalhar com a meméria das alunos ou outras formas atividades com essas diferen- as. + Passada, presente e futuro — as fotos podem ser ‘uma grandealiada para abordar esses conceitos, princi- palmente se forem das professoras ou de familiares. + Dados pessoais—trabalhar como nome dos al now, seu significado e origem. Além disso, explorar a dade e 0 aniversirio de cada aluno. ‘Ao observar as atividades sugeridas, percebese que em todas elas se esta abordando nogdes de tempo. ‘Todavia 0 tempo esta sendo tra- bathado com nogdes mais am- plas do que acronologia sequen- ial de um tiniao fato. O aluno dessa faixa etaria nao tem con- ddigdes de trabalhar datas sequen- ciais, pois, a principio, aindanao construiu a nogao numérica. Sendoassim, essas atividadesna ‘Educagao Infantil pretender le- var a crianga a construir uma rnogao ampliada de tempo, algu- ‘mas vezes de forma linear, como nosdiversas anos, masna maio- rria das vezes de forma mais ampla, como dias fries € dias quentes ou passado, presente e futuro, Isto, além da nogao de um acontecimento, a crianga da Educagao Infantil tem condigces de perceber sutilezas, as quais, ‘muitas vezes, levama percepodes profundas da sua pro- ria identidade. Porque é muito importante abordartudo isso? Na experiencia docente, tivealunos que chegaram no6* ano ¢, a0 construirem sua linha do ‘tempo, ndo sabiam se haviam primeiro andado debicicleta ou caminhado. Outro fato viven- ciadonas atividades docentes é odealgumascriangas naoacei- tarem que seus pais foram um dia uma crianga. Se isso oaor- rer, €necessirio trabalhar com nogdes de que todos pas- amos pelas diferentes fases da vida. Para essa crianga faltou ser tabalhada a nogao de que todos temas um processo de crescimento que envolve mudangas e que, de certa forma, todesenvelhecemos. Somente a0'se per- ceber no mundo, a si mesma e as diferentes temporali- dads relacionados com os seus, haverd a possibilidade de construir a nogao do tempo histérico e dai sim de- senvolver o pensamento histérico, principal atividade, fingao e razao do ensino de Histéria nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Numa répida analise dos exem- pplos das dificuldades temporais apresentadas, conclui- se que esses tiveram problemas na construgao mental da propria vida e dos conceitos. Logo percebe-se que para esse aluno era fundamental procesar e abstrair a ‘compreensao da nogao de tempo referente asua propria ‘vida, para depois poder pensar o processo de compreen- Sto da nogao de tempo historica desenvolvida dentro da sala de aula a partir do 6* ana. Revs Aaxémia Licencia8acturas ° boil + v4 © 1.1 p.8492 « jnsirojurto © 2016 Tempo hist6xiao— como trabalhar? 3.2 Anos Iniciais do Ensinos Fundamental ‘Nos Anos Iniciais, as nogdes temporais, princi- palmente em fungao de todo 0 contetido especifico de- senvolvido nesses anos, abordam de um modo geral as nnogdes temporais que envolvem contagem de tempo, ‘como a existente em calendarios, representada pela s- quéncia de fatos no decorrer dos anos. Isto é, trabalha- se mais com a nogao linear de tempo. Todavia, nesse ‘mesmo periodo de aprendizagem, é muito importante retomar os conceites jé desenvolvidos na Educacao In- fantil, pois ainda persistem alguns alunos que apresen- tam dificuldades nesses. Além disso, hé tantas criangas cuja vida excolar inicia no Ensino Fundamental. E es- que os alunos possam abordar as conjunturas ou estru- turas histéricas, ampliar as noges temporais. 3.3 Anos Finais do Ensinos Fundamental ‘A partir do 6° ano do Ensino Fundamental, es- [pera-se que os alunos compreendam os conceitos apre- ‘sentados neste artigo, bem comotantos outros que abor- dam nogdes temporais. Além disso, espera-se que tenha sido possibilitada a observacao de diversas sociedades rno tempoe no espago, Se isso aconteceu, os estudantes terdoos elementos necessirios para a leitura e interpre- tagao das imagens a seguir (ilustracao 4), Iustragao 4— Trabalho, Fonte: PINSKY, 2012, p. 114 € 115. sencial perceber que as questdes envolvendo o tempo ‘vao além da compreenso do tempo linear, pois é preci- 0 perceber que a histéria envolve mais do que a passa- gem do tempo, que apresenta caracteristicas diferentes, {que tem permanéncias, simultaneidades ¢ tantas outras caracteristicas. Além da nevessidade de conhecer povos culturas diferentes, para iniciar a observagao de que existem outras manifstagdes culturais € histéricas, tan- to perto deles como distantes. Hoje, internet possibili- tarnos obter dados de forma répida de diversas povos, tantocom texto como com imagens. (Compreenderasnogdesde tempo linear e conhe- cer algumas manifestagdes culturais de diferentes povas ‘vai possibilitar a preparagao para que, nos Anos Finais do Ensino Fundamental, possam ser trabalhados os fa- (0s/contextos/conjunturas historias, ist é, a historia deixar de ser percebida como apenas momento de rela- ts de fatos isoladas, Em outras palavras, todo 0 traba- Iho com o tempo na Educacao Infantil e nes Anos Ini- ciais do Ensino Fundamental dara abase conceitual para “Muitos professores esperam que os alunos nos ‘Anos Finais do Ensino Fundamental tenham as habili- dadese as competéncias para peroeber que existem dife- rentes temporalidades presentes nas imagensapresenta- das. Como, por exemplo, perceber que as duas fotos (lus tragao 4) tratam da tematica do trabalho, mas em tem- Pos diferentes, em contextos historicas diversos, Mes- ‘mo sm precisar detalhar anos, isto é, 0 fato, elas pode ro petceber que se trata de contextos especifices, como escravido e inicio do processo de industrializagao, pelo menos é 0 quese espera de alunos do & ano, conforme estudos de Elza Nadai e Circe Bittencourt 2012). [Entretanto 6 muito comum que os alunos nao consigam compreender que existem diferengas de tem- poralidades. Quando isso acontecer, precisa-se propor ‘um trabalho focado nas concepsées temporais dos alu- nos, Nese caso, 6 fundamental que o professor foque «em formas de como ajudar os alunos aconstruir noqoes de tempo para compreender essas diferengas. Caso 0 professor continue seu trabalho e nao aborde questes Rost Adenia Licencia&acturas © hari ev 4 n. 1» p 8492 « jareiyjunho » 2016 89 90 ‘Andrea Helena Petry Rakmeior temporais com os alunos, esses terio muitas dificulda- des para comprenderos contextose as conjunturas his- toricas, sem falar nas diferentes estrunuras. ‘Uma das opetes seria trabalhar com as historias de vida de cada aluno, Esse trabalho possibilita a pes- quisaem fontes orais (familiares), visuais (fotos) e escri- tas (documentos), levando o alno a perceber-se como historiador de sua propria vida ¢ visualizando essas di- ferengashist6ricas para poder depois perceber o mundo ao seu redor. Nesse processo, com interven¢ao do pro- fessor, 0 aluno poder perceber que existe fato (tempo de curta duracao), por exemplo, seu nascimento, além de conjunturas (tempo de média duragio), come, por cexemplo, um proceso de separacao des pais, ou a per- da de um emprego, ou até o periodo escolar. Tudo isso vai além de uma data, abarcando um periodo que até pode terseu inicio e fim delimitado, mas que nem sam- pre tem um mareo certo, Tamiém é possivel rabalhar coma elaboragao da linha do tempo de sua vida, mas é preciso perceber que essa atividade sera apenas uma sin- tese e nao pode ser o tinico trabalho com esses alunos. ‘Todavia, em algumas realidades, é muito complicado trabalharcoma histéia pessoal, pois alguns alunos nao ‘tém nada para apresentar ninguém que possa rdatar algo dasua vida, porque estdo em situacao de vulnerabilida- de social. O professor precisa avaliar se uma atividade ‘no vai gerar sofrimento demecessirio para os alunos. ‘Uma outra opeao, em casos de vulnerabilidade social e familias desestruturadas, é solicitar que cada aluno traga um objeto hist6rico da sua familia, Nesse ‘momento, vai ser importante definir 0 que € objeto his- t6rico, pois, para muitos, 0 objeto histbrico é 56 0 que sti emmuscus, Depois de definido, é interessante fazé- Jas refletir sobre o objeto e pesquisar junto aos familia- esa importancia sentimental e historica, 0 periodo de cada objeto, a quem pertenceu, em qual contexto foi Utilizado, e outras perguntas que possam gerar. Peros- bber que cada individuo produz historia e também tem diversos objetos que fizeram historia, Atividade muito interessante para os alunos, Os exemplos explorados a seguir sio objetos trazidos para aula duranteo anode 2013 por alunos do sexto ano (ilustragao 5). Primeira- ‘mente, os alunos apresentavam oralmente aos colegas, descrevendo e contando, dependendo do caso, apenas Os fatos, as contextos €/ou em que estruturas estavam inseridos. Outros, de forma tranguila, conseguiram apre- sentar mais do que uma temporalidade, De forma oral, ceks apresentaram osobjetos em sua relacao com os tem- pos de curta, médiae longa duragao; em alguns casos, para haver a relacaio com diferentes temporalidades foi necessiria aintervencao da professora. Dependendo da realidade, nem todos os alunos trardo objetos, mas es ue trouxerem om certeza enriquecerao aatividade. As fetos que seguem (ilustrago 4) caracterizam bem essa realidade, uma vez que cada foto tem os objetos referen- tes a um sexto ano, Mesmo que a participacao tenha sido em tomno de cinquenta por cento, a atividade foi ‘um sucesso, pois todos ficaram curiasos coms objetos dos colegas. ‘Depois da parte oral, é fundamental que sejam. laboradas formas de registrar a atividade. Naquele ‘momento, 2013, foi solicitado que todos redigissem um, texto detalhando 0 que apresentaram, isto é, a historia de cada objeto, Os alunos que néo trouxeram cbjetos, tiveram que escolher a pera de um colega para fazer 0 relato, E importante valorizar todos os itens trazidos, nao importando o que é, pois aquele objeto de alguma forma tem uma importincia paraa familia ou paraquem © trouxe. Também ¢ importante proporcionar aos alu nnosa peroepcao de que alguns objetos, como fees, abor- dam um tinico momento a ser emibrado. Ji 0 dinheiro, por exempl, foi utilizado num periodo da historia que «em alguns casos conespondeu a décadas, ou seja, um, petiodode maior durasao. Por outro lado, 0 moedor de café foi usado por séculos. Mesmo que os dois exem- pplos de moedores trazidos para a aula nao fossem to antigos, um objeto conhecido por muitas pessoas que vviveram no século XIX. Esw é um objeto queesteve no contexto brasileiro desde a monarquia, e algumas pes- soas, ainda nos dias de hoje, culivam o habito de tomar café passado por ese tipo de moedor. ACONCLUINDO Por tudo oque foi apresentado, pode-se dizer que cada pessoa compreende tempo de uma forma dife- rente, pois depende muito das vivéncias de cada indivi- duo, tomando a abordagem sobre o tempo algo com- plexoe dinamico. Todavia, mesmo que se compreenda ‘tempo de formas diferentes, existem caracteristicas em ‘comum, que vaoalém da nogao de tempo histéricocomo sequencia dos fatos; isto é, compreender as diferencas nos tempos, saber fazer relagdes entre diversas contex- (0s, conjunturaseestruturas. Ampliando a nogao de tem- Po, pois com esse olhar exige-se saber duragdes, simul taneidades, sucesso, permanéncias € mudangas, abor- dando conjunturas e estruturas. Compreender isso faz parte de todo o processo de construcao temporal essen- Gal na formagao humana, Sendo assim, abordar o.con- ceito de tempo exige um trabalho em conjunto de pro- essores da Educagao Infantil, Anos Iniciais do Ensino Revs Aaxémia Licencia8acturas ° boil + v4 © 1.1 p.8492 « jnsirojurto © 2016 Tempo hist6xiao— como trabalhar? LEGIAO U, BHO Tustragao 5—Objetos dos alunos de 6*ang, durante 0 ano de2013, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Joao Belchior Goulart. Fonte: Arquivo pessoal Fundamental e de professores de Historia, Todos esses profissionais preocupando-se com as diferentes concep- (90es de tempo possibilitara construir processos de apren- dizagem em que as nogdes temporais de curta, média e longa duragaoserao compreendidas com mais facilida- de, Isto é, sera possivel fazer construgdes do fato, do ccontexto /conjuntura e das estruturas envolvidas nosas- suntos desenvolvids em aula, possibilitando ao estu- dante ferramentas para fazer analises histéricas, isto é, deixarde apresentar uma interpretagao linear dos acon- tecimentes, Nese sentido, a frase t2o utilizada em filmes, congressos, textos ¢ livres, “Quanto tempo o tempo tem?", express toda a complexidade de trabalhar com Rost Adenia Licencia&acturas © hari ev 4 n. 1» p 8492 « jareiyjunho » 2016 91 ‘Andrea Helena Petry Rakmeior as diferentes nogdes temporais, de vital importancia na perceppdoe compreensio do mundo. Ou sejaz (© tempo aparece sob o signa do paraddoxcr ser © no ser, nascer e morrer, aparecer © desapareccr, ctiagao e destruigao, fixideze mobilidade, estabi- Tidade e mudanca, devir eetemidatie. Sob o Signo dacontradicig, do ser edo nada, o tempo parece inapreensivel. Ele € descrito de moxio contratito- rio: apior ea melhor das coisas, fonte da criacio, da verdade e da vida e portador da destruigo, do cexqucimento e da morte. Ele engendra e nova e faz perecer earruina, Fle é pai e destruidor de to- das as coisas, origem e fim, a sua passagem é afli- va ("istondo val axaber nunai?”) econsoladora ("sa _passr!”). He nao é apreensivel, pois invisivel, in- ‘tocivel, impalpavel, mas pode ser “percebido” (REIS, 2011). ‘REFERENCIAS ABUD, Katia, Ensino de histéria. Sao Paulo: Cengage earring, 2013, BITTENCOURT, Circe Maria Femandes. Ensino de histé- raz fundamentos e métodos. Sto Paul: Cortez, 2009. FERREIRA, Marie; FRANCO, Renato, Aprenendo his- tra: refleo e ersina. 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